MatFarm 2324
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MatFarm 2324
à disciplina de Matemática
do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas
Gonçalo Gutierres
Departamento de Matemática
Faculdade de Ciências e Tecnologia
Universidade de Coimbra
2023
Este texto contém um resumo da matéria da disciplina de
Matemática do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêu-
ticas da Universidade de Coimbra. Ele é uma expansão dos
diapositivos apresentados nas aula teóricas e contém, entre
outras coisas, explicações mais detalhadas e a resolução de
alguns dos exercícios propostos. Alguns dos assuntos po-
derão não estar apresentados pela mesma ordem que foram
lecionados nas aulas.
Esta é a versão disponibilizada para os alunos do ano lectivo
de 2023/2024.
Indíce
1 Funções Elementares 1
1.1 Funções Invertíveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
2 Cálculo Diferencial 5
2.0 Limites e Continuidade de funções reais de variável real . . . . . . . . . . . . 5
2.1 Derivadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
2.2 Funções de Várias variáveis reais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
2.3 Derivadas Parciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.4 Derivada Direcional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.5 Aproximação Linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.6 Derivada da Função Composta (regra da cadeia) . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.7 Extremos de Funções de 2 Variáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
3 Cálculo Integral 29
3.1 Primitivas, Anti-Derivadas ou Integral Indefinido . . . . . . . . . . . . . . . 29
3.2 Integral Definido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
3.3 Aplicações do Cálculo Integral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
3.4 Integrais Impróprios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
4 Equações Diferenciais 46
4.1 Equações Diferenciais de Primeira Ordem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
4.2 Equações Diferenciais como Modelos Matemáticos . . . . . . . . . . . . . . . 54
5 Álgebra Linear 61
5.1 Matrizes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
5.2 Método dos Mínimos Quadrados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
Referências 73
Funções elementares
1 Funções Elementares
Genericamente vamos classificar como funções elementares todas as funções reais que nos
são familiares, ou construídas a partir destas. Estas são as funções que têm as propriedades
mais “agradáveis”. Vamos portanto excluir todas as funções que precisam de ser definidas
por ramos.
Definição 1.1. Uma função real diz-se uma função elementar se for uma função constante,
polinomial, exponencial, logarítmica, trigonométrica, ou se resultar destas através de adi-
ções, produtos, quocientes ou radiciações. A composição e a inversa de funções elementares
também são funções elementares. Vamos considerar como domínio de uma função elementar
o conjunto dos pontos onde ela tem derivada finita.
Exemplos 1.2.
3x − 2
2. g(x) = ;
cos x
p
3. h(x) = sin2 x − x, no conjunto D = {x ∈ R : sin2 x − x > 0}.
Definições 1.3.
1
Funções elementares
√
Temos então que x2 = y ∧ x ≥ 0 ⇔ x = y. Em linguagem corrente, dizemos que a raiz
quadrada de y é o número não negativo x que elevado ao quadrado dá y.
2
Funções elementares
Definições 1.5. As funções arco seno, arco cosseno, arco tangente e arco cotangente são de-
finidas como as funções inversas das restrições principais das funções seno, cosseno, tangente
e cotangente.
• x = arcsin y ⇔ y = sin x ∧ x ∈ [− π2 , π2 ]
• x = arctan y ⇔ y = tan x ∧ x ∈] − π2 , π2 [
tan : ] − π2 , π2 [ → R arctan : R → ] − π2 , π2 [
x 7→ tan x y 7→ arctan y
Nota. Temos que sin(arcsin y) = y, uma vez que esta expressão só tem significado para
y ∈ [−1, 1], mas em geral não podemos escrever que arcsin(sin x) = x, uma vez que esta
igualdade só é válida para x ∈ [− π2 , π2 ]. Por exemplo arcsin(sin π) = arcsin(0) = 0 6= π.
Funções hiperbólicas
As funções hiperbólicas têm algumas propriedades semelhantes às funções trigonomé-
tricas, e por isso “herdaram” o nome das funções trigonométricas. Vamos então definir
as funções seno hiperbólico, cosseno hiperbólico, tangente hiperbólica e cotangente hiper-
bólica. Esta família de funções pode ser definida, de modo equivalente, geométrica ou
algebricamente. Neste texto vamos apenas usar a definição algébrica. Fazemos apenas uma
pequena observação geométrica, o nome de funções hiperbólicas advém do facto da hipérbole
x2 − y 2 = 1 representar para estas funções um papel similar ao do círculo trigonométrico
x2 + y 2 = 1 para as funções trigonométricas.
3
Funções elementares
sinh x ex − e−x
3. tanh x = = x , [tangente hiperbólica]
cosh h e + e−x
cosh x ex + e−x
4. coth x = = x . [cotangente hiperbólica]
sinh h e − e−x
As funções sinh, cosh, tanh têm domínio R e a função coth tem domínio R \ {0}.
cosh : [0, +∞] → [1, +∞] arg cosh : [1, +∞] → [0, +∞]
x 7→ cosh x y 7→ arg cosh y
4
Cálculo Diferencial
Nota. A única destas funções hiperbólicas que não é injetiva é o cosseno hiperbólico. Por
esse motivo temos que considerar um restrição no domínio para que seja invertível.
2 Cálculo Diferencial
O Cálculo Diferencial é a área da Matemática onde se estudam taxas de variação, nomea-
damente o declive de retas ao gráfico de funções de uma ou mais variáveis. Nesta disciplina
vamos fazer uma breve revisão de alguns dos conceitos conhecidos para funções reais de uma
variável, e generalizá-los para funções de duas ou mais variáveis.
Exemplos 2.2.
1
a é um ponto de acumulação de D se ∀δ > 0, ]a − δ, a + δ[\{a} ∩ D 6= ∅.
5
Cálculo Diferencial
3. Vamos verificar que lim sin πx não existe. Para tal vamos usar um resultado que nos
x→0
diz que se o limite existe, então a imagem de qualquer sucessão que tenda para 0, tem
que tender para esse limite.
Consideremos as sucessões, convergentes para 0, de termo geral un = n1 e vn = 4n+1 2
.
Se os limites das sucessões f (un ) e f (vn ) forem diferentes ou um deles não existir,
então lim sin πx não existe.
x→0
π
lim f (un ) = lim sin 1/n = lim sin nπ = 0
π
lim f (vn ) = lim sin 2/(4n+1) = lim sin( π2 + 2nπ) = 1
Podemos então concluir que o limite não existe.
Limites laterais
Se na definição de limite considerarmos que os valores de x, pelos quais nos aproximamos
de a, são sempre maiores (menores) do que a, chamamos a esse limite limite à direita
(esquerda).
• lim+ f (x) = L se ∀ > 0 ∃δ > 0, 0 < x − a < δ ⇒ |f (x) − L| < . [limite à direita]
x→a
• lim− f (x) = L se ∀ > 0 ∃δ > 0, 0 < a − x < δ ⇒ |f (x) − L| < . [limite à esquerda]
x→a
O limite existe se ambos os limites laterais existirem e forem iguais. Os limites laterais
só estão definidos se a for um ponto de acumulação do domínio à direita ou à esquerda,
respectivamente.
Exemplo 2.3.
(
x+2 se x < 0
f (x) = lim f (x) = 2 6= −5 = lim+ f (x)
−5 se x ≥ 0 x→0− x→0
Limites no infinito
Tal como no caso finito, o limite de uma função quando esta se aproxima de um dado
ponto é infinito se puder tomar valores tão grandes quanto queiramos, escolhendo x numa
vizinhança do ponto a.
Por outro lado dizemos que o limite de uma função no infinito existe, se à medida que
tomarmos valores cada vez maiores nos aproximamos tanto quanto queiramos do valor limite.
Estes dois tipos de limites podem ser escritos rigorosamente em linguagem matemática
do seguinte modo.
6
Cálculo Diferencial
Além destes casos, podemos facilmente definir quando é que um limite no infinito é
infinito, assim como os casos em que os limites laterais são infinitos.
O limite da soma, diferença, produto, quociente e potência de duas funções, no mesmo
ponto, é a soma, diferença, produto e quociente dos limites, sempre que ambos estiverem
definidos e o seu resultado não for uma indeterminação. As indeterminações serão estudadas
mais à frente.
Continuidade
Definição 2.4. Uma função f : D → R é contínua em a ∈ D se lim f (x) = f (a). Caso con-
x→a
trário, diz-se que a função é descontínua em a. Da mesma forma se pode definir continuidade
lateral.
Uma função é contínua no conjunto D se é contínua em todos os pontos do seu domínio.
2
5
o 1
-2 2 4
-3 -2 -1 1 2 3
-5 -1 o
-2 o
-10
-3
Função contínua no intervalo [−3, 5]. Função descontínua em -2 e 1. No entanto, é contínua à esquerda em -2.
Uma continuidade diz-se removível se lim f (x) existe e é finito. Isto significa que se
x→a
existe uma função g tal que f (x) = g(x), para x 6= a, mas que é contínua em a. Ou seja, a
descontinuidade de f em a foi removida.
Exemplo 2.5.
(
x sin πx se x 6= 0 π
f (x) = lim x sin = 0 (infinitésimo × f.limitada)
1 se x = 0 x→0 x
A descontinuidade de f é removível. Se removermos essa descontinuidade, obtemos a
função g.
(
x sin πx se x 6= 0
g(x) =
0 se x = 0
A função g : R → R é um exemplo de uma função contínua em R, mas que não pode ser
escrita numa única “expressão”.
7
Cálculo Diferencial
Tal como para os limites, a soma, diferença, produto, quociente e potência de duas
funções contínuas é uma função contínua no seu domínio. Também a composição de duas
funções contínuas e a inversa de uma função contínua são funções contínuas, nos respectivos
domínios.
Podemos assim afirmar que todas as funções elementares são funções contínuas. As fun-
ções elementares são as que resultam das funções polinomiais, logarítmicas, trigonométricas
e trigonométricas inversas através de um número finito de somas, diferenças, produtos, quo-
3 √
cientes e potências. Por exemplo as funções de expressão analítica ex , 2xcos+1
x
e ln x + 5 são
funções elementares. De facto, com excepção da função módulo, todas as funções estudadas
até aqui, que se possam escrever numa expressão única, são funções elementares.
2.1 Derivadas
Definição 2.6. Seja f uma função definida no intervalo ]a − , a + [, com > 0. A derivada
da função f no ponto a ∈ R é
df f (x) − f (a) f (a + h) − f (a)
f 0 (a) = (a) := lim = lim , se este limite existir.
dx x→a x−a h→0 h
A última igualdade resulta simplesmente da mudança de variável x − a = h.
Notas.
df
4. À notação de derivada do tipo chama-se notação de Leibniz, por ter isso introduzida
dx
pelo matemático alemão Gottfried W. Leibniz.
8
Cálculo Diferencial
Exercício
Num recipiente cónico com raio igual a 2dm e altura igual a 4dm é colocada água à
taxa constante de 2dm3 /min. A que velocidade está a subir a água, quando está a 3dm de
altura?
Designemos por V o volume de água num dado instante, por h a altura da água e por r
o raio da superfície de água. Como a altura do cone é de 4dm e o raio do cone é de 2dm,
usando uma regra de três simples temos que r = h2 .
Usando a fórmula do volume do cone deduzimos que o volume de água no recipiente
quando a água está à altura h é
2
1 2 1 h π
V = πhr = πh = h3 .
3 3 2 12
dV
Por outro lado, do enunciado, sabemos que = 2.
dt
Finalmente vamos usar a regra da derivada da composta para calcular o valor de h0 (t).
dV dV dh π 8
= × ⇔2= h2 × h0 (t) ⇔ h0 (t) =
dt dt dt 4 πh2
8
Quando h = 3, a água está a subir à velocidade à velocidade de h0 (t) = dm/min.
9π
Derivada da função inversa
A partir da derivada da função composta, deduz-se uma regra para a derivada da função
inversa.
Seja g a função inversa de f , ou seja f · g(x) = x. Vamos supor que f 0 (g(x)) existe e é
diferente de zero. Usando a regra da função composta.
1
(f · g)0 (x) = x0 ⇔ f 0 (g(x)) g 0 (x) = 1 ⇔ g 0 (x) = 0
f (g(x))
9
Cálculo Diferencial
f (x) f 0 (x)
lim = lim 0 .
x→a g(x) x→a g (x)
10
Cálculo Diferencial
Exemplos 2.11.
ln x 0 1/x
1. lim = lim =1
x→1 x − 1 0 x→1 1
ex ∞ ex ∞ ex
2. lim = lim = lim = +∞
x→+∞ x2 ∞ x→+∞ 2x ∞ x→+∞ 2
cos x − sin x
3. lim+ 6 lim+
= +∞ = =0
x→0 sin x x→0 cos x
Neste caso não podemos aplicar a regra de l’Hôpital porque este limite não é uma
indeterminação.
x + cos x ∞ 1 − sin x
4. lim 6= lim
x→+∞ x ∞ x→+∞ 1
x sin x + cos x cos x
O limite da direita não existe, no entanto lim = lim 1 + = 1.
x→+∞ x2 x→+∞ x
Indeterminações do tipo 00 , ∞0 e 1∞
Estas indeterminações transformam-se numa indeterminação do tipo 0 × ∞ usando as
propriedades dos limites e do logaritmo. A partir daí podemos usar um dos métodos dispo-
níveis para levantar esta indeterminação, como a regra de l’Hôpital por exemplo. De seguida
vamos ver como se faz essa transformação.
Cálculo Auxiliar:
ln x (ln x)0 1/x
lim+ x × ln x (0 × ∞) = lim+ = lim+ 0
= lim+ = lim+ −x = 0
x→0 x→0 1/x x→0 (1/x) x→0 −1/x2 x→0
11
Cálculo Diferencial
culando o conjunto de pontos do plano onde a expressão f (x, y) está definida. O domínio é
então
Df = {(x, y) : 9 − x2 − y 2 ≥ 0} = {(x, y) : x2 + y 2 ≤ 9},
ou seja o domíno desta função é o círculo de raio 3 e centro na origem.
Para calcular o contradomínio de f basta observar que
√
0 ≤ x2 + y 2 ≤ 9 ⇔ 9 − 0 ≥ 9 − (x2 + y 2 ) ≥ 9 − 9 ⇒ 9 ≥ 9 − x2 − y 2 ≥ 0. Temos então
p
12
Cálculo Diferencial
implica que z 2 = 9 − x2 − y 2 ⇔ x2 + y 2 + z 2 = 9.
Como z = 9 − x2 − y 2 ≥ 0, o gráfico de f é a
p
e raio 3.
O gráfico de f é a parte superior da esfera
x2 + y 2 + z 2 = 9.
Exemplos 2.17.
1. f (x, y) = 3x + xy
∂f
A derivada parcial de f em ordem a x é (x, y) = fx (x, y) = 3 + y
∂x
[y funciona como uma constante.]
∂f
A derivada parcial de f em ordem a y é (x, y) = fy (x, y) = x
∂y
[x funciona como uma constante.]
2. f (x, y) = sin(x2 y) + ex − y 2
∂f
(x, y) = fx (x, y) = 2xy cos(x2 y) + ex
∂x
∂f
(x, y) = fy (x, y) = x2 cos(x2 y) − 2y
∂y
13
Cálculo Diferencial
Vamos de seguida apresentar a definição de derivada parcial num ponto (a, b), para
funções de duas variáveis. Para funções de três ou mais variáveis a definição é em tudo
semelhante. Esta definição é feita a partir da definição de derivada para funções de uma
variável, fixando uma variável de cada vez.
Consideremos uma função f de duas variáveis e (a, b) um ponto do seu domínio. Define-se
a função, de uma variável, g(x) = f (x, b), ou seja, fixa-se a segunda variável y = b.
Se g 0 (a) existe, então a esse valor chama-se derivada parcial de f em ordem a x no ponto
(a, b). De igual modo podemos definir derivada parcial de f em ordem a y no ponto (a, b).
∂f f (a+h, b) − f (a, b)
(a, b) := lim (= g 0 (a)) .
∂x h→0 h
Exemplo 2.19. (
x3 +y 2
se (x, y) 6= (0, 0)
Consideremos a função de expressão analítica f (x, y) = x2 +y 2
.
0 se (x, y) = 0
Nos pontos que não estão na fronteira entre os dois ramos, neste caso todos excepto
o ponto (0, 0), podemos usar as regras de derivação para calcular as derivadas parciais.
Ou seja, o único ponto “anguloso"é o ponto (0, 0). Vamos então verificar se a função tem
derivadas parciais neste ponto.
Ou seja ∂f
∂x
(0, 0) = 1, mas ∂f
∂y
(0, 0) não existe.
A derivada parcial, sendo definida à custa da derivada de uma função de uma variável,
tem essencialmente o mesmo significado que esta. A derivada parcial representa assim uma
taxa de variação. Voltando ao Exemplo 2.13 do início da secção 2.2, se calcularmos a derivada
de C em ordem a z, estamos a calcular a variação de C (e/km) em relação à variação de z
14
Cálculo Diferencial
e/km
(e/litro), ou seja o resultado será dado em = litros/km . Se derivarmos em ordem
e/litro
a y, por exemplo, o resultado será em e/km2 .
Interpretação Geométrica
Para as funções de duas variáveis as derivadas parciais representam o declive de uma
reta tangente. Neste caso a reta tangente ao gráfico de uma função num ponto não é única,
existem uma infinidade delas. As derivadas parciais representam os declives de duas dessas
retas, as retas paralelas ao plano XOZ e ao plano Y OZ, respectivamente.
Sejam z = f (x, y) o gráfico de uma função f : R2 → R com f (a, b) = c, T1 a reta
tangente ao gráfico em P = (a, b, c) e paralela ao plano XOZ; e T2 a reta tangente ao
gráfico em P e paralela ao plano Y OZ. Temos que:
∂f ∂f
declive de T1 = (a, b) e declive de T2 = (a, b) .
∂x ∂y
15
Cálculo Diferencial
∂ 2f
∂ ∂f
• = = fxx ;
∂x ∂x ∂x2
∂ 2f
∂ ∂f
• = = fyx ; [deriva-se primeiro em ordem a y e depois em ordem a x]
∂x ∂y ∂x∂y
∂ 2f
∂ ∂f
• = = fxy ; [deriva-se primeiro em ordem a x e depois em ordem a y]
∂y ∂x ∂y∂x
∂ 2f
∂ ∂f
• = 2 = fyy .
∂y ∂y ∂ y
Por iteração deste processo definem-se as derivadas parciais de ordens superiores.
O próximo teorema diz-nos que, em geral, não é preciso calcular fyx se já conhecermos
o valor de fxy .
Teorema 2.21 (de Clairaut). Todas as funções elementares satisfazem a igualdade fyx (a, b) =
fxy (a, b).
De modo prático esta igualdade aplica-se sempre que pudermos usar as regras de deri-
vação, ou seja sempre que a função não estiver definida por ramos, que é o caso de quase
todas as funções que iremos usar nesta disciplina.
O Teorema de Clairaut também se aplica a derivadas de ordem superior, por exemplo
para todas as funções elementares temos que fxxy = fxyx = fyxx .
Exemplo 2.22. Seja f (x, y) = x2 y − 3y. As derivadas parciais de primeira ordem são
∂f ∂f
= 2xy e = x2 − 3. As derivadas de segunda ordem são:
∂x ∂y
∂ 2f
∂ ∂f ∂
• 2
= = (2xy) = 2y;
∂x ∂x ∂x ∂x
16
Cálculo Diferencial
∂ 2f
∂ ∂f ∂
• x2 − 3 = 2x;
= =
∂x∂y ∂x ∂y ∂x
∂ 2f ∂
• = (2xy) = 2x;
∂y∂x ∂y
∂ 2f ∂
• x2 − 3 = 0 .
2
=
∂ y ∂y
Vetor Gradiente
O vetor gradiente é um vetor que condensa a informação sobre as derivadas parciais num
vetor, assim o vetor gradiente de uma função de n variáveis f : D ⊆ Rn → R é
∂f ∂f ∂f
∇f (x1 , x2 , . . . , xn ) = , ,..., ;
∂x1 ∂x2 ∂xn
onde as derivadas parciais são calculadas no ponto (x1 , x2 , . . . , xn ). O cálculo das derivadas
parciais pode ser feito por definição ou usando as regras de derivação quando tal for possível.
O vetor gradiente num ponto só está definido quando existem todas as derivadas parciais
nesse ponto.
∇f (1, 2, 0) = (4, 1, 4) .
17
Cálculo Diferencial
1. Dû f (a, b) mede a variação de f na direção, e sentido, de û. Se o vetor não for unitário,
considerarmos o vetor unitário com a mesma direção e sentido. Ou seja, para ~u 6= ~0,
~u
considera-se o vetor û = .
||~u||
A noção de função diferenciável é uma noção complexa e que não temos tempo para
abordar com detalhe neste curso. Intuitivamente dizemos que uma função de duas variáveis
é diferenciável num ponto se o gráfico da função tem um único plano tangente (não vertical)
ao gráfico nesse ponto. As funções diferenciáveis (de duas ou mais variáveis) num ponto
têm todas as derivadas parciais nesse ponto, mas o contrário pode não se verificar.
É de notar que para funções de uma variável o conceito de diferenciabilidade coincide
com o de derivabilidade. Intuitivamente podemos igualmente dizer que uma função de uma
variável é diferenciável num ponto, se o gráfico da função tem uma única reta tangente (não
vertical) ao gráfico nesse ponto.
As funções que vamos usar são usualmente diferenciáveis, uma que todas as funções
elementares são diferenciáveis no interior do seu domínio. Sempre que tivermos uma função
elementar, vamos usar o teorema que se segue para calcular a derivada direcional. Este re-
sultado, na prática, generaliza o uso das regras de derivação a todas as derivadas direcionais.
O teorema e a proposição seguintes são válidos para funções de n variáveis.
18
Cálculo Diferencial
Sempre que estamos nas condições deste teorema é fácil descobrir qual é a direção em
que derivada a direcional toma o maior (ou o menor) valor possível.
Exercício
Suponhamos que h(x, y) = 2 − xy + x2 + y representa a altitude, medida em km, numa
dada região. Uma pessoa na origem do referencial caminha na direção SO. Está a subir ou
a descer? Em que direção é que o declive é maior?
A função h indica a altitude de um determinado ponto, quando são conhecidas as suas
coordenadas. (As coordenadas usualmente são a latitude e a longitude.) Consideremos o
eixo dos XX no sentido Oeste − Este e o eixo dos Y Y no sentido Sul − N orte.
√ √
Portanto a direção SO corresponde ao versor û = − 22 , − 22 . Queremos descobrir se
o valor Dû h(0, 0) é positivo ou negativo.
19
Cálculo Diferencial
O declive é máximo na direção do vetor ∇h(0, 0) = (0, 1), ou seja na direção Sul −N orte
e o seu valor é igual a ||(0, 1)|| = 1. Se todas os valores forem na mesma unidade de medida
(km), então este declive corresponderia a uma inclinação de 45o .
Quando |x − a| é um valor muito pequeno, e f tem derivada contínua num intervalo que
contém a e x, então L(x) é uma boa aproximação de f (x), ou seja
Notas.
1. A aproximação linear serve para estimar o valor de uma função, quando apenas sabe-
mos como se comporta num ponto.
20
Cálculo Diferencial
Exercício
√
Calcule o valor aproximado de 4.01?
√
Considera-se a função real de expressão analítica f (x) = x. Uma vez conhecida a
1
função deduzimos que f 0 (x) = √ .
2 x
Neste caso vamos usar a aproximação linear da função f em torno do ponto a = 4
√
para calcular um valor aproximado para f (4.01) = 4.01, ou seja vamos usar x = 4.01 e
∆x := x − a = 0.01:
1
L(x) = f (4) + f 0 (4) (x − a) = 2 + (x − 4) .
4
1
Finalmente, concluímos que f (4.01) ≈ L(4.01) = f (4) + f 0 (4) × 0.01 = 2 + × 0.01 =
√ 4
2.0025 . Note-se que o valor real de 4.01 é 2.0024984 . . ., o que significa que obtive-
mos uma aproximação com um erro inferior 2 × 10−6 quando o valor do erro inicial era
∆x = 0.01 = 10−2 mostrando que neste caso a aproximação linear é uma boa ferramenta.
A aproximação linear pode também ser útil quando sabemos como a função se comporta
num ponto, ou num intervalo pequeno, e queremos deduzir qual o seu comportamento em
zonas próximas.
De seguida vamos generalizar este processo para funções de duas variáveis. Tudo o vai
ser feito para funções de duas variáveis pode facilmente ser adaptado para funções de mais
variáveis. Em toda a construção que faremos a seguir vamos considerar que as funções são
funções elementares, e que os pontos considerados são pontos interiores do seu domínio.
Aproximação Linear - funções de duas variáveis
Sejam f : D ⊆ R2 → R uma função real de duas variáveis e (a, b) um ponto interior do
domínio D.
A aproximação linear de f em torno de (a, b) ∈ R2 é a função linear
Tal como no caso de uma variável, quando os valores |x − a| e |y − b| são muito pequenos,
e f é diferenciável numa vizinhança de (a, b) que contém (x, y), então L(x, y) é uma boa
aproximação de f (x, y), ou seja
21
Cálculo Diferencial
Deste modo concluímos ainda que a equação do plano tangente ao gráfico da função
z = f (x, y) no ponto P = (a, b, f (a, b)) é o plano de equação
Diferencial
A noção de diferencial está intimamente ligada com a noção de aproximação linear e
as duas podem ser facilmente confundidas. Em alguns dos exercícios será indiferente usar
qualquer uma das notações, podendo no entanto existir vantagens de cálculo que tornem
preferível usar uma delas. Optámos por introduzir a noção formal de diferencial, uma vez
que será útil nos capítulos seguintes.
Definição 2.27.
dy
dy = f 0 (x) dx = dx .
dx
2. Para uma função de duas variáveis z = f (x, y), o diferencial de z ou diferencial total é
∂z ∂z
dz = fx (a, b) dx + fy (a, b) dy = dx + dy .
∂x ∂y
f (x, y) ≈ f (a, b) + dz .
De igual modo para funções de uma variável podemos escrever f (x) ≈ f (a) + dy .
Exercício
A função T (x, y) mede a temperatura em graus Celsius no ponto (x, y) de uma superfície
plana. Um rato é largado na superfície e encontra-se na posição P = (2, 1), medida em cm.
Sabendo que Tx (2, 1) = 3, Ty (2, 1) = 5 e a posição do rato foi determinada com um erro
inferior a 1mm, indique um valor aproximado para o erro cometido na temperatura a que
está o local onde se encontra o rato.
22
Cálculo Diferencial
O valor que queremos calcular é o valor absoluto de ∆T = T (2 + dx, 1 + dy) − T (2, 1),
com |dx| ≤ 0.1 e |dy| ≤ 0.1.
Vamos usar a abordagem dos diferenciais, ou seja:
|∆T | ≈ |dT | = |Tx (2, 1) dx + Ty (2, 1) dy| ≤ |Tx (2, 1) dx| + |Ty (2, 1) dy|
= |Tx (2, 1)| |dx| + |Ty (2, 1)| |dy| ≤ 3 × 0.1 + 5 × 0.1 = 0.8 .
O erro cometido é inferior a 0.8 graus Celsius.
Teorema 2.28 (caso 1). Sejam z = f (x, y) uma função com derivadas parciais e x(t), y(t)
funções deriváveis, então
dz ∂f dx ∂f dy
= × + × .
dt ∂x dt ∂y dt
Exemplos 2.29.
23
Cálculo Diferencial
= 2 cos(2x + y) × 2t + cos(2x + y) × et .
Para valores concretos de t podemos calcular a derivada desta função. Por exemplo
quando t = 1, os valores de x e y são x = 12 = 1 e y = e1 = e, e assim temos que:
dz
(1) = 4 cos(e + 2) + e cos(e + 2) = (4 + e) cos(e + 2) .
dt
2. A regra da derivada da composta para funções de duas variáveis serve também para
deduzir regras de derivação que utilizamos habitualmente. Fazendo z = uv com u(x) e
v(x) funções de uma variável podemos deduzir uma regra de derivação para potências
com variável tanto na base com no expoente.
dz ∂z du ∂z dv
(uv )0 = = × + × = uv−1 u0 + uv (ln u) v 0
dx ∂u dx ∂v dx
Exercício
Num determinado gás existe a relação P V = 8.31T . Determine a taxa de variação
da pressão(P), quando a temperatura(T) é 300k e está a aumentar à taxa de 0.1k/s; e o
volume(V) é de 100l e aumenta 0.2l/s.
Vamos resolver este exercício usando a derivada da composta. Vamos primeiro analisar
os dados do problema. Consideramos t0 o instante em que o problema é colocado. Nesse
dT dV
instante é-nos dito que T0 = 300, V0 = 100, (t0 ) = 0.1 e (t0 ) = 0.2.
dt dt
T ∂P 8.31
Por outro lado P V = 8.31T ⇔ P = 8.31 e consequentemente = e
V ∂T V
∂P 8.31T
=− .
∂V V2
Finalmente estamos em condições de determinar a taxa de variação.
dP ∂P dV ∂P dT
= × + ×
dt ∂V dt ∂T dt
Teorema 2.30 (caso 2). Sejam w = f (x, y, z), x(s, t), y(s, t) e z(s, t) funções com derivadas
parciais, então
∂w ∂w ∂x ∂w ∂y ∂w ∂z
= × + × + × ;
∂s ∂x ∂s ∂y ∂s ∂z ∂s
∂w ∂w ∂x ∂w ∂y ∂w ∂z
= × + × + × .
∂t ∂x ∂t ∂y ∂t ∂z ∂t
24
Cálculo Diferencial
Diagrama de árvore
x y z
s t s t s t
∂u ∂u ∂x ∂u dy
= × + × = (6xy − z) × 2s + 3x2 × 2 ;
∂s ∂x ∂s ∂y ds
∂u ∂u ∂x ∂u dz
= × + × = (6xy − z) × 2t − x × 1 ;
∂t ∂x ∂t ∂z dt
∂u
(1, 2) = 56 × 2 + 75 × 2 = 262 ;
∂s
∂u
(1, 2) = 56 × 4 − 5 × 1 = 219 .
∂t
Neste exemplo o diagrama de árvore toma um aspeto um pouco diferente, uma vez que
a variável x depende das duas variáveis s e t, enquanto y e z são funções de apenas uma
variável. Esta diferença justifica também a diferença de notação, visto que as derivadas de
y e de z são derivadas totais e não derivadas parciais.
x y z
s t s t
Uma iteração deste processo permite usar a regra da cadeia para as derivadas da com-
posta de três ou mais funções.
25
Cálculo Diferencial
(∃ > 0) ||(x, y) − (a, b)|| < ⇒ f (a, b) ≥ f (x, y) (f (a, b) ≤ f (x, y)).
Para funções deriváveis de uma variável temos como condição necessária, para um ponto
ser extremante local, a derivada ser nula nesse ponto. Esse resultado é facilmente generali-
zável para funções com mais variáveis.
Depois de calcularmos os pontos críticos, temos que identificar quais deles são pontos
extremantes. Para funções de duas variáveis não é possível fazer um quadro de sinal. No
entanto existe um resultado, semelhante ao que a seguir se enuncia para funções reais de
variável real, que pode ser usado determinar se um ponto crítico é ou não extremante.
26
Cálculo Diferencial
Este exemplo mostra que é possível uma função de duas variáveis ter dois mínimos locais,
e nenhum máximo local.
Neste caso é possível provar que −2 é também o mínimo absoluto. Para tal reescreve-se
2 2
a função f (x) = (x2 − 1) + (y 2 − 1) + 2 (x − y)2 − 2 ≥ −2, provando assim que −2 é um
minorante da função.
27
Cálculo Diferencial
não extremante.
28
Cálculo Integral
3 Cálculo Integral
O Cálculo Integral, de modo genérico, é área da Matemática onde se estudam as Anti-
Derivadas ou Primitivas e a utilização que se faz delas. Os integrais podem estar definidos
para uma ou mais variáveis, ainda que nesta disciplina apenas abordaremos o caso de uma
variável.
A primitiva de uma função não é única. A mesma função pode ter várias primitivas.
Vamos ver alguns exemplos desse facto.
Exemplos 3.2.
1. F1 (x) = x e F2 (x) = x+3 são duas primitivas da função f (x) = 1. (F10 (x) = F20 (x) = 1)
2. G1 (x) = sin2 x e G2 (x) = − cos2 x são duas primitivas da função g(x) = 2 sin x cos x.
(G01 (x) = G02 (x) = 2 sin x cos x)
As funções G1 e G2 estão relacionadas da seguinte forma G1 (x) = G2 (x) + 1, ou seja
sin2 x = − cos2 x + 1. Este é um resultado geral, como veremos a seguir.
Teorema 3.3.
Z
Notação: O conjunto de todas as primitivas de uma função representa-se por f (x) dx:
Z
f (x) dx = F (x) + C, onde F 0 = f e C ∈ R.
29
Cálculo Integral
• F é uma primitiva de f .
Z
• f (x) dx é a família de (todas as) primitivas de f , ou integral indefinido.
Ao contrário das derivadas, não existe uma fórmula para calcular primitivas. A primi-
tivação é simplesmente definida como o “inverso” da derivação. Assim, se invertermos uma
tabela de derivadas obtemos uma tabela de primitivas. As primitivas que se obtêm através
da inversão das derivadas conhecidas designam-se por primitivas imediatas.
A seguir vamos ver exemplos de primitivas imediatas, fórmulas mais gerais que aparecem
na tabela de primitivas e de aplicação do Teorema 3.4.
Exemplos 3.5.
Z
1. 2x dx = x2 + C, C ∈ R
xn+1
Z
2. n
x dx = + C, n 6= −1
n+1
Z
3. f 0 (x) cos (f (x)) dx = sin (f (x)) + C
x4 x3
Z Z Z Z
4. 3 2
x − 2x + 7 dx = 3
x dx − 2 2
x dx + 7 dx = − 2 + 7x + C
4 3
−1
Z Z Z
10 1 1 1
5. dx = + dx = − dx = ln x − ln(10 − x) + C
x(10 − x) x 10 − x x 10 − x
x
= ln + C, x ∈]0, 10[
10 − x
Esta primitiva foi resolvida apenas no intervalo ]0, 10[. De modo idêntico podemos
calcular a primitiva no intervalo ] − ∞, 0[ ou no intervalo ]10, +∞[.
30
Cálculo Integral
Z Z Z
0 0
h (x) g(x) dx = (h g) (x) dx − h(x) g 0 (x) dx .
Exemplos 3.6.
Z Z
1. x
x |{z}
|{z} e − ex × |{z}
x
e dx = x |{z} 1 dx = x ex − ex + C
g f F g0
Z Z Z
1
2. ln x dx = ln x × |{z}
1 = (ln x) × x − x = x ln x − x + C
|{z} x
g f
x2 x2 1 x2 x2 + 1 − 1
Z Z
1
3. |{z}
x arctan x dx = arctan x − 2
dx = arctan x − dx
| {z } 2 2 x +1 2 2 x2 + 1
f g
x2 x2
Z
1 1 1
= arctan x − 1− 2 dx = arctan x − (x − arctan x) + C
2 2 x +1 2 2
1
arctan x(x2 + 1) − x + C
=
2
31
Cálculo Integral
Claro que vamos continuar a calcular esta primitiva diretamente, sem escrever a substi-
tuição explicitamente. Este exemplo serve apenas para ilustrar como funciona a substituição
para o cálculo de primitivas.
Sejam g e h duas funções deriváveis. A regra da derivada da composta diz-nos que
Mais uma vez, primitivando ambos os membros da igualdade obtemos a fórmula pretendida.
Z
h0 (g(t)) g 0 (t) dt = h(g(t)) + C
dx
A notação dos diferenciais x = g(t) ⇒ dx = g 0 (t)dt = dt , torna mais fácil recordar a
dt
regra da substituição.
A fórmula tal como a deduzimos, e vimos no exemplo, é lida da “esquerda para a direita”.
Ela pode, no entanto, ser usada no sentido inverso. Nesse caso temos de procurar qual a
substituição mais adequada em cada caso. A tabela de primitivas dá-nos algumas sugestões
de mudanças de variável.
32
Cálculo Integral
Teorema 3.7 (Primitiva por substituição). Seja f contínua num intervalo I. Se x = g(t) é
uma função diferenciável em I tal que g 0 (t) 6= 0 no interior do intervalo, então g é invertível,
t = g −1 (x), e Z Z
f (x) dx = f (g(t)) g 0 (t) dt .
t=g −1 (x)
Exemplo 3.8.
Z √
1 − x2 dx
Z
1 1 sin 2t
(∗) = (1 + cos 2t) dt = t+ +C
2 2 2
1 2 sin t cos t 1 √
= (t + )+C = arcsin x + x 1 − x2 + C
2 2 2
√
Notas: cos t = 1 − x2 , uma vez que cos2 t + sin2 t = 1, sin t = x e cos t ≥ 0.
(*) Na tabela de primitivas existe uma secção sobre como primitivar potências de funções
1
trigonométricas. Neste caso usámos a igualdade cos2 t = (1 + cos 2t)
2
Pode ser necessário usar uma combinação destas técnicas de primitivação e/ou usar
repetidamente a mesma técnica para calcular a primitiva desejada.
Frequentemente é mais fácil calcular uma derivada do que calcular a respetiva primitiva.
Por isso, uma maneira eficiente de verificar que uma primitiva está bem calculada é calcular
a derivada do resultado obtido.
Como vimos atrás é preciso ter ainda em atenção que a primitiva não é única, e que
algumas funções podem ser escritas de várias maneiras.
33
Cálculo Integral
Problema
Uma mota vai dos 0 aos 180km/h = 50m/s em 10s com aceleração uniforme. Quantos
m percorre nos últimos 4s?
Resolver este problema consiste em saber qual é a velocidade média da mota no intervalo
[6, 10] e multiplicar pelo tempo. Como o movimento é uniforme a distância percorrida é:
50 + 30
dist = vmédia × (10 − 6) = × 4 = 160m.
2
Geometricamente, calculámos a área dum trapézio com bases 50 e 30, e altura 4.
E se o movimento não for uniforme? Se a velocidade for modelada por uma qualquer
função contínua v(t)? O problema contínua a consistir em calcular a área da região limitada
pelo eixo dos XX (onde é medido o tempo) e pelo gráfico da função v(t). Podemos calcular
essa área usando aproximações sucessivas.
Definição 3.9. Seja f uma função contínua no intervalo fechado [a, b] (e portanto limitada).
O integral definido de f no intervalo [a, b] é:
b n
b−a b−a
Z X
f (x) dx = lim f a+ i × .
a n→∞
i=1
n n
Notas.
34
Cálculo Integral
3. A definição de integral definido pode ser generalizada para funções limitadas com um
número finito de descontinuidades.
Z b
Proposição 3.10. Se f (x) ≥ 0, para x ∈ [a, b], então f (x) dx é o valor da área da
a
região limitada pelas retas x = a, x = b, y = 0 e y = f (x).
Z 10
(50 + 30) × (10 − 6)
Como vimos anteriormente 5x dx = = 160 é área dum trapézio
6 2
com bases 50 e 30, e altura 4.
Apesar de todas as funções contínuas serem primitiváveis, nem todas são primitiváveis
como uma soma finita de funções elementares.
O ponto 2. do Teorema Fundamental do Cálculo Integral dá-nos uma maneira prática
de calcular um integral definido. Voltando ao problema que nos tem servido de guia, ele diz
que para calcular o deslocamento basta conhecer a posição final e a posição inicial.
Exemplos 3.12.
Z 10
5 5
1. 5x dx = F (10) − F (6) = 102 − 62 = 250 − 90 = 160,
6 2 2
onde F (x) = 25 x2 é uma das primitivas de F .
Em geral não vamos escrever a primitiva F separadamente. Nos próximos exemplos
vamos introduzir a notação que vai evitar fazê-lo.
35
Cálculo Integral
1 1
x3 13 03
Z
1
2. 2
x dx = = − =
0 3 0 3 3 3
Este é o exemplo da figura que acompanha a Definição 3.9 (definição de Integral
Definido).
(
cos x se x > 0
3. Consideremos a função definida por ramos f (x) = .
x se x ≤ 0
Z π/2 Z 0 Z π/2
f (x) dx = x dx + cos x dx =
−2 −2 0
2 0
x π
+ [sin x]π/2
0 = (0 − 2) + sin − sin 0 = −1.
2 −2 2
A função deste exemplo tem uma descontinuidade no ponto 0, no entanto a integração
em cada dos dois ramos da função pode ser feita usando o Teorema Fundamental do
Cálculo Integral como habitualmente (ver Nota 2. atrás). Reparemos que neste caso
existem os dois limites laterais em 0, ainda que sejam diferentes.
Z 1 1
1 1
4. − 2 6=
−2 x x −2
A função f (x) = − x12 é ilimitada no intervalo [−2, 1] (e não está definida em 0), o que
torna este exemplo diferente do anterior. Esta função não é integrável no intervalo
[−2, 1] mas é integrável em qualquer intervalo que não contenha o 0.
De seguida vamos ver como é que a primitivação por partes e por substituição podem ser
usadas para calcular integrais definidos. As regras que enunciamos a seguir são apenas uma
reescrita adaptada a este novo contexto. Os integrais podem ser sempre calculados usando
o caso geral.
A vantagem de usar esta fórmula diretamente, em vez de calcular a primitiva de f (x) g(x)
primeiro e fazer as substituições depois, é principalmente porque nos permite simplificar a
escrita.
Exemplo
Z 2 3.13. Z 2
x 2
x
xe dx = [e x]0 − ex 1 dx = (2e2 − 0) − [ex ]20 = 2e2 − (e2 − e0 ) = e2 + 1.
0 0
36
Cálculo Integral
Usar esta fórmula diretamente tem a grande de vantagem de não ser preciso voltar à
variável inicial x para calcular o valor do integral. (Comparar com o Teorema 3.7.)
Exemplos 3.14.
1. Neste exemplo vamos usar as mesmas função e substituição do que no Exemplo 3.8, e
por isso vamos omitir alguns passos que já foram feitos.
Nota: O que acabámos de calcular foi a área da metade superior do círculo de raio
igual a 1 e centro na origem.
Z √3
2
√
x3 − 1
2. Calcular dx, fazendo a mudança de variável u2 = x3 − 1.
1 x
√ 1/3
Faz-se a substituição u2 = x3 − 1 ⇔ x = 3 u2 + 1 = (u2 + 1) .
dx 1 −2/3 2 u 2u
= (2u) u2 + 1 ⇒ dx = p du = 2 du
du 3 3 (u2 + 1)2
3 3x
√
1 ≤ x ≤ 3 2 ⇔ 1 ≤ x3 ≤ 2 ⇔ 0 ≤ x3 − 1 ≤ 1 ⇒ 0 ≤ u ≤ 1
2 1
Z
1 2 2 2 π
1− 2 du = [u − arctan u]10 = (1 − 0 − arctan 1 + arctan 0) = 1− .
3 0 u +1 3 3 3 4
37
Cálculo Integral
Quando fazemos uma substituição temos que mudar a função integranda, mas também
os extremos de integração.
Áreas
O integral definido de funções não negativas foi introduzido como o cálculo de uma área.
O resultado que enunciamos a seguir generaliza esse facto.
Proposição 3.15. Sejam f e g funções contínuas em [a, b], com g(x) ≤ f (x) para x ∈ [a, b].
A área da região S limitada pelos gráficos de f e g e pelas retas verticais x = a e x = b é
Z b
Área(S) = f (x) − g(x) dx [=(altura média) ×(b − a)] .
a
Exemplos 3.16.
0.6
A figura ajuda a compreender melhor o que fizemos. 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0
38
Cálculo Integral
1 1
x2 x3
Z
2 1
Área(A) = x − x dx = − =
0 2 3 0 6
Sólidos de Revolução
Os integrais definidos podem também ser usados para calcular o volume de certo tipo
de sólidos, os sólidos de revolução.
Definição 3.17. Um sólido de revolução é um sólido que resulta da rotação de uma figura
plana em torno de um eixo, chamado eixo de revolução.
O cilindro, o cone e a esfera são exemplos de sólidos de revolução que resultam da rotação
de um retângulo, de um triângulo e de um semi-círculo, respectivamente.
Vamos usar o exemplo do cone (do qual já sabemos calcular o volume) para ilustrar
como podemos, em geral, calcular o volume de um sólido de resolução se conheceremos a
região e o eixo de revolução.
Consideremos um cone de raio r e altura h. O volume do cone é igual ao produto da
altura pelo valor médio da área de cada secção circular do cone. Seja x a distância do centro
desse círculo ao vértice do cone (representado na figura). Então o raio do círculo é igual
2
a rx
h
e portanto a área desse círculo é A(x) = π rx h
. O volume do cone é então igual ao
produto de h pelo valor médio de A(x) e portanto:
Z h Z h 2
rx 1
Volume(cone) = média de A(x) × h = A(x) dx = π dx = πr2 h .
0 0 h 3
x
A(x) é a área da região
sombreada.
39
Cálculo Integral
Proposição 3.18. Seja f contínua em [a, b]. O volume do sólido de revolução gerado pela
rotação em torno do eixo dos XX da figura limitada pelo gráfico de f , pelo eixo dos XX e
pelas retas x = a e x = b é Z b
volume = π f (x)2 dx .
a
Exemplo 3.19. Calcular o volume do sólido de revolução gerado pela rotação em torno do
√
eixo dos XX da região {(x, y) : 0 ≤ y ≤ x, 1 ≤ x ≤ 4}.
4 4 4
√ x2
Z Z
2 15π
volume = π x dx = π x dx = π =
1 1 2 1 2
√
Sólido de revolução gerado pela rotação da região limitada por f (x) = x.
40
Cálculo Integral
Neste caso f (x) representa a altura de um cilindro de raio x. A área da superfície desse
cilindro é S(x) = 2πx f (x), e o volume do sólido pode ser visto como:
1. Calcular o volume do sólido de revolução gerado pela rotação em torno do eixo dos
XX da região A.
1 1
x5
Z
2 2
π
VolumeX = π x dx = π =
0 5 0 5
2. Calcular o volume do sólido de revolução gerado pela rotação em torno do eixo dos
Y Y da região A.
1 1
x4
Z
2 π
VolumeY = 2π x x dx = 2π =
0 4 0 2
Comprimento de Curvas
Uma outra aplicação geométrica do cálculo integral é o cálculo do comprimento do gráfico
de uma função derivável num intervalo limitado.
Proposição 3.22. Seja f uma função com derivada contínua em [a, b]. O comprimento do
gráfico de f entre os pontos (a, f (a)) e (b, f (b)) é
Z bp
Cab (f ) = 1 + f 0 (x)2 dx .
a
41
Cálculo Integral
√
x2 + y 2 = r 2 ⇔ y = ± r 2 − x2
√
Para calcular o perímetro de meia circunferência, faz-se f (x) = r2 − x2 e
−x
f 0 (x) = √ e portanto o perímetro da circunferência é:
r 2 − x2
Z rr Z r 1
x2 r
Perímetro = 2 1+ 2 2
dx = 2r q dx =
−r r − x −r 1− x
2
r2
h x ir
2r arcsin = 2r (arcsin 1 − arcsin(−1)) = 2πr .
r −r
Intervalos Ilimitados
Seja f uma função contínua e não negativa em [a, +∞) tal que lim f (x) = 0.
x→+∞
Se t > a, então a área A(t) da região limitada pelo gráfico de f (t), o eixo dos XX e as
retas verticais x = a e x = t é dada por:
Z t
A(t) = f (x)dx
a
a t
Se lim A(t) existe (e é finito), então este limite pode ser interpretado como a área da
t→+∞
região limitada pelo gráfico de f , pelo eixo dos XX e pela reta x = a.
Definições 3.24.
Z t
(a) Se f (x) dx existe para t ≥ a, então
a
Z +∞ Z t
f (x) dx = lim f (x) dx, se este limite existir.
a t→+∞ a
42
Cálculo Integral
Z b
(b) Se f (x) dx existe para t ≤ b, então
t
Z b Z b
f (x) dx = lim f (x) dx, se este limite existir.
−∞ t→−∞ t
(c) Z +∞ Z c Z +∞
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx, para qualquer c ∈ R
−∞ −∞ c
Exemplos 3.25.
Z +∞ Z t
1 1
1. dx = lim dx = lim [ln x]t1 = lim ln t − ln 1 = +∞
1 x t→+∞ 1 x t→+∞ t→+∞
Z 0 Z 0
2. x
e dx = lim ex dx = [ex ]0t = lim e0 − et = 1
−∞ t→−∞ t t→−∞
Z +∞ Z 0 Z +∞
3. x dx = x dx + x dx = ∞ − ∞
−∞ −∞ 0
Este integral não está definido. Este tipo de indeterminações não pode ser levantada.
Funções Ilimitadas
Definição 3.26.
(a) Seja f contínua no intervalo [a, b[. Se lim− f (x) for infinito, então
x→b
Z b Z t
f (x) dx = lim− f (x) dx, se este limite existir.
a t→b a
(b) Seja f contínua no intervalo ]a, b]. Se lim+ f (x) for infinito, então
x→a
Z b Z b
f (x) dx = lim+ f (x) dx, se este limite existir.
a t→a t
Z 1
1 1
Nota. x sin dx não é um integral impróprio, pois lim+ x sin = 0.
0 x x→0 x
Exemplos 3.27.
1 1 1
x2/3 t2/3
Z Z
1 1 3
1. √ dx = lim+ x −1/3
dx = lim+ = lim+ − =
0
3
x t→0 t t→0 2/3 t t→0 2/3 2/3 2
43
Cálculo Integral
1 t t
−1
Z Z Z
1 1
2. dx = lim− dx = lim− dx = lim− [ln(1 − x)]t0 =
0 x−1 t→1 0 x−1 t→1 0 1−x t→1
lim ln(1 − t) − ln 1 = −∞
t→1−
Critério de Comparação
Como vimos anteriormente nem sempre é possível calcular com exatidão o valor dum
integral, mas por vezes é possível calcular um valor aproximado ou um intervalo de possíveis
resultados. Para os integrais impróprios vamos usar um critério simples de comparação que
nos vais ajudar a verificar se um integral impróprio é convergente ou divergente.
Proposição 3.29 (Critério de Comparação). Sejam f e g contínuas no intervalo ]a, b[, com
0 ≤ f (x) ≤ g(x) para x nesse intervalo.
Z b Z b
1. Se g(x) dx é convergente, então f (x) dx também é convergente.
a a
Z b Z b
2. Se f (x) dx é divergente, então g(x) dx também é divergente.
a a
Z +∞
2
elementares, é possível determinar a natureza do integral e−x dx.
−∞
44
Cálculo Integral
Z +∞ Z +∞
−x2 2
(e−x é uma função par.)
2
e dx = 2 e−x dx
Z−∞+∞ Z 1 0 Z +∞
−x2 −x2 2
e = e dx + e−x dx
0
| 0 {z } 1
finito
Para x ≥ 1, Z +∞ Z +∞
−x2 −x2 1
0≤e ≤e −x
⇒0≤ e dx ≤ e−x dx = .
1 1 e
Z +∞
2
Conclui-se então que o integral e−x dx é convergente.
−∞
45
Equações Diferenciais
4 Equações Diferenciais
Uma equação diferencial é uma equação que envolve uma ou mais derivadas de uma função
incógnita y = f (x) (y 0 , y 00 , ...). A equação pode conter a própria função y, outras funções
conhecidas de x e constantes. A solução de uma equação diferencial é uma função, ou mais
geralmente uma família de funções, tal como a solução de uma equação algébrica é um valor
real ou um conjunto de valores. Tal como acontece com as equações algébricas, existem
equações diferenciais que não têm solução.
Não existe uma regra geral para resolver equações diferenciais, apenas algumas regras
parciais para resolver certos tipos de equações. Neste curso vamos aprender a resolver dois
tipos de equações diferenciais: equações de variáveis separáveis e equações lineares de pri-
meira ordem, mas antes disso vamos introduzir alguns conceitos sobre equações diferenciais
um pouco mais globais.
De referir que nesta área da Matemática existe muita investigação feita atualmente,
tanto teórica como aplicada.
• A ordem de uma equação é a ordem da derivada de maior grau que aparece na equação.
1. y 0 = x ordem 1
2. y 00 + y 0 y = x2 + 1 ordem 2
Definições 4.1.
Nota. As equações diferenciais estão definidas num intervalo de R, e cada uma das suas
soluções deve ser considerada apenas num intervalo determinado.
46
Equações Diferenciais
x2
Exemplo 4.2. A equação y 0 = x tem como solução geral y(x) = + C, onde C é uma
2
constante pertencente a R.
x2 x2
As funções y1 = 2
ou y2 = 2
+5 são soluções particulares da equação diferencial y 0 = x.
Exercício
y 00 − 2y 0 − 15y = 25C1 e5x + 9C2 e−3x − 2 (5C1 e5x − 3C2 e−3x ) − 15 (C1 e5x + C2 e−3x ) =
Vamos usar as duas condições iniciais que nos são dadas para determinar o valor das
constantes C1 e C2 .
( ( (
y(0) = 0 C1 + C2 = 0 C1 = 81
⇔ ⇔
y 0 (0) = 1 5C1 − 3C2 = 1 C2 = − 18
1 1
y = e5x − e−3x é a solução particular pretendida.
8 8
47
Equações Diferenciais
Todas as equações de primeira ordem se podem escrever na forma y 0 = ϕ(x, y), para
alguma função ϕ. Portanto, este teorema diz-nos que qualquer equação diferencial de pri-
meira ordem tem uma solução única que verifica a condição y(a) = b, quaisquer que sejam
os valores a e b (desde que a condição esteja bem definida). Tal como já foi referido anteri-
ormente, essa solução pode não estar definida em R mas apenas num intervalo que contenha
a. De notar que este resultado apenas indica que tal solução existe, ainda que nem sempre
exista uma maneira “fácil” de a calcular.
M (x) = N (y)y 0 ,
y x
(4y + yx2 )y 0 = (2x + xy 2 ) ⇔ 2
y0 = .
2+y 4 + x2
dy
M (x) = N (y)y 0 ⇔ M (x) = N (y)
dx
48
Equações Diferenciais
Exemplos 4.4.
y 0
1. Determine a solução geral da equação diferencial y = −1.
x
y 0 x6=0 dy
y = −1 =⇒ yy 0 = −x ⇔ y = −x =⇒
x dx
y2 x2
Z Z
2k=c
y dy = −x dx ⇔ = − + k ⇐⇒ x2 + y 2 = c
2 2
A solução implícita da equação é x2 + y 2 = c, com c > 0 e x 6= 0.
√ √
Para y > 0 e x ∈]0, c[, a solução explícita é y(x) = c − x2 .
y6=0 y0 1 dy
y 2 ex + y 0 = 0 =⇒ ex + = 0 ⇔ = −ex ⇔
y2 y 2 dx
Z Z
1 1
− 2 dy = ex dx ⇔ = ex + k, k ∈ R.
y y
Para determinar a solução particular que verifica y(0) = 1 faz-se na solução geral
x = 0 e y = 1.
1
1
= e0 + k ⇔ k = 0
Problema de Misturas
Um contentor contém 20Kg de sal dissolvidos em 5000l de água. Uma solução de água
salgada com 0.03Kg de sal por litro entra no contentor a uma velocidade de 25l/min. A
solução é misturada completamente e sai do contentor à mesma velocidade. Que quantidade
de sal existe no contentor ao fim de meia hora?
Considerações iniciais:
• Considera-se para efeitos formulação do problema que a mistura da água que entra
com a que está no contentor é feita instantaneamente.
20
• A concentração inicial é de = 0.004Kg/l.
5000
• A quantidade máxima de sal que o contentor poderá ter é de 5000 × 0.03 = 150Kg.
49
Equações Diferenciais
Notação:
• y(0) = 20Kg.
y(t) y(t)
• S(t) = × 25 =
5000 200
150 − y
• y 0 (t) = E(t) − S(t) =
200
140
120
100
80
60
40
20
50
Equações Diferenciais
onde a0 (x), a1 (x), · · · , an (x), f (x) são funções reais com an (x) 6= 0. Supondo que an (x)
não se anula num determinado intervalo, podemos dividir toda a expressão por an (x) e
considerar sempre an (x) = 1.
Alguns exemplos de equações diferenciais lineares, e a respetiva ordem.
1. y 0 + 2y = x 1a ordem
3. xy 00 − y 0 = 0 2a ordem
x6=0
4. x2 y 0 + y = x2 ⇐⇒ y 0 + 1
x2
y =1 1a ordem
Uma equação diferencial linear de primeira ordem é uma equação que pode ser escrita
na forma
y 0 + p(x)y = q(x) ,
onde p(x) e q(x) são funções contínuas num dado intervalo. Uma equação escrita nesta
forma diz-se escrita na forma canónica.
2
Uma equação diferencial pode ser simultaneamente de variáveis separáveis e linear de primeira ordem.
51
Equações Diferenciais
µ0 (x)
z }| {
y 0 + p(x)y = q(x) ⇒ µ(x)y 0 + p(x)µ(x) y = µ(x)q(x)
Depois de multiplicarmos pelo fator integrante, obtemos do lado esquerdo da equação a
derivada do produto das funções y(x) e µ(x).
Z
d
(µ(x)y(x)) = µ(x)q(x) ⇔ µ(x)y(x) = µ(x)q(x) dx ⇔
dx
Z
1
y(x) = µ(x)q(x) dx
µ(x)
R
Z R
− p(x) dx p(x) dx
y=e e q(x) dx + c
Deduzimos assim uma fórmula resolvente para as equações lineares de 1a ordem. Apesar
disso, nos exemplos que apresentamos a seguir as equações diferenciais vão ser resolvidas
usando o fator integrante em cada caso.
Exemplo 4.5.
1 1
x2 y 0 + xy = 1 ⇔ y 0 + y = 2
x x
1
R
O fator integrante é µ(x) = e x
dx
= eln x = x.
52
Equações Diferenciais
(Para x < 0, o fator integrante seria −x. Esta diferença de sinal não teria nenhuma
implicação prática.)
53
Equações Diferenciais
3 13
y(0) = 20 ⇔ 20 = 200 + c2002 ⇔ c = −
4 4000
A solução do problema é
3 13
y(t) = (200 − t) − (200 − t)2
4 4000
Neste caso, como a quantidade de água é variável, é interessante verificar qual a evolução
da concentração de sal na água ao longo tempo. A concentração ao longo do tempo é dada
pela expressão
y(t) 3 13
c(t) = = − (200 − t).
5000 − 25t 100 100000
0.03
40
0.025
30
0.02
0.015
20
0.01
10
0.005
54
Equações Diferenciais
Em ambos os casos, quanto mais fechado ao exterior o sistema for mais fiável será o modelo.
Os estudos reais são feitos com modelos mais complexos, mas em muitas situações estes
modelos dão-nos alguma indicação sobre a situação real.
y0 = k y , k 6= 0 .
y(t) = y0 ekt ,
Modelo Logístico
Neste modelo a população cresce exponencialmente quando a população é pequena, e
tende a estabilizar quando a população se aproxima da chamada capacidade de suporte.
A capacidade de suporte é a população que o ambiente consegue sustentar a longo prazo.
No caso da disseminação de certo tipo de doenças pode-se considerar como capacidade de
suporte o percentagem da população necessária para se atingir a imunidade de grupo, altura
em que a doença tenderá naturalmente a estabilizar. Na situação pandémica da Covid19,
esse número é obviamente muito alto e por isso foi necessário tomar medidas para sustê-la
antes de atingir esse valor.
55
Equações Diferenciais
y 0 = k y (L − y) , k>0,
Teoricamente também é possível considerar o modelo logístico com k < 0. Neste caso a
população tenderia para 0.
Exponencial vs Logística
Os próximos gráficos servam para comparar a evolução de uma população de crescimento
exponencial e de crescimento logístico. Consideramos os mesmos valores iniciais para a
população e para a taxa de crescimento, 100 em ambos casos (y 0 (0) = k y(0) e y 0 (0) =
k L y(0), respetivamente). A taxa de crescimento considerada é propositadamente muito
alta para que sejam facilmente visíveis as diferenças entre os dois modelos
Do lado esquerdo vemos que nos instantes iniciais não há grandes diferenças entre as
duas curvas, mas do lado direito a diferença entre os dois modelos já é bem visível, com o
modelo logístico a estabilizar enquanto o exponencial contínua a crescer.
56
Equações Diferenciais
275
4000
250
225 3000
200
2000
175
150
1000
125
t ∈ [0, 1] t ∈ [0, 5]
A diferença entre o crescimento duma pandemia, no seu início ou atingindo uma maior
percentagem da população, pode também ser observado nos gráficos do número de casos de
Covid19 nos primeiros meses em Itália e no Mundo. Essencialmente, durante esse período a
pandemia cresceu a um ritmo quase exponencial em todo mundo, onde a proporção de casos
registados em relação ao total da população era ainda bastante baixa. Em Itália depois de
um início onde a doença era desconhecida, e cresceu naturalmente, a curva começou a ser
achatada em virtude de medidas restritivas muito severas. Neste caso o modelo comportou-
se de modo semelhante ao da curva logística, o que na nossa linguagem significa que a
capacidade de suporte do sistema foi drasticamente reduzida.
57
Equações Diferenciais
y0 = 2000 L = 1000 kL = 1
2000
1750
1500
1250
1000
750
500
250
1 2 3 4 5
t ∈ [0, 5]
Exercício
Um estudante portador do vírus da gripe regressa a um colégio com 1000 alunos. Supo-
nha que o colégio está isolado e que o vírus se propaga com uma taxa de variação proporci-
onal não apenas ao número y de alunos já infectados mas também ao número de alunos não
infectados. Determine o número de alunos infectados após 6 dias, sabendo que passados 4
dias eles são já 50.
Estamos nas condições no modelo logístico com L = 1000 e y0 = 1. Da solução da
equação logística, sabemos que:
L L − y0 1000 − 1
y= t
com C = = = 999 .
CD +1 y0 1
De seguida vamos descrever dois modelos práticos de aplicação das equações diferenciais,
o modelo de desintegração radioativa e a lei de arrefecimento de Newton. Em ambos os casos,
eles são essencialmente modelos de decaimento exponencial.
58
Equações Diferenciais
m0 = k m , k<0.
A solução da equação m0 = k m é
m(t) = m0 ekt ,
m(V ) 1 m0 ekV 1 ln 2
= ⇔ = ⇔k=− .
m0 2 m0 2 V
Exemplo 4.6. Um pedaço de madeira foi encontrado com 1/500 da quantidade original de
Carbono 14. Determine a sua idade, sabendo que a meia-vida de Carbono 14 é 5600.
Pelos cálculos que fizemos anteriormente, sabemos que:
t
m(t) = m0 2− 5600 .
59
Equações Diferenciais
T = Ta + C ekt , C > 0.
60
Álgebra Linear
5 Álgebra Linear
A Álgebra Linear é uma área muito vasta da matemática da qual iremos estudar apenas
uma pequena parte. O nosso principal objetivo no estudo que vamos realizar é mostrar
como calcular a reta de regressão linear, e estudar outros problemas semelhantes. Para isso
vamos introduzir uma ferramenta que nos vai ser útil para o fazer, as Matrizes.
5.1 Matrizes
Definição 5.1. Uma matriz A do tipo m × n é um quadro que se obtém dispondo m × n
números reais em m linhas e n colunas.
a11 a12 ··· a1n
a21 a22 ··· a2n
A= .. .. ... ..
. . .
am1 am2 · · · amn
De forma abreviada, escrevemos A = [aij ]m×n , onde aij denota o elemento (ou entrada
ou componente) genérico da matriz situado na linha i, coluna j de A.
Exemplos 5.2.
5
" # −2 1 " #
1 0 1 0 1 1
h i
A= B = 0 1 C = D= E= 3 0 2
−1 2 3 0 1 4
0 1
6
2. A matriz B é do tipo 3 × 2.
3. A matriz C é do tipo 2 × 3.
61
Álgebra Linear
Matrizes Especiais
Existem algumas matrizes que desempenham um papel especial na aritmética de matri-
zes. Nomeadamente a matriz a nula e a matriz identidade que desempenham o papel de
elemento neutro para a adição e para a multiplicação de matrizes, respetivamente, como
veremos mais à frente.
0 0 ··· 0
0
0 0 · · · 0
0
1. Matriz Nula 0m×n ..
= ..
.. . . ..
. .
(todas as entradas são 0) . ..
0 0 0 ··· 0
d1 0 · · · 0
2. Matriz Diagonal 0 d2 · · · 0
(matriz quadrada que tem zeros fora da D=. . .
. . . ..
. . . .
diagonal principal)
0 0 · · · dn
1 0 ··· 0
3. Matriz Identidade 0 1 · · · 0
(matriz diagonal com ..
In = .. . . ..
. . . .
d1 = d2 = · · · = dn = 1)
0 0 ··· 1
A matriz nula e a matriz identidade não são uma única matriz, mas sim uma família de
matrizes. Para cada tipo de matrizes existe uma matriz nula, e para cada tipo de matriz
quadrada existe uma matriz identidade. (Uma matriz diagonal é um caso ainda mais geral.)
Adição de Matrizes
Só é possível somar matrizes do mesmo tipo. A soma de duas matrizes é feita somando
os elementos que estão na mesma posição, tal como é feito com vetores do mesmo “tamanho”.
Exemplo 5.3.
1 0 0 0 −1 −2
A = −4 0 1 B = 2 0 2
0 2 0 0 1 1
62
Álgebra Linear
1+0 0−1 0−2 1 −1 −2
A + B = −4 + 2 0 + 0 1 + 2 = −2 0 3
Exemplo 5.4.
1 0 0 2 0 0
O produto de 2 pela matriz A = −4 0 1 é a matriz 2A = −8 0 2 .
0 2 0 0 4 0
1. A + B = B + A (comutatividade)
2. A + (B + C) = (A + B) + C (associatividade)
4. Para cada matriz A existe uma única matriz −A = (−1)A tal que A + (−A) = 0.
(elemento simétrico)
6. (α + β)A = αA + βA (distributividade)
7. α(A + B) = αA + αB (distributividade)
Nota. A diferença entre duas matrizes do mesmo tipo pode definir-se à custa da adição e
da multiplicação por −1:
A − B := A + (−1)B.
63
Álgebra Linear
matriz 1 × 1 em que a única entrada tem exatamente o valor do produto escalar desses dois
vetores.
Se considerarmos a como vetor linha, e b como vetor coluna, definimos o produto das
matrizes
b1
b2
h i
a = a1 a2 · · · an e b = .
..
bn
como sendo a matriz 1 × 1 em que a única entrada é o valor < a, b >.
" n
#
X
a b = [a1 b1 + a2 b2 + · · · + an bn ] = ai b i
i=1
Exemplo 5.6.
2 4 −2 −1
A= 4 9 −3 b= 2
−2 −3 7 2
2 × (−1) + 4 × 2 + (−2) × 2 2
Ab = 4 × (−1) + 9 × 2 + (−3) × 2 = 8
64
Álgebra Linear
Multiplicação de Matrizes
Sejam agora A uma matriz m×n como anteriormente, B uma matriz n×p e C1 , C2 , · · · Cp
as suas colunas. O produto AB é uma matriz m × p, onde o elemento na posição (i, j),
i.e. na linha i e coluna j, é igual ao produto escalar da linha i de A com a coluna j de B,
< Li , Cj >.
O produto de duas matrizes só está definido quando o número de colunas da primeira matriz
é igual ao número de linhas da segunda.
1 2 3 3 2
Exemplo 5.7. Consideremos A = 4 5 6, do tipo 3 × 3, e B = −5 1, do tipo 3 × 2.
7 8 9 8 0
Então o produto de A por B está definido e
1 × 3 + 2 × (−5) + 3 × 8 1×2+2×1+3×0 17 4
AB = 4 × 3 + 5 × (−5) + 6 × 8 4 × 2 + 5 × 1 + 6 × 0 = 35 13 .
7 × 3 + 8 × (−5) + 9 × 8 7×2+8×1+9×0 52 22
Nem todas as propriedades das operações com números reais são válidas para as opera-
ções com matrizes, em particular o produto de matrizes não é comutativo.
65
Álgebra Linear
Matrizes Invertíveis
Definição 5.9. Uma matriz quadrada A, de ordem n, é invertível se existe uma matriz B
(quadrada de ordem n) tal que
AB = In = BA.
Se existir, essa matriz é única, designa-se por inversa de A e denota-se por A−1 .
Nem toda a matriz quadrada tem inversa, no entanto se uma matriz quadrada tiver
inversa de um dos lados, então é invertível. O próximo teorema diz exatamente isso.
Exemplo 5.11.
" #−1 " # " #
5 2 1 3 −2 3 −2
= =
7 3 5 × 3 − 2 × 7 −7 5 −7 5
66
Álgebra Linear
"# 1 5
1 2 3 4 2 6
Exemplo 5.14. A = At =
5 6 7 8 3 7
4 8
1. (At )t = A.
2. (A + B)t = At + B t .
3. (αA)t = αAt .
4. (AB)t = B t At .
67
Álgebra Linear
Forma Matricial
Usando o produto de matrizes, um sistema de equações lineares pode ser escrito como
uma equação matricial
a11 a12 · · · a1n x1 b1
a21 a22 · · · a2n x2 b2
. .. ..
. .. . = . .
. .. ..
. . .
am1 am2 · · · amn xn bm
Teorema 5.17. Se A é uma matriz invertível de ordem n, então para cada vector b do tipo
n × 1, o sistema Ax = b tem uma e uma única solução, nomeadamente x = A−1 b.
68
Álgebra Linear
Para determinar a solução no sentido dos mínimos quadrados temos que achar o mínimo
da função de n variáveis f (x1 , · · · , xn ) = kAx − bk, que é equivalente a determinar o mínimo
da função g(x1 , · · · , xn ) = kAx − bk2 . No entanto como já foi dito anteriormente, vamos
usar a forma matricial do sistema para calcular essa solução.
1 5 3
Exemplo 5.22. Sejam A = 2 −2 e b = 2.
−1 1 5
O sistema Ax = b é impossível. Para achar a solução no sentido dos mínimos quadrados
resolvemos o sistema:
" # 1 5 " # 3
1 2 −1 1 2 −1
At Ax = At b ⇔ 2 −2 x = 2 ⇔
5 −2 1 5 −2 1
−1 1 5
69
Álgebra Linear
3 3 0
p
k −2/5 − 2 k = k −12/5 k = (12/5)2 + (24/5)2 ≈ 5.36
1/5 5 −24/5
Regressão Linear
Queremos determinar a recta y = mx + b que melhor se ajusta a um conjunto de pontos
do plano: (x1 , y1 ); (x2 , y2 ); · · · ; (xn , yn ).
Substituindo os valores dos pontos na equação da reta, obtemos um sistema linear com
n equações (uma por cada ponto) e duas incógnitas, m e b.
m x1 + b = y1 x1 1 y1
" #
x2 1 m y2
mx + b =
2 y2
⇔ . .
. . b
= ..
.
··· . . .
m xn + b = yn xn 1 yn
Se os pontos (x1 , y1 ); (x2 , y2 ); · · · ; (xn , yn ) não forem colineares (ou estiverem sobre uma
reta vertical), o sistema é impossível. Neste caso podemos procurar a reta que melhor se
aproxima dos pontos no sentido dos mínimos quadrados.
70
Álgebra Linear
m + b = 2 1 1 " # 2
m
2m + b = 2 ⇔ 2 1 = 2
b
3m + b = 4 3 1 4
4 3 + 2/3
Nota. A reta y = mx+b serve para estimar o valor de y em função de x, mas não o contrário
uma vez que o erro é medido na variável y.
Para estimar o valor de x em função de y é preciso calcular a reta x = ny + a, que só
por coincidência será a mesma.
71
Álgebra Linear
Regressão Quadrática
O ajuste de uma curva a um conjunto de pontos não precisa de ser feito por uma
reta. Podemos, por exemplo, usar uma parábola de equação y = ax2 + bx + c (regressão
quadrática). Neste caso as incógnitas que é preciso determinar são a, b, e c.
a 02 +
b 0+ c = 0 c = 0 0 0 1 0
a
2
a1 + b 1+ c = 1 a+b+c = 1 1 1
1 1
⇔ ⇔ b =
2
a2 + b 2+ c = 3 4a + 2b + c = 3 4 2 1 3
c
2
−1 a−b+c −1 1 −1 −1
a (−1) + b (−1)+ c = = 1
0 0 1 0
0 1 4 1 a 0 1 4 1 18 8 6 a 12
1 1 1 1
0 1 2 −1 b = 0 1 2 −1 ⇔ 8 6 2 b = 8
4 2 1 3
1 1 1 1 c 1 1 1 1 6 2 4 c 3
1 −1 1 −1
72
Referências
[1] J. Stewart, Cálulo – Volumes I e II, 5ªed., Thomson Learning, São Paulo, 2007.
73