II Encontro Internacional Sobre Educação Artística
II Encontro Internacional Sobre Educação Artística
II Encontro Internacional Sobre Educação Artística
Ficha Tcnica:
II Encontro Internacional sobre Educao Artstica (2EI_EA)
Comisso Organizadora do 2EI_EA (org)
i2ADS Instituto de Investigao em Arte, Design e Sociedade (Editor)
e.book
Produo: Tiago Pinho
ISBN: 978-989-97856-4-9
Jesus, Joaquim....................................................................................................................141
Os textos que agora se publicam correspondem aos textos reescritos aps a
sua apresentao no 2 Encontro Internacional sobre Educao Artstica (2ei_ea),
realizado no Porto, de 2 a 4 de Abril de 2012, pelos respectivos autores. Era objectivo dos organizadores que o 2ei_ea se realizasse num ambiente de partilha de
experincias e de debate aberto capaz de construir reflexes crticas decorrentes
de cada aco. Partir para um encontro com a vontade de discusso implicava que
todos os participantes aceitassem formas alternativas de questionamento que lhes
permitissem um descentramento e um deslocamento dos lugares de conforto que
cada um, inevitavelmente, vai ocupando.
Terminado o encontro, foi lanado o convite, a cada interveniente, de reescrita do seu texto, tendo em considerao o debate ocorrido e, nomeadamente, as
foras que se geraram e que atravessaram o seu pensamento.
Os textos aqui reunidos so, assim, o resultado do novo desafio e respondem
vontade de partilhar, em formato digital, os textos que nos foram chegando. So
publicados tal como enviados pelos seus autores, no tendo sido sujeitos a interveno alguma pela comisso organizadora do 2ei_ea, mesmo do ponto de vista
da sua organizao grfica.
Aps a publicao deste e.book, dar-se- continuidade implicao da aco
na construo de narrativas contemporneas em educao artstica, tema que
preencheu o 2ei_ea, com uma nova publicao, em livro.
Silva, Mariana..............................................................................................................234
Silva, Susana Santos..................................................................................................239
Silva, Susete Rodrigues..............................................................................................244
Souza, Ana Paula Abrahamian....................................................................................251
Torres, Fabiano Ramos...............................................................................................256
Vasconcelos, Flavia.....................................................................................................262
Vidal, Fabiana..............................................................................................................269
Vidal, Luisa..................................................................................................................275
Xavier, Robson............................................................................................................281
Mae Barbosa, entre outros. Nestas anlises possvel tecer consideraes sobre o trabalho
educativo em museus de arte a partir do ponto de vista dos prprios educadores.
Cabe ainda ressaltar que foi verificado na pesquisa que o processo de formao
continuada4 do trabalho educativo em museus envolve reflexes sobre o contedo das
exposies e sobre o processo de mediao. No houve discordncia sobre a importncia da
formao continuada no trabalho de mediao cultural, talvez pela diversidade de exposies
com a qual muitos mediadores se deparam num curto perodo, ou pela sensao de que a
formao inicial importante como um alicerce mas no suficiente, o fato que Durante a
formao contnua podemos exercer a reflexo sobre a reflexo-na-ao (Schn, 2000). na
reflexo surgida sobre e a partir dos problemas, conflitos e sucessos do trabalho no dia-a-dia
que possvel (utilizando a idia de possibilidade do professor Fusari) suprir questionamentos
e dvidas, melhorar o trabalho, como foi dito pelos educadores alm de compartilhar as
experincias, expresso tantas vezes repetida.
A mediao pelos mediadores
Como os mediadores culturais veem a mediao e como definem seu prprio trabalho?
Por exemplo, segundo esta mediadora: acredito que meu trabalho reflete o esforo de fazer
com que, no mnimo, as pessoas tenham uma experincia agradvel no museu (Q45)5.
O que seria uma experincia agradvel? Se levarmos em considerao a definio de
experincia segundo o Filsofo da Educao Jorge Larrosa, s o fato de se ter uma
experincia j foi um passo enorme para as pessoas atendidas pela educadora do depoimento
3
Doutoranda do programa de ps-graduao do Instituto de Artes/UNESP, So Paulo. Este artigo contm dados da
pesquisa realizada no Mestrado. Para saber mais ver em VALRIA, 2008, tambm disponvel em
http://www.ia.unesp.br/Home/Pos-graduacao/Stricto-Artes/dissertacao_valeriapeixoto.pdf
2
Linguagem e educao depois de Babel. Belo Horizonte: Autntica, 2004, p. 163.
citado. Em seu ensaio EXPERINCIA E PAIXO, Larrosa procura tecer reflexes acerca do
Ao analisar as respostas dos educadores para a questo: como voc definiria seu
trabalho como mediador?, identifiquei palavras que se aproximam do meu entendimento sobre
experincia no a mesma coisa que adquirir informao e acrescenta que hoje em dia a
mediao cultural, tais como: dilogo, questionamento e reflexo que apareceram 20 vezes,
experincia cada vez mais rara pelo excesso de opinio, falta de tempo e excesso de
assim como os verbos: estimular, construir, despertar, trocar e provocar que foram conjugados
trabalho. Deste modo, se fosse possvel, trocaria a palavra experincia do depoimento citado,
por 29 educadores. Nos depoimentos a seguir, possvel perceber uma preocupao com o
talvez, pela palavra vivncia. Sim, uma vivncia agradvel, pois compartilho com Larrosa
contextualizao e levantamento de questionamentos, mas acho que, por outro lado, no deve
A experincia, a possibilidade de que algo nos passe ou nos acontea ou nos toque,
requer um gesto de interrupo, um gesto que quase impossvel nos tempos que
correm: requer parar para pensar, para olhar, parar para escutar, pensar mais
devagar, olhar mais devagar e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais
devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinio, suspender o juzo, suspender
a vontade, suspender o automatismo da ao, cultivar a ateno e a delicadeza, abrir
os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentido, escutar os
outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter pacincia e dar-se tempo e espao
(LARROSA, 2004, p. 160).
interferir na construo do olhar do visitante (Q27) e neste que diz ter como objetivo despertar
a curiosidade e interesse das pessoas para o que elas esto vendo para que elas saiam da
exposio com um retalho da colcha (Q10).
Sair com um retalho da colcha pode significar aguar a curiosidade, despertar para o
tema em questo, ter que parar para pensar como diz Larrosa (2004). Assim, a relao entre
os mediadores e o conhecimento seria a de portadores e produtores (NVOA, 1995b). Levar
em considerao os saberes do outro uma preocupao presente em alguns depoimentos,
como vemos nestes: procuro estimular os visitantes e aproveitar os seus contedos.
Argumentos que acredito serem positivos para mediao (Q9) e A mediadora uma
provocadora de idias, questionamentos, sensaes, memria, percepes etc. e, alm disso,
garante a socializao disso tudo no grupo durante a visita (Q32).
No entanto, se para alguns a mediao tem este carter dialgico, construtivo, um
trabalho que no se ensina, mas se aprende junto, [pois] muito me acrescentou como pessoa e
tambm como profissional (Q25), outros mediadores ainda tm uma relao de transmissores
e reprodutores (NVOA, 1995b) e at mesmo, por que no dizer, de consumidores desta
transmisso do conhecimento, como verifiquei em outro momento da pesquisa, ao serem
questionados sobre o perodo de formao para a exposio, quando apontaram como a sua
maior qualidade apresentar o contedo da exposio.
Palavras como: ampliao (no sentido de aumentar o repertrio de informao do
visitante), discurso e ponte (para transmitir) apareceram 11 vezes e os verbos: passar (o
contedo), aproximar e facilitar foram conjugados 16 vezes, como no depoimento desta
educadora que se preocupa com o ato de transmitir o contedo: tenho conhecimento, mas
preciso simplificar a linguagem um pouco mais (Q45); ou desta que define o trabalho como
uma importante ponte entre o pblico e a obra, um condutor de ideias (Q53); ou esta que v o
trabalho como um passar (mediar) os conceitos das obras para uma maior aproximao do
grupo com a arte (Q86).
Existem muitas respostas nas quais os educadores assumem a responsabilidade de
aproximar e levar a Arte para as pessoas, como nestes depoimentos que veem o trabalho do
mediador como uma forma de auxiliar as pessoas a pensarem um pouco mais, fugir dos clichs
e treinar o olhar (Q42) ou, meu trabalho de aproximar a arte do educando, de fazer com que
eles percebam que a arte pode ser entendida por eles (Q55), ou ainda, o mediador faz uma
Talvez, uma opo para uma ao educativa em museus de arte que tenha uma
ponte entre a obra e o espectador, auxilia a comunicao entre a arte e o pblico (Q56). Este
outro expressa que o mediador importante, visto que parte do pblico necessita deste servio
Cultura Visual, numa tentativa de dessacralizar a obra de arte, propondo, como diz Imanol
(Q87). Mas que necessidade esta? Por que alguns mediadores acreditam que o pblico
Aguirre (2009), uma aproximao com a obra de arte "como um condensado de experincia
educao/mediao. Notei isso logo no incio da leitura que fiz dos questionrios, ao perceber
como alguns mediadores se apropriaram do instrumento como um momento reflexivo e outros
no. Percepo que no diminuiu no decorrer da anlise.
A reflexo sobre o prprio trabalho fundamental para o educador, seja ela individual
ou coletiva. Foi refletindo sobre meu trabalho como educadora que criei argumentos que me
levam a acreditar numa mediao dialgica, onde o conhecimento construdo e no apenas
Bibliografia
AGUIRRE, Imanol. Imaginando um futuro para a educao artstica. In: MARTINS, Raimundo,
TOURINHO, Irene (orgs.) Educao na cultura visual: narrativas de ensino e pesquisa. Santa
Maria: Ed. Da UFSM, 2009 (p. 157-186).
reproduzido.
Post-scriptum
BARBOSA, Ana Mae. Dilemas da Arte/Educao como mediao cultural em namoro com as
tecnologias contemporneas. In: ______. (org.). Arte/educao contempornea: consonncias
internacionais. So Paulo: Cortez, 2005. p. 98-112.
Relendo a minha dissertao e revendo como uma parte dos mediadores culturais
pensam a respeito de sua atuao profissional, no pude deixar de relacionar aos escritos de
Jacques Rancire e acreditar que a importncia dada aos contedos no processo educadional
faz destes educadores embrutecidos enquanto aprendizes e embrutecedores quando mestres,
pois ao se colocar como aquele que vai treinar o olhar ou fornecer ideias, no pode estar
almejando a emancipao intelectual, como diz Rancire: a distncia que a Escola e a
sociedade pedagogizada pretendem reduzir aquela de que vivem e no cessam de
reproduzir. (2011, p.11).
Ainda que no estejamos nos referindo a escolas aqui e sim a educao em museus,
educao no formal, podemos fazer tal analogia, pois foi bastante perceptvel a postura de
mestre sbio, especialmente entre os educadores que atuavam em exposies de Arte
Contempornea, como por exemplo, quando um educador diz que seu trabalho como mediador
importante, pois as pessoas no esto mais acostumadas a pensar (Q11).
Contudo, no um comentrio exclusivo nem autntico, possivelmente um eco de
BARRIGA, Sara, SILVA, Suzana Gomes da (coords.). Servios educativos na cultura. Coleco
Pblicos, n. 2, 23 nov. 2007. Disponvel em: http://www.setepes.pt. Acesso em: 04 mar. 2008.
DEWEY, John. Experincia e pensamento. In: ______. Democracia e educao. 4. ed. So
Paulo: Ed. Nacional, 1979. p. 152-166.
______. Tendo uma experincia. In: ______. Arte como experincia. [S.l: s.n., 19--].
LARROSA, Jorge. Linguagem e educao depois de Babel. Belo Horizonte: Autntica, 2004.
NVOA, Antnio. Formao de professores e profisso docente. In: ______ (coord.) Os
professores e a sua formao. 2. ed. Lisboa: Dom Quixote, 1995a. p.13-33.
______. O passado e o presente dos professores. In: ______ (org.) Profisso professor. 2. ed.
Porto: Porto Editora, 1995b. p. 13-34.
______ (coord.) Os professores e a sua formao. 2. ed. Lisboa: Dom Quixote, 1995a.
______ (org.) Profisso professor. 2. ed. Porto: Porto Editora, 1995b.
RANCIRE, Jacques. O mestre ignorante: cinco lies sobre a emancipao intelectual. 3.ed.
Belo Horizonte: Autntica Editora, 2011.
SCHN, Donald A. Educando o profissional reflexivo: um novo design para o ensino e a
aprendizagem. Porto Alegre: Artes Mdicas Sul, 2000.
seu processo de formao e estar num museu, local onde se legitima a Arte, pode ser um
momento de emancipao intelectual, quando pensamos numa mediao dialgica, reflexiva e
problematizadora, levando em considerao o princpio de igualdade de inteligncias
(RANCIRE, 2011), ou pode ser um processo embrutecedor, reprodutor da cultura
hegemnica.
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Teresa Almeida
Unidade de Investigao Vidro e Cermica para as Artes (VICARTE), FCT/UNL, 2829-516 Caparica
[email protected]
Em todo o territrio nacional assistimos a uma presena e tradio do mosaico, desde
as runas de Conmbriga at famosa calada portuguesa. A cidade de Conimbriga (perto de
Resumo
Num mundo da era digital, abarcado pelo ensino das novas tecnologias, qual o papel
do ensino das artes de cariz tradicional? Far sentido continuar a dotar os estudantes com
estes saberes?
Alm de fazer todo o sentido, fundamental investigar e aperfeioar tais
conhecimentos e descobrir aptides, de modo a inovar as capacidades dos estudantes na
prtica artstica. Pretende-se por isso, no ensino das tecnologias de cariz tradicional criar um
fundamento para alm da tcnica, orientado para uma preocupao esttica e um julgamento
crtico, demarcando um papel renovado no campo artstico e uma associao a novos
elementos e espaos.
Sero apresentados trabalhos dos alunos, inovadores e portadores de outra maneira
de olhar, uma atitude que ousa uma nova criatividade artstica, onde a tcnica do mosaico
aparece revigorada.
Palavras chave: mosaico, tecnologias tradicionais, ensino contemporneo.
Introduo
obras de arte, como pintura a fresco, tapearia, vitral, escultura e mosaico, nos novos tribunais
e na renovao dos outros. Para tal, os arquitetos chamaram artistas plsticos com formao
acadmica no sentido de realizarem obras de arte para esses espaos. O mosaico que Antnio
Lino realizou em 1960 para o Tribunal de Guimares disso exemplo. O Edifcio das guas
fundamentais para relanar e conciliar esta arte milenria com o pensamento atual,
Livres em Lisboa, dos arquitetos Nuno Teotnio Pereira e Bartolomeu Costa Cabral, construdo
entre 1953 e 56, outro excelente exemplo da integrao do mosaico nos edifcios pblicos.
Neste caso, a obra datada de 1956, de Almada Negreiros.
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academismo; mas por outro lado v-se o crescente interesse de estudantes de Erasmus que
anos noventa, como o trabalho realizado por Eduardo Nery para o edifcio da Sede da Caixa
buscam estas tecnologias, pelo facto de nas suas academias se verificar um ensino massificado
Geral de Depsitos em Lisboa, constitudo por um mosaico, calada e vitral. A utilizao neste
das artes digitais e um desuso do tradicional. Para os que debandam do ensino das
acabar com estas ideias preconceituosas e manter os estudantes com vontade de descobrir e
Lisboa, conhecido pela sua decorao em azulejo, possui, na estao de Carnide, um mosaico
desenvolver as suas atividades neste meio artstico, que rapidamente podem ser enquadradas
criar um objetivo para alm do estudo da tcnica, suscitar preocupao com o material e com
o conhecimento das suas potencialidades, e suscitar tambm uma preocupao esttica.
trabalho realizado em mosaico italiano para o passeio de Neptuno, e Pedro Proena com uma
Para os estudantes de Erasmus que procuram este ensino perdido, como que uma
tcnica formal baseada na calada portuguesa (Figura 1). Fernanda Fragateiro foi outra artista
nostalgia, procura-se dota-los primeiro de saberes tcnicos e em seguida dos conceptuais, para
que realizou diversas intervenes. Concebeu uma escultura para um jardim, uma fonte de
que depois da aprendizagem adquirida consigam continuar a trabalhar com o mosaico, quando
gua e vrios bancos revestidos de mosaico bizantino e ainda uma calada portuguesa para o
Em Portugal o ensino do mosaico vem sendo lecionado nas Escolas de Belas Artes do
Porto e Lisboa, desde 1957. Pela Europa fora, esta tecnologia tambm ministrada,
nomeadamente na academia Brera de Milo, Academia de Belas Artes de Atenas e ainda na
Scuola Mosaicisti del Friuli, Itlia, desde 1922.
Na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, a disciplina dada em dois
semestres, dividida em dois nveis de formao. No primeiro nvel, de iniciao tcnica,
procura-se analisar, entender e usar as diversas funes do mosaico nas diferentes tcnicas
utilizadas. Compreender a histria e tradio do mosaico, no s no territrio luso, mas
tambm conhecer o panorama artstico internacional. Pretende-se que os estudantes
modos da tcnica do mosaico e das suas vrias aplicaes. Tendo em conta a familiarizao
dos estudantes com esta nova tecnologia solicita-se para o primeiro trabalho o
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Nos dois ltimos sculos da nossa era assistimos a um desenvolvimento entre a arte e
desenvolvimento de um mosaico com base nos trabalhos que tm vindo a realizar na cadeira
Ainda no primeiro nvel os estudantes tem de realizar um ltimo trabalho onde usem a
lado, que estudantes procuram muitas vezes a utilizao e aplicao dos novos mdia
relao de mosaico com a arquitetura e/ou espao pblico da Faculdade. Procura-se com este
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quadrados de calcrio cortados com preciso milimtrica, os trabalhos devem ser irreverentes
e ousados no tema, conceito terico e no resultado final. certo que a utilizao de um
determinado material em detrimento de outro, por parte dos artistas na elaborao de uma
obra de arte, no meramente casual. John Gage afirma que os materiais que o artista utiliza
no podem ser considerados como simples ferramentas (Gage: 2006), a sua escolha e
aplicao possui um valor especfico que lhes inerente.
Numa abordagem pedaggica dotamos os novos estudantes com um saber mais que
meramente tcnico, procurando fundamentos tericos e uma linguagem plstica caracterstica
da arte. A meio do semestre os estudante faro uma apresentao oral do seu projeto
explicando aos colegas o trabalho que esto a desenvolver. Com este debate procura-se
explorar ideias crticas e conceptuais, descobrir novos caminhos e possibilidades de trabalho.
Cristina Roriz foi uma das estudantes que desenvolveu um trabalho parietal onde utilizou
pedras e pigmentos. Desenvolvendo o projeto de pintura no ateli de mosaico, esta aluna
procurou fazer uma pintura com mosaico.
Refira-se ainda os trabalhos das alunas Janina Silva e Agostinha Moreira. Janina empregou a
madeira com elementos cermicos, desenvolvendo um trabalho de instalao colocada nos
jardins da faculdade. Esta aluna procurou troncos de rvores que serviram como o seu
suporte, sendo as tesselas realizadas em cermica, pequenas tiras orgnicas que concebeu,
tendo em ateno a fisionomia do suporte (Figura 2). Agostinha, por sua vez, procurou a
utilizao de novos elementos numa composio formal totalmente renovada. Esta estudante
analisou e explorou as potencialidades do vidro, desenvolvendo vrios prottipos de legos,
estabelecendo uma composio colorida e rtmica, onde as tesselas empregadas foram os
legos de vidro (Figura 3).
Consideraes finais
Averiguou-se que a presena do mosaico em Portugal reporta-se ao perodo Romano,
notando-se ao longo dos tempos influncias italianas, de forma mais evidente durante o
reinado de D. Joo V, sendo que no Estado Novo teve um pendor acadmico, assistindo-se nos
dias de hoje a uma revitalizao pelo recurso a novos conceitos e materiais. A calada
Portuguesa o produto mais notrio e genuno da arte do mosaico em Portugal.
No referente ao ensino, constata-se que o recurso a novos conceitos e materiais so
fundamentais para a criao de obras portadoras de contemporaneidade. Mas primeiro h
que saber da histria do mosaico e conhecer os mtodos tradicionais e atuais, para depois
partir para a descoberta. No basta saber das novas tecnologias, importa conhecer essas
tcnicas e materiais, no sentido de optar perante as caractersticas e possibilidades que os
mesmos oferecem e assim potencializar a criatividade e expresso.
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"For the first time, he touches the wall not as a support, nor as an obstacle or something to lean on
(all of which might equally have left prints, none of which will have counted, will have done this
workat least not until this work has been done), but as a place, if one can touch a place. Only as a
place in which to let something of interrupted being, of its estrangement, come about" (Nancy,
1996; 75, 76).
To achieve this kind of defamiliarization or estrangement like the first painter, we had to act as
observers of our own hands and body as well as of our own acts as if it was the first time. Thereby
we had to perceive our hands as independent entities, as something out of us, outside of our own
body experience. Defamiliarization, as a scientific approach, is based on the consideration that any
identity (object, action, place or being) must be placed outside of ourselves in order to be critically
known, independently from our daily lives and beliefs.
For the observer an entity is an entity when he can describe it. To describe is to enumerate the
actual or potential interactions and relations of the described entity. Accordingly, the observer can
describe an entity only if there is at least one other entity from which he can distinguish it and with
which he can observe it to interact or relate. This second entity that serves as a reference for the
description can be any entity, but the ultimate reference for any description is the observer
himself. (Maturana, 1980; 9)
Handmade Experiences
of recognition such as weight, softness, warmth and movement that usually are not relevant at a
first contact, and we considered hands as the basic instrument for exploring the unknown, avoiding
prejudices coming from visual data such as our specific way of dressing, age, gender, social role or
ethnic group . We wanted to make the students be aware of the perception inputs linked to
ideology but also make them concerned about unusual facts such as voice, tone and speech
fluency, registered by other senses like hearing or even the smell as the most primitive sense that
provokes most durable memories. This action introduced different viewpoints of approachment and
made a statement for the experimental character of the workshops further experiences.
In fact, when students were finally able to see who they were with and how the space of the class
was, they lost their voice. Without voice, our hands draw signs in the air. Participants
introduced themselves in a video only by using their hands. By watching the videos we realized the
difficulty of exploring the freedom of hands because our imaginary sign language is still ruled by
stereotypes. Most of the participants reproduced image symbols with their fingers rather than
expressed emotions with gestures. For example in order to say I like it they picked up their
thumb, or formed a heart. Most of them used their whole body to show actions like cycling, or
skiing. Generally, we managed to understand what they were trying to say, and we observed that a
lot of hand-gestures are common in all countries. Although we all speak different languages The
hand is the only speech that is natural to man which, without teaching, man in all regions of
the habitable world does at the sight most easily understand.(Bulwer John, Chironomia, 1644 en
Donald Mac 1975; 1)
We observed hands either as a whole or regarding at their different parts: fingers, thumbs,
fingertips, wrists, palms. There are a considerable amount of studies that connects the progress of
human brain with hands. Nevertheless its difficult for us to consider such an importance, mainly
because we are living in an oculocentric world, where vision is our principal way of perceiving.
Without view, just leaving our hands to look out for the clues, in the very beginning of the
course, we disabled the sense of sight to approximate each other only by touch, pressure, caress,
handle and palpate. Touch produces different sensory information to that provided by the eye... its
not just reactive but also active (Sherrington, C. 1906 The Integrative Action of the Nervous
System, en Sennet, 2009; 189).
Without seeing, without voice, without hearing, little by little we went on removing our information
layers until we managed to lose our memory. We were left without prejudices and without
restricting thoughts having achieved a first approach on our defamiliarization process.
Then, we wrote a list of all those dispersed variables that describes hands in order to find out what
a hand is: Which are the limits that define it? A hand with: five, four, three, two, one finger. A hand
with no fingers. When hands are not linked with brain, far from desires and projects, they change
into images kind of representations of our sensations, emotions, wills, actions, passions and
motives . And through multiple associations of images, we could discover unknown variables that
could be joined in new categories, in an attempt to make a cartography of hands, an exhaustive
taxonomy inspired from the method carried out by Aby Warburg (2010). There on a blackboard of
10m long, we discovered our hands.
We set this new circumstance in order to shorten the distance between sight and the seen, and of
perception itself, claiming knowledge as an experiencing rather than only looking or just thinking
(both detached/distant approaches to perception). By this way we took under concern other facts
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"To repeat again and again an action is stimulating when it is organized looking ahead. The
substantial thing of the routine can change, transform and improve, but the emotional
compensation lies in the personal experience to repeat. This experience is nothing strange, we all
know it: is rhythm. Already present in the human heart contractions, the artisan has extended it to
his hands and eyes." (Sennet, 2009; 216,217)
And then, ready to go beyond limits, we went to Prado Museum to look for monster hands. The
term monster hand was the metaphor used to describe the hands which, physically or
representatively, extend or lose their limits. The challenge was to convert the visit to a classical
museum in an estrangement experience by the monster hands hunting. Velazquez, El Greco,
Goya, Ribera among many other painters offered us a large collection of hands that could be
considered as monster hands. They revealed us that hands are deformed when feelings, pain,
madness and utility is more important than their image, like in life. The best interpretation about
monster hands came from a girl of the group who after seeing the dim hand of the painter in Las
Meninas she observed that it was impossible to distinct his hand from the paint brush, they were
like one. Definitely for Velazquez his hand was his paintbrush, his life was painting.
And now without boundaries, we just left our hands to move, manipulate and extend their
limits until they were transformed into monsters. Making monster hands liberates people from
the need to make a perfect hand, similar to a real one. The variety of hand production was
impressive and we were all surprised by our small creations that were far more interesting than
some of the references showed during the session. A hand that was a whistle; two hands pasted
together; a box-hand; a long-nail hand. Daniel Millers words from his introduction to the exhibition
the power of making (A&V Museum, London) seemed the best reference: Feel for yourself that
sense of achievement and exhilaration when you see in front of you the finished object of your
labor, and how that object has in turn made you more than you otherwise had been. (Miller, 2011;
15).
While the construction of the monster hands was taking place, a conference and dialogue about
the monster hands of comics and cinema was carried out. Several movies opened a discussion
about the relationship between hands and mind like The Thing of The Addams Family, The Hand,
The beast with the five fingers and more. Edward Scissorhands, X-men, and the hands of
Superheroes gave space to speak about how the anatomy of the hand has been an inspiration to
movie directors.
We couldn't go on knitting with such monster hands, so we started moving them. Perform without
thinking, just leaving our hands to act independently. We had to make a dialogue in groups of
three just using our hands. We started from an introduction to Sign language and its unique
linguistic use of space that is amazingly complex, for much of what occurs linearly, sequentially
temporally in speech becomes simultaneous, concurrent, multileveled in Sign (Sacks, 1990; 88).
However, most of the participants inserted mimetic and theatrical elements in their narrations.
Hands were aptly used in cases but in others it was difficult to recognize their intention, lost in the
amount of movements. This caused a difficulty in communication that had as a result a lack of
interaction after the presentations. However, in the preparation of the exercise people did
interacted a lot within their teams working with interest in the creative part of the exercise.
Later we were taught the basis of flamenco dance; like all parts of human body, hands are an
articulated extremity of expression that explores and helps to be located in space, find references
and discover the body axis in balance. Hands in flamenco break the harmony and balance of the
lines that arms create. Flamenco hands moves inward and outward, transmitting strength, freedom
and allowing improvisation; hands are mysterious and reflect the most intimate and intense human
feelings. Variants according to the different origins, places or interpreters, gives at flamenco styles
not only richness but a proper character which is reflected in the expression of hands. In the
sole they are dramatic, in tangos are festive in bulera are spontaneous, in farruca are
brave and in seguiriya are tragic. The meaning of the hands in flamenco is linked to each of those
styles as part of the ritual of a collective participation accompanied by singing, dancing, guitar and
percussion, whose common denominator is the rhythm.
You can get 700.000 different positions; using combinations of arms, the wrists and fingers (Davis,
1998) depending on the cultural, natural, social, familiar or personal experience, these positions
will have different meanings, allowing multiple options for hands action in dance. To explain the
great flexibility, mobility and expressiveness of hands several studies come to the conclusion that
the human brain cortical fields for hands and fingers are much more extensive and differentiated
than those corresponding to other segments of the body members. They are ten times more
important than this were feet are involved (Schinca, 1988).
Its interesting to observe the transformation that the previous dialogues in sign language suffered
by introducing flamenco elements. The participants body attitude turned out to be more relaxed,
open and spontaneous than it was before. Their facial expression showed what was also
confirmed verbally; they were confident and satisfied. We spent this night in a flamenco spectacle,
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where all participants were really impressed by the flamenco dance and music.
guide us. As real supporters of Arendts philosophy, we perceived action as the only possibility for
something new and inedited to appear in our world: any action triggers other action (Barcena,
2006; 194). While acting we were not aware of what we were doing; we first acted and then, we
reflected on our action and its outcomes. In this playground, by closing the course, we made with
all of our knitting textiles a scarf; an overall metaphor for the whole course that looked like an
artwork. An educational project of collaborating hands where the resemblance of the Dadaist
exquisite corpse, is seen as a different way of learning through a collective consciousness of a
sense of diversity, empathy and synergy.
Next morning we learnt how to play the castanets. Music, made hands to move by their own.
Introduce castanets in a ludic way motivated the group and worked as a cohesive element.
Participants did collaborate in space and time and managed to keep the rhythm and the compas
of seguiriya at once.
Just an amazing collective sound emerged as hands drew shapes freely in the air looking for
personal expressive movements. The learning intensity was increasing and the course
temperature was out of control allowing an unpredictable to happen: One of the students showed
us some movements coming from Japanese martial art Ninjutsu that involve hands as an
instrument. Like a magician in the forest, he made us to leave our barriers apart, and body
contact worked as a significant catalyst that led to reset time and space, establishing an
unexpected relationship among hands and bodies and bodies between them.
And from that typical beauty of castanets Spanish sound, we passed through handy sound to a
new peculiar task consisting in producing a new mobiles ringtone, mainly made with hands, but
emphasizing the need of coordination and collaboration of the team members in more than a
sensory level. The participants worked together not only in the interpretation of the new sound but
also in the production and experimentation of it. This process alerted senses like hearing and
kinaesthetic, often forgotten in the academic environment.
The last day the participants made a video in the city of Madrid. The video should take place in the
metro, in a mall, in a square, in a Chinese shop, in a Spanish bar, in a public toilet, in a cinema etc.
Participants, in teams of four, should interact with people in the streets without speaking since their
hands were the protagonists. This last exercise resulted extraordinarily motivating. All of them were
implicated in a both sentimental and ludic way. They experimented with most of the concepts
introduced along the workshop like knitting, castanets, sign language or monster hands. Their
major surprise, and of ours as well, was the effect that communication and interaction with
everyday people in the streets, metro, bars and shops, can have in the intensity of our emotions
and perception of the city and of life.
Conclusion
Bibliography
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12 June 2012 http://www.metacafe.com/watch/1946985/the_hand/
The Hand. Dir. Oliver Stone. Orion Pictures Corporation, Warner Bros. Picture,1981. Twisted Terror
Collection, 2007. DVD
Definitely, we deeply experienced the city, art and life like a playground where we left our hands to
24
25
artstica realizada por mulheres artistas visuais e artistas plsticas da arte contempornea
paraense que atuam na cidade de Belm do Par, regio Norte do Brasil. Sua estrutura
era baseada numa anlise transversal com aspectos histricos, sociais, filosficos e
artsticos da produo de mulheres artistas brasileiras e de outras artistas que so
Resumo: Este artigo se prope a refletir sobre a minoritria presena de artistas mulheres e suas
obras nas aulas de arte. Procura incentivar as professoras e os professores de arte a incluso da
arte das mulheres em suas aulas para se desenvolver uma completa educao crtica, analtica e
esttica dos alunos e alunas sobre a expresso artstica feminina.
Palavras-chave: Histria da Arte, Mulheres Artistas, Identidade, Arte-educao.
referncias internacionais.
Portanto, perfiz o caminho da Histria da Arte at a Arte Contempornea atual,
expondo uma interpretao analtica e crtica de obras de arte e aes artsticas das
artistas escolhidas para compor o trabalho. O foco principal desta pesquisa foi
apresentar outras formas de representaes do feminino feito pelas mulheres artistas,
Title: Discourses, poetics and feminine identities in class art education contemporary.
Abstract: This article aims to reflect on the minority presence of women artists and their works
in art classes. Seeks to encourage the art teachers for the inclusion of women in their art classes
to develop a complete education critical, analytical and aesthetic of the male and female
students about artistic expression female.
foi feita por homens artistas, que a histria admite como resultado de um domnio
patriarcal secularmente ativo. Foram elaboradas idealizaes no curso dos contextos
Elysio de Carvalho1
artistas mulheres que j foram consagradas mundialmente por sua contribuio para o
1
Carvalho Apud Barbosa, A. M. (2001). Arte-educao no Brasil (4 ed.). So Paulo: Perspectiva. ISBN:
85-273-0172-5.
26
27
reconhecidas. Algumas das mais citadas nos livros por ordem histrica so: a artista
italiana
francesa
renascentista
Artemisia
Gentileschi
(1593-1653),
artista
maioria dos livros sobre arte a obra monumental e de grande qualidade tcnica que
homenageia os mritos culturais e sociais da mulher durante a histria, The Dinner
Party2 (1974-1977) da artista norte-americana Judy Chicago (1939).
inegvel que uma nova organizao mental e social est se formando em todas
as relaes entre homens e mulheres em nosso sculo - tambm entre as prprias
mulheres. O universo da arte no poderia ficar de fora dessa atrasada e lenta
reorganizao relacional que deveria ser desde sempre assim. Entretanto, esse caminho
foi longo e deixou negativos rudos sociais, estticos e esteretipos que dominam at
cientfico gerado por estes trabalhos so fontes importantssimas de estudos e podem ser
hoje o universo artstico e social das mulheres. O que bvio concluir que a conquista
artistas em regies fora dos grandes centros hegemnicos. Afinal, isso deve ser levado
mulheres e sua histria em todos os pases. Alm disso, revelaram sobre o pretrito e
revelam sobre o presente uma interpretao da mulher sobre o seu universo, sua
plena presena na maioria das aulas de arte. Onde est, ento, o problema se podemos
contar com tanta informao sobre a arte das mulheres? Est na conscientizao sobre a
imagem da mulher nas artes e na mdia. A arte das mulheres props novos pontos de
vista sobre o gnero feminino, suas expresses performativas, fsicas, sexuais, sociais e,
femininas das mulheres artistas devem estar no currculo das aulas de arte- educao.
suas alunas e alunos, para que eles possam perceber e compreender melhor o meio
no apenas em seus aspectos racionais e cognitivos, mas contribuindo para que o aluno
28
A pea era uma mesa com forma de tringulo equiltero de 15 metros por cada lado com 39 assentos
dedicados cada um para uma mulher importante da histria, mais 999 nomes escritos no cho de
mrmore. Na mesa ficavam pratos desenhados pela artista com motivos da poca que representavam
cada mulher.
29
alunos (as) nas aulas de arte que apresentem mltiplas expresses artsticas e temticas
sobre o universo feminino e masculino.
Faz-se necessrio relembrar a importncia da atuao de arte-educadores (as),
que devem estar conscientizados como agentes sociais, que almejam modificar o seu
ambiente social para melhor. Para elucidar esta afirmao, as palavras da professora
brasileira Nomia Varela (1917) so categricas para explicitar a relevncia da arteeducao:
O espao da arte-educao essencial educao numa dimenso muito mais ampla, em todos
os seus nveis e formas de ensino. No um campo de atividade, contedos e pesquisas de
pouco significado. Muito menos est voltado apenas para as atividades artsticas. territrio
que pede presena de muitos, tem sentido profundo, desempenha papel integrador plural e
interdisciplinar no processo formal e no-formal da educao. Sob esse ponto de vista, o arteeducador poderia exercer um papel de agente transformador na escola e na sociedade. (Varela
citado por Fusari & Ferraz, 1993: 20-21).
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Como afirmou Varela, desta dimenso mais ampla que precisa o espao da
arte-educao contempornea, no qual no somente englobe as atividades prdeterminadas da rea, mas que se torne um agente de conscientizao na sociedade e na
escola. exatamente disto que este artigo est discutindo, da dimenso deste espao
que, por vezes, mantem-se preso numa estrutura secular no questionada, mas repetida
at a sua exausto. No podemos perder a oportunidade de dar um novo ar para a arteeducao, a qual prezar pela igualdade de gnero e pela valorizao da imagem da
mulher em todas as suas dimenses existenciais.
Portanto, este artigo pretendeu incentivar uma maior incluso da produo
artstica feminina nos contedos das aulas de arte para torn-las mais plurais, analticas,
reflexivas e crticas. A prtica docente que der a merecida importncia para a arte das
mulheres beneficiar seus discentes e a sociedade em geral. Permitir, por conseguinte,
que eles observem e analisem outros modos de expresso subjetiva, revelando o
universo feminino e masculino representado pelo olhar da mulher, positivando e
reconhecendo as mltiplas identidades femininas, seus modos de construo e
desconstruo da prpria identidade e os tipos simblicos de representao da mulher.
Por ventura, com esta conscientizao social e profissional as aulas de arte se tornaro
mais completas, sensveis e pluridimensionais.
30
31
provaes e dos seus sofrimentos expressos na sua prpria linguagem; e retratar as condies das suas
casas e das suas famlias, a estas, acrescentmos a descrio das festividades associadas a rituais
culturais/religiosos, levados a cabo pela
concebemos os materiais didticos, nos quais recorremos ilustrao infantil para formalizar
visualmente os contedos (fig.2), e que posteriormente apresentmos aos alunos da aldeia (fig.3).
Palavras Chave: Educao pela/com a Arte, Educao Comunitria, Ilustrao Infantil, Brinquedos
Didticos
A nossa investigao sedimentou-se em diversas preocupaes educativas e socioculturais, embora o
veio principal, motor de todo o projeto, tenha o seu foco nas Histrias de Vida e no que delas podemos
retirar, enquanto traos da identidade cultural de uma determinada comunidade. E de que forma
podemos utilizar esse conhecimento para dinamizar contextos educativos. Para corresponder aos
nossos propsitos, encontrmos os nossos alicerces em trs peas fundamentais que desenvolvemos
ao longo da investigao:
- As questes pedaggicas e didticas;
- A expresso artstica;
quais:
- Relevncia no processo de ensino/aprendizagem dos contedos a que nos propusemos, uma vez que
Este projeto proporcionou-nos uma longa viagem, fez-nos conhecer e cruzar caminhos entre o passado
e o presente (talvez nos tenha trazido tambm um pouco do futuro). Inicimos o nosso estudo
os alunos alcanaram alguns nveis de pormenorizao dos fatores abordados, e mantiveram as suas
descries da vida de antigamente, em grande conformidade com o que lhes foi transmitido por ns,
atravs dos materiais didticos.
32
- Maior objetividade na forma de intuir o propsito, e a importncia que as histrias podem representar
na formao dos prprios alunos. Estes situaram o potencial das histrias e o ato de as partilhar, dentro
das preocupaes de salvaguarda das tradies, e dentro do domnio do ensino/aprendizagem, o que
33
nos surpreendeu por percebermos a dimenso pedaggica que as crianas atriburam aos materiais
histria e sobre as particularidades que a tornam singular. Permitindo dessa forma, o incio de um
apresentados.
- Interesse pelo passado e pela preservao do mesmo, atravs do reconhecimento de elementos que
simbolizam as tradies locais, e a importncia de fazerem com que este perdure em futuros prximos.
Podemos referir que, o decorrer desta investigao, trouxe-nos o privilgio de poder assistir e
participar num percurso importante no mbito do desenvolvimento pessoal dos alunos, uma vez que os
passos desta investigao foram marcados por vrios espaos temporais entre 2008 e 2009.
Acreditamos poder afirmar, com relativa segurana, que os materiais apresentados auxiliaram os
alunos no preenchimento de uma lacuna considervel, ao nvel do conhecimento relativo s antigas
vivncias da aldeia. Atravs da leitura de relatos posteriores, redigidos pelos alunos acerca da aldeia,
constatmos que o guio informativo que tnhamos seguido na apresentao dos materiais, foi em
grande parte reproduzido por estes, revelando dessa forma uma boa apreenso dos contedos e dos
diversos pormenores. Deparmo-nos ainda com relatos completados com ilustraes inspiradas nos
materiais didticos que apresentmos e com fotografias da aldeia, demonstrando assim, entre outras
possibilidades, uma dimenso participativa e interessada sobre a temtica.
Como balano final do processo inerente investigao, podemos referir enquanto agentes
educativos, que a dinmica alcanada nos momentos em que estivemos com o grupo de estudo e a
participao que estes demonstraram, foi um fator importante que nos leva a considerar a importncia
da conceo de suportes didticos desta natureza, para a nossa prtica profissional e para outros
contextos de interao educativa.
Alm do j relatado, retemos desta investigao a ateno com que os alunos, se situaram a
ouvir e participar nos relatos que tomaram lugar; o prazer que demonstraram ao manipular os materiais
que lhes levmos; a descoberta dos pormenores que introduzimos e tentativa de compreenso das
imagens e dos contextos sociais e culturais retratados. Neste sentido, a dimenso visual revelou-se
extremamente til na veiculao de referncias sobre a cultura local (uma vez que percebemos ser
difcil, para os alunos, situarem-se nas histrias da aldeia apenas por relatos orais).
Para terminar, devemos ainda referir a positividade que julgamos ter sido possvel alcanar
atravs deste estudo, apesar de ser multifacetado ao nvel das peas fundamentais que j referimos,
estamos em crer que foi possvel entrelaar caminhos que confluram expressivamente num propsito
comum:
Um desejvel equilbrio entre o desenvolvimento scio afetivo, humano e sensorial, mediados por
contedos afetos aos materiais didticos de autor que concebemos, possibilitando assim a
demonstrao da aquisio de conhecimentos sob uma perspetiva do local envolvente, sobre a sua
34
35
Fig.2
Fig.3
36
37
Comunicao
Porto
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Ttulo:
Autor:
Joo Cabeleira
Filiao institucional:
Resumo:
Palavras-Chave:
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mbito
Sendo a geometria uma cincia fundamental arquitetura, a Unidade Curricular de Geometria na
EAUM promove processos abstratos intrnsecos aos diferentes sistemas de projeco, o
reconhecimento de estruturas formais e a prtica do desenho de arquitetura nos seus vrios
propsitos. Assim, aos exerccios de reconhecimento do espao projetivo, propem-se investigaes
onde anlise, representao e estratgia comunicativa do espao, se somam dados da cultura
cientfica, artstica e arquitetnica.
1 Exerccio
Em A imagem do espao: Sntese na representao arquitetnica explora-se uma seleo de
espaos pictricos atravs das obras de: Leonardo (ltima Ceia, 1497); Rafael (Casamento da
Virgem, 1504); Bellini (Nossa Senhora com os Santos, 1505); Drer (Apresentao de Cristo no
Templo, c.1514); Hooch (O quarto, c.1660); Hoogstraten (Iluso Persptica, 1662); e Witte (Interior
com mulher ao cravo, c.1665). Neste mbito no s pertinente a explorao da perspectiva
enquanto simulao do espao arquitetnico (ensaiando articulaes e solues da gramtica
construtiva, preconizando a metodologia projetual emergente a partir do renascimento) como a
capacidade de registo de ambientes, reconhecendo a realidade fsica.
Ponto de Partida
Ambas as investigaes partem do reconhecimento da teoria do desenho arquitetnico tendo por
base o Dispositio vitruviano e os avanos proporcionados pela conceo moderna do arquiteto e da
sua disciplina.
Em De Architectura Libri Decem (40 a.C), Vitrvio organiza o desenho, modo de obteno de uma
harmonia racional assente na geometria, segundo trs fatores: Ichnographia (planta); Orthographia
(alado); Skenographia (operao mental de cruzamento entre planta e alado). Por sua vez, em De
Re Aedificatoria (1485), Alberti associa o desenho distino entre conceo e construo,
pertencendo a primeira ao campo de ao do arquiteto e a segunda ao do construtor. Contudo,
Alberti, negligenciando a operatividade da perspectiva, restringe o desenho do arquiteto ao registo de
verdadeiras medidas e ngulos, vinculando-o objetividade da conformao espacial e reforando a
cientificidade da prtica arquitetnica.
A noo superada por Rafael que, na carta a Leo X (1519), deixa de delimitar o desenho do
arquiteto planta apontando um verdadeiro sistema que constituir, da por diante, o ncleo central
da produo grfica da arquitetura. E porque o modo de desenhar que melhor pertence ao arquitecto
diferente daquele do pintor, direi o que acho conveniente para a compreenso de todas as medidas
e como encontrar todas as partes do edifcio sem erro. O desenho que ento pertence ao arquitecto
divide-se em trs partes das quais a primeira a planta, ou como costumamos dizer o desenho no
plano; a segunda a parede de fora [alado], com seus ornamentos, e a terceira a parede interior
[corte], tambm a com os seus ornamentos. A estas projeces Rafael acresce a perspectiva: E,
para ainda satisfazer amplamente o desejo daqueles que amam ver e compreender bem as coisas
que sero desenhadas, agora temos - alm dos trs modos de desenhar a arquitectura acima
referidos desenhado ainda a perspectiva de alguns edifcios que nos aparecem aos olhos, como se
os pudssemos ver e julgar a graa de tal semelhana que apresentam na bela proporo e simetria
dos edifcios, o que no aparece no desenho dos que so medidos arquitectnicamente Concluindo a
sua convenincia ao arquiteto: E, se bem que este modo de desenho em perspectiva seja prprio do
pintor, , no entanto, conveniente ao arquitecto. Porque, tal como ao pintor convm a notcia da
arquitectura para saber fazer os ornamentos bem medidos e com a sua proporo, assim ao
arquitecto se procura conhecer a perspectiva porque com tal prtica melhor se imagina todo o edifcio
fornecido dos seus ornamentos.
pois sob esta simultaneidade operativa dos vrios sistemas projetivos que se move a estratgia dos
exerccios de investigao.
40
A imagem do espao: Sntese na representao arquitetnica. Fichas do enunciado; Imagens propostas a anlise
Sendo que cada grupo de investigao elege uma das obras, os alunos iniciam o processo na anlise
da imagem caracterizando o espao representado (volumes, planos, arestas, pontos, propores e
elementos da construo), prosseguindo na identificao e avaliao da estrutura persptica (Linha
de horizonte, linha de base, pontos de fuga, ponto de vista). Esta explorao dos contedos da
imagem, segundo uma teia de traados, permite reconhecer o espao exposto e comprovar as leis
que estruturam a sua simulao tica (detetando-se em alguns casos incongruncias na valorizao
do efeito visual em detrimento do rigor mtrico e angular, estamos perante pinturas de cavalete e no
projetos de arquitetura). Por sua vez, a aplicao de processos de desconstruo, essencialmente
assentes no contra rebatimento e aferio de verdadeiras grandezas, permite a obteno das
propriedades matemticas e geomtricas do representado convertendo-o agora em projees
ortogonais (plantas, cortes e alados), o que permite a sua simulao segundo projees oblquas
(axonometria cavaleira ou militar). A axonometria do espao, que no caso dos espaos interiores
aplicada de acordo com a exploso dos elementos envolventes, explora outro modo de simulao
tridimensional que, no condicionada incluso do observador e estruturao da imagem a partir de
um ponto de vista, est mais prxima de um modo analtico de representao e no de simulao da
visualizao do espao.
Nesta sequncia de operaes alinham-se os objectivos gerais da investigao: Reconhecimento e
anlise da imagem persptica de um espao; Identificao das transformaes operadas pela
perspetiva sobre forma, medida e relao entre as partes; Aplicao de nomenclaturas e
especificidades geomtricas de cada sistema projetivo; Cruzamento de diferentes modos de
representao; Capacidade de reconhecer e representar um mesmo espao de acordo com os
diferentes sistemas de projeo.
41
A imagem do espao: Sntese na representao arquitetnica. Leonardo da Vinci, ltima Ceia (1497): Nuno Campos.
Rafaelo Sanzio, Casamento da Virgem (1504): Eugnia Leite, Filipa Pereira, Isabel Coelho. Pieter de Hooch, O Quarto
(c.1660): Ivo Barbosa, Lucas Carneiro, Miguel Pinto. Samuel Van Hoogstraten, Iluso perspctica (1662): Isabel
Machado, Paulo Ferreira, Pilar Gordilho.
2 Exerccio
Em Mquinas de Desenho: Entre o mito da viso objetiva e a cincia da representao,
pressupe-se a construo e explorao de aparatos (mquinas) de desenho. Aos alunos foram
apresentados: o Instrumento Universal (1557) de Lanci (concebido como aparato matemtico para
medir terrenos, distncias em planos verticais, horizontais ou inclinados); o Perspetgrafo (1605) de
Stevin (superando o modelo de Drer, desenvolvido para a demonstrao das leis geomtricas da
perspetiva e matemtica, como para retratar estruturas militares); o Perspetgrafo em Cruzeta (1613)
de Cigoli (continua a tradio matemtica na determinao das coordenadas da interseo dos raios
visuais com o plano do quadro e tem como objetivo o levantamento territorial reconhecendo a sua
imagem e propriedades mtricas); o Pantgrafo (1631) de Scheiner (um paralelograma de rguas que
possibilita a ampliao e reduo proporcional de desenhos atravs da aplicao das transformaes
homotticas); o instrumento Mezptico (1646) de Kircher (combina as propriedades do perspetgrafo
de Drer com as da lanterna mgica); a Cmara escura porttil (1685) de Zhan (parte dos princpios
enunciados por Alhazen na compreenso do funcionamento do olho); e a Cmara Clara (1806) de
Wollastron (que supera a cmara escura ao possibilitar o seu uso sob quaisquer condies
luminosas). A partir da abordagem destes exemplos afere-se da coincidncia de interesses entre arte
e cincia e das capacidades das mquinas de desenho enquanto auxiliares na interpretao de
fenmenos naturais, anlise da realidade visvel, produo de imagem, e aptides ao nvel da
demonstrao de princpios tericos da ptica, matemtica e geometria.
Perante estas hipteses cada grupo de trabalho escolhe uma mquina procedendo ao seu estudo,
conceptual e construtivo, tendo em vista a construo de um modelo. Neste mbito o projecto da
mquina acompanhado pelo desenho, no qual se resolve a sua forma, medida e funcionamento,
sintetizado numa exploso axonomtrica (devidamente cotada) que expe o mecanismo, identificando
cada um dos seus componentes e modos de encaixe. Posteriormente, a construo da mquina
permite a demonstrao dos princpios que regulam a perspetiva, confrontando os processos
abstractos estudados ao longo do ano com a sua materializao em modelo. Nessa verificao da
regra elaborada uma representao do real, empregando a mquina produzida, que posteriormente
sujeita a anlise aferindo os elementos abstractos que estruturam a imagem persptica.
(desconstruo da imagem obtida, restituindo o espao real e identificando elementos estruturantes
da perspetiva).
Cumprem-se assim os objectivos do exerccio: Demonstrao dos princpios pticos e projectivos
abordados no programa; Relacionamento entre os enunciados abstractos e a prtica da
representao espacial; Articulao dos diferentes mtodos de projeco; Capacidade de reconhecer,
materializar e representar mecanismos de comprovao de valores abstractos.
Baldassare Lanci, Instrumento Universal (1557): Daniel Carvalho, Gil Lima, Joel Dinis, Leandro Oliveira; Simon Stevin,
Perspectgrafo (1605): Ana Carina, Hugo Lobo /Ana Soares, Diogo Lopes, Joo Fonte, Jorge Fernandes, Pedro Paiva.
Cigoli, Perspectgrafo em Cruzeta (1613): Bianca Galli, Joo Amaro, Jos Brando, Mnica Castro. Scheiner,
Pantgrafo (1631): Elisabete Monte, Marta Martins, Nicole Abreu, Vera Moura; Johannes Zahn, Cmara obscura porttil,
(1685): Ana Alexandra Rodrigues, Lus Maciel, Marisa Fernandes. William Wollastron, Cmara clara (1806): Ana Guerra,
Bruna Alves, Mrcia Domingos, Maria Novais.
Concluses
De ambos os exerccios deveremos apontar a aplicao de uma metodologia de projeto assente na
anlise, questionamento e reorganizao de dados reconhecendo contedos cientficos inerentes
prtica e cultura arquitetnica. Como tal os exerccios pressupem a elaborao de um portflio de
investigao (reunindo e sistematizando contedos), a produo de processo de desenho (onde se
evidenciam as diferentes fases da conceo e anlise dos elementos pedidos), e a elaborao de
modelos e pranchas de desenho (evidenciando o cruzamento de diferentes modos de projeco e
expressando capacidades de registo e comunicao dos dados obtidos).
Mquinas de Desenho: Entre o mito da viso objetiva e a cincia da representao. Fichas do enunciado
42
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Enquanto meio para conseguir um fim que exterior ao desenho, a execuo material do projeto que
nasce da ideia do arquiteto, o desenho de arquitetura poder ser classificado como intermediao
entre a ideia, o Disegno interno, e a execuo da obra. De acordo com Sainz (2005, 13) O arquiteto
tem trs formas de expressar as suas ideias em especial as relativas arquitetura e de comuniclas aos demais: a linguagem natural, a linguagem grfica e a linguagem arquitetnica. A primeira
corresponde ao que normalmente identificamos como os seus escritos; a segunda tem que ver com
os seus desenhos; e a terceira faz referncia s suas obras. Nesta linha o desenho da arquitetura
emerge como estado intermdio entre o pensamento e a ao construtiva, traduzindo em cdigos
geomtricos princpios da linguagem dos espaos e das formas.
Bibliografia
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Mudamos o sonho?
(Cambiamo il sogno?)
Jos Caldas
Inventrio Preliminar.
Durante trs anos de trabalho com os alunos do Liceu Arnaldo, em Brescia, Itlia
com sensibilizao e prtica arte do teatro, levaram-nos no ltimo ano a
criao do espetculo Mudamos o sonho?. Trabalho financiado pela Cmara
Municipal de Brescia Comitato para a Educao e pelo Centro Teatral Bresciano
Sector Infncia e Juventude. O Comitato da Educao da Cmara depois de
assistir ao espetculo props ao grupo que percorresse todos os Liceus de
Brescia a apresentar o trabalho que refletia sobre o ambiente e poluio. Como
a maior parte dos alunos/atores preparavam sua entrada Universidade tornou
impossvel este convite. Propusemos Cmara ento a feitura de vdeo
profissional que fosse enviado a todos os liceus da cidade e provncia. Com o
consentimento da Cmara passamos ao trabalho de converter o espetculo para
uma linguagem videogrfica.
Mtodo de trabalho.
45
Processo de trabalho.
Em primeiro lugar do nosso mal estar numa sociedade onde o consumo tem a
primazia na nossa vida quotidiana e como este consumo causador de poluio
de degradao do ambiente.
Depois de como somos tambm responsveis juntamente com as indstrias da
continuidade de uma situao, um beco sem sada, onde as industrias fabricam
os bens de consumo e ns consumimos , sem crtica e sem reflexo sobre estes
mecanismos.
A criao espacial.
46
Os figurinos
Durante a viso dos ensaios foram sendo criados figurinos que representavam a
individualidade de cada personagem. Como por exemplo a senhora que sonhava
com os supermercados: uma casalinga italiana, dona de casa com os bobs nos
cabelos, seu casaco de peles, e seu carrinho de supermercado.
Estes figurinos comearam a ser usados numa fase posterior dos ensaios e
ajudaram os actores a construir melhor seus personagens uma vez que os
aproximavam de personagens da vida quotidiana, ou limitavam seus
movimentos ou ainda remetiam para uma memria afetiva prxima de seus
familiares ou amigos.
47
O Trabalho de trs anos com estes estudantes em territrio livre possibilitoume um conhecimento aprofundado da sua condio humana e das suas
diferenas e posturas perante a vida encaminhando-me para um saber emprico
de como articular a sua diferenas num coisa maior que era a obra comum. O
processo embora importante no menorizava o resultado final. Nele os alunos
poderiam falar, abrigados na magia do teatro, sobre o seu mal estar, expressar
livremente as suas crticas e afirmar-se perante os professores como seres
completos e no simplesmente objetos a ser educados.
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49
1
acredito que a escola precisa se apropriar dos recursos tecnolgicos que ela possui
fazendo com que esses equipamentos se efetivem como meio para a busca e
construo do conhecimento. A cultura miditica que mobiliza milhes de brasileiros,
via programao televisiva, interfere nos processos das mudanas culturais.
O dilogo entre aprendizagem e imagens em movimento mediado pela cultura
abrangente considerando a cultura visual que essa mdia promove, orientando para
com o foco nos estudantes, na maioria das aes com crianas entre oito e treze
50
diversos e alguns com preos bem acessveis, o que possibilita uma boa parcela da
fundamental.
51
tema do projeto era aberto. A efetivao do projeto de aula foi realizado por cada
docente na instituio onde trabalha. A terceira e ltima etapa, ainda por acontecer,
ser a socializao da experincia vivenciada pelos docentes/cursistas que ter
como ponto de partida o destaque dos referenciais percebidos nas aes hoje
existentes nas escolas, que buscam a insero das tecnologias em suas prticas
pedaggicas, em particular o audiovisual, alm de evidenciar o alcance (ou no) dos
objetivos pretendidos.
A bibliografia pesquisada e estudada no est ligada diretamente
programao televisiva, visto que essa bibliografia rara, apoiamos numa que
evidenciasse o cinema para melhor apropriao dos signos e dos elementos que
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53
4
As escolas da Rede Municipal de Educao de Goinia contam, em sua
maioria, com aparelhos de DVD, boas caixas de som e projetores, o que faz a
projeo diferenciar da acostumada pelos envolvidos, pois a maioria dos estudantes
da referida Rede assiste vdeos atravs de aparelhos de televiso.
As experincias de simultaneidade do instantneo e do fluxo fazem com que
a noo de tempo que herdamos seja insuficiente para digerirmos tanta informao
e a falta tempo para reflexo. Falta tempo para o questionamento. Sobra informao.
Porm, as crianas, atualmente, convivem com essa nova concepo de tempo sem
problemas, e os educadores se encontram suspensos sem saber bem ao certo como
administrar a quantidade de informao e noo de tempo. Pellegrini evidencia a
articulao das sequncias temporais e espaciais, evidenciando o visvel e o
invisvel que se completam por meio de imagens:
No cinema o tempo, que invisvel, preenchido com o espao
ocupado por uma sequncia de imagens visveis; misturam-se,
assim, o visvel e o invisvel. (...) os domnios do percebido (o espao
imagtico) e o do sentido ou imaginado (o tempo), o visvel e o
invisvel, no se distinguem mais, pois um no existe sem o outro.
(PELLEGRINI, 2003, p.18)
O dinamismo das aes do cotidiano nos tempos em que vivemos carece ser
5
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construo corporativa da infncia. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2001.
O professor que reflete e pondera sobre suas aes, sabe que os processos
educativos esto intimamente ligados criatividade. O que se espera das aes
realizadas nas escolas, pelos professores envolvidos, embasadas nas possibilidades
de trabalhar com a diversidade de contedos oferecidos pela programao
televisiva o envolvimento de um nmero significativo de profissionais da educao
e educandos na construo de conhecimento, e assim conquistar um olhar mais
crtico e seletivo.
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54
55
1
56
torno a un tema, para buscar la manera en que estos saberes se relacionan entre s para
generar nuevos enfoques (Agirre, 2000).
Digamos que globalizar es el proceso de bsqueda de las relaciones que pueden
establecerse entre los saberes que se aproximan a un determinado tema (Aguirre, 2000),
o como seala Morin (1981, citado en Hernndez y Ventura 1992, p.37) se trata de
poner el saber en ciclo o de en-ciclo-pediar; es decir, aprender a articular los puntos
de vista disjuntos del saber en un ciclo.
Globalizar en qu sentido?
En los ltimos aos la nocin de globalizacin se ha introducido en la prctica y en el
discurso educativo, hecho que ha dado origen a una profusin de sentidos. Conocer las
distintas concepciones y prcticas que el profesorado asume bajo este trmino es crucial
para aquellos que se adentren en prcticas educativas globalizadoras ya que suponen
maneras muy distintas de entender lo que significa globalizar en educacin. Hernndez
y Ventura (1992) distinguen entre globalizacin como sumatorio de materias, como
conjuncin de diferentes disciplinas o como estructura psicolgica del aprendizaje.
Por cuestiones de limitacin de formato del presente texto nos limitaremos a abordar la
concepcin de globalizacin como estructura psicolgica del aprendizaje, por su
vinculacin con el planteamiento de los Proyectos de trabajo.
Los proyectos de trabajo: una expresin de las metodologas globalizadoras de
conocimientos promovedoras de saberes relacionales
El enfoque de globalizacin como estructura psicolgica del aprendizaje se
fundamenta en el planteamiento constructivista del aprendizaje y en el desarrollo de una
enseanza para la comprensin que se basa en la elaboracin crtica de relaciones entre
las distintas fuentes de informacin con las que contacta el estudiante. Este enfoque se
apoya en la idea de que para hacer significativo un nuevo conocimiento es necesario que
se establezca algn tipo de vnculo con los conocimientos que el estudiante ya posee. Se
considera que al conectar los nuevos puntos de vista con las experiencias conocidas, la
adicin de informacin se convierte en relacin de informacin (Agirre, 2000, p. 52).
Una de las caractersticas distintivas de este enfoque es que a partir del tema o problema
abordado el alumno desarrolla estrategias de aprendizaje que dan lugar a nuevos
conocimientos. En otras palabras, se valora sobretodo la secuencia de aprendizaje que
pueda llegar a desarrollar el alumnado y a la interpretacin que hace de sta el docente.
Globalizar en este sentido no significa slo establecer relaciones entre informaciones
diversas, sino un aprendizaje de la manera en que el estudiante debe relacionarse con la
informacin (Agirre, 2000).
Y qu es un Proyecto de trabajo?
Los Proyectos de trabajo (PdT) son una modalidad de organizacin de los
conocimientos escolares y
una forma de organizar la actividad de enseanza y aprendizaje, que implica
considerar que dichos conocimientos no se ordenan para su comprensin de una
forma rgida, ni en funcin de unas referencias disciplinares preestablecidas o de
una homogeneizacin del alumnado. La funcin del Proyecto es favorecer la
creacin de estrategias de organizacin de los conocimientos escolares en relacin
con: 1) El tratamiento de la informacin. 2) La relacin entre los diferentes
contenidos en torno a problemas o hiptesis que faciliten al alumnado la
construccin de sus conocimientos, la transformacin de la informacin
2
57
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Tema em que se insere a comunicao
a. pensamento contemporneo e educao artstica.
3
58
4
59
uma linguagem entende-se a Geometria como a sua Gramtica. Assim, a Geometria ser
estrutura do Desenho, quer pelas suas propriedades projetivas, quer pelas suas
propriedades mtricas.
operao com os elementos de raiz geomtrica, bem como exemplos das regras de
formao dos elementos geomtricos compostos (Mitchell, 2008, p.56: 1. ed. 1990).
Com aqueles e com estes, encontraremos possveis conexes no mundo dos objetos e
Teorema de Desargues. Revisitados por Jean-Victor Poncelet, quase dois sculos mais
tarde Trait Des Proprits Projectives Des Figures , os resultados foram uma
DOS CONCEITOS
antecipao da geometria projetiva (Veloso, 2012, p.47: 1. ed. 2009). Com o tempo,
Carl Sagan (2009, pp.344-348: 1. ed.1980) recorreu a Edwin Abott Abott (A.
constrangimentos de cada, decorrentes das suas prises nas suas prprias dimenses
4. dimenso do espao, uma vez que no a podemos vivenciar, pois estamos presos na
fenmenos tal como a representao; e como abstraes que so, ento, as prprias
representaes dos objetos e/ou espaos referidos. Neste sentido, procurou apresentar-se
sua sombra tridimensional. O recurso sombra expressivo, pelo que esse fenmeno
Lino Cabezas (1995, p.266) refere que Apollinaire revelava uma perdileccin
intelectual por los elementos abstractos, frente a los visuales, mas que aqui se
dimenso, podem ser representadas por grafismos emuladores desse fenmeno que
abstrao mantm vlida a citao que o autor fez de Apollinaire: Pode dizer-se que a
viso , h que reconhecer a lio da Histria. Pouco tempo depois do que praticamente
pode ser considerado um mtodo geral da perspetiva (Xavier, 1997, p.26: 1. ed. 1995)
60
61
algumas dessas axonometrias: as normalizadas e que por isso esto mais prximas das
posies diferentes das projetantes para cada uma das axonometrias (Cabezas e Ortega,
alertas.
Pero Leonardo puso de manifesto que los artistas apenas haban sido conscientes de la
verdadeira extensin y naturaleza de los problemas fascinantes encerrados en la Caja de
Pandora que haban abierto. (Kemp, 2000, p.61: 1. ed. 1990).
interessavam as distncias lineares entre as intersees dos raios com a superfcie plana
geomtrica no deveria entrar numa aula de arte antes que a experimentao intuitiva
ficar-se-ia confrontado com o facto de essa ser uma superfcie empenada (Panofsky,
1999, pp.37-38 e 43-44: 1. ed. 1924). Para solucionar a dificuldade, Leonardo da Vinci
revoluo gerado por um raio visual em torno do raio da fvea, com o qual fazia
aconselhada amplitude. A interseo do cone com o plano de projeo, por sua vez
percursos histricos.
DAS PROPOSTAS
A metodologia apontada passa pela aprendizagem sincrnica, com gradual
aprofundamento, de estratgias de abstrao geomtrica de espaos e objetos, de
estratgias de posicionamento do observador no espao, das regras dos sistemas de
representao e das estratgias de utilizao das projees. Procura-se desenvolver o
anlises e snteses. Para tal, mobilizam-se vrios modos da toma de imagens do real,
(exceto uma), como aceitveis pelo lado da geometria. Contudo, a perceo s aceita
pela medida e pela razo. Cada estudante selecionar, do seu mundo de espaos, dois
62
63
os mesmos. A metodologia implementada, de carter misto, qualitativo e nointervencionista, recorreu Crtica Literria, Observao Direta, Pesquisa por Inqurito e
Entrevista e Auscultao de Peritos para validao dos resultados. A definio dos critrios
de avaliao, baseada em princpios pedaggicos e de clareza comunicacional, incidiu na
apresentao fsica, organizao da informao, paginao, legibilidade tipogrfica, tipo,
relevncia e funo pedaggicas da ilustrao e rcio texto/imagem. Destacam-se alguns
resultados, como a legibilidade dos textos principais, rcio texto/imagem desadequado;
iconografia pedagogicamente pouco relevante.
Palavras-chave: Avaliao, Design de Comunicao, Manual Escolar
Introduo
A massificao do ensino levou ao acrscimo da produo de manuais escolares, que se
tornaram uma importante fonte de receitas para editoras e autores.
O manual escolar o principal recurso pedaggico dos alunos (Grard & Roegiers, 1998;
Rodrigues, 1999; Choppin, 1992, 2000); dos mais importantes recursos dos professores
na preparao das aulas (Perrenoud, 1995; Apple, 1997); 75% do tempo das aulas gasto a
trabalhar com o manual escolar (Apple, 2002).
Em Portugal, as crticas aos manuais escolares tm sido frequentes. Tormenta (1996,
2002), Vieira de Castro (1999) e Lopes (2005) salientam que os professores substituem os
programas disciplinares pelos manuais na planificao da prtica lectiva, alheios ao facto
de, assim, prescindirem da sua autonomia e do seu papel como especialistas.
Vieira (Jornal Expresso, 23.10.2004:16) refere que os manuais de portugus facilitam
tudo, no exigem esforo. Formatam os professores e tratam-nos, como aos alunos, como
autnticos patetas (Jornal Expresso, 23.04.2004:17). Sim-Sim afirma que promovem uma
leitura sem significado, onde no se l nada de real e Ponces de Carvalho refere que
1
64
65
estupidificam as crianas. (Jornal Pblico, 2006:29). Reis (2007)1, declara que parecem
textual, organizadas de forma coerente, segundo o que for mais apropriado ao contedo a
concebidos para infantilizar jovens. Farinha (2008) escreve que os manuais do ensino
de funes que complicam de tal modo a sua estrutura que confundem os professores e
Design Comunicacional na eficincia dos manuais escolares. Teve como objetivos avaliar
nesta complexidade crescente, so cada vez mais numerosos os apelos para que sejam
bsico e definir um conjunto de princpios sobre as questes formais, que sirva de base no
estudos existentes sobre o design comunicacional aplicado aos manuais escolares e, por
elementos importantes para a soluo comunicativa da sua mensagem que tem em vista a
aquisio da informao por de parte dos alunos. Estas caractersticas integram o manual
Comunicacional. A Lei 47/2006 que veio introduzir a avaliao e a certificao dos manuais
Johnsen (1993) refere que a investigao sobre a estrutura dos manuais e os aspetos do
rcio texto/imagem. A pesquisa por questionrio foi utilizada nos inquritos a alunos e a
material for escrito e adaptado de modo que permita maioria dos alunos, com ou sem a
professores. Aos primeiros, tendo como objetivo identificar o modo como, quando estudam,
interagem com os manuais escolares e quais os aspetos que consideram mais importantes
afirmam que os alunos expostos s questes de nvel muito simples dos manuais escolares,
nem a integr-lo no que j possuem. Woodward (1991) estranha que a investigao que se
tem realizado sobre as ilustraes seja aparentemente irrelevante para os produtores dos
Resultados da investigao
metodologia de trabalho que permita conceber e apresentar a informao, quer icnica, quer
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3
67
b. O arranjo grfico de pgina de cada uma das seces, que se repetem ao longo do
destacando-se contudo alguns resultados comuns, tais como a legibilidade da maioria dos
textos principais o que no se verifica em grande parte dos textos secundrios; rcio
apresenta mais de 50% de imagens apesar dos diversos problemas que os alunos
portugueses apresentam ao nvel da lngua; iconografia pedagogicamente irrelevante e uso
manuais escolares.
e. As grelhas das pginas devem apresentar maior uniformidade, proporcionando maior
f.
manuais escolares, com destaque para os de lngua portuguesa, apresentam um tal grau de
complexidade que impossibilitam os alunos de lhes aceder, desvirtuando por completo a sua
funo.
i.
Dos dados obtidos na anlise efetuada e dos resultantes dos questionrios aplicados aos
3- Iconografia
validado por um grupo de especialistas, mas tambm alguns dados sobre como alunos e
a.
b.
c.
apesar do espao que esta ocupa nos livros. Um manual escolar apresentar muitas imagens
d.
so uma das razes mais apontadas pelos alunos para a sua preferncia, tal como a falta
delas e o muito texto contribuem para a sua repulsa. As suas respostas, relativamente ao
(tabaco, droga, lcool, etc.) que podem funcionar como publicidade subliminar.
e.
modo como estudam, indicam que a ateno dispensada s imagens fica em ltimo lugar,
atrs da realizao dos exerccios, das actividades, da leitura do texto principal e dos textos
f.
importante num manual escolar. Para alunos e professores, os exerccios e o texto principal
esto em primeiro lugar. Das respostas que obtivemos, conclumos que as imagens,
g.
h.
tornar sedutores.
i.
1-ndice
alguma outra forma que permita compreender facilmente a sua localizao nesses
a. O ndice deve ser simples, apresentando os contedos e a sua localizao nas unidades
ou temas, de modo claro, com a respectiva numerao das pginas a que pertencem.
2- Facilidade de navegao
a. A repetio das diferentes seces ao longo do livro deve ser baseada na mesma lgica
de apresentao;
4
68
5
69
BIBLIOGRAFIA
2006:29
6
7
70
71
Resumo
Interpretando a arte e a educao como fenmenos comunicacionais, aborda-se o
problema da comunicao artstica no contexto didtico, especfico Educao Plstica e
Visual. Atravs do modelo geral da comunicao de Jakobson, identifica-se o uso particular
de duas linguagens complementares da linguagem da imagem artstica (plstica) e da
linguagem verbal e, consequentemente, o papel do professor como mediador da
comunicao artstica dos alunos. Procura-se compreender o metamorfismo destas linguagens
da comunicao visual e verbal no contexto didtico, revelado nos mtodos de ensino e
aprendizagem, e observar algumas preferncias comunicativas dos alunos do ensino bsico.
Como estratgia metodolgica, optou-se pelo desenvolvimento duma investigao
qualitativa, que precedida de um estudo emprico misto, cujo objetivo encontrar no tema
de estudo pontos de partida para uma investigao em profundidade. O estudo preliminar
abrangeu 162 alunos do 6 e 7 anos.
Palavras chave: Comunicao artstica, imagem plstica, palavra, ensino e
aprendizagem.
Abstract
Interpreting the art and the education as communication phenomenon, this paper
approaches the problem of artistic communication in the specific teaching context of Visual
and Arts Education. In this subject, seen through the Jakobsons general model of
communication, a particular use of two complementary languages is identified: the language
of the artistic image (specific of painting, drawing or sculpture) and verbal language and,
consequently, the teacher's role as mediator of artistic communication of students. It searches
to understand the metamorphism of these languages of verbal and visual communication in
the teaching context, revealed in the methods of teaching and learning, and observes some
communicative preferences of secondary schools students.
As methodological strategy, a qualitative research is developed, which is preceded by
a mixed empirical study, whose aim is to find cues on the subject regarding an in-depth
research. The preliminary study included 162 students from 6th and 7th grade.
Key - words: artistic communication, visual artistic image, word, teaching and
learning.
Introduo
O paradigma atual da Educao Artstica (Visual), baseado no conceito da
comunicao visual, salienta o valor da arte para o desenvolvimento humano e prope
desenvolver nos alunos competncias de comunicao. O conceito da arte como comunicao
refletiu-se na Educao Visual, por um lado, atravs das orientaes expressionistas, ou
valorizao da livre expresso de emoes e sentimentos dos alunos e, por outro, pela viso
cognitivista sobre a comunicao artstica. Com o propsito de compreender melhor o
fenmeno da comunicao artstica no contexto educacional, cujas manifestaes se destacam
essencialmente atravs da imagem e pelos seus aspetos visuais e verbais, prope-se observar o
processo de ensino e aprendizagem da Educao Visual numa abordagem comunicacional,
interpretando a arte, a educao e a comunicao como conceitos inseparveis.
72
enfatizando o ldico das atividades artsticas sem sobrestimar as regras, ou seja, mantendo o
carcter flexvel e vivo da comunicao artstica, valorizando dinmicas da subjectividade e
da interao entre sujeitos e imagem.
O termo imagem plstica utiliza-se como derivado das artes plsticas e engloba a
caracterizao geral de trabalhos bidimensionais (desenhos, pinturas, colagens) e/ou
tridimensionais (modelagem/escultura) que os alunos produzem nas aulas de Educao
Visual e, de igual modo, pode significar obras de artes plsticas que os alunos contemplam
nas aulas.
Trata-se da construo/observao no contexto didtico duma situao comunicacional
complexa e interativa, em que o professor transmite aos alunos experincias e conhecimentos
essenciais e especficos, criando condies para vivenciar o fenmeno artstico. O professor
realiza a mediao dos processos da comunicao, usando a linguagem da arte visual e a
linguagem verbal, articuladas com as particularidades psicofisiolgicas dos alunos.
Enquadramento temtico
Nos EUA, no Canada, em Israel, na Frana, na Austrlia, em Portugal e outros pases,
os estudos recentes revelaram tendncias para a diferenciao na organizao do processo de
ensino e aprendizagem e na identificao do perfil do professor de Educao Visual. Bachar e
Glaubman (2006) identificaram duas abordagens no ensino de arte: a abordagem de estdio
(oficina) em que o professor um artista (mestre) que ensina individualmente os alunos para
poderem expressar-se livremente e participar no dilogo artstico e a abordagem cognitivoacadmica, em que o professor um especialista em histria de arte e, nas suas aulas valoriza
o conhecimento da histria de arte e desenvolve nos alunos a sensibilidade e as competncias
para compreender e analisar obras de arte. Observou-se que os professores enfatizam mtodos
de ensino verbais ou prticos em dependncia da abordagem aceite. Identificaram-se,
tambm, tendncias integradoras, que so manifestaes mais novas e que emergem,
principalmente, da prtica pedaggica. Bachar e Glaubman (2006) observaram que o professor
de arte com orientao cognitivo-acadmica, tende estar integrado nas formas comuns para ensino
convencional em que funciona a escola, usando mtodos de ensino que se conformam aos
mtodos da escola. O professor que adopta a abordagem de estdio (oficina) apoia-se numa antiga
prtica de ensino em ambientes e condies especficos para a criao de arte. Esta tradio est
mais afastada de mtodos convencionais da escola. Os professores que combinam as duas
abordagens, integrando-as com sucesso, aproximam os alunos mais de objectivos da educao
pela arte, atravs do desenvolvimento duma estrutura de ensino de oficina tradicional que
funciona dentro de ambientes escolares convencionais (Bachar & Glaubman, 2006). Koroscik
(1993) nos seus estudos reparou nos professores de arte a predisposio para preferirem
aspetos prticos ou verbais nas suas aulas. Deste modo, observa-se que as abordagens de
ensino de arte se interrelacionam com os mtodos de ensino e aprendizagem escolhidos,
refletem as tradies e as convenes, as identidades dos profissionais e das instituies de
ensino, definindo as particularidades de interveno e mediao dos processos pelos
professores. Na intimidade da comunicao do aluno com a obra de arte no contexto didtico
interferem os reflexos da mediao do processo pelo professor e da sua identidade.
Nos domnios da arte e psicologia, aos aspetos no-verbais (visuais) e verbais
especficos aos fenmenos artsticos, imagem artstica (plstica) e linguagem verbal,
referem-se Goodman (2006), Panovsky (1988), Barthes (1964), Joly (2007), Arnheim (2006),
Gardner (1983) e outros. Nos EUA, Johnson (2008) defende a necessidade da alfabetao
visual e verbal na Educao Visual das crianas. Em Portugal, Bahia e Trindade (2010:856)
concluram que o domnio do cdigo plstico possibilita o desenvolvimento da compreenso e
formulao de ideias pelos alunos adolescentes, revelando, que uma interveno
fundamentada em conceitos do domnio psicolgico pode ter repercusses muito positivas no
mbito da educao artstica.
75
Outro aspeto importante que o estudo revelou foi a observao sobre o envolvimento
emocional dos alunos nos processos de criao e receo de imagens plsticas, que deixa uma
marca importante na comunicao artstica desenvolvida no contexto didtico. Os alunos tm
uma resposta emocional especial relativamente valorizao de imagens criadas por eles
prprios, a sua produo artstica relaciona-se com uma forma de comunicao socialmente
determinada: a) os alunos necessitam que as imagens deles estiverem apreciadas pelos outros,
especialmente pelas pessoas mais prximas (70% dos alunos do 6 ano e 79% do 7 ano
necessitam disso); b) os alunos mostram-se muito interessados em examinar o contedo das
imagens criadas por eles (83% alunos do 6 ano e 89% do 7 ano gostam de analisa-las e
comenta-las) e, apesar de manterem o seu interesse pela arte e atividades artsticas, esto
menos interessados em estudar obras de arte. Remarcou-se que os alunos do 7 ano
76
77
O TRAJETO DA PESQUISA
Escolher um patrimnio cultural e realizar uma ao mediadora... Esta foi a tarefa proposta
pela disciplina Arte e Mediao Cultural do programa de Mestrado em Educao, Arte e Histria
Martins, co-autora desse artigo. Tarefa desafiadora, a qual possibilitou observar como os
http://lattes.cnpq.br/3223199451667679
bairro de Higienpolis, na cidade de So Paulo, foi escolhido como o patrimnio cultural a ser
observado para o desenvolvimento desta pesquisa. Esse parque despertou interesse em realizar
uma ao mediadora, pois na escola em foco, muitas crianas freqentam o local e talvez no
saibam que ali existe um patrimnio cultural da cidade atravs dos monumentos presentes no
local.
Abstract - Focusing on the mediating action from a cultural heritage of the Sao Paulo city, Brazil, it
was chosen a square next to the school to integrate students of the two classrooms from the 4 th
year. The observation of the groups during the mediating action and the analysis of the resulting
productions from that practice arouse questions which incite us to investigate, to understand, to
rethink and to search for answers about two topics: the childrens productions and the cultural
mediation and its practice. How to elaborate an educative approach that contextualizes what we
see and provides experiences where it is possible to decide, to discuss and to choose ways of
acting and thinking critically? Do we develop actions that allow others to see critically and to
understand the world, the people around them and the cultural heritage? Do our eyes see what
we want to see or they see what other people want that they see? The discussions about these
questions based on the analysis of the childrens productions and of the mediating actions lead
the present communication.
curiosos. Ao chegarmos, expliquei que seriam observadas as obras presentes no local e eu lhes
Key words: mediating action; childrens drawing; pedagogic intervention; processes of sensitive
perception; cultural heritage.
granito. Contei s crianas que o homem retratado era Dom Bernardino Rivadvia e chegou ao
78
79
Parque em 1945. Perguntando-lhes, a partir do nome, qual a nacionalidade desse homem, vrias
hipteses foram levantadas, at que um aluno disse que seria argentino. Tambm lhes perguntei
esculturas e depois eles fariam um desenho do que mais gostaram. Nesse momento, Rita comenta
qual seria o material da obra, e novamente vrias hipteses surgiram, como ferro, pedra, cimento
consigo mesma, baixinho: Se soubesse que era s pra ver esttua no tinha vindo aqui!.
e ao. Aps explicar-lhes que a escultura foi realizada em bronze, sobre um bloco de granito e que
o autor da obra tem origem uruguaia, partimos para outra pea presente no Parque.
Depois, fomos nos dirigindo cada escultura, deixando sempre um espao para um
encontro com a obra e depois instigando a leitura. Assim, vimos "Leo lutando com uma
todas as esculturas vistas pelo grupo anterior, incluindo tambm "Nascer", da escultora Daisy
Nasser, que no foi observada com o outro grupo. Em frente obra Tango, Silvio verbaliza com
escultura "Veado lutando contra trs tigres", da empresa francesa de fundio Fonderies dArt Du
nfase: Claro que eles fizeram essa escultura! O Parque se chama Buenos Aires! mais uma
Val dOsne, "Tango", elaborada pelo escultor argentino Roberto Vivas, "Milon de Crotona", feita
de cermica e granito e "Me", do italiano Caetano Fracaroli, localizada na rea mais alta do
parque, circundada por uma calada de concreto.
Terminada a observao, pedi que os alunos desenhassem em uma folha branca de sulfite,
ensinar!. Nesse instante, senti ter alcanado o objetivo principal de minha ao mediadora. Era
a obra que mais gostaram de todas as que foram vistas. Os desenhos foram feitos no Parque,
antes das crianas retornarem escola. Apenas uma escultura no foi observada, pois no estava
acessvel no dia.
Oscar me chama e diz: Sabe professora! Eu nunca tinha visto essas esculturas aqui no
Parque! E olha que sempre venho aqui! Ta muito legal nosso passeio!. A escultura "Me" foi a
informaes a serem colocadas no papel, e alguns verbalizaram ser difcil escolher uma s obra.
ltima a ser observada antes de retornarmos escola. E l as crianas representaram o que mais
Deixei livre para desenharem mais de uma escultura, mas isso no ocorreu. Alguns alunos olharam
gostaram das obras observadas atravs de desenhos. Nesse grupo, incorporei um elemento a
por um bom tempo para a obra que estava prxima a eles, a escultura "Me", talvez buscando
mais, diferente do que acontecera com o Grupo 1. Em classe, foram apresentadas s crianas
informaes para complementar seus desenhos. As conversas entre as crianas sobre suas
imagens das obras vistas no Parque e aps observao das imagens, realizaram os desenhos do
demonstrando estarem intimidados com os olhares das outras pessoas presentes no parque.
Retornando escola, Paolo olha pra mim e diz: Puxa professora, nunca imaginei que tinha
AS PRODUES
tanta coisa no Parque! Sempre venho aqui e nunca vi que tinha essas esculturas!. Sentimos nesse
Em cada grupo foi possvel perceber caractersticas muito prprias s crianas participantes
momento que a ao mediadora seguia no caminho certo, o caminho do despertar de algo novo,
da ao mediadora. Cada criana, com idade entre 9 e 10 anos, reagiu de forma diferente, uma da
outra, a partir da estimulao que lhes foi proposta para a produo dos desenhos.
80
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FIGURA. 1
FIGURA. 2
FIGURA. 3
FIGURA. 8
FIGURA. 9
destaques das produes do Grupo 2, o qual aps a observao no Parque, pde ver as fotos das
obras, em branco e preto. A figura materna novamente muito retratada nos desenhos.
instigante pensar como foi marcante para o Grupo 2 a questo do que est envolta da obra; o
local onde ela se encontra e habita.
FIGURA. 4
FIGURA. 5
FIGURA. 7
possam surgir, mas nunca as mesmas, nem as mesmas impresses, mas sim, o complemento do
todo, de volta ao incio, ou melhor, deleuzeanamente falando com voltas e voltas sobre a prpria
ao e sua anlise, pois no ao incio, pois muito se constri em cada volta.
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83
Os olhares sobre o mundo so ampliados no momento em que aquilo que visto, passa a
ser percebido, compreendido e incorporado a uma nova realidade a ser construda. Assim, as
leituras das produes sgnias das crianas atravs dos desenhos infantis devem ser lidas com
olhos de descobridores, de desbravadores que buscam o algo a mais daquilo que representado.
A interveno pedaggica associada ao mediadora, sempre trar ao processo criativo a
possibilidade de novas representaes, novas relaes de similaridades e diferenciaes, novos
olhares sobre aquilo que se percebe e o que se sente.
Atravs do desenvolvimento dos processos de percepo sensvel possvel enriquecer
seus registros no momento em que desenvolvemos a ao mediadora como provocadora da
expresso daquilo que se vivencia. A partir dessa ao mediadora realizada, foi possvel perceber o
amplo universo e a possibilidade de desenvolver um processo constante de dialogar entre
produes infantis, tericos e intervenes pedaggicas.
REFERNCIAS
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http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/upload/Inventario_de_Esculturas_1261586685.pdf.
Acesso em 20 set 2011.
1. Introduo
H exatamente quatro anos iniciamos a Graduao em Artes na Universidade Regional do
Cariri URCA Cear/Brasil. Nosso objetivo foi e ainda o de assegurar a formao inicial
de professores para a rea de Artes e, considerando as transformaes ocorridas a partir dos
anos 90 seria fundamental que esta graduao acolhesse as demandas locais e refletisse as
lutas nacionais. Assim, o projeto poltico pedaggico que concebemos trouxe para a Regio
do Cariri cearense os Cursos de Licenciatura em Teatro e Licenciatura em Artes Visuais.
A formao de professores de Artes no Brasil remonta aos anos 70 do sculo passado e como
em muitos pases de lngua portuguesa e espanhola recebeu a denominao de Educao
Artstica (Educacin Artstica). A trajetria da formao de professores em Artes foi
acumulando experincias e criticas que resultaram em reformulaes significativas e
necessrias a ponto da rea de Artes ser concebida em 04 (quatro) subreas: Artes Visuais,
Teatro, Dana e Msica. Diferentemente das universidades que haviam implantado seus
cursos desde os anos 70, a Universidade Regional do Cariri URCA veio a ingressar nos
territrios da formao de professores em artes no ano de 2008, portanto, tudo era novo e isso
nos permitiu pensar e elaborar os projetos dos cursos respeitando a histria da formao de
professores para a Educao Bsica, a histria da formao de professores em Artes e as
especificidades epistemolgicas inerentes a cada subrea.
Em nossos encontros1 para elaborao dos projetos para cada curso nos dvamos conta de que
era possvel experimentar outras formas de organizao curricular tendo em vista a
possibilidade de um currculo que evitasse preconceitos e limitaes e que tendesse a um
hibridismo entre a formao artstica, docente e investigadora. Portanto, o profissional a ser
formado seria o artista/professor/pesquisador e o conjunto de disciplinas deveriam tanto
refletir tal concepo como, tambm, exercit-la ao longo dos 04 (quatro) anos de formao
inicial.
No tocante a formao docente chegamos concluso de que esta no deveria repetir os
equvocos que marcaram a histrica formao de professores em artes, assim deveria dar
lugar a unidade entre teoria/prtica. Esta unidade evitaria que nas graduaes em Artes
Visuais e Teatro as disciplinas da formao docente fossem ofertadas praticamente no final
dos cursos como tradicionalmente temos observado.
Elaborar um currculo em que as disciplinas da formao docente caminhassem lado a lado
com as da formao artstica e investigadora pareceria ser uma tarefa impossvel dado aos
nossos prprios limites oriundos da nossa formao acadmica que foi marcada por uma viso
em que a docncia foi tratada como secundria na formao inicial dos professores de artes.
Participaram desta etapa os professores Frederyck Sidou Piedade, Ana Cludia Lopes de Assuno e Fbio Jos
Rodrigues da Costa do Curso de Artes Visuais e os professores Dulio Cunha, Joo Dantas Filho e Marcio
Alessandro Rodrigues do Curso de Teatro.
84
85
Tomados por reflexes sobre o lugar das disciplinas da formao docente no currculo para a
Licenciatura2 entendida como o lugar da docncia buscamos ou ousamos resignificar o que
viria a ser a graduao em Artes Visuais e a graduao em Teatro. Assim, propusemos um
conjunto de disciplinas que seriam ofertadas a partir do primeiro semestre de curso numa
perspectiva de aproximar os estudantes das questes epistemolgicas da Arte/Educao e a
partir dela da formao de professores em artes.
Estabelecemos, portanto, como eixo disciplinas que se dedicariam aos estudos, reflexes,
prticas e pesquisas sobre o fenmeno educativo em artes seja no mbito formal ou informal.
Assim, propusemos como disciplinas da formao docente: Pesquisa e Prtica Pedaggica em
Artes, Didtica do Ensino das Artes Visuais e Estgio Supervisionado em Ensino das Artes
Visuais para a Licenciatura em Artes Visuais e Pesquisa e Prtica Pedaggica em Artes,
Didtica do Ensino do Teatro e Estgio Supervisionado em Ensino do Teatro para a
Licenciatura em Teatro. Entendendo que o fenmeno educativo no se traduz apenas no
campo epistemolgico das Artes, mantivemos as disciplinas: Didtica Geral, Polticas
Educacionais e Psicologia da Educao.
Nos ltimos quatro anos experimentamos este currculo o que nos permite hoje analisar essa
trajetria e para isso optamos por faz-lo tomando como objeto a disciplina Pesquisa e Prtica
Pedaggica em Artes. Este artigo objetiva apresentar nossas aproximaes, questionamentos e
reflexes sobre o proposto e o vivido no contexto da formao de professores em artes a partir
da experincia do Centro de Artes da Universidade Regional do Cariri URCA/Brasil.
2. Uma questo poltica
A disciplina Pesquisa e Prtica Pedaggica em Artes PPPA, constitui o Currculo da
Graduao/Licenciatura em Artes Visuais e da Graduao/Licenciatura em Teatro e, em
breve, o da Graduao/Licenciatura em Dana do Centro de Artes Reitora Violeta Arraes de
Alencar Gervaiseau da Universidade Regional do Cariri URCA, Cear/Brasil. Sua incluso
no currculo foi uma deciso poltica, uma vez que, La incorporacin de asignaturas a la
enseanza no consiste en una decisin imparcial, racional sobre lo que se juzga de inters para
los alumnos. Es un acto poltico concebido de modo mucho ms amplio en el que todo los
grupos de inters, tal como debe ser dentro de una democracia, tienen la palabra; pero es un
error considerarlo un ejercicio objetivo y racional. Es un ejercicio eminentemente poltico, y
en mi opinin debemos comprender este proceso (Goodson, 2000. p. 43).
Como um ato poltico no deixou de ser um ato epistemolgico, ou seja, atender as exigncias
da Arte/Educao contempornea e as transformaes que se operam na atualidade quanto ao
campo de formao inicial do artista/professor/pesquisador. Portanto, o poltico e a
epistemologia esto imbricados. Reconhecer tal imbricamento ultrapassar a noo de
verdade nica (Kincheloe, 2001) imposta pela modernidade e sua concepo de conhecimento
que se orienta por uma aprendizaje de lo que ya haba sido definido previamente como tal.
Los Estudiantes de la epistemologa de verdad nica de la modernidad son tratados como
monigotes, recompensados tan slo por la retencin memorstica, a corto plazo, de verdades
certificadas (Kincheloe, 2001, p. 14).
O poltico e o epistemolgico se convertem, a nosso ver, em categorias analticas para o
exerccio de compreenso das disciplinas dos currculos para a formao de professores de
Artes. Soma-se a estas categorias o contexto para o qual esta formao dever atender. Assim,
2
A Licenciatura no Brasil corresponde a um grau acadmico do Ensino Superior que habilita profissionais para a
docncia na Educao Bsica.
86
A pesquisa realizada por Gisbert e Costa (2005) encontra na prpria trajetria histrica da
formao do professor de artes para o contexto da educao bsica brasileira sua explicao e
isso em decorrncia de diversos fatores e, um deles, pode ser o fato de que no Cear a
concepo de ensino e aprendizagem da arte tenha permanecido circunscrita a uma
interpretao equivocada quanto ao lugar da arte na escola e o lugar do artista na sociedade.
87
importante destacar que o cenrio ao qual Gisbert e Costa (2005) analisaram foi
transformado e hoje (2012) no Cear a Universidade Federal do Cear oferta a Graduao em
Dana, Teatro e Educao Musical. Esta ltima na capital e na Regio do Cariri. J a
Universidade de Fortaleza oferece na capital a Graduao em Artes Plsticas e Teatro com
foco na formao artstica.
Por iniciativa de alguns professores da Universidade Regional do Cariri URCA que haviam
acumulado experincia por meio da Ps-Graduao Lato Sensu em Arte/Educao desde 1998
e da criao do Ncleo de Estudos e Pesquisas em Ensino da Arte NEPEA (1999), em 2005
dado o primeiro passo em direo oferta de cursos de graduao em Artes no Cear
voltados a formao do artista/professor/pesquisador. Naquele momento e, ainda hoje, este
projeto recebeu pouca ateno de dirigentes polticos e tem sido um compromisso poltico de
professores e alunos que fazem o Centro de Artes da Universidade Regional do Cariri
URCA. Sem dvida o esforo e o compromisso em criar a Graduao em Artes em uma
Universidade localizada no interior e no na capital representou um dos mais significativos
deslocamentos e rupturas com o imaginrio colonizador e que ainda predomina na relao
capital e interior no Brasil.
O projeto para a Graduao em Artes/Licenciatura era ousado e previa a oferta de quatro reas
de formao: Artes Visuais, Teatro, Dana e Msica. Em 2008, foram iniciados as
Licenciaturas em Artes Visuais e Teatro pela Universidade Regional do Cariri URCA e,
atualmente estamos em processo para oferta da Licenciatura em Dana.
A concepo para o Currculo das Graduaes foi desde o primeiro momento de sua gestao
orientado pela compreenso de que estaramos situados na Regio do Cariri e que nosso
desafio seria atender a uma demanda de jovens que aguardavam por um Centro de Artes como
lcus para a formao do artista/professor/pesquisador desde a graduao at a ps-graduao
(Lato Sensus e Stricto Sensus). importante destacar que at o presente momento no Estado
do Cear as Universidades Pblicas e Privadas no oferecem Programas de Mestrado e
Doutorado em Artes.
3. Uma questo epistemolgica
A Arte/Educao Contempornea entende que os fenmenos sociais so resultantes das
contradies existentes nos contextos que lhe do origem e esto determinados por um
conjunto de fatores como os histricos, econmicos e culturais e que em cada contexto a
realidade diferente e assume caractersticas prprias. Assim o movimento dialtico,
dinmico e, portanto, a histria descontinua como afirma Foucault (1991).
Consideramos que assim como a Arte a Arte/Educao est intrinsecamente determinada por
relaes histricas, sociais, ideolgicas e de poder em toda e qualquer sociedade (Gisbert,
1996). Uma Arte/Educao enquanto epistemologia contempornea e ps-moderna busca
ultrapassar a idia de progresso como o resultado do uso da razo e do conhecimento
cientfico em favor de uma nica forma de cultura humana (Efland; Freedman; Stuhr, 2003),
ao mesmo tempo em que objetiva reconceitualizar o conhecimento do professor formador
(Kincheloe, 2001) e do futuro artista/professor/pesquisador.
As bases epistemolgicas que fundamentam a Arte/Educao contempornea e ps-moderna
entende que o ensino de arte ocorre em diferentes contextos deliberadamente organizados
como em uma sala de aula da educao infantil ou em uma faculdade de arte, mas tambm
88
nas galerias dos museus, nos centros culturais, nas residncias, na rua, nos cinemas
(Freedman, 2006).
Partindo do pensamento de Agirre (2005) nos atrevemos a dizer que a Arte/Educao
contempornea orienta-se na idia de que a Arte mediadora de valores culturais e que a
funo do ensino de artes reconhecer estas metforas e seu valor em diferentes culturas. A
Arte/Educao contempornea e ps-moderna est a exigir um perfil de
artistas/professores/pesquisadores aptos para cultivar um repertrio de estratgias
instrucionais sensveis cultura, tendo em conta que os estilos de aprendizagem eleitos esto
mais que geneticamente, culturalmente determinados. Por outro lado, a nfases que a
reconstruo pe no significado mais que na forma requer docentes habituados com a
descodificao e a desconstruo das imagens visuais (Agirre, 2005, p. 315).
4. Pesquisa e Prtica Pedaggica em Artes
A disciplina Pesquisa e Prtica Pedaggica em Artes presente nos dois primeiros anos dos
cursos de Licenciatura em Artes Visuais e da Licenciatura em Teatro, foi concebida com uma
carga horria de 432 horas aula e dividida em quatro etapas: Pesquisa e Prtica Pedaggica
em Artes I, Pesquisa e Prtica Pedaggica em Artes II, Pesquisa e Prtica Pedaggica em
Artes III e Pesquisa e Prtica Pedaggica em Artes IV.
Esta diviso meramente didtica e no epistemolgica e objetivou favorecer ao estudante
recm ingressado na Licenciatura dar seus primeiros passos em direo a pesquisa sobre artes
e, especificamente, sobre os problemas que afetaram e ainda afetam aos estudantes na
Educao Bsica no que diz respeito ao ensino e aprendizagem das artes.
A disciplina orienta-se por uma concepo de pesquisa, em arte/educao, que significa
aplicar o processo organizado, sistemtico e emprico que segue o mtodo cientfico para
compreender, conhecer, explicar e interpretar a realidade, como base para construir a cincia e
desenvolver o conhecimento cientfico da rea (Bisquerra, 2004).
A pesquisa em educao desempenha sua funo quando dar respostas aos problemas que a
sociedade em geral e as escolas, como parte dessa sociedade, tem que resolver.
No se trata de uma concepo de pesquisa em arte, pois no se ocupa diretamente do
trabalho de pesquisa em criao artstica, empreendido por artistas que objetivam obter como
produto final a obra de arte (Zamboni, 2006, p. 6).
A pesquisa sobre arte, territrios da arte/educao, possibilita ao pesquisador lanar mo de
mtodos de pesquisa habitualmente utilizados em educao, em cincias sociais, psicologia
etc (IDEM, p. 6). Esse lanar mo melhor compreendido a partir do conceito de
bricolagem entendida como o relacionamento entre as formas de ver de um pesquisador e o
lugar social de sua histria pessoal (Kincheloe e Berry, 2007, p. 16).
Por prtica pedaggica em artes compreendemos os processos/modos deliberadamente
organizados pelos professores para ensinar artes tanto nos contextos formais de escolarizao
e educao quanto nos informais. Seria, portanto, a organizao do trabalho pedaggico ou
trabalho docente (Freitas, 2001). O trabalho docente em artes no ocorre apenas nas escolas
de educao bsica, mas tambm em organizaes no governamentais, em museus, centros
culturais, hospitais etc.
89
Por prtica pedaggica entendemos tambm as relaes que se estabelecem entre o trabalho
dos professores e sua formao, ao pensamento dos professores e sua histria de vida, s
relaes entre a cultura escolar e a cultura dos professores, ao lugar do saber dos professores
entre os saberes sociais etc. (Tardif, 2001, p. 112)
Com base nos pressuposto que mediatizam a disciplina Pesquisa e Prtica Pedaggica em
Artes consideramos importante como referencial tratar das ementas e suas relaes com a
formao inicial dos estudantes nos Cursos de Graduao/Licenciatura em Artes Visuais e
Teatro.
A disciplina Pesquisa e Prtica Pedaggica em Artes I ofertada no primeiro semestre de curso e
tem por ementa o Estudo scio-histrico e antropolgico sobre a forma escolar de educao e
sobre a trajetria do ensino de arte no Brasil (Sc.XIX e incio do sc. XX). Nesta primeira etapa,
iniciada j no primeiro semestre de curso, os estudantes so envolvidos na problemtica do ensino
de artes no Brasil tendo como ponto de partida suas histrias de vida e escolarizao procurando
responder a pergunta: Como foi sua aprendizagem em artes na Educao Bsica?
importante esclarecer que a disciplina Pesquisa e Prtica Pedaggica em Artes ministrada para
os estudantes das duas graduaes/licenciaturas. Portanto, convivem no mesmo espao de
aprendizagem os estudantes de Artes Visuais e Teatro. No segundo semestre a disciplina PPPArtes
II se prope ao Estudo scio-histrico e antropolgico sobre a forma escolar de educao e sobre a
trajetria do ensino de arte no Brasil (sc. XX) e como em PPPArtes I a nfases dada aos
processos de escolarizao. Nesta etapa ocorre um deslocamento, pois agora os estudantes iro
estabelecer conexes entre o vivido em PPPArtes I com as transformaes ocorridas na
Arte/Educao e suas implicaes para a formao docente e o exerccio da docncia em artes a
partir dos anos 80/90 do sculo passado.
J em PPPArtes III o deslocamento ocorre em funo dos diferente lugares de presena do
artista/professor/pesquisador e, neste sentido, a disciplina se centra no Estudo scio-histrico e
antropolgico sobre os mltiplos lugares de atuao do artista/professor/pesquisador, do professor
de artes ou arte/educador. Em PPPArtes III a nfase dada as aes educativas desenvolvidas na
educao no formal com destaque para o trabalho nas Organizaes No Governamentais.
Ainda no contexto da educao no formal, a disciplina Pesquisa e Prtica Pedaggica em Artes IV
se ocupa do Estudo scio-histrico e antropolgico sobre a mediao cultural em museus e centros
culturais e da profissionalizao do mediador cultural. A nfase dada aos programas educativos e
a mediao cultural propostos pelos equipamentos culturais da Regio do Cariri tanto em Artes
Visuais quanto em Teatro.
Alm da disciplina Pesquisa e Prtica Pedaggica em Artes os estudantes tambm cursam as
disciplinas: Didtica Geral, ofertada no segundo semestre; Polticas Educacionais, terceiro semestre;
Psicologia da Educao, quarto semestre. Como possvel perceber ao longo dos dois primeiros
anos da graduao/licenciatura em Artes Visuais e Teatro os estudantes so envolvidos com a
formao docente, com as problemticas da escolarizao em artes, com os diferentes e mltiplos
lugares de presena do artista/professor/pesquisador, assim como, com as questes referentes ao
fenmeno educativo em geral.
90
5. Consideraes Finais
A disciplina Pesquisa e Prtica Pedaggica em Artes constituidora dos Currculos das
graduaes/licenciaturas em Artes Visuais e Teatro do Centro de Artes da Universidade
Regional do Cariri URCA toma para si as atuais consideraes para a formao inicial do
professor de artes e, neste sentido, ultrapassa as concepes de formao anteriores sem
desconsiderar a trajetria da rea que surge com a Licenciatura em Educao Artstica e suas
Habilitaes, porm opta por uma concepo de formao centrada na especialidade das
linguagens da Arte (Artes Visuais, Teatro, Msica e Dana) de acordo com a
contemporaneidade da rea e da Arte/Educao brasileira.
O objetivo principal promover mudanas na formao inicial do professor de artes passando
a compreend-lo como artista/professor/pesquisador e que esta concepo deve orientar as
aes educativas no interior da universidade at chegar aos mltiplos espaos de presena e
atuao profissional do arte/educador.
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91
92
93
Depois de vrias pesquisas e estudos, buscamos expandir um modo de pensar mediao cultural
e nos colocamos a traar uma cartografia da mediao cultural, sempre mutante, levantando territrios e
problematizaes a partir dos conceitos de rizoma de Deleuze e Guattari (1995) e de territrios de
arte&cultura cunhados por Mirian Celeste Martins e Gisa Picosque (2010).
O rizoma, segundo Deleuze e Guatarri (1995), um caule sem ncleo central cujas partes em
rede podem ser a origem de novas plantas. Os territrios, um pensar geogrfico sobre campos dinmicos
e difusos de fronteiras evanescentes. Na confluncia destes conceitos, nasceu uma cartografia com
territrios e foras interterritoriais que se conectam, entre eles: acesso cultural; cultura visual; curadoria
educativa; espaos culturais na escola; formao docente; leitura de imagem: metodologias; mediao
cultural nos museus e instituies culturais; patrimnio cultural; polticas, produo e prticas culturais;
recepo esttica; silncios; tecnologias interativas; e o convite a zarpar para outras linhas de fuga...Em
cada um desses territrios, muitas questes nos colocam atentos, sensveis e inquietos, gerando outras
pesquisas e aprofundamentos conceituais.
Para este congresso, frente aos territrios, lanamos a complexa pergunta: Quais questes se
mostram relevantes na proposio de leituras de imagens e sonoridades, no estudo da histria da arte,
nas aproximaes com o patrimnio cultural quando a fundamentao terica est pautada no conceito
de mediao cultural que vem sendo construdo por nosso grupo de pesquisa?
Evidenciam-se nossas inquietaes, que no se fecham neste texto. Ao contrrio, no processo
colaborativo que nos anima e provoca, apenas se inicia aqui uma reflexo. Pensando rizomaticamente,
trazemos aspectos iniciais para a construo da pergunta que nos instiga; e que se desdobram em focos
que puxam outras questes.
Da maneira como compreendemos a mediao cultural, o fruidor colocado no centro do
processo, em meio ampla rede dos saberes e experincias que envolvem a arte e cultura no cenrio
contemporneo. Esse olhar cuidadoso para com o fruidor, aquele que, individualmente ou em grupo o
sujeito da experincia, nos faz pensar em novas nuances das propostas de aproximao e
aprofundamento junto aos fenmenos culturais, aos bens patrimoniais, leitura de imagens e
sonoridades, histria da arte. Nesse sentido, pensamos que traar rotas que incluam o navegar entre os
territrios Movimento esttico do apreciador, Ao cultural e Acesso cultural seja particularmente
instigante e gere perguntas mais especficas: Como os estudos de tericos do desenvolvimento esttico
podem nos ajudar a ampliar nossa compreenso daqueles que conosco vivem o processo de mediao
cultural? Como facilitar o acesso, valorizar os bens culturais, e ao mesmo tempo valorizar a bagagem e
os anseios dos fruidores, acreditando em sua potncia como faz o mestre ignorantetrazido por
Rancire (2010)?Como superar o silncio de quem se coloca na posio de receptor passivo de uma
obra ou de uma aula?
Reavivar as produes artsticas de outras pocas e lugares, traz-las para junto de ns e coloclas em dilogo e confronto com outras obras e com a nossa vida um dos desafios da histria da arte
tratada de modo contemporneo. Outro ponto se refere superao do mero rtulo e classificao
das obras inseridas em movimentos artsticos j conhecidos e sacralizados. A proposta dos territrios
possibilita reflexes sobre arte que ultrapassem o vis mais tradicionalista e elitista que recorre histria
da arte como um saber engavetado, organizado linearmente e distanciado do cotidiano. Nesse sentido,
notamos a importncia especial do territrio Curadoria educativa, compreendido como uma atitude
94
consciente do mediador acerca de suas escolhas sobre o qu apresentar e de que forma apresentar aos
fruidores. E novas questes surgem, algumas atreladas tambm ao territrio Cultura Visual: Que
obras/msicas/danas/peas de teatro escolhemos para trabalhar com o nosso pblico, com os nossos
alunos nos diversos contextos? Por que as escolhemos? O que desvelam de nossas prprias maneiras de
viver arte e cultura? O que pode ser problematizado a partir do dilogo travado entre as diversas
manifestaes, sejam da histria da arte, sejam da cultura visual atrelada ao cotidiano? Qual espao de
escolha dado aos aprendizes?Como provocar anlises comparativas e no apenas o beber das
informaes dadas? Como a histria da arte pode ser vista como algo dinmico e conectvel a outros
tantos saberes e viveres?
Questes que se distinguem por uma preocupao com a mediao cultural, como um modo
singular de provocar, contaminar, aproximar. Questes que continuam abertas na busca de novas e
profcuas conversas, que nem sempre nos trazem respostas, mas nos colocam a caminho. Conversas
colaborativas com quem est junto e quem est distante, com o que se sabe e o que no se sabe ainda.
com essas conversas que a arte e a sua histria se tornam vivas e no engavetadas ou empoeiradas.
com essas conversas que ampliamos o nosso repertrio, compreendemos melhor a razo de ser de nossos
ofcios, olhamos quem so os nossos companheiros: alunos, colegas; afinamos escolhas sobre o qu
possibilitar a nossos alunos e porqu.
Do mesmo modo, novas conversas aconteceram a partir da apresentao do texto apresentado no
II Encontro Internacional de Educao Artstica, possibilitando um novo exerccio, em continuidade aos
desafios do processo colaborativo, desta vez, voltados para a apresentao do trabalho produzido. A
experincia de apresentar o trabalho de um grupo de pesquisa, pede que se pense uma justa medida entre
"quem fala" e " com quem e para quem se fala", pois o desafio o de dar passagem polifonia presente
no texto e ao mesmo tempo possibilitar, preservar, manter e exercitar a singularidade de quem est
apresentando.
Do cruzamento e articulao de vrios saberes e prticas agenciados produzida uma enunciao
que se efetiva na leitura, com suas entonaes, pausas, nfases. Leitura de uma escrita que, por sua vez,
no pode ser compreendida como forma cristalizada. Sendo assim, o texto apresentado foi concebido
como um processo, sujeito, inclusive, ao fluxo dos acontecimentos: os fatores que interferem na sua
recepo, os rudos, as interrupes, os lapsos, os encaixes. Compreendendo o acontecimento como a
irrupo do inesperado, como aquilo que causa estranhamento e desorientao, nasce a necessidade de
uma retomada, a cada vez, do processo de criao. Como se tratava da apresentao do trabalho de um
grupo, havia a exigncia de respeitar o que fora produzido pelo grupo ao mesmo tempo em que, por
conta da dinmica do acontecimento, a apresentao exigia dar continuidade ao processo de elaborao.
A experincia de apresentar os resultados de um trabalho em andamento possibilitou pensar em mais
um componente conceitual da pesquisa colaborativa: a singularidade. Assim, o encontro proporcionou
algumas perguntas que se inscrevem no cerne do texto ento apresentado: como se d a articulao entre
as singularidades e o coletivo? De que modo possvel apresentar o trabalho dessa coletividade sem
que ela sufoque essa singularidade e como que essa singularidade, por sua vez, pode falar pelos os
outros?
Essas perguntas, no se reduzem a uma problemtica exclusiva do Grupo de Pesquisa em
Mediao Cultural, pois, no mbito da pesquisa acadmica, das prticas educacionais, dos encontros,
congressos, simpsios, comum observar a prtica, sempre presente, de se falar em nome do outro.
95
Fala-se em nome dos alunos, da comunidade, do pblico; em nome dos artistas, em nome da arte, em
nome da educao. Se nos lembrarmos das palavras de Deleuze, a saber, do cuidado que devemos ter
mediante a indignidade de falar em nome do outro, observamos que o trabalho desenvolvido no texto
e em sua apresentao pois, de fato, no se trata apenas de uma leitura de um texto, mas sim de um
trabalho que se realiza no ato de ler, uma leitura que exige todo um agenciamento de lugares, de
referncias, conceitos, prticas esse trabalho, em constante processo, se mostrou como oportunidade
para uma reflexo sobre os limites e possibilidades de se falar em nome do outro; sobretudo, possibilitou
pensar em possveis caminhos para se pensar com o outro na escrita, lugar de passagens: de uma
singularidade outra, dos outros a cada uma das singularidades que compem, dentre outras coisas, os
movimentos de uma coletividade.
So estas conversas que acompanham todo o processo colaborativo que nos fazem falar e ouvir,
olhar mais profundamente para as obras, os artistas, os contextos, o ontem, o hoje, para ns mesmos.
Conversas que nos fazem mergulhar na arte, e nos aproximar de tericos, dos outros e de ns mesmos,
reconhecer que todos podem se tornar valiosos intercessores. Afinal, como diz Deleuze (1992, p. 156):
o importante so os intercessores.
INTRODUO
Neste texto busco apresentar mais uma sugesto de abordagem das novas tecnologias da informao e
comunicao na educao, e a sua utilizao no ensino mdio. Esta abordagem levanta questes acerca das
possibilidades da utilizao do audiovisual como modalidade artstica no currculo da educao bsica, mais
especificamente para a disciplina Artes no Ensino Mdio.
CONCEITO DE AUDIOVISUAL
O grupo de pesquisa continua em processo colaborativo. Estas reflexes iniciais geraram o incio
da construo do que chamamos de narrativas mediadoras que ser apresentado no Congresso da
Federao de arte-educadores do Brasil em outubro de 2012. Mais uma vez fendas se abrem para
continuar nossas pesquisas em mediao cultural em nosso desejo de alimentar a aproximao entre arte
e pblico.
O Cinema, talvez a nica Arte com data de nascimento registrada, surge quando os irmos Lumire fazem a
primeira exibio de imagens animadas a uma platia, com o Cinematgrafo, em Paris, no ano de 1895, e se consolida
no incio do sculo seguinte, com a possibilidade da mudana do ponto de vista do observador, atravs da montagem.
A televiso, que surge tmida nos anos 1950, tem um parentesco estreito com o rdio e consegue estar em vrios
lugares ao mesmo tempo, atravs das telecomunicaes. A tela de exibio pequena ao menos se comparada tela
do cinema e a produo segue diferentes formatos, como o telejornalismo, talk-shows, telenovelas e sitcoms, entre
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
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e cultura. Revista da Ps-Graduao do Instituto de Artes da Unesp/SP. V1, n1, novembro de 2007.
vrios outros. Com a convergncia de mdias, o cinema e a TV tendem a utilizar o mesmo suporte; em grande
quantidade de filmes para o cinema se utiliza tecnologia digital para a captura e edio de imagens, alm de salas de
projeo com equipamento digital; por este motivo farei referncia ao audiovisual como agrupando cinema, TV, internet
ou qualquer expresso que utilize imagem em movimento com som.
Para o filsofo francs Gilles Deleuze, cujo pensamento embasa esta pesquisa, o cinema s se torna
audiovisual quando a fala e o som deixam de ser um atributo da imagem e ganha autonomia expressiva, quando o ato
de fala no mais dependncia ou pertencimento da imagem visual, torna-se uma imagem integralmente sonora,
ganha autonomia cinematogrfica, e o cinema torna-se realmente audiovisual. (C2 p.288)
AUDIOVISUAL E EDUCAO
O atraso em que a escola se encontra no que diz respeito utilizao das novas tecnologias se deve, em
parte, falta de conhecimento por parte dos professores das possibilidades destes novos meios, assim como da
abordagem e utilizao que os estudantes fazem das novas tecnologias da informao e comunicao - os novos
recursos audiovisuais e comunicacionais - e consequentemente a no incorporao destes recursos em suas prticas
pedaggicas. Estas tecnologias, presentes em diferentes nveis no cotidiano dos estudantes, acabam por ser
subutilizadas na educao embora tenha uma grande funo social e comunicacional.
O conhecimento dos elementos que fundamentam a prtica do audiovisual apontado, ainda que sem
nfase, nos parmetros curriculares que o Ministrio da Educao brasileiro prope para o ensino bsico. Nos dois livros
dedicados ao Ensino Fundamental, nota-se uma abordagem do audiovisual como coadjuvante, que serve como um
recurso de apoio s demais reas de conhecimento, inclusive para a rea de Artes (vale lembrar que desde meados da
dcada de 90, com a promulgao da Lei de Diretrizes e Bases da educao nacional - LDB 9394/96 - no Brasil, a rea de
educao artstica passou a se denominar Artes). Para o Ensino Mdio, as disciplinas so divididas em reas de
conhecimento, e a Arte ficou no grupo de Linguagens, Cdigos e suas Tecnologias. As competncias, as linguagens, os
96
97
conceitos e os contedos so indicados de forma geral e as modalidades artsticas podem ser consideradas
parcialmente responsvel pela imposio desta ideologia tecnocrata na prtica e na conceptualizao do cinema. (Grilo,
separadamente ou articuladas entre si (Brasil, 2001 p.x). Nota-se um avano, pois o audiovisual citado como
2010)
modalidade artstica autnoma, com contedo prprio: Os PCNEM articularam sua proposta em Arte (...) a uma
Para o trabalho aqui apresentado se escolheu o emprego da classificao apresentada por Gilles Deleuze em
aprendizagem mais afeita s demandas interdisciplinares. Isso no significa a supresso de contedos especficos de
seus dois livros sobre cinema escritos na dcada de 80. Ele apresenta outra maneira de se classificar os planos e a
artes visuais, dana, msica, teatro e artes audiovisuais.(Brasil, EM p.182) Entre as sugestes para trabalho no eixo de
montagem, que respeitam a sua dimenso imaginria e conceitual, sem as sujeitar a uma utilizao tcnica relacionada a
Representao e Comunicao, h a indicao para o estudo da gramtica das linguagens artsticas, isto , de seus
elementos constitutivos: o texto audiovisual trabalha com os trs conceitos citados como essenciais s linguagens
uma imagem-movimento uma imagem relativa e dinmica que no s pensa as relaes entre as coisas (e os seus
17
artsticas: imagem, movimento e som.(p.185) A utilizao dos recursos tecnolgicos estimulada na indicao ao uso
movimentos) dentro de um conjunto fechado (o enquadramento) como se esfora por pensar as relaes desses
de vrias mdias e tecnologias como processos fotogrficos, informatizados e outras mdias entre as quais vdeo, cinema,
conjuntos entre si, e de todos eles perante uma totalidade que, por definio, permanece Aberta (o papel da
CD-ROM. Nos critrios de seleo dos contedos, o texto delimita as modalidades artsticas englobadas pela disciplina
montagem). (Grilo, 2010 p.31). Desta maneira, apresentamos o plano como uma unidade que exprime a situao
Arte para este nvel de ensino: Nos PCNEM, a disciplina engloba artes visuais, audiovisuais, dana, msica e teatro. Cada
intermediria entre a parte e o todo atravs da imagem-movimento, determinada por dois conceitos: de movimento
uma dessas modalidades poder por sua vez reunir contedos prprios. (Idem, p.197) Os contedos devem possibilitar
relativo entre as partes de um conjunto determinado e de movimento absoluto no qual a imagem se assume como o
a articulao de trs instncias: o fazer artstico, a apreciao da arte, a reflexo sobre o valor da arte na sociedade e na
corte mvel de uma totalidade em mudana; esta imagem-movimento se apresenta em trs tipos: imagem-ao,
vida dos indivduos. (Idem, p.197) A indicao feita de maneira geral, e so apresentados 10 critrios, cada um
imagem-afeco e imagem-percepo. A montagem, por sua vez, se apresenta como um meio que possibilita a
seguido de comentrios especficos para determinadas modalidades artsticas. No primeiro, arte como expresso,
mudana de regime de percepo, entre montagens perceptivas, ativas e afectivas, o lugar onde o todo toma forma e
adquire uma qualidade que, por sua vez, qualifica as imagens. (...) a montagem o lugar em que cada filme determina o
audiovisuais por meio de vdeo. O terceiro critrio apresentado, elementos das linguagens da arte e suas dimenses
seu centro de percepo. (Idem, 2010 p.38). Na abordagem Deleuziana, a montagem a determinao do Todo da
tcnicas, formais, materiais e sensveis, sugere para as artes visuais e audiovisuais o estudo de seus elementos bsicos,
imagem, alcanado atravs de tcnicas de corte (edio) e de criar continuidades (Colman, 2011 p.55), sendo
mas s cita elementos visuais: Em artes visuais e audiovisuais, elementos bsicos como ponto, linha, plano, cor, luz,
responsvel pela criao dos diferentes tipos de imagens-movimento. Deleuze observa trs formas de montagem, em
textura, volume, espao, devem ser percebidos (...) (p.198). O quarto e ltimo critrio que cita o audiovisual relativo
quatro tendncias principais: a alternncias de partes diferenciadas, montagem de dimenses relativas, e montagem
diversidade de manifestaes artsticas, que orienta a desenvolver a compreenso das diferentes manifestaes
de aes convergentes; nas tendncias: orgnica norte-americana, dialtica sovitica, quantitativa francesa de antes da
artsticas entre elas cinema, vdeo, TV e infoarte como formas de criao humana, associadas ao desenvolvimento
guerra e intensiva da escola expressionista alem. Vale ressaltar que estas maneiras de montagem, conjugada com as
tecnolgico e cientfico, s tradies culturais, tnicas, sociais, a concepes de mundo. (Idem p.199)
trs formas, resultam em diferentes resultados de imagens-movimento, isto , subvertem a relao da escala de planos
Concordo com o fato de que o cinema (e o audiovisual) j um pensamento automtico, um operador ativo
com os resultados narrativos esperados pelas teorias do cinema desenvolvidas anteriormente, principalmente as
de novas ligaes entre a imagem e o pensamento, face ao qual a nica coisa a fazer procurar restaurar as condies
baseadas no cinema industrial de Hollywood. Deve-se evitar julgar que a montagem paralela um dado que est
de traduo desse pensamento num outro sistema de signos, em um corpo de conceitos. (Grilo, 2006 p.18). Concluindo
presente em toda a parte, exceto num sentido muito geral, visto que o cinema sovitico a substituiu por uma montagem
que nos ensina a ver a viso, pensando-a e verfificando-a como um outro estilo de pensar; uma nova concepo
de oposio, o cinema expressionista por uma montagem de contraste, etc. (C1 p.90)
determinada por suas particulares condies de expresso. Ao invs de se apresentar uma receita de bolo com prticas
que objetivam um resultado plstico ideal, no qual os alunos no se apropriam dos conceitos e unicamente reproduzem
um clich apresentado, o objetivo deste trabalho o de apresentar o audiovisual como um instrumento mais que uma
DESENVOLVIMENTO
Partindo da apresentao destas teorias sobre o audiovisual, contextualizadas por trechos de filmes de
simples ferramenta em que cada realizador vai fazer um uso diferenciado, se adaptando s suas necessidades e
diferentes autores e pocas. Propem-se ento exerccios turma utilizando dispositivos mveis tais como telefones
objetivos. Esta utilizao do audiovisual pressupe a observao de quais os recursos estaro disponveis na escola em
celulares, mquinas fotogrficas digitais e handycams: A realizao de produes de um minuto de durao cada, o
questo, desde o computador pessoal dos alunos e seus telefones celulares at escolas com laboratrios e estdios
Minuto Lumire, o Minuto Neorrealista, e o Minuto Montagem. Estas produes levam aos alunos o conhecimento de
alguns realizadores e suas maneiras de filmar e lidar com as possibilidades no cinema; na parte prtica os alunos so
levados a filmar na maneira de cineastas, respeitando suas limitaes tcnicas e expressivas. O cinema (e o
TEORIAS DO AUDIOVISUAL
A apresentao do audiovisual se d como uma arte de sntese, presente em diferentes meios multimdia
(cinema, TV, computador). A proposta deste trabalho de ir contramo da indstria e do comrcio do cinema e da TV,
restaurando uma dimenso libertadora dos elementos do audiovisual notadamente o plano e a montagem perdidas
audiovisual) apresentado como um exerccio de transfigurao, transformando o movimento natural das coisas num
movimento cinemtico que inseparvel de um estilo (Idem, 2010. p.30), no se tratando de representar o mundo e
sim de afectar esse mundo de acordo com um ponto de vista, acerca do tempo e do espao.
O Minuto Lumire, isto , a filmagem de um plano com cmera fixa e cerca de um minuto de durao, tal
devido a um engessamento das maneiras de se produzir contedos audiovisuais. A escala de planos serve como um
qual se fazia poca do surgimento do cinema no fim do sculo XIX, consiste em uma prtica idealizada por Alain
exemplo desta limitao imposta visando a uma formatao em torno de determinados clichs; pois a classificao dos
Bergala e Nathalie Bourgeois no ano de 2000, para o plan de cinq ans do ento Ministro da Educao da Frana, Jack
planos se faz hoje segundo uma nomenclatura especificamente tcnica de escalas, sem ligar sua significao. (Grilo,
Lang (Bergala, 2010). Nota-se que a produo de filmes de um minuto de durao e/ou de filmes que remontem
2010) Esta tendncia de se uniformizar o olhar resulta em prejuzos estticos: de acordo com Grilo a estabilizao de
origem do cinematgrafo uma prtica estabelecida h muitos anos, devendo-se crdito aos autores citados o feito de
uma nomenclatura que reduz o plano sua expresso tcnica em detrimento da sua dimenso imaginria,
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Para a nossa prtica, optamos por utilizar a taxionomia do cinema tal qual apresentada por Deleuze, a fim de
dimenses relativas e a das aes convergentes), e as quatro tendncias (americana, sovitica, francesa e expressionista).
se proporcionar aos alunos-produtores uma liberdade fora dos padres e clichs da indstria audiovisual. A classificao
Na prtica em questo, apresentamos os conceitos de montagem tais quais abordados por Eisenstein em seus ensaios
dos planos no cinema visa ento a se distingui-las e organiz-las de acordo com determinado regime de percepo, dos
sobre cinema, em uma nfase tendncia dialtica sovitica. Dialogamos estes conceitos sobre a montagem com as
- o regime das imagens-percepo: As imagens tendem para a percepo total e objetiva, para a
indeterminao do centro e para uma relativa indeterminao na operao de subtrao-extrao
da imagem em relao a todas as outras;
- o regime das imagens-ao: Quando o mundo das imagens-movimento aferido a um centro, a
uma imagem espacial que transforma o mundo em horizonte e a paiagem cenrio. (...) e passa a
definir um eixo de ao-reao. Neste regime, passa-se diretamente da percepo para a ao. A
operao que o caracteriza j no o da seleo, do enquadramento indeterminado, mas a
curvatura do universo em torno de um eixo de ao-reao privilegiado;
- O regime das imagens-afeco: Aqui deixa de haver exterioridade entre o sujeito e o objeto e o
movimento manifesta-se, no na projeo mas na imploso. O movimento absorvido pelo sujeito,
sem se transformar numa percepo ou numa ao, mas incorporando-se nele. O movimento
transforma-se numa tendncia que substitui uma ao tornada impossvel. Na imagem-afeco, o
movimento deixa de ser translao para passar a ser um movimento de expresso; uma pura
qualidade, uma tendncia para o movimento que agita, interiormente, um elemento, por vezes
imvel (a importncia do rosto, do grande plano). (Idem, 2010, p.37)
Na montagem mtrica, os comprimentos absolutos dos fragmentos do filme servem como critrio
fundamental, estabelecendo um ritmo comparado ao do compasso musical com medidas de regularidade ou
irregularidade. Na montagem rtmica no se obedece uma ordem matemtica ditada por uma mtrica e sim de acordo
com o contedo, a especificidade de cada fragmento, e de seu comprimento planejado de acordo com a estrutura da
sequncia. (Idem, p.80) Na montagem tonal, este conceito de movimento diz respeito todas as sensaes do
fragmento de montagem, movimentos que progridem de acordo com caractersticas tonais, em vez de espaciaisrtmicas. Aqui, mudanas imensurveis espacialmente so combinadas de acordo com seu som emocional. (Idem, p.82)
O conceito de som emocional diz respeito ao tom geral, dominante, do fragmento no ao som literalmente, mas
tambm vibrao da luz e utilizao da cor. A oposio de tons dominantes maiores e menores, dominantes rtmicas
secundrias, resultam na montagem atonal, o quarto mtodo de montagem apresentado por Eisenstein. Estes mtodos
se tornam construes de montagem quando entram em relaes de conflito entre si. Dentro de um esquema de
Para a realizao cinematogrfica, os alunos podem utilizar os dispositivos mveis que tiverem acesso, como
as cmeras presentes em telefones mveis e cmeras digitais; e devem ento escolher o plano a ser filmado, com
especial ateno ao momento do ataque quando inicia a gravao e o momento do corte. Na utilizao do
mtodo junto s turmas do ensino mdio do CEFET-RJ, as cenas puderam ser feitas no local que o aluno-realizador
escolhesse, podendo ser na escola ou fora, ou ainda no trajeto residncia-escola; Aps a realizao do trabalho pelos
relaes mtuas, ecoando e conflitando umas com as outras, elas se movem em direo a um tipo de montagem cada
vez mais fortemente definido, cada uma crescendo organicamente a partir da outra. (Idem, p.84)
Nesta fase, se requer mais dos alunos para a realizao da parte prtica no que diz respeito utilizao de
softwares de edio de vdeo e de transcodificao de formatos de arquivo; e de hardware, para a captura do vdeo ou
transferncia de arquivos.
alunos, feita a exibio dos filmes para a turma, seguida de algumas rodadas de debates sobre o processo de
produo.
CONCLUSO
A utilizao do visual no currculo bsico, mais especificamente no ensino mdio, embora possa acompanhar
qualquer matria de maneira interdisciplinar, constitui um contedo adequado ao currculo de Artes, por se tratar de
uma arte de sntese que utiliza elementos especficos conjugados a elementos de outras expresses artsticas. Este
trabalho pede continuao, a fim de uma abordagem mais ampla dos aspectos do audiovisual a constituir contedo
para a utilizao no currculo do ensino bsico de educao artstica; entre outros aspectos que no foram aqui
abordados esto a utilizao do som e problemticas da relao realismo Vs no-realismo. Em vista disso, se propem
discusso questes acerca da possibilidade de utilizao do audiovisual no ensino bsico: a adequao das escolas para
fig.1 Exerccio de aula: Plano de um minuto neorrealista
este trabalho, e se h a necessidade de um laboratrio especfico; os recursos pessoais dos alunos, para realizao dos
trabalhos se utilizando de recursos prprios; e do nvel de alfabetizao informtica, isto , de intimidade que os alunos
No Minuto Neorrealista os alunos so levados a filmar um minuto em plano sequncia (o plano sequncia
quando o enquadramento muda sem a utilizao do recurso da montagem, em um travelling ou mesmo em cmera
parada). A prtica consiste na realizao de um plano sequncia de um minuto de durao, de tema livre, em qualquer
locao e utilizando o dispositivo tcnico de captura de imagens que dispuser, tal qual na realizao do Minuto Lumire.
Os conceitos de imagem-movimento e suas trs classificaes so retomados, a fim de contextualizar e embasar a
escolha de planos e movimentos dos alunos-produtores.
O Minuto Montagem tem o objetivo de levar a turma a produzir um filme se utilizando do recurso da
montagem, e a conceituar a sua opo de utilizao do recurso. Para Deleuze, a montagem a operao que recai
sobre as imagens-movimento para extrair delas o todo, a ideia, isto , a imagem do tempo, uma imagem
necessariamente indireta, j que inferida das imagens-movimento e suas relaes. (Deleuze, C1 p.53). A montagem
a composio, o agenciamento das imagens-movimento de forma a construir uma imagem indireta do tempo. (idem,
tm com computadores e dispositivos tcnicos de captura, edio, e exibio audiovisuais como fatores que vo
propiciar a utilizao do audiovisual no ensino bsico, em seus diferentes nveis.
REFERNCIAS
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_________________. O Homem Imaginado: cinema, aco, pensamento. Lisboa: Horizonte, 2006.
p.54). Apresenta trs formas de montagem - ou alternncia rtmica (a alternncia de partes diferenciadas, a das
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como algo de externo e imposto por grupos de poder , sentimos que a cultura no nos define mais
de esse modo , com suas regras de esttica, estilo, etiqueta, normalidade ou privilgio. Sentimos que
o individuo pode definir outras regras , criar e reciclar cultura . Trabalhamos com alunos que no
so mais puros receptores; consumidores de cultura mas que se transformaram em ' prosumidores' (
Resumo
Neste breve artigo focarei alguns projectos onde, juntamente com
professores; artistas e alunos trabalhmos a diversidade cultural . Os
projectos surgiram em redes onde educadores e educadoras se encontram
habitualmente, tais como na International Society for Education Through
Art - InSEA; na Associao de Professores de Expresso e Comunicao
Visual- APECV e na Rede Ibero Americana de Educao Artstica.
Descreverei sumriamente trs projetos internacionais de educao pela
arte onde se descobriram e trabalharam conceitos de representao de si
e do outro: 1) Interpretando vozes '; 2) 'Tradies de Famlia' e 3)
'Comparangoleiros'. O primeiro projeto foi financido pelo programa
Europeu de Aprendizagem ao Longo da Vida- Comenius. Os dois ltimos
foram realizados sem financiamento. A metodologia seguida nos dois
ltimos e, mais bem sucedidos projectos , foi desprovida de qualquer
hierarquia , sem eixos orientadores , nem regras : os professores
desenvolveram cada um sua maneira um tema e processos artsticos para
interagir com os seus alunos e partilhar com os participantes de outros
lugares . Cada um destes projetos, sua maneira influenciou aes
educativas e reflexo sobre praticas pedaggicas socialmente
comprometidas onde se trabalhou o conceito do Eu e do Outro.
Palavras chave
multiculturalismo crtico e transculturalismo nem sempre fceis de conciliar tericamente mas que
nas praticas educativas coabitam aleatriamente.O conceito de multiculturalismo muitas vezes
abordado na educao a partir de uma vertente crtica e de resistncia, tratando a questo da
diferena a partir da dimenso poltica, considerando- a sempre como resultado da histria, da
cultura, do poder e da ideologia. Por isso, os educadores ajudam os alunos a entender os contextos
culturais inseridos numa poltica de crtica comprometida com a justia e a transformao social
para um melhor entendimento da pluralidade. Tal abordagem descende de teorias de Estudos
culturais ou de abordagens dos Estudos da Cultura Visual que esto presentes em muitas das
prticas que alguns professores de arte utilizam. Nessas praticas , a linguagem e as representaes
socialmente comprometidas.
Tal como Peter McLaren (1997), arguiu as representaes so compreendidas como frutos de
lutas histricas e sociais mais amplas sobre signos e significados, sendo estes definidos mediante as
transformaes nas relaes sociais, culturais e institucionais, no interior das quais os significados
so gerados.
Como professores buscamos nas redes fontes de partilha para construir conhecimentos . Redes de
modelos tradicionais como sociedades ou associaes culturais e profissionais ou redes sociais na
102
103
intervenientes da cultura local em duas fases . A primeira chamada ' Histrias escondidas '
consistiu em entrevistas sobre Viseu por jovens viseenses com membros da comunidade e a
segunda fase consistiu na interpretao dos resultados das entrevistas em oficinas com os alunos
e professores dos vrios pases . As oficinas foram dinamizadas por artistas locais que
trabalharam a experincia do local com os participantes a partir das entrevistas e das experincias
vivenciadas pelo grupo de estrangeiros na cidade .
Fi
g
ura 1: Workshop Interpretando Vozes, Outubro de 2011, alunas da
ESAM recolhendo histrias na ASSOL em Oliveira de Frades.
de famlia, seus rituais e suas representaes artsticas . O projeto foi desenvolvido com crianas
dos 5 aos 10 anos dos Estados Unidos; Turquia, Portugal, Malsia e Colmbia . Foi um projecto
104
Interpretando vozes
simples onde apenas se pretendeu dar visibilidade s diferenas culturais. Partimos de princpios da
' Interpretando vozes ' foi um conjunto de cinco oficinas realizadas em Viseu para alunos dos 15
aos 18 anos e professores de artes de quatro pases europeus integrado numa actividade de
da nossa prpria cultura para o poder partilhar com os outros. Isso foi a grande tnica das aes
levadas a cabo pelos professores. Na escola de Vila Nova de Gaia, os pequenos artistas
contempornea nas escolas (IDEAlaboratories: how to integrate contemporay art and art
aprenderam fatos e figuras sobre a tradio pascal, desde a gastronomia s procisses religiosas
education). As grandes diferenas culturais dos vrios participantes que vinham do Norte ; Leste
com ajuda da pintura deAmadeo de Souza Cardoso que aprenderam a apreciar . Na escola em
diversidade e de diferena no projecto para os workshops . O workshop foi planeado por vrios
museu etnogrfico, fizeram uma performance de casamento, com msica a condizer , desenharam
105
os fatos de casamento de sonho. Aprenderam sobre eles para mostrar aos outros. Da escola de
Bogot e da escola de Seymour os alunos falaram sobre as tradies simples de famlia como
andaer a cavalo ( Bogot) , ir acampar ou ir vs compras ( Seymour) . A exposio dos trabalhos
dos alunos percorreu as diferentes escolas participantes , e a se deu o encontro onde cada um tem
o seu lugar vsivel atravs do desenho e da pintura.
Comparangoleiros 2010-2013
O fenmeno da globalizao tem o efeito de evidenciar a diversidade cultural do mundo e apontar
para a necessidade de dilogo entre diferentes civilizaes. A globalizao tambm pode ser
considerada como uma complexa rede de projetos de sociedade e de diversidade de interesses
traduzidos nas disputas das representaes ideolgicas, polticas e culturais
que esto em curso atualmente. Um grupo de professores tem vindo a trabalhar essa ideia desde
2009 fazendo projectos de intercmbio cultural onde os alunos ( dos 3 aos 20 anos) partem da
procura sobre artistas e cultura local para mostrar a suas interpretaes dols mesmos aos alunos de
outros pases. Comparangoleiros o nome desse grupo que neste momento desenvolve um
Os projetos educativos transculturais so o que so: tm aspetos que correm bem; ultrapassando
projecto de intercmbio entre alunos e professores de Portugal, Brasil, Timor Leste e Letnia. O
expectativas.
se podem encontrar eixos, dinamicas e metodologias novas . So, por isso, plataformas de
Helio Oiticica na performace ' Parangols' . Este projeto que est no seu terceiro ano de vida tem
experimentao importantes para os professores e para os investigadores. Por pequena que seja a
objectos artsticos feitos pelos alunos a partir do estudo de artistas e de culturas locais. Os
consequncias nos participantes, a curto e a longo prazo nas atitudes e comportamentos em relao
a si e aos outros. Como professoras entendemos que muito haver ainda que analisar nestes trs
exemplos , gostaramos de , no futuro, perguntar aos professores, s crianas e aos jovens que
participaram nestas aes se elas ficaram nas suas memrias , e se de algum modo estas
experincias tiveram impacto nas suas vidas.
Bibliografia
ASCOTT, Roy (1999). Seeing Double: Art and the Technology or Transcendence. In:
ASCOTT, Roy (ed.). Reframing consciousness. Exeter: Intellect Books.
CANEVACCI, Massimo.( 2009). Transculturalidade, interculturalidade e
sincretismo . Revista Concinnitas .10 Vol 1(14). Instituto de Artes da Universidade
do Estado do Rio de Janeiro.[acedido em 12 de Maro de 2012 em
106
107
Escola Secundria/3 Paos de Ferreira; Escola Superior de Educao; ID_CAI Colectivo de Aco e
Investigao em Educao Artstica; I2ADS_NEA Instituto de Investigao Arte e Design, Ncleo de
Educao Artstica.
DUNCUM, Paul (2010). Young Prosumers, Visual Culture, and Dialogic Pedagogy.
Webgrafia
InSEA; http://www.insea.org
APECV: http://www.apecv.org
Rede Ibero Americana de Educao Artstica: http://educacionartistica.org/riaea/
PALAVRAS-CHAVE:
Educao Artstica; Educao Visual e Tecnolgica; Currculo; Integrao.
A Educao Artstica est presente no Currculo Nacional do Ensino Bsico,
obrigatrio, em Portugal. Ao longo de trs ciclos, apresenta-se dividida e partilhada em
disciplinas que se distribuem por nove anos de escolaridade, cada uma com um
programa prprio de acordo com o nvel de ensino e com directivas e orientaes
comuns a todas as escolas do pas, traadas centralmente pelo Ministrio da Educao.
No 2 ciclo (5 e 6 ano), ao domnio da Educao Artstica junta-se a Educao
Tecnolgica, dividindo-se em duas disciplinas: a Educao Musical e a Educao
Visual e Tecnolgica (EVT).
O espao das Artes Visuais e Plsticas assim preenchido pela disciplina de EVT, que
trabalha com crianas situadas entre uma faixa etria que pode ir dos 9 aos 12 anos de
idade (num percurso sem retenes). A sua leccionao est a cargo de dois professores,
ou seja, em regime de par pedaggico, e a carga horria de 270 minutos semanais,
atribuda ao domnio da Educao Artstica e Tecnolgica, dividida de forma
autnoma em cada escola pelas disciplinas de EVT e Educao Musical, podendo esta
ser distribuda de forma igual ou, como acontece na maior parte dos casos, 180 minutos
para EVT e 90 minutos para Educao Musical.
A explicao para esta diviso da carga horria de forma diferenciada e do nmero de
professores que a leccionam est nas caractersticas prticas e experienciais da
disciplina e tambm no seu enquadramento histrico.
108
109
110
ainda acentuar-se de acordo com as opes da escola na distribuio dos blocos pelo
domnio da Educao Artstica e Tecnolgica, como descrevemos anteriormente.
Neste momento, e aps duas dcadas a fazer parte da estrutura curricular do 2 Ciclo do
Ensino Bsico, a disciplina de EVT continua a caracterizar-se pela sua viso integrada
dos aspectos visuais e tecnolgicos (DGEBS a.,1991).
Contudo e sem que nada o fizesse prever, o Ministrio Educao e Cincia (MEC),
prope (Dezembro de 2011), define (Maro de 2012) e decreta (Julho de 2012) a sua
eliminao do elenco curricular, substituindo-a pelas disciplinas de Educao Visual e
Educao Tecnolgica, cada uma com programa prprio e cada uma com um s
professor (DGIDC, 2011). Alteraes injustificadas e sem qualquer argumentao do
ponto de vista pedaggico, que desbaratam a ideia integradora da EVT e ignoram
pareceres de rgos importantes como o Conselho Nacional da Educao e Conselho
de Escolas. Alm de que o Ministrio se contradiz ao referir que a reviso agora
apresentada reduz a disperso curricular (ibidem), quando na verdade aumenta o
nmero de disciplinas.
A reduo da disperso curricular concretiza-se no reforo de disciplinas fundamentais,
tais como o Portugus, a Matemtica, a Histria, a Geografia, a Fsico Qumica e as
Cincias Naturais, na promoo do ensino do Ingls, que passar a ser obrigatrio por
um perodo de cinco anos. Adicionalmente, na rea das expresses reafirma-se um
reforo da identidade disciplinar.
Decreto-Lei n. 139/2012
O problema que se coloca efectivamente nesta reviso curricular, por entre alguns ecos
corporativos, o de questionar o modelo de educao que queremos seguir.
Numa recente conferncia de Fernando Hernandez no Porto, foi curiosa a aluso para
as diferenas entre o logtipo do The National Curriculum (Inglaterra) de 1999 e de
2008. No primeiro as diferentes disciplinas, representadas por diferentes cores, eram
pequenos quadrados separados uns dos outros. Na segunda as diferentes cores eram
linhas onduladas, que se cruzavam e entrelaavam, provenientes de um lugar comum e
dirigindo-se para um outro ponto de encontro. Esta mudana significa o rumo que o
currculo da escola em Inglaterra vem tomando e que demonstra uma viso integradora
entre as diferentes reas.
Read (1944) tambm dizia que o que est errado no nosso sistema educativo
precisamente o nosso hbito de estabelecer zonas separadas e fronteiras inviolveis; e o
sistema que proponho () tem por nico objectivo a integrao de todas as faculdades
biologicamente teis numa nica actividade orgnica (cit in Barret, 1979).
111
Por sua vez, o MEC caminha em sentido oposto. O excerto retirado no decreto-lei n.
139/2012 vinca por duas vezes a palavra reforo. A primeira num contexto que
hierarquiza saberes, como se houvesse saberes de primeira e saberes de segunda. A
segunda vez que a palavra utilizada para se referir ao reforo da identidade
disciplinar, como uma espcie de fechamento da disciplina em si mesma e em torno dos
seus saberes.
Na comunicao que apresentei em Abril no II Encontro Internacional sobre Educao,
questionei sobre o que se passou nestas ltimas duas dcadas que justifique esta
mudana curricular? Que mudanas se verificaram na sociedade, na escola, na educao
artstica, no saber profissional dos docentes?
Considero efectivamente que os ltimos vinte anos trouxeram para domnio da
Educao Artstica narrativas renovadas, algumas delas j introduzidas no currculo
atravs das Competncias Essenciais (CNEB, 2001). Refiro-me em particular s
perspectivas cognitivistas iniciadas por Efland, Parsons, Gardner entre outros. No
entanto, alm das j referidas dificuldades que este documento trouxe na organizao e
planificao do ensino-aprendizagem da disciplina de EVT, este Ministrio determina,
atravs de Despacho, que o Currculo Nacional do Ensino Bsico Competncias
Essenciais deixe de se constituir como documento orientador (um Despacho que saiu
inexplicavelmente a meio de um ano lectivo e com efeito imediato).
Em substituio das competncias essenciais so anunciadas Metas Curriculares e em
pouco mais de 5 meses percebemos que afinal no haver novos programas para a
Educao Visual e para a Educao Tecnolgica no 2 ciclo, mantendo-se em vigor o
programa de 1991 de Educao Visual e Tecnolgica, sendo este a referncia para as
Metas Curriculares. Ou seja, elimina-se a disciplina de EVT, criam-se duas novas
disciplinas orientadas pelo programa de EVT, sem que se renove ou actualize os
discursos da Educao Artstica e Tecnolgica.
Deste modo, sem compreender o rumo ou a estratgia para esta reviso da estrutura
curricular, somos obrigados a reconhecer o inconcebvel em qualquer estado
democrtico: que estas medidas em nada tm haver com melhorias na educao, mas
antes na reduo de custos para o Estado atravs da Educao. Com a separao da
disciplina de EVT, em EV e ET, e o desmantelamento do par pedaggico consegue-se
no imediato a reduo de 50% das necessidades em professores para esta rea, qual se
juntam outras medidas paralelamente anunciadas, como a criao dos designados megaagrupamentos e o aumento do nmero de alunos por turma.
Surgem assim duas preocupaes. A primeira ao nvel socioprofissional, com quase a
totalidade dos professores contratados durante os ltimos dez anos nesta rea a ficarem
fora do sistema, desaproveitando um investimento de mais de uma dcada na formao
inicial e habilitao profissional para a docncia. A segunda ao nvel da qualidade
educativa, dado que muitos professores, agora designados de carreira, ficam sem
componente lectiva, sendo mobilizados de acordo com as necessidades da escola, ou do
agrupamento, e no pelas habilitaes profissionais e acadmicas.
decises politicas, para que estas no estejam ao sabor das mudanas conjunturais
resultantes de ciclos polticos eleitorais.
Ao nvel da implementao das medidas, uma reforma no pode ser implementada
apenas pela publicao de legislao, pois os professores no alteram as suas prticas
simplesmente pelas alteraes de leis, decretos ou despachos. Impe-se um tempo de
dilogo e de discusso pblica, de estudos, de implementao monitorizada no terreno e
de avaliao. Qualquer reforma, reviso ou simples alterao em educao necessita do
entendimento dos seus agentes, neste caso em particular dos professores, que a deve
sentir como importante. preciso estar perto dos professores e fundamental uma
formao adequada sobre as alteraes a serem implementadas.
A este nvel penso ser essencial a participao do Ensino Superior, em particular os seus
Centros de Investigao em Educao, na formao dos professores, no s inicial, mas
sobretudo continuada.
Porque a educao faz-se das histrias dos professores, defendo um professor do Ensino
Bsico ou Secundrio que se implique nas investigaes, junto dos Centros de
Investigao, para que possa desenvolver estudos com nfase nas suas prticas lectivas,
partilhando-os atravs de publicaes e apresentaes pblicas.
Porm, para que isto acontea necessrio tambm que o Ensino Superior abandone o
pedestal acadmico e aproxime o seu discurso ao dos professores e s realidades da
profisso docente.
Num contexto em que cada vez mais se proclama a importncia e a necessidade de uma
Educao Artstica e Tecnolgica; aumentam os discursos para a criatividade; e se
declara como urgente o desenvolvimento de capacidades multidisciplinares nos
indivduos, parece-me um contra-senso qualquer politica educativa que no aposte
nestes eixos, e se afirme peremptoriamente apologista do reforo identitrio de
disciplinas e a hierarquizao de saberes.
Acredito que este no pode ser o caminho, e para que se mude necessrio uma
implicao social nestas questes, destacando o papel que devem ter todos os agentes
educativos desde professores, pais e alunos, mas tambm as instituies e professores
do Ensino Superior e dos ncleos de Investigao em Educao, que devem estender os
seus discursos para alm do domnio acadmico, assumindo um papel mais interventivo
nas discusses e decises politicas.
Considero que o modo como se gere, manipula e altera as questes educativas, pelo
menos em Portugal, necessita de ser estruturada, exigindo-se um modelo pensado e
discutido por todos os agentes educativos.
necessrio que ao nvel legislativo, a orientao deva ser clara, com programas
disciplinares sustentados em estudos e investigaes com amplo consenso social e
acadmico. por isso que defendo um papel reivindicativo e de implicao das
comunidades acadmicas e dos centros investigao no espao das discusses e
112
113
MUSEUSDEARTEEDESENVOLVIMENTODOPENSAMENTOCRITICOECRIATIVO
REFERNCIAS BIBLIOGRAFICAS
APEVT (2012). Posio pblica da Associao Nacional de Professores de Educao
Visual e Tecnolgica sobre a verso final de reviso da estrutura curricular. Porto. [online] acedido em 27 de Maro de 2012 em
http://www.apevt.pt/pdf/comunicado_APEVT_27_03_2012.pdf
InsFerreira
CmaraMunicipaldoPorto
Palavraschave:PensamentoCrtico;PensamentoCriativo;Museus.
Qualocontributodosmuseus,eespecificamentedosmuseusdearte,paraodesenvolvimentodas
Sumrio
capacidadesdepensamentocrticoecriativo?Qualaimportnciadessascapacidades,hoje?Podem
treinarse essas capacidades nos museus? Como? Este artigo apresenta um contexto terico para
NesteinciodosculoXXIodesenvolvimentotecnolgicoeaglobalizaocolocamnovosdesafios
pensarestasquestes,nombitodeumainvestigaoemcurso.
sociedadeeindivduo.Omodocomosetrabalhaeseviveestamudaraumritmomuitorpidoea
investigaomostraqueascapacidadesdepensarcrticaecriativamentesofundamentaisparaa
contextosuportaaimportnciadeinvestigarocontributodosmuseusparaodesenvolvimentode
adaptaomudanaeparalidarcomnovosdesafiospessoaiseprofissionais.Atransiodeuma
capacidadescrticasecriativas.
1 INTRODUO
No sculo XXI o desenvolvimento tecnolgico e a globalizao trouxeram transformaes
profundas que exigem do indivduo capacidades de pensamento crtico e criativo para se
adaptarmudana.Nesteartigopretendese:
2 PENSAMENTOCRTICOECRIATIVO
Hoje a sociedade enfrenta o desafio de preparar indivduos e organizaes para lidar com a
proliferaorpidadeinformao.Nosltimosanosassistiusetransiodeumaeconomia
baseada em bens para uma economia baseada em conhecimento, e sabemos que os
conhecimentos vlidos hoje estaro obsoletos em pouco tempo (TENREIROVIEIRA; VIEIRA,
114
115
2000,p.14)eoritmodamudanaexigecapacidadedeadaptao.Soaspessoascommais
numcontextolaboralnovo,emquenoconheceasferramentasesaberes,eporissonoser
criatividade e capacidade de adaptao que melhor lidam com este desafio de adaptao
conseguir ser criativa. A criatividade relacionase com a criao de novas ideias, produtos,
mudana,dopresente.
processosouinstrumentos,teis/aplicveis.Opensamentocriativonoimplicaacriaode
Nestasociedadeemcontnuamudana,aaprendizagemdelivreescolha,queoindivduofaz
porque quer, ocupa um lugar muito relevante (FALK, [et al.], 2011, p. 325). Aprender um
processoconstrutivo(HEIN,2011,p.346348),contnuoepessoal,quepodeaconteceraver
televiso,navegarnainternet,ouvisitarummuseu.Aglobalizaoestamudaromodocomo
setrabalhaesevive(LAU,2011,p.1),aaprendizagemdelivreescolhaocupacadavezmaisdo
nosso tempo, e o saber pensar crtica e criativamente, fundamental para enfrentar estas
algo,umaforaquepode/ounolevarcriatividade.Nocontextoqueaquiabordamos
museusopensamentocriativopoderlevaraummododeolharerelacionarcriativo,mas
no tem necessariamente de levar a um produto /ideia/ conceito. O pensamento criativo
precisadopensamentocrticoparaavaliar,selecionaredecidir,eopensamentocrticoprecisa
do criativo para encontrar respostas adequadas aos problemas, ou propor argumentos
alternativos.
mudanas.
2.1 CARACTERSTICASEAPLICAESDOPENSAMENTOCRTICOECRIATIVO
Pararesolverproblemasetomardecisesusamosopensamentocrtico,cujascaractersticas
soaracionalidade,reflexoeavaliao.Opensamentocrticoclaro,precisoesistemtico
segueasregrasdoraciocniolgicoecientfico.
Ilustrao2mapamentaldasideiaschaveconsideradasmaisrelevantesparaadefiniodecriatividade.
Omodocomopensamosafetaanossavidaatravsdasdecisesquetomamos.Umapessoa
melhor no que faz, se tiver boas capacidades de pensar (PAUL; ELDER, 2002). Valorizamse
hoje capacidades do pensamento crtico e criativo, no entanto continua a haver uma
dissonncia entre o mercado de trabalho, que valoriza pessoas criativas, e o ensino, que
promovemaisaaquisiodeconhecimentosdoquedecompetncias,novalorizandoosaber
pensar(ROBINSON,2011(1sted.2001)).
Ilustrao1mapamentaldasideiaschaveconsideradasmaisrelevantesparaadefiniodepensamentocrtico.
Opensamentocriativoumadascomponentesdacriatividade,juntamentecomamotivao
326). Na medicina, por exemplo, cada vez mais todos os intervenientes mdicos, doentes,
eoconhecimento.Umapessoapodeterumpensamentocriativobemdesenvolvidomasestar
decisoressochamadosaintervir.Asdecisespassaramaserpartilhadascomosdoentes.
profundamentedesmotivada,porexemplo,nocontextolaboral,eporissonosercriativano
trabalho. Pode ainda ter um forte pensamento criativo mas estar a dar os primeiros passos
116
117
exemplo(HOOPERGREENHILL,2007p.7680).
potencieascapacidadesdepensamentocrticoecriativodosseusvisitantes/participantes.
4 PENSAMENTOCRTICOECRIATIVOCONTRIBUTODOSMUSEUS
Omuseuumespaodeconstruodeconhecimentoedeaprendizagemdelivreescolha,e
os visitantes so intrpretes e performers de prticas de construo de significados. A
aplicao dos princpios do pensamento crtico e criativo aos museus pode ocorrer a vrios
3 MUSEUSNOSCULOXXI
nveis,semprecombasenoquestionamento.
Vivemsehojemudanasqueafetamtodos,incluindoosmuseus.Oconhecimentooproduto
mais transacionado na economia atual, e os museus so produtores de conhecimento. A
importncia da aprendizagem de livre escolha aumenta (FALK, [et al.], 2011, p. 324), e os
museus so locais de aprendizagem de livre escolha. Os cidados so chamados a ser
interventivos, e os visitantes dos museus so chamados a participar nas decises. neste
contextoqueomuseuhojeprocuraredefinirse.
Hnarealidade,umadissonnciaentreoqueomuseupodesereoqueomuseu.Apesar
dasideiasconstrutivistascircularemnoscrculosacadmicosemuseolgicoshalgumtempo,
h profissionais que operam de modo pouco crtico ou acrtico sem questionar como nem
porque,nemese,partindodoprincpiodequetodososvisitantestmamesmaexperinciae
aprendem o mesmo. A aprendizagem um processo contextual e pessoal, articulado com a
experincia,interessesemotivaopessoal;nossobreoqueomuseuquerensinar,mas
acerca do significado que o visitante escolhe dar s suas experincias vai alm dos ganhos
cognitivos.Umdosmaioresdesafiosqueosmuseusenfrentamhojeodesevoltaremparaos
visitantes, que deixaram de ser uma massa indiferenciada para se tornarem intrpretes e
performersdeprticasdeconstruodesignificados(HOOPERGREENHILL,2011,p.362).Esta
mudanapropeumanegociaodosignificado.Historicamente,osmuseusbasearamseno
modelo de uma experincia para todos os visitantes. Falk et al. propem que os museus se
adaptemsnecessidadeseinteressesnicosdosindivduos(FALK,[etal.],2011),oqueaponta
paraopapeldovisitanteenquantoautoreintrpretedesignificados.
4.1 OBJETOSQUEQUESTIONAM
Os objetos dos museus estimulam a mente e a imaginao, so um recurso rico para
experincias porque contam histrias, contm variedade de informao e significado e
pensamento crtico e criativo a partir de objetos colocando questes de fim aberto, que
(HOOPERGREENHILL,2007,p.8182)
fluentecriamuitasideias,oflexvelcriaumagrandediversidadedeideias,ooriginalcriaideias
originaiseoelaborativocriaideiascomumgrandedetalhe.Partirdeumaobradeartepara
um exerccio de divergncia exige que se avalie, selecione, organize ideias pensamento
4
118
119
crticoecriativoagememinterrelao.Nummuseu,levantarquestesapartirdeumaobra
pode introduzir uma boa estrutura de organizao e anlise levantar questes leva ao
crtico.
envolvimentocomaobra.Seantesdesteenvolvimentopessoalovisitanteforbombardeado
cominformaosobreaobra,oartista,osconceitosestticosassociados,terdificuldadeem
5 CONCLUSES
essainformaodeummodocrtico.
antesnointervinham,reforamaimportnciaqueosaberpensarternofuturo.Aoserem
chamadas a intervir na tomada de decises e interpretao das peas, comunidades e
indivduosteronecessidadedeusarcapacidadesdepensamentocrticoecriativo.
4.2 EXPOSIESQUEESTIMULAM
As exposies podem estimular os interesses individuais porque apresentam objetos de
muitos pontos de vista qualidades estticas, significado histrico, impacto econmico, por
exemplo. Mesmo em exposies direcionadas, os visitantes so livres de responder ao que
captaaatenodosseusolhos,envolvendoamentesemfimpredeterminado(GARTENHAUS,
1997, p. 4445). Numa exposio o mais importante exercitar o pensamento e no ganhar
RefernciasBibliogrficas
Falk, John H.; Dierking, Lynn D.; Adams, Marianna Living in a Learning Society: Museums and Free
choiceLearning.InMacdonald,SharonACompaniontoMuseumStudiesWileyBlackwell,2011.ISBN
9781444334050.p.323339.
Gartenhaus, Alan Minds in Motion Using Museums to Expand Creative Thinking. expanded Third
edition.SanFrancisco,California,USA:CaddoGapPress,1997.ISBN1880192217.
4.3 EDUCADORESQUEPROVOCAM
Hein,GeorgeE.MuseumEducation.InMacdonald,SharonACompaniontoMuseumStudiesWiley
Blackwell,2011.ISBN9781444334050.p.323339.
Colocarquestespodeserumaestratgiaparaumeducadorpromoveropensamentocrticoe
criativo.Deacordocomateoriaconstrutivistadaaprendizagemtodososvisitantesobservam,
pensam e decidem diferentemente, quando veem a mesma obra num museu, mas o
pensamentocrticopodeserencorajadooudesencorajadopelomodocomooorientadordo
grupo atua. Se no tiver humor, fizer juzos de valor sobre as respostas dadas, valorizar
respostascertas,podeinibiropensamentocrticoecriativo.Seevitarjulgamentos,foraberto
ao novo das respostas, tiver humor, agir como facilitador, der tempo ao participante para
pensar,refletir,encorajaopensamentocrticoecriativo.(GARTENHAUS,1997,p.40,41)
4.4 PROGRAMASQUEEXERCITAMOPENSAMENTODIVERGENTE
Weil, Stephen The Museum and the Public. In Watson, Sheila Museums and their communities.
LondonandNewYork:Routledge,2007.ISBN9780415402606.
120
121
explicaes sobre valores e significados num meio social. A preocupao, nesse tipo de
pesquisa, centra-se em levantar todos os elementos que possam contribuir para a
compreenso e explicao do que se est investigando e, nesse processo, as
Tambm revelou a carncia que os setores educativos dos Museus possuem quanto ao
agindo num processo de escuta ativa: Entrevista, grupo focal e sistematizao dos
saberes na dissertao.
1
2
A
pesquisa
completa
encontra-se
disponvel
para
consulta
http://community.univille.edu.br/mestradopcs/producoes/dissertacoes-mpcs/dissertacoes2011/index/337118?id=337118&nocache=1&preview=1
122
Museu Guido Viaro uma instituio particular que abriga as obras do pintor Guido Viaro.
em:
girou em torno de que, por um lado, a demanda de visitas da pequena infncia dos
123
visita das crianas pequenas ao Museu foram levantadas e discutidas num movimento
de interao entre os participantes, onde todos tiveram vez e voz. Questes como, quem
instituio.
discusses entre sujeitos interessados pela temtica Mediao Cultural para a Pequena
do ldico.
originalmente proposta pelo socilogo estadunidense Robert King Merton (1910 - 2003)
com a finalidade de obter respostas de grupos, a textos, filmes e questes.
A finalidade principal dessa modalidade de pesquisa extrair das atitudes e
Consideraes finais
Museu e da pequena Infncia foi o de obter saberes sobre a prtica de visitas a museus
tcnica de grupo focal, pois um projeto educativo no poderia ser construdo por um
olhar apenas, do pesquisador, ou do Museu, ou do professor, mas sim por esses vrios
Solar do Baro um espao cultural que abriga o Museu da Fotografia, o Museu do Cartaz, o Museu da
Gravura, o Centro de Pesquisa Guido Viaro, atelis de gravura, litogravura e serigrafia, alm da Gibiteca.
124
olhares compartilhados.
A pesquisa interveno contribuiu na abertura de espao para que o dilogo
entre os profissionais que atuam no Museu e os profissionais que atuam com as crianas
125
nos CMEIs, mediados por mim, enquanto pesquisadora, pudesse acontecer. Essa
Manuel Gama
Gama, M. (2)
Resumo
Com o objectivo de avaliar o papel que as escolas de ensino artstico especializado na rea do
FLICK, U. Uma introduo pesquisa qualitativa. Trad. Sandra Netz. 2 ed. Porto
Alegre: Bookman, 2004.
teatro tm na criao, formao e manuteno de novos pblicos para a cultura, foi estruturado um
Porto. Na 1 fase foi efetuado um estudo transversal no qual participaram 75% dos alunos que em
estudo qualitativo a ser desenvolvido, em duas fases, em dois estabelecimentos de ensino da cidade do
outubro de 2010 estavam inscritos nos cursos de Teatro da Academia Contempornea do Espectculo
(ACE) e da Escola Superior de Msica e Artes do Espectculo do Instituto Politcnico do Porto
(ESMAE). Na 2 fase vai efetuar-se um estudo longitudinal at junho de 2013 com os alunos que, no
ano letivo 2010/2011, estavam inscritos no 1 ano de formao.
A 1 tentativa de procura de respostas s perguntas que foram colocadas no incio da investigao
permite reforar a ideia de que as escolas de ensino artstico especializado na rea de teatro podem ter
um papel importantssimo na criao, formao e manuteno de novos pblicos para a cultura. No
entanto tambm permite constatar que, nas escolas que foram objecto deste estudo, o trabalho
desenvolvido, neste campo especfico, fica aqum do expectvel e do potencial dos envolvidos.
O presente artigo tem por objetivo apresentar sinteticamente os resultados da 1 fase do estudo
desenvolvido no mbito do Mestrado em Educao Artstica do Instituto Politcnico de Viana do
Castelo.
Palavras-chave da investigao: polticas culturais, formao de pblicos, pblicos da cultura,
prticas culturais, ensino artstico e formao em teatro.
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Bolseiro da FCT no Centro de Estudos de Comunicao e Sociedade do Instituto de Cincias Sociais da Universidade
do Minho, assistente convidado do Instituto Politcnico de Viana do Castelo - [email protected].
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Formao em Teatro e Formao de Pblicos foi o ttulo que pareceu mais adequado para nomear um
estudo que tem como objectivo avaliar o papel que as escolas de ensino artstico especializado na rea
do teatro tm na criao, formao e manuteno de novos pblicos para a cultura.
Manuel Gama
objectivo de desenvolver competncias nos alunos para a criao de aces de sensibilizao de novos
pblicos para a cultura.
Na apresentao e discusso dos resultados da 1 fase, que ocorreu em fevereiro de 2011, optou-se
A pertinncia da investigao foi fundamentada com o recurso a diversos autores, entre os quais se
por dar especial ateno aos dados obtidos pela anlise dos questionrios, pois verificou-se que davam
salientam: Augusto Santos Silva (in Gomes, 2004) que sublinha que a manuteno e formao de novos
indicadores muito importantes para as respostas s questes de investigao. Assim, os dados referentes
pblicos deve ser um trabalho continuado, que promova a aproximao s artes pela experimentao
anlise dos outros documentos foram utilizados, essencialmente, para reforar, sublinhar ou encontrar
expressiva e que faa uma articulao entre diferentes instituies pblicas e privadas, ligadas ao ensino,
cultura e ao associativismo; Rui Telmo Gomes (in Santos & Pais, 2010) que considera que o trabalho de
sensibilizao e formao de pblicos tem que passar, tambm, pela qualificao da formao dos
profissionais que o implementam; Maria de Lourdes Lima dos Santos (in Santos & Pais, 2010) que salienta
que nos ltimos anos se tem observado um aumento na procura cultural, mas que este no generalizado,
nem em termos de grupos sociais nem em termos de diversidade do consumo, e que, apesar do aumento
da escolaridade, a procura de prticas mais exigentes ainda no acompanhada pelo aumento da oferta; e
Rosa & Chitas (2010) que relembram que, apesar do nmero de espectadores de teatro ter triplicado entre
Em dezembro de 2013, vo ser apresentadas as concluses finais do estudo que vo conter uma
anlise comparativa entre os resultados das duas fases da investigao e um diagnstico do impacto que
as sugestes apresentadas no final da 1 fase tiveram na ao das escolas e nas prticas culturais dos
alunos.
2000 e 2008, a verdade que os ndices de afluncia a este tipo de espectculos eram to baixos que s
em 2002 que atingiram um valor igual ao nmero de espectadores que existia em 1960.
A investigao est a ser realizada no Porto por ser o concelho do territrio nacional que concentra o
maior nmero de escolas de ensino artstico especializado na rea do Teatro. A ACE e a ESMAE foram os
dois estabelecimentos de ensino selecionados para a investigao por serem de nveis diferentes de
formao e por, no incio do ano lectivo 2010/2011, serem as que, na regio, tinha mais alunos inscritos nos
cursos de Teatro.
Em termos metodolgicos, esta uma investigao qualitativa que segue um modelo no-experimental
descritivo e que vai acontecer em duas fases. Na 1 foi um estudo transversal no qual participaram 75% dos
alunos que, em outubro de 2010, estavam inscritos nos cursos de Teatro das duas escolas e na 2 fase vai
efetuar-se um estudo longitudinal at junho de 2013 com os alunos que, no ano letivo 2010/2011, estavam
inscritos no 1 ano de formao.
A amostragem dos alunos participantes no estudo foi no-probabilstica. Refira-se que, apesar de no
ser objectivo da investigao a generalizao dos resultados, a verdade que houve a preocupao de
tentar obter o mximo de participao possvel por parte dos alunos dos dois estabelecimentos de ensino,
tentando que todos os cursos/variantes e anos de frequncia estivessem representados.
O mtodo que se est a utilizar a anlise de documentos centrada no problema: planos curriculares e
programas das disciplinas dos cursos em estudo, questionrios aplicados aos alunos e textos relacionados
com o tpico em estudo.
1. Ser que os alunos dos cursos de teatro se sentem impulsionados pelos docentes a
participar, enquanto pblico, na vida cultural da cidade/regio onde esto inseridos?
Os resultados obtidos pela anlise das respostas ao questionrio implementado em outubro de 2010
so claros e mostram que a maioria dos alunos da ACE e da ESMAE se sente impulsionada pelos
professores a participar na vida cultural da cidade/regio.
importante, no entanto, sublinhar que o facto de os alunos se sentirem estimulados para se
envolverem na vida cultural no sinnimo de que o incentivo que lhes dado seja o mais adequado.
Tendo em considerao as respostas obtidas, as propostas dos docentes centram-se muito na rea de
formao da escola sem terem uma particular ateno s prticas culturais dos prprios alunos e , cada
vez maior, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade das reas artsticas.
Sublinha-se que na pergunta do questionrio que originou esta concluso s era pedido aos alunos que
O questionrio, que est a ser o instrumento de recolha de dados privilegiado, foi criado de raiz e
referissem os trs tipos de eventos culturais mais frequentemente includos nas propostas apresentadas
pelos docentes para a participao dos alunos na vida cultural da cidade/regio. Assim, poderia ser
invocado que o facto de um tipo de evento no ser mencionado pelos alunos nos trs primeiros lugares no
estabelecimento de ensino; e a 4 dedicada s prticas culturais dos alunos. Para a recolha dos dados
ser sinnimo de esse ser um evento pouco proposto pelos docentes. No entanto, reala-se que as
referentes anlise do contedo dos planos curriculares e programas das disciplinas foi criada uma grelha
disparidades entre o nmero total de respostas dos diferentes eventos mencionados pelos alunos, leva a
contendo duas unidades de anlise. A 1 para detectar nos documentos observados referncias explcitas
crer que as propostas dos docentes so realmente desequilibradas e pouco diversificadas, centrando-se
nos espectculos de teatro, nas sesses de cinema e nos eventos no estabelecimento de ensino.
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Manuel Gama
Sobre o papel que as escolas deveriam desempenhar no desenvolvimento das prticas culturais dos
importante salientar que a 1 fase do estudo foi transversal, o que faz com que, eventualmente, as
seus alunos importante relembrar o perfil que Santos nomeou de tipo cultivado de prticas culturais de
diferenas diagnosticadas entre as prticas culturais dos alunos do 1 ano e as dos alunos do 3 ano
sada e que poder ajudar a perceber o conceito de prticas equilibradas e diversificadas. Para a autora,
possam no estar completamente relacionadas com a frequncia da escola. Tanto mais que quando se
este grupo que integra os pblicos da cultura caracteriza-se por em primeiro lugar ir a museus, visitar
abordam questes ligadas s prticas culturais necessrio ter tambm em linha de conta aspectos como
em terceiro lugar ir a concertos de msica erudita/clssica e em quarto lugar ir a bibliotecas, ler livros e ir a
como as duas escolas esto sedeadas no Porto, a oferta cultural ao dispor dos alunos a mesma. No que
Convm ainda no esquecer que Garcia considera que a emisso das polticas culturais no est
circunscrita esfera das administraes central e local, logo as escolas, e neste caso as escolas de
formao artstica especializada, tambm tm uma funo a cumprir, sendo indispensvel a visibilidade
acerca das suas orientaes, das suas estratgias e das suas prticas (in Santos & Pais, 2010: 222).
Assim sendo, o papel que as escolas deveriam desempenhar no desenvolvimento das prticas culturais
dos seus alunos poderia reger-se, por exemplo, pelos cinco desafios que Silva (2007) lana aos
responsveis pela definio das polticas culturais autrquicas, ou seja, as propostas culturais dos docentes
para os seus alunos deveriam apostar na diversidade, na actualidade, na dimenso e na continuidade, mas
tambm na capacidade de medir o impacto dessa mesma aco.
2. Que tipo de actividades que as escolas de teatro promovem para o desenvolvimento das
prticas culturais dos seus alunos?
Apesar de o desenvolvimento das prticas culturais ser um trabalho implcito e transversal na formao
de qualquer artista, a verdade que na anlise que foi feita aos programas das disciplinas ou fichas das
unidades curriculares dos cursos no foi encontrada qualquer referncia que permitisse concluir que
houvesse alguma cujos objectivos especficos e competncias a desenvolver estivessem directamente
relacionadas com o incremento das prticas culturais dos alunos. Tendo em considerao as respostas
mais dadas nas duas escolas espectculos de teatro, sesses de cinema e eventos no estabelecimento
de ensino constata-se que as propostas dos docentes com este objectivo especfico se centram muito na
proposta de eventos culturais como actividades extracurriculares e que as propostas so desequilibradas e
pouco diversificadas pois so essencialmente na rea de formao da escola e no tm uma particular
ateno o ano e curso de frequncia, nem as prticas culturais que os alunos tm.
3. Quais as diferenas entre as prticas culturais dos alunos no 1 ano e os alunos do ltimo
ano dos cursos de teatro?
No cmputo geral, os hbitos culturais dos alunos dos dois estabelecimentos de ensino analisados so
muito semelhantes em praticamente todas as prticas culturais objecto de estudo. Os alunos tm consumos
concerne s experincias anteriores no mbito da educao artstica os alunos da ESMAE frequentaramnas mais, mas, em contrapartida, so os alunos da ACE que actualmente tm mais prticas artsticas
amadoras.
4. Ser que os alunos dos cursos de teatro so motivados para desenvolver no futuro,
enquanto artistas, actividades que contribuam para a criao, formao e manuteno de
novos pblicos para a cultura?
Os resultados obtidos no deixam margem para dvidas e mostram que a maioria dos alunos considera
que as escolas os motivam de forma muito positiva para que no futuro, enquanto artistas, venham a
desenvolver actividades que contribuam para a criao, formao e manuteno de novos pblicos para a
cultura. Saliente-se que esta sensibilizao deve estar a ser feita de forma tcita, pois nos programas das
disciplinas ou fichas das unidades curriculares no figura nenhum contedo programtico especfico para o
desenvolvimento dessa competncia nos alunos.
Refira-se ainda que, tendo em considerao as suas prticas culturais, dificilmente os alunos da ACE e
da ESMAE tero a capacidade de se tornar no que Bourdieu apelidou de novos intermedirios culturais
(Joo Teixeira Lopes in Gomes, 2004: 46). Apesar de serem jovens e escolarizados, a verdade que estes
alunos no detm um capital cultural consolidado (Ibidem: 46) que lhes permita ser um pblico habitual
das diferentes formas de expresso artstica e muito menos um pblico cultivado, que, como j foi referido,
se caracteriza por integrar no seu consumo cultural um conjunto diversificado de prticas culturais de sada
e ainda a leitura de livros (Santos, 2007). Assim sendo, se no houver uma alterao nas suas prticas
culturais, estes futuros artistas provavelmente no conseguiro exercer convenientemente a funo de
mediadores culturais pois esta baseia-se no princpio de que existe uma srie de clivagens de tipo cultural
(Ginzburg, 1981: 131) que s podem ser colmatadas atravs um papel activo, muitas vezes comparvel a
um filtro (Ibid.), cujos objectivos principais consistem em atenuar os dfices na procura das diferentes
formas de expresso artstica e reforar as prticas culturais dos envolvidos.
desequilibrados e pouco diversificados, com a Internet e os espectculos de teatro a serem, nos dois grupos
de prticas estudadas, os dois hbitos mais frequentes. Saliente-se que os hbitos de leitura constituem a
mais significativa das diferenas, com os alunos da ACE a lerem bastante mais que os da ESMAE. Na ACE,
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As escolas de ensino artstico especializado na rea do teatro podem ter um papel importantssimo na
criao, formao e manuteno de novos pblicos para cultura, no entanto, os resultados da 1 fase da
investigao, permite chegar concluso que a aco da ACE e da ESMAE, neste campo especfico, fica
muito aqum do expectvel e do potencial dos envolvidos.
Assim, seguem algumas sugestes que poderiam, sem grande esforo ser implementadas nas escolas
Manuel Gama
BIBLIOGRAFIA
BROOK, Peter (1993), O diabo o aborrecimento, Porto, Edies Asa.
GINZBURG, Carlo (1981), A Micro-histria e outros ensaios, Lisboa, Difel.
GOMES, Rui Temo (coord.) (2004), Os Pblicos da cultura, Lisboa, Observatrio das Actividades
Culturais.
de teatro com o objectivo de promover uma ponte mais estreita entre a Formao em Teatro e a Formao
ROSA, Maria Joo Valente & CHITAS Paulo (2010), Portugal: os Nmeros, Lisboa, Relgio D gua
de Pblicos:
Editores.
SANTOS, Maria de Lourdes Lima dos & PAIS, Jos Machado (org.) (2010), Novos trilhos culturais:
sobre as prticas culturais dos alunos atravs de um questionrio que seria repetido a meio do 2
ano de formao e no final do curso. Por um lado, isto permitiria saber a real influencia que a escola
SANTOS, Maria de Lourdes Lima dos (coord.) (2007), A Leitura em Portugal, Lisboa, Gabinete de
tem na evoluo dos hbitos culturais dos seus alunos, tornando possvel medir efectivamente e
objectivamente a diferena entre as prticas dos alunos no incio do curso e no fim do curso. Mas
SILVA, Augusto Santos (2007, Maio), Como abordar as polticas culturais autrquicas?, Sociologia,
por outro lado, e sobretudo, permitiria traar um plano de actividades adequado ao pblico a que se
destina e que poderia ir sendo adaptado em funo dos resultados que a sua implementao fosse
originando.
2. As propostas de prticas culturais efectuadas pelos docentes ao longo dos anos de formao
deveriam contribuir para que, quando sassem da escola, os alunos tivessem hbitos culturais
equilibrados e diversificados.
3. O carcter extracurricular que tem grande parte do trabalho que as escolas promovem com o
objectivo de contribuir para o desenvolvimento das prticas culturais dos alunos deveria ser
acompanhado por um trabalho que, sem perder a transversalidade, poderia estar centralizado numa
disciplina ou unidade curricular que permitisse no s o desenvolvimento do sentido esttico, crtico
e argumentativo dos futuros artistas, mas tambm a criao de pblicos com uma viso mais
abrangente do prprio conceito de cultura e arte. Sobre o trabalho extracurricular, refira-se ainda
que se julga que ele deveria continuar a ser desenvolvido, mas de forma concertada num nico
projecto que poderia ser nomeado, por exemplo, de Comunidade de Espectadores, que poderia
funcionar com um espao de partilha e debate em torno das prticas culturais da comunidade
escolar.
4. Ao longo da formao deveriam ser integrados no programa de, pelo menos, uma disciplina ou
unidade curricular, contedos programticos especficos que, de forma explicita, alertassem e
sensibilizassem os alunos para a importncia dos artistas desenvolverem actividades no mbito da
criao, formao e manuteno de novos pblicos para a cultura. Desta forma, sublinhar-se-ia a
importncia da relao entre os artistas e os fruidores das suas obras.
A terminar, salienta-se que as sugestes apresentadas se situam ao nvel da grande generalidade, mas
que podero ser contributos importantes se articuladas e integradas num programa mais abrangente
baseado no vasto manancial, j avaliado e validado, de experincias emancipadoras levadas a cabo dentro
do paradigma da democratizao cultural (Joo Teixeira Lopes in Santos & Pais, 2010).
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A UFG oferece atualmente seis (06) cursos de graduao, na modalidade a distncia: Administrao
de Empresas, Artes Cnicas, Artes Visuais, Cincias Biolgicas, Educao Fsica e Fsica e os seguintes
cursos de especializao: Educao para Diversidade e Cidadania, Gesto Escolar, Metodologia do
Ensino Fundamental e Tecnologias Aplicadas ao Ensino de Biologia.
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material que por sua vez, ir passar pelo processo colaborativo de construo
descrito no ponto anterior. So muitos o exemplos que podemos trazer
dificultando a escolha, o professor Fbio Rodrigues (URCA) compartilhou
conosco da sua tese defendida em Sevilha nos produzindo um texto sobre
Didtica e Ensino das Artes Visuais, a profa. Analice Pillar Dutra (UFRGS)
sobre Leitura de Imagens, a profa. Ana Mae Barbosa(USP), sobre.....a profa.
Irene Tourinho (UFG) sobre Cultura e Currculo, texto elaborado a partir das
suas aulas no presencial, o prof. Raimundo Martins (UFG) sobre Cultura Visual
tambem com base nas suas aulas do curso presencial, eu mesma pude
sistematizar e propor as disciplinas de Estgio Curricular (I, II e III) a partir das
aulas presenciais e das reflexes realizadas em diversos eventos, a profa.
Rogria Eller (UFG) escreveu tambm para uma disciplina de estgio um
material a partir da sua dissertao de mestrado em que investiga
representaes de identidades juvenis no espao do orkut.
ponto 3 - circulao da produo do conhecimento
A circulao do conhecimento que est sendo produzido pode ser
exemplificado pelas constantes trocas de textos publicados que tem acontecido
entre vrias universidades que oferecem o curso de Licenciatura em Artes
Visuais na modalidade a distncia. O material de Estgio escrito por mim e pelo
prof. Ronaldo Oliveira (Universidade Estadual de Londrina) foi compartilhado
com as universidades de Braslia (UnB), do Maranho (UFMA), de Montes
Claros (Unimontes) e ainda com a Universidade Federal do Espirto Santo
(UFES) onde aos autores inciais (Leda e Ronaldo ) se somaram mais outras
duas autoras (Moema Rebouas e Letcia Mesquita). Quatro autores que "tm
como pressuposto a mesma concepo de estgio, ou seja, uma prtica de
pesquisa dentro da dimenso cultural." (UFES, 2011). Para os autores, a
disciplina Estgio a oportunidade do estudante aprofundar os seus estudos,
participar do cotidiano escolar e se preparar para as vrias intervenes nos
espaos educativos durante a sua carreira profissional.
O material de Antropologia da arte e da imagem escrito pela professora Miriam
Costa Manso (UFG) incialmente produzido para nosso curso da UFg foi
compartilhado com as mesmas universidades citadas acima. Ou seja,
procuramos no s tirar a produo do conhecimento das gavetas e dos
armrios acadmicos, mas ativar esta produo fazendo circular de forma viva
e significativa pois est reverberando na construo do conhecimentos de
novos professores de artes visuais espalhados em diversos locais do Brasil,
que outro ponto que irei abordar mais adiante.
Ponto 4 - Sistematizao do conhecimento em eventos cientficos
O terceiro aspecto que muitos atores desse processo (professores, tutores e
alunos) esto produzindo novas reflexes a partir de suas vivncias nos cursos
por meio da participao principalmente em eventos da rea. Se formos
mapear os eventos de arte/educao (juntos ou separados) dos ltimos cinco
anos veremos uma crescente participao de comunicaes e relatos de
experincias que abordam a formao de professores em artes visuais em
cursos na modalidade a distncia discutindo vrios aspectos: uso de
ferramentas, concepes de educao, estgios, prticas de atelier, uso de
portiflios, etc. Um exemplo mais pontual o do Seminrio de Estgio
"Mapeando e Cartografando Experincias Docentes" (edies 2011, 2012) que
o nosso curso realiza no qual os alunos apresentam comunicaes sobre a
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prtica pedaggica gerando assim uma reflexo intrseca e situada a partir das
suas prprias experincias que ao serem expostas, passam pelo escrutnio do
exerccio acadmico.
ponto 5 - Processos de mediao: saberes e aprendizagens em processo.
O ensino aprendizagem na educao a distncia passa necessariamente por
processos colaborativos. Neste ponto quero enfatizar as relaes de mediao
entre professores, tutores e alunos para mostrar como a posio entre estes
atores pode mudar de acordo com os tpicos abordados e as iniciativas de
investigao de fontes de consultas. Essa umas das aprendizagens mais
fortes que tenho vivenciado nos fruns de discusso propostos nas diversas
disciplinas. Coloca-se um tema gerador, uma questo ou uma proposta de
atividade para os alunos. Vrias coisas podem acontecer: alguns alunos no
entendem e pedem mais explicaes, nem sempre o professor que trs a
elucidao, pode ser o tutor ou como muitas vezes acontece, outros alunos
socorrem os colegas com explicaes detalhadas das proposies. Consultas
na internet, exemplos pessoais, experincias de outros cursos trazem mais
dados para os debates deslocando muitas vezes as figuras do professor e tutor
com condutores da ao pedaggica. Esse compartilhamento exige mais dos
professores mediadores, pois precisam estar atentos ao ritmo, ao foco, para
que a discusso no caia em "achismos" , que sejam fundamentadas, que as
leituras ocorram, percebendo quando h mudanas de posturas em relao a
uma determinada questo.
ponto 6- migraes/intercmbios de migrantes e nativos tecnolgicos
A dissipao de fronteiras entre indivduos mais velhos (migrantes digitais) que
entram no universo digital pode ajudar no convvio e compreenso de
indivduos mais novos (geralmente alunos) que sao nativos digitais (LEVY,
2008). No nosso caso, em geral os professores (como eu) so migrantes,
nossos tutores so nativos e nossos alunos na sua maioria tambm so
migrantes, mas, se projetarmos a atuao destes em sala de aula, estes sero
os migrantes em contato com os nativos (alunos). Este deslocamento de
posies pode ajudar a dissipar fronteiras muito frequentes no contexto escolar
onde as tecnologias de mveis como o celular, so expulsas da sala de aula e
o computador, uma novidade forada pelas polticas educacionais, foca
esquecido a parte ou usado como hora de recreao.
Os professores formados por meios das tecnologia tero enfrentado
dificuldades mas tambm foram desafiados a usar as tecnologias como
ferramentas, e mais, percebendo as tecnologias como parte de determinadas
culturas juvenis. As mdias eletrnicas so agenciadoras de informaes e
saberes que vo muito alm dos currculos escolares. Nesse sentido, surgem,
a cada dia, hibridizaes de conceitos que tentam nos situar nessa fluidez da
vida digital: Second Life, midiarte, CreativeCommons, capitalismo cognitivo,
economia ps-Google, interterritorialidade, transterritorialidade, etc. O carter
interativo das redes tambm propicia a busca e troca de informaes,
principalmente, por intermdio das imagens, alm de problematizar o
tradicional conceito de autoria, pois o conceito de autor se combina com o
conceito de interpretao porque cada vez que se interpreta uma imagem est
sendo construda uma forma de autoria (MARTINS, 2006: 73). O acesso ao
conhecimento via sites de busca, cinema, televiso, computador, internet,
celular e mp3 (ou 4, 5, 6, etc...), descentralizam e desestabilizam a figura e a
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REFERNCIAS
BARBOSA, A. M. Tpicos Utpicos. Belo Horizonte:C/Arte, 1998.
BELINTANE, C. Por uma ambincia de formao contnua de professores.
Cadernos de Pesquisa. no.117 So Paulo Nov. 2002.
BELLONI, M. L. Educao distncia. 2 edio. Campinas, SP: Autores
Associados, 2001.
GERALDI, C. M.G., FIORENTI, Dario, PEREIRA, Elisabete M. de A. (Orgs.)
Cartografias do Trabalho Docente-Professor(a)-pesquisador(a). Campinas,
So Paulo: Mercado das Letras. 1998.(Coleo Leituras do Brasil).
Estive na equipe que deu incio ao curso,comeando com a elaborao de projeto curricular e do
material pedaggico, passando pela construo dos polos de apoio presencial em vrias cidades e na
coordenao pedaggico-administrativa de 2007 a 2011. Atualmente continuo trabalhando como
professora formadora na equipe pedaggica.
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Abstract
Este texto o resultado de uma reflexo em aco e sobre uma aco, propondo pensar
a unio simbitica entre o professor-artista e a noo de estdio expandido.
Podemos enquadrar este tema cruzando o tem do sido escrito sobre o conceito de professorartista (Daichendt, 2010) desde o campo particular da arte, com a investigao e
desmistificao em torno do conceito de estdio como um espao isolado para a produo
artstica. Ora o estdio, metaforicamente pensado como pastilha elstica, desenha atravs de si
um movimento ruminante, auto-reflexivo, ao mesmo tempo que prope uma viso elstica e
expandida do conceito de estdio, muito prxima do que Krauss (1972) denominou para o
campo da escultura. transportando o pensamento do estdio, do local do artista, para a sala
de aula, que este artigo prope pensar os espaos de cruzamento do estdio artstico com as
prticas desenvolvidas pelo professor-artista. Este entendimento do estdio como um campo
expandido pe em causa o espao modernista de criao individual e isolada do autor como
criador. Ento, como se podem entender os limites deste esbatimento? Que possibilidades se
abrem? Que perigos se escondem por detrs destes pressupostos?
Palavras-chave: professor-artista, investigao/aco, estdio, autor, campo expandido.
* Este texto uma reescrita do artigo, com o mesmo nome, apresentado no II Encontro Internacional sobre Educao Artstica (2EI_EA),
realizado na cidade do Porto, nos dias 2,3,e 4 de Abril de 2012, na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto.
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Antecmara da reescrita
abrem a esta investigao? Como tentar no objetivar o subjetivo e ao mesmo tempo ser
movimento que se gera o equivalente ao desdobrar de uma folha. Abrir uma pasta, outra
passvel de ser considerado produo cientfica? Como transformar isto em discurso? Penso
pasta, seguir um caminho em raiz at ao artigo. Ento abro-o e um movimento duplo ocorre
que uma das possibilidades que se apresenta passa precisamente por aceitar a invisibilidade
no meu pensamento: aqui aproximo-me do texto; ali afasto-me. Um texto produz a nossa
prpria cabea; est sempre em construo. Seria isto o que pretendiam quando me
corpo do leitor no o corpo do escrevedor: um regressa ao outro; talvez seja a regra secreta
que implica ou outro: distanciamento. Esta reviso ento um colocar-me fora do texto;
de toda a escrita: a comunicao passa por um inverso (2009:98). Talvez seja esta a escrita
olhar para ele e ver aonde que lhe posso, dentro da potncia em que se inscreve, dar-lhe
mais sustentao. Ora viajando por estas linhas vm-me memria questes que este texto,
atravs da minha fala, geraram no final da sua apresentao. Assim, em jeito de entrevista,
experincias levadas a cabo pela figura do professor artista, com as suas turmas, num contexto
formal de ensino do segundo e terceiro ciclos do ensino bsico. Mas para que melhor se
meu discurso num modelo de escrita que no me reconheo: o da entrevista solilquia. Ser
entenda o que aqui se trata, ser importante nos situarmos relativamente ao que aqui se
elstica que, numa forosa exterioridade esta reescrita se far; assim, numa canibalizao dos
vida artstico, mas faz uso das capacidades mentais, tcnicas e processuais do artista,
autores, irei propor-me a um exerccio amoroso que lhes far filhos, retirando deles o que
deles quero para a minha escrita, para pensar melhor o meu pensamento. Escrever torna-se
artista. Isto significa que nem todos os professores de arte so professor-artista. Sero apenas
ento numa atividade em que aquele que escreve apenas escreve para saber o que quer dizer
aqueles que se debruam sobre os modos do fazer e do pensar o seu trabalho artstico. ,
(para dialogar com as ideias do seu corpo), para perder a sua conscincia no ilimitado da
portanto, uma maneira de encarar o mundo que implica intrinsecamente uma reflexo, um
atravs destas experincias que nos permitido incorporar as diversas formas de ser, estar,
pensar e fazer do artista no seu estdio, para o contexto de sala de aula. Por isso importante
Um aspeto de entrada neste texto prende-se na dificuldade em escrever sobre algo que
si, mas a utilizao prtica destas ideias na sala de aula, pela aplicao de um processo
esttico de pensamento (idem:62). Neste campo, Josef Beyus, por exemplo, procurava um
opera de modo subjetivo? Ora a falcia presente nesta pergunta de entrada faz-nos esquecer
valorizando a atmosfera inteletual das suas aulas, e os efeitos que estas produziam, que a sala
passa uma s inteno de linguagem. toda uma desordem que se escoa atravs da fala, e lhe
fechamento que estranho linguagem falada; ela a imagem de uma fala construda
transformar. , portanto, nesta sala de aula/estdio onde o espao relacional se constri pela
muito antes de ser inventada, acolhendo sob o mesmo verniz a realidade dos atos e a
idealidade dos fins (idem:21-22). por isso que todos experienciamos a forma como as
coisas se modificam na passagem da palavra escrita. Existem perdas; a escrita permite um:
(re)processo. Ora este ideia de continuum na sala de aula revindica uma faculdade hoje
eu penso melhor, com mais firmeza (1982:12) do que quando falamos. Ento, se pelo
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de fim-de-sculo. Falo da faculdade de ruminar (Nietzsche, 1990:15) . Mas ento, que tipo
desta forma nodal que o professor-artista ao expandir o estdio para a sua sala de
de estdio se desenha nesta experincia? O que que ele transporta enquanto elemento
aula, gera o esbatimento das fronteiras entre a paisagem escolar e a arte, introduzindo os
processa? O que pode ser? Geram-se contextos para que alunos com uma formao no
aceder a outros olhares sobre a realidade, num processo de aprendizagem que se deseja
masculino, do autor isolado que em sofrimento, pelo ao do seu gnio criativo, suspendia ou
ruminante. Assim, ao contrrio de uma sala de aula autnoma que transcende o seu contexto,
o estdio ao ser puxado para a paisagem escolar, para a sala de aula, est relacionalmente
nesta linhas, por situar a nossa reflexo apoiada num conjunto de textos recolhidos por
Michelle Graber e Mary Jacob, sob o ttulo de The studio reader (2010). Chegam-nos
individual (poder ser isto a escultura beyusiana?). A elasticidade do estdio permite que os
pode configurar na atual prtica artstica. Deste modo, o estdio aparece como um lugar
inserindo-se no coletivo, criando uma comunidade com carcter temporrio ou utpico. Deste
trabalho surge ou no surge (2010:13). Um espao, para Suzanne Lacy, aonde a reflexo e a
modernista de criao individual e isolada do autor como criador. Ento, como se podem
fazer (idem:320). Robert Storr diz-nos que os artistas trabalham aonde podem e como
podem. No h nada de misterioso acerca disto. Os artistas tm que ser pragmticos mesmo
quando tentam no o ser, ou disfaram por esconder o seu processo. O mistrio e a maravilha
esto no trabalho (idem:62). Para Annika Marie:
Num texto bem conhecido, Sculpture in the expanded field, Rosalind Krauss (1979)
referia que reas como a escultura e a pintura tinham sido puxadas, esticadas e torcida numa
demonstrao extraordinria de elasticidade, uma demonstrao da forma como um termo
O estdio do artista surge como uma rede de atores. Jogando com escala e orientao, atravs da
ambiguidade do termo arena, aquilo que reforado ou at agravado so as nossas formas de ver, os
nossos prprios processos de pensar, desafiando-nos a colocar a questo sobre que tipo de cenrio
preciso colocar para que determinado ator possa aparecer, ou vice-versa. Continua a decorrer uma
performance que tem a ver mais com metodologia do que com mitologia (idem:84).
cultural pode ser estendido ao ponto de poder incluir praticamente qualquer coisa. Como ela
prpria referia:
a suspeio que se lana sobre uma carreira que se move continuamente e de forma irregular para alm
do domnio da escultura deriva obviamente da demanda modernista da pureza e da separao dos vrios
mdiuns (e assim, a necessria especializao dentro de um dado rea artstica). No contexto psmoderno a prtica no definida em relao a um dado mdium especfico escultura, neste caso -, mas
sim em relao s operaes lgicas sobre um conjunto de termos culturais (1972:42).
O estdio deixa de ser considerado como uma torre de marfim, um espao nico e privado. J no cria
distanciamento entre o artista e a sociedade, no se sustenta um tipo de identidade separada para o artista,
supostamente destilada a partir da privacidade e da profundidade do indivduo soberano que o ocupa,
assim como o estdio j no se identifica como um espao separado e de resistncia ou de auto-
que o artista pode ocupar e explorar numa metodologia de trabalho, que no seja ditada pelas
determinao do trabalho do artista. Pelo contrrio, o estdio afirma-se como uma exterioridade. O artista
condies de um mdium em particular. Pelo que neste campo elstico bvio que a lgica
liga-se ao estdio como uma espcie de inventrio ou base de dados, dando ao artista uma morada, um
ponto especfico na rede. O estdio agora o lugar aonde ns sabemos que podemos encontrar sempre o
um dado mdium, fundado pelo seu material. E isto, tendo em conta que material do
144
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os que no o tm; [] acreditamos agora que tambm um objeto ideolgico, que se insinua por todo o
lado, por onde no inteira e imediatamente captado, nas instituies, no ensino; mas, em suma, que
sempre um. [] Por todo o lado vozes autorizadas, que se autorizam a impor o discurso de qualquer
poder: o discurso da arrogncia. []; chamo discurso do poder a todo o discurso que engendra a culpa e,
por conseguinte, a culpabilidade daquele que ouve (2007:12).
Como a verdade no uma coisa que uns possuem e outros no (Nietzsche,1977:111), logo
a culpa de que falo no seno a da proclamada morte do autor e da devoluo do devir
escrita. Para os mopes das entrelinhas, o trabalho de escrita em que pensamos hoje no
consiste em melhorar a comunicao nem em destru-la, mas em filigrana-la (1984:69): falo
do nascimento do aluno como leitor, pela morte do professor como autor. desta
exterioridade elstica que o professor se pode reescrever dentro do espao escolar. Uma forma
de resistncia, nada mais. Eu apenas dispus e estendi os fios. Cabe a cada um estabelecer o
seu desenho (2009:34). A mais no me disponho.
146
147
lado, por ter esta apario mpar no que respeita reduzida e subjetiva
expressividade e, por outro lado, por ser a nica expresso artstica que no
plano curricular no tem um currculo prprio como rea disciplinar de natureza
artstica, que nos motivmos a desenvolver este estudo, enveredando pela
abordagem de Educao pela Arte.
Palavras-chave
Dana, educao, aprendizagem interdisciplinar, 1.Ciclo do Ensino Bsico
A Dana na Educao
inequvoco que a Educao Artstica um pilar essencial na integrao das
faculdades fsicas, intelectuais e criativas, promovendo um desenvolvimento
mais completo e equilibrado do indivduo (Comisso Nacional da UNESCO,
2006). Contudo, parece-nos ser alvo de alguma consensualidade que a
realidade das Expresses Artsticas, em geral, e da Dana em particular, tenha
sido quase sempre remetida para um segundo plano na esfera educativa
portuguesa. A Dana, que o objeto deste estudo, a nica expresso
artstica com abordagens distintas no quadro educativo, pois estando includa
em dois documentos orientadores, estes preconizam diferentes contedos e
conferem-lhe diferentes graus de importncia. Num, a dana, no bloco do
programa de Expresso e Educao Fsico-Motora (1.Ciclo do Ensino Bsico
(CEB)), aparece como a combinao de aes corporais (deslocamentos,
movimentos no locomotores e equilbrios) a partir de temas e registos
musicais adequados (individual ou em grupo). No outro, a dana apresenta-se
como uma das reas da Educao Artstica, pretendendo-se o conhecimento
vivencial dos elementos da dana - corpo, espao, energia e relao(adotando Laban como referncia conceptual), tendo por base a ideia de dana
globalizante levada pelo conhecimento do movimento humano, baseando-se no
Modelo de Dana na Educao de Smith-Autard (1994), surge com os
subdomnios: 1) agir e danar; 2) imaginar e coreografar e 3) analisar e
apreciar (Ministrio da Educao - Departamento da Educao Bsica, 2007).
Recentemente,
Dana
foi
tambm
includa
no
projeto
Metas
de
cinestsica. Esta ideia sublinhada por Bradley e Szegda ao referir que the
os dias das aulas de dana no grupo experimental, dos testes de medida (pr,
bodily-kinesthetic is, in the fact, the first intelligence the one from which the
setembro
3S
from the known to the unknown, you will understand the value of allowing
4S
outubro
5S
1S
O estudo
4f
5f
impacto
6f
dana
tem
na
consolidao
4S
da
aprendizagem
de
D/E
janeiro
1S
2S
3f
4f
5f
6f
3S
4S
D/E
educativo. Esta parte do estudo foi realizada no ano letivo 2010/2011, teve
REt
POSt
3S
2S
2f
A/B
3f
3S
4S
5S
A/B
C
F
D/E
Natal
4S
maro
1S
D/E D/E
2S
3S
abril
4S
5S
1S
2S
3S
4S
F
Carnaval
4f
5f
D/E
6f
*dia
agrupa.
POSt
*
REt
1S
POSt
A/B
PREt
A/B A/B
PREt
2S
PREt
D/E
1S
4S
fevereiro
2f
A/B
C
*Acti AP
3S
dezembro
2S
1S
A/B
3f
3S
2f
que
2S
novembro
REt
Pscoa
*Acti
Legenda:
AP: aula preparatria; Turmas: A,B,C,D e E; F: feriado; Pret: pr-teste; Post: ps-teste; Ret: reteste; Acti: teste de criatividade;
Estudo do Meio
Lngua Portuguesa
Matemtica
Teste de Criatividade
dana para cada rea disciplinar, incidindo num ms para cada rea. Ao todo
ensino-aprendizagem.
sim.
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153
Resumo
O
centro
em
movimento
uma
estrutura
de
investigao
artstica
de
Lisboa
que
h
20
anos
realiza
um
trabalho
contnuo
nas
reas
da
Formao,
Investigao,
Criao
Artstica,
Comunidade
e
Cidadania.
A
criatividade
uma
das
caractersticas
humana;
a
sua
capacidade
inventiva,
sensibilidade,
e
a
importncia
que
imprime
s
ligaes
que
estabelece
a
vrios
nveis
que
lhe
confere
a
capacidade
de
gerar
conhecimento
e
cultura.
O
Corpo
na
Escola
tem
sido
matria
de
investigao,
contudo
parece
urgente
uma
insistncia
em
abordagens
que
relacionem
aprendizagem
e
corporeidade
em
continuidade.
A
prtica
que
exercitamos
posiciona
a
arte
como
forma
de
conhecimento
e
a
corporeidade
como
potenciadora
do
reconhecimento
e
integrao
de
informao.
nesse
sentido
que
apresentamos
um
projeto
especfico:
Corpo
na
Escola
(o
ensino
de
currculo
do
primeiro
ciclo,
a
partir
do
movimento).
Palavras-Chave
Corpo;
aprendizagem;
movimento;
relaes
corpo-escola-cidade;
continuidade.
Texto
A
infncia
tem
sido
compreendida
sob
uma
perspectiva
adultocntrica
(James
e
Prout,
1990),
que
define
as
crianas
pela
negativa
(Sarmento,
2003).
O
conceito
de
socializao
remete
para
a
condio
das
crianas
enquanto
seres
em
transformao
num
ser
social.
Este
conceito
desconstrudo
por
vrios
autores
(por
ex.,
Corsaro,
1997;
James,
Jenks
e
Prout,
1998),
que
vem
as
crianas
como
seres
sociais
plenos,
ativos,
com
criatividade
e
capacidade
de
ao,
intervenientes,
sendo
atores
e
no
apenas
destinatrios
passivos
na
construo
social
(Mead,
1970).
__________________________________________________________________
Porm,
na
escola,
instituio
onde
passam
uma
larga
parte
do
dia,
exigido
s
crianas
(Sarmento,
2004)
um
saber
homogeneizado
(da
cincia
normal),
uma
tica
(do
esforo)
e
uma
disciplina
mental
e
corporal
(Foucault,
1993),
que
Foucault
defende
ser
uma
expanso
dos
processos
simblicos
de
controlo
social
e
de
exerccio
de
poder.
Estas
exigncias
disciplinares
inculcadas
pela
instituio
escolar
ignoram
a
possibilidade
de
criao
(inerente
prpria
capacidade
humana),
o
poder
interventivo
das
crianas,
e
ainda
o
papel
do
jogo
e
da
brincadeira,
a
potencialidade
da
imaginao.
Contrariamente
a
esta
lgica,
as
crianas
so
atores
sociais,
capazes
de
criao
cultural.
As
culturas
das
crianas
so
essencialmente
culturas
de
pares,
em
que
o
jogo
e
a
brincadeira
so
uma
condio
da
aprendizagem
(Sarmento,
2004),
e
a
imaginao
inerente
ao
processo
de
formao
e
desenvolvimento
da
personalidade
e
racionalidade
de
cada
criana
(Sarmento,
2003).
O
corpo
na
escola,
do
aluno
e
do
professor,
tm
sido
fonte
de
investigao.
Por
exemplo,
Prendergast
(2000)
estuda
como
o
corpo
alterado
e
altera
a
identidade
feminina
medida
que
as
raparigas
atingem
a
menarca,
e
James
(2000)
como
as
crianas
criam
e
encenam
diferentes
categorias,
especialmente
do
corpo
(como
altura
ou
gnero),
em
casa
e
na
escola.
Simpson
(2000)
descreve
como
os
professores
tentam
regular
a
sua
aparncia
e
as
trajetrias
de
tempo
e
espao
dos
seus
corpos
na
escola.
Armstrong
(1987),
refere
como
a
medicina
cria
tantas
categorias
para
o
corpo
da
criana,
que
este
fica
incorpreo,
transformando-se
num
anti-corpo
(Turner,
1994),
sem
carne.
Para
Prout
(2000),
os
corpos
das
crianas
so
hbridos
entre
a
cultura
e
a
natureza,
numa
rede
heterognea.
Por
exemplo,
Place
(1994),
sugere
que
em
hospitais
os
corpos
se
tornam
tecnomrficos,
rodeados
por
elementos
humanos
e
tecnolgicos.
A
relao
entre
corporeidade
e
Motrocidade
e
Educao
Fsica
tambm
tem
sido
muito
estudada
(por
exemplo,
Herrera,
2008),
assim
como
entre
corporeidade
e
educao
(para
a
sade,
por
exemplo,
em
Evans,
2009).
Contudo,
nota-se
uma
ausncia
de
reflexo
sobre
outras
abordagens
(Gaya,
2006),
que
relacionem
a
aprendizagem
e
corporeidade,
reconhecendo
a
154
155
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
156
157
__________________________________________________________________
associao.
No
terceiro
perodo,
para
integrao
final
do
ciclo
de
um
ano,
as
sesses
ocorrem
no
espao
da
rua,
nucom
a
turma
a
desenvolver
um
trabalho
em
ligao
entre
a
escola
e
o
bairro
onde
se
insere,
conhecendo
algumas
estruturas
(artsticas,
comerciais
ou
pessoas
especiais)
vizinhas
escola
e
a
partir
desta
srie
de
visitas
desenvolvido
um
tema
que
integre
o
bairro
onde
vivem
e
estudam,
as
pessoas
que
o
habitam,
e
os
contedos
que
trabalharam
ao
longo
do
ano,
numa
criao
de
um
trabalho
colectivo.
No
ltimo
ano,
trabalho
na
ltima
parte
do
ano
lectivo
foi
focado
na
vinda
do
artista
plstico
brasileiro
Stephan
Doitschinoff
ao
festival
Pedras
dgua
do
c.e.m.
Desta
forma,
o
trabalho
centrou-se
no
desenho
a
partir
de
formas
geomtricas,
na
criao
de
um
smbolo
pessoal,
e
numa
reflexo
sobre
o
que
era,
ou
no,
arte
urbana.
Este
perodo
final
do
ano
incluiu
um
passeio
pela
Mouraria
(com
as
crianas
divididas
em
grupos:
fotgrafos
com
uma
cmara
fotogrfica
descartvel,
o
que
limita
o
nmero
de
fotografias
possveis;
desenhadores
que
tomavam
nota
das
interferncias
nas
paredes
da
cidade:
graffitis,
sinais
de
trnsito,
notas
aleatrias;
e
jornalistas
que
entrevistavam
as
pessoas
na
rua),
vrias
sesses
de
trabalho
dentro
da
escola,
e
uma
visita
para
conhecerem
em
pessoa
Stephan
Doitschinoff.
__________________________________________________________________
O
projeto
tem
o
apoio
e
avaliao
externa
junto
da
comunidade
educativa
da
psicloga
social
Daniela
Mouro,
que
acompanha
o
projeto
desde
o
seu
incio.
Na
sua
ltima
avaliao,
Daniela
Mouro
salienta
que
um
programa
de
educao
artstica
de
qualidade
deve
implicar
uma
postura
ativa
por
parte
dos
participantes,
mostrarem-se
relevantes,
permitirem
a
valorizao
da
sua
individualidade
e
serem
disponveis
a
todos
os
interessados.
O
c.e.m,
respeitando
a
forma
como
o
projeto
foi
concebido
e
desenvolvido
pelo
CENTA,
volta
a
cumprir
estes
pressupostos.
Pela
anlise
dos
depoimentos
de
alunos
e
professores
foi
possvel
perceber
o
entusiasmo
e
empenho
dos
alunos
nas
atividades,
a
valorizao
da
sua
contribuio
individual
e
do
grupo,
e
relevncia
pessoal
das
sesses,
especialmente
visvel
na
finalizao
do
projeto
Vizinhos.
Nos
momentos
de
escuta
realizados
juntos
dos
alunos,
Daniela
Mouro
refere
que
claramente
se
percebeu
que,
apesar
do
clima
de
liberdade
e
experimentao
vivido
nas
atividades,
estas
so
identificadas
como
espao
de
trabalho
e
de
aprendizagem
onde
so
manipulados
contedos
disciplinares
a
par
do
trabalho
de
corpo.
A
maioria
conseguiu
perceber
a
coerncia
estrutural
das
sesses
desenvolvidas
ao
longo
do
ano
e
muitos
dos
alunos
valorizaram
a
contribuio
das
sesses
para
as
disciplinas
onde
se
desenrolam,
mediante
as
ligaes
com
o
trabalho
artstico,
tendo
sido
igualmente
referido
o
papel
destas
atividades
ao
nvel
das
relaes
sociais.
Finalmente,
nesta
avaliao
tambm
se
constata
que
os
professores
tambm
consideraram
o
papel
do
PFAC
ao
nvel
do
desenvolvimento
das
competncias
sociais,
indicando-o
enquanto
factor
integrador
de
alguns
alunos
perifricos
na
turma.
Este
projeto
desenvolveu-se
ao
longo
de
quatro
anos
(2003/04
a
2006/07)
em
todas
as
E.B.1
Ciclo
do
Concelho
de
Vila
Velha
de
Rdo,
por
dois
anos
(2008/09
a
2009/10)
passou
a
ser
feito
com
duas
turmas
do
2
Ciclo,
na
Escola
Secundria
Passos
Manuel
em
Lisboa,
estando
desde
2010/11
a
ser
desenvolvido
com
uma
turma
da
E.B.1
Ciclo
n75,
em
Lisboa.
158
159
__________________________________________________________________
linha
de
investigao
que
desenvolve
desigualdade,
cultura
e
territrio.
Em
2009/10,
o
projeto
foi
tambm
o
tema
da
tese
de
Mestrado
de
Anabela
Silva,
intitulado
Avaliao
da
eficcia
da
interveno
do
projeto
"'O
Corpo'
na
Escola"
numa
turma
do
6
ano:
anlise
comparativa
entre
duas
turmas,
mestranda
em
Cincias
da
Educao
na
Faculdade
de
Cincias
Sociais
e
Humanas
da
Universidade
de
Lisboa.
ainda
o
tema
da
tese
de
Doutoramento
de
Joana
Lou
em
Estudos
da
Criana
Sociologia
da
Infncia
pelo
Instituto
da
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1994.
RESUMO
Esta pesquisa estuda a poltica pblica educacional em relao arte na
educao bsica, no estado de So Paulo, Brasil. Analisa a legislao que
disciplina o componente curricular de arte, com a inteno de inferir os valores
atribudos e as respectivas contextualizaes scio - histrica, poltica,
econmica e cultural. Aprofunda a anlise dos Parmetros Curriculares
Nacionais e da Proposta Curricular do Estado de So Paulo, vez que tem
despertado profunda discusso entre os Arte-Educadores. So considerados,
na discusso, dados obtidos a partir de entrevistas com professores e tcnicos
educacionais, com o intuito de compreender o pensamento dos profissionais
que tornam real o currculo escolar e que esto frente das aes educativas e
discusses e dos que esto frente da elaborao da Proposta Curricular.
PALAVRAS CHAVE: Polticas Pblicas - Parmetros Curriculares - Proposta
Curricular - Ensino de Arte
160
161
econmicas,
sociais
administrativas
das
instncias
governamentais.
Neste sentido, ganha importncia toda e qualquer orientao por parte
do governo, na medida que disciplina o contedo curricular praticado nas
escolas. O faz por intermdio de legislao e dos Parmetros, Diretrizes e
Propostas Curriculares.
Csar Coll, educador de nacionalidade espanhola, colaborou ativamente
na formulao das reformas curriculares em seu pas e, mais tarde, participou
no Brasil, da elaborao dos Parmetros Curriculares Nacionais a pedido do
Ministrio da Educao e Cultura MEC. O autor afirma o currculo como o
projeto que preside as atividades educativas escolares, define suas intenes e
proporciona guias de ao adequadas e teis para os professores (1997: 45),
de onde se pode notar a importncia que atribui ao currculo.
brasileiras.
concretizao dos currculos escolares, uma vez que so eles (os professores)
que tornam reais as ideias, os valores e os projetos, pois os tomam como seus.
Neste sentido, cabe um olhar ao professor e uma anlise sobre sua prtica, a
162
Propostas Curriculares.
determinadas.
pautados
em
mtodos,
processos
ou
tcnicas
pr
em
arte,
foi
acessado
em
11/03/2012
disponvel
em
Stios consultados:
www.mec.gov.br
www.sp.gov.br
http://revistaescola.abril.com.br/arte/fundamentos/conhecer-cultura-soltarimaginacao-427722.shtml
165
__________________________________________________________________
RESUMO
Una vida sn habla y sin accin, est literalmente muerta para el mundo
Hannah Arendt, The human condition (1958)
davam autorizao, (exemplo) estudei a arquitetura local; os alunos iam fazer desenho dos bairros,
ento escolhamos todo o tipo de habitaes que h na cidade, inclusive bairros de lata e depois
amos para l desenhar e a partir da, conversvamos sobre as questes de habitabilidade, sobre a
relao entre estrato social e habitao no era s aprender a desenhar e mais nada!
as
entrevistas
alheias,
enquanto
professora
procurava
Elvira
dar
um
Leite2,
corpo
mergulhei
nessas
investigao.
We think that understanding how teachers, individually and collectively, think, act, develop
professionally and change during their careers might provide new insights as to how one might
aproach the reform, change and improvements in education that are necessary to equip our
studants for desirable future within a context that is rapidly altering the nature of teachers work.
(Butt, Raymond, McCue e Yamagishi, 1992, p.57, cit. por Goodson, 1992, pp. 51).
6 Estatuto da Carreira Docente
7 http://www.min-edu.pt/index.php?s=white&pid=531
5
Maria Elvira Vieira Pereira Leite Policarpo, a professora selecionada para a investigao est
aposentada e colabora atualmente com a Fundao de Serralves no Porto. Autora de vrios
artigos e livros sobre educao artstica e educao por projetos de trabalho, colaborou com o
ME no GETAP, promoveu vrios projetos de trabalho a nvel nacional e internacional, criou o
Atelier 61, no Porto em colaborao com a arquiteta Manuela Malpique.
3 Histrias de Vida; Metodologia de escrita narrativa; Estudos Feministas; Ps-estruturalismo.
2
166
167
anulao
das
identidades
individuais,
procurando
uniformizar
procedimentos
quero resolver problemas! Trabalho para os resolver quando tm soluo porque tal
intrpretes desta histria, rasgam e colam memrias provisrias, para que ocupem um
168
A histria de vida da professora Elvira Leite leva-nos a viajar pela histria do Pas no antes do
25 de Abril de 1974 e no depois da revoluo dos cravos, passando pela experincia de criao
de escolas em Timor e Cabo Verde, projetos em comunidades portuguesas do norte da Europa,
o percurso pelo GETAP em colaborao com Joaquim Azevedo, projetos de reabilitao social
em comunidades carenciadas da zona do Porto, experincias de incluso pedaggica com
crianas e jovens portadores de deficincia, entre tantos outros temas que focalizam um
universo maior que o desta professora percorrendo os anos da sua profisso com um sentido
de ser construtora de oportunidades para aprender.
10
169
criando condies para uma cidadania lcida, atuante e responsvel, mas acima de
viagem fascinante e possvel num universo global14. No caminho, cruzam-se vises das
fundamental
mas
falamos das formas como olhamos o mundo. Dado que essas narraes so
que nos permitem desconstruir e indagar sobre, que vises estamos a veicular na
trabalho dos professores e professoras gera saberes que dever ser considerados. Afinal,
educao? Como nos sentimos? Porque nos inquietamos? E como lanamos novos
como nos diz Elvira todo o problema trs consigo a soluo 13. Por tudo isto
No para criar respostas, que saberemos serem sempre instveis, mas para
Todas
resgatar
las
as
voces
histrias
de
que
los
nos
permitem
profesores
verificar
merecen
ser
opes,
escuchadas,
Ulrick Beck (2000, pp. 29-30) defende que preciso que as pessoas abandonem a ideia de
que as administraes e os peritos sabem exatamente, ou pelo menos sabem melhor, o que
certo e bom para todos: a desmonopolizao da pericialidade.
13
170
educao:
A imaginao no um mero ornamento, tal como a arte. Juntas podem
libertar-nos dos nossos hbitos enrijecidos. Elas podem ajudar-nos a restaurar
um propsito decente para os nossos esforos e a criar o tipo de escolas que as
nossas crianas merecem e que a nossa cultura precisa. Tais aspiraes, meus
amigos, so estrelas pelas quais vale a pena esticar-se (Eisner, 2008, pp.16).
_____________________________________________________________________________
BIBLIOGRAFIA
A globalizao no diz apenas respeito criao de sistemas de larga escala, mas tambm
transformao de contextos locais, e at pessoais, de experincia social. Ela no ser um
incidente passageiro nas nossas vidas Anthony Giddens (2000, pp.29 e 32).
15 Os estudos da Educao Artstica (promovidos pela Faculdade de Belas Artes da Universidade
de Barcelona) tm sido pioneiros na procura de formas de anlise e de reflexo sobre a
educao artstica atual, construindo importantes e impactantes fontes de investigao
caracterizada por Histrias de Vida.
14
171
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172
173
METODOLOGIA
errar; verificar como o aluno faz para resolver problemas; identificar que
modo
secundrio.
elemento dever responder de forma criativa aos desafios que lhe sero
174
responder
questes
principais
desta
investigao.
175
grupo;
desenvolvem-se
registam-se
os
processos
informaes
CONCLUSES E DISCUSSES
assumir
um papel
fundamental
na
gesto
criao
dos desafios.
mdulo da disciplina.
explorao
destes
desafios,
encararam-nos
como
tal,
manifestando
preocupao com algumas temticas. Para uns protegidos pela sorte, para
outros a incerteza do modo como iriam resolver os desafios, as reaes foram
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Introduo
Educao Artstica, realizado no passado ms de Abril. Desde essa data, ocorreram alteraes
significativas no que concerne educao artstica no mbito escolar, que no podem deixar
de se refletir neste texto.
De certo modo, o assunto sobre o qual foco o meu interesse prende-se com a
importncia da educao artstica e sobre a forma como esta se integra na escola.
Autorretrato
No mbito da minha atividade profissional tenho tido oportunidade de contactar com
docentes da rea de ensino das artes visuais, o que me tem permitido observar que a sua
perceo acerca das disciplinas que lecionam a de que estas so menosprezadas. Esta
perceo resulta de um discurso e de uma prtica que sobrevaloriza outras reas disciplinares,
178
179
Muitas vezes sinto faltar uma fundamentao que reconhea o papel das disciplinas
das reas artsticas no currculo e qual a sua importncia no desenvolvimento das crianas e
jovens. Tambm desta forma se permite que estes discursos depreciativos se consolidem e
sejam eles a culinria, jardinagem, pintura, ou qualquer outro hobby. A partir daqui ser
tambm possvel considerar a possibilidade de uma experincia esttica.
nas sociedades contemporneas. Nesse sentido, pretendo demonstrar neste artigo que a
autoimagem dos professores de arte um sintoma sobre o qual necessrio
trabalhar/investigar, no sentido de consolidar formao, conhecimento e ao sustentadas
epistemologicamente.
As artes e o mundo
Se no final do sculo XX era comum a afirmao de que vivamos na era da imagem,
devido proliferao de estmulos visuais, hoje ser mais assertivo afirmar que vivemos numa
era em que as manifestaes artsticas proliferam tanto do ponto de vista da fruio/
contemplao, como do ponto de vista da produo/ criao. Multiplicam-se os festivais de
msica, assim como os concursos televisivos para encontrar os melhores cantores ou
danarinos, as publicaes de vdeo-clips no YouTube, escolhemos a seleo musical que nos
vai acompanhar no iPod e a norma a existncia de msica ambiente nos espaos comerciais.
As artes tomaram o quotidiano. Da moda ao design, da msica arquitetura...
social e cultural do aluno. So formas de saber que articulam imaginao, razo e emoo.,
no Roteiro para a Educao Artstica (UNESCO Lisboa 2006), referido que este pretende,
portanto, comunicar uma viso e promover um consenso quanto importncia da Educao
Artstica na construo de uma sociedade criativa e culturalmente consciente;. As ideias,
aparentemente consensuais no que concerne valorizao da educao artstica, parecem
assentar numa perspetiva utilitria da educao artstica, na medida em que, neste ltimo
documento se considera que a educao na arte e pela arte estimula o desenvolvimento
cognitivo e pode tornar aquilo que os educandos aprendem e a forma como aprendem, mais
relevante face s necessidades das sociedades modernas em que vivem. () A Educao
Artstica contribui para uma educao que integra as faculdades fsicas, intelectuais e criativas
e possibilita relaes mais dinmicas e frutferas entre educao, cultura e arte.. Estes aspetos
incontornveis no mundo atual. Tambm o acesso s artes plsticas tem uma dimenso sem
mundo que os rodeia e participar ativamente nos vrios aspetos da existncia humana.. Este
discurso, aparentando ser incuo e consensual, revela ambivalncias, uma vez que assenta na
espaos/ contedos. Este acesso propiciado por diversos fatores que podem potenciar uma
ideia de que o valor da educao artstica est nas suas potencialidades de promoo do
fruio mais completa e complexa da obra de arte, nomeadamente o apoio prestado por
desprezar a contribuio das reas artstica e cultural para o Produto Interno Bruto dos pases,
180
181
lecionadas por docentes sem formao especfica, como acontece com frequncia nas
disciplinas de Teatro e de Dana.
Apesar de terem passado poucos meses da realizao do 2EI_EA, muita coisa mudou
no panorama da educao em Portugal, nomeadamente no mbito da educao artstica.
No 2 ciclo do ensino bsico, a disciplina de Educao Visual e Tecnolgica, de 180
minutos semanais e lecionada por dois docentes, dividiu-se nas disciplinas de Educao Visual
e Educao Tecnolgica, cada uma com um docente e com a durao de 90 minutos semanais.
imgenes forman parte de contextos visuales (histricos, sociales, culturales) que pueden
Tecnolgica.
(Hernandez: 2003)
documento referente Educao Visual (2 e 3 Ciclo), vemos que expem de forma clara
182
183
interesados en mejorar los procesos educativos, tanto dentro como fuera de la escuela, tienen
exercer a profisso docente e usar a educao artstica no com o sentido de incluso, mas sim
mucho que aprender de las artes. Dicho en pocas palabras, las artes pueden actuar como
o da hierarquizao e excluso.
modelo para ensear las materias que suelen tener por acadmicas.(Eisner: 2002). De acordo
com este autor, so diversos os aspetos que, sendo caractersticos da educao artstica,
podem ser uma mais-valia se aplicados em outras reas disciplinares a valorizao da
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seja a msica, a dana ou a pintura, percebemos que estes conceitos so inseparveis e que se
interpenetram mutuamente. Esta conceo marcante para os processos educativos
empregues, uma vez que h o entendimento de que, para a efetivao dos conhecimentos, a
forma como estes so tratados essencial. Deste modo a forma como se ensina tambm
WEBGRAFIA
http://www.portugal.gov.pt/media/675633/ev.pdf
ensina.
De notar ainda que as potencialidades destes conceitos e prticas tm gradualmente
vindo a ser reconhecidas e incorporadas por outras reas disciplinares. A ttulo de exemplo
posso referir a construo do porteflio, que recentemente se tornou prtica recorrente para
a maioria das reas disciplinares, assim como a incorporao de elementos visuais ligados
rea de conhecimento das artes e da cultura visual em diversas disciplinas. Contudo, quando
frgil a conceo do que a educao artstica, de que formas se reveste, quais as suas
finalidades, quais as suas potencialidades, corremos diversos riscos o de assumirmos como
verdadeiros os esteretipos a que se associa a educao artstica, de procurar respostas e
modelos que, sendo inadequadas na educao artstica, a podem esvaziar de sentido, ora o de
184
185
A centralizao do ensino de arte no contato com a produo legitimada pela histria da arte
tem resultado em abordagens que excluem a bagagem pessoal do estudante. Este, ao invs de
estabelecer um dilogo e relao entre o pessoal e o histrico, passa a anular a sua prpria vivncia.
Aqui empreendemos uma crtica e proposta de ensino de arte cujo centro seja no a histria da arte,
mas sim o sujeito e sua histria, e principalmente o encontro deste sujeito com o outro. H aqui um
empenho em incluir vivncias e pessoalidades, esforo tal que faz-nos avaliar o lugar que ocupa o
estudante nas atuais metodologias do ensino de arte. Este um sujeito que se inclui e que constri o
conhecimento, ou um ser passivo que somente recebe contedos tcnicos e histricos? possvel
vislumbrar uma metodologia da presena a ocupar o lugar de tantas ausncias e omisses? As
experincias para as quais nos voltamos suscitam questes sobre abordagens centradas em
narrativas, em cidades e seus lugares, em objetos e memrias. Trata-se de um entrelaamento de
histrias e marcas advindas da vida que se cruzam com contedos relativos s artes.
Muitas so as experincias motivadas por uma idia de presena na aprendizagem. Paulo
Freire foi, sem dvida, o grande propositor desta abordagem, a qual voltada para a realidade
brasileira - cruel e contrastante. Sua proposio convoca educadores a reconhecer o verdadeiro
sujeito da aprendizagem. Freire nos alerta que ensinar no transferir conhecimento, mas criar as
possibilidades para a sua produo ou a sua construo (FREIRE, 1998, p.52).
Traremos para a discusso sobre a dicotomia entre presena e ausncia dos sujeitos do
processo pedaggico os resultados de pesquisas recentes que temos realizado. Primeiramente,
abordaremos processos vivenciados por um grupo de educadores da Licenciatura em Artes Visuais
do PARFOR - Plano Nacional de Formao de Professores da Educao Bsica - da Universidade
186
observaes de Ecla Bosi, para quem a pesquisa social deve ser um processo fundamentado no
encontro com o outro:
A pesquisa um compromisso afetivo, um trabalho ombro a ombro com o
sujeito da pesquisa. [...] preciso que se forme uma comunidade de
destino, para que se alcance a compreenso plena de uma dada condio
humana (Bosi, 1995, p. 38).
187
O universo de Rosngela, assim como o de todo o grupo, foi ampliado com outras
referncias apresentadas pelo professor, de modo a estabelecer conexes com outras manifestaes
xilogravura, puderam fazer com que a experincia relativa memria e narrativas fossem
pelo professor, estava a srie As Danarinas, da artista portuguesa Paula Rego. Assim, de maneira
Rosngela Almeida Lopes, uma das estudantes, apresentou, enquanto objeto pessoal, as
sistemtica, cada um dos estudantes desencadeou semelhante processo a partir de seus objetos e
sapatilhas de bailarina, que, h muito, no usava. Trouxe tambm fotografias de edificaes que
imagens de arte. Por conseguinte, foram buscadas em conjunto maneiras de ampliar o universo
eram caras estudante por fazerem parte da rotina de estudo e apresentaes do bal entre estas,
uma imagem do Cine Teatro Ouro-Verde, infelizmente destrudo por um incndio no incio de
discusses em conjunto pde ampliar o universo temtico de cada um, sendo a base para isso a
2012. Na cidade de Londrina, a estudante nasceu, cresceu e construiu sua prpria histria.
Como parte do exerccio, a estudante apresentou imagens de arte de sua livre escolha, as
quais mantinham uma relao direta com o objeto. As pinturas impressionistas de bailarinas, de
Edgard Degas, formaram a primeira conexo entre o objeto e a histria da arte. Os comentrios de
aprendizagem em arte. No somente foi importante o resgate de fatos, histrias pessoais e do lugar
de origem, ou ainda elementos da histria da arte; a experincia criativa que sucedeu o exerccio
narrativo e reflexivo mesclou o aspecto afetivo e pessoal ao histrico e ao fazer criador. Num
processo intenso de cruzamento entre o particular e seu contexto, foi possvel desencadear um
exerccio de reflexo sobre as metodologias do ensino de arte.
Semelhante processo foi vivenciado pela estudante Gabriella Reis, que desenvolveu uma
pesquisa no Programa de Iniciao Artstica (PROART) aliada aos estudos desenvolvidos na
disciplina de Interpretao IV, do Bacharelado em Artes Cnicas, da Universidade Estadual de
Londrina - Brasil. A experincia de Gabriella foi fundamentada no contato com objetos, memrias e
narrativas, de modo a construir um trabalho cnico. Tal experimento resultou em uma instalao
performativa intitulada Entre. A partir de histrias de famlia, objetos seus e tambm de outras
Sapatilhas e imagem de bailarinas de Edgar Degas trazidas pela estudante Rosngela de Almeida Lopes, como parte do exerccio de
compartilhamento de narrativas pessoais e imagens de Paula Rego apresentadas em formao como ampliao de repertrio.
pessoas, alm de objetos encontrados na rua, Gabriella elaborou um trabalho que unia a instalao
performance. Esta era, conforme a estudante, uma tentativa de tocar em aspectos da memria e das
relaes enraizadas que os objetos simbolizam. As relaes familiares foram marcas tornadas
presentes pela estruturao geral do trabalho. A panela de ferro utilizada por sua av para alimentar
a famlia, assim como uma garrafa de vinho encontrada ao acaso na rua, desencadearam tanto aes
fsicas cnicas, como tambm o resgate de uma simbologia pessoal.
Em seu trabalho, Gabriella articulou um primeiro espao a ser percorrido pelo pblico que
apresentava uma espcie de labirinto de fios entrecruzados. Somente a partir deste espao o pblico
podia atingir a segunda instalao uma sala repleta de objetos variados em que a presena de fios
de barbante tambm era uma constante. Do teto pendiam objetos, formando memrias soltas, porm
amarradas. Entre muitos outros objetos, havia um porta-batom antigo da av de uma amiga, uma
armao de culos, uma faixa de cabelo feita por um tio de uma amiga que est preso, um leno da
188
189
me de outra amiga, cuja av morrera por causa de um tumor no crebro. Cada objeto carregava
muitas marcas de indivduos que, de algum modo, se relacionavam com a estudante.
Em sua avaliao escrita, a estudante promoveu uma reflexo que nos indica a profundidade
e alcance de sua experincia:
Os fios so pedacinhos de ns, de um enraizamento familiar. A instalao nasceu
dessa sensao que queria despertar no pblico, de priso, dificuldade de caminhar,
sair de seu equilbrio, experienciar maneiras diferentes dentro de um espao
completo de barbantes que formavam um grande labirinto (REIS, 2011, p 2)
No terceiro espao, encontrava-se a prpria estudante completamente envolta por fios que a
prendiam. Ao seu lado estava a panela de ferro de sua av. Os participantes eram convidados a
cortar os fios com tesouras que eram oferecidas por colegas ajudantes. Em sua mo, a performer
tinha firmemente segura, a garrafa vazia, de translcido verde escuro. E aos poucos, conforme
ganhava liberdade de movimentos, a estudante passava a caminhar entre o pblico.
O conceito de espectador ativo de Clark foi determinante na relao de seu trabalho com o
pblico (FIGUEIREDO, 1998, p. 72). Neste sentido, a estudante fortaleceu elos com outras
linguagens, como a instalao, de modo a situar o teatro em relao a abordagens transdisciplinares.
Porm, mais do que uma simples experincia no campo hbrido da arte contempornea, A proposta
de Gabriella buscava tirar o espectador de seu papel passivo, trazendo-o para a ao e
compartilhamento. O espao pessoal de Gabriella foi aberto e oferecido, de modo a ser
compartilhado com outras pessoas. A proximidade fsica e insero na obra acarretaram uma
vivncia de resgate de intimidades dos sujeitos participantes; tanto artista como participante foram
confrontados por temas cruciais no contexto social da atualidade: a memria, a famlia, o
esquecimento.
Consideraes finais
Reconhecer a presena do estudante nos processos de aprendizagem no uma tarefa fcil,
especialmente num contexto em que a excluso tem sido constituda de maneira sutil e enraizada.
Uma metodologia voltada para a presena, como identificamos nas experincias descritas acima, diz
respeito atribuio de um sentido outro para a aprendizagem, que vai muito alm da mera
assimilao de contedos. Trata-se, sobretudo, de reconhecer no estudante o sujeito que constri o
conhecimento, num constante dilogo entre o seu universo particular e aquele mais abrangente
proporcionado pelo saber institudo. Acreditamos que a histria da arte, os cdigos e tcnicas
artsticas ganham um novo sentido, quando entrelaados bagagem cultural e social do estudante.
O dilogo entre estes vrios aspectos do saber conduz a uma construo mediada pela incluso e
A partir da vivncia desta proposta, Gabriella se voltou para o mbito da famlia, em busca
seu saber, de modo a atribuir valor ao espao pessoal da experincia. O que apreendido
de antigas histrias, e de uma certa gnese para a prpria criao artstica. Ao invs de negar ou
imediato do sujeito. H neste sentido, uma aproximao maior entre a escola e a vida. O estudante
tambm a noo de lugar, que o localiza no tempo e espao. Isto difere radicalmente, de um ensino
Alm das referncias e os vnculos estabelecidos com abordagens sobre a criao cnica, Gabriella
que busca excluir a bagagem pessoal do educando, e que apaga o contexto ou entorno social e
estabeleceu um dilogo com o pensamento e obra de Lygia Clark, que foi fundamental para o seu
190
A metodologia da presena que vislumbramos h que ser erigida nos termos do dilogo
entre os vrios mbitos culturais que envolvem a aprendizagem. Ao invs de abordagens
padronizadoras de contedos e procedimentos, somos instigados, luz de tal perspectiva, a delinear
planejamentos e estratgias de ensino que, obrigatoriamente, sejam situadas em seu contexto
especfico. A busca por uma metodologia da presena no poderia, assim, ser delineada a partir do
191
enfoque sobre tcnicas e assimilao de contedos, ou ainda sobre uma noo cronolgica da
histria da arte. A construo do conhecimento em arte, seja ele tcnico ou discursivo, deve ser
REFERNCIA BIBLIOGRAFIA
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GOODSON, Ivor . Currculo, narrativa e o futuro social. IN: Revista Brasileira de Educao v. 12
RESUMO
O artigo traz reflexes a partir da prtica docente do autor, na formao de professores de
artes, com foco em duas experincias: com estudantes de msica, da UNESP, em 2009; com
estudantes de artes visuais, no Centro Universitrio Estcio Radial de So Paulo, em 2011.
Apesar de contextos distintos, as experincias comungaram do objetivo de provocar encontros
dos futuros docentes com produtos culturais em trnsito entre o popular e a cultura de massa,
tais como a Cultura Hip-Hop e gneros musicais brasileiros de forte apelo comercial, numa
perspectiva educacional intercultural e pautada pela experincia esttica, discutindo
preconceitos e esteretipos. As reflexes dialogam com autores como Dewey (2010), Larrosa
(2004), Freire (2011), Rancire (2010) e Aguirre (2011).
Palavras-chave: arte/educao; experincia; investigao.
n. 35 maio/ago. 2007. Traduo: Eurize Caldas Pessanha e Marta Banducci Rahe. Reviso tcnica:
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REIS, Gabriella. Relatrio de Entre PROART. Londrina: Departamento de Msica e Teatro,
UEL, 2011.
192
193
nos desconfortos causados por estes processos que, em minha avaliao, levaram ao
cientfica nenhuma que, ao menos no Brasil, boa parte dos professores tambm no
que John Dewey (apud ORLOSKI, 2005, p. 160) coloca como o verdadeiro pensar
possuem esta prtica regular, incluindo os do ensino superior. claro que o registro
desta falta?
onde todos deveriam, em grupos, preparar uma aula para o restante da turma,
aqui relato, possuem grande influncia destes autores, assim como minha pesquisa de
ensino de arte. Mas o contedo central a ser trabalhado por cada grupo seria um
modo a abordar o mesmo, sem necessariamente fazer apologia, nem trat-lo como algo
194
195
coletiva sobre a cultura Hip Hop, onde cada grupo se aprofundou em um aspecto
musical,
que
pode
abrir
muitas
possibilidades
pedaggicas.
Citando apenas um exemplo, uma interessante reflexo surgiu na turma sobre o quanto
o rap cumpre hoje, no contexto das metrpoles brasileiras, um papel muito similar ao
samba no incio do sculo XX, sobretudo de denncia social. A possibilidade desta
discusso junto a um grupo de adolescentes pode provocar, em tese, a abertura e
diferente.
Para alguns o envolvimento foi mais simples, por j estarem ligados a esta cultura. Para
outros, um exerccio de reflexo sobre seus prprios preconceitos, como por exemplo, a
discusso entre os limites ente o pblico e o privado nas relaes de aproximao e
distanciamento entre o grafite e a pichao.
A participao da turma, bem como as avaliaes sobre as quebras de preconceitos
foram bastante similares s da experincia de 2009. Mas pude perceber um diferencial
em minha prpria postura neste processo, saindo da uma posio de quem
simplesmente aconselha, e de fato enfrentando meus prprios preconceitos, na busca
de superao dos mesmos, num exerccio de investigao conjunto com os educandos.
Pude me sentir, ao menos parcialmente, como Joseph Jacotot, o mestre ignorante
revelado por Rancire (2010).
ampliao de referncias estticas, histricas e sociais. Mas para isto, convm antes o
educador estar tambm aberto ampliao de seus prprios referenciais, lanando
sobre a cultura do educando um olhar investigativo, para alm de preconceitos,
esteretipos e generalizaes.
Mas questionei: o quanto eu mesmo me lanava ao desconforto, para ampliar os meus
prprios referenciais?
Prazerosamente desconfortvel
Apesar de ser mais confortvel conduzir a prtica docente focando apenas nos
contedos, ao reconstruir estas experincias, reconheo prazer nos desconfortos que
propus e que me propus. Mesmo com objetivo claro da construo coletiva do
conhecimento junto aos grupos, posso ter clareza apenas da minha experincia, como
aquilo que nos passa, ou nos toca, ou nos acontece, e ao nos passar, nos forma e nos
Foi ento que em 2011, ao lecionar uma disciplina sobre interculturalidade para alunos
de Licenciatura em Artes Visuais no Centro Universitrio Estcio Radial de So Paulo,
Bibliografia
196
197
AGUIRRE, I. Imaginando um futuro para a educao artstica. In: TOURINHO, I.; MARTINS, R.
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So Paulo.
RANCIRE, Jacques. O mestre ignorante: cinco lies sobre a emancipao intelectual. Belo
Horizonte: Autntica, 2010.
198
199
intenes. Assim, possvel perceber letras com cores escuras, de traados duros, angulosos,
pichador em seu grupo ou famlia est ligada a admirao conquistada por sua coragem de
possveis. assim que eles adquirem respeito e reconhecimento entre seus companheiros
(SILVA, in: POATO, 2006).
O desenho das letras, em seu percurso histrico, desde o incio da escrita, sempre foi
influenciado pelo material com que executado e a cultura de sua poca. Assim, a esttica das
letras desenhadas com penas sobre o pergaminho buscava uma forma em que se explorasse as
do outro pertencente ao mesmo grupo, para que esse olhar os legitime como integrantes dessa
famlia e os valorize. Precisam do olhar do outro para constiturem uma imagem positiva de
colunas, paredes e espaos internos e externos, as letras constroem-se com traos preenchidos
e os espaos em branco, internos e externos.
Outra caracterstica formal das pichaes sua economia de letras. Essa tendncia a
Por essa razo importante que a escola valorize o universo artstico do aluno, para que
ele possa ter uma viso mais positiva de si mesmo e que se veja capaz de ir alm do que j
ao longo dos anos, que requerem a cada dia, que se comunique mais informao com o
mnimo de recursos.
No ato da escrita, o pichador precisa de uma imagem sinttica, que d conta de
1. A esttica da pichao
As pichaes apresentam uma imagem visual caracterstica, de resoluo rpida, que por
expressar e comunicar sua viso de grupo, num espao curto de tempo, para no ser pego
pelos vigias ou pela polcia. uma imagem que precisa ser lida rapidamente, pois tanto outros
agressividade. Porm, quando o pichador vai para a rua colocar sua marca, j se sentou e
elaborou um desenho prprio da sua letra, aquela que o representa, assim como ao grupo;
elaborou j a grife que identificar a todos. Este ato de criar um desenho de letras por si um
pela TV, rdio, e cartazes; e isso faz com que as pichaes sejam expresses artsticas de seu
Essas imagens so passveis de serem analisadas como produes estticas, mesmo que
sua funo seja tambm de protesto.
Um dos estilos brasileiros, j mundialmente conhecido o tag reto. O tag reto mais
que uma assinatura e se caracteriza por letras retas, alongadas e pontiagudas, pintadas com
de globalizao, fez com que surgisse entre elas uma situao de conflito, pois costumes e
spray ou rolo de tinta, letras que procuram ocupar o maior espao possvel do suporte. Essa
forma, segundo Lassala (2010), tem estreita relao com o movimento do corpo dos
pichadores; o que perceptvel na tinta que escorre das letras, esfumaados nas extremidades
havendo a imposio de valores, ideais e estilo de vida das culturas ditas dominantes quelas
locais, na tenso entre o local e o global que surgem reinterpretaes e releituras. O global
Paulo, refletindo a oposio forte entre vertical e horizontal, presente em sua arquitetura. Mas
assimilado por meio da ressignificao de seus bens simblicos, num processo de troca entre
na cidade aparecem tambm escritas curvilneas, feitas com materiais diversos como giz de
si e a cultura local de origem (RODRIGUES & SANTOS, in: SOBREIRA, 2010). Esse
200
201
processo de comunicao intercultural acontece nas grandes metrpoles, que abrigam pessoas
da pichao tenham de si mesmos uma imagem melhor e sintam que so capazes de refletir
sobre o espao urbano onde atuam, ao entrar em contato com outros tipos de intervenes
No Brasil, com a luta pela democratizao do ensino, mais acirrada entre as dcadas de
40 e 60, houve um redirecionamento do papel da escola, antes, elitista e concervadora
(PILETTI, 2008) e atualmente, vista como ponto de embate entre essas diversas culturas, e
tendo que mediar esses conflitos.
Para que a mediao ocorra com sucesso, necessrio que a instituio escolar d voz
aos alunos, pais e professores. Isso significa levar em conta suas necessidades, aspiraes e
gostos ao selecionar e definir objetivos e contedos. A escola deve romper com aquela viso
de que h uma fora superior ao dos sujeitos e que seria determinadora das aes
sociais (RODRIGUES & SANTOS, in: SOBREIRA, 2010).
Sem o auxlio da comunidade, a escola torna-se ainda mais fraca como um dos agentes
de transformao social. preciso que a escola e a comunidade caminhem juntas,
desenvolvendo um projeto de trabalho que consiga atender a seus desejos e expectativas
educacionais.
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8586736171.
Concluso
Considerando que muitos alunos do ensino fundamental e mdio fazem pichaes na
escola ou no bairro, importante lembrar que essa escrita benvinda s aulas de arte, como
grande centro de interesse e ponto de partida para que o aluno descubra outras formas de arte
como a arquitetura e as intervenes artsticas em espaos pblicos, no to familiares a ele.
Eisner afirma que existem quatro coisas principais que as pessoas fazem com a arte.
Elas veem arte. Elas entendem o lugar da arte na cultura, atravs dos tempos. Elas fazem
julgamentos sobre suas qualidades. Elas fazem arte (EISNER, in BARBOSA, 2005, p.84).
Assim, as pichaes poderiam ser levadas sala de aula e analisadas pelos prprios alunos
que as produzem, como trabalhos de arte. Lanier defende a idia de que o professor deva
valorizar o universo esttico que o aluno j possui e no apenas impor seu gosto e valores
sobre o que julga ideal em esttica (LANIER, in BARBOSA, 2005). E somente partindo da
valorizao do universo artstico dos alunos os professores poderiam ampli-lo e auxiliar o
aluno a experimentar outros.
Levando em conta as afirmaes de Eisner e Lanier sobre o ensino de artes na escola,
v-se que reconhecer as qualidades estticas da pichao e traz-la para a aula seria um ganho
a favor da escola como mediadora de conflitos. Ao valorizar o repertrio trazido pelo aluno, a
escola mostra que o v de uma maneira positiva e diz a ele que sua opinio e expresso tem
importncia para o trabalho escolar. Isso faz com que esses alunos envolvidos com a cultura
4
202
203
Indisciplinar a Geometria:
que Foucault (2004), em analogia com as prises, hospitais ou outras instituies totais
(Goffman, 1974), alude organizao de dispositivos de disciplina que lhe so prprios. Como
Outubro de 2012
por exemplo, a arquitectura que caracteriza uma escola; a de um espao reservado, complexo
e hierarquizado, smbolo da representao fsica do poder de disciplinar e controlar.
Assim, a escola aqui vista como uma organizao disciplinar que se apresentou
favorecedora a operar uma apropriao do conhecimento geomtrico, na medida em que o
circunstncias que determinam a forma como a geometria se situa na escola, e fora dela,
fez passar por processos de filtragem que o ajustaram s necessidades sentidas e exigidas
filtraram, polinizaram e disciplinaram. Isto, para que pudesse ser apresentada e distribuda
fenmeno que foi a Revoluo Industrial (sculo XVIII), careciam de quadros tcnicos
cientfico, passa, na escola, a ser maioritariamente olhada como uma tecnologia disciplinar,
Ora, o ttulo Indisciplinar a Geometria pode parecer que revela uma certa
averso e insubordinao em relao geometria enquanto rea curricular, que ao longo
dos tempos se travestiu de dogmas e axiomas, se doutrinou e traduziu em saber
Estes princpios de obrigatoriedade so consubstanciados em diplomas como a Declarao Universal dos Direitos do
disciplinado. Todavia, este pretende ser principalmente uma reflexo sobre a expropriao
de significado a que o saber geomtrico foi votado, tendo servido como simples instrumento
abonatrio de concepes e representaes sociais.
Hoje, percebemos que estas representaes se manifestaram na forma como as
primeiras sociedades conhecidas se organizaram, ao adoptarem, por exemplo, o crculo ou
a pirmide como imagens estruturadoras das suas dinmicas hierrquicas. Sendo que, isso
mais perceptvel nas sociedades renascentistas ou modernas por decerto dizerem respeito
a perodos bem documentados, e porque sob o ponto de vista cronolgico e geogrfico, nos
so mais prximos.
Por tal, importa ressalvar que o termo indisciplinar no surge no ttulo para, de
alguma maneira, fazer sublevar a geometria, reconfigurando-a e fazendo dela um campo de
rebeldia e desobedincia; nem tampouco fazer a apologia da presena, do interesse ou da
importncia da geometria na escola. At porque, ela efectivamente preponderante, e ainda
que se tencione excluir a geometria dos desenhos curriculares enquanto rea disciplinar, ela
tender a persistir sob outros moldes.
Trata-se, sobretudo, de fazer uma anlise desta rea do saber no a
descategorizando por completo, mas evitando ficar limitado aos rtulos e significncias de
que foi alvo ao longo dos tempos. s quais de alguma maneira se prestou, fazendo delas o
seu alicerce e aparentemente tirando partido disso para se certificar e legitimar.
Homem e na Conveno sobre os Direitos da Criana, que vigoram, respectivamente, desde 1948 e 1990.
204
205
relao de paridade entre as expresses que formam o subttulo deste texto. Que definem
apresentar o quadrado em si, mas evocar atravs da sua representao a forma ideal de
quadrado.
representado e distribudo nas escolas de forma disciplinada, atravs do que considero ser a
destas duas reas, bem como no que existe ou pode existir em seu redor e que com elas
mantenham relaes de afinidade.
Por conseguinte, convm encetar o esboo do que se pode entender e est
subjacente concepo de saber geomtrico, rea na qual se agrupa todo o tipo de
Por seu turno, a geometria como saber a parte do saber geomtrico que
apresenta e representa a geometria na escola, instituda nas aulas no s de Geometria
Descritiva A, Educao Visual e Desenho A; mas, tambm, de Matemtica,
Geografia, Ingls, ou de quaisquer outras disciplinas.
experincias desta natureza que ocorram no decurso das nossas vidas. Assim, admitindo
que tudo quanto nos rodeia reproduz ou traduz princpios geomtricos, somos levados a
promove uma relao de carcter enciclopdico com os saberes, porque continuam a ser
pensar que ao longo da nossa existncia enquanto espcie fomos tendo deles conscincia.
Equivale isso dizer que, todo o indivduo possuidor, num dado momento, ao mesmo tempo
que o vai construindo, de um saber geomtrico.
Deste modo, a forma como a distribuio dos saberes est organizada, faz com que
lhes sejam atribudos e demarcados territrios de jurisdio quase exclusiva. Essa
Deste modo, o saber geomtrico desenvolve-se mantendo uma relao directa com
distribuio, com efeito, influencia o entendimento que os alunos fazem do seu prprio
Pois, quase todas, seno todas as coisas que nos envolvem, porque impregnadas de valor
ser-lhes transmitida a ideia de que, para serem bem sucedidos, tambm eles podem e
devem criar esses compartimentos nas suas cabeas. Mesmo que isso lhes dificulte a
que as constituam.
Colocaria, Plato, j estas questes? O Mnon fez reconstruir por um ignorante, de quem se
diz que se lembra disso, uma sequncia demonstrativa respeitante diagonal do quadrado. A favor da
cadeia das razes geomtricas, a comunicao restabelece-se com um mundo esquecido.
curricular, pode assim estabelecer-se-lhes uma analogia sob o ponto de vista da geologia, a
partir dos fenmenos de actividade tectnica.
Ora, sabe-se que a superfcie terrestre est dividida em placas tectnicas a
(...)
Uma demonstrao mais contempornea do mesmo teorema encontrar a existncia de uma
matemtica arcaica subjacente, (...) (Serres, 1997: 16).
da diagonal de um quadrado.
tectnica norte-americana e a placa tectnica euro-asitica. As ilhas das Flores e do Corvo situam-se sobre a placa norte-
206
O arquiplago dos Aores, por exemplo, situado em pleno oceano atlntico, est sobre um limite divergente entre a placa
americana, e as restantes ilhas do arquiplago esto sobre a placa tectnica euro-asitica. Como o limite entre estas placas
divergente, significa que as ilhas das Flores e do Corvo se afastam das restantes ilhas. Por outro lado, as ilhas que partilham a
mesma placa, no se afastam nem se aproximam.
207
No que diz respeito geometria como cincia, trata-se da pesquisa levada a cabo
importa prevenir que, como a propsito refere Umberto Eco (2007), por vezes confundimos
escrita ou oral, a expresso concreta de uma qualquer realizao prtica por eles levada a
consequncia5.
cabo. como se estivessem diante de dois saberes paralelos, sem relao entre eles, em
que prtica e teoria esto desligadas uma da outra. De forma semelhante, mostram
instrumentos idneos e meios difusores do que entender por geometria na escola. Dito de
tornam cativos de definies e prticas ausentes de sentido. , por isso, fundamental ter em
Significa isto dizer que, a geometria uma linguagem enraizada na nossa cultura,
faz parte de ns, est presente nos nossos quotidianos e traduz a forma como nos
relacionamos com os espaos e os objectos. Portanto, urge problematizar a geometria, no
sentido de pensar possibilidades de abordagens alternativas s que continuam actualmente
a ser realizadas na escola.
Entenda-se por sistemas de representao grfica rigorosa, pelo menos aqueles que at aos dias de hoje se conhecem e
reconhecem enquanto tal. Designadamente, o sistema de perspectiva central (ou de projeco cnica), o sistema de
perspectiva axonomtrica, o sistema de projeco de planos cotados, e o sistema de dupla projeco ortogonal (tambm
conhecido por geometria descritiva ou geometria mongeana).
208
Reflexo desenvolvida em A Passo de Caranguejo, no subcaptulo Cincia, tecnologia e magia, pp. 116-124.
209
promovendo a expresso livre do indivduo; o que nos leva a pensar que, com as nossas
concepes e atitudes em relao geometria, talvez estejamos a negligenciar ou a
impossibilitar o aparecimento de outras geometrias.
REFERNCIAS
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HUILLET, Danile e STRAUB, Jean-Marie En Rachchant. [7'] Frana: Diagonale Linstitut nationale de laudiovisuel, 1982.
210
211
de cada sujeito observante. o observador que deve escolher o que analisar com a ajuda
do mediador.
figura do mediador naquele espao, sobre os objetos selecionados, sobre a forma, a cor,
o enredo, o contexto; a funo da pergunta levar a pensar, estimular associaes e
interpretaes, tal qual afirma Ana Mae Barbosa (2009, p. 20).
Concebe-se, portanto, a ao educativa e cultural como uma poltica social e de
carter pblico. Afinal, o objetivo de atuao dos museus hoje em dia muito mais a
Para Martins (2005, p. 44), a mediao, mais do que estar entre uma pessoa e um
objeto talvez seja estar entre possibilidades de encontros, com qualidade e intensidade,
conhecimento, oferecendo informaes. Este profissional era aquele que guiava; ele
para ampliar conexes possveis e uma interao especial. O encontro entre educador e
passava dados e detalhamentos. Conforme Barbosa (2008, p. 31), o termo visita guiada
pblico torna a mediao cultural uma prtica de troca, em que todos participam,
pblico no tem nada a oferecer para um dilogo. A leitura da obra de arte e do espao
individual.
expositivo que poderia ser proveniente do espectador ignorada e excluda deste tipo de
visita.
respostas para questes presentes nas obras, como se isso fosse passvel de tal
dilogo realizado diante da obra. Martins (2010, p. 119-20) tambm questiona a mediao
reducionismo.
212
Com o passar do tempo percebe-se uma mudana, ou seja, este profissional que
conduzia a visita no determinava mais tantos limites para o espectador, mas ainda o
comandava dentro do espao. Nesse momento, a nomenclatura utilizada para design-lo
passou a ser monitor. O monitor aquele que concede explicaes, o que muitas vezes
aniquila as mltiplas possibilidades de interpretao dos objetos artsticos.
Sendo assim, o monitor ainda o profissional que determina o percurso da visita,
os olhares e as percepes. Este, porm, tambm um termo carregado de sentidos
preconcebidos: Monitor quem ajuda um professor na sala de aula ou o que veicula a
imagem gerada no HD, no caso de computadores. Atrelada palavra, vai a significao
de veculo e de falta de autonomia e de poder prprio (Barbosa, 2008, p. 30).
213
Essas relaes feitas por Barbosa apontam para a posio subalterna deste sujeito
individual. Vygotsky (1998, p. 63) afirma que, alm de a aprendizagem decorrer das
na hierarquia das instituies culturais, assim como leva a pensar que o monitor no tem
relaes entre os sujeitos e com o meio, ela realizada atravs de instrumentos e signos.
domnio sobre o discurso, ou explicao que transmite, mas dependente dos discursos
de outros, como o discurso do curador, do historiador e da prpria instituio.
As polticas de qualificao profissional deste trabalho nas instituies culturais
assim como o reconhecimento de sua importncia para a formao de pblicos
impulsionam novas reflexes em torno do papel deste agente cultural. Em decorrncia de
uma ressignificao do campo, este educador de museus precisa desdobrar e alterar sua
posio diante do pblico.
A figura que adota novas metodologias diante do pblico, posicionando-se como
algum que fala, mas que tambm ouve, conhecida atualmente como mediador cultural.
De acordo com Ldice Romano de Moura (2007, p. 76), mediador cultural aquele que
recebe o pblico nas instituies de arte, tornando a visita significativa com seu
acolhimento e todo o procedimento pelo qual passa a recepo".
Esta mudana atual corresponde a concepes de Lev S. Vygotsky, autor
referncia da psicologia scio-histrica. Esta linha da psicologia do desenvolvimento
estuda os processos de aprendizagem, valorizando a influncia da interao social na
construo da formao dos indivduos. A abordagem, tambm intitulada de
sociointeracionismo, defende que o desenvolvimento da aprendizagem acontece na
relao social e na troca com o outro, por meio de mediao e interao social. O
indivduo aprende na relao com o meio e com os demais sujeitos, processo conhecido
como mediao.
Segundo a teoria vygotskiana, as relaes sociais so determinantes na formao
dos sujeitos, que se desenvolvem transformando igualmente o seu entorno, num processo
de influncia mtua, de forma interpessoal. Conforme Vygotsky (1998, p. 96-7):
Nosso conceito de desenvolvimento implica a rejeio do ponto de vista
comumente aceito de que o desenvolvimento cognitivo o resultado de uma
acumulao gradual de mudanas isoladas. Acreditamos que o desenvolvimento
da criana um processo dialtico complexo caracterizado pela periodicidade,
desigualdade no desenvolvimento de diferentes funes, metamorfose ou
transformao qualitativa de uma forma em outra, imbricamento de fatores
internos e externos, e processos adaptativos que superam os impedimentos que a
criana encontra.
Fernando Cocchiarale (2007, p. 15) pondera que o mediador deve ser menos a
pessoa que transmita contedos e mais algum que estimule o pblico a estabelecer
algumas relaes de seu prprio modo. Compreende-se que, enquanto mediador, o
educador muito mais um propositor do que um depsito de informaes e dados a ser
despejado sobre o pblico.
anlise de cada sujeito. Mas como o desenvolvimento decorrente das relaes sociais,
214
215
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10852&retorno=p aginaIphan>. Acesso em: 25 fev. 2012.
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WMF Martins Fontes, 2009.
_________________. A formao social da mente. So Paulo: Martins Fontes, 1998.
_________________. Pensamento e linguagem. So Paulo: Martins Fontes, 2005.
Noes de literacia visual por detrs das prticas em sala de aula: um estudo sobre as
imagens, atividades e estratgias usadas pelos professores
Ricardo Reis
Universidade de Barcelona
I2ADS Instituto de Investigao em Arte, Design e Sociedade da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto
Resumo
Pretendo dar conta dos resultados de um estudo no qual participaram 61 professores/educadores desde o prescolar ao 9 ano. A amostra foi escolhida intencionalmente e os dados foram recolhidos atravs da internet. Os
participantes enviaram, ao longo de todo o ano letivo, as imagens que mostraram em sala de aula ao mesmo tempo
que responderam a um questionrio onde lhes era perguntado sobre os objetivos, as atividades, as estratgias, os
contedos e os sentimentos que associaram ao trabalho desenvolvido com cada uma ou conjunto de imagens.
Analisar estes dados, adotando a perspetiva dos new literacies studies e dos estudos de cultura visual, e colocando
em contraponto o universo visual escolar com a visualidade das culturas juvenis, permitir enquadrar as
prticas docentes e encontrar os seus principais referentes, bem como discorrer sobre possveis efeitos que as
imagens, os discursos e prticas tm no desenvolvimento da literacia visual dos alunos ao longo da sua
escolaridade.
Palavras-chave
Currculo de Artes Visuais, Cultura Visual, Educao Artstica, Literacia Visual, Prtica Docente
Trabalho realizado com o auxlio econmico da Fundao para a Cincia e a Tecnologia (FCT), SFRH/BD/72980/2010,
cofinanciado pelo Fundo Social Europeu (FSE)
1. Introduo
Este texto o resultado de uma investigao que desenvolvo no mbito do doutoramento em Artes e Educao
(Universidade de Barcelona), no qual investigo sobre o papel da escola no desenvolvimento e valorizao social da
literacia visual. A tese tentar reunir em torno do mesmo problema trs discursos diferentes que ajudaro sua
compreenso:
Este artigo centra-se apenas num procedimento de investigao levado a cabo para a recolha dos discursos dos
professores, tentando desvelar qual a conceo de literacia visual que est por detrs das suas prticas em sala de
aula. O estudo que presento neste artigo foi realizado durante o ano letivo de 2010/11, perodo durante o qual os
professores partilharam comigo as imagens que mostraram aos seus alunos nas suas aulas bem como informaes
sobre as atividades que desenvolveram. Neste momento as evidncias recolhidas ainda esto a ser analisadas. Assim,
o que apresento neste texto so as minhas primeiras impresses sobre o material recolhido que pretende acima de
tudo suscitar o debate e recolher o feedback de professores e acadmicos para que outras perspetivas possam ser
incorporadas nas anlises subsequentes.
216
217
passaram a aceder esteve na origem das correntes pedaggicas progressistas do incio do sc. XX (Fernandes, 2011,
p. 20).
O progresso tcnico e cientfico na sociedade levou ao aparecimento de novos recursos para a educao que exigiam
tambm novos conhecimentos, talvez por isso Edgar Dale, no seu livro Audiovisual methods in teaching, de 1946,
tenha identificado a literacia visual como um dos principais modos de literacia, a par das literacias escrita (impressa)
e auditiva. Mais tarde, no final dos anos 60, havia j a conscincia de que a penetrao dos novos media davam um
grande enfase representao visual como prtica de comunicao (McDougall, 2004, p. 25), especialmente com a
difuso da imprensa e televiso a cores. A noo de literacia visual vigente baseava-se na existncia de uma
linguagem visual que a suportava (Lin, 2008, p. 26). Seguindo a conceo de que era fundamental dominar a
linguagem visual para ser considerado literato visual, Dondis publica, em 1973, o livro A primer of visual literacy.
Ao longo dos tempos o conceito torna-se mais complexo e em 2003, Anne Bamford, no seu The Visual Literacy
White Paper, considera que ser literato visual dominar uma combinao de sintaxe (estrutura e organizao das
parte que constituem uma imagem) e semntica (o modo como as imagens adquirem sentido na relao com o
mundo) e que a atual proliferao de imagens leva a considerar a literacia visual como fundamental na obteno de
informao, na construo do conhecimento e de resultados escolares bem-sucedidos (Bamford, 2003).
Contudo, permanece a falta de consenso sobre quem cunhou o termo visual literacy. O que parece certo que a
literacia visual no um fenmeno recente e atualmente constitui-se como uma vasta rea de investigao, que se
tornou mais ampla com o impacto das novas tecnologias (McDougall, 2004, p. 26). Foi exatamente o advento dessas
novas tecnologias, e do impacto que elas tm nas nossas vidas, que levou a uma reviso do conceito de literacia,
levando a que se fale agora em multiliteracias ou novas literacias, conceitos que articulam a multiplicidade de canais
de comunicao por elas possibilitados; a crescente importncia da diversidade cultural e lingustica nas sociedades
contemporneas; e as interaes globais ao nvel social, cultural e tecnolgico (Baker, 2010; Cope & Kalantzis,
2000; Hernndez, 2007). Atualmente, as chamadas novas literacias compreendem tambm novas competncias,
estratgias, disposies, e prticas sociais associadas ao uso das novas tecnologias da informao e comunicao, e
so fundamentais para uma participao completa na comunidade global. Estas novas literacias, nas quais se inclui
com especial destaque a literacia visual, esto em constante mudana tal como as prprias tecnologias; so
multifacetadas e a nossa compreenso sobre elas resulta de diferentes pontos de vista coexistentes (Baker, 2010, p.
x).
Perante o exposto, h que reconhecer um paralelo entre a evoluo das tecnologias da viso e a reviso da noo de
literacia visual, que continua a evoluir e a transformar-se em resultado da construo social que a valida. Partindo
deste suposto paralelismo, conclui-se que o nosso olhar tem sido fabricado pelas tecnologias da viso e pelos
diferentes discursos e contextos que as legitimam. Talvez por isso vrios autores defendam uma necessria educao
do olhar, assente na perspetiva das novas literacias (Hernndez, 2007; Rodrigues, 2011; Sicard, 2006), na tentativa
de levar os observadores a entender melhor os processos e lugares de produo, distribuio e consumo das
imagens, bem como a forte e constante relao que com elas estabelecemos.
como codificao e descodificao das notaes simblicas. Esta conceo de literacia visual relaciona-se
com a capacidade de ler e escrever usando os smbolos visuais;
ii) como resposta s obras de arte. Esta conceo de literacia visual est relacionada com o desenvolvimento
de apreciadores e conhecedores de arte. Esta compreenso do conceito bastante mais alargada do que na
primeira etapa e inclui a habilidade para dar respostas em frente obra de arte, para perceber as qualidades
da forma artstica, para fazer julgamentos crticos e para ter conhecimento do contexto no qual a obra de
arte emergiu e no qual reside;
iii) como consequncia do fazer, criar, como resposta e como reflexo em relao aos objetivos, processos e
contextos. Esta conceo de literacia visual est mais prxima da perspetiva das chamadas novas literacias.
218
Podemos enquadrar nesta ltima etapa da ampliao do uso do conceito a perspetiva de Hernndez (2007, p. 22)
quando refere que adquirir literacia visual deve permitir aos alunos analisar, interpretar, avaliar e criar, a partir das
relaes estabelecidas entre saberes que circulam pelos textos orais, auditivos, visuais, escritos, corporais e, em
especial, aqueles vinculados s imagens que saturam as representaes mediadas pela tecnologia nas sociedades
contemporneas.
5. Implementao da investigao
5.1. Quem so os participantes?
A amostra foi construda com base no princpio das amostras intencionais (Patton, 2002). Escolhi pessoas que de
algum modo tinham uma implicao com o objeto de estudo mas tambm comigo, o que me poderia garantir um
maior envolvimento de cada uma dessas pessoas no trabalho que tinham de realizar. Pedi-lhes tambm que enviasse
este meu pedido a alguns dos seus contactos para que o nmero de participantes pudesse aumentar. Assim, aquilo
que comeou por ser uma amostra intencional com critrio, em que os participantes foram escolhidos com base na
previsvel garantia de qualidade e envolvimento que me proporcionavam, tornou-se uma amostra intencional tipo
bola de neve (Patton, 2002, pp. 2367) em que os professores traziam para o estudo outros que eles consideravam
adequar-se aos objetivos traados, e esses outros traziam, por sua vez, outros professores.
Dos 59 professores que participaram, desde o pr-escolar at ao 9 ano, 43 eram mulheres e 16 eram homens. A
relao entre homens e mulheres prxima da relao que podemos observar em todo o sistema educativo em
Portugal. Os professores eram de todo o pas mas com maior incidncia na regio Centro, na regio de Lisboa e na
Pennsula de Setbal. A maioria dos participantes so professores de EVT. Um pouco mais de metade dos
participantes tem entre 6 e 15 anos de servio como professor, pelo que se poder considerar que tm alguma
experincia profissional.
5.2. O questionrio
Para recolher as evidncias foi criado um questionrio atravs de tecnologia web-based, cujas respostas enviadas
ficaram guardadas numa base de dados confidencial, qual s eu tinha acesso. O questionrio, no qual se
perguntava sobre os objetivos, as atividades, estratgias e contedos associados ao trabalho desenvolvido com cada
imagem ou conjunto de imagens, foi construdo tendo por base trs inquietaes principais que nortearam a
definio das perguntas: i) conhecer as imagens que so visualizadas pelos alunos em contexto de sala de aula; ii)
conhecer o modo como feita a visualizao das imagens; iii) enquadrar as imagens em temas/contedos e prticas
em sala de aula, sendo importante que esse enquadramento fosse dado pelos prprios professores participantes e no
inferido pelo investigador.
219
imagens aos alunos, j que havia semanas em que os alunos estavam a realizar alguma tarefa e o papel do professor
seria acompanh-los. Em conversao os participantes que manifestaram essa preocupao definimos que cada um
decidiria o qu e quando partilhar, aceitando o compromisso de partilhar todo o que considerassem relevante para
este estudo. A adoo desta estratgia colocou maior responsabilidade no lado dos participantes, pois seriam eles a
decidir o que partilhar, mas libertou-os da obrigao de preencher semanalmente o questionrio. Com esta nova
estratgia foi introduzido um dado novo que ser relevante na anlise das evidncias: o que os professores
partilharam (imagens e respostas escritas) aquilo que eles consideram como mais relevante no seu trabalho, ou
seja, aquilo que lhes pareceu mais representativo da sua disciplina e da sua ao como professores da rea das
artes visuais.
contemporneos, como Joana Vasconcelos. O princpio expressionista na Educao Artstica (EA) de preservar as
crianas do contato com as obras e a HA parece ter desparecido, tendo em conta a presena cada vez maior destas
imagens na escola. A utilizao de obras de arte (essencialmente figurativas ou, quando abstratas, geomtricas, com
formas e cores bsicas) parece corresponder ideia de que as crianas so seres inocentes e detentores de pouco
conhecimento, pelo que estas obras sero mais adequadas sua idade.
recorrente a escolha de obras que apresentam pontos, linhas, quadrados, retngulos, tringulos e crculos, e uma
simplicidade cromtica de cores saturadas. apresentao destas obras est habitualmente associada realizao de
atividades de desenho rigoroso de figuras geomtricas ou composies visuais.
Verifico que as obras escolhidas encaixam nos critrios cannicos da Histria da Arte (HA), apresentando as
mesmas obras dos mesmos artistas. Artistas fceis de encontrar na internet, que tm obra impressa ou que so
recorrentes nas programaes dos museus. A maioria das imagens de arte apresentadas da poca moderna e
pertence arte europeia. Representaes de outras pocas (anteriores ou posteriores) ou extraeuropeias so raras. H
tambm referncias a obras de artistas portugueses, especialmente do sc. XIX e XX, mas tambm alguns
220
Tarefas como a realizao da capa para guardar os trabalhos e a sua identificao atravs do desenho da letra ainda
so recorrentes na prtica dos professores, mesmo entre os mais novos. Segundo Acaso (2009, p. 16), os professores
reproduzem de forma imediata as metodologias de trabalho com as quais eles foram formados, ou seja, fazem a
reproduo do aborrecido.
Outra atividade recorrente a elaborao de objetos utilitrios, seguindo um modelo predefinido, dado pelo
professor, que garante a qualidade do produto final. Este modo de fazer tem a sua gnese nos antigos trabalhos
manuais educativos onde as propostas de trabalho estavam relacionadas com a repetio de modelos ou a execuo
concertada e repetida de procedimentos.
Figura 4. Imagens partilhadas pelos professores com alguns exemplos (modelos) de decoraes de Natal.
221
Devemos ter em conta que o conceito de LV na EA no um conceito fixo pois est em constante modificao,
especialmente pela diversidade de ambientes de ensino-aprendizagem, pelos desenvolvimentos nas teorias
curriculares e pedaggicas, e ainda pelo impacto das novas tecnologias na nossa sociedade (Lin, 2008, pp. 412).
8. Bibliografia
Acaso, M. (2009). La educacin artstica no son manualidades: nuevas prcticas en la enseanza de las artes y la
cultura visual (p. 240). Catarata.
Agirre, I. (2010). Sobre los usos del arte en la escuela infantil. In R. G. Vida, M. . M. Viana, & C. G. Castro
(Eds.), I Congreso Internacional Arte, Ilustracin y Cultura Visual en Educacin Infantil y Primaria:
construccin de identidades (pp. 3545). Granada: Universidade de Granada.
Uma possvel concluso: quais podem ser as noes de literacia visual por detrs das prticas
docentes em sala de aula?
At ao momento, sem ter analisado todo o material recolhido, arrisco algumas concluses parciais que me
pareceram mais evidentes depois de uma primeira anlise s evidncias recolhidas. Estas primeiras impresses
ajudam-me a concluir que a arte chega escola, dominada pela pintura, e que os alunos veem poucas imagens da
cultura visual contempornea, aumentando o fosso entre o dentro e o fora da escola.
importante ter em conta que a ao de um professor no incua: cada imagem que escolhe, cada atividade que
prope, cada deciso que toma no decorrer da sua ao pedaggica est imbuda das suas concees sobre o que a
EA, sobre o que os seus alunos tm de aprender, ou sobre quem pensa que so os seus alunos; ainda que disso no
esteja totalmente consciente.
Deste modo, as prticas dos professores parecem estar mais prximas de uma abordagem LV como conhecimento
e domnio da linguagem visual, pois a maioria das propostas de trabalho so baseadas em anlises formalistas de
obras de arte, na aprendizagem de tcnicas e sua reproduo mecnica, ou na reproduo de modelos estticos tidos
como mais adequados aos alunos (Agirre, 2010). Estas propostas de trabalho assentam na ideia de formar um
bom olho, que capaz de discernir, de analisar profundamente; um olho conhecedor que sabe gramtica visual;
distingue os elementos da forma; e conhece HA, mas tem dificuldade em relacionar, em interpretar, em avaliar ou
em criar (Rogoff, 2002).
Durante o processo de investigao penso que podemos aprender mais sobre:
Bamford, A. (2003). The Visual Literacy White Paper. Educational Technology. Sidney. Retrieved from
http://www.adobe.com/ukl education/pdf/adobe visual_literacy Jlaper. pdf
Banks, M. (2001). Visual methods in social research. Londres: Sage Publications.
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Londres: The MIT Press.
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125). Barcelona: Octaedro.
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R. G. Vida, M. . M. Viana, & C. G. Castro (Eds.), I Congreso Internacional Arte, Ilustracin y Cultura
Visual en Educacin Infantil y Primaria: construccin de identidades (pp. 4759). Granada: Universidade de
Granada.
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Sicard, M. (2006). A fbrica do olhar: imagens de cincia e aparelhos de viso (sculo XV-XX) (p. 305). Lisboa:
Edies 70.
222
Baker, E. A. (Ed.). (2010). The new literacies: multiple perspectives on research and practice (p. 322). Nova
Iorque: Guilford Press.
223
224
225
226
227
228
229
Email: [email protected]
Tal fenmeno tem causado apreenso aos professores que se confrontam com a
necessidade de adaptarem as suas estratgias e prticas pedaggicas, no sentido de
Resumo
230
nacional
internacional.
Com
intuito
de
compreender
231
Este projeto revela que a educao para a diversidade humana passa pela descoberta do
seus colegas.
Chalmers (2003) sublinha o valor da arte enquanto elo de ligao da humanidade, para
alm das diferenas culturais, quando afirma que a arte constitui um meio que ajuda a
educao pela arte enfatiza no apenas a esttica vinculada obra de arte, mas a esttica
que vivemos.
mas para alm disso, ajudam a reforar a construo de identidades e valores individuais
cvica que predispem para a mudana de valores e atitudes, cabendo aos professores
atravs das artes, do mundo associado ao ritmo, ao som, ao movimento corporal, apela-
Como salientam Sousa e Neto (2003), a msica, por exemplo, constitui uma
comunicao sem fronteiras e, por isso, possui um poder muito vasto, permitindo um
contacto estreito com vrias formas da cultura humana, como a matemtica, a
arquitectura, a literatura, a gastronomia, entre outras.
232
233
MarianaSilva
FaculdadedeLetrasdaUniversidadedoPorto
foiopesodeumimaginrio,quealiadoaodiscursosobreaperdaeainjriadeumDourohoje
patrimonializado UNESCO (2001) , agudiza o impulso de querer parar o tempo, guardar e
encapsular(encapsularatdentrodeumgarrafotalequalcomosedeumavitrinesetratasse)
aquiloquesedizqueseviu,queseesperaverequeodiscursodaautenticidadequermostrar.
234
Defacto,aodepararmonoscomaexposiofinal,oquesetornouclaroevidnciadoolhar
PalavrasChave:
Sabendo que o sistema de ensino est carregado de valores e que os ensinamentos so,
Sujeitoseducativos/Autoridade(s)/Representaes/Esteretipos
portanto, sistemas culturais, subiram tona valores e crenas dos diferentes agentes
produzirumconhecimentovlido(evalidado)relativoaummundocomumcomumafortecarga
Apresentecomunicaopartedeumestudodecasodenaturezaqualitativa,levadoacabono
anoletivo2009/2010,nombitodoestgiocurricularnoServioEducativodoMuseudoDouro
(LENCASTREeLEAL:2006,112).
(PesodaRgua,Portugal),queacompanhouo
easuaimplementaonumaturma.
neutralidadedoconhecimentoencontrarseapenas dooutrolado,odaescola?Atualmente,
oprincpiochavedotrabalhodoServioEducativodoMuseudoDouro,
que ao querer propor um modo mais inquiridor de nos relacionarmos com os lugares onde
vivemos, acredita que tal s possvel quando o indivduo consegue ter conscincia de si
apresentandosecomoautoridadequeefetuaclassificaes,orientademaneirasistemticaa
nesses mesmos lugares e paisagens. Neste contexto, na continuidade dos projetos com
memria dos indivduos, e canaliza as nossas percees para quadros compatveis com as
escolaslanadosdesdeoanode2007,surgiuo.
relaes por eles mesmo autorizadas (DOUGLAS: 1986, 93), numa tentativa por vezes de
Ofoiumprojetoorientadopararealidadeserepresentaesdoquotidiano,onde
sepretendeutocarerevelarvivncias,memriasemodosdeverpessoaisdeumterritrioque
esplios.
temorioDourocomopanodefundo.Comosedeumacpsulaourelicriodelembranase
Eaqui,numabuscaincessantepelofieldabalana,questiono:qualoponto(ouaponte)de
inspirado nos velhos garrafes de aguardente. E o que se pediu? Que l dentro, no fim do
equilbrioentreonossoeooutrolado?Partindodoprincpioqueonossoodomuseu,oda
processodoprojeto,crianasejovensrecriassemoDouro.
equipaeducativa,odoeducador.Eooutroodopblico,quepodeserumaescola,umaluno
eumprofessor(quetambmumoutroeducador).
E como mais do que concluses o que aqui quero partilhar so inquietaes, em jeito de
pontapdesadaparaodebate,voucontinuarestetextocomumconjuntodeinterrogaes:
:2009,1)
Setembrode2009:Assimsedincioapresentaodo
Espaoscomoosdosmuseuseespecificamenteotrabalhodeeducaoemmuseus(dearte
enos)deverseassumircomoinquiridor(enoimpositor)desentidosdecomunidadese
Maio de 2010: Para a exposio final no museu chegam garrafes atrs de garrafes com
barcosrabelos,socalcos,vinhas,uvas,vindimadeirasEacomearamasurgirasprimeiras
inquietaes.
podemostornarestetrabalhocapazdecontribuirparaaconstruodeconhecimentoirrequieto,
implicadoepartilhadocomoquehecomoquehdevir?
Porquequenumprojetodirecionadopararealidadeserepresentaesdoquotidianoeonde
Comoqueselidacomosresultadosnodesejadosoucomapermannciadevisesque
nacionalismosdossculosXIXeXX?
ultrapassadas,semrecorreraumdiscursoaltamenteautoritrio?Seraperdaumacondio
inerenteaotrabalhoemeducaoeonodesejveltambmpoderserodespoletadordeum
235
trabalho mais ttico sobre o meio onde se opera, tal como nos diz Vctor del Ro (DEL RO:
2007)?
necessariamentedeseconcretizaratravsdamaterializaoedaapresentaopblica?Num
afinal?
oquecomo
:2010,7),sereagepermannciademodelosbuclicosde
turista ver? Mas, por outro lado, tambm podemos questionar: at que ponto que por
exemploacenadeumavindimaantiganofazpartedoimaginriodealgumasdascrianase
jovensqueparticiparamnoprojeto?Atquepontoquenafamliadestasnoexistemavs,
que desde muito jovens carregaram cestos atrs de cestos s costas nas vindimas? Ou no
turstica?Eseassimofor,nosernaturalqueoDouroparaelassejaigualaturismo,jque
soosritmosdestaatividadequemarcamodiaadiadasuacasa?
Equalopapeldoprofessor?Acenadeumavindimaantiganopodertambmfazerparte
orientadorinfluenciamodesenvolvimentodoprojetopeloseugrupo?Eatquepontoquea
tradio das nossas escolas de habitualmente atriburem este gnero de projetos com
instituies exteriores s reas curriculares das expresses (que no caso das expresses
histrica como nica legitimada para atuao sobre o que se assume como patrimnio
ComoseriatrataromesmotemanumadisciplinacomoQumicaouBiologia?
E qual ou dever ser a relao entre equipas educativas e professores? No fundo, entre
museusnoincorreronapremissaqueaquiloquebemfeitooqueesteoquesefazno
museu,etudoaquiloquenosaidiretamentedassuasmosmaisoumenos?Preconizando
porissoumaaoquepoderatserconsideradaaltamentemanipuladora eprofundamente
posturanoseuespaodedomnio,masqueporacasonosegueasmesmaslinhas.Nose
estabeleceraquioconfronto?Eoquesepoderfazerparaalterarestaposio?
Equalopesodeumaexposiofinal?Paraaescola,numprojetopropostoporumaentidade
como se verificou neste estudo de caso, a que a questo principal deixasse de ser que
mensagem queremos transmitir? ou que caminho vamos seguir?, para ser o que vamos
236
237
Documentosinstitucionais
sistema educativo
1.
O processo de evoluo e de organizao do sistema econmico capitalista no
.PesodaRgua:
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educativas globais que tm vindo a ser traadas, verifica-se uma tendncia para a
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TrabalhodeProjecto.ColecoComoAbordar.Lisboa:Areal,2006.ISBN9789726279129,
no
ultrapassaram
carcter
discursivo
devidamente
pp.100122.
parte da administrao central que restringe, e o abandono por parte das leis do mercado
que desampara.
fazem-se sentir na contemporaneidade. Neste sentido, valer a pena fazer uma reflexo
238
2.
239
faces.
com vista a auscultar repercusses da obra na vida dos entrevistados, duas faces que se
aventar que os referidos artistas, com a conscincia de que o ser humano encerra
fazer o mltiplo4 que se afigura como "(...) uma espcie de criao contnua que, sem
moldada e criando uma outra conscincia que tem implcita uma outra realidade. E
consiste em estar para alm de qualquer essncia definida (Cabral, 2001) pois, e como
objectos artsticos, que constituem agenciamentos5, os quais, por sua vez, se conectam
Ento, provavelmente o homem tem vocao para ser um esprito livre e, nestas
"comunicao activa" com o outro, para que a experincia do ser humano no mundo
desejo arbitrrio. Deste modo, do liberdade aos seus valores, s suas capacidades e
3.
Chegados a este ponto da nossa reflexo, questionamo-nos: num tempo to lbil,
em constante metamorfose, determinado pela acelerao do tempo e pela consequente
expanso do espao que a tecnologia estimulou, um tempo que perdeu o seu piv, em
que tudo se configura numa dinmica mais rizomtica1, no deveria ser funo das
escolas preocuparem-se em dotar o ser humano de uma estrutura capaz de conviver com
as complexidades quotidianas capacitando-o a exercitar os () instrumentos de
pensamento e de cultura que lhe permitem agir como autor do seu tempo cultural e
humano (Lcio, 2008: 37)? Nesta conformidade, poder a educao esttica ter
condimentos para se assumir como um modelo capaz de induzir unidade do
conhecimento e emancipao do ser humano?
1
240
Refira-se que os artistas entrevistados foram: o escritor Antnio Alada Baptista, o maestro Antnio
Victorino DAlmeida, o professor Jacinto Rodrigues, a pintora Helena Abreu, o ex-Bailarino Jorge
Salavisa, oo actor Ruy de Carvalho, o Escultor Jos Rodrigues e o cineasta Fernando Lopes. As
entrevistas constam, na ntegra, na obra o belo e a vida (Silva, 2010).
3
Fazemos constar nesta Comunicao, alguns fragmentos das entrevistas. Escritor: descobri muita coisa
a escrever; maestro: Nem por sombras, todas as notas que a gente toca so to importantes como as
outras () a cidadania est em ns darmos o devido e correspondente valor a cada som que sai, no caso
do pianista, de cada dedo. Pintora: () a pintura acho que me liberta de () aspectos negativos do meu
temperamento () eu sou baixa e acho que as mulheres altas so mais bonitas para contemplar, ento
passo a contrariar a minha natureza interior e a fazer as pessoas mais esguias; actor: Eu quando estudo
um papel tenho de procurar as emoes que esto no personagem que fao, () Ser actor implica um
maior conhecimento do meu semelhante, por isso que eu gosto tanto do meu semelhante, porque ele a
fonte da minha riqueza; escultor: Vm ao de cima facetas que no conhecia, sensibilidades, sobretudo
sentimentos, estados de alma, estados metafsicos. O nosso corpo todo funciona, no s a mo ou a
cabea, tudo funciona. So pginas de um dirio, so pginas() a arte pode ajudar a encontrar uma
certa estabilidade. Para mim, funciona quase como um sossega-me, vou dialogando no silncio, o
dilogo comigo prprio. Papel branco ou ento o barro, converso com eles () Umas vezes eu comando
o barro, outras vezes o barro que me comanda a mim, dialogamos os dois () No h vencidos nem
vencedores.; cineasta: o cinema olha para as imagens, () o cinema foi () uma forma quase, diria,
dramatrgica, de eu fazer a minha vida. () ajuda-me a conhecer as pessoas () permite-me exorcizar
fantasmas meus e fantasmas dessas pessoas. () Cada vez que eu fao um filme liberto-me de alguns
fantasmas. Vm outros a seguir.
4
Expresso de Deleuse e Guattari, 1996.
5
Expresso de Deleuse e Guattari, 1996.
241
Referncias bibliogrficas
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conjugar, atravs das manifestaes expressivas das artes, constituindo alianas, j que
- Bos, A. (1986). Desafios para uma pedagogia social. Brasil: Editora Antroposfica.
fora suficiente para sacudirem e desenraizarem o verbo ser. (Deleuze e Guattari, 1996:
19).
Concluiramos dizendo que uma verdadeira aprendizagem ter de deixar de ser
um processo instrudo para passar a ser um processo cultural que mergulha nas razes
mais profundas do indivduo, susceptvel de produzir incontveis fluxos e refluxos,
actuante
nos
espaos
das
suas
mun-
242
243
Tema: Educao/Arte/Desenvolvimento
Mais que uma simples etnia, porm, o Brasil uma etnia nacional,
ideia
de
pertencimento
como
conquista
social,
tem
dos CEUs uma grande ousadia, pois seu escopo prev a tentativa de
quebrar com as hierarquias culturais estabelecidas nesta cidade e demarcar
com as comunidades locais de cada CEU sua identidade cultural, considerando
as culturas locais, as possibilidades heterogneas e diversidades identitrias
das vrias so-paulos existentes na cidade.
244
245
para
concatenar
essas
energias
orient-las
246
Cultura e Recreao foi criado oficialmente em maio de 1935. Pela primeira vez
247
criao dos CEUs. Podemos notar que este um dos eixos centrais do projeto
ANDRADE
Os CEUs foram criados pelo Governo da Reconstruo, liderado pela prefeita
Marta Suplicy, entre os anos de 2001 a 2004, nasce nesta perspectiva de
cidadania cultural combinando gesto participativa e qualidade social da
educao. Buscou-se valorizar, reconhecer, respeitar e partilhar as culturas
locais dos 21 CEUs, considerando a cidade heterognea e cada CEU nico e
plural ao mesmo tempo. A concepo dos CEUs recebe influncia de diversas
iniciativas inovadoras que a histria da educao nos revela. Esta pesquisa
enfatiza as influncias recebidas dos Parques Infantis e do iderio modernista
da gesto de Mrio de Andrade, porm destacamos as influncias recebidas
dos projetos que fazem referncia Escola Parque idealizada pelo educador
Ansio Teixeira, lanado na Bahia em 1950.
Os Centros de Educao Unificados foram construdos em regies perifricas
da cidade de So Paulo, onde o Mapa da Excluso Social (SPOSATI, 2001),
apontava pouca ou nenhuma presena do poder pblico, alta concentrao de
pobreza, locais sem equipamentos pblicos de cultura e lazer e altos ndices de
violncia urbana. Com a implantao dos vinte e um CEUs na primeira fase, a
cidade muda significativamente o quadro de equipamentos pblicos de
educao e cultura, expandindo a quantidade de bibliotecas de 67 para 88
(aumento de 30%), telecentros de 52 para 73 (40%), piscinas de 61 para 128
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GOBBI, Marcia. Mario das Crianas. Campinas, SP: Jornal da Unicamp,
edio 310 de 2005.
248
249
250
251
pera, musica, mdia, artes plsticas, leva a uma nova classificao dos gneros de
possibilitar uma relao dialgica entre as diferentes linguagens, mas sem perder suas
especificidades. Assim,
Arte/Educao.
Sobre o princpio da interdisciplinaridade, que no incio da dcada de 1990
tornou-se temtica emergente dos mais representativos eventos sobre formao de
No Brasil, o eixo interdisciplinaridade foi temtica emergente nos encontros da ANPED associao
Nacional de Ps-graduao em Educao, dos Encontros Bienais de Professores de Didtica e Prtica
de Ensino (ENDIPE) e da Conferncia Brasileira de Educao (CBE).
252
Nos limites deste texto, procuro refletir neste momento sobre os obstculos e
as possibilidades para a efetivao de uma proposta interdisciplinar para o ensino e
aprendizagem em Arte na contemporaneidade. Trago cena a fala da Professora Ivani
Fazenda que, em sua tese de livre-docncia nos fala que
[...] o ensino interdisciplinar nasce da proposio de novos
objetivos, de novos mtodos, de uma pedagogia, cuja tnica
primeira a supresso do monlogo e a instaurao de uma prtica
dialgica. Para tanto, faz-se necessria a eliminao de barreiras
253
Transpondo esta fala para o campo da Arte/Educao, tal projeto poderia ser
viabilizado se fossem discutidos alguns obstculos, como:
1. Obstculo de ordem epistemolgica a interdisciplinaridade s se faz presente
quando forem respeitadas as verdades e a especificidade de cada linguagem
artstica;
2. Obstculo de ordem institucional torna-se premissa a eliminao das
barreiras entre as linguagens artsticas e as demais disciplinas do currculo, o
que exige a quebra da cultura da instituio, que, de certa forma, ainda refora
o discurso fragmentado e engavetado das disciplinas. Precisamos de uma
estrutura dialtica, no linear e no hierarquizada, onde o mais importante do
que o produto o processo.
3. Obstculos quanto formao o desconhecimento do real significado de um
projeto interdisciplinar em arte, falta de formao e informao especfica,
acomodao situao j estabelecida e sedimentada. Precisamos de
condies humanas ou seja, um novo tipo de profissional com novas
caractersticas, as quais ainda esto sendo ensaiadas.
4. Obstculos de ordem material para efetivarmos tal proposio primordial
um planejamento do espao e tempos diferenciados na grade curricular.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
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255
experincia de desencontro com ns mesmos. E, afinal, o que de uma pesquisa que no encontra
em seu curso o desconhecido e o impondervel? O que do trabalho do pesquisador quando ele
O ensejo dessa rescrita abre margens para se pensar dois conceitos de fundamental
artstica como dispositivo de controle apresentado no 2 Eiea, ao ser repensado aps o encontro
importncia nos encontros, congressos, nas universidades, nos centros de pesquisa entre tantas
se nos apresentou como um texto estranhamente familiar. Os encontros marginais aqueles que
outras ocasies em que grupos heterogneos de pessoas, linhas de pesquisa e abordagens temticas
acontecem fora da programao oficial so eles que fazem irromper aquilo que no que foi pensado
se cruzam. Esses dois conceitos so: encontro e acontecimento. Pelo primeiro pode-se pensar os
ficou impensado. So esses contedos que retornam e pedem para ser pensados. Pode-se destacar,
com isso, que o trabalho de rescrita semelhante ao trabalho de elaborao ( durcharbeitung ). Este
conceito, de extrao freudiana e reativado por Jean Franois Lyotard, supe um trabalho que se
realiza atravs. Mas atravs de qu, no 2 Eiea, este trabalho se realizou? Atravs justamente do
e conflituosas que nos pedem olhar para aquilo que at ento permanecia margem de nossos
tinha por objetivo comunicar que a educao est inserida num processo de generalizao esttica
recortes tericos. O sentido da pesquisa enquanto campo de experincia, exige assim uma abertura
que atinge a quase totalidade dos pases capitalistas. Esse processo de generalizao do esttico
no territrio que ajudamos a constituir, sobretudo suas bordas e limites. Dai que um encontro
justamente a oportunidade, talvez tmida, que o pesquisador tenha para se lanar na aventura
parte do capitalismo avanado, dito ps-industrial, em que vigoram, como novos paradigmas,
intelectual da pesquisa enquanto experincia: algo que vai ao encontro e de encontro quilo que
do encontro no Encontro, estar disposto a ser afetado por uma certa violncia do impondervel,
daquilo que no pode ser previsto e, por isso mesmo, escapa ao territrio de nossos clculos, teorias,
afetos, paixes, instintos, pulses, feita por um especialista que passa a ser, ao mesmo tempo,
pensamento. Aqui possvel, ento, falar do segundo conceito: o acontecimento. E para pensar o
acontecimento no encontro pode-se evocar algumas figuras conhecidas de todos aqueles que alguma
verdadeiro banco de afetos e pulses capazes de suscitar desejos, vontades, sonhos. O trabalho
esquinas, jardins, os banheiros/casa de banho; pode-se evocar tambm a sonoridade de uma lngua
emoes para serem vendido no mercado. O agenciamento tambm pode ser considerado como a
mediao de uma negociao. O que que se negocia no caso? O mediador aquele que sabe como
agenciar o afeto e vend-lo como mercadoria para um comprador. Como todo bom vendedor, ele
neologismos inventados nos desencontros dos falantes: a menina grega que ouve o estudante
dispe de seus catlogos de cliente e produtos: cores, formas, texturas, tonalidades, matizes,
brasileiro falar portunhol. Todas essas figuras do acontecimento so velhas conhecidas nossas, todos
conhecemos a potncia dos encontros em cada uma dessas situaes quando nosso texto-
alcanar o prazer e a felicidade, desejo, vontade, sonho - tudo isso que se pode chamar de
comunicao-pesquisa passa a ser um tanto desfeito para dar lugar a uma nova trama, talvez incio
intensidades.
de um novo tecido. Por isso a experincia de uma escrita ps-encontro pode ser tambm uma
1
Professor de Filosofia. Mestre em Educao pela USP Universidade de So Paulo. Doutorando em Educao pela
mesma universidade.
a um
Associadas todas essas dimenses no campo educacional, sobretudo nesta poca em que
reformas educacionais ocorrem em diversos pases, percebe-se o quanto a educao passa a
produzir subjetividades adequadas s demandas da contemporaneidade.
Assim, a princpio
1
2
256
257
possvel identificar que o destaque dado arte e sensibilidade no mundo contemporneo, se refere
reflexes, teorias e clculos capazes de fazer variar um conjunto de mdulos aqui, os mdulos
ao momento em que a educao passa a ser investida por esse processo de estetizao generalizada.
poderiam ser cada uma das competncias e habilidades ou mesmo cada um dos sujeitos envolvidos
O desejo das vanguardas em parte se cumpre: a arte disseminada na vida. Em parte o terror tambm
na educao.
rearranja mdulos bem como opera no campo de possibilidades no campo dos possveis arranjos
ofertada, oferece-se tambm toda uma srie de possibilidades, de mundos possivelmente mais
de mundos. A vida aquilo que oferece ao sistema capitalista uma fonte inesgotvel de inveno.
Viver, no contexto do capitalismo avanado ( cognitivo, afetivo, esttico ) inventar modos de vida.
cooptao afetiva. Tais concepes insistiriam num programa segundo o qual sensibilidade e a arte
seriam os arautos da transformao da vida. Nesse contexto, torna-se problemtico o ensino de arte
mediante a perda da fora de negatividade da arte que se teria esvado quando em se levando em
que o capitalismo contemporneo incorpora tudo aquilo que fazia parte, outrora, do universo das
conta o processo de generalizao esttica a vida mesma teria sido transformada pela arte e pela
artes. A esse fenmeno eles chamam capitalismo esttico. Assim, o destaque que vem sendo dado
arte nessas novas concepes de educao se relaciona, quer gostemos ou no, justamente aquilo
A ligao da esttica com a biopoltica diz respeito aos processos de reinveno, criao,
capacidade de lidar com o inusitado, beleza, delicadeza, pluralidade cultural, saber conviver. Tudo
isso, caractersticas marcantes da Arte como componente curricular. Um sujeito diante de suas
importante se lembrar, portanto, que se est trazendo para o interior da educao esse dispositivo
biopoltico do poder sobre a vida que atuam no interior dos processos de reinveno da vida e do
mundo. O capitalismo tomou como modelo esse aspecto fazendo com que se tornasse seu corolrio:
possibilidade de bricolar, montar, construir um sujeito novo conforme a situao, que se espera
como blocos de conexo. O sujeito criado na medida em que joga. E quanto mais joga, mais ele
experimenta. Experimentar desmontar e remontar, isso que significa jogar: fabricar a si mesmo
avanado pode, assim, ser compreendido como capitalismo esttico e uma nova concepo de
por meio da experimentao. Uma espcie de bricolagem de si. A educao pode ser assim
educao, que ao tomar a esttica como princpio axiolgico no esteja atenta a esse fato, pode
compreendida como uma tecnologia de modulao a servio de uma poltica que produz mundos
uma tecnologia que forneceria ao sistema aquilo de que ele precisa. A educao seria uma
exigncias eventuais, referentes a situaes parciais, dadas a cada vez, e nunca numa totalidade. O
sujeito dai resultante sempre um evento, um acontecimento que se molda circunstncia. Quer
oferece ao sistema capitalista atual toda uma populao preparada para lidar com os desafios do
competncias. Trata-se da produo de uma subjetividade cujo trao talvez mais marcante seja a
mundo contemporneo. Modulao uma variao. Modular significa fazer variar, uma operao
que faz variar um conjunto de mdulos. A educao compreendida como uma tecnologia de
modulao pode ser pensada como um conjunto de tcnicas, procedimentos, estratgias, tticas,
3
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eram vigiados; na sociedade de controle, com seu regime de mquinas informacionais, olha-se para
o invisvel: nmeros, dgitos, pulsos eltricos.
da escuta do acontecimento que pode ser compreendida, tambm, como a instaurao de um estado
generalizao esttica, o capitalismo avanado se apropria do ideal de formao que antes servira
como norte de uma educao emancipadora e autnoma fazendo com que a educao entre em
encontro exige, uma certa disposio para acontecer: preciso estar disposto a se modificar, a se
contradio com seus ideais ao perder seu poder de negatividade. O capitalismo investe cada vez
diferenciar. Cada acontecimento traz, assim, o seu prprio frescor, um certo devir-criana, com seu
mais nos processos prprios da dimenso esttica, ligados ao trabalho do artista. A vida se estetizou,
ineditismo, que torna possvel, a cada vez, novos espaos de pensamento, espaos de maleabilidade,
a empresa se estetizou e disseminou a lgica da empresa por todos os cantos, inclusive na educao.
de plasticidade.
formas de vida, desejos, afetos. No isso que, intencionalmente ou no, ocorre quando a
mesmo, da escrita, da arte, da filosofia ). Escrita, encontro e acontecimento que nos joga cada vez
sensibilidade se torna princpio educacional? medida que a educao passa a ser investida por
mais longe de um si substancial ou de uma essncia do que quer que seja - e que, ao mesmo
esse processo de generalizao do esttico necessrio que se conhea, cada vez mais, o que que
constitui o homem como sujeito da sensibilidade. Trata-se de um desafio para a educao atual: de
lidar com potencialidades, virtualidades, quando essas so a grande mercadoria do capitalismo
avanado. Criar e inventar, ser um sujeito sensvel, nos libertam e possibilitam resistir ou nos
lanam ainda mais no seio do capitalismo? A inveno resistncia mas , ao mesmo tempo, a
essncia daquilo contra o que se resiste. A insero do ldico no que se considera como mbito da
austeridade a escola e o trabalho insere a educao no universo dos jogos: educao, poltica e
trabalho so como que unificados por aquilo que prprio do jogo, a competitividade, a
criatividade e o prazer.
Em resumo, este foi o ncleo da comunicao apresentada no 2 Eiea. Comunicao est que
naquela ocasio parece no ter reverberado entre os que ali se encontravam. Silncio. Outras
comunicaes se seguem. A sesso de debates aberta e nenhuma pergunta, nenhuma referncia s
questes aventadas pela comunicao. Desencontro da proposta com os o que ali se encontravam?
Silncio. O texto reverbera no suposto autor. Aquele que supostamente produziu aquelas questes
ento interrogado pelo seu prprio agenciamento: porque elas no afetam? Porque no
movimentam?
Ento, no depois, logo ali, no refeitrio, quando a velocidade requerida por uma
comunicao diminua, na lentido de depois do almoo foi que um outro movimento se fez
presente - mais lento, a partir de outros olhares, um outro respirar, algum comenta:
Interessante...interessante essa coisa do capitalismo esttico...
E o encontro segue. Outras perguntas, outras encruzilhadas. Isso tudo possibilitou um novo
estado de ateno para a arte do encontro, uma arte da escuta, um estar aberto imprevisibilidade
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efetivo e de qualidade.
"C@"&(D)$(*,+%$")'"
Desta forma, por meio das minhas experincias docentes, compreendo que
as prticas educativas demonstram e revelam concepes que remetem diretamente
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agosto de 1971. Esta lei trouxe para o ensino de Arte brasileiro a viso da disciplina
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NASCIMENTO, E. A. do. K7+*)1*# , )%# , )%0"# , +* , *&'" , )* , "+7$*12%A ,qual infncia? que
ensino? quem o bom sujeito docente?. 2005. 255f. (Doutorado em
Arte Educao), Universidade de So Paulo. So Paulo, 2005.
processo de reflexo sobre a prpria prtica. Para esse autor a reflexo constitui-se como elemento
Faria, Helena Tapada, Maria Joo Carvalho e Maria Nvoa. Lisboa, Portugal: D. Quixote, 1994.
268
269
Para delinear o caminho a ser percorrido, parti do estudo do Barroco, temtica referendada
no programa anual da disciplina de Artes. Alm disso, percebi a carncia de conhecimento por parte
dos(as) estudantes acerca da influncia/presena do Barroco no contexto em que vivem, isso trouxe
Durante a visita aos espaos, desafiei os(as) estudantes a estimular o exerccio de olhar
Arte/Educao Ana Mae Barbosa fui instigada a buscar tessituras entre o contedo/temtica, o
diretamente para o lugar visitado, sem lentes ou interferncias entre o olho e o objeto, buscando
tendo o desenho como registro da experincia vivenciada, desse modo, detalhes em dourado,
volutas, curvas, figuras sacras e objetos religiosos que prenderam o olhar, causaram
Iniciamos com uma roda de conversa sobre o Barroco, em seguida, os(as) estudantes
passaram a buscar informaes em diferentes fontes de consultas para aprofundar o debate em um
seminrio temtico.
No que se refere leitura de imagens, destaco duas imagens dentre tantas trabalhadas e que
despertaram interesse e curiosidade para o debate com os estudantes: As Trs Graas, de Peter
Paul Rubens e As Meninas, de Vlazquz. As imagens possibilitaram fazer comparaes e tecer
relaes com outras imagens, de obras de arte ou no, alm disso, nos levou a pensar as mudanas
no conceito de beleza, juventude, a comparar vestimentas e a relao com o clima/tempo/lugar,
sobre os objetos decorativos de ontem e de hoje e as exigncias da moda e da mdia, assim, tecemos
Marcelo Vincius, 8 ano B
conexes entre o contexto das imagens e o contexto atual. Estas reflexes materializaram-se em
desenhos que, dentre outras temticas, resultaram em leituras acerca da anorexia, da bulimia, do
consumo, da mdia e da imagem da mulher nos dias atuais.
270
271
Nosso percurso entrou na fase final com o estudo do patrimnio azulejar presente na
arquitetura civil religiosa do Estado de Pernambuco (CAVALCANTI, 2006). Assim, o livro O
azulejo na arquitetura religiosa de Pernambuco: sculos XVII e XVIII, trouxe a fundamentao e
as imagens para nossos debates, alm do que j tinha sido observado na aula de campo. Em seguida
tecemos dilogos com as obras da artista contempornea brasileira, Adriana Varejo, que realizou
uma srie de estudos, pinturas, painis de grandes dimenses, tendo o barroco como referncia. Do
conjunto de suas obras destacamos Celacanto Provoca Maremoto, exposta na Galeria Adriana
Varejo, no Instituto de Arte Contempornea Inhotim Minas Gerais. Composta por 184 peas,
cada uma com dimenso de 110 x 110 cm, a obra produzida em leo e gesso sobre telas, revisita
elementos e referncias do barroco ao articular pintura, escultura e arquitetura.
O estudo da obra de Adriana Varejo levou os(as) estudantes a realizarem a ltima produo
prtica, a organizao de uma pintura, explorando os diversos elementos explorados durante todo o
escolhas pessoais e dos registros efetuados durante o projeto, e com formatos diversificados como:
projeto. Assim, deu-se incio o processo de criao dos papelejos, nome dado por alguns
lbum de fotografias, portflio virtual, jogos, dirio de bordo, msica, poesia, dentre outros.
estudantes para o azulejo de papelo. Por fim, experimentaram a organizao da montagem das
272
273
DA PERFORMATIVIDADE EMANCIPATRIA
DA EDUCAO DAS ARTES VISUAIS
ANTE AS INDSTRIAS DA SUBJETIVIDADE
Lusa Vidal1
Painel montado a partir das produes individuais dos
papelejos e placas de papel mach - Trabalhos expostos
durante o Festival de Artes da escola.
Resumo
Construda a partir do problema que justifica e que move a
Palavras-chave
275
Defendo que entrosa aqui a educao, o nico sentido que lhe reconheo
Throughout my years as student and professor, I have been most inspired by those teachers
who have had the courage to transgress those boundaries that would confine each pupil to a
rote, assembly-line approach to learning. Such teachers approach students with the will and
desire to respond to our unique beings, even if the situation does not allow the full emergence
of a relationship based on mutual recognition.
(hooks, 1994, p. 13)
reconheo.
clarifica que possvel percorrermos caminhos muito mais livres e muito mais
Quanto emancipao, essa comea quando se pe em questo a oposio entre olhar e agir,
quando se compreende que as evidncias que assim estruturam as relaes do dizer, do ver e
do fazer pertencem elas prprias estrutura da dominao e da sujeio. A emancipao
comea quando se compreende que olhar tambm uma aco que confirma ou transforma
essa distribuio das posies. O espectador tambm age, como o aluno ou o cientista.
Observa, selecciona, compara, interpreta. Liga o que v com muitas outras coisas que viu
noutros espaos cnicos e noutro gnero de lugares. Compe o seu prprio poema com os
elementos do poema que tem sua frente.
(Rancire, 2008/2010, p. 22)
no
contexto
jurdico,
especficos
muito
sofisticados
discursos
276
finalidades que tenta ou nos contedos que explora, cada matria disciplinar
277
campo educativo e mesmo se, desse modo, animada ela tambm por um
chega da relao matricial com o alargado terreno das artes visuais o alcance
hoje, nas nossas vidas. Nunca como at aqui as artes visuais constituram um
como at aqui as artes visuais assim nos inundaram os dias. Como de resto
todas as coisas, tambm estas representaes so construdas a partir do
campo das artes visuais o das artes em geral tambm, e cada vez mais,
diverso daquele que vemos suceder na generalidade das matrias, onde
visual que cada vez mais satura e cada vez mais profundamente condiciona a
estereotipadamente.
conhecemos,
pensamos,
Experimentamos
uma
sentimos,
humanidade
agimos
simplificada,
vida.
um outro qualquer numa ocasio qualquer, e, no entanto, nem por isso ele
278
279
Referncias
Agamben, G. (2002/2011). O aberto: O homem e o animal. (A. Dias & A. B. Vieira, Trad.). Lisboa, Portugal: 70.
hooks, b. (1994). Teaching to transgress: Education as the practice of freedom. Nova Iorque, NI, Estados Unidos
da Amrica: Routledge.
Rancire, J. (2008/2010). O espectador emancipado. (J. M. Justo, Trad.). Lisboa, Portugal: Orfeu Negro.
Reis, M. J. (2010). Berlin #1. Da srie Diamonds in an ice storm. Extrada de
http://mariajoaodosreis.wix.com/welcome#!recentwork/vstc3=diamonds-in-an-icestorm/albumphotos0=0.
Resumo:
Este ensaio fruto de reflexes tericas sobre a relao arte e mente criativa na
Educao pela Paz, partindo da vivncia do autor enquanto Professor de artes
visuais/artista/investigador, a partir de uma auto reflexo sobre uma experincia
pedaggica que no atingiu seus objetivos; para tanto, utilizamos a base terica da
histria visual, focada nas visualidades e nas histrias de vida, buscamos compreender o
papel do sujeito aprendente no sculo XXI diante dos processos de humanizao,
solidariedade, harmonia e paz em diferentes contextos educativos e a partir da realidade
educacional do Estado da Paraba, Nordeste do Brasil.
280
281
meio dos estmulos promovidos pelo prazer esttico. Um universo simblico inimaginvel,
onde todas as dimenses se conectam no mundo onrico, que permeiam nossos
sentimentos de pertena, complexos, saudades, desejos, nossa histria de vida.
Existe uma forma de conhecimento em cada ser humano que faz parte do saber
no verbal. Essa esfera do conhecimento pode ser alcanada, entre outras formas, por
282
A arte o veculo que nos transporta a esses mundos (...) O artista aponta
caminhos e nos antecipa a viso desses universos. Isso porque a obra de
arte nos obriga a repensar o que temos por realidade, fazendo-nos
perceber a possibilidade concreta da inaugurao de outras realidades
(NUNES FILHO, 2004, p. 13).
preciso
romper
com
a
oposio
entre
cultura/natureza
e
humanidade/animalidade, situando o humano em relao natureza e Terra a partir da
sinergia, da comunho e da complementaridade. A modernidade acentuou nossa
dimenso de consumidores trata-se de comungar com a natureza e no simplesmente,
de consumi-la (GUERREIRO, 2003, p. 43). Nesse contexto, a arte um passaporte para
a instaurao de um paradigma transdisciplinar, proposto no Manifesto da
Transdiciplinaridade, datado de 06 de novembro de 1994, redigido e assinado no
283
Neste curto ensaio, refletiremos sobre uma experincia pessoal como professor de
artes visuais, desenvolvida no ano de 2003, numa pequena cidade da periferia da Grande
Joo Pessoa, capital do Estado da Paraba, Nordeste do Brasil. Por motivos ticos, no
sero citados nomes de pessoas nem de estabelecimentos de ensino.
Durante minha atuao como professor de artes visuais em escolas bsicas e
secundrias na regio da cidade de Joo Pessoa, eu trabalhei em escolas da rede
privada e nutri um sonho de ingressar como professor da rede pblica de ensino. Seria,
ideologicamente trabalhar para aqueles que mais precisavam, os alunos mais carentes,
oriundos das classes menos privilegiadas.
Ao ingressar num concurso pblico para o magistrio no ano de 2003, assumi o
cargo de professor de artes visuais em uma escola pblica municipal, atuando do 6 ao 9
ano do Ensino Fundamental. Para minha total surpresa, a escola na qual trabalhei ficava
localizada no centro da cidade e abrigava um pblico alvo oriundo das zonas de periferia,
nas quais predominavam a lei do silncio e a violncia.
Inicialmente, pensei ser esse o espao ideal para aplicar toda minha bagagem
terica e contribuir para o engrandecimento cultural da comunidade escolar; tratava-se de
uma grande oportunidade para contribuir efetivamente para o ensino de artes visuais de
qualidade na rede pblica de ensino. No entanto, ao chegar escola, encontro um corpo
de professores antigos extremamente desmotivados, desacreditados de sua funo como
educadores e que apenas trabalhavam no velho sistema fao de conta que ensino e
voc faz de conta que aprende. No havia a menor condio de trabalho, salas super
lotadas, alunos agressivos e desmotivados e ausncia quase total de um corpo gestor na
escola. Era uma situao extrema de descaso e abandono pblico.
Independente disso, segui tentando aplicar meus conhecimentos nas turmas que
ministrava aulas, sempre com extrema dificuldade, sem apoio da direo nem condies
284
285
6
CONSIDERAES FINAIS
Ao refletir sobre essa experincia aps alguns anos, consigo entender que a
mesma representou uma etapa importante na minha formao pessoal e profissional,
permitindo que eu seja capaz de discernir entre minha capacidade acadmica e meus
limites pessoais e que os problemas de comportamento apresentados na escola so
questes mais amplas, refletindo uma conjuntura social, a demanda de poder e a
insero do status pessoal e coletivo em um determinado contexto, me levando a crer
que aquilo que vejo como padro, como socialmente aceitvel, no corresponde ao todo,
e sim a uma parcela especfica da populao da qual sou oriundo e fao parte.
Embora minha proposta de trabalho tenha sido frustrada e meus sonhos desfeitos,
acredito que minha contribuio como educador, embora pontual no caso citado, deixou
marcas, e que algo positivo dessa relao ficou em todas as partes envolvidas.
Como afirmava Paulo Freire, ningum educa ningum, nos educamos em
comunho, no coletivo, no conjunto, que a educao se processa e se efetiva. A
prtica de uma educao com arte pela paz se configura no momento que cada educador
faz sua parte, d o seu exemplo no cotidiano escolar. preciso fruir, ouvir, sentir as
formas de expresso artstica na prpria vida para que possamos despertar o interesse
das novas geraes.
Uma cultura de paz por meio da arte s se estabelecer na educao brasileira
quando a escola for compreendida como um corpo integrado na busca da construo de
um projeto coletivo comum de levar a arte a servio da paz coletiva.
REFERNCIAS
ASMANN, Hugo. Reencantar a educao: rumo sociedade aprendente. Porto Alegre:
Vozes, 1998.
NUNES, Nabor Filho. Arte: a religio de corpo inteiro. In: Dilogo: revista de ensino
religioso. So Paulo: Paulinas, Ano IX, n 03, fevereiro de 2004, p. 08-13.
GUERREIRO, Laureano. A educao e o sagrado: a ao teraputica do educador. Rio
de Janeiro: Lucerna, 2003.
OSTROWER, Fayga. Criatividade e processos de criao. Petrpolis: Vozes, 1999.
ZABALA, Antoni. Enfoque globalizador e pensamento complexo: uma proposta para o
currculo escolar. Porto Alegre: Artmed, 2003.
286