A Fortuna Crítica de Alberto Caeiro, José Blanco
A Fortuna Crítica de Alberto Caeiro, José Blanco
A Fortuna Crítica de Alberto Caeiro, José Blanco
Jos Blanco
1. Os pioneiros (1925-1946)
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Na parte final do seu histrico artigo, Pierre Hourcade no deixa de sublinhar que tanto o sauvage Campos como o humaniste Reis conservam la
mmoire et lempreinte dAlberto Caeiro, leur troublant pre dfunt.4
Nesse mesmo ano de 1930, Pierre Hourcade colaborava no Bulletin des
tudes Portugaises, do Instituto Francs em Portugal, com o artigo
Panorama du modernisme litraire au Portugal, que constituiu tambm
uma separata editada pela Imprensa da Universidade de Coimbra. Nesse
estudo fala de Alberto Caeiro, que, tal como lvaro de Campos, se souvient
peut-tre aussi des Feuilles dHerbe [de Walt Whitman], mais il a dpouill
dlibrment toute chaleur lyrique, martelant, en un retour incessant la
Pguy, la plus abstraite affirmation de solitude, le plus obstin dsir de ne
point humaniser lUnivers, de le dresser en face de la conscience comme une
muraille sans yeux et sans me. Laccent unique de la posie, philosophique
sans le vouloir, du Guardador de Rebanhos (Le Pasteur de troupeaux) atteint
un degr dintensit presque physique tout en dcrivant le drame de la conscience lucide qui se dvore elle-mme en refusant dtre dupe de la matire.5
Pierre Hourcade voltaria a referir-se a Alberto Caeiro no artigo que, em
Janeiro de 1933, publicou na revista Cahiers du Sud, sob o ttulo Littrature
Portugaise. Brve introduction Fernando Pessoa.6 A escreve que Caeiro
exactement lanti-symbolisme; cest lhomme contre lanthropomorphisme.
Toute la lucidit de la connaissance suse en lui dpouiller lunivers et le
vivant des prestiges de la mtaphore potique. Aucun panthisme abstrait,
aucun prjug philosophique nentre dans cette attitude. Qualificando a
obra de Caeiro como lamer breuvage que distille le berger sans troupeaux, Hourcade conclui que ramene sur le plan esthtique, cette tentative
est en somme un cong dfinitif signifi non sans rudesse toutes les gentillesses de lart symbolique et incantatoire. Tentative considrable, mais purement ngative.
Tal como Joo Gaspar Simes o havia feito, Manuel Anselmo reconhece
no seu Breve ensaio sobre a poesia portuguesa contempornea, datado de
Outubro de 1933 e includo na obra Solues Crticas editada pela
Universidade de Coimbra em 1934, o papel central do autor de O
Guardador de Rebanhos na potica de Fernando Pessoa. Manuel Anselmo
comea por opinar que o fundo lrico, tradicionalmente portugus, est
reduzido a um auxiliar da ambio dramtica de certos poetas contemporneos. Acima de tudo interessa-lhes a paisagem ntima, os seus gloriosos
monlogos de dvida e de renncia.
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Neste contexto, Fernando Pessoa, seguindo a bela esteira de Mrio de SCarneiro, seria um exemplo feliz se eu no conhecesse as suas diferentes personalidades poticas. Mas dentro de Fernando Pessoa, a-portas-a-dentro do seu
bratro trgico, o vulto donairoso de Alberto Caeiro promete-nos uma definio integral. Aos motivos genuinamente lricos so preferidos os gritos desiludidos de uma inteligncia assaltada de angstias.
Para Manuel Anselmo: Fernando Pessoa , acima de tudo, um conflito
entre Alberto Caeiro e as suas outras personalidades. Esse conflito tanto o pode
levar a um acto de irreflexo lrica (demonstra-o a formosa poesia O menino
da sua me), como o conduz a pginas cheias de complexidades e de torturas
nietszcheanas como as do Banqueiro Anarquista. Da no sabermos nunca
quando se evidencia em Fernando Pessoa o poeta, o artista, o filsofo, o cptico ou o desiludido. Portanto a sua poesia s pode interessar verdadeiramente os
poucos que pressintam em si afinidades com a angstia da sua inteligncia,
sempre fora das coisas e das emoes humanas.
O nome de Caeiro s volta a ser citado por ocasio da morte de Fernando
Pessoa. Joo Gaspar Simes, no seu artigo Fernando Pessoa, o poeta intemporal publicado no Suplemento Literrio do Dirio de Lisboa de 6 de Dezembro
de 1935,7 recordava que o poeta havia publicado em 1934 o pequeno livro de
poemas Mensagem. Pequeno livro, digo, (...) porque em face dos Poemas dos
Guardadores [sic] de Rebanhos, assinados por Alberto Caeiro e publicados na
revista Athena, esse volume , materialmente, pequenssimo (...).8
E, a terminar o seu texto, citava seis versos do famoso VIII Poema: Em
Portugal confunde-se humanidade com vulgaridade. Da a incompreenso que
sempre rodeou o poeta da Mensagem. Nele, talvez pela primeira vez em
Portugal, o nosso lirismo subiu de expresso primria a uma modalidade superior de expresso. O tempo dir se temos razo. E, entretanto, enquanto o tempo se no manifesta sobre um dos maiores escritores de Portugal, enquanto o
poeta Menino Jesus de todas as religiesFernando Pessoa acreditava racionalmente em todasa quem pedia:
Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criana, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
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entre Caeiro, criao de Pessoa, e M. Teste, criao de Valry : A atitude positiva de Alberto Caeiro perante a natureza e a sua recusa em aceitar toda a concepo do transcendente assemelha-se ao cepticismo de Teste perante os absolutos, sejam eles do gnio ou da natureza. E se nenhum deles tinha livros e
para qualquer deles a natureza era a natureza, uma flor uma flor, h em Caeiro
um pantesmo amvel que contrasta com a secura e um desencanto agrestes de Teste (178). Para Gaspar Simes, a diferena fundamental entre Valry
e Pessoa reside em que Teste resume todo Valry. Alberto Caeiro resume uma
parte de Pessoa. Enquanto aquele s acreditava na fora da vontade intelectual,
este confiava nas foras totais da personalidade (...) (179).
No mesmo volume, noutro ensaio intitulado Fernando Pessoa e a gnese dos seus heternimos,12 Joo Gaspar Simes conclui, a propsito do dia
triunfal, que, atribuindo um nome a esse momento potico traduzido pelos
trinta e tal poemas escritos num xtase, Pessoa consolidava ao mesmo tempo os direitos da sua inteligncia e a faculdade de poder aproveitar as fontes
de inspirao inesperadamente reveladas. Alberto Caeiro serviria de etiqueta.
Para Simes, eis aqui o pastiche, a mistificao, a explorao consciente das
essncias misteriosas da inspirao (188-189).
Em abono das suas consideraes, Gaspar Simes cita um indito de
Pessoa sobre a utilizao da sensibilidade pela inteligncia, no qual o Poeta,
tomando como tema uma averso ntima pelo verde, trata-o poeticamente
por trs processos, o terceiro dos quais o de Alberto Caeiro: dar a cada
emoo ou sensao um prolongamento metafsico ou racional.
Tardavam os primeiros juzos valorativos da potica de Alberto Caeiro. S
em 1939, trs anos depois do ensaio pioneiro de Guilherme de Castilho, o
ingls Charles-David Ley publicou na Seara Nova um artigo intitulado
Introduo aos Poemas de Fernando Pessoa, no qual ousava afirmar no s
que Pessoa exprimiu qualquer coisa de muito essencialmente novo no s
em Portugal como na Europa mas que Ele seguramente o poeta mais
actual e mais vivo da Europa contempornea.
No seu artigo, Ley aborda a questo da heteronmia, acerca da qual opina:
Pessoalmente, se certo que me interessa a novidade psicolgica do facto, no
julgo que possa concordar com os heternimos de Pessoa, considerados como
experincia potica. E criticando a obra do primeiro deles, Alberto Caeiro,
escreve que este constantemente sacrifica, por exemplo, os efeitos poticos ao
afirmar da sua filosofia pessoal, ou, por outras palavras, o autor considera o
poder dramtico por detrs dessa filosofia suficiente para justificar o descurar a
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Siglas utilizadas:
Actas I Actas do I Congresso Internacional de Estudos Pessoanos
Actas IV Actas do IV Congresso Internacional de Estudos Pessoanos
C.E.P.
Centro de Estudos Pessoanos
C.I.E.P. Congresso Internacional de Estudos Pessoanos
E.I.C.F.P. Encontro Internacional do Centenrio de Fernando Pessoa
J.U.C.F. Juventude Universitria Catlica Feminina
S.E.C.
Secretaria de Estado da Cultura
U.S.D.P. Um Sculo de Pessoa
AC1. Abelaira, Augusto. Sinceridade e falta de convices na obra de
Fernando Pessoa. Mundo Literrio 51 (26/4/1947).
Pessoa est ao abrigo daquilo a que Unamuno chamava a tirania das ideias:
tinha ideias, no era tido por elas. Mas como toda a regra tem excepo, casos h
em que Pessoa tido pelas ideiase isso na sua juventude e por sinal com aquele
que ser o maior dos poetas portugueses: Alberto Caeiro.
AC2. Almeida, Onsimo Teotnio. Sobre a mundividncia Zen de PessoaCaeiro (O interesse de Thomas Merton e D.T. Suzuki). Nova
Renascena VI, 22 (Primavera 1986): 146-152.
A partir das cartas de Thomas Merton, revela-se a origem do seu interesse
pela poesia de Alberto Caeiro, na qual encontrou uma forte influncia Zen.
Merton conheceu Pessoa pela traduo em castelhano de Octavio Paz e teve acesso obra pessoana em portugus atravs da Irm M. Emmanuel de Sousa e Silva,
uma religiosa brasileira que era sua tradutora no Brasil. Merton tambm se
correspondeu sobre a poesia de Caeiro com o Mestre Zen Daisetz Suzuki e com o
Prof. Hiromu Morishita.
AC3. Alvarenga, Fernando. Do Paulismo ao Interseccionismo: O encontro
com a arte da Europa. Actas IV, Vol. I. Porto: Fundao Eng.
Antnio de Almeida, 1990. 229-235. (Comun. ao IV C.I.E.P., Seco
Brasileira, So Paulo, 27-30 Abril 1988).
Tanto nos poemas de Alberto Caeiro como no poema ortnimo Chuva
Oblqua estabelecem-se participativamente duas correntes artsticas de cunho
europeu, cada qual com a sua plasticidade prpria: o Impressionismo e o
Futurismo, que assim fazem a sua entrada na arte literria portuguesa.
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Em termos de predominncia, na poesia de Alberto Caeiro a linguagem fazse em base metonmica, nela se inserindo algumas vezes a metfora. A potica
pessoana pode descrever-se como um losango, de que Caeiro o centro das
reaces opostas de Reis (tese) e de Campos (anttese) e Fernando Pessoa ele-mesmo a sntese.
AC9. Balso, Judith. Les pessoas-livros. La Politique des Potes. Paris: Albin
Michel, 1992. 161-214.
Alberto Caeiro interrompe, do interior da poesia, la vocation de celle-ci
lauroral de la Prsence, ou la nostalgie de son retrait. O conjunto de O
Guardador de Rebanhos determina a travessia do poeta que tem como objectivo
tre moi, non pas Alberto Caeiro, mais un animal humain que la Nature a produit. Alberto Caeiro est ainsi finalement le nom de celui qui sefforce de ntre pas
Alberto Caeiro. Conclui-se que il est dcisif quil y ait un tel pote; et non que
la posie soit cela. a dupla ruptura na prpria poesia, aparecida com Caeiro
e por ele realizada, que lhe assegura a posio de Mestre na constelao heteronmica.
AC10. Bandeira, Manuel. Os Vrios Fernando Pessoa. Andorinha, andorinha em Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Editora Nova
Aguilar, 1977. 691.
O Autor confessa que prefere a obra ortnima dos heternimos. Entre estes
destaca Alberto Caeiro, talvez porque nele se encontra muito de Fernando
Pessoa.
AC11. Barros, Helena. O Paganismo-Zen em Alberto Caeiro. Nova Renascena IV, 15 (Vero 1984): 256-268.
Falar de Zen e Paganismo em Alberto Caeiro demonstrar que a relao entre
ambos legtima e no um puro acaso. Depois de estudar o lugar que o Zen ocupa em
relao ao Budismo e ao Paganismo, estudam-se os aspectos Zen da poesia de Caeiro
que, como convm a um Mestre-Zen, fala com simplicidade e clareza, dando-nos a
entender que o Zen nasce onde morre o pensamento.
AC12. Beck, Andrs. Kltk, szavak, dolgok. let s Irodalom (1 Maio
1998).
Recenso crtica da nova edio da antologia Ez a rgi szorongs (Esta
velha angstia). O Autor analisa a poesia de Alberto Caeiro, cujo pensa-
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Casais Monteiro. A edio tica em 1946, que inicia a tradio editorial de O Guardador de Rebanhos e se tornou a sua vulgata, revela-se defeituosa em muitos aspectos, que o Autor, utilizando o critrio da ltima lio conhecida e no recusada pelo autor, corrige em mais de oitenta versos. Apresenta-se
no final o novo texto crtico.
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C.I.E.P., Seco Brasileira, So Paulo, 27-30 Abril 1988. Repr. no seu Editar
Pessoa. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1990. 111-116).
Aplicando o critrio segundo o qual pode atribuir-se mais autoridade a um
manuscrito desde que se prove que ele posterior, ou sofreu emendas posteriores,
do que a um impresso autoral, a edio crtica do poema XXX de O Guardador
de Rebanhos dever seguir a lio manuscrita de Fernando Pessoa e no a
impressa na Athena.
AC29. . Editar Pessoa. Edio crtica de Fernando Pessoa. Coleco
Estudos Vol. I. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1990.
(Inclui: Para uma edio de O Guardador de Rebanhos, O cor
pus de O Guardador de Rebanhos depositado na Biblioteca Nacional, O manuscrito de O Guardador de Rebanhos,
Apresentao da edio crtica do Guardador de Rebanhos e A
casa a meio do outeiro).
AC30. . Ivo Castro: sem comentrios. Pblico (8 Maro 1994).
A propsito das declaraes de Teresa Sobral Cunha sobre a edio crtica da
Equipa Pessoa (v. Sou pelo dia triunfal!), Ivo Castro declara : H bastante
tempo que deixei de fazer qualquer tipo de comentrios pblicos sobre declaraes
desta natureza de Teresa Sobral Cunha. Ivo Castro considera normal que duas
edies do mesmo texto tenham resultados diferentes se forem feitas com critrios
diferentes.
AC31. . O poema XXI de O Guardador de Rebanhos, de Alberto
Caeiro. Cleonice, clara em sua gerao. Rio de Janeiro: Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Editora UFRJ, 1995. 203-206.
Gnese do poema XXI de O Guardador de Rebanhos, verificandose que o
seu ltimo verso passou nas mos de Fernando Pessoa por cinco verses sucessivas,
das quais a edio tica publicou a terceira.
AC32. Cattaneo, Carlo Vittorio. Um poema blasfemo de Fernando Pessoa. ColquioLetras 50 (7/1979): 9-21. (Repr. in Modernismo e
Vanguarda. Cadernos da ColquioLetras, 2, Lisboa: Fundao Calouste Gulbenkian, 1984. 73-87).
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primeira vista, o to declaradamente blasfemo VIII Poema de O Guardador de Rebanhos pode parecer um jogo to gratuito quanto de mau gosto. Se, no
entanto, o compararmos com outras obras, tericas ou no, do Pessoa ortnimo e
dos heternimos, especialmente Antnio Mora, cujos textos se analisam, o aspecto
blasfemo assume funcionalidade, parecendo sobretudo motivado pelos pressupostos
tericos do Neopaganismo.
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AC33. Ceia, Carlos. No centro de Seja o que for que esteja no centro do
mundo de Alberto Caeiro. De punho cerrado. Lisboa: Edies Cosmos, 1997. 199-208.
O poema de Alberto Caeiro pretende demonstrar que falaciosa a percepo
interna ou conhecimento que o sujeito possui dos seus estados e dos seus actos atravs da conscincia: no podemos estabelecer uma analogia artificial entre o conhecimento da alma por si prpria e o que retm dos objectos materiais situados no
espao.
AC34. . Que metafsica tm aquelas rvores? Uma leitura do poema
V de O Guardador de Rebanhos de Alberto Caeiro. De punho cerrado. Lisboa: Edies Cosmos, 1997. 219-233.
Toda a poesia de Alberto Caeiro nega o estatuto de poetafilsofo que Fernando Pessoa fez corresponder ao seu mestre nos textos tericos que lhe consagrou: o
pensamento metafsico de Caeiro justificase pela entificao do ser e pela participao do Poeta como Outro no ser entificado.
AC35. Centeno, Yvette K. Fernando Pessoa: os Santos Populares e a Utopia
da Criana Eterna. Portugal. Mitos revisitados. Lisboa: Edies Salamandra, 1993. 253-285. (Repr. sob o ttulo Tradio Popular e Hermetismo in Fernando Pessoa, Os Santos Populares. Ilustraes de Almada Negreiros e Eduardo Viana. Lisboa: Casa Fernando Pessoa e
Edies Salamandra, 1994. 3-15).
Estudo dos poemas Santo Antnio, So Joo e So Pedro, escritos por Fernando Pessoa em 9 de Junho de 1935, que no so para ler e esquecer com ligeireza,
antes representam, cada um na sua esfera e sua maneira e num plano esotrico, o
triplo rosto de um universo coeso: o do entendimento da humana matria (figurado
em Santo Antnio), o da sublimao dessa mesma matria (figurado em So Joo) e
o da chave para todo o processo inicitico (figurado em So Pedro). Aproximando-
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ingnua, instintiva, gostosamente entregue infinita variedade das sensaes. Todavia, os seus poemas so abstractos, incolores, porque para ele o real a prpria
exterioridade, no devendo seremlhe acrescentadas as impresses subjectivas; a
posio de Caeiro, mais do que antimetafsica, contrria interpretao do
real pela inteligncia, pois essa interpretao reduz as coisas a simples conceitos
vazios.
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cetas de Pessoa, mas tambm devido clara preferncia que o criador dos heternimos sempre demonstrou pelo autor de O Guardador de Rebanhos.
AC44. . Alberto Caeiro, clau de lheteronmia pessoana. Fernando
Pessoa. Pomes dAlberto Caeiro. Barcelona: Edicions del Mall ,
1986. 9-22.
No h dvida que a poesia de Caeiro a mais original da produo lrica de
Fernando Pessoa e, para alm disso, uma das mais originais do nosso tempo. Por estar consciente disso, Fernando Pessoa converteu Caeiro, anos depois de ter escrito os
poemas que acabou por datar de 8 de Maro de 1914, no centro do drama em gente, ou seja, no anunciado SupraCames.
AC45. . Alberto Caeiro i la nova revelaci. Aspects actuels de lobra de
Fernando Pessoa. Barcelona: Fundaci Caixa de Pensions, 1988. 11-28.
(Trad. de Joaquim SalaSanahuja. Repr. em castelhano sob o ttulo Alberto Caeiro o la nueva revelacin, no seu Con Fernando Pessoa. Madrid: Huerga & Fierro, Col. La Rama Dorada, 1995. 111-134).
Investigase qual o sentido unitrio (se que existe) dos originais publicados em
vida por Fernando Pessoa, que relao tm esses textos com os inditos que deixou e
que papel desempenham neste conjunto de prosa e verso a figura e a obra de Alberto Caeiro, o criador mais original da lrica pessoana.
AC46. . El drama em gente. Plural como el universo. La gnesis de los
heternimos. El maestro Caeiro. La vida plural de Fernando Pessoa.
Barcelona: Seix Barral. 1988. 129-137. (Repr. em trad. portuguesa de
Jos Viale Moutinho no seu A vida plural de Fernando Pessoa. Lisboa:
Bertrand Editora. 1990; em trad. italiana de Brunello de Cusatis no seu
La vita plurale di Fernando Pessoa. Roma: Antonio Pellicano Editore.
1997; e em trad. alem de Frank HenseleitLucke no seu Fernando Pessoa. Das Vervielfltigte Leben. Eine Biographie. Zurique: Ammann Verlag. 1996).
A extrema lucidez de Fernando Pessoa permitiulhe comprender sin tardanza,
una vez que se le hubo revelado, que Caeiro haba echado, con su obra potica, los
cimientos de un nuevo paganismo cuyo espritu era anterior, por su simplicidad e
ingenuidad, al clasicismo grecorromano. A atitude de Caeiro analisada luz dos
textos que sobre ele escreveram lvaro de Campos, Ricardo Reis e Antnio Mora.
AC47. CuervoHewitt, Julia. Metafsica da negao: A negao da metafsica
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na poesia de Alberto Caeiro. Actas IV, Vol. I. Porto: Fundao Eng. Antnio de Almeida, 1990. 463-477. (Comun. ao IV C.I.E.P., Seco Brasileira, So Paulo, 27-30 Abril 1988).
De uma perspectiva crtica psmodernista, possvel ler hoje a obra de Alberto
Caeiro no s como a de um mestre, mas tambm como a de um profeta esttico. Dessa perspectiva, Caeiro um espao vazio, um centro sem centro na potica pessoana:
sombra e referente (ausente) para os outros heternimos.
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Este poema uma das poucas composies em que Alberto Caeiro foge dos problemas da Natureza, para se deter no complexo e insolvel problema do Ser: a discusso da importncia da existncia e da essncia humana.
AC52. Del Barco, Pablo. Introduccin. Fernando Pessoa. Poemas de Alberto
Caeiro. Madrid: Visor, 1980. 7-21.
Alberto Caeiro, o guardador de rebanhos que no pastor, el poeta desdoblado de Pessoa ms noble. insistente, como insistente a Natureza, en el cada da de su repeticin: las cosas en su sitio y el poeta (el hombre) en medio de
ellas sin pensar en ellas, sin interpretarlas. A poesia de Caeiro significa que nada va a edificar el poeta, nada va a dejar el hombre sobre la tierra, nada la diferencia que pas por el camino, que apenas advirti su huella.
AC53. Del Bene, Orietta. Algumas notas sobre Alberto Caeiro. Ocidente
LXXIV, 359 (Maro 1968): 129-235.
Alberto Caeiro representa, por um lado, o mito da infncia permanecendo
inalterado no homem adulto e, por outro, o mito do paganismo: duas saudades de
Fernando Pessoa. A originalidade audaciosa de Fernando Pessoa est no em falar da infncia, mas sim em ser ou querer ser infantil atravs de Caeiro, tentativa necessariamente condenada falncia pois s pode ser criana quem realmente
o .
AC54. Duarte, Isabel Margarida. Maria Helena Nery Garcez: Alberto Caeiro Descobridor da Natureza?. Persona 11/12 (Dezembro 1985): 9394.
Recenso crtica.
AC55. Duarte, Jos Afrnio Moreira. A poesia de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa e os caminhos da solido. Belo Horizonte: Imprensa Oficial,
1968. 31-32.
principalmente com os poemas de Caeiro que Pessoa consegue um melhor
equilbrio entre o antigo e o contemporneo: Caeiro situa-se como que num meiotermo entre Ricardo Reis e lvaro de Campos.
AC56. Elia, Slvio. Mestre Alberto Caeiro ou a Filosofia Impossvel. Estudos Universitrios de Lngua e Literatura. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1993. 399-421.
A posio filosfica de Caeiro uma contradictio in terminis pois no se po-
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surge, tambm implicitamente, num texto em ingls em que Fernando Pessoa caracteriza a absoluta novidade de Alberto Caeiro, que consiste numa objectividade radical quase inconcebvel. Uma anlise de alguns poemas de Caeiro permite concluir que este, poeta doubl de filsofo o contra Wordsworth e o contra-Kant.
AC60. Ferreira, Luzil Gonalves. A antipoesia de Alberto Caeiro. Uma leitura de O Guardador de Rebanhos. Recife: Associao de Estudos Portugueses Jordo Emerenciano, 1989.
Depois de estudar a concepo do Poeta para Alberto Caeiro, procurando mostrar como se teoriza a relao do Poeta com a Natureza, consigo mesmo e com a Poesia (discutindo a tripla problemtica do Cosmos, do Anthropos e do Logos), fazse
uma leitura da prtica potica de Caeiro. Em concluso, defendese que este se reconciliou consigo prprio; estabelecendo a ruptura definitiva entre o homem que escreveu e a sua produo artstica, sente que realizou uma potica coerente.
AC61. Figueiredo, Pedro Arajo. Sobre Caeiro e alguma filosofia. Actas I.
Porto, Braslia Editora: Fundao Eng. Antnio de Almeida, 1979.
615-630. (Comun. ao I C.I.E.P., Porto, 3-5 de Abril de 1978).
Sendo improvvel a descoberta (ou redescoberta) de qualquer sistema filosfico
original de feitura pessoana, no se exclui da a profunda originalidade do entendimento que Fernando Pessoa fazia da Filosofia, da forma como entendia as relaes desta com a Potica e mesmo dos trabalhos de exercitao filosfica que realizou. Relativamente a Alberto Caeiro, no deve buscarse um paralelo em Husserl,
mas sim em Wittgenstein.
AC62. Flrido, Jos. Conversas inacabadas com Alberto Caeiro. Porto: Porto
Editora 1987. (2. ed., Lisboa: Editora Pergaminho, 1998).
Em dilogos imaginrios tidos em Sintra com um Alberto Caeiro ressuscitado,
provase a profundidade do seu pensamento e o desejo autolibertador manifestados na sua anterior reencarnao.
AC63. Galhoz, Maria Aliete. Alberto Caeiro, pote/pomes. Fernando Pessoa. Pomes paens. Paris: Christian Bourgois diteur, 1989. 17-26.
Alberto Caeiro, embora personagem fictcia, nen est pas moins, sans aucun
doute, un pote autonome, dans la mesure o il incarne une identit cratrice; il
existe vritablement par ses pomes, il est un pote/pomes. A sua obra potica singular e pessoal, tanto pelo contedo como pela forma. A sua linguagem natural,
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fluida e lmpida, cest le miracle du gnie qui a cr ces pomes dune organisation
parfaitement cohrente. Leur nouveaut esthtique est encore plus surprenante si lon
savise que llment de base de leur criture est lutilisation systmatique du clich.
Caeiro apporte langoisse et la nause de Pessoa, son crateur, le remde dune
certitude rassurante, en montrant le caractre naturel de toutes choses, du moindre
geste, du simple fait dexister.
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AC64. . A fortuna editorial de Fernando Pessoa. Actas IV, Vol. II. Porto: Fundao Eng. Antnio de Almeida, 1990. 79-88. (Comun. ao IV
C.I.E.P., Seco Brasileira, So Paulo, 27-30 Abril 1988. 1. publ. in
Nova Renascena (PrimaveraVero 1988): 126-131).
Balano da bibliografia activa de Fernando Pessoa desde a publicao, em
1942, da recolha antolgica organizada por Adolfo Casais Monteiro at edio
facsimilada de O Guardador de Rebanhos, por Ivo Castro. Em apndice, uma bibliografia sumria.
AC65. Galvo, Jesus Bello. Um Guardador de Rebanhos, de Alberto Caeiro. Ensaios pessoanos. Niteri: Universidade Federal Fluminense, Instituto de Letras, 1985. 13-43.
Leitura de O Guardador de Rebanhos do ponto de vista lingustico e de tcnica potica.
AC66. Garcez, Maria Helena Nery. Alberto Caeiro: aspectos de intertextualidade. Boletim Informativo 3. srie, XI, 2 Centro de Estudos Portugueses de So Paulo (1985): 27-45 . (Repr. no seu Trilhas em Fernando Pessoa e Mrio de SCarneiro. So Paulo: Editora Moraes e Editora da
Universidade de So Paulo, 1989. 59-87).
Anlise da obra de Alberto Caeiro do ponto de vista das suas relaes com alguns textos, de poesia ou no, que o precederam (a Tradio, como, por exemplo, o
Ea de Queiroz de O Suave Milagre, Antnio Nobre, a Bblia), das suas relaes
com os outros heternimos e textos pessoanos, o que permitir surpreendlo na sua
singularidade e rotullo como poeta da Modernidade.
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AC70. Garcia, Jos Martins. Caeiro, Tradittore? Colquio/Letras 88 (Novembro 1985): 48-56. (Repr. no seu Exerccio da crtica, Lisboa: Edies Salamandra, 1995. 48-59).
Apontamse exemplos de intertextualidade, a diferentes nveis, entre alguns poetas
buclicos de lngua inglesa (Sir Philip Sidney, Alice Meynell, Ben Jonson) e a produo de Alberto Caeiro, analisandose as leituras orientalizantes da sua obra. O Autor
conclui que Caeiro satirizou tudo e todos, parodiando, distorcendo, traindo, desde os
budismos ao Zen, desde Lucrcio at S. Francisco de Assis. O seu Universo todo mental, interior, ou seja, o contrrio da significao corrente de Universo. Caeiro original fora de inverter o sentido de uma complicada rede de assimilaes culturais e
satrico, no sentido profundo do termo.
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AC71. . Em torno do corao. Fernando Pessoa: corao despedaado. Ponta Delgada: Universidade dos Aores, 1985. 68-75.
O estudo tem como objectivo a anlise e consequente leitura das flutuaes do
conceito de corao na linguagem potica de Fernando Pessoa. Surpreende a escassez de ocorrncias do conceito nos poemas de Alberto Caeiro, em que apenas
surge no XXVII Poema de O Guardador de Rebanhos e no poema A guerra
que aflige com seus esquadres o mundo.
AC72. Garca Martin, Jos Luis. El unico poeta de la Naturaleza. Fernando Pessoa. Madrid: Ediciones Jcar, 1982. 114-125.
A personagem Caeiro que se desprende dos versos que lhe so atribudos no
coincide nem com a biografia que Pessoa lhe atribui, nem com o que ele mesmo
declara ser. No o bom selvagem, o homem sem cultura em permanente contacto com a Natureza: o filsofo disfarzado. Es el idelogo que trata de poner
en prtica una de sus quimeras. Inutilmente. Mas dessa inutilidade brota a
grandeza da sua poesia: En la mentira del personaje se engendra la verdad del
poema.
AC73. Gil, Jos. Caeiro, le mtaphysicien dans mtaphysique, et son disciple, Reis. Fernando Pessoa ou la mtaphysique des sensations. Paris:
Editions de la Diffrence, 1988. 118-130. (Repr. em trad. portuguesa de Miguel Serras Pereira e Ana Luisa Faria, no seu Fernando Pessoa
ou a metafsica das sensaes. Lisboa: Relgio dgua, s.d. 118-130).
Rompendo com a tradio que tende a abordar a obra de Fernando Pessoa em
termos de comentrio literrio, o Autor estuda o pensamento pessoano em que se
230
articula uma esttica das sensaes com uma arte potica e se mostra de enorme
coerncia sob a aparncia fragmentria dos textos. Neste contexto, dois discursos
tecem o fio da poesia de Alberto Caeiro: um discurso positivo (que anuncia, ou
finge anunciar, tautologias) e um metadiscurso negativo (que afirma que no
h metafsica nas sensaes) sobre o qual o primeiro discurso exclusivamente se
apoia. A emoo metafsica de Caeiro vem da intelectualizao do sentir, transformado em modo de pensamento, to natural como um rgo. Alcanado esse
objectivo, Caeiro realiza ao mesmo tempo a mais pura poesia metafsica e uma
linguagem aparentemente no limite das possibilidades poticas: existe nele uma
conteno no abandono que constitui o resultado longnquo desse trabalho de
abstraco da emoo.
AC74. . Alberto Caeiro ou lme devenue corps. Pomes de Alberto
Caeiro publis du vivant de Fernando Pessoa. Paris: ditions de la
Diffrence, 1989. 7-16.
Alberto Caeiro ocupa na constelao heteronmica de Pessoa um lugar singular: il est la fois lun des htronymes, leur matre tous, et celui qui sen loigne le plus. Par son style, par sa manire de sentir, par sa conception de la nature et du monde, il apparat lui seul comme une constellation autonome, se
suffisant pleinement ellemme, et qui contient pourtant en puissance tous les
autres potes auxquels il donnera naissance. Para o Autor, Caeiro est le sujet de
toute lhtronymie, il est lhtronymie ralise. Il suppose tout le processus htronymique achev, il est ce qui reste, une fois construits tous les htronymes, ce
qui demeure lorsque le sujet de lcriture traverse tous les devenirsautre htronymiques et se dissout en tant que moi: voil pourquoi il na pas de subjectivit, voil pourquoi il se proclame lArgonaute des sensations vraies.
AC75. . O corpo, a arte e a linguagem: o exemplo de Alberto Caeiro. Revista de Comunicao e Linguagens 10-11 (Fevereiro 1990):
59-70.
Debatendo a questo entre sensao e linguagem, sublinhase que a correspondncia entre sensaes era de tal modo importante para Fernando Pessoa que chegou a pensar considerla como princpio de um movimento literrio: o Interseccionismo. O ideal de adequao total entre sensao e linguagem como ideal artstico
mximo foi realizado por Alberto Caeiro, o que faz do seu caso uma ilustrao
exemplar da articulao do corpo e da linguagem atravs da arte. Examinase o
corpo de Caeiro, para mostrar como, neste poeta, a alma se tornou corporal.
231
AC76. Gomes, lvaro Cardoso. O retorno inocncia. Fernando Pessoa. Estudos crticos. Joo Pessoa : Associao de Estudos Portugueses Hernni Cidade, Universidade Federal da Paraba, 1985. 17-22.
Percorrendo ao inverso o caminho para a civilizao, Alberto Caeiro empreende a viagem da conquista da Natureza; o meio de que se serve a poesia, restituda sua misso essencial: a de fundir o homem ao mundo.
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AC77. Gonalves, Robson Pereira. Alberto Caeiro ou a matriz Poticoontolgica em Fernando Pessoa. Revista do Centro de Artes e Letras 2, 1
Universidade Federal de Santa Maria (JaneiroJunho 1980): 55-65.
Estudase a relao da poesia pantesta e sensacionista de Fernando Pessoa,
produzida atravs de Alberto Caeiro, e a metafsica heideggeriana. Com base na
filosofia do Ser, procurase evidenciar as passagens mais representativas do texto
potico que concorrem para um descobrir dos caminhos do Ser e que se alojam
na explicitao metafsica que Heidegger faz da questo. Concluise que a dita
poesia da objectividade vela a intensidade primal do poeta, pois, na verdade, se
trata de uma poesia de desvelamento do ser.
AC78. Grellet, Ivone Freitas. A Poesia de Fernando Pessoa: Budismo e Zen
Budismo em Alberto Caeiro. Novos Ensaios de Literatura Portuguesa.
Araraquara: Instituto de Letras, Cincias Sociais e Educao UNESP,
Centro de Estudos Portugueses Jorge de Sena, 1986. 88-127.
Entre a postura de Alberto Caeiro e os princpios filosficos do Budismo e do
Zen Budismo, observamse pontos comuns, que se fundamentam na filosofia da
nofilosofia. A poesia de Caeiro assemelhase poesia de Basho naquilo a que poder chamarse a essncia potica: mas Caeiro no um poeta Zen, antes um poeta com Zen: o seu processo dialcticoestilstico anlogo aos sutras orientais.
AC79. Griffin, Jonathan. Four Poets in One Man. Fernando Pessoa. Selected Poems. Harmondsworth: Penguin Books, 1974. 9-23. (2. ed.,
1982; repr. 1988).
O Autor aproxima Caeiro de Francis Ponge, que professam ambos much the
same philosophyreligion: absolute objectivism, embora divirjam na maneira de
a exprimir. O estilo de Caeiro is an unostentatious antipoetry (...) His poems
are the talk of a master to disciples as he walks along a hillside and rounds up his
sheep. Os ensinamentos de Caeiro esto prximos do caminho Zen; a sua fraqueza, como Octavio Paz notou, reside, no nas ideias (que, pelo contrrio so a sua
232
fora), mas na irrealidade da experincia que pretende ter tido. Caeiro aquilo
que Fernando Pessoa queria ter sido e que no conseguiu ser: Ricardo Reis is the
nearest that Pessoa could come to being Caeiro.
AC80. Guerra, Maria Lusa. Sobre o conceito de opacidade na poesia de Alberto Caeiro. Ocidente LXIII, 295 (Novembro 1963): 209-224.
Nos poemas de Alberto Caeiro, as coisas pululam por toda a parte multiplicadas mas exprimem descontinuamente a mesma opacidade radical e estruturante. Para Caeiro, tal como para Sartre, o mundo no um palco mas uma presena pastosa. Antecipandose a alguns filsofos contemporneos na leitura da
opacidade constitutiva da realidade bruta, Caeiro desvaloriza o homem como capacidade mitificante e tenta, numa aventura dolorosa e intil, coincidir com a
perfeio natural das coisas.
AC81. . Alberto Caeirolvaro de Campos ou a verdade de uma lio intil. Cronos. Cadernos de Literatura 1 (s.d.): 21-23.
lvaro de Campos, afinal, no aprendeu a lio de Alberto Caeiro: o delrio
sensacionista da sua poesia , sob mais de um ttulo, a negao expressa do exemplo tutelar do Mestre. Se em Caeiro h descoberta, em Campos h conquista:
ambos se deixaram fascinar pelo real, mas enquanto que a Caeiro nenhuma coisa feriu, nem doeu, nem perturbou, a Campos todo o sangue ferveu num torvelinho desencontrado de emoes inventadas.
AC82. Guibert, Armand. Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. Paris: Pierre
Seghers, 1960. 34-51. (2. ed., 1973).
Alberto Caeiro, migrec mi bdouin, cestdire un naturaliste contemplatif, um falso campons qui ne sait pas dsigner par leur nom les arbres, les
plantes et les fleurs. As suas reiteraes seriam montonas se no fossem, em cada
momento, resgatadas pela fracheur de la raison (facult et opration qui, chez
lui, passent en importance la chose vue). Malgr ses tautologies, ses redites, sa
dmarche de primitif intraitable (ou cause delles, peuttre?), notre pote de
lvidence avance dun pas que pourraient lui envier bien des croyants torturs,
jusqu la trs dsirable lumire de la certitude et de laffirmation.
AC83. . Note dintroduction loeuvre dAlberto Caeiro. Fernando
Pessoa. Le Gardeur de troupeaux et les autres pomes dAlberto Caeiro.
Paris: Gallimard, 1960. 9-12.
233
O Autor v em Alberto Caeiro une sorte de sage bdouin, plus proche de lhdonisme de lIslam que de lacceptation chrtienne des imperfections de ce monde, un semi autodidacte expansif, assez prolixe, et ruisselant de lucidit. Quon
le rattache un jour la tradition dun certain lyrisme hellnique, il ny aura l
rien de surprenant: son accent na jamais le flou et louat propres la posie
atlantique.
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sas. Caeiro mais do que apenas o plo oposto a Pessoaele mesmo, pois introduz
um tom indito, uma potica inteiramente nova na literatura portuguesa. O
mundo das coisas celebrado por Caeiro e o Eu nele redimido formam uma nova ordem: com Caeiro, Pessoa recusa de novo o presente, mas deixa abrir um caminho para o futuro.
AC87. Hart, Thomas R. M. Teste em Lisboa: Pessoa e Valry. Arquivos do
Centro Cultural Portugus. XXIII. Paris: Fundao Calouste Gulbenkian, 1987. 817-827.
Afinidades entre Fernando Pessoa e Paul Valry: o elo mais importante entre
os dois escritores a fascinao com que ambos observaram o funcionamento da
sua prpria inteligncia. Tal mais evidente nos poemas ortnimos de Fernando
Pessoa e nos de lvaro de Campos, embora se manifeste tambm nos de Alberto
Caeiro, sempre oposto a qualquer tipo de intelectualizao.
AC88. Hatherly, Ana. O cubo das sensaes e outras prticas sensacionistas
em Alberto Caeiro. Actas I. Porto, Braslia Editora: Fundao Eng.
Antnio de Almeida, 1979. 59-81. (Comun. ao I C.I.E.P., Porto, 35 de Abril de 1978.
Anlise textual do poema XX de O Guardador de Rebanhos luz dos princpios da teoria sensacionista, considerada esta como um conjunto de instrues,
ou seja, como um programa. Na sua comunicao ao Congresso, este ensaio era
acompanhado da apresentao de trs cubos em vidro acrlico, ilustrando a teoria
sensacionista nos seus aspectos bsicos.
AC89. . Pessoa/Caeiro vs. Walt Whitman. A destruio do Mestre.
Persona 6 (Outubro 1981): 7-19.
Se admissvel que Fernando Pessoa queira ter resistido admirao que a
obra de Walt Whitman lhe inspirou, igualmente possvel que tal represente apenas uma espcie de fatalidade inerente criao.
AC90. Henriques, Mendo Castro. As coerncias de Fernando Pessoa. Lisboa:
Verbo, 1989.
No pretendendo fazer de Fernando Pessoa um filsofo fora, tomase por
ponto de partida a sua reconhecida capacidade potica de encontrar formas verbais para a experincia humana, de pr em questo o real e de propor respostas
alternativas a essas interrogaes. Com Alberto Caeiro, Fernando Pessoa obtm
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circunstncia, pelo eu, entendido como executividade pura, inteira compenetrao do sujeito com as suas aces e paixes.
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AC97. . Realidade e poesia em Fernando Pessoa. O Estado de S. Paulo, Suplemento Cultura (23 Novembro 1985). (Repr. in Revista Comunidades de Lngua Portuguesa. Estudos sobre Fernando Pessoa no Brasil,
6-7 (JulhoDezembro 1985 JaneiroJunho): 71-74).
Atravs de Caeiro, Fernando Pessoa retoma a poesia pelo caminho da realidade, e chega realidade pelo caminho da poesia: a inveno do heternimo e a sua
viso neopag antecipam a fico poetizante.
AC98. Leal, Ana Maria Gotardi. A viso inocente: Alberto Caeiro. O Mestre. Homenagem das literaturas de lngua portuguesa ao Prof. Antnio
Soares Amora. So Paulo: Academia Lusada de Cincias, Artes e Letras Centro de Estudos Portugueses Faculdade de Filosofia Letras e
Cincias Humanas, Universidade de So Paulo, 1997. 37-42.
Recorrendo a Giambattista Vico e Frederico Schiller para conceituar a poesia
concebida como viso ingnua e inocente, estudamse poemas de Alberto Caeiro
que actualizam uma filosofia de vida em que so privilegiadas a natureza e a sensao virginal.
AC99. Lind, Georg Rudolf. Alberto Caeiro, o renovador do Paganismo.
Teoria potica de Fernando Pessoa. Porto: Inova, 1970. 99-131. (2.
publ. no seu Estudos sobre Fernando Pessoa, Lisboa: Imprensa
Nacional-Casa da Moeda, 1981).
Relativamente ao aparecimento de Alberto Caeiro no dia triunfal descrito
na carta a Casais Monteiro, no repugna ao Autor concluir que Pessoa se decidiu, em 1935, a cultivar conscientemente a sua prpria lenda, apresentando-se
aos amigos mais jovens como o pai involuntrio de trs personagens poticas e
ocultando, propositadamente, todas as consideraes de ordem terica e programtica que haviam precedido o nascimento delas. Tais consideraes baseiamse, essencialmente, no paganismo greco-romano; ao mundo grego vai buscar
Pessoa as duas ideais centrais de disciplina e de limitao. O programa que
Pessoa traou para Alberto Caeiro est contido quase na ntegra no ensaio O
Regresso dos Deuses, embora seja surpreendente o facto de o prprio Caeiro
nunca se deixar emaranhar nas malhas duma ideologia neopag: so exemplo
disso as digresses subjectivas dos poemas de O Pastor Amoroso. Conclui-se
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foi Fernando Pessoa, seu demiurgo e discpulo. Caeiro foi morto embora porventura com seu consentimento e cumplicidade, no pressentimento de uma traio
que era talvez, acima de tudo, uma traio a si prprio.
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tico. Analisam-se os seus poemas, para concluir que Caeiro serait plutt un
personnage de roman que de thtre. Pessoa f-lo morrer em 1915 porque
Caeiro aprs avoir nonc ses prceptes, il ne pouvait que commencer se contredire. Et il fallait quil reste le Matre.
AC108. . Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. Le thtre de ltre. Paris:
ditions de la Diffrence, 1985. 24-28.
Alberto Caeiro representa leffort le plus pouss de cette envole [de Fernando
Pessoa] pour se retrouver dans un autre. Caeiro nest pas seulement le produit dune construction mentale, il correspond laspiration suprme de Pessoa (dans toutes les personnes qui prouvent sa peine) de se sentir complet, de faire corps avec
son ombre. Caeiro representa, tambm, a saudade dune enfance perte de vue
e a saudade de cette Unit recherche par tous les autres: la joie sans nuages, la
srnit sans la moindre fissure dun dchirement quelconque: foi concebido para
ser o regresso inocncia csmica. Foi-o tambm para ser o antdoto contra a vertigem do ser, a insnia de existir de Pessoa, de Bernardo Soares e de lvaro de
Campos. Caeiro aparece-nos como laptre au fminin dune foi quil se refuse
dfinir et que seul le corps connat sans prouver le besoin de lexpliquer.
AC109. . Terceiro e ltimo episdio do dilogo Campos-Pessoa. Trs
poemas inditos de Alberto Caeiro. JL. Jornal de Letras, Artes e
Ideias 504 (3 Maro 1992).
Conversa imaginria entre Fernando Pessoa e lvaro de Campos acerca da
incapacidade dos capatazes da cultura em Portugal. Texto polmico em que so
criticados alguns pessoanos e em que se apresentam trs poemas inditos de Alberto
Caeiro em torno de S. Francisco de Assis.
AC110. . lintrieur du souvenir de soi. Perspectives de Pessoa.
Notes en souvenir de mon matre Caeiro. Fernando Pessoa. Les ditions Fischbacher. Collection Minuit Rouge, 1996. 95-126.
Alberto Caeiro est surtout le matre que Pessoa oppose lui-mme, et ceux
qui, comme lui, sont des victimes de la civilisation chrtienne. Pessoa, sendo um
citadino inveterado, inventou-o pour apprendre faire corps avec la Nature
cest--dire avec la ralitlui qui na jamais su faire corps avec rien ni personne. A Autora analisa as Notas de lvaro de Campos, sublinhando que este a
si savamment manipul le discours direct et indirect, le rcit et les dialogues, que
ses personnages acquirent une prsence physique.
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O mistrio da gnese concreta de Alberto Caeiro prende-se sem equvoco possvel ao seu encontro com Walt Whitman. Quando se examina melhor a poesia de
Caeiro, salta aos olhos a presena avassaladora, essencial e no meramente acidental ou decorativa, do poeta americano. Caeiro um Whitman imaginrio,
ou antes, um Whitman em ideia. Sob Caeiro levou Fernando Pessoa a cabo a sua
adeso ao sonho da realidade, construindo um imaginrio refgio contra o seu
sentimento de irrealidade. Mas como a fico o podia consolar tanto ou mais do
que essa realidade onde nunca pde descobrir outra coisa que fico, ele prprio
seu criador se tornou seu filho e seu discpulo. Uma nica das fices de Fernando
Pessoa pde adquirir aos olhos do seu criador esse estatuto mtico que, segundo ele,
a marca prpria das criaturas ideais destinadas ao cu literrio: Alberto Caeiro,
o mito que tudo. A heteronmia no foi, nem , soluo, mas Caeiro a
soluo enquanto mito e, enquanto mito, estrutura no s a construo literria que designamos por fico heteronmica, mas a fico existencial que a vida
realssima de Fernando Pessoa. Talvez no sejamos de todo infiis ao ser profundo de Alberto Caeiro e funo que Fernando Pessoa lhe atribuiu, se virmos nele
uma verso, um tudo nada ocultista, do anjo da guarda.
AC115. . Walt Whitman e Pessoa. Quaderni Portoghesi 2 (Outono
1977): 155-184. (Trad. de Silvano Peloso. Repr. na verso original
em Portugus no seu Poesia e metafsica. Cames. Antero. Pessoa.
Lisboa: S da Costa Editora, 1983. 173-198).
Do encontro de Fernando Pessoa com a poesia de Walt Whitman surgiu a
totalidade da arquitectura heteronmica. Tais como textualmente se concretizaram, os heternimos so o resultado da deflagrao do universo de Fernando
Pessoa confrontado com o universo whitmaniano. Nesse sentido, porm, lvaro de
Campos um anti-Whitman, enquanto Caeiro um no-Whitman.
AC116. . La posie de Pessoa entre 1910 et 1914 ou le creuset de
lhtronymisme. Persona 2 (7/1978): 9-26. (Ensaio datado de
1971).
Uma anlise minuciosa dos poemas que Fernando Pessoa escreveu antes de
1914, revela que o nascimento dos heternimos, mais precisamente o de Alberto
Caeiro, no foi o milagre referido pelo seu criador, mas uma etapa natural num
processo de que o poema Hora Absurda representa a expresso acabada de uma
contradio formal e substancialmente insanvel. Caeiro vem fornecer a chave
para resolver a crise.
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AC125. Merton, Thomas. The Hidden Ground of Love. The Letters of Thomas
Merton. New York: Farrar, Strauss Giroux, 1985. 191-192 e 460.
Nas suas cartas para a Irm M. Emmanuel de Sousa e Silva e para o Prof.
Hiromu Morishita, Thomas Merton refere que os poemas de Alberto Caeiro tm
a great Zen quality e que, embora lhes falte the delicacy and suggestiveness of
Japanese poetry, contain something of the Japanese view of things.
AC126. . [Nota sobre Fernando Pessoa]. Persona 11/12 (Dezembro
1985): 106. (em trad. portuguesa de George Monteiro. Publ. in The
Literary Essays of Thomas Merton, New York: New Directions, 1981.
309).
Pessoa-Caeiro deve ser considerado entre os escritores ocidentais que expressaram uma afinidade com a viso Zena capacidade para um estado de conscincia absoluta.
AC127. Moiss, Carlos Filipe. Caeiro, Mestre. Indiana Journal of Hispanic
Literatures 9 (Outono 1996): 53-75.
Fernando Pessoa um revolucionrio, mas a sua revoluo, a mais eficaz de
todas, discretssima, quase subliminar: no agita, no choca, no d gritos histricos, passa despercebida. Onde mais poderia estar seno na placidez buclica
de Alberto Caeiro? por demais evidente a afinidade entre a problemtica assumida nos versos de Caeiro com os enunciados de Wittgenstein, com os quais
compem uma surpreendente e harmoniosa unidade.
AC128. Moiss, Massaud. Alberto Caeiro, mestre de poesia? O Estado de
S. Paulo, Suplemento Cultura (11/23/1985): (Repr. in Revista
Comunidades de Lngua Portuguesa. Estudos sobre Fernando Pessoa no
Brasil, 6-7, So Paulo (Julho-Dezembro 1985-Janeiro-Junho 1986):
81-86; rep. sob o ttulo Alberto Caeiro, mestre de poesia? I, no seu
Fernando Pessoa: o espelho e a esfinge, So Paulo: Editora Cultrix, 2.
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afectiva, ou esttico-afectiva, para dar vazo ao guia Zen dos seres imaginrios
que a sua mente produzia sem cessar. Tais razes estariam vinculadas sua amizade fraterna com Mrio de S-Carneiro. Alberto Caeiro o S-Carneiro que
intelectualizasse a sua viso da Natureza e a sua vida interior: o que em SCarneiro era o natural puramente esttico, volve-se em Caeiro em natural pensado, em natural do pensamento.
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a palavra so, utilizada como tempo do verbo ser e como adjectivo. A mensagem de Caeiro, expressa atravs de rima, repetio e trocadilho, poder ser a de
que ser ter sade, porquanto ser outra coisa ou algo de diferente estar doente.
AC135. . Poet and Anti-Poet. The Presence of Pessoa. English,
American and Southern African Literary Responses. Lexington,
Kentucky: The University Press of Kentucky, 1998. 28-40.
Colaborador de Paul Celan na traduo de poemas de Fernando Pessoa em
alemo, o poeta, scholar e tradutor Edouard Roditi foi o pioneiro da crtica pessoana nos Estados Unidos (1955), tendo sofrido a influncia de Fernando Pessoa
na sua prpria poesia. O poeta americano e monge trapista Thomas Merton, que
em 1966 publicou em traduo inglesa diversos poemas de Alberto Caeiro que
considerava ser um poeta de grande qualidade Zenfoi igualmente influenciado
por Fernando Pessoa na sua obra.
AC136. Monteiro, Maria Rosa da Rocha Valente Sil e Amrico Antnio
Lindeza Diogo. Pessoa-Quaresma, investigador. Ns. 35-40
(1994): 45-54. (Repr. sob o ttulo Quaresma investigador no seu
Um medo por demais inteligente. Autobiografias pessoanas. BragaCoimbra: Angelus Novus, 1994. 7-17).
Analisam-se os quatro esboos de novelas policirias de Fernando Pessoa, na
perspectiva de o investigador Dr. Ablio Quaresma se aproximar, bastante mais
do que de Bernardos Soares, da fico heteronmica, bem como de revelar a
influncia heterotextual de Alberto Caeiro.
AC137. Mouro-Ferreira, David. S de Miranda, a cloga e Fernando
Pessoa. Tvola Redonda 11 (Dezembro 1951). (Repr. no seu Nos
passos de Pessoa. Lisboa: Presena, 1988. 25-32).
Alberto Caeiro o mais acabado representante da atitude potica, despersonalizante e parateatral, que, subsidiria da atitude buclica, entrou no lirismo
portugus atravs de S de Miranda. No lirismo nacional, a poesia pastoril era a
mais forte tradio de poesia heteronmica e despersonalizante, de poesia dramtica, de fingimento: embora de espcie complicada, Caeiro tanto ou to pouco pastor como um qualquer zagalo de Bernardim Ribeiro. Inclundo-se nessa
nossa tradio, justificam-se plenamente a prioridade do seu surgimento e o
magistrio que manter perante os outros heternimos e perante o seu prprio
criador.
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AC138. . Algumas mulheres na poesia de Fernando Pessoa. Nos passos de Pessoa. Lisboa: Presena, 1988. 131-151.
Em matria de amor, a imaginao de Fernando Pessoa-poeta conseguiu em
muitos passos superar as inibies de Fernando Pessoa-pessoa. Percorrendo a obra
dos heternimos (alis todos eles impenitentes celibatrios), conclui-se que atravs
de Alberto Caeiro, Fernando Pessoa intuiu algumas fundamentais realidades do
amor, se no em termos fsicos, pelo menos no tocante a certos tormentos espirituais que o acompanham ou de que ele tambm se compe.
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was later to write in one of the first pages of Ltre et le nant. Para o Autor, o
ponto fraco de Caeiro in his glorification of immanence and his dismissal of
transcendence que he is really asking homo sapiens to give up being homosapiens. (...) There is a strangely feverish, over-hearty quality about Caeiro, as
though he desperately needed to convince himself that there is no more to things
than their appearance, and that he therefore has nothing at all to worry about.
But the doctrine he preaches is a superhuman one, impossible of fulfilment for
ordinary mortals. Talvez fosse por considerar insustentvel esta posio que
Fernando Pessoa matou Caeiro quando este era ainda jovem (26 anos) e lhe
atribuiu muito poucos poemas depois de 1920.
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AC166. Sena, Jorge de. O meu mestre Caeiro de Fernando Pessoa e outros
mais. Actas I. Porto, Braslia Editora: Fundao Eng. Antnio de
Almeida, 1979. 341-364. (Comun. ao I C.I.E.P., Porto, 3-5 de Abril
de 1978. Repr. no seu Fernando Pessoa & C. Heternima. Estudos
coligidos 1940-1978. Lisboa: Edies 70, 1981, II Vol. 207-224).
Estudo comparativo bio-bibliogrfico dos participantes no fenmeno heteronmico, com especial incidncia no caso de Alberto Caeiro, e das suas incidncias e
correlaes com a vida real de Fernando Pessoa: Caeiro vivia com uma tia-av (a
tia materna de Fernando Pessoa, Maria Xavier Pinheiro?), viveu exactamente o
mesmo tempo que Mrio de S-Carneiro (1889-1915) e morreu tuberculoso
como o prprio pai de Fernando Pessoa, tinha o poeta cinco anos de idadeprecisamente os cinco anos fictcios de actividade potica (1911-1915) que Fernando
Pessoa atribuiu ao seu Mestre. Ao estudar Caeiro h que ter em ateno que no
bucolismo literrio portugus (S de Miranda, Bernardim Ribeiro), os rebanhos,
tal como os de Caeiro, eram puramente simblicos. O poeta quinhentista ingls Sir
Philip Sidney tem na sua novela pastoril Arcadia um poema em que dois versos
sero a chave do bucolismo do autor de O Guardador de Rebanhos.
AC167. Sequeira, Rosa Maria. IV. Os Engenheiros da Poesia. 1. Cesrio
como vivncia literria de Pessoa. 1.1. Na poesia de Alberto Caeiro.
A imagem da cidade na poesia moderna: Cesrio Verde e Fernando
Pessoa. Frankfurt am Main: TFM (Editora Teo Ferrer de Mesquita),
1990. 139-141
Embora no se trate necessariamente da valorizao do campo e negao da
cidade, o que Caeiro releva em Cesrio a atitude esttica, uma inocncia do
olhar: nessa atitude que reside a lio potica.
AC168. Severino, Alexandrino E. A presena de Coleridge na obra de PessoaCaeiro. U.S.D.P. Lisboa: S.E.C., 1990. 175-177. (Comun. ao
E.I.C.F.P., Lisboa, 5-7 Dezembro 1988).
Anlise da questo da sinceridade em Fernando Pessoa, centrada nos poemas de
Samuel Taylor Coleridge e de Alberto Caeiro, que o poeta reconhecia como dos mais sinceros do mundo.
AC169. . Fernando Pessoa e William Shakespeare: Um estudo com
parativo de heteronmia. Actas IV, Vol. I. Porto: Fundao Eng.
Antnio de Almeida, 1990. 13-22. (Comun. ao IV C.I.E.P., Seco
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AC175. ___. Vida e obra de Fernando Pessoa. Histria de uma gerao. Lisboa:
Bertrand, sd [1950]. 274-287. (7. ed., Lisboa: Dom Quixote, 1991).
Parece legtimo perguntar em que, por que e de que maneira Alberto Caeiro foi,
de facto, autor do que existe de mais sincero na obra de Fernando Pessoa, como este
mesmo afirmou. Tudo indica que o que Fernando Pessoa efectivamente sentia no
dia triunfal de 8 de Maro de 1914 era exactamente o que Caeiro exprimiu nos
poemas de O Guardador de Rebanhos. No entanto, a sinceridade de Caeiro apresenta-se-nos condicionada, restrita e desumanizada: para o Autor, o conceito de sinceridade est na linha que liga a inspirao vida, a criao existncia, a poesia
biografia. Assim, Alberto Caeiro foi sincero, mas apenas de uma forma intelectual: no bucolismo materialista e primitivo dos seus versos no se revela um
homemdenuncia-se uma desintegrada e desincorporadamente potica.
AC176. Simes, Joo Gaspar. VII. O movimento modernista: a gerao do
Orpheu (1915-1927). 1) Fernando Pessoa. Histria da poesia portuguesa do sculo vinte acompanhada de uma antologia. Lisboa: Empresa
Nacional de Publicidade,1959. 490-507.
O dia 8 de Maio [sic] de 1914, data em que escreve, praticamente de um s
jacto, a parte fundamental da obra de Alberto Caeiro, assinala, no destino de
Fernando Pessoa, o fim do seu perodo literrio experimental, reconhecendo que
simbolismo, decadentismo, saudosismo, palismo so verduras da mocidade e
descobrindo que a unificao da sua personalidade no poderia realizar-se atravs da sensibilidade e da emoodo misticismo poticomas, sim, atravs da
discriminadora inteligncia. Alberto Caeiro o agente dessa descoberta. O que
com ele aprende, com o seu naturalismo pago, servir-lhe- para se orientar da
para o futuro no sentido que mais convm sua natureza artstica: exprimirse pensando.
AC177. . Alberto Caeiro e o conceito de opacidade. Dirio de
Notcias (16 Dezembro 1962).
Recenso crtica do ensaio de Maria Luisa Guerra Sobre o conceito de opacidade na poesia de Alberto Caeiro.
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JOS BLANCO
264
ser porventura uma das intuies fundamentais da filosofia do sculo XX, antecipando-se a Heidegger, Jaspers, Sartre?
AC184. Touati, Dominique. Lusage de la navet chez Caeiro et
Platonov. U.S.D.P. Lisboa: S.E.C., 1990. 345-347. (Comun. ao
E.I.C.F.P., Lisboa, 5-7 Dezembro 1988).
Coincidncias e similitudes entre os textos de Alberto Caeiro e os de Platonov,
levantando-se a questo dos processos psquicos que conduziram ao fenmeno
heteronmico.
AC185. Valadares, M. J. Elementos para uma patografia de Fernando
Pessoa. Praa Nova (Dezembro 1962): 9-10.
A partir da verificao experimental dos princpios da tipologia de
Kretschmer e suas associaes morfo-psquicas (atravs de casos como os de
Balzac, Dostoievski e Cervantes e os tipos por ele criados), elabora-se a hiptese
do criador artstico criado (um artista e a sua obra imaginados por um artista), realizada por Fernando Pessoa com os seus heternimos. Neste contexto,
Alberto Caeiro classificado como um ciclotmico pcnico: vive o real, acredita
nas coisas em si, sem se preocupar com o que deve pensar delas. Dos seus poemas
conclui-se que era dotado de uma sensibilidade redonda, de uma alegria calma,
sem complicaes intelectuais de aguada introspeco e em perfeito sintonismo
com a vida prtica. Caeiro deve ter sido, de todos os heternimos, o mais difcil
de realizar para Pessoa.
AC186. Valcarcel, Xulio. Caeiro, o Mestre. Fernando Pessoa. No centenrio. Sada, A Corua: Edicis do Castro, 1988. 35-39.
Alberto Caeiro um defensor radical da pessoa como individualidade: a
nica coisa que oferece em testamento so as datas de nascimento e morte, todos
os demais dias da sua vida lhe pertencem e, quanto ao que possa vir depois da
morte, apenas deseja, serenamente, o olvido.
AC187. Vieira, Monsenhor Primo. Fernando Pessoa e o hai-kai. Actas IV,
Vol. II. Porto: Fundao Eng. Antnio de Almeida, 1990. 181189. (Comun. ao IV C.I.E.P., Seco Brasileira, So Paulo, 27-30
Abril 1988).
Existe no Esplio de Fernando Pessoa uma folha avulsa com cinco tentativas
de composio de hai-kais, dos quais trs completos e um inacabado. atravs
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da sensibilidade potica de Alberto Caeiro que Fernando Pessoa atinge o verdadeiro esprito do hai-kai.
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AC188. Vouga, Vera. Pessoa: Versos, verso. Actas IV, Vol. II. Porto:
Fundao Eng. Antnio de Almeida, 1991. 401-422. (Comun. ao
IV C.I.E.P., Seco Brasileira, So Paulo, 27-30 Abril 1988).
Estudo das formas poticas de O Guardador de Rebanhos, como um dos pilares de afirmao definitiva do verso livre em Portugal, de fulgurante especificidade.
AC189. Waldman, Berta. Via de mo dupla. Actas IV, Vol. I. Porto:
Fundao Eng. Antnio de Almeida, 1990. 73-82. (Comun. ao IV
C.I.E.P., Seco Brasileira, So Paulo, 27-30 Abril 1988).
Geralmente lida como produto de um realismo sensualista e fenomenista, a poesia de Alberto Caeiro patina obsessivamente na propugnao da volta ao sensvel,
acenando para um projecto de coisificao da conscincia, de corporalizao do
sentido, de tal modo que a alma se revele corpo e o corpo, realidade exterior.
AC190. Yamaguchi, Tieko. Universo potico de Alberto Caeiro. So Jos do
Rio Preto, So Paulo: Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras,
1965.
Anlise da obra de Fernando Pessoa assinada por Alberto Caeiro, que
levanta ao leitor desprevenido uma srie de problemas que, no poucas vezes,
constitui uma barreira opaca quase imperceptvel, de que, na maioria dos
casos, no se apercebe. A poesia de Caeiro original tanto em relao ao passado como em relao aos seus prprios contemporneos.
3. Alberto Caeiro em traduo
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AC194. Sanyal, Rita e Banerjee Sanyal. Bis Sataker Portugese Kabita. Calcutta:
Kabitirtha, 1995. (O Guardador de Rebanhos, 1 poema).
BLGARO
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CASTELHANO
268
AC208. Guo Ping, Jin e Gonalo Xavier. Antologia potica de Fernando Pessoa.
Macau: Instituto Cultural de Macau, 1986. (Bilingue. O Guardador
de Rebanhos, 6 poemas; 5 outros poemas).
AC209. Weimin, Zhang. Fernando Pessoa. Antologia. Pequim: Instituto da
Literatura Estrangeira da Academia das Cincias Sociais da China,
1987. (O Guardador de Rebanhos, 5 poemas; 3 outros poemas).
AC210. . Antologia de Fernando Pessoa. Macau: Instituto Cultural de
Macau, 1988. (O Guardador de Rebanhos, 18 poemas; 11 outros
poemas).
CROATA
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ESTNIO
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AC228. Reis, Francisco da Costa e Yoram Bronowski. Fernando Pessoa. Kol halomot haolam. Jerusalm: Carmel, 1993. (O Guardador de Rebanhos,
20 poemas; 12 outros poemas).
HINDI
HOLANDS
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AC239. Honig, Edwin e Susan M. Brown. Poems of Fernando Pessoa. New York:
The Ecco Press, 1986. (2. ed., San Francisco: City Lights, 1998. O
Guardador de Rebanhos, 21 poemas; 4 outros poemas).
AC240. . The Keeper of Sheep by Fernando Pessoa. New York: The Sheep
Meadow Press, 1986. (Trad. integral de O Guardador de Rebanhos).
AC241. Jennings, Hubert D. Fernando Pessoa in Durban. Durban: Durban
Corporation, s.d. (1986). (O Guardador de Rebanhos, 12 poemas; 5
outros poemas).
AC242. Merton, Thomas. Fernando Pessoa. The Keeper of Flocks. Kentucky:
Abbey of Our Lady of Gethsemani, 1965. (Repr. in Fernando Pessoa.
Twelve poems from The Kepper of the Flocks, New Directions. Prose and
Poetry, 19. New York: New Directions, 1966; tambm in The Collected
Poems of Thomas Merton. New York: New Directions, 1977. (O
Guardador de Rebanhos, 12 poemas).
AC243. Monteiro, George. Fernando Pessoa. Self-Analysis and Thirty Other Poems.
Lisboa: Calouste Gulbenkian Foundation, 1988. (Bilingue. O
Guardador de Rebanhos, 2 poemas; 3 outros poemas).
AC244. Quintanilha, F.E.G. Fernando Pessoa. Sixty Portuguese Poems. Cardiff:
University of Wales Press, 1971. (Bilingue. O Guardador de Rebanhos,
2 poemas; 3 outros poemas).
AC245. Rickard, Peter. Fernando Pessoa. Selected Poems. Edburgh e Austin:
Edinburgh University Press, University of Texas Press, 1971. (Bilingue.
O Guardador de Rebanhos, 11 poemas).
AC246. Zenith, Richard. Fernando Pessoa & Co. New York: Grove Press, 1998.
(O Guardador de Rebanhos, 16 poemas; 21 outros poemas).
ITALIANO
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AC252. Briedis, Leons. Fernando Pessoa. Zudusais darz. Riga: Liesma, 1983.
(O Guardador de Rebanhos, 12 poemas; 5 outros poemas).
AC253. . Fernando Pessoa. Zudusais darz. Riga: Minerva, 1999. (O
Guardador de Rebanhos, 14 poemas; 7 outros poemas).
NORUEGUS
AC254. Dahl, Hening Kramer. Fernando Pessoa. Det er ikke meg jeg forestiller.
Oslo: Solum Forlag, 1988. (O Guardador de Rebanhos, 18 poemas).
ROMENO
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RUSSO
AC258. Lundgren, Arne. Fernando Pessoa. Ett diktarde. Estocolmo: Ny litteratur Futura Frlag, 1973. (O Guardador de Rebanhos, 3 poemas;
2 outros poemas).
AC259. Fernando Pessoa. Stilla, mitt hjrta. Lysekil: Fabians Frlag,
1988. (O Guardador de Rebanhos, 3 poemas; 2 outros poemas).
TURCO
AC260. Erguden, Isik. Fernando Pessoa. Sirlar cebri. Istanbul: Nisan Yaylari,
1995. (O Guardador de Rebanhos, 3 poemas).
VIETNAMITA
FRANCS
AC265. Deluy, Henri e outros. Action Potique. 104 (Vero 1986): 12-13,
20-22, 39-40. (9 poemas).
INGLS
pp. 171-191.
Repr. no seu Temas de Literatura Portuguesa. Lisboa: Moraes Editores, 1978. 133136 (traduo portuguesa de lvaro Salema).
4 Cabe a Pierre Hourcade a glria de ter sido o primeiro tradutor de Fernando Pessoa
para uma lngua estrangeira, com a publicao na revista marselheza Cahiers du Sud, em
Janeiro de 1933 (portanto, ainda em vida de Pessoa), dos poemas XIII, XLIII e XLIX de
O Guardador de Rebanhos, de Alberto Caeiro, do poema Apontamento de lvaro de
Campos e das duas ltimas estrofes do poema ortnimo O ltimo Sortilgio.
5 O texto de Hourcade foi quase todo ele reproduzido na revista Je suis partout (n.
28, 6 de Junho de 1931), sob o ttulo La jeune littrature portugaise. Na parte relativa
a Alberto Caeiro, o artigo reproduzido omite o ltimo perodo sobre o carcter filosfico
de O Guardador de Rebanhos.
6 Repr. no seu Temas de Literatura Portuguesa, pp. 129-133 (traduo portuguesa de
lvaro Salema).
7 Na mesma pgina e sob a epgrafe comum In Memoriam, Almada Negreiros
publicava o artigo Fernando Pessoa, poeta portugus.
8 Gaspar Simes enganava-se, pois, em dimenses, a Mensagem tem 44 poemas, contra os 39 de Alberto Caeiro publicados por Pessoa na Athena.
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9 A propsito do artigo de Castilho, Eduardo Loureno sublinha : a anlise e os conceitos que G. de C. utiliza para descrever a viso metafsica de Caeirode um Caeiro lido na
linha das suas afirmaesencontrar-se-, intacta, em todos os comentadores futuros que o reutilizam quase palavra a palavra, citando-o ocasionalmente (no seu Pessoa revisitado, 2.
ed., Lisboa: Moraes Editores. 1981. 191.
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Ibid. 165-179.
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