Medida e Integração

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Captulo 1

Estruturas
Este captulo fornecera as definicoes de espacos metricos e normados. Tais estruturas, que fundamentam o estudo da Analise Funcional, nao serao o objeto principal de nosso estudo. As definicoes
apresentadas serao aquelas que serao utilizadas no decorrer deste livro. Alguns conceitos nao definidos poderao aparecer nos exerccios. Dando um exemplo: o conceito de conjunto conexo nao
esta definido no texto, mas aparece em exerccios.
Como resultado fundamental deste captulo ressaltamos a ideia de completamento de um espaco
metrico. Construiremos a teoria de integracao a partir deste resultado .

1.1

Espacos M
etricos

Definic
ao 1.1.1 M
etrica
Um espaco metrico e um par (X, d) onde X e um conjunto e d e uma metrica, isto e, d : X X IR
satisfaz `as seguintes propriedades:
(i) d(x, y) 0 e d(x, y) = 0 x = y.
(ii) d(x, y) = d(y, x).
(iii) d(x, y) d(x, z) + d(z, y).
Muitas vezes cometemos um abuso de linguagem e chamamos X de espaco metrico, ficando subentendida a metrica d nele definida. Se A X, podemos considerar A um espaco metrico, com a
metrica de X; quando isto ocorre, dizemos que A esta munido da metrica induzida pela metrica de
X.
Notamos tambem que se (X, dX ) e (Y, dY ) forem espacos metricos, entao
X Y := {{x, y}; x X, y Y }
torna-se um espaco metrico se definirmos
d({x1 , y1 }, {x2 , y2 }) := dX (x1 , x2 ) + dY (y1 , y2 ).
Outras metricas tambem sao usuais no espaco X Y (veja exerccio 4).
1

CAPITULO 1. ESTRUTURAS

Defini
c
ao 1.1.2 Dist
ancia entre dois conjuntos
Seja (X, d) um espaco metrico. Dados dois subconjuntos quaisquer A1 , A2 , definimos a distancia
entre A1 e A2 por
dist(A1 , A2 ) := inf {d(x, y); x A1 , y A2 },
com a convencao dist(A1 , ) = se A2 = . Em particular, se x X, definimos
dist(x, A) := dist({x}, A), onde A X.
Definimos tambem a vizinhanca de raio r > 0 do subconjunto A X por
Br (A) := {x X; dist(x, A) < r};
Br (x) := Br ({x}) chama-se bola aberta de centro x e raio r > 0. O diametro do subconjunto A e
definido por
diam(A) := sup{d(x, y); x, y A}.
A e limitado quando diam(A) < .
Defini
c
ao 1.1.3 Topologia de Espacos M
etricos
Seja (X, d) um espaco metrico. Dado A X, definimos o interior de A por
int(A) := {x X;  > 0 : B (x) A}
e o fecho de A por
A := {x X; B (x) A 6=  > 0}.
Um conjunto A X e aberto se int(A) = A. Um conjunto A e fechado se A = A. A fronteira do
conjunto A e definida por
A := A \ int(A).
Um subconjunto A X e denso em X caso A = X. O espaco metrico X chama-se separavel se
possuir um subconjunto enumeravel denso. Um subconjunto A X e separavel se o espaco metrico
(A, d) for separavel (metrica induzida).
possvel generalizar as nocoes acima e definir um espaco topologico, do qual um espaco metrico
E
e um caso particular. Tais estruturas, bastante gerais, nao serao objeto de nosso estudo.
Lema 1.1.4 Seja X um espaco metrico separavel. Entao todo subconjunto de X e separavel.
Demonstracao:
Suponhamos que A X nao seja vazio e que {xk ; k IN } seja denso em X. Escolha akj A tal
que
1
d(xk , akj ) dist(xk , A) + .
j
Dados a A e  > 0, existe xk tal que d(a, xk ) /3. Entao, para j suficientemente grande, vale:
d(a, ak j ) d(a, xk ) + d(xk , ak j )
1
2d(xk , ak j ) + ,
j
mostrando que {akj ; k, j IN } e denso em A.


1.1. ESPAC
OS METRICOS

Definic
ao 1.1.5 Espacos M
etricos Completos
Uma sequencia de pontos (xn ) num espaco metrico X e uma sequencia de Cauchy caso d(xi , xj ) 0
quando i, j . Dizemos que x e o limite de (xk ), denotado
lim xk = x,

caso d(xk , x) 0 quando k (observe que o limite, quando existir, e u


nico). Um espaco
metrico (X, d) e completo se toda sequencia de Cauchy em X tiver um limite x X. Um ponto de
acumulacao de uma sequencia (xk ) e um ponto que e o limite de uma subsequencia (xki ) (isto e,
ki quando i ).
Definic
ao 1.1.6 Func
oes Contnuas
Sejam X, Y espacos metricos e f : X Y uma funcao. Dizemos que f e limitada se f (X) for
um conjunto limitado.
Dizemos que f e contnua no ponto x X se
lim dX (x, xj ) = 0 lim dY (f (x), f (xj )) = 0,

onde dX e dY sao as metricas em X e Y , respectivamente. Dizemos que f e contnua, se ela for


contnua em todos os pontos de X.
Dizemos que f : X Y e Lipschitz-contnua se existir C > 0 tal que
dY (f (x), f (y)) C dX (x, y).
Definic
ao 1.1.7 Completamento
) consistindo
Seja (X, d) um espaco metrico. Definimos o completamento de X como um par (X,

de um espaco metrico completo (X, d) e uma aplicacao

: X X,
seja injetiva e preserve distancias, isto e,
tal que (X) seja denso em X,

d((x),
(y)) = d(x, y) x, y X
Teorema 1.1.8 Todo espaco metrico (X, d) possui um completamento.
Heuristicamente, nada e mais natural do que pensar que o completamento de X sera o proprio
espaco X unido ao conjunto dos pontos limites das sequencias de Cauchy. O problema e que estes
pontos limites ainda nao estao definidos! Para defin-los, temos que considerar uma sequencia
de Cauchy como algo intrinsicamente ligado ao pontopara o qual ela vai convergir. Mas isto
coloca um outro problema, de facil resolucao: podemos ter duas sequencias convergindo para o
mesmo ponto!; igualamos estas sequencias ao definirmos uma relacao de equivalencia: duas
sequencias pertencem a uma mesma classe se seus elementos se aproximam arbitrariamente - isto
e, se convergem para o mesmo ponto. Tal procedimento permite pensar em cada pontocomo
o que faremos na demonstracao seguinte.
uma sequencia de Cauchy, e vice-versa. E
Demonstracao:

CAPITULO 1. ESTRUTURAS

4
Defina

X := { = (xj ); (xj ) e uma sequencia de Cauchy em X}.


No conjunto X definimos a seguinte relacao de equivalencia:
(xj ) (yj ) lim d(xj , yj ) = 0.
j

(No contexto de analise matematica e usual denotar a relacao por =). Consideremos o espaco
:= X / . Em outras palavras, considere a particao de X gerada por esta relacao de
quociente X
equivalencia. Denotaremos [] a classe de equivalencia de = (xk ). Assim, se (yk ) e (zk ) sao dois
e o conjunto das classes de
representantes da classe [], entao limk d(yk , zk ) = 0. O conjunto X

equivalencia (disjuntas) de X .
Definimos
j )], [(yj )]) := lim d(xj , yj ).
d([(x
j

e um espaco metrico. (Mostre !). Seja : X X


d)

Temos que d esta bem definido e que (X,

definida por (x) = [], onde [] = [(x)], a sequencia com todos os termos iguais a x. E claro que
preserva distancias. Alem disto, se [] e a classe de equivalencia de = (xk ), entao
[] = lim (xn ).
n

Isto mostra que (X) e denso em X.

Resta provar que X e completo. Para isto, considere uma sequencia de Cauchy ([]n ) de elementos
(Cada elemento []n e representado por uma sequencia de Cauchy (xni ) de elementos de X).
de X.
n , (xn )) < 1/n, pois (X) e denso em X.
Afirmamos que
Para cada n existe xn X tal que d([]
a sequencia (xn ) assim formada e uma sequencia de Cauchy em X. De fato, temos

d(xn , xm ) = d((x
n ), (xm ))

n , []m ) + d([]
m , (xm )),
d((xn ), []n ) + d([]
provando que (xn ) e uma sequencia de Cauchy em X. Seja = (xn ). Afirmamos que ([]n ) converge
a []. De fato, dado  > 0, temos
n , []) d([]
n , (xn )) + d((x

d([]
n ), []) < 2
e completo.
para n suficientemente grande. Isto mostra que X

1.2

Espacos Normados

Ate o momento, nenhuma hipotese sobre o conjunto X foi feita. Qualquer conjunto X pode se tornar
um espaco metrico, nele definindo-se, por exemplo, a metrica: d(x, y) = 1 se x 6= y, d(x, x) = 0.
Entretanto, exemplos importantes sao aqueles em que o conjunto considerado e um espaco vetorial.
A estrutura que definiremos a seguir e de importancia fundamental:
Defini
c
ao 1.2.1 Espacos Normados
Seja X um espaco vetorial sobre o corpo IK, onde consideraremos apenas os casos IK = IR ou C.
l
Uma funcao k k : X IR chama-se uma norma em X se satisfizer `as seguintes propriedades:

1.2. ESPAC
OS NORMADOS

(i) kxk 0 e kxk = 0 x = 0.


(ii) Para todo IK, kxk = || kxk.
(iii) kx + yk kxk + kyk.
Cada norma induz uma metrica em X ao se definir
d(x, y) := kx yk.
Um espaco normado que for completo com relacao `a metrica induzida por sua norma chama-se
espaco de Banach.
Note que a definicao acima estabelece um vnculo entre as operacoes do espaco vetorial e a estrutura
topologica do espaco metrico: decorre imediatamente dos axiomas (ii) e (iii) de uma norma que a
soma e a multiplicacao por escalar sao funcoes contnuas. Podemos generalizar a nocao acima:
Definic
ao 1.2.2 Um espaco vetorial metrico e um espaco vetorial no qual esta definida uma
metrica d de modo que as operacoes de soma e multiplicacao por escalar sao contnuas.
Observe que a continuidade das operacoes de soma e multiplicacao por escalar nao sao automaticas,
como no caso de um espaco vetorial normado. Para a definicao de um espaco vetorial topologico,
veja [6].
Definic
ao 1.2.3 Sejam X, Z espacos vetoriais sobre o corpo IK. Uma aplicacao : X Z e
linear se (x + y) = (x) + (y), IK, x, y X.
Definic
ao 1.2.4 Seja X um espaco vetorial sobre o corpo IK. Uma funcao (, ) : X X IK e
uma forma sesquilinear se satisfizer:
(i) Para cada y fixo, (x1 + x2 , y) = (x1 , y) + (x2 , y)
(ii) Para cada x fixo, (x, y1 + y2 ) = (x, y1 ) + (x, y2 )
Uma forma sesquilinear chama-se hermitiana (ou simetrica) caso
(iii) (x, y) = (y, x).
Uma forma hermitiana chama-se positiva semidefinida se
(iv) (x, x) 0 para todo x X,
e positiva definida se, adicionalmente,
(v) (x, x) = 0 x = 0.
Uma forma hermitiana positiva definida chama-se produto escalar e o par
(X, (, ))
um espaco pre-Hilbert. Todo espaco pre-Hilbert e um espaco normado ao se definir
kxk := (x, x)1/2 .
Se X for completo com relacao `a sua metrica, entao ele se chama espaco de Hilbert.

CAPITULO 1. ESTRUTURAS

Teorema 1.2.5 Seja (, ) uma forma hermitiana positiva semidefinida em X e kxk := (x, x)1/2 .
Ent
ao vale
(i) Desigualdade de Cauchy-Schwarz: |(x, y)| kxk kyk.
(ii) Desigualdade Triangular: kx + yk kxk + kyk.
(iii) Regra do Paralelograma: kx + yk2 + kx yk2 = 2(kxk2 + kyk2 ).
Demonstracao:
(i) A demonstracao que daremos e bem geometrica. Interprete! Se x = y, entao |(x, y)| =
|| (y, y) = || kyk2 = kxk kyk. Se x 6= y, existe IK tal que |(y x, x)| = 0 ( :=
(y, x)/kxk2 ; kxk = 0 esta includo no caso anterior). Entao
0 ky xk2 = kyk2 ||2 kxk2 = kyk2

|(y, x)|2
,
kxk2

donde obtemos a desigualdade de Cauchy-Schwarz.


(ii) e (iii): exerccios.
2

1.3

Exerccios

1. Seja A X, onde X e um espaco metrico. Entao Br (A) e um conjunto aberto, r > 0;


Br1 (Br2 (A)) Br1 +r2 (A). Se X for um espaco normado, e valida a igualdade. A funcao dist(, A) :
X IR e Lipschitz-contnua com constante C 1. Se X \ A 6= , entao C = 1.
2. Seja X um espaco metrico e A X. Entao Br (0) = {x X; d(x, 0) = r} ? B (A) = {x
X; d(x, A) = } ?
3. Considere um par (X, d) que satisfaz `as duas u
ltimas propriedades de um espaco metrico e
tambem que d(x, y) 0. Neste caso, dizemos que d e uma semi-metrica. Defina
x y : d(x, y) = 0.
:= X/ e tal que (X,
d) e um espaco metrico
Esta e uma relacao de equivalencia em X e X
4. Mostre que se (X, dX ) e (Y, dY ) forem espacos metricos, entao X Y e um espaco metrico se
definirmos:
(a) d({x1 , y1 }, {x2 , y2 }) := max{dX (x1 , x2 ), dY (y1 , y2 )};
(b) d({x1 , y1 }, {x2 , y2 }) := [d2X (x1 , x2 ) + d2Y (y1 , y2 )]1/2 .
5. Um subconjunto A de um espaco metrico (X, d) e limitado, se e somente se, existe c > 0 tal que
A Bc (x), onde x X.
6. Se A X, onde X e um espaco metrico, entao x A dist(x, A) = 0.
7. Num espaco metrico vale A X e aberto Ac := X \ A for fechado.
8. Se (X, d) for um espaco metrico e A X, entao X = int(A) A int(Ac )
9. Seja X um espaco vetorial. Uma funcao : X IR chama-se metrica de Frechet se satisfizer:

1.3. EXERCICIOS

(i) (x) 0 e (x) = 0 x = 0.


(ii) (x) = (x).
(iii) (x + y) (x) + (y)
Cada metrica de Frechet induz uma metrica ao se definir d(x, y) = (x y). Cada norma e uma
metrica de Frechet.
Seja : [0, ) [0, ) uma funcao diferenciavel com derivada contnua. Assuma que (0) = 0
e que seja estritamente monotona, com derivada nao crescente. Entao vale:
d e metrica em X d e metrica em X.
Assim,

||
1 + ||

e uma metrica de Frechet sobre IR.


10. Defina IK := {x = (xi ); xi IK i}. Mostre que IK e um espaco metrico se definirmos a
metrica de Frechet
X
|xi |
.
(x) :=
2i
1
+
|x
i|
iIN
Mostre que IK e completo.
11. Para x IK defina
kxklp :=

X

|xi |

1/p
, caso 1 p <

iIN

e
kxkl := sup |xi |.
iIN

Considere entao, para 1 p , os conjuntos


lp (IK) : {x IK ; kxklp < }.
Mostre que eles sao espacos de Banach. lp (IK) e separavel?
12. (i) Se (X, d) for completo e Y X for fechado, entao (Y, d) tambem e completo.
(ii) Se Y X for tal que (Y, d) e completo, entao Y e um subconjunto fechado de (X, d).
13. Considere IR . De exemplo de uma aplicacao linear injetiva, com imagem um subespaco
proprio de IR .
14. Seja D IR2 um conjunto aberto conexo. Mostre que existe uma sequencia de pontos xn D
que nao possui pontos de acumulacao em D, mas tal que todo ponto de D seja ponto de acumulacao
desta sequencia.
e um espaco vetorial normado. Mostre
15. Suponha que X seja um espaco normado. Mostre que X
que o completamento de um espaco normado e dado por uma (
unica) aplicacao linear . Qual o
sentido de u
nico nesta frase? Com isto se pode concluir que IR e u
nico? O mesmo pode ser dito a
respeito do completamento de um espaco metrico qualquer?

CAPITULO 1. ESTRUTURAS

Captulo 2
Medida Positiva e Medida Exterior
2.1

Algebras
e Medidas

Definic
ao 2.1.1 Algebra
Seja X um conjunto nao vazio. Uma algebra em X e uma colecao de subconjuntos A de X
satisfazendo `as seguintes condicoes:
(A1) X A;
(A2) A, B A A B A;
(A3) A A Ac := X \ A A.
Decorre imediatamente da definicao:
(A4) A, B A A B A;
(A5) A, B A A \ B A.
De fato, A B = (Ac B c )c e A \ B = A B c .
Definiremos agora medidas positivas. Como queremos que alguns conjuntos tenham medida infinita
(por exemplo, a medida de IR deve ser infinita), introduziremos o smbolo e trabalharemos com
o conjunto ordenado [0, ], que chamaremos tambem de intervalo. Definimos:
(i) a < , a IR;
(ii) + a = a + = , a [0, ];
(iii) 0. = .0 = 0
(iv) a. = .a = , a (0, ].
Note que, assim, a soma de uma sequencia de elementos em [0, ] sempre converge em [0, ].

Definic
ao 2.1.2 Medida Positiva numa Algebra
Uma medida positiva numa algebra A e uma funcao
: A [0, ]
satisfazendo `as seguintes condicoes:
9

CAPITULO 2. MEDIDA POSITIVA E MEDIDA EXTERIOR

10
(m1) () = 0;

(m2) Dados Ai A, disjuntos dois a dois, entao


n
[

n
 X
Ai =
(Ai ).

i=1

i=1

Dizemos que : A [0, ] e -subaditiva se, adicionalmente,


(m3) Se A e Ai estao em A e A

Ai , entao

i=1

(A)

(Ai ).

i=1

Como consequencia obtemos


Lema 2.1.3 Seja uma medida numa algebra A. Entao vale:
(m4) Monotonicidade: A, B A com A B, entao (A) (B);
Se, adicionalmente, for -subaditiva, entao
(m5) -aditividade: Ai A, dois a dois disjuntos tais que

Ai A, entao

i=1

Ai ) =

i=1

(m6) Se A :=

(Ai );

i=1

Ai A, entao

i=1

(A) =

(A0i ),

i=1

em que os conjuntos

A0i

estao em A e sao dois a dois disjuntos.

Demonstracao:
(m4) Como B \ A A, temos
(B) = (A) + (B \ A) (A).
(m5) A relacao decorre de (M3). De acordo com (m4), temos
!
!

n
n
[
[
X

Ai
Ai =
(Ai ) para todo n.
i=1

i=1

i=1

2.2. UM EXEMPLO FUNDAMENTAL

11

Fazendo n , conclumos a demonstracao.


(m6) Basta notar que
A = A1 (A2 \ A1 ) (A3 \ (A1 A2 )) (An+1 \

n
[

Ai ) .

i=1

(Prove esta igualdade!) Sendo

A01

:= A1 e Ai := Ai+1 \

i
[

Aj para i > 1, temos A0i A. Como os

j=1

A0i sao disjuntos (prove!), o resultado decorre de (m5).

2.2

Um exemplo fundamental

Seja X = IRn . Um retangulo elementar R IRn e um conjunto da forma


R := {x IRn ; ai xi < bi para i = 1, . . . , n},
em que ai < bi . Assim, no caso particular n = 1, [a, b) e um retangulo (intervalo)
elementar. Defina A consistindo do conjunto e de todas unioes finitas de retangulos elementares
R disjuntos. Entao A e uma algebra de subconjuntos do IRn (mostre!), que chamaremos
algebra
n
de Lebesgue em IR .
Defina () := 0 e
n
Y
(R) :=
(bi ai ),
i=1

em que (R) = caso algum ai = ou algum bi = .


Se A A, entao A e a uniao finita de retangulos elementares disjuntos Ri (1 i m); definimos
(A) :=

m
X

(Ri ).

i=1

facil ver que se Ai A forem disjuntos dois a dois (1 i l), entao


E

l
[
i=1

!
Ai

l
X

(Ai ).

i=1

(Mostre!) Assim, e uma medida em A.


Afirmac
ao: e uma medida -aditiva na algebra A.
O metodo da demonstracao sera bastante empregado em medida e integracao. Ele consiste em reduzir o problema dado a um problema bem mais simples, cuja demonstracao resulta na demonstracao
do resultado. Numa primeira leitura da demonstracao abaixo talvez seja recomendavel considera-la
apenas no caso IRn = IR, quer dizer, n = 1.
Demonstracao (von Neumann):

12

CAPITULO 2. MEDIDA POSITIVA E MEDIDA EXTERIOR

Para provar o afirmado basta mostrarmos, de acordo com o Lema 2.1.3, que e -subaditiva. Seja
A A. Entao
m
[
A=
Qj ,
j=1

em que cada Qj = [j , j ) e um retangulo semiaberto.


Consideremos conjuntos Ak A tais que
A

Ak .

k=1

De acordo com o Lema 2.1.3, podemos supor os conjuntos Ak disjuntos; tambem, sem perda de
generalidade, podemos supor cada Ak como sendo igual a um retangulo semiaberto Rk = [ak , bk )
IRn (justifique!).
Suponhamos que algum dosPQj tenha medida infinita. Entao (A) = . Por outro lado, como os
Ai cobrem A, devemos ter
(Ri ) = (veja exerccio 2, abaixo). Podemos, portanto, supor que
cada Qj e limitado.
Para > 0 escolhido adequadamente, definimos o conjunto
A() :=

m
[

Qj () A,

j=1

em que
Qj () = [j + , j ) := {x IRn ; ij + xi < ij (1 i n)}.
Considere entao o compacto A(). Para  > 0 escolhido adequadamente (quais as restricoes sobre
a escolha de  ?), a uniao dos conjuntos
IRn (ak , bk ) := {x IRn ; aki (bki aki ) < xi < aki + (bki aki )}
forma uma cobertura aberta do compacto A(). Passando a uma subcobertura finita, temos, de
acordo com o Lema 2.1.3 ,
(A())

l
X

([ak , bk ))

k=1
l
X

(1 + 2)n (Rk )

k=1

(1 + 2)n

(Rk )

k=1

Tomando, sucessivamente, os limites com  0 e 0, provamos o afirmado.

2.3. MEDIDA EXTERIOR

2.3

13

Medida Exterior

Definic
ao 2.3.1 Medida Exterior
Seja P a colecao de todos os subconjuntos de X. Uma medida exterior em P e uma aplicac
ao

: P [0, ] tal que:


(i) () = 0;
(ii) (Monotonicidade) Se A B entao (A) (B);
(iii) (-subaditividade) Se A
ao
i=1 Ai , ent

(A)

(Ai ).

i=1

Definic
ao 2.3.2 Medida Nula
Dizemos que um subconjunto N X tem medida nula se (N ) = 0. Uma afirmac
ao vale em
quase todo ponto (qtp) se ela for valida a menos de um conjunto de medida nula.
Teorema 2.3.3 Seja uma medida -aditiva numa algebra A em X. Para todo Y X, defina:

(Y ) = inf

(Ai ),

i=1

o nfimo sendo tomado sob todas as sequencias (Ai ) de elementos de A cuja uniao contem Y . Ent
ao
: P [0, ] e uma medida exterior que estende , chamada medida exterior induzida por .
Alem disto,



(Y ) = inf lim (Ai ); Y


Ai ; Ai A, Ai Ai+1 .
i

i=1

Demonstracao:
A subaditividade de nos diz que, se A e Ai (1 i < ) estao em A, entao
(A)

(Ai ).

i=1

Decorre da que (A) (A). Por outro lado, A = A . . ., donde


(A) (A).
Isto mostra que (A) = (A), para todo A A. Em particular, () = 0.
A monotonicidade de e clara. Para completar a demonstracao de que e uma medida exterior,
basta mostrar a -subaditividade de . Para faze-lo, usaremos um recurso frequentemente empregado nas demonstracoes de medida. Suponhamos que Y
ao em A. Se
i=1 Ai , em que os Ai est

CAPITULO 2. MEDIDA POSITIVA E MEDIDA EXTERIOR

14

(Ai ) = para algum i, entao a -subaditividade e trivial. Caso contrario, dado  > 0, existe,
para cada i, uma sequencia de conjuntos Aij A (1 j ) tais que Ai
j=1 Aij e

(Aij ) (Ai ) +

j=1


2i

(nao se intimide! Estamos usando apenas a definicao de inf!). Entao


(Y )

(Aij ) <

i,j=1

(Ai ) + .

i=1

Como  > 0 e arbitrario, conclumos o afirmado.


Finalmente, a u
ltima afirmacao e o enunciado do exerccio 1, abaixo.
2

2.4

Medidas e -
algebras

Definiremos agora -algebras e medidas. A construcao da medida de Lebesgue sera feita no proximo
captulo.
Defini
c
ao 2.4.1 -
algebra
Uma -
algebra M de subconjuntos de X e uma algebra em que a seguinte propriedade adicional e
satisfeita:
(A6) Ai M

Ai M.

i=1

Os elementos de uma -algebra sao chamados conjuntos mensuraveis. Um conjunto X com uma
-
algebra M chama-se espaco mensuravel.
Assim, uma -algebra e uma colecao de subconjuntos de X que satisfaz aos axiomas (A1), (A2)
e (A6), os demais sendo consequencias destes; uma outra consequencia e:
(A7) Ai M

Ai M,

i=1

pois

Ai =

c
Aci .

Lema 2.4.2 Seja {M } uma famlia qualquer de -algebras em X 6= . A intersecao desta


famlia de -algebras,
\
M

e uma -algebra. Em particular, seja {F }0 uma famlia qualquer de subconjuntos de X. Entao


existe a menor -algebra que contem a famlia {F }.


2.4. MEDIDAS E -ALGEBRAS

15

Demonstracao:
A afirmativa sobre a intersecao de -algebras decorre de propriedades basicas de conjuntos. A
existencia de uma -algebra que contem uma colecao qualquer de subconjuntos dados decorre,
entao, de P, o conjunto das partes de X, ser uma -algebra.
2
Definic
ao 2.4.3 Medida Positiva
Seja M uma -algebra em X. Uma medida positiva em M e uma aplicacao
: M [0, ]
que satisfaz `as seguintes propriedades
(M1) () = 0;
(M2) (-aditividade) Se An M forem dois a dois disjuntos, entao

[
 X
An =
(An );

n=1

n=1

(M3) (completamento) Se A M satisfaz (A) = 0, entao


B A B M.
Chamamos (A) a medida do conjunto A M, ou -medida, quando estivermos trabalhando com
varias medidas na -algebra M.
Uma -algebra M com uma medida positiva definida em M chama-se espaco de medida. Denotaremos tal espaco por
(X, M, ).
Entretanto, muitas vezes falaremos apenas de medida , ficando subentendida a -algebra M de
subconjuntos de X.
Dizemos que e uma medida -finita se, adicionalmente, valer

[
(M4) Existem An M com (An ) < para todo n tais que X =
An .
n=1

Observacao: As condicoes (M1) e (M2) sao as mesmas condicoes da definicao de medida positiva em
uma algebra A, a hipotese An A tornando-se desnecessaria por estarmos em uma -algebra.
A condicao (M3) muitas vezes nao aparece na definicao de uma medida. Note tambem que as
propriedades (m4) e (m6) decorrem imediatamente de (M2), como antes.
Demonstraremos posteriormente outras propriedades de medidas positivas. Alem disto, veremos
que medidas podem ser identificadas com integrais.
Exemplo 2.4.4
1. (A medida de contagem) Seja X um conjunto com um n
umero infinito de elementos. Considere a -algebra P. Dado Y X, definimos (Y ) = #(Y ), em que #(Y ) representa a cardinalidade
do conjunto Y . Se X for enumeravel, e -finita.
2. (A medida de Dirac) Seja x0 X. Se A X defina (A) := 1 se x0 A e (A) := 0 se
x0 6 A. Assim temos definida uma medida em P, chamada medida de Dirac em x0 .
3. (-
algebra de Borel) Considere o conjunto de todos os subconjuntos abertos de um espaco
topologico Z. De acordo com o lema 2.4.2, existe uma menor -algebra que contem todos estes
abertos. Ela e chamada -algebra de Borel em Z e denotada B.

CAPITULO 2. MEDIDA POSITIVA E MEDIDA EXTERIOR

16

2.5

Func
oes Mensur
aveis

Defini
c
ao 2.5.1 Func
ao Mensur
avel
Seja (X, M, ) um espaco de medida e (Y, d) um espaco metrico. Uma aplicacao f : X Y e
mensur
avel se
(i) Se U Y for aberto, entao f 1 (U ) M;
(ii) Existe um conjunto de medida nula N tal que f (X \ N ) e separavel.
Observacao: Se o conjunto Y for separavel (por exemplo, IRn ), a condicao (ii) torna-se desnecessaria, de acordo com o Lema 1.1.4.
Consideremos em Y a -algebra B de Borel, isto e, a menor -algebra que contem todos os
conjuntos abertos. Dada uma funcao mensuravel f : X Y , sabemos que f 1 (U ) M para todo
facil concluir que o mesmo e verdadeiro para todo U B. De fato, defina N a colecao
aberto U . E
de todos os subconjuntos S de Y tais que f 1 (S) M. Entao N e uma -algebra e B N .
Defini
c
ao 2.5.2 Func
ao de Borel
Sejam Y, Z espacos de Banach. Uma funcao de Borel e uma funcao f : X Y tal que a imagem
inversa de conjuntos abertos em Z sao elementos de B.
Observacao: Funcoes contnuas f : Y Z sao funcoes de Borel.
Lema 2.5.3 melhorar demonstrac
ao
(i) Sejam fj : X Y mensuraveis. Se f = limj fj qtp, entao f e mensuravel;
(ii) Se fj : X IR forem mensuraveis, entao
inf fj e lim inf fj

s
ao mensuraveis (defina arbitrariamente a funcao nos conjuntos (de medida nula) onde o
valor e assumido).
(iii) Sejam Z um espaco de Banach, : Y Z uma funcao de Borel e f : X Y mensuravel.
Entao f e mensuravel.
Demonstracao:
(i) Seja f (x) = limj fj (x) para todo x X \ N , onde N e um conjunto de medida nula tal que
fj (X \ N ) e separavel para todo j. Seja U Y aberto. Defina
Ui := {y U ; B 1 (y) U }.
i

Para x X \ N temos
f (x) U i, k; fj (x) Ui

se j k,

o que significa, usando a linguagem de conjuntos (justifique!)


!
[
\

[
1
1
f (U ) \ N =
fj (Ui ) \ N M.
i=1 k=1 j=k

2.5. FUNC
OES
MENSURAVEIS

17

Alem disto,
f (X \ N )
j=1 fj (X \ N ),
que e separavel (justifique!).
(ii) Seja g(x) := inf jIN fj (x) > para todo x X \ N , onde (N ) = 0. Entao, para todo a IR
vale:
!

\
g 1 ([a, )) \ N =
fj1 ([a, )) \ N M,
j=1

donde deduzimos a mensurabilidade de g. Da mesma forma, temos que gk := inf jk fj sao mensuraveis. De acordo com (i), tambem
lim inf fj = lim gk
j

e mensuravel.
(iii) Seja N um conjunto de medida nula tal que f (X \ N ) seja separavel. Entao f (X \ N ) =
[f (X \ N )] e separavel. Seja U Z aberto. Entao 1 (Z) B, donde f 1 [1 (Z)] M
2
Teorema 2.5.4 tirar?
Seja (X, M, ) um espaco de medida. Suponhamos que (X) < . Seja
M := {f : X Y ; f e mensuravel}.
Definimos a relacao de equivalencia
f = g em M f = g qtp.
Seja
M (, Y ) := (M/ =).
Entao M (, Y ) e um espaco metrico se definirmos
d (f, g) := inf{r 0; ({d(f, g) > r}) r},
em que
{d(f, g) > r} := {x X; d(f (x), g(x)) > r}.
Demonstracao:
Como (X) < , d e uma funcao limitada em M (, Y ). Suponhamos que d (f, g) = 0. Considere
({d(f, g) > }). Afirmamos que, para todo 0 < r ,
({d(f, g) > }) r.
Caso contrario, existiria 0 < r0 <  tal que ({d(f, g) > }) > r0 . Entao, em particular,
({d(f, g) > r0 ) > r0 , o que contraria a definicao de inf.
Obtemos entao que
({d(f, g) > }) = 0,
provando que d (f, g) = 0 se, e somente se, f = g.

CAPITULO 2. MEDIDA POSITIVA E MEDIDA EXTERIOR

18

Sejam f , g e h em M (, Y ), r d (f, h) e s d (h, g). Entao temos


{d(f, g) > r + s} {d(f, h) + d(h, g) > r + s}
{d(f, h) > r} {d(h, g) > s}.
Decorre da que
({d(f, g) > r + s}) ({d(f, h) > r}) + ({d(h, g) > s})
r + s,
o que prova a desigualdade triangular. A simetria e obvia.

Defini
c
ao 2.5.5 Converg
encia em Medida
Seja (X, M, ) um espaco de medida e Y um espaco metrico. Se (fk ), f : X Y forem men
sur
aveis, dizemos que fk converge em medida para f , denotado fk f , caso
({d(fk , f ) > }) 0 para todo  > 0 quando k .
Observacao: Nao estamos supondo, neste caso, (X) < . Escrevemos, entretanto,

fk f d (fk , f ) 0.

2.6

Exerccios

1. Se (An ) for uma sequencia numa algebra A tal que An An+1 para todo n e se A =
n=1 An A,
entao
(A) = lim (An ),
n

em que e uma medida na algebra A. Se trocarmos a algebra A por uma -algebra M, quais sao
as modificacoes neste resultado?
2. Seja Q um retangulo na algebra de Lebesgue e a medida definida naquela algebra (vide
se
ao 2.2). Mostre que se Q
ao retangulos, e se (Q) = , entao
n=1 Rn , em que os Rn s
Pc
(R
)
=
.
n
n=1
3. Mostre que a -subaditividade na definicao de medida exterior pode ser substituda por
!

[
X

Ai
(Ai ),
i=1

i=1

para toda sequencia de conjuntos Ai disjuntos.


4. Quando uma medida exterior e uma medida? (Sugestao: Leia as duas primeiras secoes do
Captulo 3 de [3]1 ).
5. Suponha que (A) = 0. Entao (A B) = (B).
1
O leitor interessando nas conex
oes entre l
ogica matematica e teoria da medida pode consultar tambem Benedetto,
J.J.: Real Variable and Integration, Teubner, Stuttgart, 1976.

2.6. EXERCICIOS

19

6. Considere a medida exterior induzida por uma medida em uma algebra de subconjuntos de X.
Mostre que se E X for um conjunto enumeravel, entao (E) = 0. Em particular, Q
l IR tem
medida nula.
7. Sejam uma medida e An uma sequencia de conjuntos mensuraveis tal que An+1 An para
todo n. Mostre que se (A1 ) < entao
!

An = lim An .
N =1

O mesmo resultado vale numa algebra? Com que hipoteses?


8. De um contra-exemplo para o exerccio anterior, retirada a hipotese (A1 ) < .
9. Mostre que a algebra de Lebesgue nao e uma -algebra. (Sugestao: considere inicialmente
n = 1).
10. Considere o conjunto de todos os abertos do IRn . Eles formam uma algebra? E uma -algebra?
11. O lema 2.4.2 tambem e valido para algebras?
12. Porque e necessario que (X) < na definicao de M (, Y )?
13. De exemplo de uma medida aditiva definida numa algebra A que nao gera uma medida
exterior. Isto mostra que a hipotese de ser -aditiva no Teorema 2.3.3 e essencial.

20

CAPITULO 2. MEDIDA POSITIVA E MEDIDA EXTERIOR

Captulo 3
Integra
c
ao
3.1

A Integral de Fun
c
oes Degrau

Definic
ao 3.1.1 Func
ao Caracterstica
A funcao caracterstica de um conjunto E, XE , e definida por:
XE (x) = 1 se x E, XE (x) = 0 se x 6 E.
Definic
ao 3.1.2 Func
oes degrau
Seja A uma algebra de subconjuntos de X e uma medida -aditiva nesta algebra. O conjunto das
funcoes degrau relativas a (X, A, ) com valores no espaco de Banach (Y, k k) e definido por
St(, Y ) := {f : X Y

; f (X) e um conjunto finito ,


f 1 ({y}) A y Y
(f 1 ({y})) < , se 0 6= y Y }.

Observacao: Suponhamos que f (X) = {1 , . . . , m } Y . Se 0 f (X), considere f (X) \ {0}.


Definindo Ai = f 1 ({i }) (1 i m), temos que Ai A, (Ai ) < e f St(, Y ) se, e somente
se,
m
X
f=
XAi i ,
i=1

que e chamada representacao canonica de f (ela e claramente u


nica).
Lema 3.1.3 O conjunto St(, Y ) e um espaco vetorial. Se f St(, Y ) entao kf k St(, IR).
Demonstracao: Decorre imediatamente da definicao.
Definic
ao 3.1.4 Espaco das Func
oes Degrau
Considere a seguinte relacao de equivalencia em St(, Y ):
f = g em St(, Y ) (f g) = 0 qtp
({x S; (f g)(x) 6= 0}) = 0.
21


CAPITULO 3. INTEGRAC
AO

22

Continuaremos a denotar St(, Y ) o espaco quociente (St(, Y )/ =) e f a classe de equivalencia


[f ] (abuso de linguagem!).
Para f St(, Y ) definimos a integral de f em X (relativa a medida ) por
Z
X
f d : =
(f 1 ({y})y
X

yY \{0}
m
X

(Ai )i ,

i=1

sendo que na u
ltima expressao estamos usando a representacao canonica f =

Pm

i=1

XAi i .

Mostre que a integral esta bem definida.


Lema 3.1.5 St(, Y ) e um espaco normado, se definirmos
Z
kf kd.
kf kSt(,Y ) :=
X

Alem disso, vale,


Z
Z




kf kd = kf kSt(,Y ) .
f
d


X

R
Demonstracao: Notamos que Int : St(, Y ) Y , definida por Int(f ) = X f d e uma aplicacao
linear. A relacao de equivalencia introduzida em St(, Y ) mostra que kf kSt(,Y ) = 0 f = 0
em St(, Y ). A u
ltima desigualdade decorre imediatamente de Y ser um espaco normado. A
desigualdade triangular decorre entao desta u
ltima desigualdade.
2

3.2

A construc
ao do espaco L1(, Y )

Nosso objetivo e trabalharmos com o completamento St(,


Y ) do espaco vetorial St(, Y ). A
dificuldade e que, ao passarmos ao completamento, seus elementos nao sao funcoes. Assim, o

que faremos a seguir visa obter um isomorfismo entre St(,


Y ) e um espaco de funcoes. Notamos
tambem que estamos trabalhando com duas relacoes de equivalencia: a primeira foi definida em

St(, Y ), de modo a torna-lo um espaco normado; a segunda e intrnseca ao completamento St(,


Y)
(veja Teorema 1.1.7).
Defini
c
ao 3.2.1 Integral Sobre Um Conjunto Mensur
avel
Para f St(, Y ) e A A, temos
XA f St(, Y ).
Definimos
Z

Z
XA f d.

f d :=
A

Notamos, em particular, que


Z
d = (A).
A

DO ESPAC
3.2. A CONSTRUC
AO
O L1 (, Y )

23

Se f St(, IR) e IR, denotamos


{f > } := {x X; f (x) > } A (justifique!),
e analogamente para outras desigualdades.
(Mostre que as definicoes acima independem da relacao de equivalencia em St(, Y )).
O resultado seguinte desempenhara um papel fundamental: permitira a associacao de uma funcao

a cada elemento de St(,


Y ). Apesar do enunciado diferente daquele de Lang [2], manteremos a
denominacao de
Lema 3.2.2 (Fundamental da Integrac
ao)
Seja (fk ) uma sequencia de Cauchy de funcoes degrau. Entao:
(i) Existem N X, com (N ) = 0 e uma subsequencia (fki ) tal que existe
f (x) := lim fki (x), x X \ N.
i

(ii) Alem disto,

[(fk )] = 0 em St(,
Y ) f = 0 qtp.

Observacoes: (a) O resultado acima e o passo crucial na identificacao dos elementos de St(,
Y)
com funcoes: o item (i) mostra que podemos associar uma funcao - definida a menos do conjunto de
medida nula N - a cada sequencias de Cauchy em St(, Y ); o item (ii) mostra que esta associacao

e compatvel com a relacao de equivalencia introduzida em St(,


Y ). Isto e, dois representantes da
mesma classe de equivalencia sao associados (bijetivamente) `a mesma funcao. (b) O fato de trabalharmos aqui com conjuntos de medida nula - definidos na -algebra P de todos os subconjuntos
de X - e fundamental: nao podemos garantir que o conjunto N seja um elemento da algebra A.
Demonstracao:
(i) Passando a uma subsequencia, se necessario, podemos supor que
Z
kfk fj kSt(,Y ) =
kfk fj kd 2i se k, j i.
X

Definimos
gj (x) :=

j
X

kfi (x) fi+1 (x)k.

i=1

Para todo x X, a sequencia (gj (x)) e uma sequencia crescente; assim, existe
g(x) := lim gj (x) [0, ], para todo x X.
j

Seja N := {x X; g(x) = }. Nosso objetivo e mostrar que (N ) = 0. Da concluiremos que


g(x) [0, ) para todo x X \ N ; para tais x, como g e definida por uma serie, necessariamente
seu termo geral tendera a zero. Mas isto implicara que (fk (x)) e uma sequencia de Cauchy no
espaco de Banach Y !


CAPITULO 3. INTEGRAC
AO

24
Notamos que
Z
gj (x) d =
X

j Z
X

kfi fi+1 k d

i=1

2i = 1.

i=1

Assim, para todo  > 0, temos que Mj := {gj > 1/} A e
Z
Z
Z
1
(Mj )
gj d
gj d
1
d =
.

Mj 
X
Mj
Decorre da que
(Mj ) < 
para todo j. Alem disto, Mj Mj+1 e
N {g > 1/}

Mj .

j=1

De acordo com o Teorema 2.3.3, conclumos que


(N ) .
Como  > 0 e arbitrario, isto mostra que N e um conjunto de medida nula, completando a demonstracao.
(ii) De acordo com o demonstrado em (i), podemos supor, passando a uma subsequencia se
necessario, que
f (x) = lim fk (x) para todo x X \ N.
k

Queremos mostrar que


:= {f 6= 0} \ N
N
e um conjunto de medida nula. Para isto, uma vez que [(fk )] = [0], podemos escolher uma subsequencia (fki ) tal que
Z
kfki kd 2i .
X

Por abuso de linguagem, continuaremos a denotar tal subsequencia por (fk ). Dado  > 0, defina
Nk := {kfk k > } A e N := {kf k > } \ N.
Entao, para todo k0 IN ,
N

Nk ,

k>k0

donde
(N )

(Nk )

k>k0

X 1Z
1
kfk kd 2k0 0 quando k0 ,

 X

k>k
0

DO ESPAC
3.2. A CONSTRUC
AO
O L1 (, Y )
onde fizemos uso da desigualdade
Z
Z
kfk kd

25

Z
kfk kd 

Nk

Nk

d =  (Nk ).

.
Isto mostra que N e um conjunto de medida nula, donde tambem N
Temos que mostrar, de acordo com a relacao de equivalencia definida no Teorema 1.1.7, que
kfk kSt(,Y ) 0 para uma subsequencia. Como antes, (vide item (i)), podemos supor que
lim fk (x) = f (x) = 0

para todo x X \ N . Passando a outra subsequencia, podemos supor que


Z
kfk fk+1 kd 2k .
X

Defina Aj := {fj 6= 0} A. Entao (Aj ) < . Dado  > 0, temos, para k > j:
Z
Z
Z
kfk kd =
kfk kd +
kfk kd.
X

Aj

X\Aj

Temos que
Z

kfk kd

kfk kd +
Aj {kfk k}

Aj

kfk kd
Aj {kfk k>}

Z
kfk kd

(Aj ) +
{kfk k>}

(Aj ) +

kfj kd +
{kfk k>

kfk fj kd
X

Por outro lado,


Z

Z
kfk kd =

X\Aj

kfk fj kd
X\Aj

kfk fj kd
X

Substituindo a duas u
ltimas desigualdades na primeira igualdade, obtemos
Z
Z
Z
kfk kd (Aj ) + 2
kfk fj kd +
kfj kd
X

{kfk k>}

O primeiro termo tende a zero quanto  0, para todo j; o segundo tende a zero, quando j ,
pois k > j. Resta mostrar que o u
ltimo termo tende a zero quando j . Claramente
Z
kfj kd max kfj (x)k ({kfk k > }),
{kfk k>}

xX


CAPITULO 3. INTEGRAC
AO

26
donde notamos que basta mostrar

({kfk k > }) 0 quando k ,


isto e, que (fk ) converge em medida para 0. Para isto, defina
( r
!
)
X
Akr :=
kfi fi+1 k >  A.
i=k

Entao vale:
(Akr )

Z X
r

r
X

kfi fi+1 kd

X i=k

i=k

2i = 2k+1 .

i=k

Alem disto, Akr Ak(r+1) e para x X \ N jIN Akr vale:


kfk (x)k kfr+1 (x)k +

r
X

kfi (x) fi+1 (x)k.

i=k

Notamos que, por hipotese, o primeiro termo do lado direito tende a zero quando r (pois
limj fj (x) = 0); o segundo e menor ou igual a , para todo k. Conclumos entao que
{kfk k > } N

Akr .

r=1

Portanto

({kfk k > }) = ({kfk k > }) (N ) +


!
Akr

! r=1
Akr

r=1

Tomando o limite quando k na desigualdade acima, obtemos


lim ({kfk k > })

1
lim 2k+1 = 0,
 k
2

completando a demonstracao.
Defini
c
ao 3.2.3 Func
oes Lebesgue-integr
aveis
Definimos o espaco L(, Y ) das funcoes Lebesgue-integraveis por
L(, Y ) := {f : X Y

; (fk ) sequencia de Cauchy em


St(, Y )tal que f = lim fk qtp}
k

m
odulo a relacao de equivalencia
f = g f = g qtp.
Em outras palavras, os elementos de L(, Y ), como, por exemplo, f , sao classes de equivalencia.


3.3. PROPRIEDADES BASICAS

27

Lema 3.2.4 Ao definir


J([(fk )]) := f,
onde f (x) = limk fk (x) se x X \ N , N conjunto de medida nula (veja 3.2.2), temos um

isomorfismo dos espacos vetoriais St(,


Y ) e L(, Y ).

Demonstracao: Se (fk ) e (gk ) forem representantes de [] St(,


Y ), decorre do Lema 3.2.2(i),
que existem f e g tais que, fora de um conjunto de medida nula, f (x) = limk fk (x) e g(x) =

limk gk (x). Mas fk gk = 0 em St(,


Y ), donde, do Lema 3.2.2(ii), temos f g = 0 qtp, isto
e, f = g em L(, Y ). Isto mostra que a aplicacao linear

J : St(,
Y ) L(, Y )
e uma aplicacao linear contnua. De acordo com o Lema 3.2.2 tal aplicacao e injetiva. Pela definicao
de L(, Y ) ela e sobrejetiva.
2
Definic
ao 3.2.5 Integral de Lebesgue
Sejam f e (fk ) como na definicao de L(, Y ). Definimos:
Z
Z
f d := lim
fk d.
k

Observacao: A integral esta bem definida pois


Z
Z
Z


fk d

f
d
kfk fj k d quando k, j .
j


X

Isto mostra que a sequencia (X fk d) e uma sequencia de Cauchy em Y . Que a definicao da


integral independe da sequencia que aproxima f e consequencia do Lema 3.2.2.

3.3

Propriedades B
asicas

Relacionar agora com o completamento da medida via Teorema de Hahn


Teorema 3.3.1 A integral de Lebesgue tem as seguintes propriedades:
(i) St(, Y ) L(, Y ). Alem disto, a integral e linear em L(, Y ) e, se A A satisfaz (A) <
, entao
Z
XA d = (A), para todo Y ;
X

(ii) Se f L(, Y ), entao kf k L(, IR) e


Z
Z


f d
kf k d;


X

(iii) Mudar enunciado! O conjunto envolvido


e mensur
avel!
Para todo  > 0 e todo f L(, Y ) vale
Z
kf k d  ({kf k });
X


CAPITULO 3. INTEGRAC
AO

28
(iv) L(, Y ) e um espaco de Banach com a norma
Z
kf kL() :=

kf k d;
X

(v) St(, Y ) e denso em L(, Y ).


Demonstracao:
(i) Se f St(, Y ), entao para a sequencia constante (f )kIN temos que J([(f )k ]) = f , em que J

e o isomorfismo entre St(,


Y ) e L(, Y ). Para f St(, Y ) as definicoes da integral de funcoes
degrau e a integral de Lebesgue sao identicas; da decorre a segunda afirmacao.

(ii) Seja J o isomorfismo entre St(,


Y ) e L(, Y ). Se [(fk )] St(,
Y ) e J([(fk )]) = f , decorre da
desigualdade triangular (no espaco de Banach Y ):
Z
Z


kfk k kfj k d
kfk fj kd 0 para k, j .
X

Isto mostra que [(kfk k)] St(, IR). Uma vez que para uma subsequencia temos fki f qtp,
obtemos kfki k kf k qtp, donde J([(kfk k)]) = kf k. A segunda afirmacao e obtida ao passarmos
ao limite a desigualdade
Z
Z
Z


kfk kd
f
d
kfk kd,
k


X

(que, segundo o Lema 3.1.5, e valida) e usarmos a definicao da integral.


(iii) Suponhamos que J([(fk )]) = f , isto e, que existam um conjunto N com (N ) = 0 e uma
subsequencia (fj ) tal que
lim fj (x) = f (x) para todo x X \ N.

Passando, se necessario, a uma outra subsequencia, podemos supor que


Z
kfj+1 fj kd 2j .
X

Se x X \ N e 0 < < , entao


kf (x)k >  kfj (x)k > ou kf (x) fj (x)k >  .
Se a segunda possibilidade ocorrer, temos
kf (x) fi (x)k = lim kfi (x) fj (x)k
i
X

kfi+1 (x) fi (x)k,


ij

isto e,
X
ij

kfi+1 (x) fi (x)k > kf (x) fj (x)k >  ,


3.3. PROPRIEDADES BASICAS

29

donde para m(x) = m > j temos


m
X

kfi+1 (x) fi (x)k >  .

i=j

Assim,
{kf k > } N {kfj k > }

( m
X

[
m>j

)
kfi+1 (x) fi (x)k > 

i=j

Uma vez que os conjuntos na u


ltima uniao estao crescendo, decorre das propriedades da medida
exterior que
({kf k > }) ({kfk k > })
( m
)!
X
+ lim
kfi+1 (x) fi (x)k > 
m

i=j

Z
1 X
kfj kd +
kfi+1 fi kd
 i=j X
X
Z
1
1 1j

kfj kd +
2 ,
X


onde usamos a definicao 3.2.1, a definicao da integral de funcao degrau e o Lema 3.1.5.
De acordo com a prova de (ii), temos
Z
Z
kf kd = lim
kfj kd,
j

donde, para j , temos


Z

({kf k > })

kf kd.
X

Fazendo , obtemos o afirmado.


(iv) Se J([(fk )]) = f , decorre de (ii) que
Z
Z
kf kL() :=
kf kd = lim
kfk kd = k[(fk )]kSt(,Y ) ,
k

o que mostra que J e isometrico. Uma vez que St(,


Y ) e um espaco de Banach, L(, Y ) tambem
e um espaco de Banach com a norma definida acima (justifique!).
(v) Se J([(fk )]) = f , entao, para todo j IN fixo, J([(fk ) (fj )]) = f fj e
Z
kf fj kL() = lim
kfk fj kd 0 quando j ,
k

o que mostra que todo f L(, Y ) pode ser aproximado por funcoes degrau na norma de L(, Y ).
2


CAPITULO 3. INTEGRAC
AO

30

3.4

Exerccios

1. Considere a sequencia de funcoes degrau


fn := (1/n)X[0,n) .
R
Calcule IR fn d. Mostre, por outro lado, que limn fn (x) = 0 x 0. Isto contradiz a definicao
da integral de Lebesgue ?
Defini
c
ao 3.4.1 Considere a algebra de Lebesgue A com a medida definida naquela algebra. Defina
a medida interior de um conjunto Y IRn por
(Y ) := sup

(Ai ),

i=1

o supremo sendo tomado sob todas as sequencias (Ai ) de elementos de A cuja uniao esta contida
em Y .
2. Mostre que (Y ) (Y ) para todo Y IRn .
3. Considerando a medida de Lebesgue no IRn definida atraves do Exerccio 12 do Captulo 2,
mostre: (a) Se A for mensuravel, entao
(A) = (A) = (A).
(b) Se (Y ) = (Y ) < , entao Y e mensuravel.
4. Mostre que existem conjuntos Lebesgue-mensuraveis em IRn que nao estao na -algebra de
Borel.
5. Considere g : IR IR uma funcao estritamente crescente. Para um dos intervalos (retangulos)
elementares R da algebra de Lebesgue, defina g (R) = g(b) g(a). Estenda aditivamente esta
definicao a toda algebra A. Mostre que g define uma medida -aditiva na algebra A, chamada
medida de Lebesgue-Stieltjes gerada por g.
6. De exemplo de uma transformacao linear entre espacos de Banach que nao seja contnua.
Defini
c
ao 3.4.2 Seja X um espaco vetorial. Um subconjunto A X e convexo se, dados x,
y A, entao tx + (1 t)y A para todo 0 t 1. Uma funcao f : A IR e convexa se
f (tx + (1 t)y) tf (x) + (1 t)f (y).
7. Interprete geometricamente as definicoes de um conjunto e de uma funcao convexa. Mostre que
toda funcao convexa e contnua.

Captulo 4
Propriedades da Integral
4.1

O Teorema da Converg
encia Mon
otona

Lema 4.1.1 Se fk f em L(, Y ) entao existe uma subsequencia (fki ) tal que
fki f qtp.
Demonstracao: Escolha uma subsequencia tal que
Z
kf fki kd 2i .
X

Dado  > 0, defina


N := {lim sup kf fki k > }
i

{kf fki k > }, j.

i=j

Logo,
(N )

({kf fki k > }).

i=j

Decorre entao do Teorema 3.3.1(iii) que

X
i=j

1X
({kf fki k > })
 i=j

1
kf fki kd 21j 0

X

quando j . Isto mostra que N tem medida nula, donde tambem


{lim sup kf fki k > 0}
i

(justifique!).
Teorema 4.1.2
31

CAPITULO 4. PROPRIEDADES DA INTEGRAL

32

(i) (Monotonicidade) Se f, g L(, IR) e f g qtp, entao


Z
Z
f d
gd.
X

(ii) Se (fk ) for uma sequencia de Cauchy em L(, Y ) e fk f qtp, entao


f L(, Y ) e kf fk kL() 0 quando k .
(iii) (Convergencia Monotona) Seja fk L(, IR) uma sequencia de funcoes tais que fk % f qtp
(isto e, fk+1 (x) fk (x) qtp). Se existir uma constante C tal que
Z
fk d C < ,
X

entao f L(, IR) e fk f em L(, IR). Em especial,


Z
Z
fk d.
f d = lim
k

Demonstracao:
(i) Pelo item (i) do Teorema 3.3.1, temos a linearidade da integral, enquanto do item (ii) decorre
que
Z

Z
Z
Z



gd
f d =
|g f |d (g f )d 0.
X

(ii) De acordo com o Teorema 3.3.1(iv), L(, Y ) e completo. Logo existe g L(, Y ) tal que
fk g em L(, Y ). De acordo com o Lema 4.1.1, existe uma subsequencia (fki ) tal que
fki g qtp,
donde deduzimos f = g qtp, isto e, f = g em L(, Y ).
(iii) De acordo com o provado em (i), as integrais de fk formam uma sequencia monotona em IR,
que e limitada superiormente, por hipotese. Assim, existe
Z
lim
fk d.
k

Alem disto, para j k temos


Z

Z
(fj fk )d =

Z
fj d

fk d 0,
X

quando j, k . O resultado entao decorre de (ii).

Corol
ario 4.1.3 Se (fn ) for uma sequencia em L(, IR) e se existir uma funcao g L(, IR) tal
que |fn | g qtp para todo n, entao sup fn e inf fn estao em L(, IR) e
Z
Z
Z
Z
sup
fn d
sup fn d
e
inf fn d inf
fn d.
X

DE UMA MEDIDA POSITIVA


4.2. A CONSTRUC
AO

33

Demonstracao:
De acordo com o Teorema 3.3.1(ii), |f | L(, IR) quando f L(, IR). Uma vez que
1
sup{f, g} = (f + g + |f g|),
2
vemos que sup{f, g} L(, IR) se f, g L(, IR). O mesmo pode ser dito a respeito de inf{f, g},
pois
1
inf{f, g} = (f + g |f g|).
2
Assim, as funcoes
gn := sup{f1 , . . . , fn }
estao em L(, IR) e formam uma sequencia nao decrescente em n; alem disto, gn g qtp para todo
n. Assim,
Z
Z
gn d
X

g d =: C.
X

O resultado decorre entao do teorema da convergencia monotona. A afirmacao sobre o inf e provada
analogamente (veja exerccio 4, abaixo).
2

4.2

A Construc
ao de uma Medida Positiva

Lema 4.2.1 Seja MA a menor -algebra que contem a algebra A. Suponha que XE L(, IR).
Entao vale:
(i) Existem conjuntos Ak A, com (Ak ) < tais que XAk XE em L(, IR);
(ii) Existe E 0 MA tal que XE 0 = XE qtp;
(iii) Para todo D MA temos XED L(, IR).
Demonstracao:
(i) De acordo com o Teorema 3.3.1(v), existe fk St(, Y ) tal que fk XE em L(, IR) quando
k . Passando a uma subsequencia podemos supor que fk XE qtp. Defina


1
Ak := fk >
A
2
(note tambem que (Ak ) < ). Entao vale
|XAk XE | 2|fk XE |.
(basta examinar os casos em que o lado esquerdo e nao nulo).
Tomando a integral na desigualdade acima, decorre do Teorema 4.1.2(i) que XAk XE em L(, IR).
(ii) Considere XAk como em (i). Entao, de acordo com o Lema 3.2.2, passando a uma subsequencia
se necessario, existe um conjunto de medida nula N tal que
lim XAk (x) XE (x) x X \ N.

CAPITULO 4. PROPRIEDADES DA INTEGRAL

34
A igualdade

E\N =

\
[

(Ak \ N )

j=1 ij

pode ser verificada facilmente. Defina entao


E 0 :=

Ak MA .

j=1 i=j

Entao
E \ N = E 0 \ N,
como afirmado.
(iii) Defina
M1 = {Y X; XEY L(, IR)}.
Afirmamos que MA M1 . Para isto, mostraremos que A M1 e que M1 e uma -algebra. O
afirmado decorre entao da definicao de MA .
Seja A0 A e XAk como em (i). Tambem como na demonstracao do item (i), obtemos
|XAk A0 XAj A0 | |XAk XAj | qtp,
donde, integrando e aplicando o Teorema 4.1.2(i), concluimos que (XAk A0 ) e uma sequencia de
Cauchy em L(, IR). Passando a uma subsequencia, uma vez que XAk XE qtp, conclumos que
XAk A0 XEA0 qtp. Assim, de acordo com o Teorema 4.1.2(ii), temos que XEA0 L(, IR), e
portanto A0 M1 . Isto mostra que A M1 .
Afirmamos agora que se Y1 , Y2 M1 , entao Y1 Y2 M1 . A demonstracao e inteiramente analoga
a de A M1 . De fato, de acordo com o item (i), sejam Aik A tais que
XAik XEYi em L(, IR), i = 1, 2.
Entao obtemos
|XA1k A2k XA1j A2j | |XA1k XA1j | + |XA2k XA2j | qtp,
donde deduzimos, como antes, que (XA1k A2k )k IN e uma sequencia de Cauchy em L(, IR). Para
uma subsequencia, temos XAik XEYi qtp, i = 1, 2. Logo, XA1k A2k XEY1 Y2 qtp, o que
prova, de acordo com o Teorema 4.1.2(ii), que XEY1 Y2 L(, IR), isto e, Y1 Y2 M1 .
Se Y M1 entao temos Y c M1 . De fato, como XE , XEY L(, IR) temos que
XE\Y = XE XEY L(, IR).
Finalmente, se Yi M1 satisfaz Yi Yi+1 , temos
Y :=

Yi M 1 .

i=1

De fato, XEYi % XEY e X XEYi d X XE d. Decorre do teorema da convergencia monotona


que XEY L(, IR), o que mostra que Y M1 , completando a demonstracao de que M1 e uma
-algebra.
2

DE UMA MEDIDA POSITIVA


4.2. A CONSTRUC
AO

35

Conclumos a secao mostrando como estender a medida definida na algebra A a uma medida
numa -algebra M. Para tornarmos a notacao mais adequada, denotaremos A a medida definida
na algebra A.
Teorema 4.2.2 Sejam A a medida (-subaditiva) definida na algebra A e MA a menor -
algebra
que contem A. Defina
M := {E X; XE = XE 0 qtp (em ) para algum E 0 MA }
e : M [0, ] por


R
X

(E) :=

XE dA ,

se XEA L(A , IR) A M


caso contrario

Entao e uma extensao da medida A e (X, M, ) e um espaco de medida. Vale:


(N ) = 0 N M e (N ) = 0,
onde e a medida exterior induzida por A .
Demonstracao:
Como MA e uma -algebra e a uniao enumeravel de conjuntos de medida nula tem medida nula,
vemos que M e uma -algebra e que MA M.
Seja A A. Se A (A) = , entao XA 6 L(, IR). De fato, se XA L(, IR) teramos, de acordo
com o Lema 4.2.1(i), uma sequencia de conjuntos Ak A tais que XAj XA em L(, IR), donde
para uma subsequencia, XAj XA qtp. Isto mostra que (Aj ) . Mas entao
Z
Z
XA d = lim
XAk d = lim A (Ak ) = ,
X

absurdo. Logo, XE 6 L(, IR e (A) = , pois XA = XAX . Se A (A) < , XA St(, IR) e,
pelo Lema 4.2.1(iii), XAD L(, IR) D MA , donde tambem para todo D M. Segue entao
das definicoes do do Teorema 3.3.1(i) que,
Z
(A) =
XA dA = A (A).
X

Isto mostra que e uma extensao de A .


Seja N um conjunto de medida exterior nula. Entao XN = X = 0 qtp, donde N M. Alem disto,
Z
(N ) =
XN dA = 0.
X

Reciprocamente, se N M e tal que (N ) = 0, decorre do Teorema 3.3.1(iii) que, para todo  > 0,
Z

 ({XN > })


XN dA = (N ) = 0.
X

Logo (N ) = 0. Como subconjuntos de um conjunto de medida nula tem medida nula, mostramos
que e completa. Falta mostrar que : M [0, ] e -aditiva.

CAPITULO 4. PROPRIEDADES DA INTEGRAL

36

Sejam E1 , E2 M disjuntos. Como XE1 E2 = XE1 + XE2 , temos (E1 E2 ) = (Ei ) =


(i = 1, 2). (justifique!) Se (Ei ) < para i = 1, 2 entao (E1 E2 ) = (E1 ) + (E2 ) decorre
da linearidade da integral (Teorema 3.3.1(i)).
Sejam agora Ei M dois a dois disjuntos e

[
E :=
Ei M.
i=1

Suponhamos que

(Ei ) < .

i=1

Entao, definindo
Ek :=

k
[

Ei ,

i=1

temos
Z
X

XEk d =

k
X

(Ei )

i=1

(Ei ) < .

i=1

Como XEk D % XED para todo D M, segue do Teorema da Convergencia Monotona que
XED L(, IR) para todo D M. Reciprocamente, se (E) < , entao XED para todo
D M. Substituindo D por D Ei , conclumos que (Ei ) < , i. Logo
Z
k
X
XEk dA C := (E) < .
(Ei ) =
X

i=1

Temos entao que


XEk D % XED quando k , D M, x X.
Decorre entao do teorema da convergencia monotona que XED L(, IR) para todo D M e
Z
Z

X
(Ei ).
(E) =
XE dA = lim
XEk dA =
X

i=1

2
A partir deste momento, designara a medida completa construda no teorema anterior. Consequentemente, X f d denotara a integral X f dA .
Lema 4.2.3 Seja f L(, Y ). Entao, para todo E M, temos XE f L(, Y ).
Demonstracao:
Considere funcoes degrau tais que fk f em L(, Y ). Passando a uma subsequencia, podemos
supor fk (x) f (x) qtp. Seja E M. Pela definicao de M, existe E 0 MA tal que XE = XE 0 qtp.
Decorre do item (iii) daquele Lema que XE 0 fk L(, Y ) (note que fk e uma combinacao linear de
funcoes caractersticas), donde tambem XE fk L(, Y ). Como
kXE fk XE fj k kfk fj k,
a sequencia (XE fk ) e uma sequencia de Cauchy em L(, Y ). Como fk f qtp, XE fk XE f qtp,
seguindo entao a afirmacao do Teorema 4.1.2(ii).
2

4.3. FUNC
OES
MENSURAVEIS

4.3

37

Func
oes Mensur
aveis

Consideremos em Y a -algebra B de Borel, isto e, a menor -algebra que contem todos os conjuntos
abertos. Dada uma funcao mensuravel f : X Y , sabemos que f 1 (U ) M para todo aberto U .
facil concluir que o mesmo e verdadeiro para todo U B. De fato, defina N a colecao de todos
E
os subconjuntos S de Y tais que f 1 (S) M. Entao N e uma -algebra e B N .
Definic
ao 4.3.1 Func
ao de Borel
Sejam Y, Z espacos de Banach. Uma funcao de Borel e uma funcao f : X Y tal que a imagem
inversa de conjuntos abertos em Z sao elementos de B.
Observacao: Funcoes contnuas f : Y Z sao funcoes de Borel.
Lema 4.3.2 Seja X um espaco metrico separavel. Entao todo subconjunto de X e separ
avel.
Demonstracao:
Suponhamos que A X nao seja vazio e que {xk ; k IN } seja denso em X. Escolha akj A tal
que
1
d(xk , akj ) dist(xk , A) + .
j
Dados a A e  > 0, existe xk tal que d(a, xk ) /3. Entao, para j suficientemente grande, vale:
d(a, ak j ) d(a, xk ) + d(xk , ak j )
1
2d(xk , ak j ) + ,
j
2

mostrando que {akj ; k, j IN } e denso em A.


Lema 4.3.3
(i) Sejam fj : X Y mensuraveis. Se f = limj fj qtp, entao f e mensuravel;
(ii) Se fj : X IR forem mensuraveis, entao
inf fj e lim inf fj

sao mensuraveis (defina arbitrariamente a funcao nos conjuntos (de medida nula) onde o
valor e assumido).
(iii) Sejam Z um espaco de Banach, : Y Z uma funcao de Borel e f : X Y mensur
avel.
Entao f e mensuravel.
Demonstracao:
(i) Seja f (x) = limj fj (x) para todo x X \ N , onde N e um conjunto de medida nula tal que
fj (X \ N ) e separavel para todo j. Seja U Y aberto. Defina
Ui := {y U ; B 1 (y) U }.
i

CAPITULO 4. PROPRIEDADES DA INTEGRAL

38
Para x X \ N temos

f (x) U i, k; fj (x) Ui

se j k,

o que significa, usando a linguagem de conjuntos (justifique!)


!
\

[
[
1
1
fj (Ui ) \ N M.
f (U ) \ N =
i=1 k=1 j=k

Alem disto,
f (X \ N )
j=1 fj (X \ N ),
que e separavel (mostre!).
(ii) Seja g(x) := inf jIN fj (x) > para todo x X \ N , onde (N ) = 0. Entao, para todo a IR
vale:
!

\
1
1
g ([a, )) \ N =
fj ([a, )) \ N M,
j=1

donde deduzimos a mensurabilidade de g. Da mesma forma, temos que gk := inf jk fj sao mensuraveis. De acordo com (i), tambem
lim inf fj = lim gk
j

e mensuravel.
(iii) Seja N um conjunto de medida nula tal que f (X \ N ) seja separavel. Entao f (X \ N ) =
[f (X \ N )] e separavel. Seja U Z aberto. Entao 1 (Z) B, donde f 1 [1 (Z)] M
2
Corol
ario 4.3.4 Se existir uma sequencia de funcoes degrau (fk ) tal que fk f qtp, entao f e
mensur
avel. Em particular, toda f L(, Y ) e mensuravel.
Demonstracao:
imediato.
E
Teorema 4.3.5 (Egorov)
Suponha que (X) < e que fj , f sejam mensuraveis. Entao sao equivalentes:
(i) fj f qtp;
(ii) fj f -uniformemente, isto e, dado  > 0, existe E M com (X \ E )  tal que
fj f uniformemente em E .
Demonstracao:
ao (X \ E) = 0 e fj (x) f (x) para x E.
(ii) (i) Seja E :=
n=1 E1/n . Ent
(i) (ii) Dado  > 0, considere E M tal que (X \ E) = 0 e fj (x) f (x) se x E.
Considere
1
se j k} M justifique! .
Ek,n := {x E; kfj (x) f (x)k <
n

4.3. FUNC
OES
MENSURAVEIS

39

Entao, para todo n,

Ek,n = E,

k=1

e Ek,n Ek+1,n . Assim, existe um kn tal que


(E \ Ekn ,n ) 2n .
Logo, definindo
E :=

Ekn ,n ,

n=1

temos (X \ E )  e fj f uniformemente em E .

Teorema 4.3.6 Seja f : X Y . As seguintes afirmacoes sao equivalentes:


(i) f e mensuravel e se anula fora de um subconjunto -finito de X;
(ii) f e o limite qtp de funcoes degrau.
Demonstracao:
(ii) (i) Decorre imediatamente do Corolario 4.3.4.
(i) (ii) Podemos supor que X seja uma uniao disjunta de subconjuntos Xk de medida finita
(k)
(justifique!). Se provarmos que, para cada k, existe uma sequencia de funcoes degrau (gj )
j=1 tal
que
(k)
lim gj = f |Xk qtp,
j

o resultado estara provado. De fato, se definirmos entao


gn (x) := gn(k) em Xk , se k = 1, . . . , n,
gn (x) := 0 se x 6 X1 . . . Xk ,
temos que (gn ) e uma sequencia de funcoes degrau que converge para f qtp. Isto mostra que
podemos considerar apenas o caso em que X tem medida finita.
Podemos tambem supor que a imagem de f contem um subconjunto denso {vk }. Para cada
n fixo, considere a cobertura aberta B1/n (vk ) (1 k < ) da imagem de f . A partir desta
cobertura aberta, podemos obter uma cobertura disjunta: basta considerar os conjuntos B1/n (v1 ),
Sj1
B1/n (v2 ) \ B1/n (v1 ),..., B1/n (vj ) \ i=1
B1/n (vi ),... Todos estes conjuntos estao na -algebra de Borel
do conjunto Y , donde suas imagens inversas sao mensuraveis. Para 1 j k, seja
!
j1
[
Ej = f 1 B1/n (vj ) \ (B1/n (vi ) M.
i=1

Cada um dos conjuntos Ej tem medida finita, pois ja nos restringimos ao caso em que X tem
medida finita. Decorre imediatamente da definicao da medida em M que XEj L(, IR), donde,
de acordo com o Lema 4.2.1, existem conjuntos Aj A, dois a dois disjuntos, tais que Aj Ej e
(Ej ) (Aj ) e arbitrariamente pequena (justifique!). Assim, para k suficientemente grande,
A1 Ak = X \ Yn ,

CAPITULO 4. PROPRIEDADES DA INTEGRAL

40

com (Yn ) < 1/2n .


Defina, para x Aj (1 j k), gn (x) = vj , gn (Yn ) 0. Cada gn e uma funcao degrau tal que
|f (x) gn (x)| < 1/n se x 6 Yn .
Seja entao
Zn :=

Yj .

j=n

Vale (Zn ) 1/2n1 e Zn Zn+1 .Defina entao



gn (x) se x X \ Zn
fn (x) :=
0
se
x Zn
Cada fn converge a f exceto talvez na intersecao de todos os Zn , que e um conjunto de medida
nula.
2

4.4

O Teorema da Converg
encia Dominada

Lema 4.4.1 Lema de Fatou


Sejam fn L(, IR) tais que fn 0 qtp. Suponha que
Z
fn d [0, )
lim inf
X

(isto e, que o lim inf acima exista). Entao existe


lim inf fn (x) qtp,
lim inf fn L(, IR) e
Z

Z
lim inf fn d lim inf

fn d = lim inf kfn kL() .


X

Demonstracao:
Consideramos inicialmente a sequencia (gm ), definida por
gm (x) := inf{fk (x), fk+1 , . . . , fk+m }.
Para cada k, tal sequencia e decrescente e converge pontualmente a inf nk fn . Uma vez que
Z
Z
inf{fk , . . . , fk+m }d
fk+j d para j = 1, . . . , m,
X

para podermos aplicar o teorema da convergencia monotona (veja exerccio 6, abaixo) basta mostrar
que as integrais do lado direito da expressao acima sao limitadas. Note que
Z
Z
Z
inf fn d inf
fn d lim inf
fn d
X nk

nk

k nk


4.5. ALGUMAS APLICAC
OES

41

(a primeira desigualdade decorre imediatamente da desigualdade anterior; a segunda, da definicao


de lim inf).
Assim, pelo teorema da convergencia monotona, inf nk fn L(, IR e gm infnk fn em L(, IR).
Seja agora hk := inf nk fn . Entao (hk ) e uma sequencia crescente e o resultado decorre da aplicacao
do teorema monotona a esta sequencia, pois
lim hk = lim inf fn .

2.
Observacao: O Lema de Fatou usualmente e utilizado quando a sequencia (fn ) converge qtp e as
normas kfn kL() sao limitadas, o que assegura que lim fn L(, IR).
Teorema 4.4.2 Teorema da Converg
encia Dominada
Seja (fn ) uma sequencia de funcoes em L(, Y ). Suponha que existam g L(, IR) e f : X Y
tais que
kfn k g n
e
f = lim fn qtp.
n

Entao f L(, Y ) e
Z
kfn f kd 0 quando n .
X

Demonstracao:
Defina
gk := sup kfn fm k.
m,nk

Entao gk & 0 qtp. De acordo com o Corolario 4.1.3, temos gk L(, IR), pois kfn fm k 2g. Do
teorema da convergencia monotona deduzimos que gk 0 em L(, IR) e portanto que (fn ) e uma
sequencia de Cauchy em L(, Y ). O afirmado segue entao do Teorema 4.1.2(ii).
2

4.5

Algumas Aplicac
oes

Teorema 4.5.1 Crit


erio da Majorac
ao
Seja f : X Y mensuravel. Suponha que exista g L(, IR) tal que kf k g qtp. Ent
ao
f L(, Y ). Em particular, f L(, IR) kf k L(, IR).
Demonstracao:
Como kf k g qtp, temos que f se anula fora de um conjunto -finito de X. Assim, decorre do
Teorema 4.3.4 que existe uma sequencia (fk ) de funcoes degrau tais que gk f qtp. Defina a
sequencia de funcoes degrau fk por

gk (x) se kgk (x)k 2g(x)
fk (x) :=
0
se kgk (x)k > 2g(x)
O conjunto Sk dos pontos x tais que 2g(x) kgk (x)k 0 e mensuravel, donde fk L(, Y ) k.
Alem disto, fk f qtp e kfk k 2g qtp. Decorre do teorema da convergencia dominada que
f L(, Y )
2

CAPITULO 4. PROPRIEDADES DA INTEGRAL

42

Teorema 4.5.2 Sejam f L1 (, Y ) e : M Y definida por


Z
Z
(E) :=
f d :=
XE f d.
E

Ent
ao e -aditiva (com valores em Y !) e
k(E)k 0 quando (E) 0.
Demonstracao:
A aditividade
de decorre imediatamente da aditividade da integral (teorema 3.3.1(i)). Seja
S
E = i=1 Ei , onde EI M e Ei Ei+1 . Entao temos
XE f = lim XEi f qtp.
i

Temos que, de acordo com o lema 4.2.3, XE f L(, Y ), seguindo entao do criterio de majoracao
que a sequencia (XEi e uma sequencia de funcoes em L(, Y ), cujas normas formam uma sequencia
monotona. Assim, se i < j, temos
Z
Z
kf kd
kXEj f XEi f kd =
Ej \Ei
X
Z
Z
=
kf kd
kf kd 0
Ej

Ei

quando j, i .
Concluimos que XEi XE em L(, Y ), donde se segue que e -aditiva. Escolha agora funcoes
degrau
nk
X
fk =
XEki ki
i=1

tais que kf fk kL() 0 quando k . Entao temos


Z
k(E)k

kf fk kd +
X

nk
X

kki k(E Eki ).

i=1

O primeiro termo tende a zero quando k cresce, enquanto (E Eki ) tende a zero, para todo k e
todo i, quando (E) 0.
2
Teorema 4.5.3 Integral de Riemann e Integral de Lebesgue
Seja f : [a, b] IR IR uma funcao limitada definida no compacto [a, b]. Suponha que f seja
descontnua num conjunto de pontos de medida zero. Entao f e Lebesgue-integravel e as integrais
de Riemann e Lebesgue sao iguais.
Demonstracao:
Como sabemos, qualquer funcao f com as hipoteses acima e Riemann-integravel, isto e, a integral
de Riemann existe. Considere uma particao P do intervalo [a, b]:
a = x0 x1 . . . xn = b.

4.6. EXERCICIOS

43

Seja mi = inf x[xi ,xi+1 ) f (x). Entao, como sabemos,


lim

|P |0

n
X

mi (xi+1 xi )

f (x)dx,
a

i=1

onde |P | denota a norma da particao P e a integral e a integral de Riemann. Note que P (x) f (x)
FOI DEFINIDA
exceto talvez no conjunto de pontos de descontinuidade de f (justifique!). NAO
P !
Por outro lado, as funcoes P sao funcoes degrau, donde Lebesgue-integraveis. Alem disto, como
f e limitada, existe C tal que |f (x)| < C x [a, b]. Assim,
|P (x)| C.
Decorre do teorema da convergencia dominada que
n
X

Z
P d =
[a,b)

mi (xi+1 xi )

i=1

f d
[a,b)

2
Em virtude deste resultado, e usual denotar a integral de Lebesgue por
Z

dx,
a

entendendo que dx e a medida de Lebesgue.

4.6

Exerccios

1. Seja S um conjunto qualquer e Y um espaco de Banach com norma k k. Definimos o espaco


das funcoes limitadas B(S, Y ) por
B(S, Y ) := {f : S Y ; f (S) e limitado}.
Mostre que B(S, Y ) e um espaco de Banach com a norma k ksup , definida por
kf ksup := sup kf (x)k.
xS

2. Seja S IRn um conjunto limitado e fechado. Defina


C 0 (S) := {f : S IK; f e contnua }.

Mostre que C 0 (S) e um subespaco fechado de B(S) := B(S, IK), donde um espaco de Banach. E
possvel considerar subconjuntos S de um espaco metrico qualquer ?

CAPITULO 4. PROPRIEDADES DA INTEGRAL

44

Defini
c
ao 4.6.1 Seja f : Y uma funcao qualquer. Definimos o suporte de f , denotado
supp f , por
supp f := {x ; f (x) 6= 0}.
3. Seja IRn um aberto. Seja (Km ) uma sequencia de compactos tais que

Km = ,

m=1

Km Km+1
e, se K for uma compacto, entao
K Km para algum m.
Mostre que
C 0 () := {f : IK; f e contnua em }
e um espaco metrico completo com a metrica de Frechet
(f ) :=

2m

m=1

kf kB(Km )
.
1 + kf kB(Km )

Alem disto, (fk f ) 0 fk f uniformemente Km compacto.


Mostre tambem que
C00 () := {f C 0 (); supp f Km para algum m}
nao e um subconjunto fechado de C 0 ().
4. Seja C00 (IRn , Y ) o conjunto das funcoes contnuas f : IRn Y com suporte compacto. Mostre
que C00 (IRn , Y ) e denso em L(, Y ).
5. Mostre que qualquer conjunto aberto ou fechado e mensuravel na -algebra de Lebesgue (isto
e, aquela gerada pela algebra de Lebesgue no IRn ).
6. Mostre a seguinte versao do teorema da convergencia monotona: Seja (fn ) uma sequencia
monotona de funcoes reais em L(, IR). Suponha que a sequencia de integrais
Z
fn d
X

seja limitada. Entao (fn ) e uma sequencia que converge tanto em L(, IR) como qtp para uma
funcao f L(, IR).
7. Seja fn L(, Y ) tal que fn f qtp. Suponha que kfn kL() C para todo n. Mostre que
f L(, Y ) e que kf kL() C. De um exemplo mostrando que nao necessariamente temos fk f
em L(). Como proceder de modo a obter convergencia em L(, Y )?
8. Seja f L(, Y ) e g : X IK uma funcao limitada e mensuravel. Mostre que gf L(, Y ).
9. Seja (fk ) uma sequencia de funcoes em L(, Y ) tal que

X
k=1

kfk kL() < .

4.6. EXERCICIOS

45

Entao a serie

f (x) =

fk (x) converge qtp,

k=1

f L(, Y ) e
Z
f d =
X

Z
X
k=1

fk d.

10. Seja f L(, Y ). Dado  > 0, existe E M com medida finita tal que

Z
Z


< .
f d
f
d


X

possvel obter E A?
E
11. Seja f L(, Y ). Seja S um conjunto fechado de Y . Se E X for um conjunto mensuravel
de medida finita, a integral
Z
1
f d
(E) E
pode ser vista como a media de f no conjunto E. Suponha que a media de f em E esteja sempre
no conjunto S, para todo E M tal que 0 6= (E) < . Mostre que f (x) S qtp.
12. Mostre que, em IRn , considerando a -algebra M gerada pela algebra A de Lebesgue, entao M
consiste de conjuntos na -algebra de Borel B e de conjuntos de medida nula. Isto e, dado E M,
existem E1 , E2 B (B e a -algebra de Borel em IRn ) tais que E1 E E2 e (E2 \ E1 ) = 0.
13. Prove a desigualdade de Young generalizada: dados ai 0 e 1 pi < (1 i n) tais que
n
X
1
= 1,
p
i=1 i

entao

n
Y
i=1

ai

n
X
1 pi
ai .
p
i
i=1

14. Seja g L(, IR) tal que g > 0. Mostre que, dado  > 0, existe E M, com (E ) < tal
que
Z
g .
X\E

Generalize para g L(, Y ).


15. Generalize para o IRn a demonstracao sobre a equivalencia das integrais de Riemann e de
Lebesgue.
16. Seja k INR. Mostre que, se f L(0, 1) := L((0, 1), IR) (com a medida de Lebesgue), entao
1
xk f L(0, 1) e 0 xk f dx 0 quando k .
17. De exemplo de uma funcao f que nao e integravel em (0, ), mas cuja integral impropria de
Riemann existe e e finita.
18. Seja f contnua em [a, b]. Mostre que f e integravel. Defina, para a < x < b,
Z b
F (x) :=
f (t)dt.
a

46

CAPITULO 4. PROPRIEDADES DA INTEGRAL

Mostre que F e diferenciavel e F 0 = f . Mostre que, no caso de f L(a, b), entao F (x) e contnua
em [a, b].

Captulo 5
Os espa
cos Lp
5.1

Definico
es e Propriedades

Definic
ao 5.1.1 Espacos Lp
Sejam (X, M, ) um espaco de medida e f : X Y mensuravel. Para p [1, ] definimos:
(i) Se 1 p < ,
Lp (, Y ) := {f : X Y mensuravel; kf kp L(, Y )},
(ii) Se p = ,
L (, Y ) := {f : X

Y mensuravel ; N, com
(N ) = 0 e sup kf (x)k < }
xXN

m
odulo a relacao de equivalencia
f = g em Lp (, Y ) : f = g qtp.
Nos espacos Lp (, Y ) definimos
Z
kf kLp :=

1/p
kf k d
.
p

kf kL := sup kf (x)k,
xXN

(outra notacao e ess supX kf k) onde N e o conjunto de medida nula descrito na definic
ao de

L (, Y ).
Para 1 p < , temos
kf kLp [({x X; kf (x)k }]1/p
(justifique!). Assim, para todo p [1, ] temos
kf kLp = 0 f = 0 qtp.
47

CAPITULO 5. OS ESPAC
OS LP

48

Observacao: Se Y = IK, denotamos Lp (, IK) simplesmente Lp (). No caso de X = IRn ,


considerado com a medida de Lebesgue, e usual escrever Lp () ao inves de Lp (). Muitas vezes o
smbolo d nao e escrito, neste caso, na notacao da integral. Outras vezes ele e escrito como dLn
ou dL ou mesmo dx.
Lema 5.1.2 O espaco L (, Y ) e um espaco completo.
Demonstracao:
Que L e um espaco vetorial e k kL e uma norma, decorre imediatamente das definicoes.
Seja (fk ) uma sequencia de Cauchy em L (, Y ). Entao existe um conjunto N de medida nula tal
que, para todo x X N ,
kfk (x)k kfk kL C < , para todo k
e
kfk (x) fj (x)k kfk fj kL 0 quando k, j .
Definimos


f (x) =

limk fk (x) se x X N
0
se x N

Entao f e mensuravel (como limite qtp de funcoes mensuraveis) e limitada. Para x X N temos
kf (x) fk (x)k = lim kfj (x) fk (x)k kfj fk kL ,
j

desde que k, j sejam suficientemente grandes. Isto mostra que


kf fk kL 0 quando k ,
2

donde L (, Y ) e completo.
Lema 5.1.3 Desigualdade de H
older
Sejam p, q [0, ] tais que
1 1
+ = 1.
p q
(Diz-se que q e o expoente conjugado a p)
Se f Lp () e g Lq (), entao f g L1 () e
kf gkL1 kf kLp kgkLq .

Observacao: Neste resultado e nos seguintes nos restringimos a` situacao de considerarmos Lp ().
Sao possveis generalizacoes: no caso de Y ser um espaco de Hilbert, veja os exerccios. Mas
situacoes mais gerais podem ser consideradas. Veja, por exemplo, [2].
Demonstracao:
Como : IK IK IK definida por (x, y) = xy e contnua, temos que f g e mensuravel.
Consideremos inicialmente o caso p = 1, o que implica q = . Entao temos
|(f g)(x)| kgkL |f (x)| qtp,


5.1. DEFINIC
OES
E PROPRIEDADES

49

donde, pelo criterio de majoracao, f g L1 (). Integrando, obtemos o afirmado. O caso p =


e simetrico a este. Consideremos, assim, 1 < p, q < . Notamos que se kf kLp = 0 ou kgkLq =
0, entao o resultado e claro, pois uma das funcoes seria nula qtp, donde tambem o produto.
Suponhamos, portanto, as duas normas positivas. Afirmamos que, se a, b 0 entao vale:
1
1
ab ap + bq
p
q

Desigualdade de Young.

Basta prova-la no caso a > 0 e b > 0. Usando a concavidade da funcao logartmo (veja exerccio 7
do captulo 3) obtemos


1
1
1 p 1 q
p
q
ln(ab) = ln a + ln b = ln a + ln b ln
a + b .
p
q
p
q
A afirmacao e obtida ao se tomar a exponencial em ambos os lados.
Aplique, na desigualdade de Young,
a=
e obtenha

|f (x)|
kf kLp

b=

|g(x)|
kgkLq

|f (x)|p
|g(x)|q
|f (x)g(x)|

.
p +
kf kLp kgkLq
pkf kLp qkgkqLq

Decorre do criterio de majoracao que f g e integravel, pois o lado direito da desigualdade e integravel.
Integrando obtemos
X |f (x)g(x)|d
|f (x)|p d X |g(x)|q d
X
+
kf kLp kgkLq
pkf kpLp
qkgkqLq
1 1
+ .
=
p q
2
Lema 5.1.4 Desigualdade de Minkowski
Sejam f, g Lp (). Entao f + g Lp () e
kf + gkLp kf kLp + kgkLq .
Demonstracao:
O caso p = 1 decorre da definicao de L1 (). O caso p = ja foi tratado. Para 1 < p < temos,
ponto a ponto1 ,
|f + g|p (|f | + |g|)p 2p1 (|f |p + |g|p ) qtp,
(veja exerccio 1), donde f + g Lp (). Uma desigualdade mais precisa e
kf + gkp kf k kf + gkp1 + kgk kf + gkp1 .
1
A desigualdade pontual |f + g|p < 2p (|f |p + |g|p ), que tambem prova que f + g Lp () e trivial:|f + g|
2 max{|f |, |g|}. Logo |f + g|p 2p max{|f |p , |g|p } 2p (|f |p + |g|p ).

CAPITULO 5. OS ESPAC
OS LP

50

Como kf k, kgk Lp (), tomando q o expoente conjugado a p, notamos que kf + gkp1 Lq (),
pois q(p 1) = p. Decorre da desigualdade de Holder que
Z
kf + gkp d (kf kLp + kgkLp )k kf + gkp1 kLq
X
q
Z
q(p1)
= (kf kLp + kgkLp )
kf + gk
X

Ou seja,
kf + gkpLp (kf kLp + kgkLp )kf + gkp1
Lp .
Se kf + gkLp a desigualdade de Minkowski e trivial; caso contrario, ela e obtida da desigualdade
acima por cancelamento. hf ill2
Teorema 5.1.5 Riesz-Fischer
Para 1 p , Lp () e um espaco de Banach.
Demonstracao:
Uma vez vista a desigualdade de Minkowski, basta provar que Lp () e completo para 1 < p < .
Seja (fk ) uma sequencia de Cauchy em Lp (). Como sequencias de Cauchy possuem no maximo
um ponto de acumulacao, basta provar que uma subsequencia converge (justifique!). Passando a
uma subsequencia, que continuaremos a denotar (fk ), podemos supor que
kfk fj kLp 2i , k, j i.
Entao vale

kfk+1 fk kLp < .

k=1

Defina
gn (x) :=

n
X

|fi+1 (x) fi (x)| Lp ().

i=1

Decorre do Lema de Fatou e da desigualdade de Minkowski que


Z
Z
p
( lim gn )d lim inf
gnp d = (lim inf kgn kLp )p
n
n
n
X
X
!p

kfi+1 fi kLp
< .
i=1

Isto mostra que


lim gn (x) < qtp.

Portanto, podemos concluir que (fk (x)) e uma sequencia de Cauchy qtp (compare com a demonstracao do lema fundamental da integracao).
Aplicando novamente o lema de Fatou, obtemos
Z
Z
p
|f fn | d lim inf
|fm fn |p d = (lim inf kfm fn kLp )p
m
m

X
!p

kfi+1 fi kLp
quando n
i=n


5.2. O TEOREMA DA CONVERGENCIA
DOMINADA

5.2

51

O Teorema da Converg
encia Dominada

Teorema 5.2.1 Teorema da Converg


encia de Vitali
p
Sejam fn L (, Y ) com 1 p < . Suponhamos que fn f qtp. Sao equivalentes:
(i) f Lp (, Y ) e kf fn kLp 0 quando n ;
(ii)
Z
sup
n

kfn kp d 0 mboxquando (E) 0

e, dado  > 0, existe E com (E ) < tal que


Z
sup
kfn kp d .
n

XE

Demonstracao:
(i) (ii) De acordo com a desigualdade de Minkowski (veja e- xerccio 6), temos
1/p
1/p Z
Z
1/p Z
p
p
p
kfn f k d
.
kfn k d

kf k d
+
E

De acordo com o teorema 4.4.4, a primeira integral a` direita tende a zero quando (E) 0,
enquanto a segunda tende a zero por hipotese. Logo, dado  > 0, existe n e  tais que
Z
kfn kp d  se n n e (E)  .
E

Por outro lado, para 1 n < n , aplicando novamente o teorema 4.4.4, temos que existe n > 0
tal que
Z
kfn kp d  se (E) n ,
E

conclusao que entao vale para todo n IN . Isto demonstra a primeira afirmacao do item (ii).
Quanto a segunda, dada g L1 (, IR) com g 0, afirmamos que, dado  > 0, existe E M, com
(E ) < tal que
Z
gd 
XE

(veja exerccio 14 do captulo 4). De fato, para 0 <  < 1, considere E := { g (1/)}. Entao
vale:
Z
Z
gd
gd (E ).
X

E

Decorre da que (E ) < . Alem disto, se 0 < 2 < 1 < 1, temos E1 E2 . Defina
[
E :=
E = {0 < g < }.
0<<1

Escolhendo uma sequencia n 0, temos


Z
Z
gd
XEn

XE

Z
gd =

dd = 0,
g=0

CAPITULO 5. OS ESPAC
OS LP

52
donde conclumos a prova de que (i) (ii).
(ii) (i) Considere um conjunto E , com (E ) < , tal que
Z
sup
kfn kp d < .
n

XE

De acordo com o teorema de Egorov, fn f -uniformemente em E , isto e, existe um conjunto


A E tal que (E A )  e fn f uniformemente em A . Segue da que
Z
Z
Z
p
p
kfn fm k d
kfn fm k d +
kfn fm kd
X

Temos

A

XA

kfn fm kp d (A )ess sup kfn fm kp .


A

Para todo  > 0 tal termo tende a zero desde que se tome m, n suficientemente grandes. Por outro
lado, usando a desigualdade de Minkowski,
Z
Z
p
(kfn kp + kfm kp )d
kfn fm k d
XA
XA


Z
Z
p
p
kfk k d
kfk k d + sup
2 sup
kIN

kIN

XE

E A

O primeiro termo e menor que 2p , enquanto o segundo tende a zero quando (E A ) 0, isto
e, quando  0.
Isto mostra que (fk ) e uma sequencia de Cauchy em Lp (, Y ). De acordo com o teorema de RieszFischer (veja exerccio 6, abaixo), existe g Lp (, Y ) tal que fk g em Lp (, Y ). Passando a uma
subsequencia, obtemos fn g qtp, o que mostra que f = g qtp.
2
Teorema 5.2.2 Teorema da Converg
encia Dominada
Sejam Y1 e Y2 espacos de Banach. Suponha que gn g em Lq (, Y2 ), onde q [1, ). Sejam
fn , f : X Y1 funcoes mensuraveis satisfazendo
(i) fn f qtp;
(ii) kfn kp kgn kq qtp,
onde p [1, ). Entao fn f em Lp (, Y1 )
Demonstracao:
Pelo criterio da majoracao, temos fn Lp (, Y1 ). Temos tambem que
Z
Z
p
sup kfn k d sup kgn kq d.
n

De acordo com o teorema da convergencia de Vitali, a integral do lado direito da desigualdade


tende a zero quando (E) tende a zero. Da mesma forma se mostra a segunda afirmacao naquele
teorema. Isto mostra que fn satisfaz a`s exigencias do teorema da convergencia de Vitali, donde
decorre o resultado.
2

EM LP
5.3. APROXIMAC
AO

5.3

53

Aproximac
ao em Lp

FALTA TERMINAR!
O resultado seguinte e a generalizacao para Lp (, Y ) de uma propriedade basica de L(, Y ).
Lema 5.3.1 Seja f Lp (, Y ), onde p [1, ). Entao existem funcoes simples fk , sobre conjuntos na -algebra M, tais que
kf fk kLp 0 quando k .
Demonstracao:
Defina, para 0 <  < 1,
E := { < kf k 1/}.
Temos entao

kf kp d p (E ),

o que mostra que (E ) < . Uma vez que E e mensuravel, temos que XE f e mensuravel. Como
1
kXE f k XE L(, IR),

temos que XE f L(, Y ), de acordo com o criterio da majoracao. Logo, existem funcoes salto gk
tais que gk XE f em L(, Y ). Considere entao as seguintes funcoes salto:

gk (x) se x E e kgk (x)k 2/,

2gk (x)
se x E e kgk (x)k > 2/,
fk (x) :=
kgk (x)k
0
se x X E
(interprete!).
Para x E com kgk (x)k > 2/ temos
kfk (x) f (x)k kfk (x)k + kf (x)k
3


3(kgk (x)k kf (x)k)
3kgk (x) f (x)k.
Decorre da que fk XE f quando k em L(, Y ) e
Z
Z
p
kf fk k d
X

X\E

FALTA TERMINAR
O proximio resultado e um fato basico sobre espacos Lp (IRn ). Sua demonstracao pode ser
encontrada, e.g., em Rudin, Real And Complex Analysis, 3rd. Edition, Thm. 3.14, p. 69.
Lema 5.3.2 Seja f Lp (IRn ), em que 1 p < . Entao existem fk Co0 (IRn ) tais que kf
fk kLp 0 quando k .

CAPITULO 5. OS ESPAC
OS LP

54

Observacao: Este resultado nao vale em L (IRn ), pois o limite uniforme de funcoes contnuas e
sempre uma funcao contnua.
Teorema 5.3.3 Seja f Lp (IRn ), 1 p < . Para todo x IRn , a aplicacao
IRn 3 h 7 f (x + h) Lp (IRn )
e contnua. Ou, dito de outra maneira,
kf ( + h) f kLp 0 quando |h| 0,
em que f ( + h) denota a funcao x 7 f (x + h).
Demonstracao:
facil perceber que basta mostrar a continuidade da funcao em h = 0, que e justamente a segunda
E
expressao dada. Tome, de acordo com o lema anterior, fj Co0 (IRn ) tal que kf fj kLp 0 quando
j . Entao vale, se denotarmos Kj o suporte de {fj ( + h) fj )}
kf ( + h) f kLp kf ( + h) fj ( + h)kLp + kfj ( + h) fj kLp
+kfj f kLp
2kf fj kLp
!1/p
Z
+ sup |fj (x + h) f (x)|
dx
xIRn

Kj

Uma vez que as funcoes fj sao uniformemente contnuas, o segundo termo do lado direito da
desigualdade tende a zero quando h 0 para todo j. O outro termo tende a zero quando j .
Como j pode ser escolhido tao grande quanto se queira, o resultado decorre.
2

5.4

Exerccios

1. Mostre que se a, b > 0 entao




a+b
2

p

1
(ap + bp ).
2

Utilize esta desigualdade para obter |f + g|p 2p1 (|f |p + |g|p ).


2. Mostre que se (fn ) for uma sequencia de Cauchy em Lp () e se fn f qtp, entao f Lp () e
fn f em Lp ().
3. Seja H um espaco de Hilbert sobre C.
l Denote < , > o produto interno em H. Considere
2
2
L (, H). Entao, se f, g L (, H) mostre que
Z
(f, g) 7
(f, g)d
X

define um produto interno em L2 (, Y ) e que este espaco e completo.


4. De exemplos de funcoes que estao em Lp () mas nao estao em Lq ().

5.4. EXERCICIOS

55

5. Suponha que (X) < . Mostre que Lp () Lp1 () se p p1 . Este e um resultado


particularmente importante, pois muitas vezes lidamos com conjuntos abertos limitados IRn e
os correspondentes espacos Lp () (para notacao, veja definicao dos espacos Lp (, Y )
6. Mostre a seguinte generalizacao da desigualdade de Holder:
Sejam f Lp (, Y ) e g Lq (, Y ), com p e q expoentes conjugados. Entao kf k kgk L1 () e
k kf k kgk kL1 kf kLp kgkLq .
Deduza, em seguida, a desigualdade de Minkowski em Lp (, Y ) e conclua que Lp (, Y ) e um espaco
de Banach.
7. Seja f Lp (), com f 0 qtp. Mostre que, para todo  > 0 dado, existe M IR tal que
f (x) < M qtp, se x X EM , onde (EM ) < . Enuncie este resultado em termos de L ()
e compare com o exerccio 5, acima. Mostre tambem que existe 1 > 0 tal que f > 1 qtp se
x X E , onde (E ) < . Compare com a demonstracao do teorema de convergencia de Vitali.
8. Seja f Lp (IRn ), com p [1, ). Entao
kf ( + h) f kLp 0 quando h 0.
A funcao x 7 f (x + h) esta sendo denotada f ( + h).
9. Para quais p 1 temos x1 Lp (0, 1)? Lp (1, )? Lp (0, )? Defina tambem Lp (a, b) para
0 < p < 1 e responda `as mesmas questoes. De exemplo de uma funcao f , contnua e limitada em
(0, ), tal que limx f (x) = 0 mas f 6 Lp (0, ) para todo p > 0.

56

CAPITULO 5. OS ESPAC
OS LP

Captulo 6
O teorema de Fubini
6.1

A medida produto

Definic
ao 6.1.1 Ret
angulo no produto cartesiano
Sejam A e B algebras nos conjuntos X e Y , respectivamente. Um retangulo em X Y e um
conjunto da forma A B, onde A A e B B. Denotaremos C a colecao de todas as uni
oes
finitas de retangulos disjuntos em X Y .
Observacao: Se interpretarmos IRn como o produto cartesiano IR IR (n vezes), a nocao de
retangulo ja havia sido introduzida na definicao da algebra de Lebesgue.
Considere, como exemplo basico para tudo que abordaremos, o produto cartesiano IR IR = IR2 .

Lema 6.1.2 A colecao C e uma algebra de subconjuntos de X Y .


Demonstracao:
Comece provando que a intersecao e a diferenca de dois conjuntos em C esta em C. Conclua que a
uniao e o complementar tambem estao. Veja exerccio 1, abaixo.
2
Teorema 6.1.3 Sejam A e B medidas -aditivas nas algebras A e B, respectivamente. Considere
a algebra C formada pela uniao finita de retangulos dois a dois disjuntos AB, com A A e B B.
Entao existe uma medida -aditiva na algebra C, tal que
C (A B) = A (A) B (B).
Observacao: Se as medidas A e B forem -finitas, decorre do teorema de extensao de Hahn que
tal medida definida na -algebra gerada por C e u
nica.
Demonstracao:
Para facilitarmos a notacao, denotaremos as medidas envolvidas simplesmente por , e .
Seja E C. Entao
n
[
E = (Ai Bi ),
i=1

57

CAPITULO 6. O TEOREMA DE FUBINI

58

onde os conjuntos Ai Bi sao retangulos dois a dois disjuntos. Defi- nimos


(E) :=

n
X

(Ai )(Bi ).

i=1

Claramente e uma medida aditiva na algebra C. Para mostrarmos a -aditividade, basta provarmos que se um retangulo A B for a uniao de uma sequencia de retangulos Ai Bi , dois a dois
disjuntos, entao

X
(A B) =
(Ai )(Bi )
i=1

(justifique!). Alem disto, podemos considerar apenas o caso em que todos os conjuntos envolvidos
tem medida finita.
Claramente temos

X
XAB (x, y) = XA (x)XB (y) =
XAi (x)XBi (y),
i=1

para todo x X e y Y . Mantendo x fixo, considere a sequencia crescente


n
X

XAi (x)XBi (y) % XAi (x)XB (y).

i=1

Decorre do teorema da convergencia monotona:


XA (x)(B) =

XAi (x)(Bi )

i=1

(veja exerccio 9 do captulo 4; note que Y XBi d = (Bi ), pois (Bi ) < ).
Aplicando novamente o teorema da convergencia monotona, obtemos
(A)(B) =

(Ai )(Bi ),

i=1

completando a demonstracao.
2
Decorre do teorema acima que integral de Lebesgue pode ser construda a` partir das algebras C e da
medida C , de modo a gerar um espaco de medida (X Y, M, ). Para ressaltarmos a propriedade
que caracteriza a medida , e usual denota-la . Vamos caracterizar o espaco Lp (, Z) (onde
Z e um espaco de Banach) com respeito a` transformacao da integral duplaem integral iterada.
Lema 6.1.4 Sejam M e N -algebras nos conjuntos X e Y , respectivamente.
(i) Seja Q M N . Defina
Qx := {y Y ; (x, y) Q}.
Entao Qx N .

6.1. A MEDIDA PRODUTO

59

(ii) Seja f : X Y Z uma aplicacao mensuravel no espaco de Banach Z. Entao, para todo
x X, a aplicacao
fx : Y Z
definida por fx (y) := f (x, y) e mensuravel.
(iii) O mesmo vale a respeito de Qy e fy .
Observacao: Algumas vezes denomina-se Qx , Qy , fx e fy as secoes x e y de Q e f , respectivamente.
Demonstracao:
(i) Seja S a colecao de todos os subconjuntos Q MN tais que Qx N para todo x X. Entao
S contem todos os retangulos EF em XY . De fato, se x E, entao {y F ; (x, y) EF } = F ;
se x 6 E, este conjunto e vazio.
Para provarmos o afirmado, basta entao provar que S e uma -algebra. Claramente temos que
X Y S. Suponhamos que Q S. Uma vez que (Qc )x = (Qx )c , temos que Qc S. Da mesma
forma, se P, Q S, entao (P Q) = Px Qx , mostrando que unioes finitas de elementos em S
estao em S. Finalmente, se Qn S, e facil ver que
!

[
[
(Qn )x ,
Qn
=
n=1

n=1

donde S e uma -algebra.


(ii) Seja V Z um aberto. Como
(f 1 (V ))x = fx1 (V ),
vemos que a imagem inversa de um aberto por fx e mensuravel. Seja N um conjunto de medida
nula tal que f (X Y \ N ) seja separavel. Como fx (X Y \ N ) = f (X Y \ N )x , conclumos que
fx e mensuravel.
(iii) As demonstracao e analoga a de (i) e (ii).
2
Lema 6.1.5 Suponhamos que N seja um conjunto de medida nula em X Y . Entao, para quase
todo x X,
{y Y ; (x, y) N } = Nx
e um conjunto de medida nula em Y.
Demonstracao:
Dado  > 0, existem conjuntos Ai A, Bi B tais que
N

Ai Bi

i=1

(Ai Bi ) .

i=1

Considere a funcao:
gn (x, y) :=

n
X
i=1

XAi (x)XBi (y).

CAPITULO 6. O TEOREMA DE FUBINI

60
Para todo x X fixo, (gn )x L(, IR) e

n
X

Z
Gn (x) :=

(gn )x d =
Y

XAi (x)(Bi ).

i=1

Alem disto, Gn L(, IR) e


Z
Gn d =
X

n
X

(Ai )(Bi ) .

i=1

Quando n temos
Gn (x) % G (x) :=

XAi (x)(Bi ),

i=1

decorre do teorema da convergencia dominada que G L(, IR) e


Z

Z
Gn d .

G d = lim

Decorre da que G 0 in L(, IR) quando  0, donde conclumos que G (x) 0 qtp em x.
Consideraremos a seguir apenas tais x X.
Por outro lado, quando n ,
Z
(gn )x d = Gn (x) % G (x) <
Y

e
(gn )x (y) % (g )x (y) :=

XAi (x)XBi (y).

i=1

Assim, decorre do teorema da convergencia monotona que (g )x L(, IR) e


Z
(g )x d = (G )x .
Y

Logo (g )x 0 em L(, IR), donde existe uma subsequencia  0 (que depende do ponto x!) tal
que (g )x (y) 0 qtp em y. Como
(g )x (y) XNx (y),
2

devemos ter XNx (y) = 0 qtp em y.

Lema 6.1.6 Sejam f L1 (, Y ) e T L(Y, Z), o espaco das tranformacoes lineares contnuas do
espaco de Banach Y no espaco de Banach Z. Entao T f L1 (, Z) e
Z

Z
T f d = T
X


f d .

6.2. O TEOREMA DE FUBINI

61

Demonstracao:
Aproxime f L(, Y ) por funcoes salto
fk =

nk
X

XAki ki , ki Y, (Aki ) .

i=1

Como T e contnua, temos


Z
T

nk
X


Z

f d
T
fk d = T
X
nk
X

!
(Aki )ki

i=1

Z
T fk d.

(Aki )T ki =
X

i=1

Uma vez que


Z

Z
kT fk T fj kd kT k

kfk fj kd 0,

vemos que (T fk ) e uma sequencia de Cauchy em L1 (, Z), donde existe g L1 (, Z) tal que
T fk g em L1 (, Z),
quer dizer,
Z

Z
T fk d

gd.
X

Passando a uma subsequencia, T fk g qtp. Passando a outra subsequencia, fk f qtp, donde


g = T f qtp.
2

6.2

O Teorema de Fubini

Teorema 6.2.1 Fubini


Sejam Z um espaco de Banach e 1 p < . Entao
J : Lp ( , Z) Lp (, L1 (, Z))
definida por
(Jf )(x)(y) = f (x, y)
e um isomorfismo linear isometrico. Quer dizer, para toda funcao f Lp ( , Y ), a func
ao
(Jf )(x) = fx Lp (, Z) para quase todo x X e
Z
F (x) :=
fx d Lp (, Z).
Y

Reciprocamente, dada f : X Y Z mensuravel, se fx Lp (, Z) para quase todo x X, e


F (x) Lp (, Z), entao f Lp ( , Z).

CAPITULO 6. O TEOREMA DE FUBINI

62
O mesmo resultado vale para

J : Lp ( , Z) Lp (, Lp (, Z)),
definida analogamente.
No caso particular em que p = 1 temos, alem disto,

Z Z
Z
Jf d d =
X

f d( ).

(6.1)

f d( ).

(6.2)

XY

Analogamente,

Z

Jf d d =

Z Z
X

XY

Observacoes:
1. Algumas vezes o papel da positividade e acentuado na formulacao deste teorema. Na recproca,
exige-se que, para quase todo x X,
Z
kfx kp d Lp (, IR).
Y

Convenca-se que tal hipotese esta implcita em nossa formulacao.


2. Tendo em vista as equacoes (6.1) e (6.2), e usual, uma vez demonstrado o teorema de Fubini,
e escrever o resultado da seguinte maneira:
suprimir as aplicacoes J e J,


Z Z
Z Z
f (x, y)d d.
f (x, y)d d =
X

Dependendo do contexto, ressalta-se que e referem-se a integracao na variaveis x e y respectivamente, denotando-se x ou (y), por exemplo.
Demonstracao:
De acordo com o lema 5.2.3, dada f Lp ( , Z), existem funcoes simples
fk =

m
X

XCi i , Ci C, (Ai ) < , i Z

i=1

(com m, Ai e i dependendo de k) que convergem a f no espaco Lp ( , Z). Pela definicao da


algebra C, tais funcoes podem ser representadas como
fk =

n
X

XAi Bj ij , Ai A, Bj B, ij Y.

i,j=1

onde tanto os Ai como os Bj sao disjuntos e possuem medida finita (compare com a representacao
usada nos teoremas anteriores). En- tao, para todo x X,
(Jfk )(x) = (fk )x =

n
X
i,j=1

XAi (x)XBj ij Lp (, Z)

6.2. O TEOREMA DE FUBINI

63

e
k(Jfk )(x)kpLp ()

k(fk )x kpLp ()

n
X

XAi (x)(Bi )kij kpZ .

i,j=1

Temos entao que Jfk Lp (, Lp (, Z)). De fato,


Z
kJfk kLp () =
k(Jfk )(x)kpLp () d
ZX
=
k(fk )x kpLp () d
X

n
X

(Ai )(Bi )kij kpZ

i,j=1

= kfk kpLp () .
Uma vez que Jfk Jfj = J(fk fj ) tambem e uma funcao simples, decorre da igualdade acima
que
kJfk Jfj kpLp () = kfk fj kpLp () 0
quando k, j . Isto mostra que (Jfk ) e uma sequencia de Cauchy no espaco completo
Lp (, Lp (, Z)). Logo
Jfk F Lp (, Lp (, Z)).
Passando a uma subsequencia, obtemos que
(Jfk )(x) = (fk )x F (x) qtp em x.
Por outro lado, como fk f em Lp ( , Z), passando a uma subsequencia temos que
fk (x, y) f (x, y) qtp em (x, y).
Decorre entao do lema 6.2.5 que, para quase todo x fixo,
fk (x, y) = (fk )x (y) (f )x (y) = f (x, y) qtp em y.
Conclumos, portanto, que
F (x) = fx qtp em x,
o que significa que
F = Jf.
Decorre entao do anteriormente mostrado que
kJf kLp () = kf kLp () ,
o que completa a prova de que Jf esta bem definida e e isometrica (e portanto injetiva). Conclumos,
portanto, que a imagem de J e um conjunto fechado (justifique!). Para mostrarmos que J e sobre,
basta mostrar, portanto, que a imagem de J e densa em Lp (, Lp (, Z)). Para isto considere um

CAPITULO 6. O TEOREMA DE FUBINI

64

elemento em h Lp (, Lp (, Z)). De novo pelo lema 5.2.3, h pode ser aproximado por combinacao
linear de funcoes simples:
k
X
XAi gi ,
i=1
p

onde cada elemento gi L (, Z) (isto e apenas a definicao de funcao simples !). Por outro lado,
como gi Lp (, Z), cada gi pode ser aproximada por funcoes
m
X

XBi j .

k=1

Assim, funcoes
n
X

XAi XBj ij

i,j=1

aproximam h. Mas estas funcoes estao na imagem de J, o que completa a prova da primeira
afirmacao.
Falta provar a igualdade (6.1) no caso p = 1. Para isto usaremos o lema 6.2.6. Para isto, notamos
que a integral relativa a e uma tranformacao linear contnua I de L1 (, Z) em Z. Assim, tomando
fk f em L1 ( , Z) temos, como vimos acima, Jfk Jf em L1 (, L1 (, Z)); por outro lado,
decorre do lema 6.2.6 que I Jf L1 (, Z). Assim,


Z Z
Z Z
(Jf )d d
(Jf )d d =
Y
X
X
Y

Z Z

(Jfk )d d
Y
X

Z Z
=
(Jfk )d d
X
Y
Z
=
fk d( )
XY
Z

f d( ).
XY

As afirmacoes a respeito de J sao inteiramente analogas.

6.3

Exerccios

1. Mostre o lema 6.1.1. Mostre que qualquer elemento em A pode ser expresso como uma uniao
disjunta de retangulos.
2. Sejam M e N -algebras geradas pelas algebras A e B, res- pectivamente. Mostre que a
-algebra gerada por A B coincide com a -algebra M N .

Captulo 7
Algumas Aplica
co
es
7.1

Func
oes definidas por integrais

Teorema 7.1.1 Seja f : IR IR integravel em cada subintervalo compacto I e


Z s
f (t)dt.
F (s) :=
a

Entao F e contnua em cada ponto de I e satisfaz F 0 (s) = f (s) em cada ponto s onde f e contnua.
Demonstracao:
Seja Xs a funcao caracterstica do intervalo [a, s]. Se sk b > a, entao Xsk (t) Xb (t) t [a, b).
Pelo teorema da convergencia dominada (|Xsk | 1 L(a, b)), temos
Z
Z
F (sk ) =
f Xsk dt
f Xb dt = F (b),
IR

IR

o que prova que F e contnua. Seja s0 um ponto de continuidade de f . Entao, dado  > 0
|f (x) f (s0 )|  se |x s0 | .
Portanto
f (s0 )  f (x) f (s0 ) + .
Como a integral e monotona, obtemos
Z s0 +h
(f (s0 ) )|h|
f (t)dt (f (s0 ) + )|h|, h (s0 , s0 + ).
s0

Isto mostra que


Z
1

|h|

s0 +h

s0





F (s0 + h) F (s0 )



f (t)dt =

|h|

f (s0 ) + ||.
O afirmado decorre.
2
n
Consideraremos, de agora em diante, que U IR seja um aberto e Y um espaco de Banach com
norma | |.
65


CAPITULO 7. ALGUMAS APLICAC
OES

66

Teorema 7.1.2 Sejam (X, M, ) um espaco de medida. Seja f : X U Y uma aplicacao


satisfazendo as seguintes propriedades:
(i) Para cada t U fixo, a aplicacao
x 7 f (x, t)
e mensuravel.
(ii) Existe uma aplicacao f1 L1 (, Y ) tal que, para todo t U ,
|f (x, t)| |f1 (x)|.
(iii) Para quase todo x X fixo temos, para todo t0 U ,
lim f (x, t) = f (x, t0 );

tt0

Ent
ao a funcao
Z
f (x, t)d(x)

F (t) :=
X

e contnua.
Demonstracao:
Decorre das hipoteses (i) e (ii) que a aplicacao f (x, t) pode ser integrada com relacao `a variavel x
(criterio da majoracao).
Assim, basta mostrar que, para toda sequencia (tk ) convergindo para t, temos
Z
Z
f (x, tk )d(x)
f (x, t)d(x).
X

Defina fk (x) := f (x, tk ). Entao, de acordo com a hipotese (iii) acima, (fk ) converge qtp para a
aplicacao
x 7 f (x, t).
Decorre de (iii) e do teorema da convergencia dominada que
Z
Z
F (tk ) =
f (x, tk )d(x)
f (x, t)d(x) = F (t).
X

2
Lema 7.1.3 Suponha que g : X U Y seja contnua em U para quase todo x X fixo e
mensur
avel em X para quase todo t U . Entao g e mensuravel em X para todo t U . Alem
disto, g e mensuravel em X U .
Demonstracao:
Seja N o conjunto de medida nula tal que
g(x, t)


7.1. FUNC
OES
DEFINIDAS POR INTEGRAIS

67

seja contnua em t para todo x X N . Para cada t0 U , escolha entao tk t0 de forma


que g(x, tk ) seja mensuravel. Assim, para x X N , temos g(x, tk ) g(x, t0 ). Conclumos que
g(x, t0 ) e mensuravel, como limite de funcoes mensuraveis.
Mostraremos agora que g e mensuravel em X U , quando U for limitado. Para isto, cubra U com
m retangulos Rim , todos de mesma medida. Em cada Rim U , escolha um ponto tm
i e defina
m
gm (x, t) = g(x, tm
i ), t Ri .

Temos entao que cada gm e mensuravel em X U e, se x X N ,


lim

minf ty

gm (x, t) = g(x, t).

Isto mostra que g(x, t) e mensuravel em X U , quando U for limitado.


Dado U qualquer, cubra U por uma sequencia crescente de compactos (Kj ) e aplique o resultado
anterior ao aberto U Kj . O resultado decorre.
2
Teorema 7.1.4 Sejam U IRn aberto e f : X U Y . Suponha que
(i) Para quase todo t U , f (x, t) e integravel em X;
(ii) Para quase todo x X, f (x, t) e de classe C 1 em U
(iii) Se t = (t1 , . . . , tn ) U , entao existem gj L1 (, Y ) tais que


f (x, t)


tj |gj (x)|, t U, qtp em x.
Entao

Z
f (x, t)d(x)

F (t) :=
X

e de classe C 1 em U e

F (t)
=
tj

Z
X

f (x, t)
d(x).
t

Demonstracao:
Seja N o conjunto de medida nula tal que f (x, t) e de classe C 1 em U se x X N . Suponha que
hk 0 e defina
f (x, t + hk ej ) f (x, t)
gjk (x, t) :=
.
hk
Decorre do lema 7.1.3 que gjk e mensuravel em X para todo t U .
Alem disto,
Z
f (x, t + hk ej ) f (x, t)
F (t + hk ej ) F (t)
=
d(x).
hk
hk
X
Aplicando o teorema do valor medio, a condicao (iii) e o teorema da convergencia dominada,
conclumos que
Z
F (t)
f (x, t)
=
d(x).
tj
t
X
Que as derivadas parciais sao contnuas e consequencia imediata do Teorema 7.1.2.


CAPITULO 7. ALGUMAS APLICAC
OES

68

7.2

Convoluc
ao

Defini
c
ao 7.2.1 Convoluc
ao
n
p
1
Sejam f L (IR ) e g L (IRn ). Definimos a convolucao de f com g, denotada f g, por
Z
(f g)(x) :=
f (y)g(x y)dy.
IRn

f
E
acil notar que
Z
(f g)(x) =

f (x y)g(y)dy = (g f )(x).
IRn

Observacao: A funcao y 7 f (xy), para x fixo, e mensuravel em y. De fato, definindo g(y) := xy


e F (y) := (f g)(y), queremos mostrar que F 1 (A) e mensuravel, para todo aberto A IR. Como
F 1 (A) = g 1 [f 1 (A)] e E := f 1 (A) e mensuravel (pois f e mensuravel), basta mostrar que
g 1 (E) e mensuravel para todo conjunto mensuravel E. Mas
x y E y (E) + x.
Como (E) + x e uma translacao do conjunto mensuravel E, ele tambem e mensuravel. Isto
completa a demonstracao.
Teorema 7.2.2 Sejam f Lp (IRn ) e g L1 (IRn ), com 1 p . Entao (f g)(t) esta definido
para quase todo t e
kf gkLp kf kLp kgkL1 .
Demonstracao:
Suponhamos que p = . Temos:
Z
|f (y)| |g(x y)|dy
Z
kf kL
|g(x y)|dy

|(f g)(y)|

IRn

IRn

= kf kL kgkL1 ,
em que usamos o fato da medida de Lebesgue ser translacao invariante.
Suponhamos agora p = 1. Entao, integrando a funcao
|f (y)||g(x y)|
primeiro com relacao a variavel x e depois com relacao a y e aplicando a recprocado teorema de
Fubini, obtemos
k(f g)kL1 = kgkL1 kf kL1 .
Consideremos agora 1 < p < . Seja p o expoente conjugado a p, isto e, (1/p) + (1/p ) = 1.
Suponhamos inicialmente que existam as integrais envolvidas:
p
Z
Z Z


p

dx
|f g| dt =
f
(y)g(x

y)dy
(7.1)
n

n
n
IR
IR
IR
p
Z Z


1/p
1/p

|g(x y)| |g(x y)| |f (y)|dy dx



IRn

IRn


7.2. CONVOLUC
AO

69

Uma vez que |g(x y)|1/p |f (y)| Lp (IRn ) e |g(x y)|1/p Lp (IRn ), decorre da desigualdade de
Holder que
Z

|g(x y)|1/p |g(x y)|1/p |f (y)|dy


IRn

Z

1/p

1/p Z

|f (y)| |g(x y)|dy

|g(x y)|dy

IRn
1/p
kgkL1

IRn
1/p

Z

|f (y)|p |g(x y)|dy

IRn

Assim1 ,
Z

|f g| dt
IRn

p/p
kgkL1

p/p
kf kL1

|f (y)|p |g(y x)|dydx



Z
p
|f (y)|
|g(y x)|dx dy

IRn

IRn

IRn

1+(p/p )

= kgkL1

IRn

kf kpLp .

Como 1 + (p/p ) = p, o resultado segue elevando a desigualdade acima a 1/p. Note agora que a
existencia das integrais esta assegurada ao considerarmos a sequencia de desigualdades acima no
sentido contrario.
2
Teorema 7.2.3 Sejam f L1 (IRn ) e C0 (IRn ). Entao f C (IRn ) e as derivadas parciais
de f sao calculadas derivando-se o integrando
Demonstracao:
Ja vimos que podemos fazer a convolucao de f e :
Z
(f )(x) =
f (y)(x y)dy.
X

A aplicacao do Teorema 7.1.4 prova o afirmado.


2
1

Neste ponto podemos obter uma desigualdade mais precisa. Obtemos,


Z
Z Z
p/p
|f g|p dx kgkL1
|f (y)|p |g(y x)|dydx
n
n
n
IR
ZIR ZIR
p/p
kkL1
|g(x)| |f (y + x)|p dydx
IRn

IRn

e portanto
Z
IRn

p/p+1

|f g|p dx kgkL1

Z
sup
xsuppg

IRn

|f (y + x)|p dy = kgkpL1

sup kf ( + x)kpLp ,

(7.2)

xsuppg

desde que a u
ltima express
ao a direita faca sentido. Esta estimativa tambem pode ser obtida se p = 1 ou p = .


CAPITULO 7. ALGUMAS APLICAC
OES

70

7.3

Sequ
encias de Dirac

Defini
c
ao 7.3.1 Seja : IRn IR uma funcao contnua de suporte compacto2 tal que
Z
0 e

= 1.
IRn

Ent
ao  (x) := n (x/) chama-se sequencia de Dirac de . Note que  Lp (IRn ) para todo
p [1, ] e todo  > 0.
Observacao: A rigor,  nao e uma sequencia. Considere  = 1/j com j .
Lema 7.3.2 Para todo  > 0, temos
Z
 (x) 0,

Z
 dx 0,

 dx = 1,
IRn

IRn B (0)

para todo > 0.


Demonstracao:
As duas primeiras afirmacoes sao claras. Quanto a` u
ltima, podemos supor que supp Bm (0)
para m IN suficientemente grande. Note entao que
x/ Bm (0) x Bm (0),
donde segue o resultado.
2
Observacao: Muitas vezes as propriedades citadas acima sao usadas para se definir uma sequencia
de Dirac.
Exemplo 7.3.3 Defina

(x) :=

k exp(1/(1 |x|2 )) se |x| < 1


0
se |x| 1,

onde k e escolhido de modo que IRn dx = 1. Note que C (IRn ) e supp = B1 (0).
Teorema 7.3.4 Seja 1 p < . Suponha que f Lp (IRn ) e que  seja uma sequencia de Dirac.
Ent
ao
f  f em Lp (IRn ) quando  0.
2

O suporte de , denotado supp e definido por


supp := {x IRn ; (x) 6= 0}.


7.3. SEQUENCIAS
DE DIRAC

71

Demonstracao3 :
Temos, considerando p o expoente conjugado a p,
|(f  )(x) f (x)| =
Z

Z



=
f (y) (x y)dy f (x)
 (x y)dy
n
n
ZIR
IR


=
 (x y)[f (y) f (x)]dy
n
Z IR

| (y)|1/p | (y)|1/p [f (x y) f (x)]dy


IRn

Aplicando a desigualdade de Holder, elevando ambos os lados a p e integrando, obtemos, como na


demonstracao do Teorema 7.2.2,
Z
|(f  ) f |p dx
IRn

p/p
k kL1

IRn

|f (x y) f (x)|p | (y)|dydx.

IRn

Uma vez que k kL1 = 1, aplicando o teorema de Fubini, obtemos


Z
p
k(f  ) f kLp
| (y)|(y)dy,
IRn

em que (y) := IRn |f (x y) f (x)|p dx = kf ( y) f ()kpLp . Para > 0 escreva


Z
Z
| (y)|(y)dy +
| (y)|(y)dy =
I :=
|y|<
IRn
Z
+
| (y)|(y)dy
|y|

=: A + B
Dado > 0, escolha, de acordo com o Teorema 5.3.3 tao pequeno que (y) < se |y| < . Entao
Z
A
| |dy ,
|y|<
3

Utilizando a estimativa (7.2), podemos obter uma demonstracao simples deste resultado: Defina  := XB (0) 
e  := XIRn \B (0) . Aplique a estimativa e obtenha
Z

Z

kf  f kLp
 sup kf ( + h) f kLp +
 sup kf ( + h) f kLp
IRn

|h|

IRn

|h|

A primeira integral e menor ou igual a 1, enquanto o primeiro sup tende a zero quando 0, de acordo com
o Teorema 5.3.3. O segundo sup e cotado, de acordo com a desigualdade de Minkowski, por 2kf kLp , enquanto a
integral restante tende a zero quando  0 para todo , de acordo com a definicao de sequencia de Dirac.


CAPITULO 7. ALGUMAS APLICAC
OES

72

para todo . De acordo com a desigualdade de Minkowski, temos


sup |(y)| (2kf kLp )p ,

yIRn

de forma que B e menor que uma constante multiplicada por |y| | |dy, que, por sua vez, tende
a zero quando  0. Isto mostra que I 0 quando  0, donde decorre o teorema.
2
Teorema 7.3.5 Para 1 p < temos que C0 (IRn ) e denso em Lp (IRn )
Demonstracao:
Dado > 0, escreva f Lp (IRn ) como4 f = g + h, onde g tem suporte compacto e khkLp < .
Considere uma sequencia de Dirac ( ) C0 (IRn ) e defina g := g  . Entao g C0 (IRn ) (note
que suppg B (suppg)!) e kg g kLp 0 quando  0. De acordo com a desigualdade de
Minkowski,
kf g kLp kg g kLp + khkLp .
Tomando  de forma que kg g kLp < , obtemos
kf g kLp < 2,
provando o afirmado.
2

7.4

Partico
es da unidade

Defini
c
ao 7.4.1 Seja IRn um aberto e (Ui ) uma cobertura de por conjuntos abertos Ui .
Uma cobertura de e localmente finita se todo ponto x possui uma vizinhanca B (x) tal que
{i IN ; Ui B (x)} e um conjunto finito.
Exemplo 7.4.2 Seja IRn um aberto, nao necessariamente limitado. Consideraremos alguns
modos de obter uma cobertura localmente finita de .
(i) Defina
Ui := {x ; 2i1 < dist(x, ) < 2i+1 }, i ZZ.
Entao os conjuntos Ui formam uma cobertura localmente finita de . Tambem os conjuntos
!
[
Vi := (Ui B2i+1 (0))
Ui [B2i+1 (0) B2i1 (0)]
j<i

formam uma cobertura localmente finita de , com a propriedade adicional de serem os Vi limitados,
satisfazendo Vi .
(ii) Defina
Ui := {x ; dist(x, ) > /2i } Bi (0),
4

R
Como IRn |f | < , defina g = XBr (0) f e h = f g. Tomando r suficientemente grande, obtemos h com a
propriedade desejada.


7.4. PARTIC
OES
DA UNIDADE

73

em que as constantes e sao escolhidas de modo que U1 6= . Note que cada Ui e um aberto
limitado, Ui Ui+1 , mas a cobertura Ui nao e localmente finita. Entretanto, definindo
V2 :=
U2
V3 := U3 \ U1
..
..
..
.
.
.
Vj := Uj \ Uj2 ,
obtemos

Vj

j=2

atraves de uma cobertura localmente finita. Cada ponto x tem uma vizinhanca que intercepta
no maximo dois elementos desta cobertura.
Definic
ao 7.4.3 Seja U uma colecao de conjuntos abertos no IRn cuja uniao e IRn . Dizemos que
V e um refinamento de U se para cada V V podemos encontrar U U tal que V U .
Teorema 7.4.4 Seja U uma cobertura aberta de IRn . Entao existe um refinamento (Vj ) de U que
e localmente finito5 e enumeravel. Alem disto, Vj e compacto para todo j.
Demonstracao:
Seja Bn := Bn (0). Cobrimos IRn pelos aneis compactos
B 1 , B 2 \ B1 , . . . , B n+1 \ Bn , . . . .
Para cada x B1 , como U cobre IRn , temos x Ux para algum Ux U. Como Ux e aberto,
podemos escolher 0 < r < 1/2 tal que Vx := Br (x) satisfaz
V x Ux .
Os conjuntos Vx assim definidos formam uma cobertura aberta do conjunto compacto B 1 , da qual
extramos a subcobertura finita V1 , . . . , Vm . Consideramos agora o anel B 2 \ B1 . Analogamente,
para cada x B 2 \ B1 , escolhemos uma bola Wx := Br (x) com 0 < r < 1/2 tal que W x Ux U.
Como B 2 \ B1 e compacto podemos escolher uma subcobertura finita W1 , . . . , Ws . Desprezando
os elementos desta subcobertura que porventura forem iguais a um dos V1 , . . . , Vm ja escolhidos e
renominando os restantes, obtemos uma cobertura {V1 , . . . , Vm , Vm+1 , . . . , Vp } de B 2 . Continuando
desta maneira, obtemos uma cobertura (Vj ), aberta e enumeravel, do IRn . Da forma que os conjuntos Vj foram escolhidos, vemos que eles formam um refinamento de U. Alem disto, como r < 1/2,
vemos que cada V j e compacto.
Falta apenas mostrar que (Vj ) e localmente finita. Dado x B n \ Bn1 , considere a bola B1/4 (x).
Uma vez que escolhemos Vj com r < 1/2, vemos que apenas os Vj que cobrem B n \ Bn1 e aqueles
que cobrem os aneis vizinhos B n+1 \ Bn e B n1 \ Bn2 podem intersectar a bola B1/4 (x). Assim,
pela construcao que fizemos, apenas um n
umero finito de Vj pode intersectar B1/4 (x).
5
Este resultado estabelece, em particular, que IRn e paracompacto, isto e, que toda cobertura aberta possui um
refinamento localmente finito.


CAPITULO 7. ALGUMAS APLICAC
OES

74

2
Observacao: O resultado acima pode ser generalizado para variedades localmente compactas que
satisfazem o segundo axioma de enumerabilidade. Uma demonstracao deste resultado pode ser
encontrada em Warner, F.W.: Foundations of differentiable manifolds and Lie groups, Springer,
19??, p. 9.
Corol
ario 7.4.5 Seja IRn um conjunto aberto e U uma cobertura aberta de . Entao vale o
mesmo resultado do Teorema 7.4.4.
Demonstracao:
Basta adicionar um conjunto aberto, por exemplo U0 := IRn , para obter uma cobertura aberta do
IRn e entao aplicar o Teorema 7.4.4. Note que o refinamento e composto de bolas Brj (xj ).
2
Teorema 7.4.6 Seja U uma colecao de conjuntos abertos no IRn cuja uniao e . Entao existe
ao da unidade localmente finita suuma sequencia {i } Co () que constitui uma partic
bordinada `
a cobertura U, isto e,
(i) i Co (U ) para algum U U;
P
(ii) i 0 e
i=1 i (x) = 1 para todo x ;
(iii) Para todo compacto K existe um inteiro m e um conjunto aberto W K tal que
1 (x) + 2 (x) + . . . + m (x) = 1
para todo x W .
Demonstracao:
De acordo com o Corolario 7.4.5, existe um refinamento Uj enumeravel e localmente finito da
cobertura U, em que Uj = Brj (xj ). Dada uma sequencia de Dirac associada a Co (B1 (0)),
definimos


x xj
j (x) :=
.
rj
Ent
um n
umero finito de termos da seria
P ao supp j B rj (xj ) e, para cada x e > 0, apenas
P
j (x) e nao nulo em B (x). Isto mostra que (x) = j (x) C (). Defina entao
j :=

j (x)
.
(x)

Observe que, dado um compacto K , apenas um n


umero finito de j intersecta K. Isto completa
a demonstracao.
2
Corol
ario 7.4.7 Seja F IRn um subconjunto fechado e G A um conjunto aberto. Entao existe

C (IRn ) tal que


(i) 0 (x) 1 para todo x IRn ;


7.4. PARTIC
OES
DA UNIDADE

75

(ii) (x) = 1 para x F ;


(iii) supp G.
Demonstracao:
Consideramos a cobertura {G, F c } do IRn e j a particao da unidade subordinada a esta cobertura.
Quer dizer, supp j G ou supp j F c . Definimos como a soma de todos os j cujo suporte
esta contido em G. Quer dizer, definindo M := {j IN ; supp j G}, temos
X
(x) =
j (x).
jM

Claramente temos (i). Temos tambem


supp =

supp j =

supp j G.

jM

jM

Note que a segunda igualdade e valida para famlias localmente finitas.


Finalmente, para x F temos
X
X
X
X
0
0
1=
j (x) =
j (x) +
j (x) = (x) +
j (x),
jIN

jM

P0

c
em que
j (x) denota a soma dos j cujos suportes
P0estao em F , mas nao em G (observe que os
suportes so podem estar nestes conjuntos). Temos
j (x) = 0 se x F , o que mostra (ii).
2

Em algumas situacoes devemos nos ater a uma dada cobertura de um aberto , nao sendo possvel
passar a um refinamento. Para obtermos uma particao da unidade subordinada a esta cobertura,
a situacao que passaremos a descrever.
e necessario que esta cobertura seja localmente finita. E
Definic
ao 7.4.8 Uma particao da unidade do aberto IRn estritamente subordinada a uma
cobertura aberta localmente finita (Ui ) e uma colecao de funcoes j Co (Uj ) tal que
X
j 0
e
j (x) = 1 x
jIN

(a soma e feita sobre todos os ndices i, mas para um dado ponto x A apenas um n
umero finito
de termos e nao nulo).
Teorema 7.4.9 Seja (Uj ) uma cobertura aberta localmente finita de . Suponhamos que os abertos
Uj sejam limitados e Uj . Entao existe uma particao da unidade estritamente subordinada a
(Uj ).
Demonstracao:
Afirmamos inicialmente que escolher indutivamente conjuntos abertos Vi , com Vi Ui tais que
!
m1

[
[

Vi
Ui .
i=1

i=m


CAPITULO 7. ALGUMAS APLICAC
OES

76

De fato, supondo escolhidos os conjuntos Vi para i < m, entao


!
m1

[
[
Um
Vi
Ui ,
m+1

i=1

donde conclumos que os conjuntos acima cobrem o compacto Um . Decorre da que, para algum
r > 0, tais conjuntos cobrem tambem o conjunto Br (Um ) (justifique!)
Defina entao
Vm := Um Br/2 (Um ).
Temos entao que

Vi .

i=1

De fato, se x 6 i<m Vi , temos que x pertence apenas a um n


umero finito de conjuntos Ui . Se i0 e
o maior destes ndices, x ii0 Vi .
Escolhemos agora subconjuntos Ei com Vi Ei Ui e definimos
i := dist(Ei , Vi (IRn Ui )) > 0.
Seja ( ) uma sequencia de Dirac associada a C0 (B1 (0)). Defina i := XEi i . Entao
i C0 (Ui ) e XVi i 1. Assim,

X
i=1

XVi X .

i=1

Note que no primeiro somatorio apenas um n


umero finito de termos e nao nulo, pois a cobertura
Ui e localmente finita. Defina
i
i := P .
i i
2
FALTA COLOCAR AQUI O LEMA 2.11 DO ALT!!!!!!

7.5

Exerccios

1. Prove o teorema de Weierstra: toda funcao contnua definida num intervalo fechado [a, b] pode
ser uniformemente aproximada por um polinomio. Para isto, suponha que o intervalo [a, b] seja
o intervalo [0, 1]. Mostre que o resultado acima estara demonstrado, se ele for provado para o
intervalo [0, 1]. Seja L a reta unindo f (0) a f (1). Mostre que f L se anula em 0 e 1. Isto mostra
que podemos assumir f (0) = f (1) = 0. Estenda entao f definindo f (x) = 0 se x 6 [0, 1]. Defina
entao as funcoes de Landau,
1
k = (1 x2 )k ,
ck
onde ck e escolhido de modo que k seja uma sequencia de Dirac. Mostre que a sequencia k f e
uma sequencia de polinomios que converge uniformemente a f em [0, 1].
2. Dada uma famlia localmente finita (C )A de subconjuntos de um espaco X, mostre que, para
todo compacto K X, existe um conjunto finito A0 = {1 , . . . , r } A tal que K C 6=
implica A0 .

Captulo 8
O Teorema de Mudan
ca de Vari
aveis
Consideraremos, em todo o captulo, que e a medida de Lebesgue no IRn . Denotaremos L() o
conjunto das funcoes integraveis f : IK. Que dizer, consideramos a -algebra induzida em
pela -algebra de Lebesgue M: seus elementos sao intersecoes dos elementos de M com o conjunto
; da mesma forma para a medida.
Notamos que, quando IK = C,
l entao f = f1 + if2 , com fi : IR (i = 1, 2). Assim,
Z
Z
Z
f d =
f1 d + i f2 d.

Propriedades `a respeito de f podem ser provadas analisando-se f1 e f2 , sempre levando em conta


o criterio da majoracao.

8.1

Imagens de conjuntos mensur


aveis

Lema 8.1.1 Seja N um conjunto de medida nula no IRn e f : N IRn uma funcao de Lipschitzcontnua. Entao f (N ) tem medida nula.
Demonstracao:
Seja C a constante de Lipschitz de f . Considere uma sequencia (Rj ) de cubos cobrindo N tal que

(Rj ) < 

j=1

(justifique !). Seja rj o comprimento do lado de Rj . Vemos entao que f (N Rj ) esta contido num
cubo Rj0 cujo lado possui comprimento menor ou igual a 2Crj (justifique !). Assim, temos que
(Rj0 ) 2n C n rjn = (2C)n (Rj ),
2

donde decorre o afirmado.

Lema 8.1.2 Seja IRn um aberto e f : IRn uma aplicacao de classe C 1 . Suponha que
N tenha medida nula em . Entao f (N ) tem medida nula.
77


CAPITULO 8. O TEOREMA DE MUDANC
A DE VARIAVEIS

78

Demonstracao:
Para cada x existem retangulo fechados Rx contido em tais que a famlia (int(Rx )) cubra N .
Como e separavel, tal cobertura possui uma subcobertura enumeravel (Rj ) (justifique !). Basta
entao mostrar que, para todo j, f (N Rj ) tem medida nula. Como f 0 e limitada no compacto
Rj , decorre da desigualdade do valor medio que f e Lipschitz-contnua quando restrita a Rj . O
resultado decorre entao do lema 8.1.1.
2
Lema 8.1.3 Seja A IRm . Seja f : A IRn Lipschitz-contnua, com m < n. Entao f (A) tem
medida nula.
Demonstracao:
A imersao IRm IRn faz com que IRm tenha medida nula no IRn . Em particular, A tem medida
n-dimensional nula. O resultado entao segue do lema 8.1.1.
2
Observacao: O resultado anterior e falso se supusermos f apenas contnua. Justifique !

8.2

Blocos e Transformac
oes Lineares

Defini
c
ao 8.2.1 Bloco
Sejam v1 , . . . , vn vetores no IRn . Definimos o bloco B gerado por estes vetores como sendo o conjunto
B := {t1 v1 + t2 v2 + . . . + tn vn ; 0 ti 1}.
Dizemos que o bloco B e degenerado se os vetores v1 , . . . , vn forem linearmente dependentes.
Observacao: Uma vez que o contexto em que estamos e completamente geometrico, falaremos do
volume do bloco B ao inves de referirmos `a medida do bloco B. Note que um bloco e sempre
mensuravel.
Defini
c
ao 8.2.2 Volume Orientado
Considere o bloco B gerado pelo vetores v1 , . . . , vn . Definimos
V ol(v1 , . . . , vn ) := (B),
isto e, o volume do bloco B. Definimos o volume orientado
V o (v1 , . . . , vn ) := V ol(v1 , . . . , vn ),
onde o sinal e positivo se tivermos det(v1 , . . . , vn ) > 0 e negativo caso contrario (o determinante
se refere `a matriz que tem os vetores v1 , . . . , vn como vetores coluna).
Teorema 8.2.3 Vale
V olo (v1 , . . . , vn ) = det(v1 , . . . , vn )
e
V ol(v1 , . . . , vn ) = | det(v1 , . . . , vn )|.


8.2. BLOCOS E TRANSFORMAC
OES
LINEARES

79

Demonstracao:
Notamos inicialmente que basta considerarmos o caso de blocos nao degenerados. De fato, se
v1 , . . . , vn forem linearmente dependentes, decorre do lema 8.1.3 que (B) = 0 (justifique!); como
det(v1 , . . . , vn ) = 0, o resultado se verifica.
Provaremos o resultado mostrando que V ol(v1 , . . . , vn ) satisfaz as propriedades do determinante..
1a. Parte: Para todo v IRn ,
V olo (v, v2 , . . . , vn ) = det(kv, v2 , . . . , vn ).
Consideremos inicialmente k IN . Temos que a igualdade
[
B(kv, . . . , vn ) = B((k 1)v, . . . , vn ) (B(v, . . . , vn ) + (k 1)v1 )
e verdeira, exceto por um conjunto de medida nula, qual seja, o bloco (n1)-dimensional B(v2 , . . . , vn ).
Logo
V ol(kv, . . . , vn ) = V ol((k 1)v, . . . , vn ) + V ol(v, v2 , . . . , vn )
= k V ol(v, . . . , vn ),
onde a u
ltima igualdade e obtida indutivamente.
Tomando v = u/k na igualdade acima, obtemos
1
v
V ol( , . . . , vn ) = V ol(v, . . . , vn ).
k
k

(8.1)

Conclumos entao que a identidade (8.1) e valida para qualquer racional positivo. Dado um real
positivo s, tome racionais positivos r, r0 tais que r s r0 . Assim,
B(rv, . . . , vn ) B(sv, . . . , vn ) B(r0 v, . . . , vn ),
donde
rV ol(v, . . . , vn ) V ol(sv, . . . , vn ) r0 V ol(v, . . . , vn ).
Tomando o limite quando r, r0 s, conclumos que a igualdade (8.1) vale para qualquer real
positivo k. Para k = 0 ela e trivialmente valida. Finalmente, como
B(v, . . . , vn ) = B(v, . . . , vn ) v
(justifique!), vemos que (8.1) e valida para qualquer k real.
2a. parte:
V olo (. . . , vi1 , kv, vi+1 , . . .) = k V olo (. . . , vi1 , v, vi+1 , . . .).
Decorre imediatamente de repetir o argumento da 1a. parte para as outras variaveis.
3a. parte: V ol0 (v1 + cv2 , v2 , . . . , vn ) = V ol(v1 , v2 , . . . , vn ).
Se c = 0 o resultado e obvio. Consideremos entao o caso c = 1. Notamos que a situacao que
estamos lidando e puramente bi-dimensional, uma vez que os vetores (v3 , . . . , vn ) sao comuns aos
dois blocos. O bloco gerado por v1 , v2 consiste de dois triangulos, T (formado pelo vetor v1 e pelo
vetor soma v1 +v2 ) e T 0 (formado pelo vetor v2 e pelo vetor soma v1 +v2 ), tendo apenas um conjunto

80

CAPITULO 8. O TEOREMA DE MUDANC


A DE VARIAVEIS

de medida zero em comum (a diagonal dos triangulos). O bloco gerado por v1 + v2 , v2 consiste do
triangulo T 0 e do triangulo T + v2 , que e uma translacao do triangulo T . Isto mostra que estes dois
blocos tem o mesmo volume. Portanto
V olo (v1 + v2 , v2 , . . . , vn ) = V olo (v1 , v2 , . . . , vn ).
Consideremos agora c 6= 0 arbitrario. Entao temos, usando o mos- trado na 2a. parte:
cV olo (v1 + cv2 , v2 , . . . , vn ) = V olo (v1 + cv2 , cv2 , . . . , vn )
= V olo (v1 , cv2 , . . . , vn )
= cV olo (v1 , v2 , . . . , vn ).
Cancelando-se c obtemos o afirmado.
4a. parte: V olo (v1 + cvj , . . . , vj , . . . , vn ) = V olo (v1 , . . . , vj , . . . , vn ).
Basta repetir o argumento utilizado na 3a. parte.
5a. parte:
V olo (v + w, v2 , . . . , vn ) = V olo (v, v2 , . . . , vn ) +
+V olo (w, v2 , . . . , vn ).
Temos que
V olo (c1 v1 + . . . + cn vn , v2 , . . . , vn ) = . . .
= V olo (c1 v1 , v2 , . . . , vn )
= c1 V olo (v1 , v2 , . . . , vn ).
Do resultado acima decorre imediatamente o afirmado.
6a. parte: Resulta do anteriormente mostrado que V olo (v1 , . . . , vn ) e linear em cada variavel. Da
definicao da medida de Lebesgue de um retangulo temos que
V olo (e1 , . . . , en ) = 1,
onde e1 , . . . , en e a base canonica do IRn . Uma vez que
V olo (v1 , v2 , . . . , vn ) = 0
se os vetores v1 , . . . , vn forem linearmente dependentes, vemos que
V olo (v1 , v2 , . . . , vn )
e alternado. Isto mostra que V olo (v1 , v2 , . . . , vn ) satisfaz todas as propriedades satisfeitas por
det(v1 , v2 , . . . , vn ). Da unicidade da funcao determinante segue que o lema esta demonstrado.
2
Corol
ario 8.2.4 Seja C IRn o cubo unitario gerado pela base canonica do IRn . Seja T : IRn
IRn uma aplicacao linear. Entao
V ol T (C) = | det(T )|.


8.3. O TEOREMA DE MUDANC
A DE VARIAVEIS

81

Demonstracao:
Definindo vi := T (ei ), vemos que T (C) e o bloco gerado por v1 , . . ., vn . Representando T por sua
matriz (aij ), vemos que
vi = a1i e1 + . . . + ani en ,
2

donde det(v1 , . . . , vn ) = det(aij ) = det(T ).

Corol
ario 8.2.5 Se R for um retangulo qualquer no IRn e T : IRn IRn uma transformac
ao
linear, entao
V ol T (R) = | det(T )| V ol(R).
Demonstracao:
Uma vez que a medida de Lebesgue e invariante por translacoes, podemos assumir que o retangulo
e um bloco (justifique!). Se C for o cubo unitario, podemos supor que R = T1 (C), donde T (R) =
(T T1 )(C). Decorre entao do corolario 8.2.4 que
V ol T (R) = | det(T T1 )| = | det(T ) det(T1 )| = | det(T )| V ol(R).
2

8.3

O teorema de mudan
ca de vari
aveis

Consideraremos agora uma aplicacao f : U IRn IRn de classe C 1 , definida no aberto U .


Usaremos a aproximacao de f por sua derivada (uma transformacao linear !) para generalizarmos
o corola- rio 8.2.5. Para isto, definimos
Definic
ao 8.3.1 Determinante Jacobiano
Sejam U um aberto e f : U IRn IRn diferenciavel. Definimos o determinante jacobiano de f
por
f (x) := det Jf (x) = det f 0 (x),
onde Jf (x) denota a matriz jacobiana de f .
Lema 8.3.2 Sejam U um aberto e f : U IRn IRn de classe C 1 . Suponha que f (0) = 0 e
f 0 (0) = I, onde I denota a transformacao identidade. Tome r > 0 tal que Br (0) U . Suponha
que exista 0 < s < 1 tal que
|f 0 (x) f 0 (z)| s
para todo x, z Br (0). Se y IRn satisfaz
|y| (1 s)r,
entao existe um u
nico x Br (0) tal que
f (x) = y.

82

CAPITULO 8. O TEOREMA DE MUDANC


A DE VARIAVEIS

Demonstracao:
Para |y| < (1 s)r defina gy : Br (0) IRn por
gy (x) := x f (x) + y.
Temos que
|f (x) x| = |f (x) f (0) f 0 (0)x|
|x| sup |f 0 (z) f 0 (0)|
rs.
Decorre da que
|gy (x)| |f (x) x| + |y| rs + (1 s)r = r,
donde gy : Br (0) Br (0). Afirmamos que gy e uma contracao. De fato, decorre do teorema do
valor medio que
|gy (x1 ) gy (x2 )| = |x1 x2 (f (x1 ) f (x2 ))|
= |x1 x2 f 0 (0)(x1 x2 ) + (x1 , x2 )|
= |(x1 , x2 )|,
onde
(x1 , x2 ) |x1 x2 | sup |f 0 (z) f 0 (0)| s|x1 x2 |.
Pelo lema da contracao, gy tem um u
nico ponto fixo x Br (0), que satisfaz
f (x) = y.
2
Teorema 8.3.3 Sejam R U um retangulo e U um aberto em IRn . Seja f : U IRn um
difeomorfismo de classe C 1 . Entao
Z
(f (R)) =
|f |d.
R

Observacao: Notamos que, se f for linear, o resultado acima nada mais e do que o corolario 8.2.5.
Demonstracao:
Sem perda de generalidade, podemos considerar que o retangulo R e um cubo. Para isto, basta
alterar as normas em cada um dos lados do retangulo (multiplicando por uma constante positiva),
de forma que todos os lados tenham entao o mesmo comprimento.
Dado  > 0, divida cada lado de R em m segmentos iguais. Isto faz com que R seja subdividido
em mm subcubos, denotados Cj (j = 1, . . . , mm ). Denotaremos cj o centro do cubo Cj . Uma vez
que as imagens f (Cj ) tem no maximo um conjunto de medida nula em comum, temos
m

V ol f (R) =

m
X
j=1

V ol f (Cj ).


8.3. O TEOREMA DE MUDANC
A DE VARIAVEIS

83

Uma vez que f 0 e uniformemente contnua em R, dado  > 0, podemos escolher m suficientemente
grande, de forma que, denotando Tj = f 0 (cj ), se tenha
f (x) = f (cj ) + Tj (x cj ) + rj (x cj ),
com
|rj (x cj )| |x cj |.
Assim, para calcularmos V ol (Cj ), basta nos concentrarmos no caso em que C e um cubo de centro
na origem e f tem a forma
f (x) = T x + r(x),
|r(x)| |x|
para x C (justifique!).
Logo
(T 1 f )(x) = x + (T 1 r)(x),

(8.2)

e veremos a aplicacao (T 1 f ) como uma perturbacao da identidade. Temos, para alguma constante
K e x C,
|(T 1 r)(x)| K
(justifique!). Decorre do lema 8.3.1 que T 1 f (C) contem um cubo de raio
(1 C),
onde e o raio do cubo C. Por outro lado, decorre de (8.2) que T 1 f (C) esta contido num cubo
de raio (1 + K). Aplicando T a estes cubos e determinando o volume, achamos
| det(T )|V ol (C) K1 V ol (C)
V ol f (C) | det(T )|V ol (C) + K1 V ol (C).
O resultado segue ao aplicarmos a estimativa acima a cada um dos cubos Cj : T sera a transformacao
f 0 (cj ); somando sobre todos os valores de j e estimando |f |, obtemos o resultado.
2
Corol
ario 8.3.4 Se f : U IRn IRn for um difeomorfismo de classe C 1 e R U um ret
angulo,
entao
Z
Z
gd = (g f )|f |d
f (R)

para toda funcao g : IR C,


l contnua em f (R).
Demonstracao:
As funcoes g e (g f )|f | sao uniformemente contnuas em f (R) e R, respectivamente. Considere
uma particao de R atraves de subretangulos Rj . Temos
Z
XZ
=
gd.
f (R)

f (Rj )

Seja o maior dos comprimentos dos lados de Rj , para todo j. Entao existe uma constante C tal
que f (Rj ) esta contido num retangulo cujos lados tem comprimento menor ou igual a C.


CAPITULO 8. O TEOREMA DE MUDANC
A DE VARIAVEIS

84

Dado  > 0, suponhamos g : IRn IR. Tomando a particao de modo que seja suficientemente
pequeno, podemos considerar que
Mj mj < , onde Mj = sup g, mj = inf g.
f (Rj )

f (Rj )

Aplicando o teorema 8.3.3 com g suposta constante igual a mj e Mj :


Z
mj (f (Rj ))
gd Mj (f (Rj ));
f (Rj )

Z
|f |d

mj
Rj

Z
(g f )|f |d Mj

Rj

|f |d;
Rj

Z
|f |d.

(f (Rj )) =
Rj

O resultado decorre. Para g : IRn C,


l g = g1 + ig2 , analise g1 e g2 como acima.

Teorema 8.3.5 Mudanca de Vari


aveis
Seja f : U IRn IRn um difeomorfismo de classe C 1 definido no aberto U . Seja g L1 (f (U )).
Ent
ao (g f )|f | L1 (U ) e
Z
Z
gd = (g f )|f |d.
f (U )

Demonstracao:
Seja R um retangulo fechado contido em U . Mostraremos inicialmente que a restricao de (g f )|f |
a R esta em L1 (R) e que a formula e valida com U substituido por R.
Considere uma sequencia gk C00 (f (U )) tal que gk g em L1 (f (U )) (justifique!). Passando a
uma subsequencia, podemos supor que gk g para todo y f (U ) Z, onde Z e um conjunto de
medida nula. Pelo lema 8.1.2, f 1 (Z) tem medida nula.
Defina gk := (gk f )|f |. Cada gk e uma funcao contnua em R e gk (g f )|f | qtp em R
(justifique!). Afirmamos que gk e uma sequencia de Cauchy em L1 (R). De fato, decorre do corolario
8.3.4 que
Z
Z
|
gk gj |d =
|gk gj |d,
R

f (R)

donde segue o afirmado.


Mas entao temos que gk (g f )|f | em L1 (R) (justifique!) e
Z
Z
gd = (g f )|f |d
f (E)

quando E = R. Decorre da expressao acima que o teorema e valido para qualquer subconjunto
mensuravel E R (note que f (E) e mensuravel!).
Considere agora uma sequencia de retangulos Rm U tal que Rm = U (justifique a existencia de
tal sequencia!). Definindo En := Rn (R1 . . . Rn1 ) obtemos uma sequencia de subconjuntos
disjuntos En , tais que o teorema vale quando aplicado a cada En . Defina entao
n := (hn f )|f |.
hn := XEn g e h

8.4. EXERCICIOS

85

O teorema decorre entao do teorema da convergencia dominada (mais precisamente, do exerccio 9


do captulo 4).
2
Observacao: Nao e difcil adaptar a demonstracao do resultado acima, de modo a podermos considerar aplicacoes g : IRn Y , onde Y e um espaco de Banach.
Algumas vezes encontramo-nos em uma situacao em que a funcao f acima nao e invertvel em
um conjunto de medida nula; por exemplo, quando lidamos com coordenadas polares. O proximo
resultado mostra que isto nao constitui dificuldade.
Corol
ario 8.3.6 Sejam U um aberto e f : U IRn IRn de classe C 1 . Seja E U um conjunto
mensuravel tal que:
(i) E tem medida nula em IRn ;
(ii) f e um difeomorfismo quando restrito ao interior de E.
Dada g L1 (f (E)), entao (g f )|f | L1 (E) e
Z
Z
gd = (g f )|f |d.
f (E)

Demonstracao:
Seja E0 = int(E). Os conjuntos f (E) e f (E0 ) diferem apenas por um conjunto de medida nula:
f (E). Como E0 e E diferem tambem apenas por um conjunto de medida nula, basta entao aplicar
o teorema de mudanca de variaveis aos conjuntos f (E0 ) e E0 .
2

8.4

Exerccios

1. Mostre que a imagem de um conjunto mensuravel por uma funcao Lipschitz-contnua e mensuravel. Em particular, a imagem de conjuntos mensuraveis por uma transformacao linear e sempre
mensuravel.
2. Mostre a unicidade da funcao determinante, isto e, que existe apenas uma aplicacao n-linear det :
IRn IR alternada tal que det(e1 , . . . , en ) = 1. Sugestao: Dados vetores v1 , . . . , vn , escreva-os como
combinacao linear dos vetores da base canonica e utilize as propriedades da funcao determinante.

86

CAPITULO 8. O TEOREMA DE MUDANC


A DE VARIAVEIS

Captulo 9
Integra
c
ao e Diferencia
c
ao
Em todo este captulo denotaremos L([a, b]) as funcoes f : [a, b] IR que sao Lebesgue integraveis.

9.1

Derivadas de Fun
co
es Mon
otonas

Definic
ao 9.1.1 Cobertura de Vitali
Uma colecao de intervalos V e uma cobertura de Vitali de A IR se, para todo  > 0 e todo x X
existe um intervalo I V tal que x I e (I) < .
Teorema 9.1.2 Seja A IR um subconjunto tal que (A) < . Dado  > 0, toda cobertura de
Vitali V de A possui uma colecao de intervalos {Ii ; i = 1, 2, . . . , n}, dois a dois disjuntos, tais que
!
[
A \
nIi < .
i=1

Demonstracao:
1a. parte: Sem perda de generalidade, podemos supor que todos os intervalos I V sao fechados,
uma vez que
!
!
n
n
[
[
Ii .
A \
Ii = A \
i=1

i=1

Uma vez que (A) < , podemos tambem supor que existe um aberto U , com (U ) < tal que
I U para todo I V. Note que, ao fazermos esta hipotese, pode ser necessario passar a uma
subcobertura de V.
2a. parte: Escolheremos uma colecao Ii V, de intervalos com medida nao-crescente. Escolha
I1 V tal que
1
(I1 ) > sup{(I); I V}.
2
Indutivamante, construmos uma sequencia de intervalos, com
(Ij+1 ) (Ij ),
ao escolhermos Ij+1 satisfazendo: se A ji=1 , escolhemos apenas os conjuntos I1 , . . . , Ij ; caso
contrario, defina
rj := sup{(I); I V, I Ii = , i = 1, . . . , j}.
87

E DIFERENCIAC

CAPITULO 9. INTEGRAC
AO
AO

88

Temos que rj (U ) < . Por outro lado, rj > 0, pois V e uma cobertura de Vitali e ji=1 Ii nao
cobre A. Pela definicao de sup, podemos escolher Ij+1 V com (Ij+1 ) > rj /2 e Ij+1 Ii = para
i = 1, . . . , j. Reordenando a cadaP
passagem, obtemos uma sequencia nao-crescente.
Afirmamos que existe1 n tal que
ario, obteramos uma contradicao
i=n+1 (Ii ) < /5. Caso contr
com (U ) < , uma vez que a colecao escolhida e constituda de intervalos disjuntos.
3a. parte: Com n escolhido acima, a colecao I1 , . . . , In e a colecao procurada. De fato, se y
(A \ ni=1 Ii ), podemos escolher Iy V tal que
Iy Ii = , i + 1, . . . , j.
Tal fato e consequencia de ni=1 Ii ser um conjunto fechado e da definicao de A. Por outro lado,
existe Ik pertencente a colecao In+1 , In+2 , . . . tal que Iy Ik 6= . De fato, temos
(Iy ) rj < 2(Ij+1 ),
de acordo com a definicao de rj e ao metodo de construcao de {I1 , . . . , In , . . .}. Uma vez que
(Ij ) 0 quando j , devemos ter Iy Ik 6= para algum k.
Seja k = k(y) o menor inteiro k > n tal que Ik Iy 6= . Seja xk o centro do intervalo Ik . Afirmamos
que
5
(9.1)
|y xk | (Ik ).
2
De fato, temos
1
5
|y xk | < (Iy ) + (Ik ) (Ik ).
2
2
Para cada i, seja Ji o intervalo fechado de centro em xi e comprimento 5(Ii ). De acordo com a
desigualdade (9.1), temos y Ji . Uma vez que k = k(y) > n e y A \ ni=1 Ii , temos
A\

n
[
i=1

e
(

Ji )

i=n+1

Ii

n
[

Ji

i=1

Ji 5

i=n+1

(Ji ) < .

i=n+1

Isto completa a demonstracao.


2
Defini
c
ao 9.1.3 Derivadas de Dini
Seja f : IR IR. Definimos as derivadas de Dini de f por
f (x + h) f (x)
h
h0+
f (x + h) f (x)
D+ f (x) = lim inf
+
h0
h
f (x + h) f (x)
f (x) f (x h)
D f (x) = lim sup
= lim sup
h
h
h0+
h0
f (x + h) f (x)
f (x) f (x h)
D f (x) = lim inf
= lim inf

+
h0
h0
h
h
D+ f (x) = lim sup

Caso a colec
ao de intervalos construda acima seja infinita.

9.1. DERIVADAS DE FUNC


OES
MONOTONAS

89

Estes n
umeros sempre existem e claramente temos
(i) D+ f (x) D+ f (x), D f (x) D f (x);
(ii) f 0 (x) se, e somente se, todas as derivadas de Dini forem finitas e iguais em x.
Teorema 9.1.4 Seja f uma funcao crescente2 no intervalo [a, b]. Entao f e diferenci
avel qtp. A
0
derivada f e mensuravel e
Z b
f (x)dx f (b) f (a).
a

Demonstracao:
Vamos mostrar que qualquer conjunto onde duas das derivadas de Dini sao desiguais tem medida
nula. Exemplificaremos escolhendo o conjunto
E := {x [a, b]; D f (x) < D+ f (x)}.
1a. parte: Claramente podemos escrever E como a uniao de todos os conjuntos
Eq,r := {x [a, b]; D f (x) < q < r < D+ f (x)},
em que q, r Q.
l Assim, basta mostrarmos que s := (Eq,r ) = 0 para quaisquer q, r como acima.
Vamos supor s > 0 e mostrar entao que, para todo  > 0, temos
q(s + ) > r(s 2),
donde podemos conclur q r, uma contradicao.
Para isto, vamos construr uma cobertura de Vitali V de Eq,r . Considere um aberto U contendo
Eq,r tal que (U ) < s + . Para cada x Eq,r , escolha h > 0 tal que
[x h, x] U

f (x) f (x h) < qh.

Note que e possvel satisfazer a primeira relacao porque U e aberto, enquanto a segunda decorre da
definicao de D f (x). Seja V a colecao de todos os intervalos [x h, x] com x Eq,r e h escolhido
como acima. Claramente V e uma cobertura de Vitali de Eq,r . De acordo com o Teorema 9.1.2,
podemos escolher uma colecao de intervalos {Ii := [xi hi , xi ] V; i = 1, 2, . . . , n}, dois a dois
disjuntos, tais que
!
n
[

Ii < .
(9.2)
Eq,r \
i=1

2a. parte: Defina


B := Eq,r

n
[

!
Ii

i=1

Entao
Eq,r \

n
[

!
Ii

B = Eq,r

i=1
2

Func
ao crescente significa x y f (x) f (y). Note que toda funcao crescente e mensuravel.

E DIFERENCIAC

CAPITULO 9. INTEGRAC
AO
AO

90

e portanto, de acordo com a equacao (9.2),


(Eq,r ) <  + (B).
Vamos agora obter uma cobertura de Vitali U de B em termos de I1 , . . . , In .
Para cada y B, existe j {1, . . . , n} tal que y Ij

9.2

Func
oes de Variac
ao Limitada

Defini
c
ao 9.2.1 Aplicaco
es de Variac
ao Limitada
Seja f : IR E uma aplicacao tomando valores no espaco de Banach (E, | |). A aplicacao f e de
variac
ao limitada no intervalo [a, b], denotado f BV [a, b] se
V (f, [a, b]) := sup VP f := sup
P

n1
X

|f (xk+1 ) f (xk )| < ,

i=0

onde o sup e tomado sobre todas as particoes do intervalo [a, b].


f
E
acil ver que o conjunto BV [a, b] forma um espaco vetorial. Alem disto, se f, g BV [a, b] e
C,
l entao
V (f + g, [a, b]) V (f, [a, b]) + V (g, [a, b])
e
V (f, [a, b]) = ||V (f, [a, b]).
Assim, BV [a, b] e um espaco vetorial que possui a semi-norma
V (, [a, b])
Exemplo 9.2.2 Seja f : IR IR uma funcao limitada e crescente no intervalo [a,b]. Entao
V (f, [a, b]) = f (b) f (a) e, portanto, f BV [a, b]. Se f for diferenciavel no intervalo [a, b] e
possuir derivada f 0 limitada, entao f BV [a, b], em virtude do Teorema do Valor Medio. Em
particular, este e o caso se f C 1 ([a, b]).
Defini
c
ao 9.2.3 Func
ao Variac
ao
Seja f BV [a, b]. Para todo x [a, b] defina a funcao variacao de f por
V f (x) := V (f, [a, x]).
Lema 9.2.4
(i) A funcao V f (x) e crescente;
(ii) Se a x y b, entao
V (f, [a, y]) = V (f, [a, x]) + V (f, [x, y]).


LIMITADA
9.2. FUNC
OES
DE VARIAC
AO

91

(iii) Seja f : IR IR uma funcao da forma


f = g h,
em que g, h sao funcoes crescentes. Entao f BV [a, b] para todo intervalo [a, b] e
V (f, [a, b]) g(b) g(a) + h(b) h(a).
(iv) Se f : IR IR BV [a, b], entao existem funcoes crescentes g, h : [a, b] IR tais que
g(a) = 0 = h(a) e
f (x) = f (a) + [g(x) h(x)]
e
V f (x) = g(x) + h(x).
Demonstracao:
(i) e (ii) Notamos que se x < y, sempre podemos refinar uma particao de [a, y] de forma a incluir
x. (ii) decorre imediatamente deste fato, enquanto (i) segue se, alem disto, notarmos que se P 0 e
um refinamento de P , entao VP f VP 0 f . Da decorre (i).
(iii) Considere uma particao P = {a = x0 < x1 < . . . < xn = b} do intervalo [a, b]. Entao
n
X

|f (xi ) f (xi1 )| =

i=1

n
X
i=1
n
X
i=1

|g(xi ) g(xi1 ) h(xi ) + h(xi1 )|


|g(xi ) g(xi1 )| +

n
X

|h(xi ) + h(xi1 )|

i=1

= g(xn ) g(x0 ) + h(xn ) h(x0 )


= g(b) g(a) + h(b) h(a).
(iv) Defina g, h pelas formulas
2g = V f + f f (a)

2h = V f f + f (a).

Claramente g(a) = 0 = h(a) e as expressoes para f e V f decorrem imediatamente das definicoes


de g e h. Resta provar que estas funcoes sao crescentes. Sejam x, y [a, b] com x y. Entao, de
acordo com (ii),
2g(y) 2g(x) = V (f, [a, y]) + f (y) f (a)
[V (f, [a, x]) + f (x) f (a)]
= V (f, [x, y]) + f (y) f (x) 0,
pois, obviamente, V (f, [x, y]) |f (y) f (x)|. Analogamente para h.
2
Corol
ario 9.2.5 Se f for de variacao limitada no intervalo [a, b], entao f 0 existe qtp em [a, b] e e
mensuravel neste intervalo.
Demonstracao:
Decorre imediatamente da aplicacao do Teorema 9.1.4 ao item (iv) do Lema 9.2.4.
2

E DIFERENCIAC

CAPITULO 9. INTEGRAC
AO
AO

92

9.3

Derivac
ao de Integrais

Lema 9.3.1 Seja f : IR IR uma funcao em L([a, b]). Entao a funcao F definida por
Z x
F (x) =
f (t)dt
a

e uma funcao contnua de variacao limitada em [a, b].


Demonstracao:
Seja Xx a funcao caracterstica do intervalo [a, x]. Se xk a0 > a, entao Xxk (t) Xb (t) t [a, a0 ).
Pelo teorema da convergencia dominada (|Xxk | 1 L((a, a0 ), )), temos
Z
Z
f Xxk dt
f Xa0 dt = F (a0 ),
F (xk ) =
IR

IR

o que prova que F e contnua.


Para mostrar que F e de variacao limitada, seja {a = x0 < x1 < . . . < xk = b} uma particao do
intervalo [a, b]. Entao
k
X
i=1

k Z
X


|F (xi ) F (xi1 )| =

xi

xi1
i=1
Z
k
xi
X



f (t)dt

|f (t)|dt

i=1
Z b

xi1

|f (t)|dt < .

=
a

2
Lema 9.3.2 Se f L([a, b]) e
Z

f (t)dt = 0
a

para todo x [a, b], entao f (t) = 0 qtp em [a, b].


Demonstracao:
Defina
E := {x [a, b]; f 0}.
Entao E e mensuravel. Suponhamos que (E) > 0. Entao existe um conjunto fechado F E,
Rb
R
R
com (F ) > 0. Defina O = (a, b) F . Como 0 = a f = F f + O f , temos
Z
Z
f = f 6= 0.
O

Mas O pode ser escrito como uma uniao enumeravel de intervalos (an , bn ) disjuntos. Decorre da
que
Z
X Z bn
f=
f.
V

an

DE INTEGRAIS
9.3. DERIVAC
AO

93

Ra
Rb
Rb
Isto mostra que ann f 6= 0 para algum n. Mas isto implica que ou a n f 6= 0 ou a n f 6= 0, uma
contradicao. Similarmente analisamos o caso em que f < 0 num conjunto de medida positiva. O
lema decorre destes dois casos.
2
Lema 9.3.3 Seja f : IR IR limitada e mensuravel em [a, b]
Z x
F (x) :=
f (t)dt + F (a).
a

Entao F 0 (x) = f (x) qtp em [a, b].


Demonstracao:
Notamos imediatamente que f e integravel em [a, b]. De acordo com Lema 9.3.1, temos que F e de
variacao limitada em [a, b]. Assim F 0 (x) exite qtp em [a, b]. Suponhamos que |f | K. Defina
fn (x) :=

F (x + h) F (x)
,
h

em que h = 1/n. Entao


1
fn (x) =
h

x+h

f (t)dt,
x

donde |fn | K. Uma vez que fn (x) F 0 (x) qtp, decorre do Teorema da Convergencia Dominada
(note que K L([a, b])!) que
Z c
Z c
0
F (x)dx =
lim
fn (x)dx
ninf ty a
a
Z
1 c
= lim
[F (x + h) F (x)]dx
h0 h a

Z c+h
Z c
1
= lim
F (x)dx
F (x)dx
h0 h
a
a+h
 Z c+h

Z
1
1 a+h
= lim
F (x)dx
F (x)dx
h0 h c
h a
= F (c) F (a)
Z c
=
f (t)dt.
(9.3)
a

A pen
ultima igualdade decorre da continuidade de F e de que

Z c+h

Z c+h


1

F (c) 1


F =
[F (c) F ]

h c
h c

sup |F (c) F (x)|.


x[c,c+h]

De acordo com a equacao (9.3) temos entao


Z c
a

(F 0 f ) = 0

E DIFERENCIAC

CAPITULO 9. INTEGRAC
AO
AO

94

para todo c [a, b], donde, pelo Lema 9.3.2, temos


F 0 (x) = f (x) qtp em [a, b].
2
Consideramos agora o caso de uma funcao integravel nao necessariamente limitada.
Teorema 9.3.4 Seja f integravel em [a, b] e suponha que
Z

f (t)dt.

F (x) = F (a) +
a

Ent
ao F 0 (x) = f (x) para quase todo x [a, b].
Demonstracao:
Uma vez que f = f + f , notamos que o resultado estara provado se ele for mostrado para funcoes
nao negativas. Defina fn por fn (x) = f (x), se f (x) n e fn (x) = n, se f (x) > n. Entao f fn 0
e portanto
Z
x

(f fn )

Gn (x) :=
a

facil ver
e uma funcao crescente. De acordo com o Teorema 9.1.4, Gn (x) possui derivada qtp. E
que esta derivada tem que ser nao negativa. Assim,
Z x
d
0
0
F (x) = Gn (x) +
fn
dx a
fn (x) qtp,
de acordo com Lema 9.3.3. Como n e arbitrario, temos entao
F 0 (x) f (x) qtp.
Portanto
b

F (x)dx

f (x)dx = F (b) F (a).

De acordo com o Teorema 9.1.4, temos


Z

F (x)dx = F (b) F (a) =


a

f (x)dx,
a

donde
Z

(F 0 f ) = 0.

Como F 0 (x) f (x) 0, isto implica F 0 (x) f (x) = 0 qtp e o resultado segue.
2


9.4. FUNC
OES
ABSOLUTAMENTE CONTINUAS

9.4

95

Func
oes Absolutamente Contnuas

Definic
ao 9.4.1 Func
oes Absolutamente Contnuas
Uma funcao f : IR IR e absolutamente contnua em um intervalo limitado [a, b] se, para todo
 > 0 dado, existir > 0 tal que
n
X
|f (si ) f (ti )| 
i=1

para qualquer colecao de intervalos (t1 , s1 ), . . . , (tn , sn ) dois a dois disjuntos tais que
n
X

|si ti | < .

1=1

Em particular, toda funcao absolutamente contnua e contnua, pois podemos tomar apenas um
intervalo na soma acima.
Lema 9.4.2 Se f for absolutamente contnua em [a, b], entao f e de variacao limitada em [a, b].
Em particular, f possui derivada qtp em [a, b].
Demonstracao:
Dado  = 1 tome o correspondente na definicao de funcao absolutamente contnua. Entao
V (f, [a, b]) 1 +

ba
.

Lema 9.4.3 Seja f integravel em [a, b]. Entao


x

Z
F (x) = C +

f (t)dt
a

e absolutamente contnua.
Demonstracao:
Seja (a1 , b1 ), . . . , (an , bn ) uma colecao de subintervalos dois a dois disjuntos de [a, b]. Entao
n
X
i=1

n Z
X


|F (bi ) F (ai )| =

bi

ai
i=1
Z
n
X bi

Zi=1



f (t)dt

|f (t)|dt

ai

|f (t)|dt.

=
n
i=1 (ai ,bi )

O resultado decorre entao do Teorema 4.5.2.


2

E DIFERENCIAC

CAPITULO 9. INTEGRAC
AO
AO

96

Lema 9.4.4 Seja f : IR IR uma funcao absolutamente contnua em [a, b] tal que f 0 = 0 qtp em
(a, b). Entao f e constante3 .
Demonstracao:
Tome c (a, b]. Queremos provar que f (c) = f (a). Por hipotese, existe um subconjunto A [a, c]
tal que (A) = c a e f 0 = 0 em A. Tome x A. Entao
0 = f 0 (x) = lim

y0

f (y) f (x)
.
yx

Assim, dado  > 0, existe um intervalo [x, y] [a, c) tal que


|f (y) f (x)| <

(y x)
.
2(c a)

Note que a colecao de intervalos [x, y] assim definidos forma uma cobertura de Vitali do conjunto
A. Assim, de acordo com o Teorema 9.1, existe uma colecao de intervalos dois a dois disjuntos
{[xi , yi ]; xi A, i = 1, . . . , n}
tais que
A\

n
[

!
[xi , yi ]

< .

(9.4)

(yi xi )
.
2(c a)

(9.5)

i=1

Note que para a colecao continua valendo


|f (yi ) f (xi )| <

Podemos reordenar os intervalos [xi , yi ] de modo que xi < xi=1 para i = 1, . . . , n 1. Se definirmos
y0 := a e xn+1 = c, vemos que os intervalos [yi , xi+1 ] sao tais que
[a, c] =

n
[

[yi , xi+1 ]

i=0

n
[

[xi , yi ].

i=1

Em virtude de (9.4) temos entao que


n
X

xi+1 yi <

i=0

e, como f e absolutamente contnua,


n
X
i=0


|f (xj+1 ) f (yj )| < .
2

3
Este lema faz uma distinc
ao entre as func
oes absolutamente contnuas e as de variacao limitada. Todas as
funcoes da primeira classe pertencem `
a segunda, mas a recproca nao vale. Existem funcoes de variacao limitada
que n
ao s
ao constantes mas cuja derivada e qtp igual a zero. Veja Benedetto, J.J.: Real Variable and Integration,
Example 4.4, p.128 ou Titchmarsh, E. C.: The Theory of Functions, p. 366.

9.5. EXERCICIOS

97

Por outro lado, decorre de (9.5) que


n
X

|f (yj ) f (xj )| <

i=1

X

|yj xj |.
2(c a) i=1

Combinando estas duas u


ltimas desigualdades, obtemos
|f (c) f (a)| < ,
o que prova o afirmado, uma vez que  > 0 e arbitrario.
2
Definic
ao 9.4.5 Uma funcao f de variacao limitada no intervalo [a, b] e singular se f 0 = 0 qtp
em [a, b].
Teorema 9.4.6 Seja f absolutamente contnua no intervalo [a, b]. Entao, para todo x [a, b],
Z x
f 0 (t)dt.
f (x) = f (0) +
a

Teorema 9.4.7 Seja f uma funcao de variacao limitada no intervalo [a, b]. Entao, a menos de
constante, existe uma u
nica decomposicao
F (x) = G(x) + H(x),
em que G e uma funcao singular e H e absolutamente contnua.
Demonstracao:
Rx
Defina, para todo x [a, b], H(x) := a F 0 (t)dt. Entao H e absolutamente contnua. Defina entao
G(x) = F (x) H(x). Entao G0 (x) = 0 qtp em [a, b], o que mostra que H e singular. Suponhamos
agora que F (x) = G(x) + H(x) e F (x) = G1 (x) + H1 (x) sejam duas decomposicoes de F como no
enunciado deste teorema. Entao
G(x) G1 (x) = H1 (x) H(x).
Isto mostra que G(x) G1 (x) e absolutamente contnua. Mas G0 (x) G01 (x) = 0 qtp, donde, pelo
Teorema 9.4.4, temos G(x) = G1 (x) + C. O resultado segue.
2

9.5

Exerccios

1. Seja f integravel em [a, b]. Entao


Z
F (x) =

f (t)dt
a

e uniformemente contnua em [a, b].

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