A Importância Da Família No Processo de Inclusão
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A Importância Da Família No Processo de Inclusão
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A IMPORTNCIA DA FAMLIA NO PROCESSO DE INCLUSO
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Introduo
Segundo Moura; Valrio (2003) a vinda de uma criana representa uma srie de
significaes, como alegria, orgulho, unio de pessoas queridas e principalmente a celebrao
da vida, ou seja, o nascer simboliza novas possibilidades. No entanto, para algumas famlias o
nascimento pode no ser uma representao da alegria e sim momentos de lgrimas,
desespero, confuso e medo, ocasionando assim uma (des)estruturao no estilo de viver do
ncleo familiar.
Partindo disso, destaca-se o pensamento de Blascovi-Assis (1997) quando diz que a
chegada de uma criana deficiente pode ocasionar transformaes na famlia advindas de
sentimentos de culpa, rejeio, desespero ou negao, fazendo com que as relaes sociais na
famlia sejam alteradas.
Tendo esse difcil contexto no ncleo familiar, as pessoas envolvidas neste processo
necessitam iniciar adequaes necessrias de fortalecimento como condio de aceitar a
diferena como algo normal para propiciar o desenvolvimento da criana, dessa forma Moura;
Valrio (2003) nos diz que vital que os pais se conscientizem da importncia de seu papel
nos primeiros meses de vida e dos problemas e ansiedades que podem ser criados, bem como
serem informados de sua responsabilidade e dos efeitos profundos e dos impactos das suas
aes ou omisses sobre o crescimento e desenvolvimento de seus filhos, pois nesse perodo
que os pais devero ser motivados a procurar apoio especializado para superar tais
dificuldades.
De acordo com afirmaes de Glat (1989), a famlia influencia no processo de
integrao social da criana com NEE, e que a questo da influncia deve ser vista por dois
aspectos, o primeiro a facilitao ou impedimento que a famlia traz para a integrao da
pessoa portadora de deficincia na comunidade, e a segunda a integrao da pessoa com
deficincia na sua prpria famlia. Integrao no viver em funo do deficiente, Glat
(1989) enfatiza dizendo que essa viso falsa, porque o integrar construir juntamente com a
criana especial seu espao social, fazendo com que esta criana se reconhea de forma
natural no convvio familiar.
importante que a famlia realize adaptaes para o desenvolvimento da criana
especial, nesse sentido Assumpo Junior (1993) recomenda que o melhor caminho seja que a
famlia demonstre sua condio humana em todas as acepes do termo, isto , seres que
almejam se transformar, buscar e lutar, pois dessa forma a famlia cria um ambiente que
oportuniza e oferea segurana a essa criana, assim um lugar seguro proporciona a criana
NEE se descobrir e conhecer a sociedade.
Atualmente, no mbito das pesquisas relacionadas a temas educacionais, deve-se
ressaltar o grande enfoque que se tem dado s questes sobre prticas integrativas e inclusivas
de sujeitos considerados portadores de necessidades especiais. Nesse sentido, surgem
inmeros estudos baseados em vrias vertentes com o intuito de promover novos
direcionamentos no que tange a formao do sujeito.
Partindo desta premissa, necessrio questionar a seguinte problematizao: Como
o processo de aceitao das famlias que tm crianas com NEE? Quais so as mudanas na
vida destas famlias que possuem crianas com NEE? Qual a importncia da famlia para
estas crianas?
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O trabalho se justifica pela necessidade de um maior espao de reflexo sobre os
desafios e perspectivas no que se refere ao papel da famlia no contexto das prticas
educacionais inclusivas. Diante disso, o trabalho prope estabelecer inter-relaes entre
correntes terico-filosficas sob um enfoque analtico-reflexivo no contexto atual.
Nesse sentido, o estudo estabelece as seguintes etapas: na primeira faz-se um
retrocesso de aspectos histricos e conceituais em relao Educao Especial; na segunda
discute-se os impactos causados na famlia em relao a uma criana com NEE, no que se
refere a aceitao e a adoo de novas posturas e por ltimo reflete-se o papel da famlia no
contexto contemporneo, principalmente em questes educacionais inclusivas.
Assim, o presente trabalho teve como objetivo identificar as mudanas na famlia que
tm crianas com NEE e sua importncia.
1. Reviso de literatura
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para a educao especial no conseguia atender as reais necessidades de seu pblico, mas a
partir da dcada de 30 esses rgos se expandiram.
De acordo com Bairrao (1998) o termo NEE refere-se ao desfasamento entre o nvel
de comportamento ou de aprendizagem da criana a qual dela se espera em funo da sua
idade cronolgica. Este conceito de NEE engloba todos os alunos que exigem recursos ou
adaptaes especiais no processo de ensino/aprendizagem, no comuns maioria dos alunos
da mesma idade, por apresentarem dificuldades ou incapacidades que se refletem numa ou
mais reas de aprendizagem.
No Brasil, a Educao especial se constituiu a partir de um modelo mdico ou clnico.
Sob esse enfoque o olhar mdico tinha precedncia: a deficincia era entendida como uma
doena crnica e todo o atendimento prestado a essa clientela, mesmo quando envolvia a rea
educacional, era considerado pelo vis teraputico. Glat (1989) e Fernandes (2005) destacam
que a avaliao e identificao eram pautadas em exames mdicos e psicolgicos com nfase
em testes projetivos e de inteligncia, e na rgida classificao etiolgica.
Na maioria das instituies de educao especial o trabalho era organizado com base
em um conjunto de terapias individuais orientadas pela medicina como fisioterapia,
fonoaudiologia, Psicologia, psicopedagogia, entre outras. Dessa forma, pouca nfase era dada
escolarizao, que no ocupava mais do que uma pequena frao do horrio dos alunos.
Glat (1989) e Fernandes (2005) ainda destacam que a educao escolar no era
considerada prioritria, ou possvel, principalmente para aqueles com deficincias cognitivas,
mltiplas, ou distrbios emocionais severos. O trabalho educacional era voltado apenas, para
a autonomia nas atividades de rotina e relegado a um interminvel processo de prontido
para a alfabetizao, sem maiores perspectivas, j que no havia expectativas de que esses
indivduos ingressassem na cultura letrada formal.
J na dcada de 70 a educao especial foi caracterizada pela institucionalizao da
Educao Especial. O sistema educacional pblico passou a garantir o acesso escola aos
alunos com deficincias. Em 1973 foi criado, no Ministrio da Educao, o CENESP
Centro Nacional de Educao Especial, que introduziu a Educao Especial no planejamento
das polticas pblicas educacionais. Por iniciativa do CENESP, foram implantados
subsistemas de Educao Especial nas diversas redes pblicas de ensino atravs da criao de
escolas e classes especiais. Tambm sob os auspcios desse rgo foram implementados
projetos de formao de recursos humanos especializados em todos os nveis, inclusive com o
envio de docentes para cursos de ps-graduao no exterior
o que permitiu o
desenvolvimento acadmico e cientfico da rea (FERREIRA; GLAT, 2003).
Na dcada de 80 o discurso dominante passou a ser a integrao do deficiente a
sociedade que tornou-se a matriz poltica, filosfica e cientfica da Educao Especial. Neste
cenrio surgiu o paradigma educacional conhecido como Integrao. Este visava preparar
alunos das classes e escolas especiais para ingressarem em classes regulares, quando
receberiam, na medida de suas necessidades, atendimento paralelo em salas de recursos ou
outras modalidades especializadas. (GLAT, 1989)
Com o passar do tempo, este modelo passou a ser criticado, por exigir uma preparao
prvia dos alunos com deficincias para a sua integrao no ensino regular. A Integrao
mantinha, ento, o problema centrado no aluno, retirando toda a responsabilidade da escola,
a qual caberia apenas ensinar queles que tivessem condies de acompanhar as atividades
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regulares, concebidas sem qualquer preocupao com as especificidades dos que
apresentavam necessidades especiais. Consequentemente, a maior parte desses educandos
manteve-se matriculada em escolas ou classes especiais, por no apresentar condies de
ingresso nas turmas regulares. (FERREIRA; GLAT, 2003).
A partir de ento, as estratgias e prticas tradicionais da Educao Especial
comearam a ser questionadas, dando incio a busca por alternativas pedaggicas menos
segregadas. Culminando, na dcada de 90, com a proposta da Educao Inclusiva, em que a
proposta oferecer um ensino de qualidade para todos os educandos, inclusive para aqueles
que apresentem necessidades educacionais especiais.
1.2 A aceitao e a mudana na vida das famlias com crianas com NEE
Percebe-se em nossa sociedade que a presena de um filho gera impactos emocionais
na famlia, isto , desde o processo de gestao at o nascimento, no entanto, se esta criana
vier com necessidades especiais, o contexto se transforma dependendo da viso de quem o
recebe no ncleo familiar.
Glat (2004) destaca que quando nasce um filho especial, com caractersticas distintas
do padro culturalmente reconhecido como normal, a estrutura de funcionamento familiar
bsico se rompe, os sentimentos e as representaes anteriores se deterioram, e instala-se uma
crise de identidade grupal. Por mais unida ou harmnica que seja a famlia, essa crise
inevitvel, pois toda a iluso construda durante a gestao destruda. Duque; Glat (2003)
destacam que a sensao de como se toda a famlia imaginria construda por esses pais
desaparecesse e uma nova famlia real tivesse que ser criada.
Nunes et al. (1998), exemplificam que durante a gravidez, e mesmo antes, os pais
sonham com aquele filho ideal, que ser bonito, saudvel, inteligente, forte e superar todos
os limites; aquele filho que realizar tudo que eles no conseguiram alcanar em suas prprias
vidas. Alm da decepo, o nascimento de um filho portador de deficincia causa o
reajustamento de expectativas, planos e a vivncia de situaes crticas e sentimentos difceis
de enfrentar. E passado o perodo de luto simblico, a forma como a famlia se posiciona
frente deficincia pode ser determinante para o desenvolvimento do filho.
Buscaglia (1993) ressalta que toda a famlia atingida pela noticia da deficincia.
Glat (2004) ainda cita a perda da identidade da famlia e a centralizao na criana deficiente
como, por exemplo, a me da menina surda, o pai do menino cego e caracteriza essa fase
como o luto da famlia por receber uma criana deficiente em seu seio.
Krynski (1983) destaca que h fases vivenciadas pela famlia da criana com
deficincia como, por exemplo, a fase do alarme, do estresse, da angstia, da rejeio e da
revolta, que costumam ocorrer logo aps a notcia.
Serra (2010) ressalta que qualquer que seja o nvel scio-econmico da famlia, h
sempre a busca de cura milagrosa e a crena em prticas de seriedade duvidosa. Da notcia
aceitao da realidade um longo caminho e nem todos os pais conseguem superar o
momento do luto do filho saudvel. Buscaglia (1993) destaca que os sentimentos mais
comuns encontrados nos pais so culpa, vergonha, medo, incerteza e depresso.
Silva e Dessen (2007) tambm fazem algumas consideraes sobre este perodo na
vida da famlia que recebe uma criana deficiente em que o impacto sentido pela famlia
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intenso. Brito e Dessen (1999) destacam que esse momento traumtico, podendo causar uma
forte desestruturao na estabilidade familiar. O momento inicial sentido como o mais
difcil para a famlia de acordo com Petean (1995), a qual tem que buscar a sua reorganizao
interna.
De acordo com Casarin (1999), a reorganizao familiar fica mais fcil quando h
apoio mtuo entre o casal. Nesse caso, o ambiente familiar pode contribuir para o
desenvolvimento e crescimento da criana e as famlias restabelecem o seu equilbrio de
maneira variada, dependendo dos recursos psicolgicos utilizados para tal fim.
Carter e McCartthy (1971) afirmam que aps a chegada da criana com deficincia
toda a rotina da famlia alterada, principalmente a da me que tem a vida profissional
paralisada e ainda deve fazer as tarefas para os demais membros. A famlia costuma ter sua
renda reduzida em razo da permanncia da mulher em casa e as despesas aumentadas, j que
os gastos com terapias e tratamentos especficos duram por quase toda a vida da criana.
Para Glat (2004) essa crise inevitvel e pode gerar at mesmo a separao do casal
aps o nascimento do filho deficiente. Belsky et al (1985) ressaltam que a qualidade conjugal
declina com o nascimento dos filhos e que o fracasso de qualquer um dos cnjuges uma
ameaa intimidade. Um casamento que desenvolveu intimidade mais capaz de responder
ao desafio da paternidade e maternidade e s mudanas que elas trazem.
Neste percurso, tanto a famlia quanto a criana com deficincia precisaro enfrentar
diariamente seus medos, frustraes e limitaes, que so os efeitos diretos do estigma social
a que toda a famlia est exposta.
Glat (2004) destaca que a extenso das adaptaes impostas famlia pela presena
de um membro com deficincia inclui transformaes internas de carter afetivo, temporal e /
ou econmico, at as requisitadas pela interao com as foras externas, oriundas da
sociedade mais ampla.
Dessa forma, so muitas as mudanas na famlia do individuo com NEE, e o
principal desafio que os pais se organizem no de maneira superprotetora, tratando a criana
com necessidades especiais como incapaz, e sim promovam lhe a autonomia e a
independncia da criana. A autonomia precisa acontecer em primeiro lugar em casa, tendo-se
em vista que a sociedade ainda no est preparada para receber igualmente o individuo com
necessidades especiais.
Infelizmente, na sociedade existem pr-conceitos que foram estabelecidos
culturalmente, e isso se comprova por meio da histria, desta forma os paradigmas
preconceituosos perpetuaram cada gerao, nesse sentido o sujeito social no est preparado
para tais questes, assim necessrio todo um processo de rompimento destas barreiras para o
respeito e aceitao do diferente.
preciso que haja todo um trabalho de conscientizao com o intuito de fortalecer o
grupo familiar, como uma espcie de aliado para o desenvolvimento pleno deste indivduo,
seja em todos os nveis, intelectual, emocional e principalmente o social. Nesse sentido,
primordial que haja uma interao na prpria famlia como base para desenvolvimento
cognitivo e principalmente a vida em sociedade.
Partindo desta perspectiva, o processo de aceitao da criana especial varia de cada
famlia, pois isso depende da formao social, histrica, cultural e ideolgica de quem se
depara com o diferente.
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A importncia da constituio identitria do sujeito com necessidade especial
depende dos fatores externos que so vivenciados em seu meio social, ou seja, a construo
de valores e representaes que se cristalizam na personalidade do indivduo.
Assim, este trabalho visa promover um espao reflexivo e flexvel, direcionando
prticas que despertam e resgatem um olhar sensvel em torno da aceitao que um longo
caminho at que os pais da criana especial notem que esta especial como qualquer outra
criana, apenas apresenta uma limitao.
1.3 Reflexes sobre a importncia da famlia no contexto contemporneo para as
crianas com NEE
A famlia constitui o primeiro universo de relaes sociais da criana, podendo
proporcionar-lhe um ambiente de crescimento e desenvolvimento. A influncia da famlia no
desenvolvimento da criana se d, principalmente, atravs das relaes estabelecidas por meio
da comunicao, tanto verbal como no verbal. Rey; Martinez (1989, p. 143) destacam que a
famlia representa, talvez, a forma de relao mais complexa e de ao mais profunda sobre a
personalidade humana, graas a enorme carga emocional das relaes entre seus membros.
Para a criana deficiente essa relao precisa acontecer mais do que nunca para que a criana
possa se desenvolver e possa ser capaz de realizar diversas tarefas apesar de suas limitaes.
Buscaglia (2006) destaca que a deficincia uma condio, que quase sempre traz
limitaes, porm o fator decisivo que poder tornar a pessoa com deficincia incapaz a
atitude da sociedade frente a esta limitao. Dr. Sol Gordon (1974 apud BUSCAGLIA, 2006),
afirma que a sociedade quem cria os incapazes, segregando e estigmazando aqueles que
possuem limitaes. Consequentemente o maior impacto para aquele que possui a deficincia
no tanto a limitao em si, mas a postura da sociedade frente a esta deficincia.
Buscaglia (2006) destaca que muitas vezes mdicos, psiclogos, professores e pais,
apesar de bem intencionados se encarregam de tratar a criana deficiente como incapaz,
porm imperativo que aqueles que cuidam da criana deficiente estejam sempre alerta para
no colaborarem nesse processo de auto afirmao da incapacidade.
A sociedade contempornea ainda encontra dificuldades em incluir e aceitar
igualmente aqueles que possuem algum tipo de deficincia. Em muitas situaes a famlia
uma das principais reprodutoras dessa afirmativa de incapacidade. Gomes (2009) destaca que
atravs da Teoria do apego foi possvel avaliar e identificar os sentimentos provocados na
famlia, principalmente na me e no pai, quando do nascimento de um filho com deficincia.
A autora destaca baseando-se em Piaget que para que o desenvolvimento da criana
ocorra necessria a interao com o ambiente e a consequente socializao. Dessa forma a
socializao e o dilogo so primordiais. Esta ao integrada envolve no s brincadeiras e
afetividade, mas tambm a habilidade de comunicao, muitas vezes dificultadas pelas
condies egocntricas das crianas.
Nota-se dessa forma, que para o desenvolvimento e aprendizagem da criana,
necessrio um convvio, uma ligao afetiva, entre pais e filhos. Essa ligao chamada de
vnculo, vital para todos os seres humanos. uma necessidade inata de ateno e cuidado.
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Porm, os pais da criana com deficincia tm uma dificuldade na criao e
manuteno deste vnculo, seja pelo choque de conceber um filho com determinada limitao
ou pelas dificuldades que implicaro em sua criao, desenvolvimento e aprendizagem.
Bowlby (1989, p. 17) destaca que os pais precisam conhecer no s a natureza de um
cuidado bem, sucedido, isto que no venha reproduzir uma pessoa deficiente e incapaz, mas
tambm as inmeras condies sociais e psicolgicas que influenciam positiva ou
negativamente seu desenvolvimento.
A incluso e aceitao da criana deficiente dever acontecer primeiramente na
famlia, dificilmente uma pessoa com deficincia conseguir vencer as barreiras presentes na
sociedade se no possuir um suporte familiar que no o considere como incapaz. Este o
principal e mais difcil papel da famlia na contemporaneidade. Serra (2010) destaca a
necessidade dos pais de promover a independncia da criana com deficincia a fim de
desenvolver ao mximo as potencialidades do sujeito. De acordo com o autor os pais
precisam lembrar a realidade dura, mas imutvel, de que no so eternos e precisam outorgar
os cuidados do filho especial a algum familiar ou pessoa de sua convivncia que se disponha,
mas tambm preparar o seu filho para a vida independente, com comportamentos socialmente
aceitos.
Ainda com relao a incluso Marques (2001) destaca que para que a efetiva
socializao da criana com deficincia ocorra necessria a interao entre famlia e escola,
na medida em que os dois influenciam diretamente na educao do individuo. A presena dos
pais na escola importante, no que se refere ao relacionamento entre pais e professores,
porque muitas vezes, os pais no sabem o que fazer diante de situaes que aparecem na
escola. Existem dvidas e esclarecimento que cabem a escola, que deve ter uma equipe com
condies de promover debates e orientar a famlia sobre os mais diversos assuntos referentes
as condies do aluno com deficincia. Dessa forma, a importncia da participao dos pais
na vida escolar dos filhos com deficincia tem um papel importante no desempenho escolar.
O papel dos pais na escola e na formao do individuo com deficincia deve ser
permanente. importante que os pais, professores compartilhem experincias. Segundo Silva
apud Cosme (2002), a participao dos pais na educao, facilita a integrao escolar dos
filhos. Dessa forma, o aluno sente-se includo e aceito de forma plena no seio familiar e no
ambiente escolar.
Lopes (2000) destaca que o aluno com necessidades especiais to especial quanto
qualquer pessoa e traz novamente a questo da importncia da famlia no processo de incluso
e socializao da criana com deficincia. Segundo o autor a famlia a principal responsvel
pelas aes do filho com necessidades especiais, pois ela que lhe oferece a primeira
formao. A participao da famlia de grande importncia no movimento da incluso, seja
de forma individualizada ou por meio de organizaes, fundamental a sua participao, para
que seja garantida a continuidade histrica da luta por sociedades mais justas para seus filhos.
Na contemporaneidade o papel da famlia tem sido cada vez mais ressaltado, no
sentido de ser parceira vital no processo de integrao (social, escolar) do portador de
deficincia.
Correia (2008) destaca que a famlia constitui o alicerce da sociedade, ela um dos
principais agentes no desenvolvimento da criana e, apesar da existncia de debate em torno
do papel atual da famlia e da sua composio, ela permanece como o elemento-chave na vida
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e desenvolvimento da criana. Por esta razo, a escola dever sempre considerar a famlia nas
decises mais importantes com respeito criana, seja normal ou com NEE.
De acordo com Giuseppe (1997) compete aos pais da criana portadora de deficincia
possibilitar plenas condies para sua educao e desenvolvimento como segurana, gerada
atravs da aceitao e na crena das potencialidades do individuo com deficincia;
comunicao; desenvolvimento psicossocial e integrao.
Percebe-se assim, a magnitude e importncia do papel da famlia para o
desenvolvimento do indivduo com deficincia. Glat (1989) destaca que o homem um ser
social por natureza, necessitando para sua sobrevivncia fsica e emocional de estar integrado
e participando da vida comunitria de um grupo. E a famlia, como grupo social primrio,
desempenha a funo formativa e determinativa no desenvolvimento da criana com
deficincia. Para que a incluso ocorra na sociedade, esta deve partir da famlia, em que o
individuo com deficincia seja includo nesta, e a famlia o inclua.
Consideraes finais
possvel observar que a deficincia no representa incapacidade, mas sim uma
limitao. Infelizmente a representao da condio de deficiente na sociedade quase to
grave quanto a prpria deficincia em si, pois o meio social que rotula o individuo
deficiente como capaz ou no.
A famlia possui um papel de suma importncia no processo de incluso social do
individuo com deficincia. no meio familiar que os primeiros passos para a construo da
autonomia e da independncia se iniciam, apesar do impacto e do choque aps o recebimento
da noticia e at mesmo das alteraes na identidade da famlia decorrente de possuir um
membro deficiente.
Entretanto, cada famlia enfrenta a deficincia de acordo com sua histria, suas
representaes, crenas, valores culturais e condies objetivas, alm da personalidade
individual de cada membro, porm no resta dvida que a influncia familiar determinante
para o processo de integrao social do indivduo com deficincia. atravs do
relacionamento familiar que ele desenvolver seus valores, perceber o mundo e construir a
sua identidade. A compreenso da dinmica das relaes familiares, portanto, essencial para
a compreenso do indivduo especial.
importante que o indivduo deficiente no ocupe na famlia exclusivamente o papel
de deficiente ou incapaz, mas sim participe, na vida familiar cotidiana, inclusive nas situaes
sociais. A questo no negar a deficincia ou os limites, mas sim, de aceitar e incorporar
esse individuo vida familiar, apesar de suas deficincias e limites.
Com relao ao ambiente escolar, deve haver neste uma participao ativa por parte
dos pais do educando com necessidades especiais, pois muitas vezes a escola no consegue
lidar sozinha com o desafio da escola inclusiva, no conhecendo a realidade, os anseios e at
mesmo problemas do educando com deficincia.
Constata-se que a educao bsica muitas vezes no consegue desenvolver mtodos
inclusivos dos educandos com NEE, lembrando que a questo muito mais ampla, quando
percebe-se a falta de investimentos no setor educacional, no sustenta nem os quesitos
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essenciais na educao e isso implica uma srie de fatores, como a formao inicial e
continuada de qualidade, a infraestrutura e entre outros agravantes.
Verifica-se ainda que, preciso que os pais da criana especial estejam empenhados
para o bem comum juntamente com os profissionais especializados nessa questo. Somente
com capacitao e um esforo conjunto da escola e famlia, ser possvel propiciar um timo
desenvolvimento psquico e motor para a criana especial.
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