A Fortuna Crítica de Alberto Caeiro, José Blanco

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A fortuna crtica de Alberto Caeiro

Jos Blanco

1. Os pioneiros (1925-1946)

Alberto Caeiro (1889-1915) fez a sua primeira apario pblica (pstuma)


em Janeiro de 1925, nas pginas do n. 4 da revista Athena, em que
Fernando Pessoa publicou uma seleco de 23 poemas de O Guardador de
Rebanhos. No nmero seguinte, de Fevereiro, Pessoa revelaria 16 dos
Poemas Inconjuntos.
A primeira edio em livro da obra completa de Caeiro de Agosto de
1946, no terceiro volume das Obras Completas de Fernando Pessoa da tica.
Consideraremos, assim, como pioneiros caeirianos os autores que, at
1946, se debruaram sobre o autor de O Guardador de Rebanhos. So eles
Jos Rgio, Joo Gaspar Simes, Pierre Hourcade (em Frana e em
Portugal), Manuel Anselmo, Guilherme de Castilho, Charles-David Ley,
Adolfo Casais Monteiro, Ceclia Meireles (no Brasil), Vitorino Nemsio e
David Mouro-Ferreira.
no prprio ano da publicao dos poemas de Caeiro na Athena (1925)
que o nome de Caeiro publicamente citado, pela primeira vez, por outrem
que no Pessoa. Jos Rgio, na sua dissertao de licenciatura na Faculdade
de Letras da Universidade de Coimbra As Correntes e as Individualidades na
Moderna Poesia Portuguesa, publicada em Vila do Conde sob o seu verdadeiro nome Jos Maria dos Reis Pereira, refere-se a Fernando Pessoa como o
mais original, o mais completo e o mais poderoso dos nossos modernistas,
que inventou esses vrios pseudnimos com que vai revelando os vrios
aspectos da sua sensibilidade e as vrias atitudes do seu esprito. Rgio
sublinha que Pessoa se chama lvaro de Campos ou Alberto Caeiro quando
assina tentativas em que preferentemente revela o destrambelho da sua sensibilidade, o cansao da Metafsica ou da Razo, o seu apelo Intuio pura.1

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Em 1929, Joo Gaspar Simes publicava nas edies Presena, de


Coimbra, o seu primeiro livro de crtica literria, com o ttulo Temas, no qual
inclua o ensaio Fernando Pessoa.2 Nesta segunda referncia pblica obra
de Pessoa, Gaspar Simes (que termina o seu texto declarando profeticamente Fernando Pessoa , sem dvida, em Portugal, um escritor cuja obra s
dentro de vinte ou trinta anos ser, devidamente, admirada e compreendida!), refere-se questo da heteronmia, escrevendo: O sensualismo, o realismo, de lvaro de Campos, distingue-se, perfeitamente, do puro cerebralismo, do perfeito desumanismo esttico de Pessoa; como o puro esteticismo, o
helenismo, de Ricardo Reis, se distingue dum misto de realismo-intelectualismo-esteticismo de Alberto Caeiro, que o prprio Pessoa considera progenitor espiritual dos outros dois.
E, mais adiante, dedica especial ateno a Caeiro, em relao ao qual
comenta: a Alberto Caeiro pertence no deixar cair, excessivamente, lvaro
de Campos, no desgosto e na brutalidade da vida, e refrear a propenso gongorista de Ricardo Reisa sua tendncia a querer reduzir a poesia a um puro
valor de expressomostrando-lhe um pouco a inutilidade e a fragilidade da
nossa existncia. Alberto Caeiro , portanto, simultaneamente, o intelectualista Fernando Pessoa, o realista lvaro de Campos e o esteticista Ricardo
Reis. Alberto Caeiro a sntese que Fernando Pessoa evita refugiando-se na
sua pattica concepo desumanizadora da arte; na sua tristeza de emigrado
do mundo concreto.
No ano seguinte, em Junho de 1930, Alberto Caeiro surge em Frana,
pela pena de Pierre Hourcade. No seu clebre artigo Rencontre avec
Fernando Pessoa,3 Hourcade revela aos leitores franceses nas pginas do n.
3 da revista parisiense Contacts a figura desse poeta que nest pas un: il est
quatre. Fernando Pessoa, cest lvaro de Campos, mais cest aussi Alberto
Caeiro, cest encore Ricardo Reis, cest enfin, parfois, Fernando Pessoa. E
conta a histria destes quatro poetas, sublinhando que numa manh de
Maro de 1914 surgit dans un clair Alberto Caeiro. En ce nouvel avatar
sincarnait la conscience tueuse dillusions, le lyrisme dsesprment fort qui
arrache lhomme au romantisme de la nature humaine qui linvite et qui laime. Une glaciale tempte de lucidit valryenne soufflant en insistantes rafales la Pguy, emporta Caeiro comme il tait venu, tout en laissant pour traces de son passage une soixantaine des plus singuliers pomes, runis
notamment dans le Gardien de Troupeaux et les Pomes non-conjoints.
lvaro de Campos, du coup, se rveilla (...).

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Na parte final do seu histrico artigo, Pierre Hourcade no deixa de sublinhar que tanto o sauvage Campos como o humaniste Reis conservam la
mmoire et lempreinte dAlberto Caeiro, leur troublant pre dfunt.4
Nesse mesmo ano de 1930, Pierre Hourcade colaborava no Bulletin des
tudes Portugaises, do Instituto Francs em Portugal, com o artigo
Panorama du modernisme litraire au Portugal, que constituiu tambm
uma separata editada pela Imprensa da Universidade de Coimbra. Nesse
estudo fala de Alberto Caeiro, que, tal como lvaro de Campos, se souvient
peut-tre aussi des Feuilles dHerbe [de Walt Whitman], mais il a dpouill
dlibrment toute chaleur lyrique, martelant, en un retour incessant la
Pguy, la plus abstraite affirmation de solitude, le plus obstin dsir de ne
point humaniser lUnivers, de le dresser en face de la conscience comme une
muraille sans yeux et sans me. Laccent unique de la posie, philosophique
sans le vouloir, du Guardador de Rebanhos (Le Pasteur de troupeaux) atteint
un degr dintensit presque physique tout en dcrivant le drame de la conscience lucide qui se dvore elle-mme en refusant dtre dupe de la matire.5
Pierre Hourcade voltaria a referir-se a Alberto Caeiro no artigo que, em
Janeiro de 1933, publicou na revista Cahiers du Sud, sob o ttulo Littrature
Portugaise. Brve introduction Fernando Pessoa.6 A escreve que Caeiro
exactement lanti-symbolisme; cest lhomme contre lanthropomorphisme.
Toute la lucidit de la connaissance suse en lui dpouiller lunivers et le
vivant des prestiges de la mtaphore potique. Aucun panthisme abstrait,
aucun prjug philosophique nentre dans cette attitude. Qualificando a
obra de Caeiro como lamer breuvage que distille le berger sans troupeaux, Hourcade conclui que ramene sur le plan esthtique, cette tentative
est en somme un cong dfinitif signifi non sans rudesse toutes les gentillesses de lart symbolique et incantatoire. Tentative considrable, mais purement ngative.
Tal como Joo Gaspar Simes o havia feito, Manuel Anselmo reconhece
no seu Breve ensaio sobre a poesia portuguesa contempornea, datado de
Outubro de 1933 e includo na obra Solues Crticas editada pela
Universidade de Coimbra em 1934, o papel central do autor de O
Guardador de Rebanhos na potica de Fernando Pessoa. Manuel Anselmo
comea por opinar que o fundo lrico, tradicionalmente portugus, est
reduzido a um auxiliar da ambio dramtica de certos poetas contemporneos. Acima de tudo interessa-lhes a paisagem ntima, os seus gloriosos
monlogos de dvida e de renncia.

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Neste contexto, Fernando Pessoa, seguindo a bela esteira de Mrio de SCarneiro, seria um exemplo feliz se eu no conhecesse as suas diferentes personalidades poticas. Mas dentro de Fernando Pessoa, a-portas-a-dentro do seu
bratro trgico, o vulto donairoso de Alberto Caeiro promete-nos uma definio integral. Aos motivos genuinamente lricos so preferidos os gritos desiludidos de uma inteligncia assaltada de angstias.
Para Manuel Anselmo: Fernando Pessoa , acima de tudo, um conflito
entre Alberto Caeiro e as suas outras personalidades. Esse conflito tanto o pode
levar a um acto de irreflexo lrica (demonstra-o a formosa poesia O menino
da sua me), como o conduz a pginas cheias de complexidades e de torturas
nietszcheanas como as do Banqueiro Anarquista. Da no sabermos nunca
quando se evidencia em Fernando Pessoa o poeta, o artista, o filsofo, o cptico ou o desiludido. Portanto a sua poesia s pode interessar verdadeiramente os
poucos que pressintam em si afinidades com a angstia da sua inteligncia,
sempre fora das coisas e das emoes humanas.
O nome de Caeiro s volta a ser citado por ocasio da morte de Fernando
Pessoa. Joo Gaspar Simes, no seu artigo Fernando Pessoa, o poeta intemporal publicado no Suplemento Literrio do Dirio de Lisboa de 6 de Dezembro
de 1935,7 recordava que o poeta havia publicado em 1934 o pequeno livro de
poemas Mensagem. Pequeno livro, digo, (...) porque em face dos Poemas dos
Guardadores [sic] de Rebanhos, assinados por Alberto Caeiro e publicados na
revista Athena, esse volume , materialmente, pequenssimo (...).8
E, a terminar o seu texto, citava seis versos do famoso VIII Poema: Em
Portugal confunde-se humanidade com vulgaridade. Da a incompreenso que
sempre rodeou o poeta da Mensagem. Nele, talvez pela primeira vez em
Portugal, o nosso lirismo subiu de expresso primria a uma modalidade superior de expresso. O tempo dir se temos razo. E, entretanto, enquanto o tempo se no manifesta sobre um dos maiores escritores de Portugal, enquanto o
poeta Menino Jesus de todas as religiesFernando Pessoa acreditava racionalmente em todasa quem pedia:
Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criana, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.

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Pede-lhe que dispa o ser cansado e humano, enquanto o Menino Jesus o


despe, digamos ns com o poeta aqueles que o deixaram morrer como costumam morrer em Portugal os homens superiores:

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grandes homens do Momento!


grandes glrias a ferver
De quem a obscuridade foge!
Aproveitem sem pensamento!
Tratem da fama e do comer,
Que amanh dos loucos de hoje!

Em Julho de 1936, no n. 48 da revista Presena dedicado a Fernando


Pessoa, Guilherme de Castilho publica Alberto Caeiro. Ensaio de compreenso potica, a primeira anlise crtica da obra do autor de O Guardador
de Rebanhos. Neste texto clssico, que foi (e continua a ser) abundantemente citado pelos exegetas pessoanos,9 o objectivo de Castilho fazer uma
anlise puramente compreensiva do pensamento potico de Alberto Caeiro,
atravs de todas as posies quer explcitas quer implcitas na sua obra que
documentam a sua atitude fundamental perante a vida, perante o universo e
perante os valores. Restringindo o seu trabalho ao campo exclusivamente da
compreenso, reserva para objecto de um futuro estudo (nunca realizado) a
crtica valorativa e judicativa da obra de Alberto Caeiro.
Castilho sublinha que, embora se reduza materialmente a poucos poemas
(os publicados por Pessoa na Athena), a obra de Caeiro das mais vastas, talvez a mais vasta de toda a nossa literatura potica. Isto porque, nessas duas
breves coleces de poemas (...) encontramos nem mais nem menos que as
bases essenciais duma metafsica, duma esttica, duma teoria do conhecimento e at duma tica, duma religio e duma sociologia.
Poeta a quem falta a cultura, h em Caeiro uma grande parcela de positivismo, que ser o ponto de partida essencial para aquele esforo de que os
seus poemas so o resultado final. Todas as suas posies, quer perante a
Natureza, quer perante os valores ticos, sociolgicos ou estticos, so o resultado duma desumanizao extremista.
Partindo do primeiro verso do V poema de O Guardador de Rebanhos
(H metafsica bastante em no pensar em nada), verifica-se que, em termos metafsicos, Caeiro elimina o infinito, o transcendente, a inteno essencial, o mistrio das coisas, em resumo; a sua obra reflecte a negao de toda a

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cincia que no seja baseada no empirismo puro dos sentidos. Exclusivamente


sensualista, o seu extremo nominalismo leva-o at negao do prprio conceito de Natureza, que poder identificar-se com aquele flatus-vocis de que
j falava Roscelino.
Para Caeiro, inculto guardador de rebanhos que outra notcia no tem
do mundo seno aquela que ao seu conhecimento os sentidos lhe vo trazendo no seu contacto de todos os dias, a beleza o nome duma coisa que no
existe. O seu universo obedece ao auto-determinismo inconsciente em que
a explicao de cada fenmeno reside precisamente no facto de no ter explicao algumada, a negao de um Deus que transcenda o conhecimento
dos sentidos e a prpria Natureza.
Um prolongamento da atitude fundamental de Caeiro perante a vida e o
universo, revela-se claramente na posio que toma perante os valores ticos e
sociolgicos: o seu determinismo, utilitarista nas suas consequncias, d-lhe
uma viso optimista e tranquilizante da vida. Para Castilho, finalmente, a
posio de Caeiro pode chamar-se, sem paradoxo, egotismo humanitrio:
toda a infelicidade dos homens deriva do injustificado desejo de no nos contentarmos com o espao do cu que abrange o nosso olhar e a poro de terra
que pisam os nossos ps. Queremos saber se mais azul o cu que a este foi
dado contemplar ou se mais firme a terra que aquele pisa nos seus passos, eis
a origem de todo o mal, o ponto de partida de todas as desarmonias sociais.
Manuel Anselmo, noutro ensaio sobre a poesia de Fernando Pessoa, datado de Agosto de 1936 e publicado em 1937,10 analisa a concepo pessoana
do universo: Atravs da sua concepo de Deus, depreende-se que o Poeta
no catlico nem sequer cristo (...) Deus e o universo so, para Alberto
Caeiro, imagens afins (...) Afinal, para Fernando Pessoa, a vida , apenas, o
testemunho dos seus cinco sentidos, testemunho esse que a sua inteligncia
plasticizar e transcender. E Manuel Anselmo conclui que nesse genial
VIII Poema de O Guardador de Rebanhos que Pessoa, atravs de Caeiro,
confessa o seu racionalismo irreverente e sincero.
No volume Novos Temas. Ensaios de Literatura e Esttica, publicado em
Lisboa em 1938 pela Editorial Inqurito, Joo Gaspar Simes comenta, no
ensaio Fernando Pessoa e Paul Valry ou as afinidades ignoradas,11 que
Alberto Caeiro , de todos os heternimos de Fernando Pessoa (...) o mais
acessvel a uma verso estrangeira, acrescentando que a poesia de Campos,
Reis ou ortnima dificilmente resistiria, por muito virtual, mudana de lngua (161). No mesmo ensaio, salienta os pontos de contacto e as diferenas

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entre Caeiro, criao de Pessoa, e M. Teste, criao de Valry : A atitude positiva de Alberto Caeiro perante a natureza e a sua recusa em aceitar toda a concepo do transcendente assemelha-se ao cepticismo de Teste perante os absolutos, sejam eles do gnio ou da natureza. E se nenhum deles tinha livros e
para qualquer deles a natureza era a natureza, uma flor uma flor, h em Caeiro
um pantesmo amvel que contrasta com a secura e um desencanto agrestes de Teste (178). Para Gaspar Simes, a diferena fundamental entre Valry
e Pessoa reside em que Teste resume todo Valry. Alberto Caeiro resume uma
parte de Pessoa. Enquanto aquele s acreditava na fora da vontade intelectual,
este confiava nas foras totais da personalidade (...) (179).
No mesmo volume, noutro ensaio intitulado Fernando Pessoa e a gnese dos seus heternimos,12 Joo Gaspar Simes conclui, a propsito do dia
triunfal, que, atribuindo um nome a esse momento potico traduzido pelos
trinta e tal poemas escritos num xtase, Pessoa consolidava ao mesmo tempo os direitos da sua inteligncia e a faculdade de poder aproveitar as fontes
de inspirao inesperadamente reveladas. Alberto Caeiro serviria de etiqueta.
Para Simes, eis aqui o pastiche, a mistificao, a explorao consciente das
essncias misteriosas da inspirao (188-189).
Em abono das suas consideraes, Gaspar Simes cita um indito de
Pessoa sobre a utilizao da sensibilidade pela inteligncia, no qual o Poeta,
tomando como tema uma averso ntima pelo verde, trata-o poeticamente
por trs processos, o terceiro dos quais o de Alberto Caeiro: dar a cada
emoo ou sensao um prolongamento metafsico ou racional.
Tardavam os primeiros juzos valorativos da potica de Alberto Caeiro. S
em 1939, trs anos depois do ensaio pioneiro de Guilherme de Castilho, o
ingls Charles-David Ley publicou na Seara Nova um artigo intitulado
Introduo aos Poemas de Fernando Pessoa, no qual ousava afirmar no s
que Pessoa exprimiu qualquer coisa de muito essencialmente novo no s
em Portugal como na Europa mas que Ele seguramente o poeta mais
actual e mais vivo da Europa contempornea.
No seu artigo, Ley aborda a questo da heteronmia, acerca da qual opina:
Pessoalmente, se certo que me interessa a novidade psicolgica do facto, no
julgo que possa concordar com os heternimos de Pessoa, considerados como
experincia potica. E criticando a obra do primeiro deles, Alberto Caeiro,
escreve que este constantemente sacrifica, por exemplo, os efeitos poticos ao
afirmar da sua filosofia pessoal, ou, por outras palavras, o autor considera o
poder dramtico por detrs dessa filosofia suficiente para justificar o descurar a

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perfeio potica nos poemas. Isto, porm, no se d no poema mais longo


de Caeiro, o do Cristo Menino, que muito superior aos outros.13
Em Maio de 1942, a editorial Confluncia publicava a primeira antologia pessoana, com introduo e organizao de Adolfo Casais Monteiro.
Nela se reproduziam 10 poemas de O Guardador de Rebanhos e 4 dos
Poemas Inconjuntos.14 Como sabido, a obra foi retirada da circulao
por deciso judicial num processo movido pela tica, que ento preparava a
edio das Obras Completas de Fernando Pessoa, cujo primeiro volume foi
posto venda logo a seguir sada da antologia da Confluncia. Na sua
introduo, Casais Monteiro, ao tratar da questo da heteronmia, aventa a
hiptese de ela resultar da exigncia de um esprito de artista criador que no
ousaria ser em seu nome prprio o autor dos poemas de lvaro de Campos
ou da metafsica anti-metafsica de Caeiro. De qualquer modo, para Casais
Monteiro, h uma absoluta unanimidade entre Fernando Pessoa ele mesmo, lvaro de Campo, Alberto Caeiro e Ricardo Reis: a igual genialidade
das respectivas criaes.
Em 1944, no Rio de Janeiro, Ceclia Meireles publica a sua antologia
Poetas Novos de Portugal (Edies Dois Mundos), em cujo prefcio refere
Alberto Caeiro, mas apenas atravs de citaes do prprio Fernando Pessoa.
Vitorino Nemsio debruou-se pela primeira vez, em 1945, sobre a obra
de Fernando Pessoa, num artigo publicado no Dirio Popular sob o ttulo O
Sincero Fingido, que uma recenso (alargada) do volume de cartas de
Pessoa a Armando Crtes-Rodrigues, publicado nesse ano.
Nemsio avana neste artigo uma interpretao literria da heteronmia,
sustentando que os gneros e estilos em [que] cada um dos nomes usados
por Fernando Pessoa se exprimem, ajudam a fixar e a isolar, no tanto as suas
personalidades como as suas maneiras. Neste contexto, e em contraste com
o estilismo latinizante de Reis e o versilibrismo e o mecanicismo de lvaro de
Campos, a cloga e o verso livre conversado de Alberto Caeiro individuamno como um lrico metafsico e serenado.
No n. 4 da revista lisboeta Aqui e Alm..., publicado em Abril de 1946
ou seja, quatro meses antes de a tica publicar a primeira edio completa
dos Poemas de Alberto Caeiroum estudante de dezoito anos escrevia sobre
Caeiro. O artigo tinha por ttulo O caso de Alberto Caeiro e era seu autor
David Mouro-Ferreira.
O textoque o primeiro consagrado a Pessoa por algum da gerao do
jovem Autorcomeava com a afirmao desassombrada de que Alberto

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Caeiro, encarado sob um ponto de vista estticoou melhor: sob um ponto


de vista formal um poeta medocre. E como se parafraseasse o comentrio de Charles-David Ley, Mouro-Ferreira escreve: Nos versos de Alberto
Caeiro no h poesia; h constantes afirmaes da sua existncia; frequentes
definies da maneira de o poeta encarar a espantosa realidade das coisas,
porm a poesia no chega a existir. E se aqui e ali aflora, vem sobrecarregada
da preocupao de tudo querer afirmar e definir. Pode dizer-se, em resumo,
que toda a obra de Alberto Caeiro um manifesto de uma poesia, quase totalmente irrealizada. (Exceptuemos o Oitavo Poema do Guardador de
Rebanhossem dvida, o mais potico dos seus poemas).
David Mouro-Ferreira conclui coerentemente o seu ensaio afirmando:
Como personagem do drama mental de Fernando Pessoae assim que
devemos considerar todos os seus heternimos, Caeiro est absolutamente
certo e coerente, exprimindo-se como Pessoa desejou que ele se exprimisse: o
mal que essa expresso s muito raramente atinja significao potica. O
caso de Caeiro um exemplo do perigo de criar, no campo artstico, segundo uma atitude preconcebida ou um figurino previamente delineado.15
Tratados assim os autores pioneiros de bibliografia sobre Alberto Caeiro,
so a seguir apresentados os textos caeirianos posteriores a 1946, sob a forma
bibliogrfica clssica, ou seja, atravs de verbetes indexados pelo nome dos
respectivos autores.
A bibliografia tem carcter selectivo, referenciando, salvo algumas
excepes, os textos de que Alberto Caeiro o tema central, seno exclusivo.
Aos dados de carcter bibliogrfico de cada verbete acrescentam-se, em
itlico, no abstracts objectivos e completos, mas aquele ou aqueles pontos
que, num critrio pessoal necessariamente subjectivo, se nos afiguram mais
relevantes em cada texto.

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2. Cinquenta e dois anos de crtica (1946-1998)

Siglas utilizadas:
Actas I Actas do I Congresso Internacional de Estudos Pessoanos
Actas IV Actas do IV Congresso Internacional de Estudos Pessoanos
C.E.P.
Centro de Estudos Pessoanos
C.I.E.P. Congresso Internacional de Estudos Pessoanos
E.I.C.F.P. Encontro Internacional do Centenrio de Fernando Pessoa
J.U.C.F. Juventude Universitria Catlica Feminina
S.E.C.
Secretaria de Estado da Cultura
U.S.D.P. Um Sculo de Pessoa
AC1. Abelaira, Augusto. Sinceridade e falta de convices na obra de
Fernando Pessoa. Mundo Literrio 51 (26/4/1947).
Pessoa est ao abrigo daquilo a que Unamuno chamava a tirania das ideias:
tinha ideias, no era tido por elas. Mas como toda a regra tem excepo, casos h
em que Pessoa tido pelas ideiase isso na sua juventude e por sinal com aquele
que ser o maior dos poetas portugueses: Alberto Caeiro.
AC2. Almeida, Onsimo Teotnio. Sobre a mundividncia Zen de PessoaCaeiro (O interesse de Thomas Merton e D.T. Suzuki). Nova
Renascena VI, 22 (Primavera 1986): 146-152.
A partir das cartas de Thomas Merton, revela-se a origem do seu interesse
pela poesia de Alberto Caeiro, na qual encontrou uma forte influncia Zen.
Merton conheceu Pessoa pela traduo em castelhano de Octavio Paz e teve acesso obra pessoana em portugus atravs da Irm M. Emmanuel de Sousa e Silva,
uma religiosa brasileira que era sua tradutora no Brasil. Merton tambm se
correspondeu sobre a poesia de Caeiro com o Mestre Zen Daisetz Suzuki e com o
Prof. Hiromu Morishita.
AC3. Alvarenga, Fernando. Do Paulismo ao Interseccionismo: O encontro
com a arte da Europa. Actas IV, Vol. I. Porto: Fundao Eng.
Antnio de Almeida, 1990. 229-235. (Comun. ao IV C.I.E.P., Seco
Brasileira, So Paulo, 27-30 Abril 1988).
Tanto nos poemas de Alberto Caeiro como no poema ortnimo Chuva
Oblqua estabelecem-se participativamente duas correntes artsticas de cunho
europeu, cada qual com a sua plasticidade prpria: o Impressionismo e o
Futurismo, que assim fazem a sua entrada na arte literria portuguesa.

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AC4. . O hedonismo impressionista de Alberto Caeiro segundo


Ricardo Reis. U.S.D.P. Lisboa: S.E.C., 1990. 105-108. (Comun.
ao E.I.C.F.P., Lisboa, 5-7 Dezembro 1988).
Verificao, em Ricardo Reis, de uma conscincia das vertentes impression
istas de Alberto Caeiro. Este , fundamentalmente, aquilo que Reis lhe detecta:
um poeta dirigido pelo pensamento de um filsofo-esteta.

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AC5. Anastasa, Lus Vctor. Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. Pensamiento


esttico, potico, histrico y poltico. Montevideu: El Hilo en lo
Labirinto, 1996. 245-253.
Parfrase de O Guardador de Rebanhos e dos Poemas Inconjuntos.
AC6. Ann. Alberto Caeiro completo em livro organizado por Teresa Sobral
Cunha. O Mestre em corpo inteiro. JL.Jornal de Letras, Artes e Ideias
601 (3/1/1994): 8.
Notcia da publicao de Fernando Pessoa. Poemas Completos de Alberto
Caeiro. Recolha, transcrio e notas de Teresa Sobral Cunha, acompanhada de
dois poemas inditos e de um texto parcialmente indito de Ricardo Reis sobre a
obra de Caeiro.
AC7. Azevedo, Maria Teresa Schiappa de. Fernando Pessoa e o nome das flores: o girassol e o malmequer. Cadernos de Literatura 21 (1985): 50-66.
No mbito prprio que, no espao vivido da Natureza, a flor ocupa em Pessoa,
estudam-se, como flores da circularidade e da identidade, o malmequer (presente nos poemas ortnimos) e o girassol (na obra de Alberto Caeiro). Ver,
olhar, fitar e o correlativo pasmo essencial, que a pretendida inocncia de
Caeiro lhe associa, gravitam na rbita semntica do girassol, flor entre todas
amada por Pessoa, que desperta e traz para a luz todas as formas e foras vivas
da sua poesia.
AC8. Azevedo Filho, Leodegrio de. As vrias dimenses de poesia de
Fernando Pessoa. Fernando Pessoa. Estudos crticos. Joo Pessoa:
Associao de Estudos Portugueses Hernni Cidade, Universidade
Federal da Paraba 1985. 92-100. (Repr. sob o ttulo Fernando Pessoa
e suas dimenses poticas no seu Literatura portuguesa-Histria e
emergncia do novo. Rio de Janeiro: Edies Tempo Brasileiro e
Universidade Federal Fluminense, 1997. 102-117).

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Em termos de predominncia, na poesia de Alberto Caeiro a linguagem fazse em base metonmica, nela se inserindo algumas vezes a metfora. A potica
pessoana pode descrever-se como um losango, de que Caeiro o centro das
reaces opostas de Reis (tese) e de Campos (anttese) e Fernando Pessoa ele-mesmo a sntese.
AC9. Balso, Judith. Les pessoas-livros. La Politique des Potes. Paris: Albin
Michel, 1992. 161-214.
Alberto Caeiro interrompe, do interior da poesia, la vocation de celle-ci
lauroral de la Prsence, ou la nostalgie de son retrait. O conjunto de O
Guardador de Rebanhos determina a travessia do poeta que tem como objectivo
tre moi, non pas Alberto Caeiro, mais un animal humain que la Nature a produit. Alberto Caeiro est ainsi finalement le nom de celui qui sefforce de ntre pas
Alberto Caeiro. Conclui-se que il est dcisif quil y ait un tel pote; et non que
la posie soit cela. a dupla ruptura na prpria poesia, aparecida com Caeiro
e por ele realizada, que lhe assegura a posio de Mestre na constelao heteronmica.
AC10. Bandeira, Manuel. Os Vrios Fernando Pessoa. Andorinha, andorinha em Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Editora Nova
Aguilar, 1977. 691.
O Autor confessa que prefere a obra ortnima dos heternimos. Entre estes
destaca Alberto Caeiro, talvez porque nele se encontra muito de Fernando
Pessoa.
AC11. Barros, Helena. O Paganismo-Zen em Alberto Caeiro. Nova Renascena IV, 15 (Vero 1984): 256-268.
Falar de Zen e Paganismo em Alberto Caeiro demonstrar que a relao entre
ambos legtima e no um puro acaso. Depois de estudar o lugar que o Zen ocupa em
relao ao Budismo e ao Paganismo, estudam-se os aspectos Zen da poesia de Caeiro
que, como convm a um Mestre-Zen, fala com simplicidade e clareza, dando-nos a
entender que o Zen nasce onde morre o pensamento.
AC12. Beck, Andrs. Kltk, szavak, dolgok. let s Irodalom (1 Maio
1998).
Recenso crtica da nova edio da antologia Ez a rgi szorongs (Esta
velha angstia). O Autor analisa a poesia de Alberto Caeiro, cujo pensa-

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mento compara ao do filsofo idealista irlands George Berkeley (inf. de


Ferenc Pl).

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AC13. Belchior, Maria de Lourdes. Ntula sobre o poema XIX de Alberto


Caeiro e a problemtica da heteronmia. Colquio-Letras 88
(Novembro 1985): 61-65
Na economia dos heternimos, Caeiro representar o poeta sem corao
(como o fez notar Jos Martins Garcia). Mas no XIX Poema de O
Guardador de Rebanhos lateja, pungente, a dor: como explicar a contida
emoo deste texto, se Caeiro, por sistema, no se comove? A atribuio deste
poema a Caeiro no pode deixar de causar estranheza. Havendo nele uma
nostalgia da infncia, talvez que nessa perspectiva se possa aproximar de
lvaro de Campos. A Autora conclui que pelo menos alguns poemas de Caeiro
podem ser atribudos a outros heternimos de Pessoa: a engenhosa construo
que a esplendorosa esquizofrenia pessoana arquitectou no rigorosamente
lgica.
AC14. Berardinelli, Cleonice. Pessoa e seus fantasmas. Actas I. Porto,
Braslia Editora: Fundao Eng. Antnio de Almeida, 1979. 187198. (Comun. ao I C.I.E.P., Porto, 3-5 de Abril de 1978).
O pacto autobiogrfico, tal como o define Philippe Lejeune, existe, patente
e vrias vezes afirmado, em lvaro de Campos; uma nica vez, patente, em
Caeiro; e uma vez, implcito, em Ricardo Reis. No existe, porm, na poesia ortnima. No caso de Fernando Pessoa trata-se de um pacto fantasmtico, atravs
do qual se revela, no apenas o indivduo mas o ser divduo em mltiplos eus,
complementares e at contraditrios.
AC15. . Mestre, meu Mestre querido! Miscelnea de estudos lingusticos, filolgicos e literrios. In Memoriam Celso Cunha. Rio de
Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1995. 777-788.
A partir de quatro poemas de lvaro de Campos encontrados no Esplio, que
podem aceitar-se como endereados a Alberto Caeiro e inspirados, talvez, na sua morte, estudam-se as relaes de Mestre e Discpulo entre os dois heternimos.
AC16. Bernardes, Diana. Alberto Caeiro. Subsdios para um estudo estilstico da sintaxe em seus poemas. Cadernos da PUC 1 Pontificia
Universidade Catlica do Rio de Janeiro (Agosto 1969): 41-60.

214

PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

Enfoque didctico ao estudo das principais estruturas da poesia de Alberto


Caeiro.
AC17. Berrini, Beatriz. O Paganismo de Pessoa. Ea e Pessoa. Lisboa: A
Regra do Jogo, 1985. 53-103.
O frescor natural que a poesia de Caeiro irradia leva irresistivelmente a
Autora a pensar em A Cidade e as Serras, de Ea de Queiroz. Tal como Caeiro,
Jacinto achega-se Natureza para lhe aspirar a lio de naturalidade, de concretismo, de ausncia de reflexo natural abstracta.
AC18. .As viagens do viajante poeta Fernando Pessoa.ActasIV, Vol.
I. Porto: Fundao Eng. Antnio de Almeida, 1990. 49-71.
(Comun. ao IV C.I.E.P., Seco Brasileira, So Paulo, 27-30 Abril
1988).
Podendo fazer-se a partir de qualquer tema a caracterizao e diferenciao
entre ortnimo e heternimos, definem-se as respectivas singularidades a partir
do foco Viagem. Caeiro apenas se desloca da cidade para o campo, j que a
natureza lhe oferece os percursos do conhecimento que lhe interessam.
AC19. Bosquet, Alain. Fernando Pessoa ou les dlices du doute. Verbe et
vertige. Situations de la posie. Paris: Hachette, 1961. 174-185.
Alberto Caeiro un mystique du scepticisme; os conceitos e as filosofias
irritam-no soberanamente, precipitando-o nas trevas, l o les partis pris pourraient le dchiqueter. o nico poeta que soube exprimir com tanta convico
cette prodigieuse douceur de la mcrance, cette unique tendresse du doute.
Sorrindo, para no parecer trgico, Caeiro toujours lucide, toujours prt se
dsavouer et remettre en causes ses propres lans, accde une puissance mystique de la dmystification; de surcrot, cest par le raisonnement ennemi de la
raison quil peut revenir vers une navet originelle.
AC20. Brchon, Robert. Matre Caeiro et le paganisme (1914-1915).
trange tranger. Une biographie de Fernando Pessoa. Paris: Christian
Bourgois, 1996. 215-227. (Repr. em trad. portuguesa de Maria
Abreu e Pedro Tamen sob o ttulo O Mestre Caeiro e o
Paganismo 1914-1915, no seu Estranho estrangeiro. Uma biografia
de Fernando Pessoa. Lisboa: Quetzal Editores, Crculo de Leitores,
1997. 225-237).

PESSOAS ALBERTO CAEIRO FALL 1999

215

Caeiro o heternimo mais radicalmente diferente do Pessoa-autor e do


Pessoa-homem. Podemos sentir-nos repelidos por esta poesia que recusa todos
os atributos habituais do gnero: , todavia, na prosa dos versos de Caeiro que
melhor apreendemos o que faz a essncia do gnio pessoano. O Guardador de
Rebanhos, defesa e ilustrao de uma nova via para atingir o real atravs de
uma viso depurada das coisas, antes de mais um manual que lhes permite
desfazerem-se de toda a espiritualidade. O maior paradoxo desta poesia o de
ser apenas a glosa de si prpria: excluindo em princpio a metfora, ela metafrica de uma ponta outra. Em parte alguma Caeiro se refere explicitamente
ao paganismo da Antiguidade; mas mais tarde, volta da sua obra, constituise o Neo-paganismo portugus, defendido por Ricardo Reis e por Antnio
Mora. O VIII Poema de O Guardador de Rebanhos destoa na obra de Caeiro
pelo seu tom provocador que, sendo tipicamente ibrico, nem por isso deixa de
ser de uma fleuma algo britnica.

JOS BLANCO

AC21. Carreo, Antonio. Alberto Caeiro: O Guardador de Rebanhos, La


dialctica de la identidad en la poesa contempornea. Madrid: Editorial Gredos, 1982. 104-108.
Estuda-se la visin totalizadora y esttica que surge da alma do
Guardador de Rebanhos, em cujo processo artstico lo esquemtico de su
pensamiento (...) el tono aforstico de sus enunciados (...) implican una actividad mental, depurada de la percepcin sensitiva. Seria fcil associar a concepo materialista da esttica de Caeiro com certos aspectos da lrica de
Gabriel Celaya, uma e outra caracterizadas por un lenguage coloquial y sentencioso a la vez; ambos rehyen la especulacin filosfica; ambos se atienen a
las cosas como son.
AC22. Castro, Ivo. Para o texto de O Guardador de Rebanhos. Critique
textuelle portugaise. Paris: Fondation Calouste Gulbenkian, Centre
Culturel Portugais, 1981. 319-328. (Comunicao apresentada ao
colquio com o mesmo ttulo, realizado em 20-24 Outubro 1981.
Repr. fundido com o ensaio Para a edio de O Guardador de
Rebanhos, Afecto s Letras, Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da
Moeda, 1984. 253-258, sob o ttulo Para uma edio de O
Guardador de Rebanhos (v.) no seu Editar Pessoa. Lisboa: Imprensa
Nacional/Casa da Moeda, 1990. 47-61).

216

PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

AC23. . O corpus de O Guardador de Rebanhos depositado na


Biblioteca Nacional. Revista da Biblioteca Nacional 2,1 (1982): 4761. (Repr. no seu Editar Pessoa. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da
Moeda, 1990. 71-89).
A inteno do Autor no pronunciar-se categoricamente sobre a veracidade
do dia triunfal, mas apenas apresentar e descrever o corpus, produzido pela mo
de Pessoa, do ciclo O Guardador de Rebanhos. A anlise filolgica a que procede, se o leva a ter a razovel dvida de que os poemas pudessem ter sido escritos
em 8 de Maro de 1914 nas circunstncias narradas a Casais Monteiro, f-lo
adquirir a certeza absoluta de que eles no podem ter nascido limpos e safos:
os manuscritos revelam, antes, uma longa gestao, revelando tais mudanas de
forma e de sentido que apetece perguntar se alguns deles tero desde o incio sido
de Caeiro ou, pelo contrrio, no tero sido posteriormente adaptados para se conformarem com a sua voz.
AC24. . Para a edio de O Guardador de Rebanhos. Afecto s
Letras. Homenagem da Literatura Portuguesa Contempornea a Jacinto
do Prado Coelho. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1984.
253-258. (Repr. fundido com o ensaio Para o texto de O
Guardador de Rebanhos, Critique textuelle portugaise. Paris:
Fondation Calouste Gulbenkian, Centre Culturel Portugais, 1981.
319-328, sob o ttulo Para uma edio de O Guardador de
Rebanhos (v.), no seu Editar Pessoa. Lisboa: Imprensa Nacional/
Casa da Moeda, 1990. 63-70).
AC25. . Apresentao. Fernando Pessoa. O manuscrito de O
Guardador de Rebanhos de Alberto Caeiro. Edio crtica. Lisboa:
Publicaes Dom Quixote, 1986. 7-22. (Excerto repr. sob o ttulo O
manuscrito de O Guardador de Rebanhos, no seu Editar Pessoa.
Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1990. 91-102).
Apresentao e justificao do tratamento filolgico dado ao manuscrito de O
Guardador de Rebanho que, depois de ter estado na posse de particulares, se
encontra desde 1990 na Biblioteca Nacional de Lisboa. A anlise filolgica realizada permite reconstituir a gnese do texto, atravs do estabelecimento da cronologia relativa dos estados sucessivos de redaco e emenda, provando ser provvel que apenas dezanove poemas tenham sido escritos em uma nica sesso: ser
esse o acontecimento mais assimilvel ao dia triunfal descrito por Pessoa a

PESSOAS ALBERTO CAEIRO FALL 1999

217

Casais Monteiro. A edio tica em 1946, que inicia a tradio editorial de O Guardador de Rebanhos e se tornou a sua vulgata, revela-se defeituosa em muitos aspectos, que o Autor, utilizando o critrio da ltima lio conhecida e no recusada pelo autor, corrige em mais de oitenta versos. Apresenta-se
no final o novo texto crtico.

JOS BLANCO

AC26. . Apresentao da edio crtica do O Guardador de


Rebanhos. Littrature latino-amricaine et des Carabes du XXe Sicle. Thorie
et pratique de ldition critique. N.p.: n.p., 1988. 221-226.
Depois de descrever o corpus de O Guardador de Rebanho que se encontra na Biblioteca Nacional de Lisboa, explica-se o mtodo seguido na respectiva edio crtica, em que se procurou sistematicamente determinar qual a
lio mais recente que os textos revelam e que foi a publicada. Os critrios
adoptados so o da anlise estratigrfica dos manuscritos e o do estabelecimento da data relativa das diversas lies atravs da anlise da sua topografia
dentro da pgina. Pessoalmente, o Autor levado a crer que Alberto Caeiro,
longe de ser o autor do ciclo, ele mesmo uma sua criao, tendo sido inventado para assumir, em vez de Pessoa, os caminhos novos que a reviso do texto a
partir de certa altura abriu.
AC27. . Para uma edio de O Guardador de Rebanhos. Editar
Pessoa. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1990. 63-70.
(Fuso dos ensaios Para o texto de O Guardador de Rebanhos e
Para a edio de O Guardador de Rebanhos v.).
A edio tica, que constitui a vulgata de parte substancial da obra publicada de Fernando Pessoa, fica a grande distncia da verso que lcito depreender
dos manuscritos do Poeta. Abundando as provas de que ele submeteu o texto de
O Guardador de Rebanhos a numerosas e aprofundadas revises, haver que
apurar qual dessas revises foi a ltima, para a adoptar numa edio crtica e
para dispor todas as restantes no aparato. Descreve-se o mtodo seguido na reconstituio do manuscrito integral de O Guardador de Rebanhos entrado no
Esplio em 1990. Com base nos princpios da cronologia relativa e da topografia
das revises feitas por Pessoa, apresentam-se exemplos dos resultados obtidos no
VIII poema do ciclo.
AC28. . A casa a meio do outeiro. Actas IV, Vol. I. Porto: Fundao
Eng. Antnio de Almeida, 1990. 343-349. (Comun. ao IV

218

PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

C.I.E.P., Seco Brasileira, So Paulo, 27-30 Abril 1988. Repr. no seu Editar
Pessoa. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1990. 111-116).
Aplicando o critrio segundo o qual pode atribuir-se mais autoridade a um
manuscrito desde que se prove que ele posterior, ou sofreu emendas posteriores,
do que a um impresso autoral, a edio crtica do poema XXX de O Guardador
de Rebanhos dever seguir a lio manuscrita de Fernando Pessoa e no a
impressa na Athena.
AC29. . Editar Pessoa. Edio crtica de Fernando Pessoa. Coleco
Estudos Vol. I. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1990.
(Inclui: Para uma edio de O Guardador de Rebanhos, O cor
pus de O Guardador de Rebanhos depositado na Biblioteca Nacional, O manuscrito de O Guardador de Rebanhos,
Apresentao da edio crtica do Guardador de Rebanhos e A
casa a meio do outeiro).
AC30. . Ivo Castro: sem comentrios. Pblico (8 Maro 1994).
A propsito das declaraes de Teresa Sobral Cunha sobre a edio crtica da
Equipa Pessoa (v. Sou pelo dia triunfal!), Ivo Castro declara : H bastante
tempo que deixei de fazer qualquer tipo de comentrios pblicos sobre declaraes
desta natureza de Teresa Sobral Cunha. Ivo Castro considera normal que duas
edies do mesmo texto tenham resultados diferentes se forem feitas com critrios
diferentes.
AC31. . O poema XXI de O Guardador de Rebanhos, de Alberto
Caeiro. Cleonice, clara em sua gerao. Rio de Janeiro: Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Editora UFRJ, 1995. 203-206.
Gnese do poema XXI de O Guardador de Rebanhos, verificandose que o
seu ltimo verso passou nas mos de Fernando Pessoa por cinco verses sucessivas,
das quais a edio tica publicou a terceira.
AC32. Cattaneo, Carlo Vittorio. Um poema blasfemo de Fernando Pessoa. ColquioLetras 50 (7/1979): 9-21. (Repr. in Modernismo e
Vanguarda. Cadernos da ColquioLetras, 2, Lisboa: Fundao Calouste Gulbenkian, 1984. 73-87).

PESSOAS ALBERTO CAEIRO FALL 1999

219

primeira vista, o to declaradamente blasfemo VIII Poema de O Guardador de Rebanhos pode parecer um jogo to gratuito quanto de mau gosto. Se, no
entanto, o compararmos com outras obras, tericas ou no, do Pessoa ortnimo e
dos heternimos, especialmente Antnio Mora, cujos textos se analisam, o aspecto
blasfemo assume funcionalidade, parecendo sobretudo motivado pelos pressupostos
tericos do Neopaganismo.

JOS BLANCO

AC33. Ceia, Carlos. No centro de Seja o que for que esteja no centro do
mundo de Alberto Caeiro. De punho cerrado. Lisboa: Edies Cosmos, 1997. 199-208.
O poema de Alberto Caeiro pretende demonstrar que falaciosa a percepo
interna ou conhecimento que o sujeito possui dos seus estados e dos seus actos atravs da conscincia: no podemos estabelecer uma analogia artificial entre o conhecimento da alma por si prpria e o que retm dos objectos materiais situados no
espao.
AC34. . Que metafsica tm aquelas rvores? Uma leitura do poema
V de O Guardador de Rebanhos de Alberto Caeiro. De punho cerrado. Lisboa: Edies Cosmos, 1997. 219-233.
Toda a poesia de Alberto Caeiro nega o estatuto de poetafilsofo que Fernando Pessoa fez corresponder ao seu mestre nos textos tericos que lhe consagrou: o
pensamento metafsico de Caeiro justificase pela entificao do ser e pela participao do Poeta como Outro no ser entificado.
AC35. Centeno, Yvette K. Fernando Pessoa: os Santos Populares e a Utopia
da Criana Eterna. Portugal. Mitos revisitados. Lisboa: Edies Salamandra, 1993. 253-285. (Repr. sob o ttulo Tradio Popular e Hermetismo in Fernando Pessoa, Os Santos Populares. Ilustraes de Almada Negreiros e Eduardo Viana. Lisboa: Casa Fernando Pessoa e
Edies Salamandra, 1994. 3-15).
Estudo dos poemas Santo Antnio, So Joo e So Pedro, escritos por Fernando Pessoa em 9 de Junho de 1935, que no so para ler e esquecer com ligeireza,
antes representam, cada um na sua esfera e sua maneira e num plano esotrico, o
triplo rosto de um universo coeso: o do entendimento da humana matria (figurado
em Santo Antnio), o da sublimao dessa mesma matria (figurado em So Joo) e
o da chave para todo o processo inicitico (figurado em So Pedro). Aproximando-

220

PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

se o primeiro poema do VIII poema de O Guardador de Rebanhos, concluise que


a utopia da Eterna Criana como pulso de vida e modelo a seguir, uma das foras condutoras da obra de Pessoa.
AC36. Chu, Dim. [Introduo]. Fernando Pessoa. Ngui Chan Giu Dn
Th. V nhung bi tho khc cua Alberto Caeiro. Trnh By, 1992.
Apresentao da traduo vietnamita dos poemas de Alberto Caeiro.
AC37. Coelho, Antnio Pina. O objectivismo absoluto de Caeiro. Os fundamentos filosficos da obra de Fernando Pessoa. Lisboa: Verbo, 1971.
Vol. II, 288-231 .
A tese fundamental de Alberto Caeiro, verdadeiramente revolucionria, porque profundamente vivida, que Tudo o que no , no o que eu penso. Analisamse os poemas de Caeiro nesta perspectiva, para concluir que o elogio que
Pessoa tece ao seu heternimo, considerando perfeitamente definida a teoria caeiriana do objectivismo absoluto, francamente exagerado: Caeiro mostrase em
muitos passos incoerente. A sua aventura, de uma generosidade que fracassou em
ambio, deixou ainda mais vivo o problema e o homem mais inquieto: ser possvel uma viso pura das coisas? possvel haver cincia sem conscincia? e poder o homem conhecer qualquer coisa?
AC38. Coelho, Jacinto do Prado. Alberto Caeiro. Diversidade e unidade
em Fernando Pessoa. Lisboa: Revista Ocidente, 1949. 11-17 (9. ed.,
Lisboa: Editorial Verbo, 1987. 23-32).
H dois Caeiros, o poeta e o pensador, sendo o primeiro que em teoria se desdobra no segundo. O paradoxo da sua poesia comea no facto de ser autor de poemas. O seu estilo pobre de vocabulrio, incolor e discursivo, dele se induzindo
que em Caeiro o pensador suplanta o poeta. Segundo a imagem que d dele prprio, Caeiro assemelhase extraordinariamente ao homem descrito por Valry: vive de impresses, sobretudo visuais, e goza em cada impresso o seu contedo original. Estudase a potica de Caeiro em comparao e contraste com a de Pessoa
elemesmo e as dos outros heternimos.
AC39. . Pessoa, Fernando Antnio Nogueira. Dicionrio das literaturas portuguesa, galega e brasileira. Porto: Livraria Figueirinhas, 1960.
605-609.
Caeiro, pretenso mestre de Reis e Campos, surge como um homem de viso

PESSOAS ALBERTO CAEIRO FALL 1999

221

ingnua, instintiva, gostosamente entregue infinita variedade das sensaes. Todavia, os seus poemas so abstractos, incolores, porque para ele o real a prpria
exterioridade, no devendo seremlhe acrescentadas as impresses subjectivas; a
posio de Caeiro, mais do que antimetafsica, contrria interpretao do
real pela inteligncia, pois essa interpretao reduz as coisas a simples conceitos
vazios.

JOS BLANCO

AC40. . O cansao da razo: de Rousseau a Alberto Caeiro. Ao con


trrio de Penlope. Lisboa: Bertrand, 1976. 249-254.
Rousseau e Pessoa so personalidades e mundos mentais afastados, aparentemente sem qualquer ponto comum; no entanto, como expoente da Modernidade,
o autor mltiplo (Pessoa) algo dever ao iniciador (Rousseau). Do cansao da razo disperso, fragmentao psquica, vai um caminho seguido, que se analisa sobretudo vista da obra de Alberto Caeiro. Este, personagem de fico oposta
a Rousseau, homem de carne e osso, vale como expresso literria das tenses e ansiedades que agitam o homem moderno.
AC41. Colombini, Dulio. A conscincia crtica e(m) Caeiro. Boletim Informativo 2. s., 14. Centro de Estudos Portugueses, Universidade de
So Paulo (1984): 35-58.
Utilizando um enfoque filosfico, analisase a poesia de Caeiro, sublinhando
que ele tem conscincia crtica do seu processo potico, do qual emergem todas as
dificuldades, inclundo a necessidade de justificar exaustivamente os pontos de vista, sobrecarregando o discurso de expresses e torneios explicativos.
AC42. Costa, Dalila Pereira da. A Viso da Natureza em Fernando Pessoa.
Persona 1 (Novembro 1977): 39-49.
Atravs da poesia de Alberto Caeiro, Fernando Pessoa demonstra ter sido consciente de uma nova e decisiva viso da natureza aberta ao pensamento portugus
e ocidental moderno.
AC43. Crespo, ngel. Prlogo. Fernando Pessoa. Poemas de Alberto Caeiro.
Madrid: Ediciones Rialp, 1957. 9-18.
Os heternimos pessoanos no so um mero jogo mas algo de fundamental para compreender a obra de Fernando Pessoa. Neste contexto, justificase
a traduo de trinta e quatro poemas de Caeiro (e apenas dele), no s com
o intuito de dar a conhecer aos leitores espanhis, com certa amplitude, uma das fa-

222

PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

cetas de Pessoa, mas tambm devido clara preferncia que o criador dos heternimos sempre demonstrou pelo autor de O Guardador de Rebanhos.
AC44. . Alberto Caeiro, clau de lheteronmia pessoana. Fernando
Pessoa. Pomes dAlberto Caeiro. Barcelona: Edicions del Mall ,
1986. 9-22.
No h dvida que a poesia de Caeiro a mais original da produo lrica de
Fernando Pessoa e, para alm disso, uma das mais originais do nosso tempo. Por estar consciente disso, Fernando Pessoa converteu Caeiro, anos depois de ter escrito os
poemas que acabou por datar de 8 de Maro de 1914, no centro do drama em gente, ou seja, no anunciado SupraCames.
AC45. . Alberto Caeiro i la nova revelaci. Aspects actuels de lobra de
Fernando Pessoa. Barcelona: Fundaci Caixa de Pensions, 1988. 11-28.
(Trad. de Joaquim SalaSanahuja. Repr. em castelhano sob o ttulo Alberto Caeiro o la nueva revelacin, no seu Con Fernando Pessoa. Madrid: Huerga & Fierro, Col. La Rama Dorada, 1995. 111-134).
Investigase qual o sentido unitrio (se que existe) dos originais publicados em
vida por Fernando Pessoa, que relao tm esses textos com os inditos que deixou e
que papel desempenham neste conjunto de prosa e verso a figura e a obra de Alberto Caeiro, o criador mais original da lrica pessoana.
AC46. . El drama em gente. Plural como el universo. La gnesis de los
heternimos. El maestro Caeiro. La vida plural de Fernando Pessoa.
Barcelona: Seix Barral. 1988. 129-137. (Repr. em trad. portuguesa de
Jos Viale Moutinho no seu A vida plural de Fernando Pessoa. Lisboa:
Bertrand Editora. 1990; em trad. italiana de Brunello de Cusatis no seu
La vita plurale di Fernando Pessoa. Roma: Antonio Pellicano Editore.
1997; e em trad. alem de Frank HenseleitLucke no seu Fernando Pessoa. Das Vervielfltigte Leben. Eine Biographie. Zurique: Ammann Verlag. 1996).
A extrema lucidez de Fernando Pessoa permitiulhe comprender sin tardanza,
una vez que se le hubo revelado, que Caeiro haba echado, con su obra potica, los
cimientos de un nuevo paganismo cuyo espritu era anterior, por su simplicidad e
ingenuidad, al clasicismo grecorromano. A atitude de Caeiro analisada luz dos
textos que sobre ele escreveram lvaro de Campos, Ricardo Reis e Antnio Mora.
AC47. CuervoHewitt, Julia. Metafsica da negao: A negao da metafsica

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na poesia de Alberto Caeiro. Actas IV, Vol. I. Porto: Fundao Eng. Antnio de Almeida, 1990. 463-477. (Comun. ao IV C.I.E.P., Seco Brasileira, So Paulo, 27-30 Abril 1988).
De uma perspectiva crtica psmodernista, possvel ler hoje a obra de Alberto
Caeiro no s como a de um mestre, mas tambm como a de um profeta esttico. Dessa perspectiva, Caeiro um espao vazio, um centro sem centro na potica pessoana:
sombra e referente (ausente) para os outros heternimos.

JOS BLANCO

AC48. Cunha, Teresa Sobral. Planos e projectos editoriais de Fernando Pessoa:


Uma velha questo. Revista da Biblioteca Nacional 2, 3, 1 (1987): 93107.
A Autora anuncia que est a inventariar e a reunir todo o material existente no
Esplio acerca dos projectos editoriais de Fernando Pessoa. Apresentamse, como
exemplo de aplicao possvel dos dados recolhidos, trs poemas inditos de Caeiro.
AC49. . Nota Edio. Fernando Pessoa. Poemas Completos de
Alberto Caeiro. Lisboa: Editorial Presena 1994. 5-14.
Justificao da edio com um rosto que se cr fiel, e um corpo, que se cr
completo da obra de Alberto Caeiro. Aos poemas juntase uma variada seleco
de textos de Ricardo Reis e de lvaro de Campos sobre o autor de O Guardador de Rebanhos e sua obra.
AC50. . Sou pelo dia triunfal! Pblico (8 Maro 1994): 24-25.
Entrevista sobre a sua edio dos Poemas Completos de Alberto Caeiro. O dia
triunfal , evidentemente, um truque potico: possvel que a data de 8 de Maro de 1914 tenha uma fundamentao astrolgica. Criticase a edio crtica da
Equipa Pessoa, que existe ainda com a composio actual por razes completamente inexplicveis : arrancou mal e, depois da experincia traumatizante
com Campos seria de esperar que houvesse uma reviso da situao quer da parte da Equipa Pessoa quer da parte da SEC.
AC51. Dcio, Joo. Algumas Notas em Torno de Seja o que Fr que Estja no Centro do Mundo, de Alberto Caeiro. Didctica. Revista do
Departamento de Educao, Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras
de Marlia 5-6 (1968-1969): 203-207. (Repr. in Fernando Pessoa. Estudos crticos. Joo Pessoa: Associao de Estudos Portugueses Hernni Cidade, Universidade Federal da Paraba, 1985. 77-81).

224

PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

Este poema uma das poucas composies em que Alberto Caeiro foge dos problemas da Natureza, para se deter no complexo e insolvel problema do Ser: a discusso da importncia da existncia e da essncia humana.
AC52. Del Barco, Pablo. Introduccin. Fernando Pessoa. Poemas de Alberto
Caeiro. Madrid: Visor, 1980. 7-21.
Alberto Caeiro, o guardador de rebanhos que no pastor, el poeta desdoblado de Pessoa ms noble. insistente, como insistente a Natureza, en el cada da de su repeticin: las cosas en su sitio y el poeta (el hombre) en medio de
ellas sin pensar en ellas, sin interpretarlas. A poesia de Caeiro significa que nada va a edificar el poeta, nada va a dejar el hombre sobre la tierra, nada la diferencia que pas por el camino, que apenas advirti su huella.
AC53. Del Bene, Orietta. Algumas notas sobre Alberto Caeiro. Ocidente
LXXIV, 359 (Maro 1968): 129-235.
Alberto Caeiro representa, por um lado, o mito da infncia permanecendo
inalterado no homem adulto e, por outro, o mito do paganismo: duas saudades de
Fernando Pessoa. A originalidade audaciosa de Fernando Pessoa est no em falar da infncia, mas sim em ser ou querer ser infantil atravs de Caeiro, tentativa necessariamente condenada falncia pois s pode ser criana quem realmente
o .
AC54. Duarte, Isabel Margarida. Maria Helena Nery Garcez: Alberto Caeiro Descobridor da Natureza?. Persona 11/12 (Dezembro 1985): 9394.
Recenso crtica.
AC55. Duarte, Jos Afrnio Moreira. A poesia de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa e os caminhos da solido. Belo Horizonte: Imprensa Oficial,
1968. 31-32.
principalmente com os poemas de Caeiro que Pessoa consegue um melhor
equilbrio entre o antigo e o contemporneo: Caeiro situa-se como que num meiotermo entre Ricardo Reis e lvaro de Campos.
AC56. Elia, Slvio. Mestre Alberto Caeiro ou a Filosofia Impossvel. Estudos Universitrios de Lngua e Literatura. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1993. 399-421.
A posio filosfica de Caeiro uma contradictio in terminis pois no se po-

PESSOAS ALBERTO CAEIRO FALL 1999

225

de afirmar a respeito de uma coisa ao mesmo tempo dois predicados incompatveis.


um sensacionista radical, o que tambm no condiz com a natureza humana;
desfaz continuamente o seu pretenso objectivismo e, querendo ser filosfico, profundamente lrico. No devemos, todavia, confundir o pensador Caeiro com o
pensador Pessoa: este respira subjectivismo e um visionrio.

JOS BLANCO

AC57. Entrambasaguas, Joaquin de. Poesias de Alberto Caeiro. Fernando


Pessoa y su creacin potica. Madrid: Consejo Superior de Investigaciones Cientficas, 1955. 100-123.
No contexto geral de um exame crtico da criao potica de Fernando Pessoa,
estudase a projeco nela do drama em gente. No que respeita a Caeiro, a unidade temtica de O Guardador de Rebanhos o divagar mental do autor: cada
um dos quarenta e nove poemas produto de uma ideia, de um motivo potico,
sem obedecer a um sistema lgico mas agrupados como ovelhas pelo seu guardador.
Analisamse todos os poemas, destacando que o VIII uma composio irreverente e disparatada, feita de blasfmias inteis. Em alguns dos Poemas Inconjuntos,
que tambm so objecto de anlise individual, mas selectiva, detectamse pensamentos soltos que poderiam ter sido o germe de poemas mais extensos.
AC58. Faucherau, Serge. Fernando Pessoa, ses ismes et ses masques. Expressionisme Dada Surralisme et autres ismes. Paris: Les Lettres Nouvelles,
1976. 161-196.
Alberto Caeiro, que ocupa uma posio privilegiada na constelao pessoana,
nega o valor da reflexo: um sensualista violentamente antiintelectual e um
passadista qui rve dun ge dor et dinnocence sans technologie ni spculations
abstraites. O seu cepticismo pode por vezes tomar une tournure dsagrable lorsquil sapplique la socit. Para o Autor, Caeiro uma figura mdiocrement
sympathique e de espantar que Pessoa e os outros heternimos nele tenham visto um mestre. Il est dnu de la moindre chaleur humaine et sa position est insoutenable: talvez por isso Pessoa o fez morrer to novo.
AC59. Feij, Antnio M. A constituio dos Heternimos. 1. Caeiro e a
correco de Wordsworth. ColquioLetras 140-141 (AbrilAgosto
1996): 48-60.
O poema Ela canta, pobre ceifeira um correco implcita do poema de
Wordsworth The Solitary Reaper, desocultando e assumindo para si, exasperando-a, a natureza da indeciso de Wordsworth. O mesmo movimento de correco

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PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

surge, tambm implicitamente, num texto em ingls em que Fernando Pessoa caracteriza a absoluta novidade de Alberto Caeiro, que consiste numa objectividade radical quase inconcebvel. Uma anlise de alguns poemas de Caeiro permite concluir que este, poeta doubl de filsofo o contra Wordsworth e o contra-Kant.
AC60. Ferreira, Luzil Gonalves. A antipoesia de Alberto Caeiro. Uma leitura de O Guardador de Rebanhos. Recife: Associao de Estudos Portugueses Jordo Emerenciano, 1989.
Depois de estudar a concepo do Poeta para Alberto Caeiro, procurando mostrar como se teoriza a relao do Poeta com a Natureza, consigo mesmo e com a Poesia (discutindo a tripla problemtica do Cosmos, do Anthropos e do Logos), fazse
uma leitura da prtica potica de Caeiro. Em concluso, defendese que este se reconciliou consigo prprio; estabelecendo a ruptura definitiva entre o homem que escreveu e a sua produo artstica, sente que realizou uma potica coerente.
AC61. Figueiredo, Pedro Arajo. Sobre Caeiro e alguma filosofia. Actas I.
Porto, Braslia Editora: Fundao Eng. Antnio de Almeida, 1979.
615-630. (Comun. ao I C.I.E.P., Porto, 3-5 de Abril de 1978).
Sendo improvvel a descoberta (ou redescoberta) de qualquer sistema filosfico
original de feitura pessoana, no se exclui da a profunda originalidade do entendimento que Fernando Pessoa fazia da Filosofia, da forma como entendia as relaes desta com a Potica e mesmo dos trabalhos de exercitao filosfica que realizou. Relativamente a Alberto Caeiro, no deve buscarse um paralelo em Husserl,
mas sim em Wittgenstein.
AC62. Flrido, Jos. Conversas inacabadas com Alberto Caeiro. Porto: Porto
Editora 1987. (2. ed., Lisboa: Editora Pergaminho, 1998).
Em dilogos imaginrios tidos em Sintra com um Alberto Caeiro ressuscitado,
provase a profundidade do seu pensamento e o desejo autolibertador manifestados na sua anterior reencarnao.
AC63. Galhoz, Maria Aliete. Alberto Caeiro, pote/pomes. Fernando Pessoa. Pomes paens. Paris: Christian Bourgois diteur, 1989. 17-26.
Alberto Caeiro, embora personagem fictcia, nen est pas moins, sans aucun
doute, un pote autonome, dans la mesure o il incarne une identit cratrice; il
existe vritablement par ses pomes, il est un pote/pomes. A sua obra potica singular e pessoal, tanto pelo contedo como pela forma. A sua linguagem natural,

PESSOAS ALBERTO CAEIRO FALL 1999

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fluida e lmpida, cest le miracle du gnie qui a cr ces pomes dune organisation
parfaitement cohrente. Leur nouveaut esthtique est encore plus surprenante si lon
savise que llment de base de leur criture est lutilisation systmatique du clich.
Caeiro apporte langoisse et la nause de Pessoa, son crateur, le remde dune
certitude rassurante, en montrant le caractre naturel de toutes choses, du moindre
geste, du simple fait dexister.

JOS BLANCO

AC64. . A fortuna editorial de Fernando Pessoa. Actas IV, Vol. II. Porto: Fundao Eng. Antnio de Almeida, 1990. 79-88. (Comun. ao IV
C.I.E.P., Seco Brasileira, So Paulo, 27-30 Abril 1988. 1. publ. in
Nova Renascena (PrimaveraVero 1988): 126-131).
Balano da bibliografia activa de Fernando Pessoa desde a publicao, em
1942, da recolha antolgica organizada por Adolfo Casais Monteiro at edio
facsimilada de O Guardador de Rebanhos, por Ivo Castro. Em apndice, uma bibliografia sumria.
AC65. Galvo, Jesus Bello. Um Guardador de Rebanhos, de Alberto Caeiro. Ensaios pessoanos. Niteri: Universidade Federal Fluminense, Instituto de Letras, 1985. 13-43.
Leitura de O Guardador de Rebanhos do ponto de vista lingustico e de tcnica potica.
AC66. Garcez, Maria Helena Nery. Alberto Caeiro: aspectos de intertextualidade. Boletim Informativo 3. srie, XI, 2 Centro de Estudos Portugueses de So Paulo (1985): 27-45 . (Repr. no seu Trilhas em Fernando Pessoa e Mrio de SCarneiro. So Paulo: Editora Moraes e Editora da
Universidade de So Paulo, 1989. 59-87).
Anlise da obra de Alberto Caeiro do ponto de vista das suas relaes com alguns textos, de poesia ou no, que o precederam (a Tradio, como, por exemplo, o
Ea de Queiroz de O Suave Milagre, Antnio Nobre, a Bblia), das suas relaes
com os outros heternimos e textos pessoanos, o que permitir surpreendlo na sua
singularidade e rotullo como poeta da Modernidade.

AC67. . Alberto Caeiro, descobridor da Natureza? Porto: Centro de


Estudos Pessoanos, 1985.
A Autora estuda os poemas de Caeiro dentro da tradio da poesia da Natu-

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PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

reza, como o contestador da linguagem mstica crist e da subjacente viso do


mundo que nela se consubstancia. Comeando por analisar a relao da obra de
Caeiro com De Rerum Natura de Lucrcio, o estudo incide essencial e exaustivamente sobre o dilogo polmico que se estabelece entre os poemas de Caeiro e O
Cntico do Sol, de S. Francisco de Assis, que se analisa estrofe a estrofe. Inventariando na poesia de Caeiro no apenas estruturas religiosas anlogas s da linguagem de S. Francisco de Assis, mas tambm aluses claras ao seu vocabulrio
mas utilizadas num sentido oposto, concluise que Caeiro faz uma espcie de subtil pardia da linguagem franciscana. Tal propsito confirmado pela anlise de
textos em prosa, publicados e inditos, de Fernando Pessoa, Ricardo Reis, lvaro
de Campos e, sobretudo, Antnio Mora. Em concluso, a Autora defende que se,
por um lado, ao operar um regresso s coisas, Caeiro de facto descobre a Natureza, por outro lado h um profundo nihilesmo nalgumas das suas proposies, como a condenao do cristianismo, do pensamento discursivo, da vida em sociedade e da aco humana sobre a Natureza. O projecto de Caeiro contrariase
frequentemente a si mesmo, indo contra algumas das exigncias mais legtimas da
prpria Natureza: um poeta filsofo e no um filsofo poeta: nos seus versos no
h subordinao da arte filosofia, mas uma assuno da filosofia na arte.
AC68. . De Fernando Pessoa e Antnio Nobre. Trilhas em Fernando Pessoa e Mrio de SCarneiro. So Paulo: Editora Moraes
e Editora da Universidade de So Paulo, 1985. 43-57.
O dilogo de Fernando Pessoa com os seus antecessores foi extraordinariamente rico: estudamse o posicionamento de Alberto Caeiro em face de Antnio Nobre. Um e outro seguem a tradio dos poetas da Natureza, mas enquanto Nobre, pelo pensamento analgico, descobre continuamente vnculos
entre os componentes da Realidade, Caeiro pretende ser um desatador de vnculos, isolar cada coisa na sua ipseidade.
AC69. . Motivos das navegaes na poesia portuguesa do sculo
XX. Actas do 4. Congresso da Associao Internacional de Lusitanistas. Lisboa: Lidel, 1995. 491-497. (Comun. ao 4. Congresso
da A.I.L., Universidade de Hamburgo, 6-11 Setembro 1993).
Anlise comparativa do tratamento que a problemtica do conhecer recebe em Cames e, no nosso sculo, em Fernando PessoaAlberto Caeiro e Antnio Gedeo.

PESSOAS ALBERTO CAEIRO FALL 1999

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AC70. Garcia, Jos Martins. Caeiro, Tradittore? Colquio/Letras 88 (Novembro 1985): 48-56. (Repr. no seu Exerccio da crtica, Lisboa: Edies Salamandra, 1995. 48-59).
Apontamse exemplos de intertextualidade, a diferentes nveis, entre alguns poetas
buclicos de lngua inglesa (Sir Philip Sidney, Alice Meynell, Ben Jonson) e a produo de Alberto Caeiro, analisandose as leituras orientalizantes da sua obra. O Autor
conclui que Caeiro satirizou tudo e todos, parodiando, distorcendo, traindo, desde os
budismos ao Zen, desde Lucrcio at S. Francisco de Assis. O seu Universo todo mental, interior, ou seja, o contrrio da significao corrente de Universo. Caeiro original fora de inverter o sentido de uma complicada rede de assimilaes culturais e
satrico, no sentido profundo do termo.

JOS BLANCO

AC71. . Em torno do corao. Fernando Pessoa: corao despedaado. Ponta Delgada: Universidade dos Aores, 1985. 68-75.
O estudo tem como objectivo a anlise e consequente leitura das flutuaes do
conceito de corao na linguagem potica de Fernando Pessoa. Surpreende a escassez de ocorrncias do conceito nos poemas de Alberto Caeiro, em que apenas
surge no XXVII Poema de O Guardador de Rebanhos e no poema A guerra
que aflige com seus esquadres o mundo.
AC72. Garca Martin, Jos Luis. El unico poeta de la Naturaleza. Fernando Pessoa. Madrid: Ediciones Jcar, 1982. 114-125.
A personagem Caeiro que se desprende dos versos que lhe so atribudos no
coincide nem com a biografia que Pessoa lhe atribui, nem com o que ele mesmo
declara ser. No o bom selvagem, o homem sem cultura em permanente contacto com a Natureza: o filsofo disfarzado. Es el idelogo que trata de poner
en prtica una de sus quimeras. Inutilmente. Mas dessa inutilidade brota a
grandeza da sua poesia: En la mentira del personaje se engendra la verdad del
poema.
AC73. Gil, Jos. Caeiro, le mtaphysicien dans mtaphysique, et son disciple, Reis. Fernando Pessoa ou la mtaphysique des sensations. Paris:
Editions de la Diffrence, 1988. 118-130. (Repr. em trad. portuguesa de Miguel Serras Pereira e Ana Luisa Faria, no seu Fernando Pessoa
ou a metafsica das sensaes. Lisboa: Relgio dgua, s.d. 118-130).
Rompendo com a tradio que tende a abordar a obra de Fernando Pessoa em
termos de comentrio literrio, o Autor estuda o pensamento pessoano em que se

230

PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

articula uma esttica das sensaes com uma arte potica e se mostra de enorme
coerncia sob a aparncia fragmentria dos textos. Neste contexto, dois discursos
tecem o fio da poesia de Alberto Caeiro: um discurso positivo (que anuncia, ou
finge anunciar, tautologias) e um metadiscurso negativo (que afirma que no
h metafsica nas sensaes) sobre o qual o primeiro discurso exclusivamente se
apoia. A emoo metafsica de Caeiro vem da intelectualizao do sentir, transformado em modo de pensamento, to natural como um rgo. Alcanado esse
objectivo, Caeiro realiza ao mesmo tempo a mais pura poesia metafsica e uma
linguagem aparentemente no limite das possibilidades poticas: existe nele uma
conteno no abandono que constitui o resultado longnquo desse trabalho de
abstraco da emoo.
AC74. . Alberto Caeiro ou lme devenue corps. Pomes de Alberto
Caeiro publis du vivant de Fernando Pessoa. Paris: ditions de la
Diffrence, 1989. 7-16.
Alberto Caeiro ocupa na constelao heteronmica de Pessoa um lugar singular: il est la fois lun des htronymes, leur matre tous, et celui qui sen loigne le plus. Par son style, par sa manire de sentir, par sa conception de la nature et du monde, il apparat lui seul comme une constellation autonome, se
suffisant pleinement ellemme, et qui contient pourtant en puissance tous les
autres potes auxquels il donnera naissance. Para o Autor, Caeiro est le sujet de
toute lhtronymie, il est lhtronymie ralise. Il suppose tout le processus htronymique achev, il est ce qui reste, une fois construits tous les htronymes, ce
qui demeure lorsque le sujet de lcriture traverse tous les devenirsautre htronymiques et se dissout en tant que moi: voil pourquoi il na pas de subjectivit, voil pourquoi il se proclame lArgonaute des sensations vraies.
AC75. . O corpo, a arte e a linguagem: o exemplo de Alberto Caeiro. Revista de Comunicao e Linguagens 10-11 (Fevereiro 1990):
59-70.
Debatendo a questo entre sensao e linguagem, sublinhase que a correspondncia entre sensaes era de tal modo importante para Fernando Pessoa que chegou a pensar considerla como princpio de um movimento literrio: o Interseccionismo. O ideal de adequao total entre sensao e linguagem como ideal artstico
mximo foi realizado por Alberto Caeiro, o que faz do seu caso uma ilustrao
exemplar da articulao do corpo e da linguagem atravs da arte. Examinase o
corpo de Caeiro, para mostrar como, neste poeta, a alma se tornou corporal.

PESSOAS ALBERTO CAEIRO FALL 1999

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AC76. Gomes, lvaro Cardoso. O retorno inocncia. Fernando Pessoa. Estudos crticos. Joo Pessoa : Associao de Estudos Portugueses Hernni Cidade, Universidade Federal da Paraba, 1985. 17-22.
Percorrendo ao inverso o caminho para a civilizao, Alberto Caeiro empreende a viagem da conquista da Natureza; o meio de que se serve a poesia, restituda sua misso essencial: a de fundir o homem ao mundo.

JOS BLANCO

AC77. Gonalves, Robson Pereira. Alberto Caeiro ou a matriz Poticoontolgica em Fernando Pessoa. Revista do Centro de Artes e Letras 2, 1
Universidade Federal de Santa Maria (JaneiroJunho 1980): 55-65.
Estudase a relao da poesia pantesta e sensacionista de Fernando Pessoa,
produzida atravs de Alberto Caeiro, e a metafsica heideggeriana. Com base na
filosofia do Ser, procurase evidenciar as passagens mais representativas do texto
potico que concorrem para um descobrir dos caminhos do Ser e que se alojam
na explicitao metafsica que Heidegger faz da questo. Concluise que a dita
poesia da objectividade vela a intensidade primal do poeta, pois, na verdade, se
trata de uma poesia de desvelamento do ser.
AC78. Grellet, Ivone Freitas. A Poesia de Fernando Pessoa: Budismo e Zen
Budismo em Alberto Caeiro. Novos Ensaios de Literatura Portuguesa.
Araraquara: Instituto de Letras, Cincias Sociais e Educao UNESP,
Centro de Estudos Portugueses Jorge de Sena, 1986. 88-127.
Entre a postura de Alberto Caeiro e os princpios filosficos do Budismo e do
Zen Budismo, observamse pontos comuns, que se fundamentam na filosofia da
nofilosofia. A poesia de Caeiro assemelhase poesia de Basho naquilo a que poder chamarse a essncia potica: mas Caeiro no um poeta Zen, antes um poeta com Zen: o seu processo dialcticoestilstico anlogo aos sutras orientais.
AC79. Griffin, Jonathan. Four Poets in One Man. Fernando Pessoa. Selected Poems. Harmondsworth: Penguin Books, 1974. 9-23. (2. ed.,
1982; repr. 1988).
O Autor aproxima Caeiro de Francis Ponge, que professam ambos much the
same philosophyreligion: absolute objectivism, embora divirjam na maneira de
a exprimir. O estilo de Caeiro is an unostentatious antipoetry (...) His poems
are the talk of a master to disciples as he walks along a hillside and rounds up his
sheep. Os ensinamentos de Caeiro esto prximos do caminho Zen; a sua fraqueza, como Octavio Paz notou, reside, no nas ideias (que, pelo contrrio so a sua

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PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

fora), mas na irrealidade da experincia que pretende ter tido. Caeiro aquilo
que Fernando Pessoa queria ter sido e que no conseguiu ser: Ricardo Reis is the
nearest that Pessoa could come to being Caeiro.
AC80. Guerra, Maria Lusa. Sobre o conceito de opacidade na poesia de Alberto Caeiro. Ocidente LXIII, 295 (Novembro 1963): 209-224.
Nos poemas de Alberto Caeiro, as coisas pululam por toda a parte multiplicadas mas exprimem descontinuamente a mesma opacidade radical e estruturante. Para Caeiro, tal como para Sartre, o mundo no um palco mas uma presena pastosa. Antecipandose a alguns filsofos contemporneos na leitura da
opacidade constitutiva da realidade bruta, Caeiro desvaloriza o homem como capacidade mitificante e tenta, numa aventura dolorosa e intil, coincidir com a
perfeio natural das coisas.
AC81. . Alberto Caeirolvaro de Campos ou a verdade de uma lio intil. Cronos. Cadernos de Literatura 1 (s.d.): 21-23.
lvaro de Campos, afinal, no aprendeu a lio de Alberto Caeiro: o delrio
sensacionista da sua poesia , sob mais de um ttulo, a negao expressa do exemplo tutelar do Mestre. Se em Caeiro h descoberta, em Campos h conquista:
ambos se deixaram fascinar pelo real, mas enquanto que a Caeiro nenhuma coisa feriu, nem doeu, nem perturbou, a Campos todo o sangue ferveu num torvelinho desencontrado de emoes inventadas.
AC82. Guibert, Armand. Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. Paris: Pierre
Seghers, 1960. 34-51. (2. ed., 1973).
Alberto Caeiro, migrec mi bdouin, cestdire un naturaliste contemplatif, um falso campons qui ne sait pas dsigner par leur nom les arbres, les
plantes et les fleurs. As suas reiteraes seriam montonas se no fossem, em cada
momento, resgatadas pela fracheur de la raison (facult et opration qui, chez
lui, passent en importance la chose vue). Malgr ses tautologies, ses redites, sa
dmarche de primitif intraitable (ou cause delles, peuttre?), notre pote de
lvidence avance dun pas que pourraient lui envier bien des croyants torturs,
jusqu la trs dsirable lumire de la certitude et de laffirmation.
AC83. . Note dintroduction loeuvre dAlberto Caeiro. Fernando
Pessoa. Le Gardeur de troupeaux et les autres pomes dAlberto Caeiro.
Paris: Gallimard, 1960. 9-12.

PESSOAS ALBERTO CAEIRO FALL 1999

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O Autor v em Alberto Caeiro une sorte de sage bdouin, plus proche de lhdonisme de lIslam que de lacceptation chrtienne des imperfections de ce monde, un semi autodidacte expansif, assez prolixe, et ruisselant de lucidit. Quon
le rattache un jour la tradition dun certain lyrisme hellnique, il ny aura l
rien de surprenant: son accent na jamais le flou et louat propres la posie
atlantique.

JOS BLANCO

AC84. . Fernando Pessoa. Celui qui tait personne et multitude.


Fernando Pessoa. Le Gardeur de troupeaux et les autres pomes dAlberto Caeiro avec Posies dlvaro de Campos. Paris: Gallimard, 1987. 725. (2 ed. sob o ttulo Fernando Pessoa. Le Gardeur de troupeaux et
les autres pomes dAlberto Caeiro. Avec posies dAlvaro de Campos, 1996).
On a beaucoup glos sur le systme philosophique de Caeiro, matre incontest des autres htronymes et de Pessoa luimme. O Autor , todavia, de opinio, de que a etiqueta de paganismo convm mais a Ricardo Reis: Caeiro, lui,
se contente dun plissement de la paupire pour dissminer cette contrefoi. E como pode considerarse um matre penser um jovem de vinte e sete anos (como Caeiro, que nasceu em 1889 e morreu em 1915)? Assim, il est malais de
croire que Caeiro, n da la cuisse de JupiterPessoa, puisse avoir [sobre lvaro de
Campos] une autorit de crateur et de matre.
AC85. Guimares, Fernando. Paganismo para qu? JL. Jornal de Letras,
Artes e Ideias (20 Julho 1994).
Recenso crtica de Fernando Pessoa. Poemas Completos de Alberto Caeiro
(recolha, transcrio e notas de Teresa Sobral Cunha). O objectivismo da poesia
de Caeiro representa um momento extremo em que se recusa o envolvimento emocional, subjectivo ou perversamente mstico que a pode envolver, projectando nela a sombra e, tambm, a presena do prprio autor.
AC86. Gntert, Georges. Der Hter des Seins: Alberto Caeiro. Des
Fremde Ich. Berlim: Walter de Gruyter, 1971. 121-141. (Repr.em
trad. portuguesa de Maria Fernanda Cidrais no seu Fernando Pessoa.
O Eu estranho, Lisboa: Publicaes Dom Quixote, 1982. 133-152).
Rastreiamse vestgios de Alberto Caeiro na vida e na obra passadas de Fernando Pessoa, mesmo em pocas anteriores quela que a crtica at hoje tem assinalado, bem como os seus precedentes em correntes literrias europeias e portugue-

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PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

sas. Caeiro mais do que apenas o plo oposto a Pessoaele mesmo, pois introduz
um tom indito, uma potica inteiramente nova na literatura portuguesa. O
mundo das coisas celebrado por Caeiro e o Eu nele redimido formam uma nova ordem: com Caeiro, Pessoa recusa de novo o presente, mas deixa abrir um caminho para o futuro.
AC87. Hart, Thomas R. M. Teste em Lisboa: Pessoa e Valry. Arquivos do
Centro Cultural Portugus. XXIII. Paris: Fundao Calouste Gulbenkian, 1987. 817-827.
Afinidades entre Fernando Pessoa e Paul Valry: o elo mais importante entre
os dois escritores a fascinao com que ambos observaram o funcionamento da
sua prpria inteligncia. Tal mais evidente nos poemas ortnimos de Fernando
Pessoa e nos de lvaro de Campos, embora se manifeste tambm nos de Alberto
Caeiro, sempre oposto a qualquer tipo de intelectualizao.
AC88. Hatherly, Ana. O cubo das sensaes e outras prticas sensacionistas
em Alberto Caeiro. Actas I. Porto, Braslia Editora: Fundao Eng.
Antnio de Almeida, 1979. 59-81. (Comun. ao I C.I.E.P., Porto, 35 de Abril de 1978.
Anlise textual do poema XX de O Guardador de Rebanhos luz dos princpios da teoria sensacionista, considerada esta como um conjunto de instrues,
ou seja, como um programa. Na sua comunicao ao Congresso, este ensaio era
acompanhado da apresentao de trs cubos em vidro acrlico, ilustrando a teoria
sensacionista nos seus aspectos bsicos.
AC89. . Pessoa/Caeiro vs. Walt Whitman. A destruio do Mestre.
Persona 6 (Outubro 1981): 7-19.
Se admissvel que Fernando Pessoa queira ter resistido admirao que a
obra de Walt Whitman lhe inspirou, igualmente possvel que tal represente apenas uma espcie de fatalidade inerente criao.
AC90. Henriques, Mendo Castro. As coerncias de Fernando Pessoa. Lisboa:
Verbo, 1989.
No pretendendo fazer de Fernando Pessoa um filsofo fora, tomase por
ponto de partida a sua reconhecida capacidade potica de encontrar formas verbais para a experincia humana, de pr em questo o real e de propor respostas
alternativas a essas interrogaes. Com Alberto Caeiro, Fernando Pessoa obtm

PESSOAS ALBERTO CAEIRO FALL 1999

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uma poesia fiel s exigncias fenomenolgica e metafsica, colocando no cerne da


apreenso do real a conscincia informada por um paradigma de interrogao.

JOS BLANCO

AC91. Honig, Edwin e Susan M. Brown. Introduction. The Keeper of


Sheep by Fernando Pessoa. RiverdaleonHudson, New York: The
Sheep Meadow Press, 1986.
O Guardador de Rebanhos foi the turning point of Pessoas career and the
psychogenetic model of poetic liberation. Tal como Song of Myself, tornouse
a new poetic manifesto, proclaiming the unknowable and manifold nature of
reality as something perceptible only to the unthinking and intensely receptive bodily senses, particularly the eye.
AC92. Hourcade, Pierre. Alberto Caeiro: Gloses sur le Guardador de Rebanhos. Bulletin des tudes Portugaises et Brsiliennes Nova srie 3738 (1977-1978): 93-125. (Repr. em trad. portuguesa sob o ttulo
Alberto Caeiro: glosas sobre O Guardador de Rebanhos no seu Temas
de literatura portuguesa. Lisboa: Moraes Editores, 1978. 169-197).
O Guardador de Rebanhos um dos textos mais enigmticos do Fernando Pessoa. Depois de diversas consideraes de crtica textual acerca das variantes publicadas nas edies tica e Aguilar (concluindo que, na falta de
uma correco posterior feita pelo prprio poeta, deve preferirse o texto por
ele originalmente publicado na Athena) e de analisar o que chama o mistrio da seleco feita por Fernando Pessoa para publicao em vida, o Autor
apresenta uma tentativa de interpretao dos 49 poemas no seu todo, para
concluir que no se trata de peas isoladas, indiferentemente agrupadas, mas
sim de um conjunto coerente, expressamente querido pelo mais exigente dos
crticos de Fernando Pessoa: ele prprio. O motivo primeiro de O Guardador de Rebanhos o realismo existencial do poeta ou, como o prprio Caeiro o classificou, o misticismo do corpo.
AC93. Janeira, Armando Martins. Zen nella poesia di Pessoa. Quaderni
Portoghesi 1 (Primavera 1977): 95-116. (Repr. em portugus in Nova
Renascena, VI, 23-24 (VeroOutono 1986): 285-297).
Vrios estudiosos ocidentais interessados na cultura do Oriente assinalaram
coincidncias com o pensamento Zen nos textos de grandes escritores do Ocidente.
Indicamse neste ensaio afinidades surpreendentes entre o Budismo Zen e o pensamento de Alberto Caeiro.

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PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

AC94. Josipovici, Gabriel. Fernando Pessoa, 1888-1935. The Lessons of


Modernism and Other Essays. New York: M, 1977. 26-50.
A relao de Alberto Caeiro com a experincia do dia triunfal significa que
Pessoa was saddled with this unreal and unlikely figure for the rest of his life.
However, what in practice happened was that Pessoa allowed doubt to creep into
Caeiros poetry, so that gradually it became not so much Caeiros as that of PessoaawareofCaeiro. E o Autor conclui que despite all Pessoas efforts to create
Caeirothe invention of a biography, of physical characteristics and the rest of
itthe poems move away from the control of the heteronym into a quite different
area of experiencetal como acontece, alis, como os outros dois heternimos.
AC95. Kotowicz, Zbigniew. Fernando Pessoa. Voices of a Nomadic Soul. London: The Menard Press, 1996. (Repr. em trad. portuguesa de Maria
de Lourdes Sousa Ruivo sob o ttulo Fernando Pessoa: Vozes de uma
alma nmada. Lisboa: Vega, 1998).
Caeiro, poeta sensacionista que desenvolve a philosophy of nonphilosophy
a anttese de Pessoa, o sebastianista de inclinaes msticas. O que ele tem a dizer deserves to be called a philosophy because of its consistency and because [his]
unlearning is indeed very thorough. O VIII Poema de O Guardador de Rebanhos o strongest anticatholic statement de Pessoa, no qual Caeiro blasphemes in search of the innocence of childhood. O Autor refere a opinio de Thomas Merton sobre a aproximao da poesia de Caeiro com a filosofia Zen, com a
qual no concorda totalmente, pois if nothing else Caeiros tone is too often too
polemical to pass for a Zen poet.
AC96. Kujawski, Gilberto de Mello. Fernando Pessoa, o Outro. So Paulo:
Conselho Estadual de Cultura, 1967. (2. ed., 1973; 3. ed. Petrpolis: Editora Vozes, 1979).
Reduzindo as coisas sua imanncia sensvel, ao grau zero de significao,
de donde provm a inegvel fora potica absorvente na obra de Alberto Caeiro? Mestre de Fernando Pessoa e de todos os heternimos porque rompeu com o
autismo do poeta, arrojando-o face a face com a realidade, Caeiro reconquistou
o contacto directo com as coisas, permitindo que Pessoa e os outros heternimos,
devolvidos realidade, conquistassem novas perspectivas desta, possibilitando assim a renovao radical da poesia, em vrias direces. Estudase o seu sensorialismo radical, para concluir que o que h de comum entre a metfora e as sensaes de Caeiro serem ambas formas de apropriao da realidade, ou da

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circunstncia, pelo eu, entendido como executividade pura, inteira compenetrao do sujeito com as suas aces e paixes.

JOS BLANCO

AC97. . Realidade e poesia em Fernando Pessoa. O Estado de S. Paulo, Suplemento Cultura (23 Novembro 1985). (Repr. in Revista Comunidades de Lngua Portuguesa. Estudos sobre Fernando Pessoa no Brasil,
6-7 (JulhoDezembro 1985 JaneiroJunho): 71-74).
Atravs de Caeiro, Fernando Pessoa retoma a poesia pelo caminho da realidade, e chega realidade pelo caminho da poesia: a inveno do heternimo e a sua
viso neopag antecipam a fico poetizante.
AC98. Leal, Ana Maria Gotardi. A viso inocente: Alberto Caeiro. O Mestre. Homenagem das literaturas de lngua portuguesa ao Prof. Antnio
Soares Amora. So Paulo: Academia Lusada de Cincias, Artes e Letras Centro de Estudos Portugueses Faculdade de Filosofia Letras e
Cincias Humanas, Universidade de So Paulo, 1997. 37-42.
Recorrendo a Giambattista Vico e Frederico Schiller para conceituar a poesia
concebida como viso ingnua e inocente, estudamse poemas de Alberto Caeiro
que actualizam uma filosofia de vida em que so privilegiadas a natureza e a sensao virginal.
AC99. Lind, Georg Rudolf. Alberto Caeiro, o renovador do Paganismo.
Teoria potica de Fernando Pessoa. Porto: Inova, 1970. 99-131. (2.
publ. no seu Estudos sobre Fernando Pessoa, Lisboa: Imprensa
Nacional-Casa da Moeda, 1981).
Relativamente ao aparecimento de Alberto Caeiro no dia triunfal descrito
na carta a Casais Monteiro, no repugna ao Autor concluir que Pessoa se decidiu, em 1935, a cultivar conscientemente a sua prpria lenda, apresentando-se
aos amigos mais jovens como o pai involuntrio de trs personagens poticas e
ocultando, propositadamente, todas as consideraes de ordem terica e programtica que haviam precedido o nascimento delas. Tais consideraes baseiamse, essencialmente, no paganismo greco-romano; ao mundo grego vai buscar
Pessoa as duas ideais centrais de disciplina e de limitao. O programa que
Pessoa traou para Alberto Caeiro est contido quase na ntegra no ensaio O
Regresso dos Deuses, embora seja surpreendente o facto de o prprio Caeiro
nunca se deixar emaranhar nas malhas duma ideologia neopag: so exemplo
disso as digresses subjectivas dos poemas de O Pastor Amoroso. Conclui-se

238

PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

que indiscutvel o carcter anti-subjectivista e anti-romntico da produo de


Caeiro que, ainda que possa ter estado ligada a consideraes programticas rigorosas e ainda que o seu criador lhe tenha inculcado post festum uma estrutura
ideolgica, adquire, como obra de nvel artstico, novas conotaes espirituais
diferentes das do autor.
AC100. . Fernando Pessoa. Alberto Caeiro. Dichtungen. Ricardo Reis.
Oden. Zurich: Ammann Verlag, 1986. (2. ed., Frankfurt am Main:
Fischer Taschenbuch Verlag, 1989; 3. ed., 1993).
Posfcio Antologia.
AC101. Linhares Filho. A Outra Coisa na poesia de Fernando Pessoa.
Fortaleza: Edies da Universidade Federal do Cear, 1982.
O que Alberto Caeiro adopta no todo da sua obra um modo esttico, porque instaurador, de sentir a realidade, por isso diferente do modo normal, automtico, espontneo do homem comum senti-la: da o alto grau de intelectualizao da sua poesia, conquanto negue que a intelectualiza. Analisa-se o
relacionamento entre Caeiro e Campos, para concluir que o segundo, realista e
sensvel, o ponto de encontro do modo de ser do primeiro com o modo de ser de
Pessoa. O nada hiperblico e idealista de Caeiro exprime-se nos seus poemas em
negaes, restries ou excluses; mas o Mestre, de posio mais contraditria, quereria na verdade tudo, embora um tudo restrito Natureza.
AC102. Linnartz, Bruno. Alberto Caeiro als antipode Fernando Pessoa.
Romanistisches Jahrbuch XVII (1966): 323-342.
Pode entender-se a poesia de Alberto Caeiro como anttese de Pessoa, como
um passo na busca do eu perdido, ou como antecipao potica da filosofia husserliana e da crtica lingustica de Wittgenstein.
AC103. Lisboa, Maria Manuel. Modernismo, Nilismo, Caeirismo: histrias
de idiotas (no) significando nada. O Escritor 10 (Dezembro
1997): 140-151.
Investigao sobre quem foi o criminoso homicida que prematuramente
matou [Alberto Caeiro] na idade de vinte e seis anos. Atravs da anlise de poemas, prova-se que, sendo a morte e o silncio a continuao lgica do acto de ser
Caeiro, e porque a persistncia numa vida se no rimada pelo menos ritmada
pela prosa dos meus versos era uma traio a esse acto de ser Caeiro, o assassino

PESSOAS ALBERTO CAEIRO FALL 1999

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foi Fernando Pessoa, seu demiurgo e discpulo. Caeiro foi morto embora porventura com seu consentimento e cumplicidade, no pressentimento de uma traio
que era talvez, acima de tudo, uma traio a si prprio.

JOS BLANCO

AC104. Llardent, Jos Antonio. Un poema (casi desconocido) de Alberto


Caeiro. Espacio/Espao Escrito 4-5 (Primavera 1990): 53
Apresentao de um poema de Alberto Caeiro (Para alm da curva da estrada) no includo na edio tica nem na edio Aguilar, revelado por Jacinto do
Prado Coelho in Colquio-Letras n. 20.
AC105. Longland, Jean. Poetry from P to E. The Journal of the American
Portuguese Society IX, 1 (Primavera-Vero 1975): 1-7.
Problemas da traduo da poesia portuguesa para Ingls, citando-se, entre
outros exemplos, um verso de Alberto Caeiro.
AC106. Lopes, scar. Filosofia e poesia do olhar de Alberto Caeiro.
U.S.D.P. Lisboa: S.E.C., 1990. 56-62. (Comun. ao E.I.C.F.P.,
Lisboa, 5-7 Dezembro 1988. Repr. no seu Cifras do tempo. Lisboa:
Caminho, 1990. 149-158).
Ao concluir a sua obra, depois de ter trazido poesia portuguesa uma nova
respirao serena e pousada, Alberto Caeiro desce a cortina sobre as runas da
toda a racionalidade espcio-temporal, para depois a subir e descobrir a teologia
pantesta de Antnio Mora-Ricardo Reis, o unanimismo transcendente e exaltado, ou a sua contrapartida em tdio e cansao lvaro de Campos, e para o prprio e polimrfico Fernando Pessoa em pessoa. Caeiro tem ainda muito que se
lhe diga.
AC107. Lopes, Teresa Rita. Alberto Caeiro. Fernando Pessoa et le drame
symboliste. Hritage et cration. Paris: Centre Culturel Portugais,
Fondation Calouste Gulbenkian, 1977. 289-330. (2. ed., 1985).
Caeiro pe em prtica a sua anti-filosofia, enunciando nos seus poemas
les prceptes dune sagesse de vivre, de passer et de finir. Para viver serenamente, prope sobretudo, recusas (no pensar, no se interrogar, no experimentar sentimentos); enfrentar a passagem do tempo atravs da cincia de
ver; e no temer a morte. Se na sua anti-potica, procura conscientemente
um estilo apotico, que no hesita em chamar prosa, Caeiro tenta realizar
na vida a objectivao que Fernando Pessoa sempre perseguiu no plano est-

240

PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

tico. Analisam-se os seus poemas, para concluir que Caeiro serait plutt un
personnage de roman que de thtre. Pessoa f-lo morrer em 1915 porque
Caeiro aprs avoir nonc ses prceptes, il ne pouvait que commencer se contredire. Et il fallait quil reste le Matre.
AC108. . Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. Le thtre de ltre. Paris:
ditions de la Diffrence, 1985. 24-28.
Alberto Caeiro representa leffort le plus pouss de cette envole [de Fernando
Pessoa] pour se retrouver dans un autre. Caeiro nest pas seulement le produit dune construction mentale, il correspond laspiration suprme de Pessoa (dans toutes les personnes qui prouvent sa peine) de se sentir complet, de faire corps avec
son ombre. Caeiro representa, tambm, a saudade dune enfance perte de vue
e a saudade de cette Unit recherche par tous les autres: la joie sans nuages, la
srnit sans la moindre fissure dun dchirement quelconque: foi concebido para
ser o regresso inocncia csmica. Foi-o tambm para ser o antdoto contra a vertigem do ser, a insnia de existir de Pessoa, de Bernardo Soares e de lvaro de
Campos. Caeiro aparece-nos como laptre au fminin dune foi quil se refuse
dfinir et que seul le corps connat sans prouver le besoin de lexpliquer.
AC109. . Terceiro e ltimo episdio do dilogo Campos-Pessoa. Trs
poemas inditos de Alberto Caeiro. JL. Jornal de Letras, Artes e
Ideias 504 (3 Maro 1992).
Conversa imaginria entre Fernando Pessoa e lvaro de Campos acerca da
incapacidade dos capatazes da cultura em Portugal. Texto polmico em que so
criticados alguns pessoanos e em que se apresentam trs poemas inditos de Alberto
Caeiro em torno de S. Francisco de Assis.
AC110. . lintrieur du souvenir de soi. Perspectives de Pessoa.
Notes en souvenir de mon matre Caeiro. Fernando Pessoa. Les ditions Fischbacher. Collection Minuit Rouge, 1996. 95-126.
Alberto Caeiro est surtout le matre que Pessoa oppose lui-mme, et ceux
qui, comme lui, sont des victimes de la civilisation chrtienne. Pessoa, sendo um
citadino inveterado, inventou-o pour apprendre faire corps avec la Nature
cest--dire avec la ralitlui qui na jamais su faire corps avec rien ni personne. A Autora analisa as Notas de lvaro de Campos, sublinhando que este a
si savamment manipul le discours direct et indirect, le rcit et les dialogues, que
ses personnages acquirent une prsence physique.

PESSOAS ALBERTO CAEIRO FALL 1999

241

AC111. . Advertncia e Notas Prvias. lvaro de Campos. Notas


para a recordao do meu mestre Caeiro. Lisboa: Editorial Estampa,
1997. 9-34.
Uma leitura atenta das Notas de lvaro de Campos revela que esta fico
se organiza em torno da iniciao de Pessoa, Campos, Mora e Reis que, ao conhecerem Caeiro, o Mestre, nasceram de novo: este quem lhes revela a sua verdadeira alma. A natureza divina de Caeiro est sempre presente, mas dada to
discretamente que passar despercebida ao leitor menos precavido.

JOS BLANCO

AC112. . O uso das variantes de autor em Fernando Pessoa. Actas


do Congresso Internacional organizado por motivo dos vinte anos do
Portugus no Ensino Superior [29-31 Outubro 1997.] Budapeste:
Departamento de Portugus da Universidade Etvos Lornd,
1999. 85-94.
Analisa-se e critica-se o uso que alguns editores fizeram das variantes de
autor de Fernando Pessoa, na edio facsimilada do manuscrito de O
Guardador de Rebanhos (Ivo Castro) e em Fernando Pessoa. Poemas
Completos de Alberto Caeiro (Teresa Sobral Cunha). Utilizando exemplos concretos, verifica-se no s que so discutveis os resultados obtidos, como tambm
que os critrios utilizados nestas crticas textuais flutuam em muitas circunstncias, confundindo variantes com acrescentos opcionais do autor. Cotejando
com a edio crtica dos Poemas Ingleses, conclui-se que o tratamento dado
pela Equipa Pessoa s variantes de autor no o de Pessoa, quando, finalmente, se decide e escolhe o texto final.
AC113. Lopez de Gregori, Carlos. Alberto Caeiro: Cuando la poesa es
inhumana. Pessoa & Compaia . Lima: Unin Latina, Embajada
de Portugal en el Per, Universidad de Lima, 1993. 93-102.
Alberto Caeiro a poesia pura levada at um extremo inconcebvel: o lugar
onde desaparecem os limites entre as palavras e o universo, mas , tambm, o
lugar onde a poesia fatalmente se torna inumana.
AC114. Loureno, Eduardo. A curiosa singularidade de Mestre Caeiro.
Pessoa revisitado. Leitura estruturante do drama em gente. Porto:
Inova 1973. (2. ed., Lisboa: Moraes, 1981. Repr. em trad. francesa de Annie de Faria no seu Pessoa, ltranger absolu. Paris: Editions
A.M. Mtaill, 1990).

242

PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

O mistrio da gnese concreta de Alberto Caeiro prende-se sem equvoco possvel ao seu encontro com Walt Whitman. Quando se examina melhor a poesia de
Caeiro, salta aos olhos a presena avassaladora, essencial e no meramente acidental ou decorativa, do poeta americano. Caeiro um Whitman imaginrio,
ou antes, um Whitman em ideia. Sob Caeiro levou Fernando Pessoa a cabo a sua
adeso ao sonho da realidade, construindo um imaginrio refgio contra o seu
sentimento de irrealidade. Mas como a fico o podia consolar tanto ou mais do
que essa realidade onde nunca pde descobrir outra coisa que fico, ele prprio
seu criador se tornou seu filho e seu discpulo. Uma nica das fices de Fernando
Pessoa pde adquirir aos olhos do seu criador esse estatuto mtico que, segundo ele,
a marca prpria das criaturas ideais destinadas ao cu literrio: Alberto Caeiro,
o mito que tudo. A heteronmia no foi, nem , soluo, mas Caeiro a
soluo enquanto mito e, enquanto mito, estrutura no s a construo literria que designamos por fico heteronmica, mas a fico existencial que a vida
realssima de Fernando Pessoa. Talvez no sejamos de todo infiis ao ser profundo de Alberto Caeiro e funo que Fernando Pessoa lhe atribuiu, se virmos nele
uma verso, um tudo nada ocultista, do anjo da guarda.
AC115. . Walt Whitman e Pessoa. Quaderni Portoghesi 2 (Outono
1977): 155-184. (Trad. de Silvano Peloso. Repr. na verso original
em Portugus no seu Poesia e metafsica. Cames. Antero. Pessoa.
Lisboa: S da Costa Editora, 1983. 173-198).
Do encontro de Fernando Pessoa com a poesia de Walt Whitman surgiu a
totalidade da arquitectura heteronmica. Tais como textualmente se concretizaram, os heternimos so o resultado da deflagrao do universo de Fernando
Pessoa confrontado com o universo whitmaniano. Nesse sentido, porm, lvaro de
Campos um anti-Whitman, enquanto Caeiro um no-Whitman.
AC116. . La posie de Pessoa entre 1910 et 1914 ou le creuset de
lhtronymisme. Persona 2 (7/1978): 9-26. (Ensaio datado de
1971).
Uma anlise minuciosa dos poemas que Fernando Pessoa escreveu antes de
1914, revela que o nascimento dos heternimos, mais precisamente o de Alberto
Caeiro, no foi o milagre referido pelo seu criador, mas uma etapa natural num
processo de que o poema Hora Absurda representa a expresso acabada de uma
contradio formal e substancialmente insanvel. Caeiro vem fornecer a chave
para resolver a crise.

PESSOAS ALBERTO CAEIRO FALL 1999

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AC117. . De Junqueiro a Pessoa. JL. Jornal de Letras, Artes e Ideias 7


(26 Maio 1981): 14-15. (Repr. no seu Fernando, rei da nossa Baviera.
Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1986. 111-119; e em
trad. francesa de Annie de Faria sob o ttulo Une soruce pour
Alberto Caeiro, no seu Fernando Pessoa, roi de notre Bavire. Paris:
Librairie Sguier, 1988. 159-169).
Revela-se um lao significativo entre os universos de Guerra Junqueiro e de
Alberto Caeiro. O Poema VIII de O Guardador de Rebanhos (salvo a parte
final) indiscutivelmente vinculado no s a imagens precisas mas prpria
mitologia junqueiriana. Foi certamente atravs de Unamuno que o Jesus humano e natural de Junqueiro chegou a Fernando Pessoa, como se prova numa passagem de Por tierras de Portugal y Espaa, em que Unamuno cita o Cristo portugus que um dia Junqueiro lhe descreveu e que coincide com o Cristo
humanizado de Caeiro.

JOS BLANCO

AC118. . Nietzsche et Pessoa. Fernando Pessoa, roi de notre Bavire.


Paris: Editions Chandeigne, 1997. 167-185. (Repr. em trad. france
sa de Annie de Faria. no seu Fernando Pessoa, roi de notre Bavire.
Paris: Librairie Sguier, 1998. 73-90.).
Talvez no haja nenhuma obra do incio do nosso sculo mais marcada pelo
objectivo subversivo e proftico de Nietzsche do que a de Fernando Pessoa, criador de Alberto Caeiro e autor do texto polmico que o Ultimatum de lvaro
de Campos. Todavia, paradoxalmente (no fosse Fernando Pessoa quem era)
encontramos nele uma componente anti-nitezschiana igualmente radical, pois so
diferentes os pressupostos e a finalidade dos respectivos combates, que no tm o
mesmo contedo nem o mesmo fundamento cultural. Na obra de Nietzsche, a
expresso onrica da realidade desempenha um papel to mtico como a poesia na
obra de Fernando Pessoa. No que respeita a Alberto Caeiro, a atitude do
Guardador de Rebanhos no est muito afastada da de Zaratustra.
AC119. Magalhes, Isabel Allegro de. O gesto, e no as mos. A figurao do
feminino na obra de Fernando Pessoa: uma gramtica da mu-lher
evanescente. Colquio/Letras 140-141 (Abril-Setembro 1966): 1747.
Pesquisa dos modos de emergncia de um feminino evanescente na obra pessoana. Os poemas de O Pastor Amoroso pe-nos perante uma muito vaga presena
feminina, embora em alguns versos os seus contornos assumam uma clara tonali-

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PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

dade ertica. Apesar disso, a mulher-personagem quase sempre indirectamente


mencionada: unicamente pelos pronomes que a designam.
AC120. Margarido, Alfredo. Alberto Caeiro: poeta polmico. JL. Jornal de
Letras, Artes e Ideias 162 (4 Novembro 1964).
Estudo de trs aspectos da poesia de Alberto Caeiro: a sua atitude perante as coisas fundamentalmente polmica, revela a constante busca de um mundo de
ausncia como nico capaz de definir a totalidade do existente e identifica-se com
a escola romanesca do olhar, de que expoente Alain Robbe-Grillet.
AC121. Martinho, Fernando J. B. Pessoa e a Moderna Poesia Portuguesa (Do
Orpheu a 1960). Biblioteca Breve, Vol. 82 Lisboa: Instituto de
Cultura e Lngua Portuguesas, 1983. (2. ed., 1991).
Dilogos textuais de poetas modernos e contemporneos portugueses com a poesia de Alberto Caeiro: Carlos Queiroz, Alberto de Serpa, Adolfo Casais Monteiro,
Manuel da Fonseca, Carlos de Oliveira, Ruy Cinatti, Jorge de Sena, Sophia de
Mello Breyner Andresen, Sebastio da Gama, Eduardo Valente da Fonseca,
Antnio Ramos Rosa, Pedro Tamen e Antnio Silva Pinto.
AC122. Martins, Fernando Manuel Cabral. Czanne e Caeiro: A cincia de
ver. U.S.D.P. Lisboa: S.E.C., 1990. 292-294. (Comun. ao
E.I.C.F.P., Lisboa, 5-7 Dezembro 1988).
Anlise da possibilidade de uma relao dos textos de Alberto Caeiro com a atitude esttica (ou a potica fundadora) de Czanne, pintor que, mais do que qualquer outro, se encontra na charneira da arte de vanguarda.
AC123. Matos, Maria Vitalina Leal de. Alberto Caeiro, uma anti-semiose.
Estudos portugueses. Homenagem a Luciana Stegagno-Picchio. Lisboa:
Difel, 1991. 783-794. (Repr. no seu A vivncia do tempo em Fernando
Pessoa e outros ensaios pessoanos. Lisboa: Verbo, 1993. 315-360).
O elemento motor que est na origem no de incoerncias ou contradies episdicas, mas da contradio viva que a poesia de Alberto Caeiro o que pode
chamar-se a vontade de no significao ou anti-semiose: o magistrio de Caeiro
consiste em cortar brutalmente o n grdio de toda a poesia pessoana.
AC124. Mendes, Victor. Caeiro ou a lio da natureza. Poticas do sculo
XX. Lisboa: Livros Horizonte, 1984. 165-173.

PESSOAS ALBERTO CAEIRO FALL 1999

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Anlise do VIII Poema de O Guardador de Rebanhos. A questo central de


Caeiro : como posso viver na irrealidade? Um dos fios da resposta seria o do trajecto da capacidade intelectual, parcialmente denegrida, para a imagtica. O
deus conceptual cristo substitudo por um novo deus, A Criana Eterna. Dse assim o derrube da aliana teolgico-homossexual filho-pai, substituda pela
aliana heterossexual, pag e at pantesta, filho-me.

JOS BLANCO

AC125. Merton, Thomas. The Hidden Ground of Love. The Letters of Thomas
Merton. New York: Farrar, Strauss Giroux, 1985. 191-192 e 460.
Nas suas cartas para a Irm M. Emmanuel de Sousa e Silva e para o Prof.
Hiromu Morishita, Thomas Merton refere que os poemas de Alberto Caeiro tm
a great Zen quality e que, embora lhes falte the delicacy and suggestiveness of
Japanese poetry, contain something of the Japanese view of things.
AC126. . [Nota sobre Fernando Pessoa]. Persona 11/12 (Dezembro
1985): 106. (em trad. portuguesa de George Monteiro. Publ. in The
Literary Essays of Thomas Merton, New York: New Directions, 1981.
309).
Pessoa-Caeiro deve ser considerado entre os escritores ocidentais que expressaram uma afinidade com a viso Zena capacidade para um estado de conscincia absoluta.
AC127. Moiss, Carlos Filipe. Caeiro, Mestre. Indiana Journal of Hispanic
Literatures 9 (Outono 1996): 53-75.
Fernando Pessoa um revolucionrio, mas a sua revoluo, a mais eficaz de
todas, discretssima, quase subliminar: no agita, no choca, no d gritos histricos, passa despercebida. Onde mais poderia estar seno na placidez buclica
de Alberto Caeiro? por demais evidente a afinidade entre a problemtica assumida nos versos de Caeiro com os enunciados de Wittgenstein, com os quais
compem uma surpreendente e harmoniosa unidade.
AC128. Moiss, Massaud. Alberto Caeiro, mestre de poesia? O Estado de
S. Paulo, Suplemento Cultura (11/23/1985): (Repr. in Revista
Comunidades de Lngua Portuguesa. Estudos sobre Fernando Pessoa no
Brasil, 6-7, So Paulo (Julho-Dezembro 1985-Janeiro-Junho 1986):
81-86; rep. sob o ttulo Alberto Caeiro, mestre de poesia? I, no seu
Fernando Pessoa: o espelho e a esfinge, So Paulo: Editora Cultrix, 2.

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PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

ed., 1990. 159-171 e in Arquivos do Centro Cultural Portugus. Paris:


Fundao Calouste Gulbenkian, XXXI. 491-501).
Por que razo Fernando Pessoa considerou Alberto Caeiro seu mestre?
Indicam-se trs hipteses explicativas: a ocultista, a afectiva e a intrnseca, das
quais se desenvolve a terceira. Caeiro , efectivamente, o nico dos heternimos
que se pretende, ou parece, poeta autntico ou natural; considerando-o seu mestre,
Fernando Pessoa considera-se mestre de si prprio.
AC129. . Introduo. O Guardador de Rebanhos e outros poemas de
Fernando Pessoa. So Paulo: Cultrix/EDUSP, 1988.
Se h heternimo que resista valentemente ao assdio dos crticos, Alberto
Caeiro: nas incgnitas suscitadas pela leitura da sua obra alojam-se as interrogaes bsicas contidas no Fernando Pessoa como um todo, ou sugeridas por ele.
Nos poemas de Caeiro revela-se um constante paradoxo inerente a um vaivm
dialctico, a um malabarismo de suposies a um s tempo lgicas e pretensamente
algicas (afirmao/negao). Negado o conhecimento, que j e sempre posterior
primeira viso das coisas, Alberto Caeiro converte-se no pastor de ideias/pensamentos/sensaes em torno do no-pensar.
AC130. . O Livro do Desassossego: livro-caixa, livro-sensao?
U.S.D.P. Lisboa: S.E.C., 1990. 87-90. (Comun. ao E.I.C.F.P.,
Lisboa, 5-7 Dezembro 1988. Repr. no seu Fernando Pessoa: o espelho e a esfinge, So Paulo: Editora Cultrix, 2. ed., revista e aumentada, 1990. 139-143).
Bernardo Soares repele a liderana de Alberto Caeiro por ser prosador. Fernando
Pessoa talvez no chegasse a terminar o processo de faz-lo heternimo completo, circunstncia que no o tornaria discpulo, mas mestre consumado: quem sabe teria
concebido dois mestres, um de poesia (Caeiro) e um de prosa (Bernardo Soares), sem
levar a termo, porm, a construo deste ltimo.
AC131. ___. Alberto Caeiro, mestre de poesia? Arquivos do Centro
Cultural Portugus. XXXI. Paris: Fundao Calouste Gulbenkian,
1992. 491-501. (Repr. sob o ttulo Alberto Caeiro, mestre de poesia?
II, no seu Fernando Pessoa: o espelho e a esfinge, So Paulo: Editora
Cultrix, 2. ed., 1990. 173-184).
Na sequncia do ensaio publicado sob o mesmo ttulo em 1985 (v.), equaciona a tese segundo a qual Fernando Pessoa se escoraria tambm em razes de ordem

PESSOAS ALBERTO CAEIRO FALL 1999

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afectiva, ou esttico-afectiva, para dar vazo ao guia Zen dos seres imaginrios
que a sua mente produzia sem cessar. Tais razes estariam vinculadas sua amizade fraterna com Mrio de S-Carneiro. Alberto Caeiro o S-Carneiro que
intelectualizasse a sua viso da Natureza e a sua vida interior: o que em SCarneiro era o natural puramente esttico, volve-se em Caeiro em natural pensado, em natural do pensamento.

JOS BLANCO

AC132. Monteiro, Adolfo Casais. Essncia e forma em Fernando Pessoa.


O Estado de So Paulo, Suplemento Literrio 6 (17 Novembro 1956).
Entre as formas tradicionais usadas por Fernando Pessoa ele mesmo e por
Ricardo Reis, e os ritmos livres dominantes em toda a poesia de Alberto Caeiro
e quase toda a de lvaro de Campos, no h diferena de essncia, mas de grau.
Os elementos novos introduzidos na poesia portuguesa por Caeiro e Campos alargam as suas possibilidades de expresso, mas no as alteram.
AC133. . Encontro fora do tempo e do espao. A poesia de Fernando
Pessoa. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1985. 125-131.
(Texto originalmente publicado em dois artigos sob os ttulos
Encontro fora do tempo e do espao e Ainda um estranho encontro,
in O Estado de So Paulo, Suplemento Literrio, ns. 116 e 117, 17
e 24 Janeiro 1959).
Em Outubro de 1958, nas pginas de La Nouvelle Revue Franaise, Alain
Robe-Grillet ao procurar definir num artigo as novas tendncias do romance, no
faz mais do que repetir, s vezes com as mesmas palavras (que se transcrevem no
ensaio), os ensinamentos de Alberto Caeiro em O Guardador de Rebanhos. O
encontro dos dois escritores, encarado de um ponto de vista estritamente histrico
poderia levar concluso de que um poeta portugus chegou, em 1914, onde s
quarenta e quatro anos mais tarde chegaria a evoluo do romance francs.
Caeiro deixa assim de ser apenas mestre de Pessoa e dos seus companheiros, para
o ser tambm do que ser talvez o caminho para uma nova esttica.
AC134. Monteiro, George. Fernando Pessoas Ontological Poem.
Concerning Poetry 9, 1 (Primavera 1976): 15-18.
Em toda a obra pessoana, no XXVII Poema de O Guardador de Rebanhos
(Li hoje quase duas pginas), que mais profundamente se exprimem as antinomias do Ser. Girando volta das metforas da doena e da loucura (e, por contraste, da sade e da sanidade mental): a chave do poema o jogo feito com

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PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

a palavra so, utilizada como tempo do verbo ser e como adjectivo. A mensagem de Caeiro, expressa atravs de rima, repetio e trocadilho, poder ser a de
que ser ter sade, porquanto ser outra coisa ou algo de diferente estar doente.
AC135. . Poet and Anti-Poet. The Presence of Pessoa. English,
American and Southern African Literary Responses. Lexington,
Kentucky: The University Press of Kentucky, 1998. 28-40.
Colaborador de Paul Celan na traduo de poemas de Fernando Pessoa em
alemo, o poeta, scholar e tradutor Edouard Roditi foi o pioneiro da crtica pessoana nos Estados Unidos (1955), tendo sofrido a influncia de Fernando Pessoa
na sua prpria poesia. O poeta americano e monge trapista Thomas Merton, que
em 1966 publicou em traduo inglesa diversos poemas de Alberto Caeiro que
considerava ser um poeta de grande qualidade Zenfoi igualmente influenciado
por Fernando Pessoa na sua obra.
AC136. Monteiro, Maria Rosa da Rocha Valente Sil e Amrico Antnio
Lindeza Diogo. Pessoa-Quaresma, investigador. Ns. 35-40
(1994): 45-54. (Repr. sob o ttulo Quaresma investigador no seu
Um medo por demais inteligente. Autobiografias pessoanas. BragaCoimbra: Angelus Novus, 1994. 7-17).
Analisam-se os quatro esboos de novelas policirias de Fernando Pessoa, na
perspectiva de o investigador Dr. Ablio Quaresma se aproximar, bastante mais
do que de Bernardos Soares, da fico heteronmica, bem como de revelar a
influncia heterotextual de Alberto Caeiro.
AC137. Mouro-Ferreira, David. S de Miranda, a cloga e Fernando
Pessoa. Tvola Redonda 11 (Dezembro 1951). (Repr. no seu Nos
passos de Pessoa. Lisboa: Presena, 1988. 25-32).
Alberto Caeiro o mais acabado representante da atitude potica, despersonalizante e parateatral, que, subsidiria da atitude buclica, entrou no lirismo
portugus atravs de S de Miranda. No lirismo nacional, a poesia pastoril era a
mais forte tradio de poesia heteronmica e despersonalizante, de poesia dramtica, de fingimento: embora de espcie complicada, Caeiro tanto ou to pouco pastor como um qualquer zagalo de Bernardim Ribeiro. Inclundo-se nessa
nossa tradio, justificam-se plenamente a prioridade do seu surgimento e o
magistrio que manter perante os outros heternimos e perante o seu prprio
criador.

PESSOAS ALBERTO CAEIRO FALL 1999

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AC138. . Algumas mulheres na poesia de Fernando Pessoa. Nos passos de Pessoa. Lisboa: Presena, 1988. 131-151.
Em matria de amor, a imaginao de Fernando Pessoa-poeta conseguiu em
muitos passos superar as inibies de Fernando Pessoa-pessoa. Percorrendo a obra
dos heternimos (alis todos eles impenitentes celibatrios), conclui-se que atravs
de Alberto Caeiro, Fernando Pessoa intuiu algumas fundamentais realidades do
amor, se no em termos fsicos, pelo menos no tocante a certos tormentos espirituais que o acompanham ou de que ele tambm se compe.

JOS BLANCO

AC139. Nunes, Benedito. Os outros de Fernando Pessoa. O Dorso do


Tigre. So Paulo: Editora Perspectiva, 1969. 220-221
Como se fosse um discpulo moderno e ocidentalizado do Zen-budismo, Alberto
Caeiro adestra-se a ter uma viso directa do mundo, no turbada pela necessidade de reflexo. Em alguns dos seus versos h uma rplica e uma censura a Fernando
Pessoa, incapaz de se manter nos limites da sensibilidade, bem como uma nova
regra de conduta, oposta s atitudes predominantes na cultura ocidental. O paganismo de Caeiro, que tem pontos de contacto com a antiguidade greco-latina ou
com os primitivos bons-selvagens, essencialmente a inocncia da alma.
AC140. Oliveira, Zacarias de. Fernando Pessoa e a Pesquisa do Alm.
Poesia Esprito e Cristianismo. Porto: 1984. 151-166.
Alberto Caeiro pe claramente o problema de Deus e resolve-o, com toda a
simplicidade, pelo pantesmo mais ou menos pago ou negativista. O VIII
Poema de O Guardador de Rebanhos, alm de sacrlego, tem ar de brincadeiras ou jogo: mas prova que a teologia catlica, nele ridicularizada, no era
estranha ao poeta.
AC141. Padilla, Hugo. La antimetafsica de Alberto Caeiro. Armas y Letras
(Junho 1963): 64-69.
A atitude anti-metafsica de Alberto Caeiro apenas um dos muitos reflexos
de uma atitude mais ampla: a anti-intelectualista: o poeta no faz perguntas, no
aceita mistrios nem sentidos ntimos das coisas. Preguntar, requiere contestar;
interrogar, requiere dar respuesta. Pero contestar y dar respuesta es ya hacer teoras. Todavia, Caeiro parece caer en su propria trampa. Para decir que no vale
la pena pensar, tiene que pensar que no vale la pena hacerlo. Para afirmar que
carece de valor tener ideas, al menos tiene la idea de sto. Por ello, la concepcin
antimetafsica de Caeiro es en el fondo una concepcin metafsica.

250

PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

AC142. Padro, Maria da Glria. A metfora em Fernando Pessoa. Porto:


Editorial Inova, 1973. (2. ed., Porto: Limiar, 1981).
Partindo do estudo dos tipos predilectos de metfora em Fernando Pessoa e
aproveitando o mtodo de Bachelard de exegese do imaginrio, procura-se uma
tipologia de concepes (parciais) do mundo, ou da vida, que Pessoa, sucessiva ou
alternativamente, esboa j de peito feito para as reduzir ao absurdo. Caeiro (de
quem, sobretudo, se analisa a metfora do Tempo) mais uma objectivao de
um modo abstracto de estar perante o mundo, um modo em que toda a imaginao cabe mas em que cessa a valorao humana e interna.
AC143. Paz, Octavio. El desconocido de s mismo. Fernando Pessoa.
Antologa. Mxico: Universidad Nacional Autnoma de Mxico
1962. 23-27. (Repr. in Cuadrivio, Mxico: J. Martiz, 1965; em trad.
portuguesa de Jos Fernandes Fafe, Lisboa: Iniciativas Editoriais,
1980. Repr. em trad. francesa de Jean-Claude Masson, no seu La fleur
saxifrage, Paris: Gallimard, 1984. 144-170. Repr. em trad. inglesa de
Michael Schmidt in Numbers, III,1, (Primavera 1988): 66-93).
Alberto Caeiro es todo lo que no es Pessoa y, adems, todo lo que no puede ser
ningn poeta moderno: el hombre reconciliado con la naturaleza. Antes del cristianismo, s, pero tambin antes del trabajo y de la historia. Antes de la consciencia. Caeiro niega, por el mero hecho de existir, no solamente la esttica simbolista de Pessoa sino todas las estticas, todos los valores, todas las ideas. Para o
Autor, Caeiro, o mais natural e o mais simples dos heternimos, es el menos real.
Lo es por excesso de realidad (...) Caeiro es una afirmacin absoluta del existir y
de ah que sus palabras nos parezcan verdades de oytro tiempo, ese tiempo en el
que todo era uno y lo mismo. E conclui que a mscara de inocncia que Caeiro
nos mostra no es la sabidura: ser sabio es resignarse a saber que no somos inocentes. Pessoa, que lo sabam estaba ms cerca de la sabidura.
AC144. ___. Intersecciones y Bifurcaciones. A.O. Barnabooth, Alvaro de
Campos, Alberto Caeiro. El Mercurio (19 Fevereiro 1989): (Repr.
no seu Convergencias. Barcelona: Seix Barral, 1991. 23-38).
Analisando o fenmeno da heteronmia em Valry Larbaud e Fernando
Pessoa, o Autor defende que Alberto Caeiro es un mito, el mito del Yo soy. Este
mito, al afirmar la unidad entre el ser y el mundo, postula la identidad entre ser
y hablar (...) El drama de los discipulos de Caeiro (y el nuestro) consiste en que
no tenemos ms remedio que hablar y tener conciencia de que hablamos.

PESSOAS ALBERTO CAEIRO FALL 1999

251

AC145. Pereira, Kleide F. A. Fices do Interldio/1 (Poemas completos


de Alberto Caeiro). A obsesso da msica na poesia de Fernando
Pessoa. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1988. 91-96
Ao escrever como Alberto Caeiro, Pessoa adopta uma forma exterior de versos livres, contidos na essncia de um paganismo artificial. Nos seus versos, a
msica est, objectiva ou subjectivamente, contida, por vezes pressentida nos elementos da natureza, por vezes lembranas de festins e rituais pagos.

JOS BLANCO

AC146. Pereira, Maria Idalina. Fernando Pessoa. Presena (J.U.C.F.) 17


(Abril 1957): 27-29.
Alberto Caeiro o heternimo cuja ideao se encontra menos prxima da
de Fernando Pessoa ele-mesmo; Ricardo Reis ultrapassa, em perfeio formal, o
seu criador; e lvaro de Campos vence-o em capacidade de conferir vibrao
emotiva ideia que serve de base a muitas das suas composies.
AC147. Perrone-Moiss, Leyla. IV. Caeiro Zen. Fernando Pessoa: Aqum
do Eu, Alm do Outro. So Paulo: Livraria Martins Fontes, 1982.
113-159
Estudam-se as notveis coincidncias da filosofia de Alberto Caeiro com o
Zen-Budismo, assinalando em seguida, na prpria poesia deste heternimo,
resultados estticos semelhantes aos alcanados pelo Zen na arte verbal. O objectivo do estudo no classificar a poesia de Caeiro usando, para tanto, a sua poesia. To pouco se trata apenas de dizer isto parece-se com aquilo, num comparatismo ingnuo que a nada levaria, j que os caminhos analgicos so
infinitos e divagantes. Alm disso, a analogia com o Zen s poderia ser tratada
superficialmente, dada a complexidade dessa filosofia e o carcter especfico (no
discursivo) da sua prtica: a preciosa, breve e personalssima poesia de Caeiro
correria o risco de ser esmagada no confronto com um saber milenar e colectivo
como o do Zen. O paralelo Caeiro-Zen no , assim, detido no confronto filosfico, antes procurando levar-nos de volta poesia de Caeiro, aos seus processos,
articulaes, dificuldades e solues.
AC148. Pires Filho, Ormindo. Alberto Caeiro: Paganismo em prosa e verso. Estudos Portugueses. Cem Anos de Pessoa 1 (1989): 29-40. (Repr.
in Estudos Portugueses. Fernando Pessoa Revisitado, Revista da
Associao de Estudos Portugueses Jordo Emerenciano, 5 (1995):
171-185).

252

PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

As obras dos heternimos, at certo ponto, poderiam ser frutos da Mensagem


do Alm, que Fernando Pessoa, obediente aos impulsos e s tendncias medinicas,
psicografou. Atravs do estudo do que os heternimos entendiam por paganismo,
constroem-se os alicerces de uma propedutica para compreenso, em profundidade, da obra de Alberto Caeiro.
AC149. Quesado, Jos Clcio Baslio. A objectividade perceptiva de Alberto
Caeiro. O constelado Fernando Pessoa. Rio de Janeiro: Imago
Editora, 1976. 45-61.
Demonstra-se que Alberto Caeiro, desenvolvendo a sua actividade potica centrado na percepo do objecto do espao externo, procura, no seu objectivismo total,
sentir o universo das coisas naturais at anulao do sujeito e de todas as categorias que o definem como tal. Na afirmao da sensorialidade, Caeiro privilegia o
visualismo, na linha dos gregos antigos. Propondo o equilbrio da ordem universal
a partir da natural, procura no cosmo pessoano a composio de uma harmonia
para o estar do homem no mundo e para a linguagem que o faz significar, opondo-se assim a toda a inquietao pensamento de Pessoa-ele mesmo. Conclui-se que
no todo constelado do poeta, a objectividade e a subjectividade formam os elementos polares que so assumidos, respectivamente por Caeiro e pelo ortnimo. Reis
e Campos traam as suas rbitas em torno desses polos.
AC150. Quintanilha, F. E. G. Introduction. Fernando Pessoa. Sixty
Portuguese Poems. Cardiff: University of Wales Press 1971. xxxiiixxxiv. (Republ. 1973; 1. ed. em paperback, 1988).
Embora os poemas de Caeiro tenham sido concebidos with the conventions of
pastoral poetry e Fernando Pessoa fale deles em termos de simplicity, straightforwardness, and navety, a verdade que his poetrys simplicity is only apparent.
One is faced with a type of sophisticated and dialectical process of thought which
can be detected from the first poem.
AC151. Quiroga, Jos C. Anlise comparativa de ocorrncias vocabulares na
lngua dos heternimos pessoanos.Rosalia 5 (Primavera 1986): 31-49
Aproximao comparativa lngua dos heternimos, a nvel morfolgico, utilizando ndices de frequncia e quadros percentuais. Partindo da edio tica,
conclui-se que existem diferenas concretas e nvel de frequncia de vocabulrio (e
a nvel da lngua) entre os trs heternimos e Pessoa ele-mesmo. Em geral, pode
dizer-se que a lngua de Alberto Caeiro a mais particular: tem uma percen-

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tagem de formas do Indicativo superior de todos os outros, no usa nenhum


Imperativo, emprega menos verbos com significado negativo. No que se refere a
substantivos, Caeiro revela uma proporo individual muito elevada de coisas e
objectos da Natureza e do mundo real; e, ao contrrio dos outros heternimos e
de Pessoa ele-mesmo, no tem qualquer referncia s coisas do mar.

JOS BLANCO

AC152. Rebelo, Lus de Sousa. Fernando Pessoa e a tradio clssica.


Arquivos do Centro Cultural Portugus. XIII Paris: Fundao
Calouste Gulbenkian 1978. 235-263 (Repr. no seu A tradio clssica na literatura portuguesa, Lisboa: Livros Horizonte, 1982. 280308).
Tm que se rever por completo quaisquer leituras que queiram detectar a presena do Budismo Zen em O Guardador de Rebanhos, determinada a partir de
aspectos que, sendo comuns filosofia e meditao Zen, o so tambm filosofia, sageza dos Esticos e sua arte sbia e iluminadora do paradoxo, to subtil como a do Koan. Pessoa explorou na produo do seu discurso potico a lgica
e a epistemologia dos Esticos, recorrendo todavia tradio clssica atravs da
intertextualidade. atravs de processos de dinmica intertextual que Caeiro
busca destruir o Cristismo, numa tentativa de objectivao e reduo da imagem,
que a liberte da emotividade que sucessivas leituras sobre ela acumularam ao longo dos sculos: a imagem polissmica do vento (X Poema) que na sua essencialidade potica remonta aos textos das antigas cosmogonias orientais, mostra ter afinidades com o Evangelho segundo S. Joo.
AC153. . Alberto Caeiro e o deus que faltava. Afecto s Letras.
Homenagem da Literatura Portuguesa Contempornea a Jacinto do
Prado Coelho. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1984.
382-391.
A formulao terica de um pensamento neopago, consentneo com as tradies e as necessidades da cultura portuguesa, assume uma importncia fundamental nos escritos de Fernando Pessoa e do seu heternimo Antnio Mora, que
constituem um prolongamento doutrinal e um desenvolvimento hermenutico de
ideias e atitudes nascidas dos poemas de O Guardador de Rebanhos. Analisa-se
o pensamento neopago de Pessoa, sublinhando que tudo indica que um dos autores que o influenciou foi John M. Robertson. O Cristo do VII Poema de O
Guardador de Rebanhos, onde se detectam tons junqueirianos e acentos idlicos
da Vida de Jesus de Gomes Leal, uma figura original que se integra no gne-

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PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

ro da stira menipeia, tendo muitas semelhanas com o Cristo de William Blake


em The Everlasting Gospel. Curiosamente, nunca se reparou que a revoluo
esttica que levou instalao da sensibilidade moderna entre ns se desenvolve
sincronicamente com a que levada a cabo por James Joyce. Pessoa e Caeiro so
no apenas os fundadores do nosso Modernismo, mas figuras de proa da
Modernidade que, no comeo deste sculo, nasce nas literaturas ocidentais.
AC154. . Paganismo versus Cristianismo em Fernando Pessoa. Actas
IV, Vol. II. Porto: Fundao Eng. Antnio de Almeida, 1990. 4149. (Comun. ao IV C.I.E.P., Seco Brasileira, So Paulo, 27-30
Abril 1988. Repr. in Boletim Bibliogrfico. Biblioteca Mrio de
Andrade,1-4 (Janeiro-Dezembro 1987): 9-16; e in Colquio/Letras,
104-105 (Julho-Outubro 1988).
Fernando Pessoa medita a problemtica do pensamento antigo dentro da
dialctica da sua discursividade e do ponto de vista da sua relevncia para o
tempo cultural portugus. Estuda-se o desenvolvimento das ideias de Pessoa
sobre a relao entre Paganismo e Cristianismo, bem como o efeito que elas tiveram na sua criao potica, com referncias e Nietzsche, Mathew Arnold e
Oliveira Martins.
AC155. . Alberto Caeiro e o Neopaganismo. Fernando Pessoa.
Poemas Completos de Alberto Caeiro. Lisboa: Presena, 1994. 333350.
Depois de se historiar o projecto Alberto Caeiro, atravs do recurso a textos de
Pessoa e de outros heternimos (Ricardo Reis e Antnio Mora), analisam-se
obsesses temticas que existem na sua obra, precedendo-a e integrando-a. No destino de Artista-Messias que o seu, empenhado em forjar uma nova conscincia
nacional e criar uma sensibilidade sintonizada com as novas realidades, Pessoa
um caso singular e nico no plano da cultura europeia. certo que a ideia no
apangio de Pessoa, nem exclusivo seu: ela aparece no horizonte de espera da intelectualidade europeia do incio do sculo: s que talvez nenhum outro escritor reunisse em si todas as condies que nele se nos deparam.
AC156. Rickard, Peter. Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. Selected Poems.
Edinburgo: University Press, 1971. 28-31.
Algumas ideias de Alberto Caeiro strikingly anticipate certain aspects of
modern existentialist thought: he would certainly have subscribed to what Sartre

PESSOAS ALBERTO CAEIRO FALL 1999

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was later to write in one of the first pages of Ltre et le nant. Para o Autor, o
ponto fraco de Caeiro in his glorification of immanence and his dismissal of
transcendence que he is really asking homo sapiens to give up being homosapiens. (...) There is a strangely feverish, over-hearty quality about Caeiro, as
though he desperately needed to convince himself that there is no more to things
than their appearance, and that he therefore has nothing at all to worry about.
But the doctrine he preaches is a superhuman one, impossible of fulfilment for
ordinary mortals. Talvez fosse por considerar insustentvel esta posio que
Fernando Pessoa matou Caeiro quando este era ainda jovem (26 anos) e lhe
atribuiu muito poucos poemas depois de 1920.

JOS BLANCO

AC157. Sacramento, Mrio. Autopsicografia. Fernando Pessoa. Poeta da


Hora Absurda. Lisboa: Contraponto, s.d. (1959). (2. ed., Porto:
Editorial Inova, 1970; 3. ed., Lisboa: Vega, 1985).
O autor, que scar Lopes diz confinado de propsito nas macroestrururas
ideolgicas de Pessoa, apresenta Alberto Caeiro como um cnico e obsesso travestido de simples; h nele o que quer que seja que nos faz pensar, contraditoriamente, no Junqueiro de Os Simples e no Jacinto de A cidade e as serras.
Sob a falsa candura do olhar de safira, a sinceridade de Caeiro brutal e cnica. H que confront-la com a do homem-Pessoa, em que se encontram inmeros reflexos de Nietzsche e do culto do super-homem. Confrontando versos de
Caeiro com passagens de Assim falava Zaratustra, verifica-se que a sua obra
poderia rotular-se como uma introduo utopia duma fuga ao absurdo e que,
concluda tal introduo, percorremos por ela um novo caminho de absurdo.
Mito frgil, a obra de Caeiro, lida de ponta a ponta, deixa-nos a recordao de
uma poesia.
AC158. Santos, Maria Irene Ramalho de Sousa. Poets, Angels, and The
Canon: Master Caeiro and The Supreme Fiction. Indiana Journal
of Hispanic Literatures 9 (Outono 1996): 145-169.
Estudando a poesia e a potica de Fernando Pessoa no contexto do
Modernismo anglo-americano, compara-se a descrio por ele feita da gnese dos
heternimos com a invocao do Anjo por Wallace Stevens na ltima seco das
Notes Toward a Supreme Fiction, no sentido de que ambos os textos so representaes da ideia do poeta acerca da sua prpria identidade (ou fico de identidade) como criador original. Em ambos os casos, Walt Whitman desempenha
um papel importante de antagonista. Conclui-se que, especialmente entre os escri-

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PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

tores Modernistas, redutor e simplista distinguir entre reaccionarismo poltico e


revolucionarismo potico.
AC159. Saraiva, Arnaldo. Das contradies (de) Caeiro s contradies sobre
Caeiro. Persona 2 (Julho 1978): 43-48.
Revela-se a complicada montagem, por Fernando Pessoa, do heternimo Alberto
Caeiro, comeada em 1912 como uma brincadeira e prolongada at 1914, para
tornar mais clara a gnese heteronmica e pr prova a verdade de Caeiro atravs dos amigos que mistificava: Caeiro-heternimo estaria para Pessoa assim como
Caeiro-histrico estaria para os companheiros e amigos de Pessoa.
AC160. Saraiva, Mrio. O caso clnico de Fernando Pessoa. Lisboa: Referendo,
s.d. [1990]. 163-164.
Diagnosticando a psicose de que sofreu Fernando Pessoa (esquizofrenia mista,
entre a esquizofrenia hebefrnica e a paranica), defende-se que na descrio do
aparecimento de Caeiro na carta a Casais Monteiro, perpassa o sopro quente do
psicopatolgico e que o psiquiatra e o prprio mdico esto sempre atentos e so especialmente sensveisou, pelo menos, uma clivagem da personalidade bem perto
do desdobramento, ou mesmo desdobramento.
AC161. Sasportes, Jos. Alberto Caeiro, um poeta assassinado. Estudos portugueses. Homenagem a Luciana Stegagno-Piccho. Lisboa: Difel, 1991.
823-832.
Em trs textos de Valry (Monsieur Teste), Fernando Pessoa (Alberto Caeiro) e
Apollinaire, que parecem escritos em momentos derradeiros, anunciando uma agonia prxima, exprimem-se outros tantos balanos de vida e caminhos de sabedoria.
Ao contrrio do que sucedeu com Valry e Apollinaire, para quem o jogo da morte
tem carcter episdico, a morte tema constante e central de toda a obra de Pessoa.
Estudam-se as razes que o tero levado a matar Caeiro em 1915.
AC162. Seabra, Jos Augusto. Fernando Pessoa ou o poetodrama. So Paulo:
Editora Perspectiva 1974. (Tese defendida em 1971 na Sorbonne,
sob o ttulo Analyse Structurale des Htronymes de Fernando Pessoa:
du Pomodrame au Potodrame. Ed. portuguesa, Lisboa: Imprensa
Nacional-Casa da Moeda, 1988; ed. francesa, Paris: Jos Corti, 1988;
3. ed. portuguesa revista, Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da
Moeda, 1988).

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Enquanto criao potica pura, Caeiro , de todos os heternimos, aquele cuja


biografia mais se apaga perante a obra. O seu testamento potico simples, limitando-se afirmao de uma confiana humilde na existncia prpria dos seus poemas. Dentro do poetodrama, encarna o plo objectivo do sistema heteronmico. O
segredo da sua potica est na combinao da prosa (linguagem natural) com o
verso (linguagem artificial). Do ponto de vista do significante, observa-se na poesia de Caeiro uma subtil utilizao dos elementos fonticos da lngua, sabendo tirar
rendimento potico da combinao dos elementos de uma matria verbal reduzida
sua expresso mais simples. Para Caeiro, o prosasmo o signo perfeito do potico: a sua linguagem pode, assim, classificar-se como o grau zero da poesia.

JOS BLANCO

AC163. . Potica e filosofia em Fernando Pessoa. Nova Renascena


VIII, 30-31 (Abril-Setembro 1988): 155-160. (Comun. ao IV
C.I.E.P., Seco Brasileira, So Paulo. Repr. no seu O corao do texto.
Le coeur du texte. Novos ensaios pessoanos. Lisboa: Cosmos, 1996. 1927).
Na gradao, segundo uma escala esotrica, dos heternimos pessoanos, Alberto
Caeiro quem leva mais longe, e pela sua dupla recusa, as relaes entre a poesia e a
filosofia.
AC164. . A Cidade Como Mito Potico da Modernidade. La ville
dans lhistoire et dans limaginaire. Paris: Presses de la Sorbonne
Nouvelle, 1996. 77-89.
O fascnio e a rejeio so a dupla face que a Cidade toma na modernidade literria post-baudelairiana, que atinge a sua mais elaborada expresso na poesia heteronmica de Fernando Pessoa, numa coincidentia oppositorum de que Caeiro e
Campos, ambos na esteira de Cesrio Verde, se reclamam.
AC165. Segolin, Fernando. Caeiro e Nietzsche: Da crtica da linguagem
anti-filosofia e anti-poesia. Actas IV, Vol. I. Porto: Fundao Eng.
Antnio de Almeida, 1990. 247-259. (Comun. ao IV C.I.E.P., Seco
Brasileira, So Paulo, 27-30 Abril 1988).
O trao mais notvel de parentesco entre as obras de Caeiro e de Nietzsche a
conscincia, aguda e trgica, da impotncia da linguagem face ao real. Textos de
logro e astcia, as obras de ambos so obras em que pontifica o vcio olmpico, a gargalhada urea, o riso desmistificador, contestao e criao, pura afirmao, pura
procura sem comeo nem fim, circularidade, eterno retorno.

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PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

AC166. Sena, Jorge de. O meu mestre Caeiro de Fernando Pessoa e outros
mais. Actas I. Porto, Braslia Editora: Fundao Eng. Antnio de
Almeida, 1979. 341-364. (Comun. ao I C.I.E.P., Porto, 3-5 de Abril
de 1978. Repr. no seu Fernando Pessoa & C. Heternima. Estudos
coligidos 1940-1978. Lisboa: Edies 70, 1981, II Vol. 207-224).
Estudo comparativo bio-bibliogrfico dos participantes no fenmeno heteronmico, com especial incidncia no caso de Alberto Caeiro, e das suas incidncias e
correlaes com a vida real de Fernando Pessoa: Caeiro vivia com uma tia-av (a
tia materna de Fernando Pessoa, Maria Xavier Pinheiro?), viveu exactamente o
mesmo tempo que Mrio de S-Carneiro (1889-1915) e morreu tuberculoso
como o prprio pai de Fernando Pessoa, tinha o poeta cinco anos de idadeprecisamente os cinco anos fictcios de actividade potica (1911-1915) que Fernando
Pessoa atribuiu ao seu Mestre. Ao estudar Caeiro h que ter em ateno que no
bucolismo literrio portugus (S de Miranda, Bernardim Ribeiro), os rebanhos,
tal como os de Caeiro, eram puramente simblicos. O poeta quinhentista ingls Sir
Philip Sidney tem na sua novela pastoril Arcadia um poema em que dois versos
sero a chave do bucolismo do autor de O Guardador de Rebanhos.
AC167. Sequeira, Rosa Maria. IV. Os Engenheiros da Poesia. 1. Cesrio
como vivncia literria de Pessoa. 1.1. Na poesia de Alberto Caeiro.
A imagem da cidade na poesia moderna: Cesrio Verde e Fernando
Pessoa. Frankfurt am Main: TFM (Editora Teo Ferrer de Mesquita),
1990. 139-141
Embora no se trate necessariamente da valorizao do campo e negao da
cidade, o que Caeiro releva em Cesrio a atitude esttica, uma inocncia do
olhar: nessa atitude que reside a lio potica.
AC168. Severino, Alexandrino E. A presena de Coleridge na obra de PessoaCaeiro. U.S.D.P. Lisboa: S.E.C., 1990. 175-177. (Comun. ao
E.I.C.F.P., Lisboa, 5-7 Dezembro 1988).
Anlise da questo da sinceridade em Fernando Pessoa, centrada nos poemas de
Samuel Taylor Coleridge e de Alberto Caeiro, que o poeta reconhecia como dos mais sinceros do mundo.
AC169. . Fernando Pessoa e William Shakespeare: Um estudo com
parativo de heteronmia. Actas IV, Vol. I. Porto: Fundao Eng.
Antnio de Almeida, 1990. 13-22. (Comun. ao IV C.I.E.P., Seco

PESSOAS ALBERTO CAEIRO FALL 1999

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Brasileira, So Paulo, 27-30 Abril 1988).


Anlise da presena de Shakespeare na obra global de Fernando Pessoa, sobretudo
no que diz respeito concepo dos heternimos e qualidade dramtica que Fernando
Pessoa quis atribuir sua obra potica. O quinto grau da poesia lrica pessoana deve
ser visto luz da obra de Coleridge, nomeadamente do poema Kubla Khan, cujas
caractersticas de sinceridade so fielmente reproduzidas nos poemas de Alberto Caeiro.

JOS BLANCO

AC170. Silva, Agostinho da. Alberto Caeiro. Um Fernando Pessoa. Porto


Alegre: Cadernos do Rio Grande 1959. 51-63. (2. publ., Lisboa:
Guimares Editores, 1959; 2.ed., 1988; 3. ed. 1996).
O pensador ou o imaginador, ou o fantasiador, que seria talvez o termo exacto
para reunir as duas categorias geralmente separadas que, juntamente com o artista,
formam o poeta, naturalmente em Alberto Caeiro muito semelhante ao escritor.
Para o Autor, o VIII Poema de O Guardador de Rebanhos talvez o poema fundamental de Caeiro: Jesus, descendo terra, foge a tudo que sobre ele lanaram as
invenes dos homens que pensam e, feito numa criana natural, tem apenas a
misso de ensinar o poeta a olhar para as coisas. Num mundo de adultos habituados a pensar, logo os metafsicos viriam com o argumento j no falando de contradies, de que toda a filosofia de Caeiro peca pela base. Mas a sua doutrina to
frgil como a sua sade: ambas esto ameaadas por infeces, o raciocnio e a tuberculose, que sendo infeces so fenmenos da vida e tm de ser explicados na vida,
mesmo para serem destrudos.
AC171. . Um poema de Oflia a Conselho de Alberto Caeiro e
Tudo sonhar? Carta vria. Lisboa: Relgio dgua sd (1988).
39-40, 77.
Poemas.
AC172. Silva, Lus de Oliveira e. Alberto Caeiro: o Feelosopher filosofante. O materialismo idealista de Fernando Pessoa. Lisboa: Clssica
Editora, 1985. 9-84.
O Autor defende o romantismo da obra potica de Fernando Pessoa, que se
fundamenta no dinamismo psicolgico de Fichte e no pessimismo de
Schopenhauer. O alvo da poesia de Alberto Caeiro no a transmisso de sensaes, mas a exposio argumentativa e apologtica de uma teoria do conhecimento sensualista. Atravs de uma anlise exaustiva dos poemas de Caeiro e das
opinies, interpretaes e comentrios de Antnio Mora, Ricardo Reis e lvaro de

260

PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

Campos, aproxima-se a sua obra do pensamento de Nietzsche, que deixou uma


marca indelvel no complexo heteronmico de Pessoa. Conclui-se que no seu
empenho em no se diferenciar da Natureza, Caeiro destri todo o idealismo,
transformando-se num D.Quixote s avessas: absorto num egosmo intenso,
forado a ignorar tanto o bem comum da humanidade como a dignidade do ser
humano singular. Mas o seu terrvel egosmo implica a sua completa despersonalizao. Caeiro consegue ser um indivduo, mas no uma pessoa.
AC173. Silva, Teresa Cristina Cerdeira da. O Guardador de Rebanhos.
Excelncia Precariedade do Jogo. Boletim do SEPESP. Universidade
Federal do Rio de Janeiro (1988): 48-66.
Sem considerar propositadamente como ponto de partida a vasta e importante crtica j existente sobre O Guardador de Rebanhos, prope-se abrir um
caminho novo, seguindo, at certo ponto, as lies do Mestre Caeiro. Pretendese alargar os limites da potica do fingir de Fernando Pessoa na
Autopsicografia, indo encontrar os seus ecos nas propostas poticas que Caeiro
realiza na sua obra. As malhas de O Guardador de Rebanhos mostram que o
poeta duas vezes um jogador e que a actividade ldica ou do fingimento: num
primeiro nvel, o jogo potico, num segundo nvel a astcia pretende anular a
prpria dimenso da poesia.
AC174. Simes, Joo Gaspar e Luis de Montalvor. Nota explicativa. Poemas
de Alberto Caeiro. Lisboa: Edies tica, 1946. 11-18.
Explicitao do critrio adoptado na seleco e ordenao dos textos poticos
de Alberto Caeiro. Tal como aconteceu com o primeiro volume (poesia ortnima),
os organizadores optaram pela publicao daquelas composies que se [lhes] afiguraram dignas de representar o gnio disciplinado de Fernando Pessoa, ou seja,
aquilo que [lhes] parecesse ter atingido a sua derradeira e perfeita forma. No
caso de Caeiro, as poesias inseridas correspondem exactamente ao nmero de
composies encontradas em seu estado de redaco definitiva, sendo apenas
excludas as poesias ilegveis, que foram, aps longas leituras, consideradas completamente inaproveitveis. Quanto ao problema da autoria, pelos vrios heternimos, das composies inditas encontradas sem indicao de autor, os organizadores resolveram atribu-las naturalmente quele dos heternimos com cujo
estilo essas poesias mais se assemelhassem. No caso de Caeiro, tal tarefa foi facilitada pelo facto de se ter encontrado no esplio o manuscrito escrito pelo prprio
punho de Pessoa O Guardador de Rebanhos, conjunto de 49 poesias, forman-

PESSOAS ALBERTO CAEIRO FALL 1999

261

do um poema com a sequncia, unidade e redaco definitiva. Quanto aos


Poemas Inconjuntos, os textos assinados formam uma aprecivel maioria e os
que o no esto fazem parte dos maos de originais que o Poeta designou com o
ttulo de Poemas de Alberto Caeiro.

JOS BLANCO

AC175. ___. Vida e obra de Fernando Pessoa. Histria de uma gerao. Lisboa:
Bertrand, sd [1950]. 274-287. (7. ed., Lisboa: Dom Quixote, 1991).
Parece legtimo perguntar em que, por que e de que maneira Alberto Caeiro foi,
de facto, autor do que existe de mais sincero na obra de Fernando Pessoa, como este
mesmo afirmou. Tudo indica que o que Fernando Pessoa efectivamente sentia no
dia triunfal de 8 de Maro de 1914 era exactamente o que Caeiro exprimiu nos
poemas de O Guardador de Rebanhos. No entanto, a sinceridade de Caeiro apresenta-se-nos condicionada, restrita e desumanizada: para o Autor, o conceito de sinceridade est na linha que liga a inspirao vida, a criao existncia, a poesia
biografia. Assim, Alberto Caeiro foi sincero, mas apenas de uma forma intelectual: no bucolismo materialista e primitivo dos seus versos no se revela um
homemdenuncia-se uma desintegrada e desincorporadamente potica.
AC176. Simes, Joo Gaspar. VII. O movimento modernista: a gerao do
Orpheu (1915-1927). 1) Fernando Pessoa. Histria da poesia portuguesa do sculo vinte acompanhada de uma antologia. Lisboa: Empresa
Nacional de Publicidade,1959. 490-507.
O dia 8 de Maio [sic] de 1914, data em que escreve, praticamente de um s
jacto, a parte fundamental da obra de Alberto Caeiro, assinala, no destino de
Fernando Pessoa, o fim do seu perodo literrio experimental, reconhecendo que
simbolismo, decadentismo, saudosismo, palismo so verduras da mocidade e
descobrindo que a unificao da sua personalidade no poderia realizar-se atravs da sensibilidade e da emoodo misticismo poticomas, sim, atravs da
discriminadora inteligncia. Alberto Caeiro o agente dessa descoberta. O que
com ele aprende, com o seu naturalismo pago, servir-lhe- para se orientar da
para o futuro no sentido que mais convm sua natureza artstica: exprimirse pensando.
AC177. . Alberto Caeiro e o conceito de opacidade. Dirio de
Notcias (16 Dezembro 1962).
Recenso crtica do ensaio de Maria Luisa Guerra Sobre o conceito de opacidade na poesia de Alberto Caeiro.

262

PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

AC178. Simes, Joo Manuel. Captulo breve das fices do interldio,


Heteronmia, maneira de Caeiro. Comunidades de Lngua
Portuguesa. Revista Cultural dos Pases de Idioma Portugus II, 9
(Janeiro-Junho 1996): 134-135.
Poemas.
AC179. Sousa, Ronald W. Pessoa, Fernando. O Manuscrito de O
Guardador de Rebanhos de Alberto Caeiro: Edio Facsimilada.
Portuguese Studies Newsletter 17 (Primavera-Vero 1987).
Recenso crtica, concluindo o Autor que Caeiro will have to be reassessed with
reference to the facsimile reproduction and to [Ivo] Castros critical text.
AC180. Stegagno-Picchio, Luciana. Filologia vs. poesia? Eu defendo o Dia
Triunfal. U.S.D.P. Lisboa: S.E.C., 1990. 63-70. (Comun. ao
E.I.C.F.P., Lisboa, 5-7 Dezembro 1988).
O confronto entre as dedues da filologia acerca do testemunho de Fernando
Pessoa sobre a gnese de O Guardador de Rebanhos e o mito-testemunho do dia
triunfal contido na carta a Casais Monteiro pode levar a reconhecer que, para
ler Pessoa, sejam necessrias duas medidas ou nveis interpretativos, num jogo de
dupla verdade como o utilizado pelos filsofos humanistas no sc. XV. A filologia
tirou-nos o dia triunfal mas Fernando Pessoa acreditava no dia triunfal e
sem o dia triunfal no se explica a sua poesia.
AC181. Suarez, Jos I. e Ren P. Garay. A Sinceridade Potica de Alberto
Caeiro. Boletim Informativo 2. s. 10 Centro de Estudos
Portugueses, Universidade de So Paulo (1982).
Anlise de poesia de Alberto Caeiro, que se classifica como sensorial e descritiva em relao dos outros heternimos e do ortnimo. Indica-se bibliografia,
algumas vezes comentada.
AC182. Tabucchi, Antonio. Interpretazione delleteronimia di Fernando
Pessoa. Studi Mediolatini e Volgari XXIII Pacini Editore (1975):
139-187. (Parte do ensaio rep. em trad. portuguesa sob o ttulo O
Marinheiro: Uma charada esotrica?, no seu Pessoana mnima.
Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1984; rep. sob o ttulo
Il marinaio: una sciarada esoterica? no seu Un baule pieno di gen-

PESSOAS ALBERTO CAEIRO FALL 1999

263

te. Scritti su Fernando Pessoa. Milo: Impronte-Feltrinelli, 1990; rep.


em trad. francesa sob o ttulo Le Marin: une nigme sotrique?
no seu Une malle pleine de gens. Essais sur Fernando Pessoa. Paris:
Christian Bourgois diteur, 1992; repr. em trad. alem sob o ttulo
Der Seemann: eine esoterische Scharade?, no seu Wer War Fernando
Pessoa? Munique e Viena: Carls Hanser Verlag, 1992).
Utilizando dois critrios fundamentais (o primeiro, recordar os dados biogrficos, o segundo fazer uma leitura da obra em termos de literatura em absoluto),
conclui-se que o sistema heteronmico criado por Fernando Pessoa pode resumirse do seguinte modo: para acreditar no mundo, o Ortnimo faz Caeiro construir
um mundo igual; este mundo construdo por Caeiro aceite por Reis; e Campos,
apoderando-se dele, esgota-o, obrigando o Ortnimo a postular de novo Caeiro.
Todavia, os heternimos so contemporneos uns dos outros, diacronica e sincronicamente; no so mveis, ocupando antes um lugar fixo. Actuando num mundo intemporal, no tm futuro potico: a sua fisionomia potica ser sempre aquela com que nasceram.

JOS BLANCO

AC183. . Introduzione. Almanaco dello Specchio. A cura di


Marco Forti 9 Arnoldo Mondadori Editore (1980): 65-69. (In
Fernando Pessoa. Da Il guardiano di greggi di Caeiro, poema
ottavo, trad. de Maria Jos de Lancastre. Repr. em trad. portuguesa
de Antnio Mateus Vilhena sob o ttulo Uma criana atravessa a
paisagem. Sobre o Poema VIII de O Guardador de Rebanhos, no
seu Pessoana mnima. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda,
1984; repr. sob o ttulo Un bambino attraversa il paesaggio no seu
Un baule pieno di gente. Scriti su Fernando Pessoa. Milo:
Impronte-Feltrinelli, 1990; rep. em trad. francesa de Jean-Baptiste
Para sob o ttulo Un enfant traverse le paysage no seu Une malle
pleine de gens. Essais sur Fernando Pessoa. Paris: Christian Bourgois
diteur, 1992; rep. em trad. alem sob o ttulo Ein Kind geht
durchs Land, no seu Wer War Fernando Pessoa? Munique e Viena:
Carls Hanser Verlag, 1992).
A Criana do Poema VIII de O Guardador de Rebanhos que, em 1914, tem
tendncias para dormir na alma das pessoas e brincar com os sonhos dos outros,
ter um no-pacfico, desconfortvel e talvez selvagem futuro psicanaltico? O
seu olhar, que s um olhar e, por isso, mais do que um olhar, existncia reduzida apenas existncia, nem acto, nem potncia, nem acidente, nem substncia,

264

PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

ser porventura uma das intuies fundamentais da filosofia do sculo XX, antecipando-se a Heidegger, Jaspers, Sartre?
AC184. Touati, Dominique. Lusage de la navet chez Caeiro et
Platonov. U.S.D.P. Lisboa: S.E.C., 1990. 345-347. (Comun. ao
E.I.C.F.P., Lisboa, 5-7 Dezembro 1988).
Coincidncias e similitudes entre os textos de Alberto Caeiro e os de Platonov,
levantando-se a questo dos processos psquicos que conduziram ao fenmeno
heteronmico.
AC185. Valadares, M. J. Elementos para uma patografia de Fernando
Pessoa. Praa Nova (Dezembro 1962): 9-10.
A partir da verificao experimental dos princpios da tipologia de
Kretschmer e suas associaes morfo-psquicas (atravs de casos como os de
Balzac, Dostoievski e Cervantes e os tipos por ele criados), elabora-se a hiptese
do criador artstico criado (um artista e a sua obra imaginados por um artista), realizada por Fernando Pessoa com os seus heternimos. Neste contexto,
Alberto Caeiro classificado como um ciclotmico pcnico: vive o real, acredita
nas coisas em si, sem se preocupar com o que deve pensar delas. Dos seus poemas
conclui-se que era dotado de uma sensibilidade redonda, de uma alegria calma,
sem complicaes intelectuais de aguada introspeco e em perfeito sintonismo
com a vida prtica. Caeiro deve ter sido, de todos os heternimos, o mais difcil
de realizar para Pessoa.
AC186. Valcarcel, Xulio. Caeiro, o Mestre. Fernando Pessoa. No centenrio. Sada, A Corua: Edicis do Castro, 1988. 35-39.
Alberto Caeiro um defensor radical da pessoa como individualidade: a
nica coisa que oferece em testamento so as datas de nascimento e morte, todos
os demais dias da sua vida lhe pertencem e, quanto ao que possa vir depois da
morte, apenas deseja, serenamente, o olvido.
AC187. Vieira, Monsenhor Primo. Fernando Pessoa e o hai-kai. Actas IV,
Vol. II. Porto: Fundao Eng. Antnio de Almeida, 1990. 181189. (Comun. ao IV C.I.E.P., Seco Brasileira, So Paulo, 27-30
Abril 1988).
Existe no Esplio de Fernando Pessoa uma folha avulsa com cinco tentativas
de composio de hai-kais, dos quais trs completos e um inacabado. atravs

PESSOAS ALBERTO CAEIRO FALL 1999

265

da sensibilidade potica de Alberto Caeiro que Fernando Pessoa atinge o verdadeiro esprito do hai-kai.

JOS BLANCO

AC188. Vouga, Vera. Pessoa: Versos, verso. Actas IV, Vol. II. Porto:
Fundao Eng. Antnio de Almeida, 1991. 401-422. (Comun. ao
IV C.I.E.P., Seco Brasileira, So Paulo, 27-30 Abril 1988).
Estudo das formas poticas de O Guardador de Rebanhos, como um dos pilares de afirmao definitiva do verso livre em Portugal, de fulgurante especificidade.
AC189. Waldman, Berta. Via de mo dupla. Actas IV, Vol. I. Porto:
Fundao Eng. Antnio de Almeida, 1990. 73-82. (Comun. ao IV
C.I.E.P., Seco Brasileira, So Paulo, 27-30 Abril 1988).
Geralmente lida como produto de um realismo sensualista e fenomenista, a poesia de Alberto Caeiro patina obsessivamente na propugnao da volta ao sensvel,
acenando para um projecto de coisificao da conscincia, de corporalizao do
sentido, de tal modo que a alma se revele corpo e o corpo, realidade exterior.
AC190. Yamaguchi, Tieko. Universo potico de Alberto Caeiro. So Jos do
Rio Preto, So Paulo: Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras,
1965.
Anlise da obra de Fernando Pessoa assinada por Alberto Caeiro, que
levanta ao leitor desprevenido uma srie de problemas que, no poucas vezes,
constitui uma barreira opaca quase imperceptvel, de que, na maioria dos
casos, no se apercebe. A poesia de Caeiro original tanto em relao ao passado como em relao aos seus prprios contemporneos.
3. Alberto Caeiro em traduo

Alberto Caeiro est traduzido em vinte e nove lnguas estrangeiras, existindo


verses integrais de O Guardador de Rebanhos em Alemo, Castelhano,
Catalo, Dinamarqus, Francs, Grego, Ingls, Italiano e Vietnamita. A obra
completa de Caeiro, tal como foi publicada em 1994 por Teresa Sobral Cunha,
est traduzida em Dinamarqus.
Como se disse, a primeira traduo de Caeiro noutra lngua (Francs), foi
publicada em 1933, ainda em vida de Pessoa, por Pierre Hourcade. S nove anos
mais tarde, em 1942, surgiu a primeira traduo em Italiano, de Enzio Vlture.
Em 1957, ngel Crespo iniciou a sua longa srie de tradues pessoanas em
Castelhano com um volume autnomo dedicado poesia de Caeiro. Em outras

266

PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

lnguas, foram tradutores pioneiros dos poemas de Alberto Caeiro: em Ingls,


John M. Parker (1960); em Alemo, Georg Rudolf Lind (1962); em Checo,
Josef Hirsal e Pavla Lidmilov (1968); em Estnio, Ain Kaalep e em Sueco, Arne
Lundgren (1973); em Finlands, Pentti Saaritsa (1974); em Blgaro, Georgi
Mitzkov (1977); em Russo, E. Vitovsky e outros e em Holands, August
Willemsen (1978); em Grego, F. Drakodaides, em Romeno, Roxana Eminescu,
em Hngaro, Gyrgy Somliy (1980); em Leto, Leons Briedis (1983); em
Japons, Mineo Ikegami e em Polaco, Witold Wirpsza (1985); em Chins, Jin
Guo Ping e Gonalo Xavier, em Catalo, Joaquim Sala-Sanahuja e em Croata
Mirko Tomasovic (1986); em Noruegus, Hennin Kramer Dahl (1988); em
Dinamarqus, Peter Poulsen (1989); em Vitenamita, Dim Chu (1992); em
Hebraico, Francisco Costa Reis e Yoram Bronowski (1993); em Turco, Isik
Erguden e em Bengali, Savon Sanyal e outros (1995); em rabe, El Mehdi
Akhrif (1996); e, finalmente, em Hindi, Sharad Chandra (1997).
1. Tradues de Alberto Caeiro publicadas em volume:
ALEMO

AC191. Lind, Georg Rudolf. Fernando Pessoa. Dichtungen. Frankfurt am Main:


S. Fischer Verlag, 1965. (Trad. integral de O Guardador de Rebanhos; 35
outros poemas).
AC192. Lind, Georg Rudolf. Fernando Pessoa. Alberto Caeiro. Dichtungen.
Ricardo Reis. Oden. Zurich,: Ammann Verlag, 1986. (2. ed., Frankfurt
am Main: Fischer Taschenbuch Verlag, 1989; 3. ed., 1993. Bilingue.
Trad. integral de O Guardador de Rebanhos; 35 outros poemas).
RABE

AC193. Zahidi, Dr. Anwer. Fernando Pessoa. Poems. Islamabad: Embaixada de


Portugal, 1977. (Bilingue Ingls-rabe. O Guardador de Rebanhos, 11
poemas).
BENGALI

AC194. Sanyal, Rita e Banerjee Sanyal. Bis Sataker Portugese Kabita. Calcutta:
Kabitirtha, 1995. (O Guardador de Rebanhos, 1 poema).
BLGARO

AC195. Mitzkov, Georgi. Fernando Pessoa. Pzachet na stada. Sofia,: Narodna


Cultura, 1977. (O Guardador de Rebanhos, 14 poemas; 2 outros poemas).

PESSOAS ALBERTO CAEIRO FALL 1999

267

AC196. . [Fernando Pessoa. Poesias e Poemas]. Sofia: Kara M, 1994. (O


Guardador de Rebanhos, 14 poemas; 2 outros poemas).

JOS BLANCO

CASTELHANO

AC197. Alonso, Rodolfo. Fernando Pessoa. Poemas. Buenos Aires: Compaia


General Fabril Editora, 1961. (O Guardador de Rebanhos, 14 poemas;
2 outros poemas).
AC198. Crespo, ngel. Fernando Pessoa. Poemas de Alberto Caeiro. Madrid:
Ediciones Rialp, Col. Adonais CXLVII, 1957. (O Guardador de
Rebanhos, 24 poemas; 9 outros poemas).
AC199. . Fernando Pessoa. El poeta es un fingidor. Madrid: Espasa Calpe,
Selecciones Austral, 1982. (O Guardador de Rebanhos, 31 poemas; 13
outros poemas).
AC200. Del Barco, Pablo. Fernando Pessoa. Poemas de Alberto Caeiro. Madrid:
Alberto Corzn Editor, Visor, 1980. (Trad. integral de O Guardador de
Rebanhos; de 37 outros poemas).
AC201. Garcia Martn, Jos Luis. Fernando Pessoa. Madrid, Ediciones Jcar, Col.
Los Poetas, 1982. (Bilingue. O Guardador de Rebanhos, 12 poemas; 9
outros poemas).
AC202. Llardent, Jos Antonio. Fernando Pessoa. Poesa. Madrid: Alianza
Editorial, Alianza Tres, 1983. (2. ed., 1984; 8. ed., 1996; Nova ed.,
Madrid: Alianza Editorial, Biblioteca 30 Aniversario, 1997. (O
Guardador de Rebanhos, 32 poemas; 22 outros poemas).
AC203. Paz, Octavio. Fernando Pessoa. Antologa. Mxico: Universidade
Nacional Autnoma de Mxico, 1962. (2. ed., Editorial Laia, Barcelona,
1985. O Guardador de Rebanhos, 7 poemas; 5 outros poemas).
AC204. Santos Torroella, Rafael. Fernando Pessoa. Poemas escogidos. Barcelona:
Plaza & Jans, 1972. (2. ed., 1985. Bilingue. O Guardador de
Rebanhos, 7 poemas; 5 outros poemas).

268

PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

AC205. Viqueira, Miguel ngel. Fernando Pessoa. Obra Potica. Madrid:


Ediciones 29, 1981. (2. ed., id., 1983; 3. ed. revista e actualizada, id.
1990. Bilingue. O Guardador de Rebanhos, 19 poemas; 11 outros poemas).
CATALO

AC206. Joaquim Sala-Sanahuja. Fernando Pessoa. Poemes dAlberto Caeiro.


Barcelona: Edicions del Mall, 1986. (Bilingue. Trad. integral de O
Guardador de Rebanhos e de 44 outros poemas).
CHECO

AC207. Hirsal, Josef e Lidmilov, Pavla Fernando Pessoa. Heteronyma. Praga:


Odeon, 1968. (2. ed., 1990. O Guardador de Rebanhos, 5 poemas;
3 outros poemas).
CHINS

AC208. Guo Ping, Jin e Gonalo Xavier. Antologia potica de Fernando Pessoa.
Macau: Instituto Cultural de Macau, 1986. (Bilingue. O Guardador
de Rebanhos, 6 poemas; 5 outros poemas).
AC209. Weimin, Zhang. Fernando Pessoa. Antologia. Pequim: Instituto da
Literatura Estrangeira da Academia das Cincias Sociais da China,
1987. (O Guardador de Rebanhos, 5 poemas; 3 outros poemas).
AC210. . Antologia de Fernando Pessoa. Macau: Instituto Cultural de
Macau, 1988. (O Guardador de Rebanhos, 18 poemas; 11 outros
poemas).
CROATA

AC211. Tomasovic, Mirko. Fernando Pessoa. Poezija. Sarajevo: Vesel Maslesa,


Hyperion, 1986. (O Guardador de Rebanhos, 20 poemas; 10 outros
poemas).
DINAMARQUS

AC212. Poulsen, Peter. Alle krlighedsbreve er latterige. Digte af Fernando


Pessoa. Copenhague: Samleren, 1989. (O Guardador de Rebanhos,
10 poemas e outro poema).

PESSOAS ALBERTO CAEIRO FALL 1999

269

AC213. . Fernando Pessoa. At Vre Virkelig. Digte af Alberto Caeiro.


Copenhague: Brdum, 1999. (Trad. integral de O Guardador de
Rebanhos e de 70 outros poemas da edio Presena).

JOS BLANCO

ESTNIO

AC214. Kaalep, A. Fernando Pessoa. Auto-pshhgraafia. Tallin: Izd. Periodika,


1973. (O Guardador de Rebanhos, 9 poemas; 6 outros poemas).
FINLANDS

AC215. Saaritsa, Pentti. Fernando Pessoa. Hetkien vaellus. Helsnquia:


Helsgissa Justannusosakeytio Otava, Delfiikirja, 1974. (O
Guardador de Rebanhos, 7 poemas; 5 outros poemas).
FRANCS

AC216. Breyner, Sophia de Mello. Quatre potes portugais. Cames, Cesrio


Verde, Mrio de S-Carneiro, Fernando Pessoa. Paris: Fondation
Calouste Gulbenkian, Centre Culturel Portugais Presses
Universitaires de France. Coll. Potes et prosateurs du Portugal,
1970. (2. ed., 1979. Bilingue. O Guardador de Rebanhos, 9 poemas; 8 outros poemas).
AC217. Chandeigne, Michel, Patrick Quillier e Maria Antnia Cmara
Manuel. Fernando Pessoa. Pomes paens. Alberto Caeiro: Le Gardeur
de troupeaux. Le berger amoureux. Pomes desassembls. Ricardo Reis:
Odes. Paris: Christian Bourgois, 1989. (Trad. integral de O
Guardador de Rebanhos e de 53 outros poemas).
AC218. Chandeigne, Michel, Franoise Laye e Patrick Quillier. Fernando
Pessoa. Je ne suis personne. Paris: Christian Bourgois, 1994. (O
Guardador de Rebanhos, 15 poemas; 12 outros poemas).
AC219. Deluy, Henri. Fernando Pessoa. Pomes. Paris: Fourbis, 1997. (O
Guardador de Rebanhos, 3 poemas; 6 outros poemas).
AC220. Guibert, Armand. Fernando Pessoa. Bureau de tabac et autres pomes.
Paris: Caractres, Coll. Plantes, 1955. (O Guardador de
Rebanhos, 18 poemas; 2 outros poemas).

270

PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

AC221. . Fernando Pessoa. Le gardeur de troupeaux et les autres pomes


dAlberto Caeiro. Paris: Gallimard, 1960. (Trad. integral de O
Guardador de Rebanhos e de 43 outros poemas).
AC222. . Fernando Pessoa. Paris: Editions Pierre Seghers, Coll. Potes
daujourdhui 73, 1960. (2. ed. 1975. O Guardador de Rebanhos,
4
poemas; 3 outros poemas).
AC223. . Posies dAlvaro de Campos avec Le gardeur de troupeaux et les
autres pomes dAlberto Caeiro. Paris: Gallimard, 1987, 285 p. (2. ed.,
sob o ttulo Fernando Pessoa. Le gardeur de troupeaux et les autres pomes
dAlberto Caeiro avec posies dAlvaro de Campos. Paris: Gallimard, 1996.
Trad. integral de O Guardador de Rebanhos e de 41 outros poemas).
AC224. Hourcade, Rmy e Jean-Louis Giovannoni. Le gardeur de troupeaux.
Pome dAlberto Caeiro. Le Muy: ditions Unes, 1986. (Ed. definitiva,
1993. Trad. integral de O Guardador de Rebanhos).
AC225. Lopes, Teresa Rita. Fernando Pessoa. Le thtre de ltre. Paris: La
Diffrence, 1985. (O Guardador de Rebanhos, 6 poemas; 6 outros poemas).
AC226. Touati, Domique. Pomes dAlberto Caeiro publis du vivant de Fernando
Pessoa. Paris: La Diffrence, 1989. (Bilingue. O Guardador de
Rebanhos, 24 poemas; 16 outros poemas).
GREGO

AC227. Drakodaides, F.D. [Fernando Pessoa. Poemas de Alberto Caeiro]. Atenas:


Gnossi, 1980. (Trad. integral de O Guardador de Rebanhos e de 37
outros poemas).
HEBRAICO

AC228. Reis, Francisco da Costa e Yoram Bronowski. Fernando Pessoa. Kol halomot haolam. Jerusalm: Carmel, 1993. (O Guardador de Rebanhos,
20 poemas; 12 outros poemas).
HINDI

AC229. Chandra, Sharad. Fernando Pessoa. Ki Kavitaseyn. Delhi: Saransh, 1997.


(O Guardador de Rebanhos, 7 poemas; 4 outros poemas).

HOLANDS

AC230. Willemsen, August. Fernando Pessoa. Gedichten. Amsterdam:


Utigeverij De Arbeiderspers, 1978. (Bilingue. O Guardador de
Rebanhos, 9 poemas; 4 outros poemas).
HNGARO

AC231. Pl, Ferenc, e outros. Fernando Pessoa. Arc tbbes szamban.


Budapeste: Helikon Kiad, 1988. (O Guardador de Rebanhos,
13 poemas e 2 outros poemas).
AC232. Somly, Gyrgy . Fernando Pessoa. Ez az si szorongs. Budapeste:
Eurpa Konyvkiad, 1969. (2. ed. Budapeste: Magvet, 1998. O
Guardador de Rebanhos, 1 poema; 18 outros poemas).
INGLS

AC233. Bosley, Keith. A Centenary Pessoa. Manchester: Carcanet, in association


with The Calouste Gulbenkian Foundation, The Instituto Cames, The
Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro, 1995. (1. ed. em paperback,
1997. O Guardador de Rebanhos, 10 poemas; 2 outros poemas).
AC234. Green, J. C. R. Fernando Pessoa. By Weight of Reason. Shirley,
Solihull, Warks: The Aguila Publishing Co. Ltd., 1968. (O
Guardador de Rebanhos, 10 poemas; 2 outros poemas).
AC235. . The Keeper of Flocks. Breakish, Isle of Skye: The Phaeton
Press, The Aguila Publishing Co. Ltd., 1976. (O Guardador de
Rebanhos, 19 poemas).
AC236. Griffin, Jonathan. Fernando Pessoa. I-IV. Oxford: Carcanet Press,
1971. (O Guardador de Rebanhos, 15 poemas; 4 outros poemas).
AC237. . Fernando Pessoa. Selected Poems. London: Penguin Modern
European Poets, Penguin Books, 1974. (2. ed., 1982; repr. 1988.
O Guardador de Rebanhos, 12 poemas; 3 outros poemas).
AC238. Honig, Edwin. Selected Poems by Fernando Pessoa. Chicago: The
Swallow Press, 1971. (Bilingue. O Guardador de Rebanhos, 9 poemas; 2 outros poemas).

271

JOS BLANCO

PESSOAS ALBERTO CAEIRO FALL 1999

272

PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

AC239. Honig, Edwin e Susan M. Brown. Poems of Fernando Pessoa. New York:
The Ecco Press, 1986. (2. ed., San Francisco: City Lights, 1998. O
Guardador de Rebanhos, 21 poemas; 4 outros poemas).
AC240. . The Keeper of Sheep by Fernando Pessoa. New York: The Sheep
Meadow Press, 1986. (Trad. integral de O Guardador de Rebanhos).
AC241. Jennings, Hubert D. Fernando Pessoa in Durban. Durban: Durban
Corporation, s.d. (1986). (O Guardador de Rebanhos, 12 poemas; 5
outros poemas).
AC242. Merton, Thomas. Fernando Pessoa. The Keeper of Flocks. Kentucky:
Abbey of Our Lady of Gethsemani, 1965. (Repr. in Fernando Pessoa.
Twelve poems from The Kepper of the Flocks, New Directions. Prose and
Poetry, 19. New York: New Directions, 1966; tambm in The Collected
Poems of Thomas Merton. New York: New Directions, 1977. (O
Guardador de Rebanhos, 12 poemas).

AC243. Monteiro, George. Fernando Pessoa. Self-Analysis and Thirty Other Poems.
Lisboa: Calouste Gulbenkian Foundation, 1988. (Bilingue. O
Guardador de Rebanhos, 2 poemas; 3 outros poemas).
AC244. Quintanilha, F.E.G. Fernando Pessoa. Sixty Portuguese Poems. Cardiff:
University of Wales Press, 1971. (Bilingue. O Guardador de Rebanhos,
2 poemas; 3 outros poemas).
AC245. Rickard, Peter. Fernando Pessoa. Selected Poems. Edburgh e Austin:
Edinburgh University Press, University of Texas Press, 1971. (Bilingue.
O Guardador de Rebanhos, 11 poemas).
AC246. Zenith, Richard. Fernando Pessoa & Co. New York: Grove Press, 1998.
(O Guardador de Rebanhos, 16 poemas; 21 outros poemas).
ITALIANO

AC247. Cicogna, Enrico. Fernando Pessoa. Il guardiano di greggi. Milo * Milano:


s.e., 1957. (O Guardador de Rebanhos 16 poemas); 21 outros poemas).

PESSOAS ALBERTO CAEIRO FALL 1999

273

AC248. Civitareale, Pietro. Fernando Pessoa. Lenigma e le maschere. 44 poesie.


Faenza: Mobydick, Cooperativa Tratti, 1993. (Repr. Milo *
Milano: Arnoldo Mondadori Editore, 1996. O Guardador de
Rebanhos, 7 poemas; 4 outros poemas).

JOS BLANCO

AC249. Panarese, Luigi. Poesie di Fernando Pessoa. Milo * Milano: Lerici


Editori, 1967. (2. edio corrigida e aumentada, sob o ttulo
Fernando Pessoa. Iminenza dellignoto. Milo * Milano: Edizioni
Accademia, 1972. 3. Edio * edizione, sob o ttulo Fernando
Pessoa. Poesie. Florena * Firenze : Passigli Editori, 1993. Bilingue.
O Guardador de Rebanhos, 6 poemas; 8 outros poemas).
AC250. Tabucchi, Antonio. Fernando Pessoa. Una sola moltitudine. Milo *
Milano: Adelphi Edizioni, 1984.Vol. II. (Trad. integral de O
Guardador de Rebanhos).
JAPONS

AC251. Ikegami, Mineo. [Mar portugus. Poesias de Fernando Pessoa].


Tquio: Sairyu-Sha, 1985. (O Guardador de Rebanhos, 14 poemas;
2 outros poemas).
LETO

AC252. Briedis, Leons. Fernando Pessoa. Zudusais darz. Riga: Liesma, 1983.
(O Guardador de Rebanhos, 12 poemas; 5 outros poemas).
AC253. . Fernando Pessoa. Zudusais darz. Riga: Minerva, 1999. (O
Guardador de Rebanhos, 14 poemas; 7 outros poemas).
NORUEGUS

AC254. Dahl, Hening Kramer. Fernando Pessoa. Det er ikke meg jeg forestiller.
Oslo: Solum Forlag, 1988. (O Guardador de Rebanhos, 18 poemas).
ROMENO

AC255. Eminescu, Roxana. Fernando Pessoa. Ploaie oblica. Bucareste:


Editura Univers, 1980. (O Guardador de Rebanhos, 9 poemas; 2
outros poemas).

274

PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

RUSSO

AC256. Vitovsky. E. e outros. Fernando Pessoa. Lirika. Moscovo:


Khudozhestvennaia Literatura, 1978. (O Guardador de Rebanhos,
4 poemas; 6 outros poemas).
AC257. . Fernando Pessoa. Lirika Moscovo: Khudozhestvennaia
Literatura, 1989. (O Guardador de Rebanhos, 15 poemas; 10 outros
poemas).
SUECO

AC258. Lundgren, Arne. Fernando Pessoa. Ett diktarde. Estocolmo: Ny litteratur Futura Frlag, 1973. (O Guardador de Rebanhos, 3 poemas;
2 outros poemas).
AC259. Fernando Pessoa. Stilla, mitt hjrta. Lysekil: Fabians Frlag,
1988. (O Guardador de Rebanhos, 3 poemas; 2 outros poemas).
TURCO

AC260. Erguden, Isik. Fernando Pessoa. Sirlar cebri. Istanbul: Nisan Yaylari,
1995. (O Guardador de Rebanhos, 3 poemas).
VIETNAMITA

AC261. Chu, Dim. Fernando Pessoa. Ngui chan giu dn th v nhung bi


tho khc cua Alberto Caeiro. s.l.: Trnh By, 1992. (Trad. integral de
O Guardador de Rebanhos e de 44 outros poemas).
2. Principais tradues de Alberto Caeiro publicadas em peridicos:
CASTELHANO

AC262. Crespo, ngel. Armas y Letras, 6,2 (Junho 1963): 81-97. (O


Guardador de Rebanhos, 5 poemas; outro poema)
AC263. ___. Antropos. Suplementos 4. Antologas Temticas. (1987): 5-15,
17-22, 23-30. (O Guardador de Rebanhos, 6 poemas; 3 outros poemas).
AC264. Llardent, Jos Antonio. Poesia. Revista ilustrada de informacin potica. 7-8 (1980). (O Guardador de Rebanhos, 12 poemas; 12 outros
poemas).

FRANCS

AC265. Deluy, Henri e outros. Action Potique. 104 (Vero 1986): 12-13,
20-22, 39-40. (9 poemas).
INGLS

AC266. Harvey, Andrew. Normal. A Quarterly of Arts and Ideas. 3 (Inverno


1987): 16-23. (O Guardador de Rebanhos, 2 poemas; 6 outros poemas).
AC267. Jennings, Hubert D. Contrast, 27,VII (Novembro 1971): 51-64.
(O Guardador de Rebanhos, 4 poemas; 1 poema).
POLACO

AC268. Hrankowska-Jura, Elzbieta. Literatura na swiecie 2 (1988): 271-288.


(O Guardador de Rebanhos, 1 poema; 5 outros poemas).
ROMENO

AC269. Flamand, Dinu. Secolul 20. Revista de Steza. 334-335-336 (1990-1991):


83-87, 94-111, 112-119. (O Guardador de Rebanhos, 6 poemas; 3
outros poemas).
Notas
1 curioso que Rgio no tenha mencionado Ricardo Reis de quem, nessa altura,
Pessoa j tinha publicado 30 odes (no n. 1 da Athena, de Outubro do ano anterior).
2

pp. 171-191.

Repr. no seu Temas de Literatura Portuguesa. Lisboa: Moraes Editores, 1978. 133136 (traduo portuguesa de lvaro Salema).
4 Cabe a Pierre Hourcade a glria de ter sido o primeiro tradutor de Fernando Pessoa
para uma lngua estrangeira, com a publicao na revista marselheza Cahiers du Sud, em
Janeiro de 1933 (portanto, ainda em vida de Pessoa), dos poemas XIII, XLIII e XLIX de
O Guardador de Rebanhos, de Alberto Caeiro, do poema Apontamento de lvaro de
Campos e das duas ltimas estrofes do poema ortnimo O ltimo Sortilgio.
5 O texto de Hourcade foi quase todo ele reproduzido na revista Je suis partout (n.
28, 6 de Junho de 1931), sob o ttulo La jeune littrature portugaise. Na parte relativa
a Alberto Caeiro, o artigo reproduzido omite o ltimo perodo sobre o carcter filosfico
de O Guardador de Rebanhos.
6 Repr. no seu Temas de Literatura Portuguesa, pp. 129-133 (traduo portuguesa de
lvaro Salema).
7 Na mesma pgina e sob a epgrafe comum In Memoriam, Almada Negreiros
publicava o artigo Fernando Pessoa, poeta portugus.
8 Gaspar Simes enganava-se, pois, em dimenses, a Mensagem tem 44 poemas, contra os 39 de Alberto Caeiro publicados por Pessoa na Athena.

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JOS BLANCO

PESSOAS ALBERTO CAEIRO FALL 1999

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PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

9 A propsito do artigo de Castilho, Eduardo Loureno sublinha : a anlise e os conceitos que G. de C. utiliza para descrever a viso metafsica de Caeirode um Caeiro lido na
linha das suas afirmaesencontrar-se-, intacta, em todos os comentadores futuros que o reutilizam quase palavra a palavra, citando-o ocasionalmente (no seu Pessoa revisitado, 2.
ed., Lisboa: Moraes Editores. 1981. 191.
10

Fernando Pessoa, in Antologia Moderna, Lisboa: S da Costa, 1937. 65-88.

11

Repr. no seu Heteropsicografia de Fernando Pessoa, Porto: Inova, 1973. 146-164.

12

Ibid. 165-179.

13

Seara Nova, XVIII. 361, 239-240.

14

A antologia reune poemas publicados em vida de Pessoa, em revistas e jornais, e na


Mensagem. Em matria de inditos, Casais Monteiro publica No Tmulo de Christian
Rosencreutz.
15 Ao reproduzir este artigo em Apndice sua colectnea Nos passos de Pessoa (Lisboa:
Presena, 1988, p.171), o autor comenta, com humor: (...) em Apndice vem includo, por
se lhe afigurar demasiadamente imaturo, o mais remoto dos textos que a Fernando Pessoa
dedicou (...). De qualquer modo, e apenas a ttulo de curiosidade (ou de auto-punio), reimprime-se aqui na ntegra, sem a alterao sequer de uma vrgula.

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