Camillo Sitte e o Urbanismo Culturalista
Camillo Sitte e o Urbanismo Culturalista
Camillo Sitte e o Urbanismo Culturalista
Foi um arquiteto, direto da Escola Imperial e Real das Artes Industriais de Viena, os
seus conhecimentos da arqueologia medieval e renascentista inspiraram-lhe uma
teoria e um modelo de cidade ideal que ele desenvolveu na obra Construo das
Cidades Segundo seus Princpios Artsticos.
O estudo do Passado
Sitte trata a dimenso esttica das cidades como uma obra de arte, no se
preocupando somente com as necessidades funcionais. Seu ponto de partida a
praa, que liga as partes da cidadee faz com que as pessoas sintam essas partes ao
encontrar esse espao livre, proporcionando um espao para respirar.
Para embasar suas teorias sobre os direcionamentos urbansticos que estavam
sendo tomados, Sitte usa exemplos de centenas de praas em vrias localidades para
questionar as reformas que estavam ocorrendo na cidade de Viena.
Para ele os locais pblicos atualmente no servem nem para festas populares
nem para a vida de todos os dias, sua razo de existir consiste em proporcionar mais
ar e luz e romper a monotonia das casas. Na antiguidade as praas foram teatros de
importantes cenas da vida pblica, que hoje s acontecem em salas fechadas. As
praas passaram a servir no mximo como locais de estacionamento de veculos e
no seguem o estilo das construes ao seu redor, sendo ignorando sua verdadeira
funo artstica, de convvio e de relacionar-se com o espao e suas edificaes como
um conjunto nico. Em resumo, falta animao intensa nesses locais que contribua
para o esplendor que as praas antigas possuam.
Os antigos deixavam livre o centro de suas praas e osornamentos, como
fontes e esttuas, eram situados lateralmente, nas margens das ruas. No incio essas
localizaes dos monumentos causam estranheza, porm acaba-se percebendo o
efeito grandioso produzido pelo monumento naquele local e que se estivesse no
centro da praa ele causaria uma impresso bem menos relevante. Deve-se apenas
evitar erguer monumentos nos eixos de edifcios ou de portas muito decoradas, pois
acabaria ocultando obras arquitetnicas notveis.
Essa regra se aplica a qualquer espcie de construo, como igrejas, teatros e
palcios pblicos, que agora ocupam quase sem exceo o centro das praas, antes
nunca ficavam nesse lugar. Sitte diz que encostando um ou dois lados do edifcio em
outras construes a fachada principal poderia ser mais ornamentadas tornando-a
mais notvel.
Por estarem em locais mais fechados as praas antigas produzem um efeito de
conjunto harmonioso, pois eram cercadas de edifcios por todos os lados, tinha-se um
esforo para que no desembocasse mais de uma rua em cada esquina da praa. As
suas formas irregulares das praas so criadas de forma natural, os antigos no
concebiam seus planos em pranchas de desenhos, mas sim iam construindo e
percebiam o que surpreendia os olhos na realidade.
Com o desenvolvimento em que as cidades foram atingindo foi quebrando o
molde das antigas formas de arte, as fontes, esculturas e as praas foram deixando de
ter seu verdadeiro valor. Os terrenos so aproveitados o mximo possvel e assim as
construes aproximam-se sempre mais do cubo moderno. Na chamada Era da
Funcionalidade retirada de cena qualquer dimenso que no possua uma funo
prtica, o que implica em remover a expresso artstica dos ambientes. Foram
alcanados progressos grandiosos no campo da higiene porm Sitte questiona se para
obter a higiene seria necessrio eliminar toda a beleza das cidades.
A proposta da Cidade
Sitte concebia um desenho urbano mais naturalizado, menos abstrato emais
humano. Somente dessa maneira ainda seria possvel uma reconciliao com a arte.
Assim, as praas analisadas e concebidas por Sitte no podem ser espaos de
passagem. So locais para que se possa parar e contemplar, diversos da acelerada
cultura moderna. Elas devem operar em outro tempo, como lugares para demorar-se.
Para criar uma cidade com efeito artstico, Sitte considera trs condies
principais: livrar-se do sistema moderno dos conjuntos de casas regularmente
alinhadas; salvar, na medida do possvel, o que resta das cidades antigas; e aproximar
sempre mais nossas criaes atuais do ideal dos modelos antigos.
A praa seu ponto de partida para pensar a cidade e sua vivncia:
A cidade sittiana pautada por um modelo ideal, modesto, histrico,
nacional, moral e orgnico. Sitte sabe pouco da urbanstica como cincia
prtica e seu conhecimento da arquitetura elege espaos quase
autnomos, praas de pequena escala, assimtricas e pitorescas. Sua
cidade para ser percorrida a p, smbolo de uma cultura urbana
idealizada, imagem consolidada e esttica, combinao dos modelos e
monumentos da antiga Grcia, de Roma pr-imperial e das cidades-estado
do Renascimento italiano. (SALGUEIRO, 2004: 3)
A cidade, para Sitte, deveria ser concebida e encarada como um Grande
museu a cu aberto e as suas praas, como sales de exposio, espaos
representativos da arte e da cultura dos habitantes locais e formadores de cultura.
Assim, as praas tinham um papel no s artstico, mas formador para seus
frequentadores, uma percepo marcadamente positivista.
A cidade deveria manter lugares que fossem aconchegantes aos seus
cidados, cada cidade, por menor que for, deve possuir praas sempre com o centro
livre, que garante um efeito artstico favorvel. Em relao a forma das praas, estas
podem ser divididas em largura e profundidade, a partir do edifcio principal. As praas
de profundidade so vantajosas quando o edifcio tem o mesmo formato (longilneo) e
quando esto no fundo. As praas de largura so mais interessantes para edifcios
tambm mais dispersos e no to altos. As dimenses tambm so importantes na
conformao do conjunto, nem grandes nem pequenas, a boa proporo entre a
dimenso da praa e a dimenso dos edifcios de primeira importncia.
Outro aspecto que faz parte dos conceitos utilizados por Sitte a noo de
pitoresco, que refere-se a paisagem natural e representada distinto do sublime,
valoriza a assimetria, a irregularidade, a espontaneidade e a perspectiva.
necessrio existir um programa de execuo do plano de uma cidade, que
deve consistir em um plano de extenso com um clculo aproximado do crescimento
da populao durante os prximos 50 anos, para assim ser previsto onde sero
levantadas cada tipo de construo, como casas, comrcios, indstrias em cada bairro
projetado. Assim pode-se prever a quantidade de construo, dimenso e forma de
cada bairro.
Os prdios pblicos devem ter localizao mais conveniente e situar os jardins
pblicos (praas) em distncias iguais uns dos outros, afastados de ruas de grande
movimento e barulho, para ficarem livre da poeira. Esses espaos verdes devem ser
rodeados por todos os lados, com dois ou vrios portais de acesso, valorizando as
fachadas dos prdios ao seu redor.
Conservar as irregularidades existentes nos terrenos e caminhos outro ponto
defendido por Sitte, ele considera que ruas retas causam monotonia, no valoriza a
beleza e a espontaneidade e deixam a cidade fria e insensvel. A espacialidade
marcada pelas formas livres do tecido urbano com suas ruas e praas irregulares
segundo ele no deveria surgir na prancheta, mas in natura.
Assim, o traado da cidade para Sitte no deveria ser tratado apenas como
uma questo tcnica, mas prevendo a valorizao essencial dos aspectos estticos.
Para ele, o urbanismo era, acima de tudo, uma criao artstica, um todo orgnico,
uma obra de arte nas suas trs dimenses, assim como a arquitetura.