O Reggae de Cachoeira
O Reggae de Cachoeira
O Reggae de Cachoeira
O REGGAE
DE CACHOEIRA
PRODUO MUSICAL EM
UM PORTO ATLNTICO
1 edio
Pinana Editora
Salvador 2012
O site oficial do projeto disponibiliza contedo indito e verses digitais dos livros.
www.sonsdabahia.wordpress.com
Direitos desta edio reservados Pinana Ideias Integradas Ltda., para distribuio gratuita.
(71) 3624-1048 l www.pinaunaeditora.com.br
AGRADECIMENTOS
Agradeo aos msicos entrevistados, pela generosidade e pela lio
de vida a cada conversa que tivemos. Devo confessar que temi pela responsabilidade do pioneirismo em abordar o tema tratado nas prximas
pginas, mas sinto-me recompensada em poder contar um pouco das
suas trajetrias. Espero que, aps a leitura deste livro, mais pessoas venham a ter interesse em estudar suas obras.
Manifesto aqui imensa gratido a minha orientadora, a Prof. Dr.
Angela Lhning, pelo estmulo intelectual e, principalmente, pela simplicidade e cumplicidade. Os encontros com ela, com toda certeza, foram
a bssola que orientou toda a estrutura desse trabalho. Meus sinceros
agradecimentos aos professores Livio Sansone, Cludio Pereira e Osmundo Pinho. bibliotecria Solange Mattos pela solidariedade. Aos
colegas do Ps-Afro, pela convivncia estimulante e pela amizade. Agradeo em especial ao colega Fabricio Mota, pelas conversas e materiais
trocados, e por ter embarcado, junto colega Sueli Borges, na minha
viagem. Aposto que os nossos trabalhos tero maior alcance sendo lanados juntos e que sirvam de estmulo para que mais pessoas estudem a
msica negra da Bahia. Ao casal Carol Dantas e Lucas Kalil, que to generosamente ofereceram sua nova casa para abrigar estes trs filhos
que acabam de nascer.
Finalmente, agradeo a todos que colaboraram para a pesquisa que
originou este livro. FAPESB pela bolsa de estudos que possibilitou a
realizao desta obra. Em Cachoeira, a Mica e a Csar. Aos meus pais
Gustavo e Din, aos meus irmos Ernesto e Clara, o amor de vocs
essencial em minha vida. Aos meus tios e tias, primos e primas, amigos e
amigas, o meu mximo respeito! Ao meu companheiro, Jorge Dubman,
pelo carinho, compreenso e generosidade. Suas contribuies musicais
acabaram ecoando nesta trilha tambm.
PREFCIO
O trabalho de Brbara Falcn, que tenho agora a alegria de prefaciar,
nos permite abordar de forma elegante e informada a gnese e o desenvolvimento de uma rica e expressiva tradio esttica da modernidade
negra, o reggae em Cachoeira, o belo porto colonial s margens do imponente Paraguau. To extraordinariamente local em sua urdidura histrica, o processo em questo se explica, ao mesmo tempo, pela interface de
reconexo experincia dos povos colonizados do mundo e s correntes
globais de som e sentido que, como culturas viajantes, reinterpretam,
do ponto de vista local/particular, a prpria histria global da dispora
negra, colorida pelo cenrio local de tradio, cultura e tecnologia.
O modo sensvel com que Brbara trata o tema, nos permite reconhecer, nos agentes desse processo, sujeitos plenos e modernos,
inventores de uma tradio, que reinterpretam o prprio passado, ao
processar informaes diversas, reordenadas no dilogo com as prvias
tradies presentes na paisagem cultural do Recncavo, estaleiro colonial/transatlntico. A secular e rica histria dos sambas e batucadas, e
a fractal histria do reggae, encontram linguagem comum, ou ponto de
intercesso, no mbito da tradio poltica de resistncia discursiva anticolonial as multicolores mensagens pan-africanas e revolucionrias
da retrica reggae; e a religio, ou transcendncia, fonte espiritual de
uma tica insurgente. Estes elementos, presentes no contexto e atuados
pelos agentes, lhes permitem justamente constituir/fazer sentido a partir dessas (re)interpretaes ou tradues, que organizam o passado,
sintetizando uma verdadeira revoluo musical.
Fiel abordagem de Paul Gilroy, o trabalho nos permite interrogar
a criao de uma verso local da cultura negra do Atlntico, sem incorporar nessa abordagem nenhum tipo de devoo hierrquica, que
reporia uma hierarquia Global/Local, na medida em que a cultura negra do Atlntico feita de diversas localizaes, sendo assim justamente
fractal, como diz Gilroy. De tal sorte que as estaes (portos) da cultura
negra global esto reinterpretando-se constantemente. O reggae na Jamaica um n dessa rede, que continua a ser tecida e refeita na Inglaterra, na Colmbia, na frica do Sul. E tambm em Cachoeira/So Flix.
O mais interessante, entretanto, na discusso da autora, o modo como
essas questes ganham vida atravs de prticas sociais objetivas, levadas
adiante por agentes concretos muitos deles ainda circulantes nas ruas e
praas da Herica Cachoeira: Edson Gomes, Geraldo Cristal, Tin Tim
Gomes, Nengo Vieira, Sine Calmon e outros tantos heris populares da
nossa dispora domstica.
A autora, com muita acuidade, discute ainda o verdadeiro trabalho
de representao em torno do significante frica, pea-chave na retrica
emancipatria negra global, produzida localmente. Tal inveno opera
como interveno esttico-politica, que apoiada, como diria Bhabha, na
ciso do sujeito colonial, produz a diferena, como um dispositivo de
enunciao ativo na linguagem, um movimento poltico e que ganha, no
contexto colonial, o carter de ruptura com as formas de representao
dominantes (para a tradio cultural racializada).
A periferia (ou a margem/fronteira), podemos dizer assim, o novo
paradoxo que pode representar o povo, o prprio novo, por meio da
identificao de todas as contradies da representao negra no mercado, movimento por meio do qual os nativos, agentes conscientes de
uma revoluo cultural, mobilizam a prpria transfigurao identitria.
Ardendo, todavia, radiante, no corao dessa revoluo musical, queima
a ideia de resistncia, categoria-chave na autopercepo desses agentes, jovens guerreiros, remanescentes no Terceiro Mundo, no terceiro espao, na terceira margem do Recncavo baiano.
Osmundo Pinho
Antroplogo. Professor adjunto no Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL) da Universidade
Federal do Recncavo da Bahia (UFRB), campus de Cachoeira.
SUMRIO
APRESENTAO, 13
CAPTULO I
A MSICA NEGRA DO ATLNTICO, 19
MSICA, IDENTIDADE E ETNICIDADE NA AMRICA, 21
A ONDA BLACK NA BAHIA, 35
A TRILHA DO REGGAE, 44
CAPTULO II
UM PORTO AFRO-BRASILEIRO, 63
NOTAS MUSICAIS SOBRE CACHOEIRA, 65
DO SAMBA AO AFROCANTO, 71
NO BALANO DO REGGAE, 81
CAPTULO III
O ENREDO DO REGGAE NA TERRA DO SAMBA, 95
DAS MARGENS DO PARAGUAU, 97
BOTANDO FOGO NA BABILNIA, 105
RASTAS DE CRISTO, 128
CONSIDERAES FINAIS, 141
REFERNCIAS, 145
ANEXO 1. CRONOLOGIA DO REGGAE CACHOEIRANO, 154
ANEXO 2. ANTOLOGIA DO REGGAE DE CACHOEIRA, 156
APRESENTAO
O meu interesse em tentar compor o enredo do reggae na cidade
de Cachoeira vem sendo gestado desde 1998, ano em que o primeiro
disco do gnero gravado no Brasil, o Reggae Resistncia, do cachoeirano Edson Gomes, completou uma dcada de lanado. Nesse mesmo
ano, Sine Calmon, conterrneo de Edson, conseguiu um feito indito
no carnaval de Salvador importante vitrine da produo musical no
estado teve sua msica Nayambing Blues eleita como a mais tocada nos trios eltricos.
De l para c, os fatos ligados a esta trama continuaram a chamar
minha ateno. Em 2001, resolvi entender melhor o tema e fiz uma pesquisa para o curso de graduao em Cincias Sociais, sobre o grupo
Remanescentes, formado em Cachoeira no final da dcada de oitenta.
Nesta demonstrei o pioneirismo dos cachoeiranos na adoo do ritmo
e da esttica rasta, trabalhando o reggae de forma coletiva. Retomei o
tema na pesquisa que desenvolvi para o mestrado, que a base deste
livro, em que busquei investigar a trajetria do reggae em Cachoeira,
identificando artistas e descrevendo grupos que passaram, a partir da
dcada de oitenta, a adotar o ritmo como expresso esttica preferencial.
Meu objetivo era tratar do processo de troca simblica e material desta
verso local da cultura negra do Atlntico, centrando a anlise no processo de construo de identidade destes indivduos, tendo uma conexo
com a indstria do lazer e da msica.
Em 2007 comecei a fazer entrevistas, sendo a primeira delas realizada
em Salvador, no ms de julho, com o produtor musical Wesley Rangel,
proprietrio da gravadora WR. A segunda entrevista foi feita no Guaruj/
SP, com um dos precursores do reggae em Cachoeira, o msico Nengo
Vieira. Em Salvador, realizei em novembro entrevistas com os msicos
Marco Oliveira e Geraldo Cristal. Em junho de 2008 foi feita, em So Flix, cidade vizinha Cachoeira, entrevista com o msico Edson Gomes,
em sua residncia. Gomes um dos personagens mais importantes nes-
16 l Brbara Falcn
No primeiro captulo do livro, A Msica Negra do Atlntico, apresento o contexto em que surge o reggae no cenrio internacional e o
caminho que ele percorreu at chegar ao Brasil. Nele, analiso a produo e o consumo deste gnero musical, entendendo que no se trata
de um fenmeno isolado, visto que acontece em conexo com outros
movimentos socioculturais, com ressonncias e determinaes histricas.
O segundo captulo traz Notas Musicais sobre Cachoeira, onde esto
personagens e cenrio que compem o quadro estudado. Nesse captulo
descrevo o ambiente musical que influenciou os msicos que acabaram
adotando o reggae como ritmo preferencial, mostrando o impacto na
conscincia individual e coletiva destes indivduos.
No terceiro bloco est O Enredo do Reggae na Terra do Samba,
que contm relatos dos regueiros de Cachoeira. O captulo rene trechos
de entrevistas dos msicos, que trazem uma descrio das suas trajetrias, deixando que suas vozes transcritas sejam aqui ouvidas. Sete,
ao todo, foram realizadas entre 2007 e 2008, na Bahia e em So Paulo,
a maioria nas cidades de Salvador e So Flix. A esto os precursores
do movimento na cidade estudada, msicos reconhecidos pela grande
mdia na Bahia e alguns reconhecidos nacionalmente. Nesse captulo,
analiso a produo em torno do reggae de Cachoeira, bem como fao
uma descrio do pblico observado durante a pesquisa de campo. Trato
tambm da importncia do componente religioso cristo na formao do
reggae cachoeirano.
A pesquisa etnogrfica inclui observao participante em diversos
shows e cultos em igrejas, o que possibilitou tanto a compreenso do
pblico que consome a produo destes artistas, quanto a maneira como
este pblico percebe e recebe o discurso veiculado nas letras das msicas.
A discografia reunida foi exaustivamente analisada, tendo como foco o
que h de comum nas letras e msicas destes artistas. O cruzamento dessas fontes facilitou a reconstituio dos fatos e a anlise do discurso dos
personagens entrevistados.
CAPTULO I
MSICA, IDENTIDADE E
ETNICIDADE NA AMRICA
Mr. Stevie Wonderful, a onda voc, cantando um rock, um reggae, um
rhythmnblues. Ainda que os altos falantes da frica do Sul, no sintam
as emoes da nossa alma blues, alma blues...
Gueto, Nengo Vieira & Carlito Profeta
Nesse sentido, o socilogo Albert Melucci aponta que a modernizao exerceu influncia direta entre a posio ocupada dentro das
relaes produtivas e as culturas dos vrios grupos sociais durante a
fase do capitalismo industrial. Para ele, a multiplicao de contatos
e o constante fluxo de mensagens destruram a homogeneidade das
culturas individuais, trazendo modelos culturais estandardizados. Essas
culturas, no passado, foram caracterizadas como culturas de classe
e, paradoxalmente, nestes contextos, as classes subordinadas gozavam
de certa autonomia, sendo capazes de desenvolver prticas e formas
de comunicao qualitativamente diferentes daquelas da cultura dominante (MELUCCI, 1996, p. 367).
Contraditoriamente, nesse cenrio que emerge a heterogeneidade
simblica e sociocultural dos povos, permitindo que marquem posies
diferentes frente ao etnocentrismo ocidental, por meio de inmeras dinmicas de identificao cultural que vieram conectar populaes de diversas partes do planeta, formando novas redes de significaes e fortalecendo, de algum modo, as singularidades nacionais. Tais redes tornaram
ainda mais complexa a ambiguidade identitria, prpria dos discursos
de sntese. As diversas expresses de identidades negras na dispora
so prova disto, pois mostram que os sculos de escravido e colonizao no foram capazes de apagar o legado da civilizao africana. Para
uma anlise do processo de (re)construo dessas identidades em toda a
Amrica deve se levar em conta os novos usos e sentidos simblicos do
termo frica, dentro do contexto da globalizao. Alm disso, devemos
levar em conta que o prprio conceito de globalizao vem se tornando
cada vez mais impreciso, uma vez que o modelo de centro-periferia vem
se tornando bastante questionvel.
Embora reconhecendo que a ps-modernidade continua extremamente desigual e que no tenha se constitudo em uma nova era, o
modernismo nas ruas que lhe prprio, atravs da cultura de massas,
constata Stuart Hall, representa grande mudana no terreno da cultura rumo ao popular rumo a prticas populares, prticas cotidianas,
narrativas locais, descentramento de antigas hierarquias e de grandes
narrativas (HALL, 2003, p. 337). Para ele, as lutas em torno das di22 l Brbara Falcn
em todo o mundo. Atravs dela a juventude experimentou novas possibilidades criativas, levando para essa forma de produo e consumo,
temticas inovadoras no campo social, como as de cor e classe.
E a Bahia no ficou de fora desse processo. A formao de algumas
de suas identidades ps-modernas est associada a esse momento, pois
sua recente reafricanizao1 um desses casos. O contexto mundial
era favorvel e os tempos eram de consolidao de uma classe mdia e
de uma elite operria na regio metropolitana de Salvador. A insero
da Bahia na evoluo da economia nacional, via Petrobras, rodovia RioBahia e Centro Industrial de Aratu, trouxe para a classe mdia a estabilidade para consumir e repensar o seu papel na sociedade. Coincidia
tambm que aquele era o momento de independncia das ex-colnias
portuguesas na frica.
Assim, em meados de 70 e incio da dcada de 80, a juventude baiana produziu uma resposta planetarizao promovida pelo desenvolvimento dos meios de comunicao e pela internacionalizao da indstria
cultural, em um momento de quebra de fronteiras entre alta cultura
e cultura de massa. Em grande medida assimilando as inquietaes
de jovens americanos e europeus, estimulados pela contracultura, que
termina por provocar nos jovens baianos o interesse pela cultura afrobrasileira, produzindo internamente uma releitura do movimento Black
Power. E, sobretudo, construindo uma nova atitude do negro baiano
diante de sua cor e do seu jeito de ser.
Esta produo cultural foi, portanto, um processo de traduo entre
mundos, linguagens e estticas, que aponta para a reinveno da frica
como elemento poderoso e subversivo. A frica foi reinventada na Bahia,
no sendo mais a do presente, nem a do passado, mas uma frica mtica,
uma metfora. Para Bacelar (1989), a dcada de 70 apresentou uma conjuntura que possibilitou o desenvolvimento desse sentido da negritude na
juventude baiana. Dentre os fatores determinantes, que propiciaram esse
quadro, esto o momento poltico brasileiro, o surgimento da contracultura, o desenvolvimento dos meios de comunicao e a disseminao da
msica popular massiva atravs dos discos, do rdio e televiso, e ainda a
ascenso educacional do negro e sua mobilidade social.
24 l Brbara Falcn
nesse contexto que surgem os grupos informais, a despeito dos blocos afro, que foram delineando uma nova esttica no carnaval baiano.
Um olhar retrospectivo aqui mostra que a esttica musical das organizaes carnavalescas o resultado de mesclas formadas pelo candombl,
pelo samba e pelas referncias internacionais chegadas dos EUA, frica
e Jamaica. importante frisar a relevncia desse movimento e da sua
natureza etnicizante, pois a disseminao da cultura negra permitiu a
segmentos da populao que jamais haviam aparecido o contato e
conhecimento dessa cultura, abrindo passagem para a sua conscientizao de natureza tnica (BACELAR, 1989, p. 96).
Destaco o importante papel da msica, que conseguiu romper a barreira das lnguas com muito mais facilidade que qualquer outra forma
de expresso, viabilizando a universalidade de uma nova conscincia.
Para Sansone, os msicos, a indstria cultural e o consumo de msica
funcionam como repetidores do processo de globalizao. Ele afirma que
enfocar aspectos da msica de forma comparativa pode oferecer novas
perspectivas para o estudo do intercmbio entre globalizao e etnicidade, e sugere uma reviso de muitas generalizaes da socioantropologia
sobre a cultura juvenil, baseadas na situao dos pases mais industrializados (SANSONE, 1997, p. 221).
Assim, com referncias jamaicanas, americanas e africanas, veiculadas pela mdia, e ao mesmo tempo somando as informaes locais, os
blocos afro encabearam o movimento de negritude local, aliando as
matrizes rtmicas ao discurso poltico. A msica que embalou o primeiro
desfile do Il Aiy em 1975 resume a metamorfose entre o black e o afro,
o soul e o ijex, o funk e o afox que escandalizou parte dos folies no
carnaval daquele ano:
Somo crioulo doido, somo bem legal, temo cabelo duro, somo black power
(Trecho da cano Que Bloco Esse de Paulinho Camafeu, 1975).
Power ou Mundo Negro. S depois decidimos por uma referncia africana (Vov do Il em entrevista ao CORREIO DA BAHIA, 29/05/ 2007).
Depois do primeiro desfile do Il, os blocos afro e afoxs2 se multiplicaram. Mutu, Filhos do Congo, Olodum, Mal Debal, atualmente so
mais de 803. O Filhos de Ghandi, fundado em 1949, tambm ressurgiu
em meados dos anos 70, sob a batuta de Gilberto Gil, que empresta sua
imagem frente do tapete branco. O afox Badau, criao de Moa do
Catend, em 1979, traz um dos mais aclamados danarinos das rodas de
black music, Negrizu, antes Rei do Brown ou Azulo:
De Rei do Black Soul a Anjo Barroco e Exu, titula matria do jornal A
Tarde, no princpio da dcada de 90. Pusemos azeite de dend no black,
diverte-se Negrizu, vencedor do concurso Moo Lindo Badau, em 1981
(CORREIO DA BAHIA, 29/05/2007).
26 l Brbara Falcn
Para o pesquisador e etnogrfo Osmundo Pinho (2005), essa juventude negra reinventou uma visualidade e corporalidade a partir de releituras
da cultura Soul norte-americana. Ele define a reafricanizao como um:
[...] marco, aberto e policntrico, de referncia dessas lutas polticas
pela representao em torno do negro, do corpo negro e da atualizao
local de padres mundiais de reconfigurao identitria afrodescendente. Essa reafricanizao pode ser considerada como uma mquina de
guerra que institui seu prprio teatro de operaes discursivas e sociais
(PINHO, 2005, p. 128).
A msica, uma das mais evidenciadas manifestaes da cultura popular, tem desempenhado uma importante funo no processo de construo de identidades na sociedade moderna. No por acaso, o papel
que a mesma desempenha nesse processo tem sido sempre destacado.
A produo musical reafirma sentimentos de pertencimento e diferenciao, colocando em jogo a elaborao de uma identidade multicultural.
Sobre esse aspecto, Pinho diz que:
[...] no contexto do processo referido como reafricanizao, a juventude
negra de Salvador em busca de afirmao cultural e modernidade entrou
em conexo com a onda mundial da msica negra norte-americana. James Brown e a msica funk tornaram-se, a partir dos anos 1970, mais
um dos elementos da cultura negra baiana, com uma diferena: agora
esta tambm poderia se reconhecer como internacional, falante de ingls,
jovem, corporal, articulada na relao com os bens de consumo e com
a mdia. A msica negra norte-americana comps a trama dos contradiscursos diaspricos discutida por Paul Gilroy em The Black Atlantic.
Em Salvador, esses discursos caram em solo umedecido pelas tradies
locais de interao entre brancos e negros e pelas formas tradicionais de
resistncia africana na cidade (PINHO, 2005, p. 131).
O socilogo ingls Paul Gilroy (2001) divulgou o termo Black Atlantic que hoje mais empregado por quem tenta refletir sobre a dinmica
cultural dessa dispora. O Atlntico Negro no apenas um novo rtulo
para um fenmeno antigo, tambm uma nova maneira de entend-lo.
At recentemente, a maioria dos estudos sobre tradies negras era
O REGGAE DE CACHOEIRA - PRODUO MUSICAL EM UM PORTO ATLNTICO l 27
Hermano Vianna identifica traos da cultura negra naquilo que existe de mais contemporneo no cenrio musical a msica eletrnica
mencionando que o jungle, um estilo musical britnico, que contaminou todo o pop mundial, uma criao negra, inventada a partir
da releitura que DJs negros, muitos de origem caribenha, fizeram do
hip hop, que na Inglaterra se encontrou mais uma vez com o reggae,
e se hibridizou com o house e com o tecno (todos estilos negros),
produzindo uma sonoridade nunca ouvida em nenhum outro lugar do
mundo (VIANNA, 1999, p. 01).
Inspirada na ideia do Black Atlantic de Paul Gilroy (2001), a antroploga baiana Goli Guerreiro fala de uma rede atlntica, para tentar
dar conta de um processo de trocas culturais. Guerreiro inspira-se tambm em textos de intelectuais como Stuart Hall e Hermano Vianna para
desenvolver sua discusso acerca das conexes que se desenvolvem no
mundo atlntico. Segundo ela:
A rede atlntica promissora como unidade de anlise na medida
em que aponta para uma perspectiva transnacional, transtnica e
intercultural. [...]. A amplitude dessa rede nos permite explorar diversos campos artsticos. H uma produo atlntica no cinema, no
teatro, na literatura, etc. H um vastssimo acervo a ser investigado
(GUERREIRO, 2006, p. 05).
30 l Brbara Falcn
um corolrio das duas tendncias de ao. Para ele, sem o equilbrio dos
integracionistas e sem a radicalidade do nacionalismo negro, jamais teria
sido modificada a questo racial na sociedade americana (BACELAR In:
A Tarde, 08/05/1999).
A busca da africanidade marcou por um longo perodo os conflitos
tnicos, polticos e culturais, fortalecidos com a experincia da conquista
da independncia dos pases africanos. A dispora africana pelo hemisfrio ocidental d lugar histria de futuras disperses, tanto econmicas
quanto polticas, pela Europa e pela Amrica do Norte. Estas jornadas
secundrias tambm esto associadas violncia e so um novo nvel da
disjuno disporica, e no apenas reviravoltas ou impasses.
Para Paul Gilroy, os mecanismos culturais e polticos no podem
ser compreendidos sem que se atente para o tempo da migrao forada e para o ritmo quebrado no qual artistas e ativistas deixem regimes ditatoriais para trs e encontrem asilo poltico em outro lugar.
Para ele a histria da msica jamaicana, cubana e brasileira no sculo
XX pode ser facilmente construda atravs dessas linhas cosmo-polticas (GILROY, 2001, p. 21).
No Brasil, a cordialidade construda pelo mito da democracia racial, passa a dar lugar a adoo de traos polmicos. Neste sentido, o
reggae propiciou que artistas como Bob Marley e Jimmy Cliff passassem a influenciar profundamente os movimentos de revitalizao da
msica afro-baiana e a msica popular afro-maranhense. Os afoxs e
blocos afro da Bahia podem ser considerados importantes nesse perodo, tanto quanto as radiolas em So Lus do Maranho7. Tais manifestaes representavam uma possibilidade de mobilizao poltica
e uma tomada de conscincia da juventude negra brasileira. Durante
toda a dcada de 80, o reggae aparece no repertrio da msica baiana nas letras de compositores como Jorge Alfredo, Chico Evangelista,
Moraes Moreira, Bu Machado e Antonio Risrio.
Mapeando a interao dessa rede, Risrio (1981), tratando mais propriamente do campo esttico cultural, destaca trs movimentos marcantes para a
juventude negro-mestia: a onda black surgida com a soul music, que o Rio
O REGGAE DE CACHOEIRA - PRODUO MUSICAL EM UM PORTO ATLNTICO l 33
de Janeiro se encarregou de irradiar para todo o pas; a projeo internacional do reggae jamaicano e sua influncia resplandecente entre os brasileiros;
o renascimento dos afoxs e o nascimento dos blocos carnavalescos afros
da Bahia (referncia bsica da negritude brasileira), com o consequente
reflorescimento de uma forma musical africana o ijex. Para ele, tanto
na soul music quanto no reggae e no ijex pode-se encontrar o compacto
trinmio homogneo que constitui a mnada e medula da musicalidade
negroafricana: canto/ ritmo/ dana (RISRIO, 1981, p. 115).
Na dcada de 70, com o aparecimento da soul music, a esttica
negra passa a ocupar um lugar central no cenrio musical jovem em
todo o mundo. Embalados pelo som de Ike e Tina Tuner, James Brown e Stevie Wonder, os jovens negros norte-americanos adotam um
novo black american way. O documentrio Wattstax (1973) mostra a
influncia decisiva que a msica teve nesse novo jeito de ser do negro
nos Estados Unidos. As letras das msicas traziam tona o cotidiano
dos guetos metropolitanos e das lutas pelos direitos civis. No Brasil a
soul music chega a partir do Rio de Janeiro, onde eclodiu o movimento black-jovem:
Do Rio, o black-jovem ganhou o Brasil dos chics-shows da moada
paulista aos jovens dos bairros proletrios em Salvador, adquirindo caractersticas prprias em cada regio cultural do pas. O resultado mais
positivo e culturalmente fecundo do movimento black-jovem esteve no
fato da identificao do preto brasileiro com o preto norte-americano ter
se dado principalmente no terreno da negritude. Com o black-jovem,
o negro brasileiro ficou mais negro, acabando por se voltar para a cultura
negra brasileira (RISRIO, 1981, p. 28).
Nesse mesmo baile, o danarino do grupo carioca, Nelson Triunfo, apresentou na Bahia passos originais de uma dana desconhecida,
atraindo olhares estupefatos pela cabeleira que no aparava desde 1972.
A simples presena de figura to respeitada em sales baianos excita
ainda mais o movimento Black Power:
As pessoas pediam para eu mostrar se tinha rodinhas debaixo dos meus
sapatos. Tudo por causa do passo de dana batizado de moon-walk, que
voc escorrega o p como se tivesse danando na lua. A coisa estava
engatinhando por aqui quando fizemos tudo. Foi a primeira festa com
toca-discos de qualidade e equipamentos acsticos de ltima gerao
(Nelson Triunfo, entrevista ao CORREIO DA BAHIA, 29/05/2007).
36 l Brbara Falcn
Outro ponto a ser realado que tais manifestaes nem sempre eram
bem vistas e aceitas pelos poderosos da poca. Joo Reis aponta que:
O Conde da Ponte adotou uma srie de medidas para fazer frente ao que considerava excessiva liberalidade dos senhores com seus
escravos. [...]. Foi estabelecido um toque de recolher para escravos
circulando nas ruas sem passes assinados pelos senhores. Os batuques
e danas, feitos de dia ou de noite, foram terminantemente proibidos
(REIS, 1990, p. 104).
O processo de aceitao das tradies africanas nunca foi algo permitido, mas sempre negociado, quase sempre conflituoso. Reis o entende como
um campo de poder minado de significaes, onde operavam escravos, senhores, autoridades militares, civis e eclesisticas e o povo livre em geral
(REIS, 1996, p. 03). No Brasil, como nas demais colnias, os negros foram
apresentados s formas artsticas e culturais europias em voga e passaram
a manejar com desenvoltura instrumentos, elementos e linguagens de uma
outra cultura musical. Inevitavelmente, deram a sua contribuio injetando
a musicalidade negroafricana nos cdigos da msica ocidental. Criaram novos gneros musicais, novos modos de execuo instrumental, introduziram
novos instrumentos e formas de dana. Segundo Joclio Teles dos Santos,
desde o sculo XVIII, h uma participao bastante expressiva dos negros
em atividades culturais atravs das manifestaes populares.
A participao tnica era expressiva visto que multides de negros
de um outro e de outro sexo, das diversas naes africanas, falavam,
danavam e cantavam, ao som de atabaque, em lnguas diversas
(SANTOS, 1997, p. 17).
de produo, o reggae conseguiu uma projeo extraordinria, se considerarmos que a Jamaica no passa de uma ilha do Caribe, com uma
populao de 2,7 milhes de habitantes, sendo 85% deles descendentes
de escravos (MINISTRIO DAS RELAES EXTERIORES, 2007).
O mais interessante de tudo que muito do que existe na msica popular
hoje comeou na Jamaica: as verses de dub, os remixes, o rap e outros
tantos efeitos eletrnicos. Neste amplo sentido, o reggae um trao da cultura cosmopolita, extrapolando os limites nacionais e se universalizando em
sua expanso. Nele foram incorporados elementos da tradio negra e da
cultura de massa global, expressos em canes de forte contedo polticoreligioso. Apesar de ter um discurso especfico em cada regio, foi a partir
do elemento negro que se nacionalizou o reggae no Brasil. Foi atravs das
reminiscncias da transplantao violenta, da experincia da escravido, do
presente miservel, da violncia policial e da discriminao racial que o negro brasileiro se identificou com esse trao da contracultura da dispora.
Para o jamaicano Stuart Hall, as identidades sociais dos negros so
estabelecidas por dois eixos: o da similaridade e o da continuidade, onde
h uma busca de identidade originria africana, perdida pela dispora e
pela colonizao; e o da diferena e ruptura, que faz as particularidades
culturais das diversas comunidades negras. Neste sentido, a msica e a
dana nada mais so, antes de tudo, meios de comunicao inventados
e reinventados pelas populaes ps-escravas, num esforo de reconstruo de suas identidades (HALL, 1996, pp. 68-74).
Gilroy considera que a msica tem sido refinada e desenvolvida propiciando um modo melhorado de comunicao para alm do insignificante poder das palavras faladas ou escritas. Segundo ele, a msica e
seus rituais podem ser utilizados para criar um modelo pelo qual a identidade no pode ser entendida nem como uma essncia fixa nem como
uma construo vaga e extremamente contingente a ser reinventada pela
vontade e pelo capricho de estetas, simbolistas a apreciadores de jogos
de linguagem (GILROY, 2001, p. 209).
Autores como Homi Bhaba (1998) e Stuart Hall (1996, 2002 e 2003)
adotam o termo hibridizao e buscam nele uma abordagem crtica ao
42 l Brbara Falcn
A TRILHA DO REGGAE
E nasceu l na Jamaica, se expandiu pelo mundo
Mas o Deus Criador, Jah, mandou chamar Marley
Mas a gente que ficou no vai deixar morrer
A bela msica, a bela msica reggae
Rastafary, Edson Gomes, 1988
tambm influenciada pelos europeus (ib. idem, p. 04). Ritmos que antecederam o reggae, a exemplo do calypso trazido de Trinidad e Tobago e
do mento, eram produzidos atravs de instrumentos de origem europia,
como o banjo e o violo. Segundo Chang e Chen, o mento foi a msica
que dominou a Jamaica do final do sculo XIX at os anos de 1930, especialmente em reas rurais, onde teve importncia at os anos 50.
Na primeira metade dos anos 50, aconteceu uma migrao considervel da populao do interior para as grandes cidades e o estilo, associado com as durezas da vida no campo, no conseguiu manter seu lugar
entre os jamaicanos. Mesmo assim, deixou uma contribuio importante,
j que o crdito da primeira gravao jamaicana vai para um medley de
canes de mento10 cantado por Lord Fly (Bertie Lyons) e lanado pelo
selo MRS (Mottas Recording Studio) em 1951 (ib. idem, p. 14). Carlos
Benedito da Silva afirma que o mento demonstra o desenvolvimento
musical na Jamaica a partir de ritmos estrangeiros:
Influenciados pelo calypso de Trinidad e Tobago e pela rumba cubana, a
diversidade foi ganhando forma e os jamaicanos comearam a desenvolver
seu prprio ritmo, como o mento [...]. Paralelamente, nos Estados Unidos
estava acontecendo a expanso do rhythm and blues [...]. A juventude jamaicana captava o som produzido pelos black de Miami e New York [...].
Comearam ento a incrementar suas bandas com a introduo de solos
de trompetes que mais tarde dariam origem ao som instrumental, danante, alegre e agitado do ska [...] (SILVA, 2007, pp. 96-97).
Foi Leslie Kong, produtor chins, dono do selo Beverlys, que descobriu
talentos como Jimmy Cliff e Bob Marley. Outro mito descoberto por Kong
foi Desmond Dekker, que gravou o hit Poor me Israelite, primeiro single
jamaicano a chegar no Top Ten no Reino Unido e Estados Unidos, em
1969. Vale lembrar tambm que Kong produziu o The Jamaicans, grupo
de rocksteady responsvel pelo sucesso Ba-Ba Boom de 1966. Alm de
msicos e produtores, chineses tornaram-se ativos em todas as frentes musicais na Jamaica. Uma das melhores histrias da msica jamaicana tambm
foi escrita por dois jamaicano-chineses, os pesquisadores Kevin Chang e
Wayne Chen, pela Temple University Press, na Philadelphia, em 1998.
48 l Brbara Falcn
pois diversas canes rasta foram tiradas de seus hinos. Adiante, ser visto como o comprometimento com a denncia, transformaes sociais e
mensagem religiosa se tornaram os fundamentos do reggae. De maneira
curiosa, o rastafarianismo inspirado pela profecia do pastor jamaicano
Marcus Garvey, que previa que logo na frica surgiria um rei negro, o
225 descendente da linhagem de Menelik, o filho do rei Salomo e da
rainha de Sab, que libertaria a raa negra do domnio branco se propagou entre o proletariado de Kingston como uma reao influncia
ocidental (PATTERSON, 1994, p. 05), pois pregava o retorno dos negros
para a frica, numa espcie de repatriao espiritual. A religio rastafri
foi muito divulgada atravs do reggae, mas a sua expanso se deve,
principalmente, a cantores e grupos como Big Youth e The Ethiopians,
que antes mesmo de Bob Marley j haviam influenciado a juventude dos
guetos jamaicanos.
O rocksteady representou a primeira msica jovem da gerao
ps-independncia, entre 1966 e 1968. Neste perodo, a cultura
popular jamaicana comea a refletir isso, pois as influncias norteamericanas se tornam notadamente jamaicanas. Agora, os temas sociais aparecem em discos de protesto; como Israelites de Desmond
Dekker, mostrando a preocupao com a temtica, o que passou a ser
uma constante da por diante. Basicamente, o rocksteady se difere do
ska por tratar-se de um ritmo mais lento, com a linha de baixo mais
proeminente, riffs de guitarra tocados por apenas algumas cordas e
incorporao do piano em detrimento dos metais da era do ska.
importante lembrar que o ritmo surgiu na Jamaica em um momento
de intenso xodo rural, o que provocou um aumento da populao
dos guetos urbanos de Kingston, tendo uma influncia direta no comportamento da juventude local (JOHNSON, 1993, p. 05). Muitos dos
jovens migrantes tornaram-se rude boys e apreciadores do rocksteady
e, no por acaso, eles prprios eram tema das letras desta msica, que
tratava de problemas sociais, mas que tambm falava de amor.
Muitos fatores foram determinantes na evoluo do rocksteady para
o reggae, como novos ciclos de imigrao e a modernizao dos estdios
jamaicanos. No final dos anos 60, msicos e arranjadores das principais
Gilroy afirma ainda que a estatura global de Marley teve por base o
trabalho rduo e exigente dos circuitos transcontinentais, assim como as
qualidades poticas investidas na linguagem do sofrimento e da moderao que ele conseguiu tornar universal (ib idem, p. 161). Concluindo,
ele acrescenta que a imagem transnacional de Bob um convite para
mais uma rodada de reflexes sobre o status da identidade, onde noes
sobre uma identidade fixa devem ser tiradas de foco.
Ainda nos anos de 1970, outros subgneros surgiram com a mesma
preocupao de contedo, a despeito do dub poetry, que teve como
fundador o jamaicano Michael Mikey Smith. Mutabaruka foi o poeta
54 l Brbara Falcn
Blood. Segundo o The New Trouser Record Guide Press; Dread, Beat
an Blood foi uma chamada s armas, uma comemorao no escuro da
perseguio policial e represso social dos negros contada de uma forma
contundente, mas estranhamente sem rancor. Recitando seus poemas sobre o pulsante e absolutamente impecvel reggae, Johnson usa o Patu
das ruas para falar com seu pblico, chamando ateno para a fraternidade e a vigilncia. A msica limpa, flexvel e vibrante e suas letras incisivas
e pontiagudas o transformam numa declarao poltica poderosa e inesquecvel (CHANG & CHEN, 1998, p. 74) [traduo nossa].
No incio dos anos 80, a Jamaica, como outras ilhas do Caribe, comeou a experimentar os efeitos do comrcio de drogas entre pases como a
Colmbia e Estados Unidos. Assim, a cocana chegou aos guetos trazendo
resultados desastrosos, promovendo guerra de gangs pelo controle do trfico local de drogas e armas. O filme Shottas (2002), protagonizado por
Kymani Marley (filho de Bob), retoma a histria do trfico na ilha e tem
trilha sonora representativa desse perodo. A msica, como um espelho
do que acontece na sociedade, passou a refletir tudo atravs das letras,
da nova forma de cantar o raggamuffin e de tocar o dancehall. Em
meados dos anos 80, a msica digital invade a Jamaica, que passa, apesar
das limitaes econmicas, a adotar novas tecnologias nos estdios.
Se por um lado a msica entra na era da tecnologia, por outro os
ritmos eram baseados em religies como etu, pocomania e kumina, que
influenciaram a msica de artistas como Shabba Ranks e Buju Banton.
Com a descoberta da gravao digital, um extremo minimalismo emergiu, pois mesmo com a tecnologia usada a msica tornava-se cada vez
mais prxima das suas razes, como na Jamaica rural. A proeminncia no
uso de teclados e sintetizadores so a marca da nova msica jamaicana,
que compensa a falta de recurso com a originalidade e sinceridade das
letras (JOHNSON, 1993, p. 05).
Assim, o deslocamento de signos provocado pelo circuito de informao tecnolgico como discos, filmes, crenas e danas, possibilitou
uma rede de comunicao na dispora negra que se intensificou com
a globalizao. Atravs das conexes estabelecidas por essa rede, os
repertrios culturais de cidades como Kingston, Londres, Nova Iorque,
Nova Orleans, Londres e Toronto foram ampliados e diversificados.
56 l Brbara Falcn
NOTAS
Em Carnaval Ijex (1981), o antroplogo Antonio Risrio examina o
processo de reafricanizao da juventude da Bahia, mostrando as influncias que sobre ela exerceu o movimento Black dos Estados Unidos,
descrevendo a ao catalisadora da chamada msica soul, que conquistou a juventude negra brasileira, e o modo especfico da reao baiana
ao fenmeno, na passagem do black-soul ao afro-ijex.
1
O afox Embaixada da frica foi a primeira manifestao negra a desfilar pelas ruas da Bahia, em 1885. No ano seguinte, surgiu o afox Pndegos da frica.
2
GILROY, Paul. There arent no Black in the Union Jack: The Cultural
Politics of Race and Nation. Londres: Hutchinson, 1987.
A pesquisadora sueca Ellen Stokland realizou um estudo sobre as estratgias de comunicao do Olodum chamado The Revolt of Drums (2004).
6
Para Carlos Benedito Rodrigues da Silva (1995), o reggae constituise como instrumento importante de mobilizao de negros urbanos que
no esto presos s tradies africanas. Tambm reflete uma capacidade
de se apropriar de informaes veiculadas pela indstria cultural, como
msicas, danas, formas de comportamento, para organizar o lazer da
negritude na sociedade moderna.
7
Segundo Carvalho (1995, p. 32), a Jamaica um dos pases que registram nmeros elevados de sublevaes de escravos no Novo Mundo.
8
60 l Brbara Falcn
No Brasil, os sistemas de som so usados pelas culturas funkeira, regueira e tecnobrega em cidades como Rio de Janeiro, So Lus e Belm,
onde tambm so conhecidos como radiolas e aparelhagem. A cultura sound system, nos moldes jamaicanos, um fenmeno recente, mas
crescente, em todo o Brasil.
9
13
14
A influncia dos toasters jamaicanos chegou a Salvador dcadas depois, sendo um fenmeno recente, com pouco mais de cinco anos.
15
CAPTULO II
UM PORTO AFRO-BRASILEIRO
O captulo a seguir traz um histrico das principais formas de
expresso musical que influenciaram, direta ou indiretamente, o ambiente
cultural do Recncavo baiano. O cenrio desta histria a barroca
cidade de Cachoeira, situada no territrio do Recncavo regio que
floresceu sob o crivo da cultura da plantation. Fao aqui uma tentativa
de compor o quadro histrico-social em que surgiram as diversas formas
de expresso musical que aportaram na cidade, suas transformaes e
como algumas se tornaram mais evidentes e (re)conhecidas ao longo
dos anos. Tento reconstituir a gnese do reggae cachoeirano, contada
atravs das falas dos precursores do movimento e de fontes diversas,
como discos e matrias de jornais. O objetivo fixado o de analisar a
presena dos elementos culturais que acabaram compondo a musicalidade e identidade dos msicos locais.
Erguida s margens do Rio Paraguau, localizada na regio do Recncavo baiano, Cachoeira deve sua origem a um povoado indgena e
posteriormente a fundao de um engenho. Devido a sua localizao
estratgica, como entroncamento de importantes rotas que se dirigiam
ao Serto, s Minas Gerais ou a Salvador, logo passou a enriquecer e,
em 1693, tornou-se Vila de Nossa Senhora do Rosrio do Porto da Cachoeira. Por conta da explorao da mo-de-obra escrava, ocupou lugar
de destaque na vida econmica, poltica e cultural do pas at o final do
sculo XIX (MARQUES, 2008, p. 132). O desenvolvimento do cultivo de
cana-de-acar e, posteriormente, do fumo, da minerao de ouro no
Rio das Contas e a intensificao do trfico pelas estradas reais e da navegao do Rio Paraguau, colaboraram para o rpido desenvolvimento
econmico da regio a partir do sculo XVIII.
Cachoeira foi um importante porto na rede que se teceu no Atlntico,
tendo de l chegado e partido, grande variedade de povos e culturas.
Durante todo o sculo XVIII foi um dos principais pontos do trfico negreiro e do comrcio baiano, posio que ocupou at o primeiro quartel
do sculo XIX, quando se iniciaram as primeiras rebelies escravas. Joo
Reis aponta que os engenhos de acar do Recncavo prosperaram
muito nesse perodo, em sua maioria, como decorrncia da revoluo
escrava do Haiti, que acabou destruindo a agricultura aucareira. Com
o aumento da produo, houve tambm um aumento do trfico de escravos nessa regio, o que Reis estima que fosse, em 1814, uma mdia
de 40.800 escravos espalhados por 408 engenhos, sendo uma mdia de
O REGGAE DE CACHOEIRA - PRODUO MUSICAL EM UM PORTO ATLNTICO l 65
100 por engenho. A maioria desses escravos era de africanos (60%), vindos em grande parte da Repblica do Golfo do Benin, na maioria nags,
jejes e haus, egressos de sociedades guerreiras e muitos adeptos do Isl
(REIS, 1990, p. 101). No por acaso, Cachoeira tambm ficou conhecida
como a Meca da Bahia, pela forte influncia mal na cidade19.
Localizao Geogrfica de Cachoeira
disto, a cidade foi capital nacional por um dia e capital da Bahia durante 16 meses. Tambm, em 1837, durante a Sabinada, ela voltou
a ser capital estadual. Por todos esses acontecimentos e por toda sua
representatividade e atuao, em 2007, foi criada uma Lei Estadual
10.695/07, que transfere, nos dias 25 de junho, a sede do governo da
Bahia para o Municpio.
A vida cultural de Cachoeira se desenvolveu sob influncia da trade
frica, Europa e Amrica, mas desde sempre houve uma forte presena
negra em toda sorte de manifestaes populares, mesmo em meio represso ou liberdade vigiada. L, como em todo o Brasil, foi atravs
do sincretismo que os negros puderam aos poucos inserir signos de uma
cultura estigmatizada, que foi progressivamente se afirmando e ganhando espao. sabido que o Conde dos Arcos no s aprovava como
incentivava os batuques negros, acreditando que a festa servisse para
aprofundar as diferenas entre as naes africanas e conter a ameaa
de uma revolta unificada. Por este motivo, durante algum tempo, a festa
foi o nico espao concedido para que os negros pudessem mostrar sua
capacidade de organizao e mobilizao, sugerindo uma importante
conquista de espao de barganha sob a escravido. Para Joo Reis:
Alm da barganha relacionada vida material e ao trabalho, os
escravos e senhores, negros, forros, livres e homens brancos, digladiavam-se para definir os limites da autonomia de organizaes e
expresses culturais negras. Entre as instituies em torno das quais
os negros se agregaram de forma mais ou menos autnomas, destacam-se as confrarias ou irmandades religiosas, dedicadas devoo
de santos catlicos (REIS, 1996, p. 10).
68 l Brbara Falcn
Com suas missas e procisses, os ritos pblicos da Irmandade da Boa Morte ecoam aspectos da religiosidade brasileira do sculo XIX. Os cnticos fazem
parte do cancioneiro catlico popular, tanto que boa parte do pblico que
acompanha a missa e as procisses une-se s irms em um s coro. A programao em homenagem a Nossa Senhora inclui ainda uma festa profana,
nos ltimos trs dias, regada a muita comida e samba de roda (MARQUES,
2002)20. Observa-se, portanto, a incorporao da msica tanto na parte sagrada quanto na parte profana dos festejos, com influncias que denotam a
negociao21 em torno dessa zona de poder repleta de significaes.
O conceito de nao, ligado a princpio a elementos como a lngua, cantos, danas e instrumentos dos povos chegados da frica, deu lugar ao conceito de nao limitado ao mbito das prticas religiosas e das congregaes
organizadas em torno delas. Fica ntida ento a importncia do valor simblico que era atribudo religio e aos elementos que estavam estritamente ligados a ela, como o caso da msica. No candombl, a msica assume um
papel crucial, j que atravs do transe causado pelos toques dos atabaques
que os orixs se manifestam. Para a pesquisadora Angela Lhning, a msica
se estende para alm da vida religiosa desses indivduos:
A funo primordial da msica fazer os orixs se apresentarem aos seus
descendentes, manifestando-se em seus corpos, e danarem. A msica no
danada nos rituais preliminares possibilita uma preparao para que isso tudo
se d nas festas pblicas. Porm, a msica tem tambm uma grande importncia fora das festas pblicas e cerimnias no-pblicas: ela faz parte da vida
cotidiana das pessoas iniciadas. Ela ultrapassa o momento da vida religiosa,
liga o ritual sagrado ao profano e expressa emoes muito fortes em momentos
agradavis e difceis. Assim, a msica se torna o corao do candombl, tanto
nas festas pblicas, em que no h orix sem dana (e que no h dana sem
msica), quanto na vida cotidiana das filhas-de-santo, em que a msica especialmente as cantigas de fundamento e as rezas expressa e alivia as emoes
mais fortes (LHNING, 1990, p. 115).
Mesmo com a vigilncia do governo, os escravos souberam se aproveitar das incertezas polticas geradas pela incapacidade da elite dominante.
As dcadas de 1820 e 1830 foram agitadas por inmeras revoltas separatistas, movimentos de rua e rebelies escravas. Em Cachoeira, aconteceram em 1827 e 1828 grandes levantes no engenho da Vitria e no Iguape,
onde j existia uma composio tnica bastante peculiar, pois j no havia
entre os escravos um s homem africano (ib. idem, p. 114).
importante frisar que apesar do regime escravocrata ter se baseado
fundamentalmente na fora do chicote e em outras formas de coero, no
teria vigorado por tanto tempo se s usasse da violncia. Os senhores de engenho aprenderam desde cedo que era preciso combinar fora com persuasso, assim como os escravos entenderam que seria impossvel sobreviver
apenas na acomodao ou na revolta (REIS, 1996, p. 10). Apesar da luta
dos brancos pela imposio de limites, aos poucos os negros foram conquistando espaos que garantiam, alm da vida material, uma certa autonomia
em torno de suas organizaes e expresses culturais. Nessa histria, uma
rede de mediaes transculturais possibilitou o nascimento do samba.
70 l Brbara Falcn
DO SAMBA AO AFROCANTO
Seguindo uma trilha proposta por Sandroni (2006), optei neste captulo por ir alm das dedues que permeiam os debates sobre o samba
e a sua origem, que em muito se concentram na sua etimologia e na
polmica em torno de uma origem baiana ou carioca. Considerei aqui
o comportamento humano e os aspectos sociais que o cercaram no Recncavo baiano, especialmente em Cachoeira. L, o samba de roda foi
(e continua sendo) parte importante de eventos socioculturais, que integravam festas religiosas, em pequenas localidades e reas rurais. Neste
contexto, o samba torna-se mais do que um ritmo, sendo considerado
como o prprio evento, que exige um sentido de identidade de grupo e
discrimina indivduos competentes para que possam tomar parte dele,
seja da msica ou da dana. Roberto Moura retoma um depoimento de
Joo da Baiana que descreve esse aspecto da tradio sambista e de sua
influncia na cultura popular carioca:
As nossas festas duravam dias, com comida e bebida, samba e batucadas. A
festa era feita em dias especiais, para comemorar algum acontecimento, mas
tambm para reunir os moos e o povo de origem. Tia Ciata, por exemplo,
fazia festa para os sobrinhos dela se divertirem. A festa era assim: baile na sala
de visitas, samba de partido alto nos fundos da casa e batucada no terreiro.
A festa era de preto, mas branco tambm ia l se divertir. No samba s entravam os bons no sapateado, s a elite. Quem ia pro samba, j sabia que era
da nata (MOURA, 1995, p. 115).
72 l Brbara Falcn
A partir do disco Gil Jorge Ogum Xang, lanado em 1975, Gil tambm passou a ter o candombl como referncia em seu trabalho, tanto na
capa do LP que tinha a imagem de dois bzios como nas letras das
msicas, a exemplo de Filhos de Gandhi.
Nesse mesmo ano, Os Tincos gravaram um compacto e tiveram a
faixa Banzo, no LP da trilha sonora da novela Escrava Isaura da Rede
Globo, de Heckel Tavares e Murillo Arajo. Neste disco o nome do trio
aparecia entre o de importantes intrpretes da msica brasileira, como
Elizeth Cardoso, Francis Hime e Dorival Caymmi. A msica Cordeiro de
Nan, de autoria de Mateus Aleluia e Dadinho, foi a mais gravada por
outros artistas, sendo Joo Gilberto e Gilberto Gil alguns deles. Recentemente ela pde ser ouvida na voz de Thalma de Freitas, como parte da
trilha sonora da telenovela Senhora do Destino (2005), que foi reprisada
pela Rede Globo no ano de 2009.
Os rapazes de Cachoeira fizeram vrias turns pelo pas e foram convidados a se apresentar em alguns pases da Amrica Latina, frica e
Europa. No Brasil, participaram de inmeros festivais de msica e programas de auditrio, e figuraram entre os primeiros colocados do Globo
de Ouro, programa da Rede Globo onde se apresentavam os artistas
cujas msicas estavam entre as mais pedidas e que tinha uma das maiores audincias da televiso brasileira na dcada de 70.
78 l Brbara Falcn
Diversos artistas brasileiros, a exemplo de Martinho da Vila, Joo Gilberto, Benito de Paula e Joo Nogueira gravaram msicas dos Tincos.
Recentemente Carlinhos Brown gravou Obalu, uma adaptao de
Mateus, Dadinho e Heraldo para um cntico de candombl24.
Obalua
(Adap. Mateus, Dadinho e Heraldo)
O msico Geraldo Cristal faz referncia ao grupo em entrevista realizada para esta pesquisa, destacando a influncia que a msica afro dos
Tincos exerceu em seu trabalho:
Eu gostava de tudo, quando eu comecei a me entender assim, por exemplo, eu me lembro de ouvir Tincos. Depois que eu passei a ter um entendimento melhor, Tincos foi a minha primeira influncia african pop
mesmo. uma msica que me arrepia at hoje, assim. Quando eles cantavam uma msica assim: h, Jesus, dai fora e luz aos orixs. Quando
eu ouvi isso, era a nica msica ali, todas as msicas deles: Embola,
embola, embola, minha nga, embola, embola que eu tambm quero
embolar. h, raposa. O que Guar? Voc t chupando cana dentro
do canavial. Ento tudo isso era o que eu j ouvia como uma referncia,
Mateus, Eraldo e Dadinho (Geraldo Cristal, entrevista em 29/11/2007).
NO BALANO DO REGGAE
O reggae tem o mesmo gosto que vocs conhecem,
as mesmas razes e a temperatura que o samba tem.
Ns somos prximos.
Bob Marley, Jornal do Brasil, 21/03/1980
Como visto no captulo anterior, a partir dos anos 60, o reggae ganhou
projeo internacional. Em pouco menos de uma dcada, favorecido por
uma srie de acontecimentos e circunstncias, o ritmo passou a ser um
forte demarcador de identidades em toda a Amrica negra. No Brasil,
Cachoeira tornou-se um porto atlntico afluente para as sonoridades jamaicanas, que passaram a ecoar na produo musical de artistas locais a
partir dos anos 70. L, como em toda a Bahia, alguns fatores possibilitaram a identificao com o discurso e a musicalidade do reggae, a ponto
de torn-lo parte da cultura local. A chegada das novidades da indstria
fonogrfica, atravs do rdio e dos discos, num dado momento histrico,
onde a valorizao do negro aos poucos ia se tornando possvel, levaram
alguns jovens a essa identificao. Facilitada pela forte presena negra,
numa cidade onde a musicalidade afro se manteve em toda sorte de manifestaes culturais, conforme demonstrado nas pginas anteriores.
A insero do ritmo jamaicano em Cachoeira se deu basicamente por
um grupo de msicos que passou a t-lo como referencial musical em suas
composies depois de conhec-lo e decodific-lo. Segundo depoimento de alguns entrevistados, o reggae comeou a circular entre a juventude
do Recncavo ainda nos anos 70, quando um dos precursores do gnero
em Cachoeira, Nengo Vieira, foi apresentado msica de Bob Marley:
Em 77, eu tinha um colega que era msico tambm, o Beto Marques, e
ele me levou na casa dele em Muritiba, onde eu pude conhecer o trabalho
do Bob Marley pela primeira vez, o Rastaman Vibration. A principio no
me identifiquei muito com a musicalidade do Marley, porque eu tinha
80 l Brbara Falcn
O msico Tin Tim Gomes diz que antes conheceu o reggae de Jimmy
Cliff, durante festas nas casas de alguns amigos em So Flix. Ele ouviu
uma msica de Bob Marley25 pela primeira vez na Casa Paulo Dias Adorno que segundo Tin Tim funcionava nos moldes de uma organizao
no governamental onde a juventude cachoeirana se reunia informalmente para produzir e consumir cultura durante os anos setenta. Mas
ele afirma que conheceu melhor o trabalho de Bob Marley quando foi
estudar em Salvador, atravs de um amigo do bairro da Liberdade:
Quando eu fui morar em Salvador, foi que eu tive mais contato com o
reggae de Bob Marley e dos The Wailers. Tinha um colega meu mesmo,
chamado Carlos Augusto, que morava na Liberdade, e nessa poca eu
morava com minha irm no Pau Mido, em 1980. Eu tava curtindo muito
ainda Jimmy Cliff e tal, a ele falou assim: Rapaz, voc precisa prestar mais
ateno ao reggae de Bob Marley, porque Jimmy Cliff bom, mas quando
voc comear a ouvir Bob voc vai conhecer um outro reggae. A num
domingo de manh eu fui na casa do tio dele, que tinha muitos discos de
Bob Marley, praticamente a discografia toda, o Uprising, Survival, Kaya,
Tin Tim Gomes relatou em entrevista que ele e outro irmo, o Eddie
Brown, j acompanhavam o irmo mais velho Edson Gomes, em apresentaes em Cachoeira e So Flix, e que mesmo indo morar em Salvador,
viajava nos finais de semana para essas apresentaes com os irmos. Em
uma dessas idas para So Flix, ele levou dois discos de Bob Marley que
havia pedido emprestado ao amigo Carlos, para que pudesse mostrar aos
irmos e amigos no interior. Nessa poca, Edson Gomes j era compositor
atuante em sua cidade, vencedor de dois festivais, um de msica estudantil
em 1973 (aos 17 anos) e outro de maior projeo, o Festival de Inverno
de Cachoeira em 1977. Com Edson, um contato maior com o reggae se
deu em 83, quando os msicos Nengo Vieira e Jair Soares, integrantes
O REGGAE DE CACHOEIRA - PRODUO MUSICAL EM UM PORTO ATLNTICO l 81
No incio dos anos 80, Gomes se apresentava com grupos de sambo, como A Balaiada e A Gatinhola em Cachoeira e So Flix, cantando algumas de suas composies que se tornaram conhecidas como
82 l Brbara Falcn
muito forte e a eu percebi que era a minha tambm, que era o meu veculo
tambm. Ento foi assim que se deu, os amigos me introduziram no reggae (Edson Gomes, entrevista em 10/06/2008).
O reencontro de Nengo Vieira com Edson Gomes em 1983 desencadeou uma parceria que produziu alguns resultados importantes para
a histria da msica reggae na Bahia e que, posteriormente, acabou influenciando uma gerao de msicos em Cachoeira. Sobre este aspecto
Gomes comenta:
Ns mexemos com toda a cidade, mexemos com os jovens. Os jovens
se interessaram: Ah, se deu certo com eles, eu tambm posso. A a coisa
pegou, n? Quer ver uma coisa? Voc falou de Cristal. Cristal era adolescente, ele era adolescente. Todo show que eu fazia aqui ele ficava me
observando e acompanhava, e no era ainda o reggae, no era o reggae
ainda. Ele j acompanhava, ele e a irm dele, acompanhavam. Me pedia
pra me dele liberar ele pra ir pro meu show, eu ia l pedir. E hoje ele
regueiro tambm. Nengo tinha Sine como um espectador tambm, ele
tocava, Sine ficava ali olhando. Ento essa semente foi plantada aqui
(Edson Gomes, entrevista em 10/06/2008).
tuticum tucumtum tuticum]. Era aquele ritmo que ele no sabia muito bem
o que era, que no era um reggae. Era um pouco dessa influncia dele
tambm de Tim Maia, do soul, que depois foi chegando mais prximo da
batida do reggae. Ento, pelo que eu me lembro assim, a minha influncia
84 l Brbara Falcn
musical recheada dessas pinceladas. Assim, de tudo que eu pude perceber na dcada de 70, at quando eu comecei a ouvir o reggae mesmo, n?
(Geraldo Cristal, entrevista em 28/11/2007).
Comeamos a arranjar as msicas de Edson, a ilustrar as msicas do Edson Gomes, que at ento s tinha o canto e o contracanto prontos. A comeamos a botar os elementos, a bateria, o contrabaixo, a guitarra e foi a
que nasceu o Reggae Resistncia, que o primeiro disco de Edson Gomes.
Rapaz, no s o disco, mas a partir do momento que ns nos juntamos com
Edson, ns percebemos uma fora que era imbatvel. A nossa fora junto
com Edson era uma fora, assim tipo, que ningum poderia abater a gente.
Edson quando subia no palco pra cantar, cara, ele arrebanhava multides.
Dava um grito de guerra e a galera ia ao delrio. Era uma coisa viva, uma
coisa espontnea, uma coisa visceral, tribal, que ningum poderia deter,
que ningum poderia abafar. Eu percebi isso desde os shows e quando o
disco saiu teve essa resposta assim de imediato, com sucessos j consagrados, como Malandrinha, Sombra da Noite, Samarina, Co de Raa,
Rastafary, que foi sucesso na poca tambm; e foi um divisor de guas,
n? Paralelo a isso a gente sempre dava continuidade ao nosso trabalho
como Studio 5 (Nengo Vieira, entrevista em 10/08/2007).
No final de dcada de 80, os msicos que formavam a Studio 5 passaram a trabalhar mais com Edson Gomes, acompanhando seus shows
e gravando seus discos, como banda Co de Raa, nome do qual Gomes no abria mo32. Aos poucos foram deixando de tocar o repertrio
mesclado da Studio 5 e se focando mais no reggae e na Bblia, e assim
surgiu a Remanescentes, da convivncia na residncia do msico Nengo
Vieira, em Salvador. Em 1989, todos os msicos que formaram a Remanescentes passaram a morar em Cachoeira, o que segundo Nengo Vieira
ajudou a compor uma nova musicalidade baseada no reggae de Bob
Marley e na msica negra norte-americana:
Eu vim pra Salvador em 80 e fiquei mais ou menos at 89, no Alto das Pombas. Eu retornei pra Cachoeira. Comecei a ter famlia, comecei a ter meus filhos
com Valria e resolvi voltar pra Cachoeira, e o grupo todo j tava morando l
em Cachoeira, o prprio Sine, o Marquinho. Ento isso facilitava muito a gente ensaiar, facilitava todo mundo se ver e a, nesse momento, a gente comeou
a ter uma intensidade, a ter uma profundidade de convvio de relacionamento,
a passamos quase cinco anos juntos com essa intensidade de Bblia, de fumar,
de tocar o reggae, de ouvir a msica boa, a black music americana, o blues,
o funk, a soul music, o reggae de Bob Marley. E essa riqueza, essa polirritmia,
essa multiplicidade de escolas diferentes, enriqueceu esse grupo e esse grupo
comeou a produzir um trabalho inovador, que iria influenciar a histria do
reggae aqui na Bahia, a histria dos trabalhos recentes, dos trabalhos atuais
(Nengo Vieira, entrevista em 10/08/2007).
a discoteca era a histria do James Brown tambm, n? Porque toda aquela influncia da discoteca, era a influncia da soul music. Eu j era aquele
cara que tambm andava em blocos afro. Eu, em Cachoeira, eu era aquele
cara que vinha pra Salvador, buscava as danas e levava pra Cachoeira
(Geraldo Cristal, entrevista em 28/11/2007).
O baixista da banda Morro Fumegante, Vitor Hugo, argumenta que a forte influncia afro em Cachoeira, sobretudo do candombl, pode ter contribudo para uma inverso de hierarquias que facilitou a aceitao do reggae:
A gente ouve rock em japons e uma porcaria. Eu acho que voc tambm
acha rock em portugus ruim. Como bossa nova em ingls horrvel, parece
cool jazz, no parece bossa nova. Mas voc j percebeu que o reggae feito na
Bahia a nica msica de fora que a gente consegue fazer verso ou criao
que no parece msica estrangeira? O reggae baiano no parece uma msica
importada. Parece que nasceu em Cachoeira, voc entende? Eu acho que com
certeza essa influncia de linguagem, desse modo baiano de falar e principalmente de Cachoeira, n? E eu acho que isso tambm tem a ver com o negro
de Cachoeira. Porque tambm essa coisa da influncia negra muito marcante
l. E a concentrao de negros muito grande l e o pessoal do candombl
muito respeitado. Ento, por exemplo, Cristal um Ogan confirmado e tem
todo um orgulho de ser Ogan, de ter a hierarquia negra, independente de ter a
hierarquia branca. E respeitado l. Ento eu acho que isso tambm facilitou
muito pra essa aceitao (Vitor Hugo, entrevista em 10/04/2007).
Conforme observado nos depoimentos sobrescritos, houve um conjunto de fatores que possibilitou o estabelecimento e o desenvolvimento
do reggae em Cachoeira. A relativa proximidade com a capital do esta-
90 l Brbara Falcn
NOTAS
Segundo Reis, todas essas caractersticas facilitaram a criao de laos
de solidariedade que acabaram gerando uma disposio para a luta, o
que levou a uma srie de levantes no incio do sculo XIX.
19
MARQUES, Francisca. Identidade, sincretismo e msica na religiosidade brasileira. Disponvel em: www.naya.org.ar/congresso2002/ponencias/francisca_marques.htm.
20
Usando um termo criado por Joo Reis em: REIS, Joo Jos & SILVA,
Eduardo. Negociao e Conflito: A Resistncia Negra no Brasil Escravista.
So Paulo: Companhia das Letras, 2005.
21
Para saber mais sobre a influncia baiana no samba carioca ver Moura
(1995), Sandroni (2001) e Vianna (2002).
22
Em recente turn pelo Brasil, alguns dos Skatalites ressaltaram a importncia do Alpha Boys e de Sister Mary Ignatius para a msica jamaicana. Para
saber mais ver: http://mtv.uol.com.br/jamaica/blog/yampm-entrevista-skatalites-e-te-mostra-o-pocket-show-na-integra-em-primeira-m%C3%A3o.
23
Atualmente, com a implementao das leis de Direitos Autorais e valorizao dos Mestres da cultura popular, que durante sculos desempenharam o importante papel de divulgar as culturas marginalizadas, h uma
discusso em torno da apropriao das letras e cnticos do candombl.
24
A msica que ele escutou foi No Woman no Cry, que chamou sua
ateno tambm pela nitidez da gravao, onde ele pde perceber todos
os instrumentos, o que no acontecia no som do rdio.
25
26
27 e 28
92 l Brbara Falcn
31
Esses msicos gravaram apenas os trs primeiros discos de Edson Gomes, o Reggae Resistncia (1988), o Recncavo (1990) e o Campo de
Batalha (1991). A partir da a banda Co de Raa teve diversos msicos
em sua formao, mas nunca s de cachoeiranos, como a primeira.
32
CAPTULO III
O ENREDO DO REGGAE NA
TERRA DO SAMBA
Neste captulo, fao uma abordagem etnomusicolgica sobre o reggae cachoeirano, baseada nas falas dos artistas entrevistados e nas suas discografias.
necessrio frisar que, alm das fontes supracitadas, tanto as observaes em
shows como a anlise dos registros de apresentaes em vdeo ajudaram a
caracterizar o quadro estudado. Aqui, a produo musical de cada artista ser
analisada individualmente, em ordem cronolgica (Studio 5, Edson Gomes &
Co de Raa, Remanescentes, Sojah, Nengo Vieira & Uno I, Sine Calmon
& Morro Fumegante, Nengo Vieira & Tribo de Abrao, Dystoro, Tin Tim
Gomes & Manasss, Isaque Gomes e Jeremias Gomes) e em posterior ser
realizado um balano geral da produo, envolvendo uma discusso em torno
de conceitos como gnero, repertrio e consumo.
Na ltima parte discuto a relevncia do componente religioso na obra destes compositores, presente em grande parte das letras, e a opo pelo cristianismo em detrimento do rastafarianismo. O caso do msico Nengo Vieira, que
se tornou dicono da Bola de Neve Church, ser tratado em especial, pois
foram feitas observaes de campo em reunies nas sedes desta denominao religiosa nas cidades de Salvador (BA), Santos (SP) e Guaruj (SP). Com
base nessa etnografia, tambm caracterizo o pblico tanto de eventos seculares quanto de religiosos. Alm disso, destaco a insero deste artista dentro do
segmento gospel, onde vem se destacando na cena nacional e conseguindo
consolidar uma rede com artistas de considerada relevncia internacional.
A Studio 5 tinha uma proposta muito aberta, porque era uma banda
de msicos, n? Fazamos funk, fazamos rock, salsa, fazamos o prprio
reggae e era um trabalho de msicos. E ele falou: O meu trabalho
mais um trabalho de compositor. A no deu certo, o convite no foi
concretizado. A ele seguiu a carreira dele como Edson Gomes & Co
de Raa, mesmo a Studio 5 acompanhando ele, os elementos da Studio
5 acompanhando ele, mas era s vezes Edson Gomes como Studio 5,
porque a gente tambm no abria mo do nosso nome e s vezes como
Co de Raa. At que gravamos o disco como Co de Raa, mas quem
gravou foram os msicos da banda Studio 5, eu, Rui de Brito, Jair Soares, o Albertinho (Nengo Vieira, entrevista em 10/08/2007).
98 l Brbara Falcn
e dava a Sine, Sine pegava a guitarra dele e dava pra Marco, eu pegava
o contrabaixo de Marco, ento era essa troca, isso tudo era uma coisa
diferente que acontecia (Nengo Vieira, entrevista em 10/08/2007).
A leitura da Bblia, que se tornou fundamental para os Remanescentes, foi uma prtica adquirida atravs do convvio com Edson Gomes, ainda em Salvador, no 53. Adiante ser discutida a importncia da Bblia e da religio na vida dos regueiros cachoeiranos, bem
como a influncia de suas msicas na converso de pessoas para o
evangelismo. Neste sentido, o trabalho pioneiro realizado pelos Remanescentes tornou-se um divisor de guas para o reggae baiano,
no somente pelas letras, que pregavam o evangelho de uma maneira
inusitada; mas tambm pela sonoridade. As apresentaes do grupo
eram sempre requisitadas em Cachoeira e cidades adjacentes, como
So Flix, Muritiba e Maragogipe, e os registros destas apresentaes,
geralmente feitos em fitas K7 eram disputados na regio. Sobre este
aspecto, Nengo Vieira comenta:
exatamente por isso, porque todo mundo j conhece, todo mundo j sabe.
Quando voc quer tirar uma dvida, voc vai l no disco de Bob Marley e
pega uma mixagem, ou como fica o baixo em um volume, como o decibis, como voc quer o seu, ento virou escola. Ento, da mesma forma,
virou escola Remanescentes e, pra mim, com muito mais mrito, porque
como musicalmente j tinha sido inventado o reggae, o mrito da gente foi
colocar o reggae com a nossa cara, porm como o contexto religioso, filosfico e tal. Para mim, o maior mrito ainda isso, ter contagiado pessoas
a ler a Bblia, contagiado assim no sentido de se comportar, da forma que
tem um parmetro, da forma que Deus quer que a gente se comporte, n?
Sendo respeitador, sendo pessoas boas para com as nossas famlias, nossos
irmos. Ento, isso pra mim o maior mrito do Remanescentes, o mrito cultural, o patrimnio sociocultural que a gente conseguiu deixar para
as pessoas (Marco Oliveira, entrevista em 22/11/2007).
Outro aspecto importante a ser menciondo nesta pesquisa a contribuio dos Remanescentes para uma nova musicalidade baiana que
passou a se formar nos anos 90, sobretudo no uso de instrumentos e
tcnicas de gravao. O musicista Vitor Hugo, que participou da segunda
formao do Remanescentes, tratou desse aspecto em sua entrevista:
O disco foi muito bem feito pra poca e tambm foi muito chocante
nessa coisa do reggae na Bahia. E tambm tem uma coisa, na Bahia nunca do ao reggae a glria merecida. O primeiro disco de Edson Gomes,
por exemplo, foi gravado com bateria eletrnica, que era o que se usava
na poca com o ax. uma bateria com um som que no bateria, s
bateria porque chamam de bateria, mas no passa de um brinquedo
eletrnico. Ento eles gravavam o som com bateria eletrnica. Nengo
at produziu esse disco e tal. E talvez eles no tivessem, eles, os tcnicos,
no tinham condies de gravar com bateria acstica. Depois do disco de
Edson Gomes, eles viram a necessidade da bateria acstica. Voc pode
reparar, depois do primeiro disco de Edson Gomes, tudo foi feito, a maioria das coisas na Bahia foram feitas com bateria acstica. Veio o disco da
Remanescentes que no saiu, mas at Remanescentes voc no ouvia
o contrabaixo na msica baiana. Voc no ouvia. A a Remanescentes
fez o disco. Na poca que eles fizeram o disco, o contrabaixo ia tocar na
rdio, a no podia, era um grave muito estranho, soava estranho. Engraado que depois Sine lanou o disco dele com o contrabaixo mais grave
ainda e por ser uma linguagem mais aceitvel pra o pessoal da rdio, o
pessoal que conhecia mais o reggae aceitou. Ento, depois do disco da
Remanescentes, o contrabaixo foi ouvido no ax, o contrabaixo foi ouvido em toda msica baiana, em todos os discos de msica baiana. Ento,
o reggae sempre o primeiro a testar as coisas, mas nunca reconhecido
como pioneiro (Vitor Hugo, entrevista em 10/04/2007).
necessrio pontuar que alm da incorporao dos elementos musicais influenciados pelo reggae e do componente religioso, mais um ponto
pode diferenciar os Remanescentes em sua trajetria. As prticas desenvolvidas em grupo, muitas das quais estendida as suas famlias, geraram
polmica na poca, tanto em Cachoeira quanto em Salvador:
A gente comeou a ter alguns posicionamentos muito slidos, muito
consistentes, dentro daquilo que ns acreditvamos, dentro daquilo
que ns achvamos que era correto, entendeu? E usando a Bblia,
tendo a Bblia como nosso trilho, nossa bssola, a gente passou a ter
algumas atitudes. Por exemplo, os nossos filhos, ns no colocvamos
nas escolas, porque a gente achava, e na verdade, no fundo, no fundo
, uma lavagem, esse ensino da que as pessoas passam tanto tempo
aprendendo um bocado de coisa e paga pra estudar, paga pra aprender, um absurdo. Ento a gente achou melhor alternar isso, ensinar
os nossos filhos a coisa prtica, diria, que voc vive, fazer a conta,
voc multiplica, soma, divide e subtrai. E aprender a falar e ler. Ler
a palavra de Deus, que o fruto da vida. A passamos a criar nossos
filhos assim. Inclusive o meu filho mais velho, que hoje o meu baterista, j foi pra escola com quase 10 anos de idade, por causa dessa
atitude nossa. Ns no permitamos tirar foto nossa, fazer broche e reverenciar a gente como dolo porque a gente abominava idolatria. Ns
achvamos que isso era idolatria, fanatismo pela imagem. E a imagem
da gente escandalizava na aparncia. Minha aparncia hoje, hoje eu
t light, hoje eu t tipo fino, sabe? Era coisa tribal, minha barba batia
aqui [mostrando a mo na altura do trax], era um dreadlock com
aquele cabelo bem consistente. Ns vnhamos aqui pra o Sindicato
era um centro de todo mundo fumar, mas nunca tomamos baculejo, nunca tomamos blitz, nunca fomos abordados por policial (Nengo Vieira,
entrevista em 10/08/2007).
At meados de 1994, os Remanescentes, Nengo Vieira, Tin Tim Gomes, Marco Oliveira, Sine Calmon, Quinho, Beto, Wilson Toror, Valria
Leite e Joo Teoria trabalharam coletivamente, mas mesmo com o trmino do grupo, continuaram contribuindo uns com os outros, mesmo que
esporadicamente. Com a sada de Calmon e Oliveira, Vieira e Gomes
deram continuidade ao projeto por pouco tempo, chamando msicos
como Vitor Hugo e Csar Napole para substiturem os dissidentes. O
trumpetista Joo Teoria37 acompanhou Nengo Vieira por um longo perodo, tendo gravado todos os seus discos gratuitamente, mesmo depois
de ter se tornado um msico requisitado. O percussionista Wilson Toror
tocou na Morro Fumegante por alguns anos, bem como Valria Leite,
que foi convidada por Sine Calmon para fazer backing vocal na banda
durante algum tempo, tambm gravando em um dos seus discos. Desde
2007, Marco Oliveira reveza o contrabaixo com Vitor Hugo na Morro
Fumegante, alm de dar continuidade ao seu projeto, a banda Dystoro
e atuar como msico free lancer em outras bandas.
importante frisar que uma parte significativa do repertrio de Sine
Calmon, tanto em shows como em discos gravados, de autoria de Nengo
104 l Brbara Falcn
O lbum Reggae Resistncia pode ser considerado o primeiro do gnero no Brasil, pois, antes do seu lanamento, nenhum outro artista ou
grupo conseguiu gravar um disco equivalente no pas. Esse trabalho de
Edson Gomes chama ateno pela unidade alcanada, tanto no padro
rtmico quanto na temtica tratada, voltada, sobretudo, para o discurso
tnico-identitrio. Segundo Carvalho (2000):
Um gnero musical, portanto, vem a ser muitas coisas ao mesmo tempo:
um padro rtmico sinttico, uma sequncia de batidas de tambor, um
ciclo ou uma seqncia harmnica precisa, ou pelo menos claramente
reconhecvel; algumas vezes um conjunto de palavras ou tropos literrios fixos que combinam com algum padro rtmico particular e com
algum tipo particular de harmonia e de movimento meldico, porque
aquelas palavras ou tropos evocam uma determinada paisagem social,
uma paisagem histrica, uma paisagem geogrfica, uma paisagem divina,
ou mesmo uma paisagem mental (CARVALHO, 2000, pp. 06-07).
Apesar de outros artistas, a exemplo de Jorge Alfredo e Chico Evangelista40, terem gravado algumas faixas com influncia do ritmo jamaicano, o lbum supracitado inaugurou nas prateleiras das lojas de disco do
pas o gnero nacional. Assinando um contrato com um selo importante,
o pioneirismo custou a Gomes uma reduo de investimento por parte
da gravadora, que preferia que ele mesclasse o repertrio:
Rangel gravou e negociou o tape com a EMI e chegou que pela EMI eu fiz
um contrato de trs discos, o Reggae Resistncia, o Recncavo e o Campo
Reggae Resistncia em 1988, com grande resultado de venda, consolidando a carreira desse artista que conquistou uma grande parcela do pblico
da Bahia e do Brasil inteiro. Em 1990, produzi e gravei o LP Recncavo
com sucessos como Lili, Fala s de Amor, Guerreiro do Terceiro Mundo
e outros. Em 1991, a EMI Odeon optou por convidar Perinho Santana
para produzir o disco Campo de Batalha que lanou o hit Criminalidade.
Em 1995, Joo Augusto da EMI convidou-me novamente para produzir
o trabalho Resgate Fatal com destaque para as msicas Resgate Fatal e
Isaac homenagem a seu filho, que hoje segue carreira na mesma trilha
do pai. Em 1997, Edson assina comigo a produo do CD Apocalipse com
os mega sucessos Perdido de Amor, Camel e Apocalipse. Em 2001, o
prprio Edson produziu, para a gravadora Atrao, o CD Acorde, Levante
importante frisar que, at incio dos anos 90, fase em que Edson
Gomes lanou seus trs primeiros lbuns, o caminho trilhado por um
artista para conseguir gravar um disco era bastante rduo, principalmente se forem levados em conta a dificuldade financeira e o preconceito
(ainda que tido como musical) relatado na pgina anterior. Deve ser
considerada tambm a cadeia produtiva que envolveu esse processo,
que vai desde as tcnicas de gravao, at os meios de distribuio do
produto final, neste caso, os LPs, pois exigiam investimento por parte das
gravadoras. Durante o perodo em anlise (1988-1991), houve um relativo crescimento do mercado fonogrfico na Bahia, muito por conta dos
108 l Brbara Falcn
signo marcante, sua cabeleira rasta. O segundo disco traz na capa uma
foto do artista dentro de uma moldura nas cores da Etipia. No encarte,
uma foto de Edson Gomes com seus msicos e filhos (Isaque e Jeremias)
vestidos com uniformes de futebol, outra paixo do artista, que chegou a
almejar ser um jogador profissional.
Os signos adotados nas capas e encartes desses discos, alm de corroborarem com o discurso tnico-identitrio das letras, comprovam uma
afinidade de longa-distncia44 entre baianos e jamaicanos. O uso da
imagem da Bblia, a escolha das cores, cabelos e at mesmo o gosto pelo
futebol do conta afinidades que podem sugerir que ambos movimentos
nasceram em condies histrico-sociais similares, caracterizadas por um
fluxo de informaes gerado por conexes locais e globais, onde a msica foi o fio condutor de tudo. Em seus depoimentos, Nengo Vieira e
Edson Gomes, precursores do movimento em Cachoeira, afirmaram categoricamente que, para eles a msica foi o principal elemento de identificao entre as duas culturas, a jamaicana e a baiana:
[...]. E eu nunca quis, veja bem, nem traduzir as letras pra saber o que
os camaradas tavam falando. Eu sentia a vibrao, que aquilo ali era uma
coisa positiva. Porque a msica, a msica em si, ela j diz muita coisa. Ela
precisa da letra pra identificar, mas ela vibra, ela diz se ela sentimento, se
ela lamento, se ela tristeza, ela j vibra o que ela . Agora, a palavra vai
servir para identific-la. s vezes o compositor consegue identificar a letra
e, s vezes, no consegue identificar a msica, n? A msica uma coisa e
a letra outra (Edson Gomes, entrevista em 10/06/2008).
Exatamente, pelo fato de ser afrodescendente tambm, acima de todas
as coisas, n? Eu sou um hbrido de negro com branco, um tipo sarar.
Ento, o ritmo me toca muito, eu sou uma pessoa muito rica ritmicamente. E o trabalho do reggae um trabalho que tem um elemento rtmico
muito forte, muito presente o elemento do ritmo, n? E com isso eu tive
uma identificao muito grande. Depois eu vi a riqueza meldica que o
reggae traduz. Ento, a partir da eu comecei a ficar maravilhado, extasiado, de ver aquela coisa pronta com aquela densidade to profunda e a
foi uma ida sem retorno. (Nengo Vieira, entrevista em 10/08/2007).
O msico disse tambm ao site que acredita que esse DVD, alm de
ser uma importante arma de evangelismo, que trar restaurao e salvao, ser tambm um grande impacto para a populao evanglica no
geral, entre elas os pastores, pois quebrar barreiras de religiosidade que
ainda possam existir. A observao feita por Lzaro, compositor baiano,
que foi fortemente influenciado pelo reggae e que se tornou evanglico,
sugere que as denominaes religiosas esto receptivas para a insero
do gnero em seu meio, principalmente para chamar a ateno da juventude. Vale ressaltar que a maior parte dos adeptos da Bola de Neve
de jovens, sendo que boa parte deles surfista (inclusive seu fundador,
pastor Rinaldo Seixas, o Rina). Para esclaracer esses vnculos, fizemos
detalhadas observaes em reunies de clula da denominao religiosa,
cultos e show na sede da igreja de Salvador. Sobre este aspecto, Nengo
Vieira explica a aproximao entre esses universos:
O reggae uma msica de gueto, de resistncia e de luta. Por mais que
tenha sido rejeitado na cena gospel, hoje Deus tem derramado um avivamento, um gs novo na sua igreja. E todos os seguimentos musicais, inclusive o reggae, tm sido muito utilizados em eventos evanglicos como
ferramentas atrativas para alcanar as almas (Nengo Vieira, entrevista
revista Ritmo e Melodia em 02/11/2007).
Em sua carreira se destacam duas turns nacionais com a banda californiana Christafari, pioneira no reggae gospel, liderada pelo msico Mark
Mohr. No por acaso, Vieira o nico regueiro cachoeirano que gravou
msicas em outro idioma, no caso, em ingls49; em dois dos seus discos,
Mata Atlntica (2001) e Avivamente (2007).
Em Salvador, foi feita uma observao participante em um evento
relizado em julho de 2008 na Estao Ed Dez, onde esteve presente um
pblico estimado de 2.000 pessoas, evanglicas ou no. Durante o show
de Nengo Vieira, os msicos da Christafari50 fizeram uma participao
especial em duas msicas, sendo que, em uma delas, o vocalista Mark
Mohr cantou com Vieira, enquanto sua esposa, Avion Blackman, cantava com Valria Leite e Noemi Vieira.
Nesse primeiro perodo produtivo, considerados os anos entre 19881998, somente Edson Gomes, Sine Calmon e Nengo Vieira conseguiram
lanar discos, sendo que o nico a lan-los em Long Play (seus trs
primeiros lbuns) foi Gomes. Os primeiros lbuns de Calmon e Vieira j
foram lanados como Compact Disc, mas ainda em uma fase que, por
conta dos custos, ambos dependeram de contrato com uma gravadora para ingressarem no mercado fonogrfico. Interessante observar que
apesar de ter se tornado msico aos 12 anos de idade e de ter um trabalho solo desde a dcada de oitenta, o msico Nengo Vieira s conseguiu lanar seu lbum de estreia aos 39 anos. Atualmente, Nengo Vieira
cumpre uma agenda de shows e compromissos que lhe permite viver
nica e exclusivamente da msica, mas em Salvador passou por muitas
dificuldades. Ele revelou em entrevista revista Ritmo e Melodia que isso
pesou na sua deciso de ir morar no Sudeste:
Acho que o pouco espao que nos dado, fomenta uma necessidade
de sobrevivncia e com isso cada um busca caminhar com suas prprias
pernas, dificultando o processo de unio. Na verdade fui enviado por
Deus para trabalhar no processo de edificao das igrejas Bola de Neve
de Santos e Guaruj, resultando em uma amplitude maior em expor nosso trabalho aqui no Sudeste (Nengo Vieira, entrevista revista Ritmo e
Melodia em 02/11/2007).
Como todos os artistas independentes, os irmos Gomes buscam alternativas para driblar as dificuldades encontradas e continuarem conduzindo suas carreiras de uma forma sustentvel. Durante os festejos
juninos de 2009, mais especificamente no dia 25 de junho, os irmos
Eddie, Tin Tim e Edson, alm dos seus filhos, Isaac e Jeremias Gomes,
promoveram um Arrasto do Reggae com venda de camisas e apresentao da Gomes Family em um trio eltrico, nas ruas da cidade
de So Flix. Interessante observar que o trabalho em torno do gnero
reggae j ocupa cinco membros de uma mesma famlia, sendo que dois
destes indivduos so de uma segunda gerao. O mesmo caso se nota
na famlia do msico Nengo Vieira, que tem esposa, filhas e enteado
envolvidos em seu trabalho53.
Em 1999, temos ainda o lanamento de mais um lbum de Sine Calmon, o Rosa de Saron54, que, pelo ttulo, j sugere o componente religioso presente em mais um trabalho dos regueiros cachoeiranos. Nesse
disco, Calmon gravou trs composies de Vieira, alm de canes de
Jorge Guedes, Miguel Souza e duas de Bob Marley, sendo uma destas
verso dele de Stir it Up. O repertrio do lbum inclui, alm dessas
faixas, msicas compostas pelo prprio Sine, como a Rosa de Saron e
Ravengar55, que pode ser considerada como causa de outra polmica
em sua trajetria artstica. Isso por conta do refro e do nome da msica,
que tem como ttulo o apelido do maior traficante de drogas da Bahia
nos anos 90, Raimundo Alves de Souza, que na poca residia no Morro
do guia, no bairro da Fazenda Grande do Retiro, em Salvador. O refro
de Ravengar, de Calmon:
Deso l do morro, no me canso de cantar
Deso l do morro, pois eu t na paz de Jah
Deso l do morro, no me canso de cantar
Deso l do morro, riba, passo logo em Ravengar.
Em 2001, o msico Nengo Vieira lanou seu primeiro disco independente, o Mata Atlntica, com repertrio diversificado, que incluiu
Shalon56, sua primeira cano em ingls. Outras canes desse disco
ficaram bastante conhecidas pelo grande pblico, como Roda Pio e
A Vida, sendo a ltima uma das finalistas do I Festival de Msica da R116 l Brbara Falcn
com canes inditas. Ocorreu agora o CD ao vivo que tem umas quatro
msicas j conhecidas, como Barrados, Bibliotecas Pblicas, Ana Maria,
Tabuleiro, Lei do engano. Ento, essas canes, eu j editei com a minha
prpria editora. Ento, eu j posso fazer um disco independente e colocar
algumas msicas conhecidas pra no lanar um disco totalmente desconhecido. E principalmente que esse foi gravado ao vivo, ento eu posso colocar
elas de outra maneira em estdio. Entendeu? Mas uma cano que j vai
garantir assim a procura, o interesse pelo disco, com uma cano j conhecida. Ento esse o meu projeto, n? Um CD independente mesmo pra puder
vender barato pra galera (Edson Gomes, entrevista em 10/06/2008).
O alto custo para lanar um CD independente no mercado e a dificuldade de negociao com as gravadoras so apontadas pelos artistas
entrevistados como as principais causas de um perodo de cinco anos de
decrscimo em suas produes. Entre os anos de 2001 e 2005, h uma
pausa na produo musical dos msicos de Cachoeira, que s retornam
a lanar lbuns em 2006. Edson Gomes lana um lbum ao vivo, j com
msicas editadas por ele, mas distribudo pela Atrao Fonogrfica, alm
do seu primeiro DVD com imagens do mesmo show gravado para ser
lanado em CD. Sine Calmon lana pela gravadora Kaskatas o lbum
Guerreiro Mor, at ento seu trabalho mais recente. A exemplo dos seus
outros discos, Calmon gravou duas msicas de Nengo Vieira, uma delas
intitula o lbum, que tambm traz uma verso de Roots, Rock, Reggae
de Bob Marley. Nengo Vieira lana em 2006 dois discos de forma independente, o Vem pro Caminho Reggar, gravado ao vivo, na Igreja Batista
Caminho das rvores (Salvador/BA), durante o evento Arrasto Gospel;
e o Chama59, considerado pelos fs como um dos melhores lbuns de
sua carreira. Atualmente, o primeiro disco mencionado encontra-se esgotado no mercado e o segundo distribudo pelo selo Bola Music, que
pertence a denominao religiosa Bola de Neve Church.
Tambm no ano de 2006, o msico Marco Oliveira consegue lanar o
lbum de estreia de sua banda, a Dystoro, um trabalho independente,
gravado nos estdios da WR em Salvador. Como a banda ficou desfalcada do baterista e do guitarrista pouco tempo antes da gravao, o disco
foi gravado com bateria eletrnica. Dentre as faixas gravadas, se destaca
118 l Brbara Falcn
Porque o seguinte, aqui acabou sendo uma escola, todo mundo passou
pelo mesmo lugar, eu, Nengo, Sine, Tin Tim. E quem vem atrs vai observando, se voc observa Sine, observa a gente l atrs. Olha o trabalho
do Sine, ele faz parte da escola. O diferente daqui Cristal. Cristal no
passou pela escola. E o outro ingrediente a parte literria, que todos ns
abordamos a questo espiritual focada em Deus, Jesus Cristo. Ento esse
um ponto em comum na nossa vida. Todo mundo fala de Deus, porque o
social j parte mesmo da raiz do reggae, n? Mas em nosso trabalho, se h
algo em comum, isso a (Edson Gomes, entrevista em 10/06/2008).
Para manter contato com o pblico, alm dos discos, vdeos e shows,
alguns dos artistas de Cachoeira tm pginas em redes sociais da Internet,
a exemplo do Facebook, Orkut e do Myspace, onde os prprios fs fundam
comunidades e perfis para trocarem informaes sobre eles. Os mais seguidos pelos admiradores nas redes sociais so Edson Gomes e Nengo Vieira,
que no por acaso tambm so campees em resultados de busca na web.
Atravs de uma pesquisa com os nomes deles podem ser encontrados links
de vdeos no You Tube, entrevistas e matrias em sites e revistas eletrnicas, alm de links para download de seus discos em blogs.
As observaes em shows foram essenciais para a qualificao desse pblico, bastante diversificado, dependendo do artista e do local da
apresentao. Nos shows de Edson Gomes so observados tanto jovens
quanto pessoas de meia idade, sendo que a maioria de homens, afroO REGGAE DE CACHOEIRA - PRODUO MUSICAL EM UM PORTO ATLNTICO l 121
A msica Gueto, parceria de Nengo Vieira e Carlito Profeta, gravada por Sine Calmon (1999), traz uma referncia ao regime sul-africano
apartheid:
Eu vim do Gueto/ Vim do interior do Gueto/ Eu
no trago dio pra voc
Eu, sim, meu preto/ Ando procurando um jeito
De tocar, cantar o que voc viver
Mr. Stevie Wonderful/ A onda voc/ Cantando
um Rock, um Reggae, um Rhythm and Blues
Ainda que os alto-falantes da frica do Sul/ No
sintam as emoes da nossa alma Blues
Alma Blues/ Alma Blues.
(Gueto, Nengo Vieira e Carlito Profeta)
fonogrfica nos dois perodos estudados, temos um resultado significativo, ainda mais por se tratarem de artistas que vm de uma origem
humilde, afrodescendentes e nascidos em uma cidade do interior da
Bahia onde a economia manteve-se (e ainda se mantm, de certa
forma) estagnada. O nvel de dificuldade para que estes artistas conseguissem alicerar suas carreiras, pode ser considerado ainda mais
complexo quando se leva em conta o gnero musical escolhido para
desenvolverem suas produes, pois, alm de tratar-de de um gnero
internacional, tambm considerado como um gnero tnico, o que
com certeza provoca preconceito e dificulta a insero de suas canes no mercado. As letras destes artistas tambm podem se constituir
como uma barreira nesse sentido, pois tratam de problemas sociais
(etnicidade, poltica e religiosidade) que se constituem como tabu
para investidores e consumidores nesse mercado. Tratando de produo musical na Bahia, temos ainda um agravante, pois, durante um
longo perodo, a emergncia da ax music causou uma espcie de
invisibilidade aos demais gneros trabalhados.
Produo Fonogrfica em torno do Reggae de Cachoeira*
Ainda assim, o reggae feito pelos cachoeiranos chamou a ateno de produtores como Cristvo Rodrigues e Wesley Rangel, que
acabaram investindo em seus diversos projetos. Na opinio de Rangel, o reggae foi um forte referencial para toda msica produzida na
Bahia, a partir da dcada de oitenta, num movimento encabeado
pelos blocos afro, mas que chegou s estrelas da ax music, de
diferentes geraes.
No balano produtivo que realizamos no foram consideradas as participaes em compilaes (coletivas) e coletneas individuais, pois s
o msico Edson Gomes tem cinco discos lanados por duas gravadoras
diferentes no perodo entre 1999 e 2003. Esses discos no foram includos no balano, bem como o disco Semente do Amor, gravado pelos
Remanescentes, pois ainda permanece indito no mercado fonogrfico.
Gomes tambm detm o maior nmero de msicas registradas e gravadas por artistas de outros segmentos. Alm dele, Nengo Vieira tambm
participou de coletneas, tanto no segmento gospel, quanto no segmento
reggae. Vieira tambm teve diversas canes gravadas por outros artistas,
principalmente por Sine Calmon e Tin Tim Gomes. Fala s de Amor
(Edson Gomes/ Nengo Vieira) foi a nica parceria gravada por Edson
Gomes, que j teve msicas suas gravadas pela Timbalada, Margareth
126 l Brbara Falcn
As emissoras de rdio locais, tanto em Cachoeira, quanto em Salvador, foram essenciais, pois, mesmo com a limitao imposta pelo jab,
ajudaram a divulgar, em diferentes momentos, o trabalho desses artistas.
Destaco aqui a colaborao de radialistas como Ray Company, Lino de
Almeida, Clvis Rabelo e Luiz Carlos Athayde, que, em seus programas
dedicados ao gnero, sempre deram destaque aos cachoeiranos. No
podemos deixar de considerar tambm a atuao dos camels, que atravs do comrcio informal e de uma lgica prpria de mercado, ajudaram
a divulgar essa produo na capital e no interior, inclusive em Cachoeira,
onde atuam, principalmente, na feira livre.
RASTAS DE CRISTO
Deus usa vrias iscas, em vrias situaes pra ganhar vidas. Porque Deus
quer nossa vida, nosso corao. E na palavra ns somos referenciados
como peixes. Eu sou um tipo de peixe e Deus usou uma isca diferente
pra me conquistar. E Deus, hoje, atravs da minha vida, tem uma isca
fundamental muito forte envolvendo a gente, que o reggae.
Nengo Vieira, entrevista em 10/08/2007
No podemos deixar de pensar na histria que o reggae trilhou, inicialmente dentro de uma perspectiva religiosa, e de como esta msica
ajudou a disseminar uma prtica religiosa, o rastafarianismo. Nas letras
de artistas como Bob Marley e Peter Tosh, a Bblia foi usada para formular o pensamento contra-hegemnico, propagado pelos quatro cantos do
mundo, na melodia de suas msicas. Adeptos do rastafarianismo, essncia do gnero poltico-musical em questo, tornaram o livro do colonizador branco em uma espcie de teologia da libertao, onde Deus
negro e a sua ltima encarnao na Terra seria o imperador da Etipia,
Haille Selassi. Baseando-se neste discurso, os adeptos do Ras Tafari propem a destruio do sistema de Babilnia e o retorno para a frica,
refazendo o xodo bblico dentro de uma perspectiva tnica. Segundo a
pesquisadora Olvia Cunha:
O que chamamos rastafarianismo constitui um amplo conjunto de prticas
e ideias, que comearam a se esboar em movimentos poltico-religiosos e,
sobretudo, tnicos, na Jamaica desde o sculo XIX. Tais movimentos, intimamente relacionados com a luta contra a opresso da estrutura escravista
britnica, tinham vnculos com associaes religiosas, organizaes e igrejas
do sul dos Estados Unidos e do Caribe que, a partir de uma interpretao
tnica da Bblia, comearam a fazer junto aos negros jamaicanos pregaes
nas quais o paraso e a Terra Prometida se localizavam na Etipia/frica.
Tal territorializao do mito bblico permitiu uma ruptura radical com toda
uma ideologia colonial e protestante que durante sculos justificou a escravido apoiada em interpretaes religiosas (CUNHA, 2003, p. 122).
128 l Brbara Falcn
Desde a dcada de 70, algumas prticas do rastafarianismo como regras de alimentao e indumentria (incluindo os dreadlocks), bem como
a utilizao da ganja como uma erva sagrada ficaram conhecidas em
todo o mundo, atravs das msicas e do comportamento de astros jamaicanos difundidos pela cultura de massa. Na Bahia, bem como em outros lugares do pas, essas informaes e prticas chegaram de diferentes
maneiras e foram ganhando um novo sentido, possibilitando juventude
negra, novas experincias identitrias que resultaram em verses filiais
de uma cultura de matriz jamaicana (ib. idem, 2003, p. 122). No caso
desta pesquisa, estamos tratando da verso de um grupo de artistas da
cidade de Cachoeira, onde a msica foi o principal elemento de identificao entre duas culturas, possibilitando que jovens com diferentes estilos de
vida e vises de mundo, pudessem us-la na elaborao dos seus prprios
discursos. Nas palavras do msico Nengo Vieira:
Ns sempre fomos afeioados pelo reggae, nos identificvamos com a embalagem [grifo nosso] do reggae, com os cabelos, de fumar, de tocar a msica,
mas nunca nos identificamos com o contedo espiritual do reggae, ou seja,
com o rastafarianismo. Ento a gente abraou o evangelho, a causa do evangelho, de uma forma muito profunda e intensa. A passamos a compor msicas
com a proposta de falar do amor de Jesus para as pessoas. Ento isso tudo era
enriquecedor e a gente tinha uma proposta muito grande, foi quando entrou
a proposta de falar do amor de Deus, n? Da Bblia, que o nosso alvo, nossa
bssola. Ns tivemos o privilgio de conhecer a palavra de Deus e a palavra de
Deus foi semeada no nosso meio de uma forma inusitada. Ns fumvamos,
fumvamos, fumvamos e atravs do Edson, que primeiramente passou pra o
Tin Tim, depois Tin Tim foi morar no 53, no Alto das Pombas, e ele passou a
ser o nosso evangelista. Comeou a me evangelizar, a evangelizar Marquinho,
evangelizar Sine. Fumvamos pra ler a Bblia e a Bblia ali comeou a encontrar espao no nosso corao (Nengo Vieira, entrevista em 10/08/2007).
Assim, o reggae feito por estes indivduos foi sendo destitudo da mensagem rasta, que foi substituda por um componente cristo-messinico.
O cantor Edson Gomes revelou em entrevista como se deu o seu primeiro
contato com a Bblia e de que maneira o Evangelho foi sendo pregado no
meio dos rastas cachoeiranos:
cias da Bblia apontam para Jesus Cristo e no outra pessoa. Jesus veio para
salvar a todos independente de raa, credo ou cor... Salvar o mundo (Nengo
Vieira, entrevista revista Ritmo Melodia em 02/11/2007).
A anlise dos discursos feita at aqui, seja atravs das letras das msicas ou das falas das entrevistas, aponta para o uso (em diferentes escalas)
do trinmio etnicidade/poltica/religiosidade, numa alternncia que, de
certa forma, vem garantindo a propagao/perpetuao das mensagens
pretendidas, tendo o gnero em questo como principal fio condutor. No
caso do reggae de Cachoeira, temos o componente religioso como ponto
em comum entre os artistas pesquisados, visto que em toda a discografia
analisada, falar de Deus praticamente uma constante. De uma forma
geral, a questo racial aparece nas letras desses artistas, contudo, h uma
prevalncia do chamado religioso, tanto na voz de congregados quanto
de desligados de denominaoes religiosas, como o caso de Edson
Gomes, que apesar de no fazer parte de congregao alguma, atribui o
dom musical e todo o seu ganho material ao seu lder espiritual Jesus
Cristo. Segundo ele, as mensagens transmitidas atravs de suas canes
chegam a contribuir para a converso dos seus fs:
No meu trabalho eu sempre abordo, porque o meu lder espiritual, Jesus o meu lder espiritual, ento eu credito a ele a minha
existncia, eu credito a ele a minha proteo, essa condio que eu
tenho hoje, de vir do nada, de no ter uma especializao, de no
ter concludo meus estudos e consegui sobreviver atravs desse dom
musical. Ento, eu credito tudo a isso a Jesus Cristo, a Deus, porque
depois que eu passei a me relacionar com a palavra de Deus, ainda
que eu no seja congregado, no pertena a nenhuma congregao,
mas eu sinto que a partir desse momento houve um crescimento muito
grande em minha pessoa e continua. Toca pessoas que j conhecem
a palavra e que esto desligadas das congregaes, toca pessoas que
no tm ainda conhecimento. Tm pessoas que j se converteram ao
Evangelho por ouvir minha msica. Pessoas que usavam drogas, que
estavam metidos na droga, por ouvir essas canes deixaram. Eu fui
outro dia no Pelourinho, veio uma mulher atrs de mim correndo e
disse que vivia nas drogas e que ouvindo minhas msicas ela sentiu
Eu sei que os negros tm a sua luta, que natural, de espao, e eu acho isso
horrvel, porque o Brasil um pas miscigenado e voc v o negro totalmente
discriminado. Isso uma realidade. O negro tem que lutar pelo espao dele?
Tem, mas no tem que lutar com essa coisa do apartheid, contra o branco,
porque vai virar o contrrio, a mesma coisa. Voc tem que lutar pelo seu espao pelo seu mrito, pelo valor que voc tem. Ento, voc tem que pegar o
seu histrico, que um histrico de atropelo, de tudo contra voc e reverter
isso. Mostrar que tem qualidade, que voc tem talento, que voc inteligente,
que voc tem capacidade, que voc forte, que voc bonito, que voc tem
o seu potencial. Tem que mostrar isso, na sua prtica, na sua vida e com uma
palavra, amor, perdo. Tem que combater o mal com o bem, porque tapa
de luva. O inimigo no tem mais fora sobre sua vida. Porque o inimigo foge
diante do amor de Deus (Nengo Vieira, entrevista em 10/08/2007).
Podemos falar da releitura da Bblia a partir de uma perspectiva negroescrava. Mas logo procedimentos de extrao africana vieram luz. No
canto, na dana, no transe. Nas palmas, na cadncia marcada com os
ps, nos movimentos corporais. Na veemncia expressiva do culto. Na
exaltao para lembrar a palavra cara a Du Bois. A hinologia evanglica
foi reinventada. O salmo protestante branco se transfigurou no spiritual.
A forma responsorial e reiterativa se imps. Os negros inundaram, com os
dons de seus sons, as casas de orao (RISRIO, 2007, p. 142).
O gospel esteve confinado nas igrejas por muito tempo, mas no incio dos anos 1980, as orquestras ditas crists, ajudaram a expandir as
igrejas independentes. Pouco a pouco, o gospel se afirmou como msica
popular ao lado da msica profana, se adaptando s exigncias comerciais num mundo onde o rdio se transformou em importante ferramenta
de difuso. Esta passagem foi igualmente facilitada pelo fato de que os
afro-americanos, seguindo os africanos, nunca separaram o espiritual do
temporal. Prova disto que cantos de trabalho (labor songs) e de festas
tradicionais sempre se misturaram e se nutriram mutuamente.
Para Magali Cunha, a msica gospel msica de consumo, produto industrial, de qualidade meldica e potica passvel de crticas, pois
visa sastifao das demandas do mercado fonogrfico, mas tambm
consitui um alvio das tenses do cotidiano dos evanglicos. Alm disso,
pronuncia um discurso que tem embutidos traos componentes da matriz
religiosa brasileira, o que lhe permite extensas possibilidades de uma resposta positiva (CUNHA, 2007, pp. 199-200). Hoje, o gospel cantado
tanto em lugares de culto quanto no palco. Durante o perodo da minha
pesquisa, pude observar a performance do msico Nengo Vieira nos dois
ambientes, no sagrado e no profano, no espao do culto e em shows,
em eventos evanglicos e tambm seculares. Segue abaixo um trecho da
anotao de caderneta de campo, feita durante observao no culto de
domingo na Bola de Neve Church do Guaruj/SP:
O culto hoje se inicia s 19h30min, pontualmente. A noite est fria e
chove, mesmo assim a igreja est relativamente cheia. O lder da igreja,
Pastor Eric, que acaba de chegar de So Paulo, onde esteve no Congresso
de Batalha Espiritual, ministra o culto essa noite. Casado com a pastora
134 l Brbara Falcn
Suzana, com quem tem duas filhas, aparenta estar na faixa dos trinta
anos. De volta igreja, tambm o dicono Nengo Vieira, que comanda
a banda que est no altar, formada pelos mesmos integrantes do culto de
quinta-feira [um deles seu enteado Felipe, que toca bateria]. Como j
observado em outras ocasies, a msica assume um papel fundamental
no culto, tendo reservado um espao de pouco mais de uma hora. Dentre
os cnticos entoados, o reggae Caia Babilnia, que fala de algo como
destruir a Babilnia dentro de ns mesmos; e outra vez, Paraso [verso
de Nengo Vieira para Pimpers Paradise de Bob Marley, tambm tocada
no culto da quinta (Caderneta de Campo, Guaruj/SP, 05/08/2007).
Em confluncia com o que foi dito por Vitor Hugo, temos um trecho
do depoimento de Geraldo Cristal, que lana mo de uma metfora bblica para tentar traduzir os elementos que compem sua msica:
Ento, reggae unidade, reggae transformao de comportamento,
renovao de sentimento, a luta pela libertao do povo africano e consequentemente de todos os povos que vieram da frica, porque o homem
branco tambm veio da frica e ns somos todos descendentes de No.
No teve dois filhos, Cam e Jaf, e o povo de Jaf o povo hoje, os caucasianos, pra no dizer brancos, porque disseram que so brancos apenas
pra afirmar superioridade, porque branco tudo que limpo, tudo que
puro, e negro tudo que ruim. Ento, nos chamaram de negros e disseram que eram brancos e hoje em dia t essa separao. E hoje o reggae
vem desmistificar essas coisas, entre ns mesmo no conseguimos resolver essas questes, porque a mentalidade colonial, a mentalidade dia-
O msico Joo Teoria, ex-Remanescentes e que tambm j foi evanglico, atualmente atua em trabalhos com forte influncia do candombl,
tanto como msico de Carlinhos Brown quanto como membro da orquestra baiana Rumpilezz, que traz no prprio nome uma referncia aos
tambores que conduzem ao transe nos terreiros. Mais uma vez, temos a
msica como o principal elemento de articulao entre estilos de vida
diferentes, onde suas representaes expressam elementos de diferentes
vises de mundo, modos de viver e pensar; passando por concepes
polticas, tnicas e religiosas (CUNHA, 2003, p. 121).
No caso em estudo, temos ainda a msica como elemento aglutinador de diferentes tradies, permeada de informaes que nem sempre
so percebidas ou sentidas, mas que, de uma forma ou de outra, refletem o desejo inconsciente de determinadas formas de expresso. O
processo das recentes transformaes no campo religioso serviu como
pano de fundo para a insero do gnero reggae, que assume uma nova
configurao, no apenas como movimento musical, mas tambm como
um novo modo de vida religioso. Em suma, o etipiopianismo militante
(GILROY, 2007, p. 160) dos rastas jamaicanos foi refeito no reggae de
Cachoeira, que foi sendo concebido dentro de um sistema de pensamento messinico-cristo, tornanado-o diferente do reggae feito em Salvador
e em outros lugares do Brasil.
NOTAS
33
Ver algumas letras do albm no Anexo II, identificadas com os nmeros 48, 61, 85, 89, 122, 136 e 137.
36
38 e 39
40
41, 42 e 43
Por conta da repercusso do caso, Sine Calmon chegou e ser entrevistado no programa de J Soares, transmitido em todo o territrio nacional
pela emissora de televiso Rede Globo.
45
Segundo o site A Tarde On Line, Sine Calmon foi o vencedor do Trofu Dod e Osmar, na categoria Msica mais Executada, numa escolha da audincia. Ver no Anexo II a letra identificada com o nmero 44.
46
47
49
No Anexo II, ver as letras identificadas com os nmeros 126, 150 e 153.
50
Para ter uma amostra dos temas tratados, ver no Anexo II as letras
de Origens, Pelo Amor de Deus e Zenaide, identificadas com os
nmeros 83, 85 e 86.
51
54
55
56
57
58
No Anexo II, ver letras identificadas com os nmeros 124, 127, 128 e 129.
60
CONSIDERAES FINAIS
Se canto reggae/
Que nos deixa leve/
Pra suportar toda situao
Pelo Amor de Deus, Nengo Vieira
A produo intelectual em torno do debate sobre msica e identidade na Bahia vem se tornando considervel nos ltimos anos. Dos
tempos da minha graduao, em 2001, para c, j se passou mais
de uma dcada e muito coisa mudou. Lembro-me quo alentador
foi receber em mos livros como Carnaval Ijex (1981), de Antonio
Risrio e Ritmos em Trnsito: Scio-Antropologia da Msica Baiana, organizado pelos pesquisadores Joclio Teles dos Santos e Livio
Sansone (1997). A partir destas leituras tive a certeza de que poderia
me enveredar naquele caminho como pesquisadora e contribuir de
alguma forma para que outras pessoas seguissem nesta trilha.
O estudo aqui apresentado uma tentativa de compreender discursos contidos no repertrio de um grupo de msicos que foi fundamental para a instaurao, circulao e renovao do reggae no
estado da Bahia e, consequentemente, no Brasil. A pretenso deste
trabalho foi, justamente, de chamar ateno para a importncia da
obra destes indivduos, enquanto objeto de estudo, reunindo material que poder servir de estmulo para que outros pesquisadores lancem novas abordagens sobre o reggae cachoeirano. Sob as
lentes das Cincias Humanas, o tema ainda merece uma anlise
aprofundada sobre diferentes aspectos estticos, tnicos, polticos e
religiosos.
A pesquisa que ora apresento traz um panorama geral do cenrio regueiro de Cachoeira, focado nas entrevistas realizadas e nas composies
de um grupo de artistas. Os discursos contidos nas letras e as melodias
produzidas a partir do referencial do reggae e sua linguagem potico-poltica atestam que atravs da conexo musical estabelecida com o universo
jamaicano, msicos cachoeiranos constituram diferentes vises de mundo,
que possibilitaram tambm estratgias de sobrevivncia. O contedo de
suas obras revela processos de afirmao de identidades, onde a msica
se destaca pela importncia na intermediao das relaes tnico-sociais,
e que, justamente por isto, encontra eco na juventude negra.
A pluralidade desses discursos denota conexes entre tradies locais e
influncias globais que chegam a desafiar nossa compreenso, principalmente
se forem examinadas dentro de uma interpretao exclusivamente religiosa.
J na primeira audio dos discos estudados revela-se a existncia de uma
relao intrseca entre a experincia religiosa dos msicos e suas composies.
importante frisar que esta pesquisa no pretendeu analisar tal relao, que
por si s mereceria um estudo detalhado. O texto de Cunha (1993) sobre
rastas, reggae e pentecostais em Salvador uma fonte referencial para quem
pretende faz-lo. Outra boa fonte, a tese de Danilo Rabelo (2006), traz uma excelente abordagem sobre a cultura Rastafri e suas relaes com a sociedade
jamaicana, sem deixar de abordar o papel do reggae nesta cultura.
A anlise da produo cultural em torno dos artistas pesquisados pode
contribuir tambm com os estudos de identidade na dispora, lanando uma
luz sob o funcionamento de circuitos complexos, que possibilitaram a transformao de determinados padres atravs de uma rede que liga pontos em
comum, em diferentes partes do planeta. Com o reggae, um gnero transnacional, estes indivduos puderam experimentar laos de solidariedade e identificao com uma cultura distante, mas ao mesmo tempo prxima, numa viagem com escalas conflitantes entre similaridades e subjetividades. No caso
em estudo, a msica foi o elemento aglutinador e veculo de comunicao que
possibilitou uma produo alternativa de conhecimento e a insero de seus
produtos culturais em uma sociedade, muitas vezes, segregacionista.
Stuart Hall apresenta um ponto de vista esclarecedor sobre essa dinmica de transformao da cultura e seu impacto quando para o uso
142 l Brbara Falcn
REFERNCIAS
BIBLIOGRFICAS
ALMEIDA, Armando. A Contracultura e a Reafricanizao Recente na Bahia. Salvador: Mimeografado, s. d.
BACELAR, Jeferson. Etnicidade: Ser Negro em Salvador. Salvador: Ianam, 1989.
________. Impacto no Corao do Racismo. Jornal A Tarde, Salvador,
08/05/1999.
________ & CAROSO, Carlos (orgs.). Brasil: Um Pas de Negros? Rio de Janeiro:
Pallas; Salvador: CEAO, 1999.
BAUMAN, Zigmunt. Identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2005.
BARROW, Steven. The History of Jamaican Music. London: Mango, 1993.
BERND, Zil. O que Negritude. So Paulo, Editora Brasiliense, 1989.
BHABHA, Homi. O Local da Cultura. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 1998.
BLACKWELL, Chris. Preface. In: The History of Jamaican Music. London:
Mango, 1993.
BRAGA, Julia & CARVALHO, Caroline. A Msica Tropical tem Incio no Ano que
no Acabou. In: Revista Ecltica. N 26. Rio de Janeiro: PUC, Jan/ Jun 2008.
BRIGHAM, Ciro. Canto Sagrado. Correio da Bahia, Salvador, 26/03/2006.
CARVALHO, Jos Jorge de. The Multiplicity of Black Identities in Brazilian Popular Music. Srie Antropologia. N 163. Braslia: UNB, 1994b.
________. O Quilombo do Rio das Rs: Histrias, Tradies, Lutas. Salvador: EDUFBA, 1995.
________. Transformaes da Sensibilidade Musical Contempornea. Srie
Antropologia. N 266. Braslia: UNB, 1999.
________. Um Panorama da Msica Afro-Brasileira. Dos Gneros Tradicionais
aos Primrdios do Samba. Srie Antropologia. Braslia: UNB, 2000.
CHANG, Kevin O Brien & CHEN, Wayne. Reggae Routes: The History of
Jamaican Music. Philadelphia Temple University Press, 1998.
CUNHA, Magali do Nascimento. A Exploso Gospel. Um olhar das Cincias Humanas sobre o Cenrio Evanglico no Brasil. So Paulo: Editora Mauad/
Instituto MYSTERIUM, 2007.
CUNHA, Olivia Gomes da. Fazendo a Coisa Certa: Rastas, Reggae e Pentecostais em Salvador. Revista Brasileira de Cincias Sociais. N 23. So Paulo:
out. 1993, pp. 120-137.
DEBRET, Jean-Baptiste. Viagem Pitoresca e Histrica ao Brasil. Belo Horizonte:
Itatiaia/ So Paulo: EDUSP, 1978.
FALCN, Gustavo. Um Guia para o Conhecimento. In: ROCHA, Ndia Maria
O REGGAE DE CACHOEIRA - PRODUO MUSICAL EM UM PORTO ATLNTICO l 145
HOBSBAWN, Eric J. A Inveno das Tradies. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984.
_________. Histria Social do Jazz. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990,4 edio.
HUSS, Hasse. The Zink Fence Thing: When will Reggae Album Covers be
allowed out of the Ghetto?. Black Music Research Journal, 1998.
JACON, Adriana. Matriarca do Samba. Correio da Bahia. Caderno Reprter.
Salvador, 03/12/2006.
JOHNSON, Linton Kwesi. Introduction. In: The History of Jamaican Music.
London: Mango, 1993.
LHNING, Angela. Msica: O Corao do Candombl. Revista USP. N 7.
So Paulo: USP, 1990, pp. 97-117.
_________. Msica no Candombl da Bahia: Cnticos para Danar. Curitiba:
Anais do IV Simpsio de Musicologia Latino-America, 2000.
LYRIO, Alexandre. Black in Bahia. Corrreio da Bahia. Salvador, 29/05/2007.
MARQUES, Francisca. Educao Comunitria como Prtica de Etnomusicologia
Aplicada: Reflexes sobre uma Experincia no Recncavo Baiano. Revista
USP. N 78. So Paulo: USP, junho/julho/agosto/2008, pp. 130-138.
MATORY, J. Lorand. Jeje: Repensando Naes e Transnacionalismo. In: Revista
Mana 5 (1). Rio de Janeiro: Museu Nacional, UFRJ, 1999, pp. 57-80.
MELUCCI, Albert. The Post-modern Revival of Ethinicity. In: HUTCHINSON, J. &
SMITH, A. D. Ethnicity. Oxford: Oxford University Press, 1996, pp. 367-370.
MOTA, Fabrcio dos Santos. Guerreir@s do Terceiro Mundo: Identidades Negras
na Msica Reggae da Bahia (anos 80/90). Dissertao de Mestrado. Salvador: FFCH/ CEAO/ UFBA, 2008.
MOURA, Roberto. Tia Ciata e a Pequena frica no Rio de Janeiro. 2 Edio.
Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, Dep. Geral de Doc. e Inf.
Cultural, Diviso de Editorao, 1995.
NASCIMENTO, Luiz Cludio Dias do. A Capela dAjuda j deu Sinal: Relaes de
Poder e Religiosidade em Cachoeira. Salvador: UFBA/ CEAO, 1995.
_________. Presena do Candombl na Irmandade da Boa Morte - Uma Investigao Etnogrfica Sobre Ritos Morturios e Religiosidade Afro-Baiana. Mimeografado, 2002.
PARS, Luis Nicolau. A Formao do Candombl: Histria e Ritual da Nao Jeje
na Bahia. So Paulo: Editora Unicamp, 2006.
PATTERSON, Orlando. Global Culture and the American Cosmos. In: The
Andy Warhol Foundation for the Visual Arts: Paper Series on the Arts,
Culture and Society. Paper Number 2, 1994.
PINTO, Tiago de Oliveira de. As Cores do Som. Estruturas Sonoras e Concepo Esttica na Msica Afro-brasileira. Revista frica. N 22-23. So
Paulo: USP, 1999, pp. 87-110.
RABELO, Danilo. Rastafari: Identidade e Hibridismo Cultural na Jamaica (19301981). Tese de Doutorado. Braslia: UNB, 2006.
REIS, Joo Jos. Rebelio Escrava no Brasil: A Histria do Levante dos Mals.
So Paulo: Brasiliense, 1986.
_________. Recncavo Rebelde: Revoltas Escravas nos Engenhos Baianos. Revista Afro-sia. N 15. Salvador: UFBA/ CEAO, 1990, pp. 100-126.
_________. Identidade e Diversidade tnicas nas Irmandades Negras no Tempo da
Escravido. Revista Tempo. Vol. 2. N 03. Rio de Janeiro: 1996, pp. 7-33.
REIS, Joo Jos & SILVA, Eduardo. Negociao e Conflito: A Resistncia Negra
no Brasil Escravista. So Paulo: Companhia das Letras, 2005.
REVISTA VEJA. 22/01/1997, p. 32.
RISRIO, Antonio. Carnaval Ijex. Salvador: Corrupio, 1981.
_________. A Utopia Brasileira e Os Movimentos Negros. So Paulo: Editora 43,
2007.
ROCHA, Ndia Maria Dourado. Cachoeira e Cachoeiranos: Uma Bibliografia.
Cachoeira: Centro Cultural Joo Antonio Santana, 2001.
SANDRONI, Carlos. Feitio Decente: Transformaes do Samba no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar/UFRJ, 2001.
_________ (org.). Samba de Roda do Recncavo Baiano. Braslia: IPHAN, 2006.
SANSONE, Livio. Funk Baiano: Uma Verso Local de um Fenmeno Global? In:
SANSONE, Livio & SANTOS, Joclio Teles dos (orgs.). Ritmos em Trnsito:
Scio-Antropologia da Msica Baiana. So Paulo: Dynamis Editora, 1997.
_________. Negritude Sem Etnicidade. O Local e o Global nas Relaes Raciais
e na Produo Cultural Negra do Brasil. Rio de Janeiro/ Salvador: Pallas/
EDUFBA, 2004.
_________. Os Objetos da Identidade Negra: Consumo, Mercantilizao, Globalizao e a Criao de Culturas Negras no Brasil. Revista Mana. Vol. 6.
N 01. Rio de Janeiro: UFRJ, 2000.
SANTOS, Joclio Teles dos. Divertimentos Estrondosos: Batuques e Sambas no
Sculo XIX. In: SANSONE, Livio & SANTOS, Joclio Teles dos (orgs.).
Ritmos em Trnsito: Scio-Antropologia da Msica Baiana. So Paulo:
Dynamis Editora, 1997.
SANTOS, Milton. Ser Negro no Brasil Hoje. Folha de So Paulo. Caderno
Mais! 07/05/2000.
SANTOS FILHO, Juvino Alves. Manuel Tranquillino Bastos: Estudo de Duas
Obras para Clarineta. Tese de Doutorado. Salvador: Programa de PsGraduao em Msica da Universidade Federal da Bahia, 2003.
DIGITAIS
A TARDE ON LINE
Trofu Dod e Osmar. Disponvel em: http://info.atarde.com.br/trofeudodoeosmar/index.swf.
BANCO DE DADOS DA FOLHA DE SO PAULO
www1.folha.uol.com.br/folha/bd
BLANCO, Pablo Sotuyo. Joo Manoel Dantas: Pesquisa Biogrfica e Musical.
So Paulo: Anais do XVII Congresso da Anppom, UNESP, 2007. Disponvel em:
http://www.anppom.com.br/anais/anaiscongresso_anppom_2007/musicologia/
musicol_PSBlanco.pdf.
CONEXO JAMAICA
Y&M entrevista The Skatalites e te mostra trecho do pocket show em primeira mo.
Disponvel em: http://mtv.uol.com.br/jamaica/blog/yampm-entrevista-skatalites-ete-mostra-o-pocket-show-na-integra-em-primeira-m%C3%A3o.
O REGGAE DE CACHOEIRA - PRODUO MUSICAL EM UM PORTO ATLNTICO l 149
CHRISTAFARI
www.christafari.com
ENCYCLOPEDIA OF MUSIC IN CANADA
Verbete: Jackie Mittoo. Disponvel em: <http://www.canadianencyclopedia.ca>.
FALCN, Gustavo. Boa Morte, uma Irmandade de Exaltao Vida! Aiy Orun.
Disponvel em: http://www.geocities.com/wellesley/4328/historico.htm.
GILBERTO GIL
www.gilbertogil.com.br
IGREJA BOLA DE NEVE
www.boladeneve.com
IL AIY
www.ileaiye.com.br
LAZZO MATUMBI
www.lazzo.com.br
MARQUES, Francisca. Identidade, sincretismo e msica na religiosidade brasileira. Disponvel em: http://www.naya.org.ar/congresso2002/ponencias/francisca_marques.htm.
MINISTRIO DAS RELAES EXTERIORES
Dados Bsicos e Principais Indicadores Econmicos-Comerciais da Jamaica.
Brasil, 2007. Disponvel em: http://www.braziltradenet.gov.br/IndicadoresEconomicos/INDJamaica.pdf.
MYSPACE
www.myspace.com/bandaqgimperial
www.myspace.com/buguinhadub
www.myspace.com/carlinhosbrown
www.myspace.com/dubstereosound
www.myspace.com/echosoundsystem
www.myspace.com/edsongomesofficial
www.myspace.com/interferenciasistemadesom
www.myspace.com/nengovieiraetribodabraao
www.myspace.com/madprofessor
www.myspace.com/ministereopublico
www.myspace.com/rumpilezz
www.myspace.com/ziontrain
PHILIP TAGG
www.tagg.org
PINHO, Osmundo. Etnografias do Brau: Corpo, Masculinidade e Raa na
Reafricanizao em Salvador. Estudos Feministas. Florianpolis, v. 1, Selected Edition 2006 . Available from <http://socialsciences.scielo.org/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0104026X2006000100001&lng=en&nrm=is
o>. Access on 02 June 2012.
DISCOGRFICAS
1. Reggae de Cachoeira
BROWN, Eddie. Eddie Brown. Paradoxx Music, 1998.
CALMON, Sine. Fogo na Babilnia. Atrao Fonogrfica, 1997.
CALMON, Sine. Rosa de Saron. Atrao Fonogrfica, 1999.
CALMON, Sine. Eu Vejo. Atrao Fonogrfica, 2001.
CALMON, Sine. Guerreiro Mor. Kaskatas, 2006.
CRISTAL, Geraldo. Reggaessncia. Independente, 2007.
GOMES, Edson. Reggae Resistncia. EMI Odeon, 1988.
GOMES, Edson. Recncavo. EMI Odeon, 1990.
GOMES, Edson. Campo de Batalha. EMI Odeon, 1991.
GOMES, Edson. Meus Momentos 1. EMI Odeon, 1994.
GOMES, Edson. Meus Momentos 2. EMI Odeon, 1994.
GOMES, Edson. Resgate Fatal. EMI Odeon, 1995.
GOMES, Edson. Apocalipse. EMI, 1998.
GOMES, Edson. Srie Bis (Coletnea/ Duplo). EMI, 1999.
GOMES, Edson. Preferncia Nacional (Coletnea). Copacabana, 1998.
GOMES, Edson. Para Sempre (Coletnea). EMI, 2001.
GOMES, Edson. Acorde, Levante, Lute. Atrao Fonogrfica, 2001.
GOMES, Edson. Srie Identidade (Coletnea). EMI, 2002.
GOMES, Edson. Samarina (Coletnea). EMI, 2003.
GOMES, Edson. Ao Vivo em Salvador (Duplo). Atrao Fonogrfica, 2006.
GOMES, Isaque. Negro Real. Independente, 2009.
GOMES, Tin Tim. Pedra sobre Pedras. Independente, 1999.
GOMES, Tin Tim. O Poo. Independente, 2008.
OLIVEIRA, Marco Oliveira. Dystoro. Independente, 2006.
REMANESCENTE. Semente do Amor. WR, 1993 (indito).
VIEIRA, Nengo. Somos Libertos. Atrao Fonogrfica, 1998.
VIDEOGRFICAS
1. Reggae de Cachoeira
ENTREVISTAS
1. Nengo Vieira. Entrevista concedida no Guaruj-SP, 10/jul/2007.
2. Wesley Rangel. Entrevista concedida em Salvador-BA, 07/jul/2007.
3. Marco Oliveira. Entrevista concedida em Salvador-BA, 22/nov/2007.
4. Geraldo Cristal. Entrevista concedida em Salvador-BA, 28/nov/2007.
5. Tin Tim Gomes. Entrevista concedida em So Flix-BA, 07/jun/2008.
6. Edson Gomes. Entrevista concedida em So Flix-BA, 10/jun/2008.
7. Vitor Hugo. Entrevista concedida em Salvador-BA, 10/abr/2007.
8. Srgio Cassiano. Entrevista concedida em Salvador-BA, 2002.
Outras Fontes
1. Bob Marley. Jornal do Brasil, 21/mar/1980.
2. Dom Fil. Correio da Bahia, 29/mai/2007.
3. Edson Gomes. Musical On-Line, 2006.
4. Gilberto Gil. Correio da Bahia, 26/mar/2006.
5. Lzaro Silva. Site Bola de Neve, 12/agos/2008.
6. Luiz Cludio Dias do Nascimento. Jornalismo Impresso, 24/agos/2008.
7. Nelson Triunfo. Correio da Bahia, 29/mai/2007.
8. Nengo Vieira. Ritmo Melodia, 02/nov/2007.
9. Raimundo Coutinho. Correio da Bahia, 29/mai/2007.
10. Vov do Il. Site Ibahia, 18/mar/2009.
11. Walter Fraga. A Tarde, 13/mai/2009.
ANEXO I
CRONOLOGIA DO REGGAE
CACHOEIRANO
1982
STUDIO 5
1. FORMAO: Nengo Vieira (vocal/guitarra), Ruy de Brito (guitarra), Jair Soares
(bateria), Tinho Santana (contrabaixo).
DISCOS GRAVADOS: Viver Amar e
Sentir (LAZZO, 1983).
2. FORMAO: Nengo Vieira (vocal/guitarra), Ruy de Brito (guitarra), Jair Soares
(bateria), Alberto (contrabaixo).
3. FORMAO: Nengo Vieira (vocal/guitarra), Marco Oliveira (contrabaixo), Jair
Soares (bateria), Sine Calmon (guitarra),
Tin Tim Gomes (vocal), Valria Leite
(vocal).
1988
EDSON GOMES &
CO DE RAA
1. FORMAO: Nengo Vieira (guitarra),
Ruy de Brito (guitarra), Jair Soares
(bateria), Alberto (contrabaixo), Tin Tim
Gomes (vocal) e Amrica Branco (vocal).
Discos Gravados: Reggae Resistncia
(EDSON GOMES, 1988).
2. FORMAO: Nengo Vieira (guitarra),
Marco Oliveira (contrabaixo), Jair Soares
e Joo Teoria (bateria), Sine Calmon
(guitarra), Tin Tim Gomes (vocal).
DISCOS GRAVADOS: Recncavo
(EDSON GOMES, 1990) e Campo de
Batalha (EDSON GOMES, 1991).
OUTRAS FORMAES
DISCOS GRAVADOS: Resgate Fatal
(EDSON GOMES, 1995), Apocalipse
(EDSON GOMES, 1998), Acorde,
Levante, Lute (EDSON GOMES, 2001),
Ao Vivo (EDSON GOMES, 2006).
1989
REMANESCENTES
1. FORMAO: Nengo Vieira (vocal/
guitarra), Marco Oliveira (vocal/contrabaixo), Quinho (bateria), Sine Calmon
(vocal/guitarra), Tin Tim Gomes (vocal),
Valria Leite (vocal), Wilson Toror (percusso) e Joo Teoria (trompete).
DISCOS GRAVADOS: Semente do Amor
(REMANESCENTES, 1994).
2. FORMAO: Nengo Vieira (vocal/
guitarra), Vitor Hugo (guitarra), Csar
Napole (contrabaixo), Felipe Moreno (bateria), Tintim Gomes (vocal), Valria Leite
(vocal) e Joo Teoria (trompete).
1994
SO JAH
FORMAO: Sine Calmon (vocal/guitarra), Marco Oliveira (vocal/contrabaixo), Quinho (bateria) e Wilson Toror
(percusso).
1995
SINE CALMON & MORRO
FUMEGANTE
1. FORMAO: Sine Calmon (vocal/
guitarra), Vitor Hugo (contrabaixo), Raimundo Athade (bateria), Srgio Cassiano
(guitarra), Wilson Toror (percusso) e
Cristiane Calmon (vocal).
2. FORMAO: Sine Calmon (vocal/
guitarra), Vitor Hugo (contrabaixo),
Raimundo Athade (bateria), Kennedy
(guitarra), Artur Cardoso (teclados) e
Samurai (percusso).
1996
TIN TIM GOMES & MANASSS
1996
DYSTORO
1. FORMAO: Marco Oliveira (vocal/
contrabaixo), Ricardo Reina (vocal/guitarra), Eloy (guitarra) e Edna Oliveira (vocal/
teclado).
2. FORMAO: Marco Oliveira (vocal/
contrabaixo), Eloy (guitarra) e Edna
Oliveira (vocal/teclado).
1996
NENGO VIEIRA & TRIBO
DABRAO
1. FORMAO: Nengo Vieira (vocal/guitarra), Josivaldo (guitarra), Csar Napole
(contrabaixo), Felipe Moreno (bateria),
O REGGAE DE CACHOEIRA - PRODUO MUSICAL EM UM PORTO ATLNTICO l 155
ANEXO II
1988
EDSON GOMES
REGGAE RESISTNCIA // VINIL // FITA
K7 // CD // EMI
ANTOLOGIA DO REGGAE
DE CACHOEIRA
1 Viu
(Edson Gomes)
O Anexo II traz uma antologia das composies gravadas pelos artistas cachoeiranos,
em ordem cronolgica, listadas pela autoria, nome do lbum, indicao dos meios
em que foram lanados e da gravadora
(ou se foi lanado de forma independente,
como o caso de alguns deles). As msicas
contidas neste anexo foram classificadas em
ordem crescente e identificadas no texto da
dissertao com a mesma numerao. Segue abaixo um ndice para facilitar a localizao das composies por discos.
RECNCAVO 156
CAMPO DE BATALHA 157
RESGATE FATAL 159
FOGO NA BABILNIA 162
APOCALIPSE 164
SOMOS LIBERTOS 166
ROSA DE SARON 169
PEDRA SOBRE PEDRAS 171
EU VEJO 173
ACORDE. LEVANTE, LUTE 174
MATA ATLNTICA 180
CHAMA 182
GUERREIRO MOR 185
AVIVAMENTE 185
REGGAESSNCIA 187
2 Rastafary
(Edson Gomes)
Reggae msica/ Reggae som, beleza
pura/ Rastafary/ Reggae som, Bob
Marley
3 Samarina
(Edson Gomes)
Voc j pensou / Em minha situao?/
Imagine s como deve estar meu corao/
Por que no vem? / Diga logo, meu bem/
E se no vem/ Olha, no vou conseguir ser
nigum/ E a ento/ S vai me restar a solido/ E a ento/ Vai ficar to triste, o meu
corao/ E a ento/ Eu te peo, ah, no
me deixe nessa solido/ No me deixe,
no/ somente teu, meu corao/ Samarina/ Samarina linda, meu amor/ Samarina/
Onde quer que voc v, eu vou
4 Sistema do Vampiro
(Edson Gomes)
Esse sistema um vampiro/ Ah! O sistema
um vampiro/ Esse sistema um vampiro/
Todo povo ficou aflito/ Vive sugando todo
povo/ Vem c, meu Deus, desa de novo/
Oua meu grito de socorro/ Pai, escuta a
voz desse teu povo/ Que clama, um cente-
8 Histria do Brasil
(Edson Gomes)
Eu vou contar pra vocs/ Certa histria do
Brasil/ Foi quando Cabral descobriu/ Este
pas tropical/ Um certo povo surgiu/ Vindo
de um certo lugar/ Forado a trabalhar
neste imenso pas/ E era o chicote no ar/
E era o chicote a estalar/ E era o chicote a
cortar/ Era o chicote a sangrar/ Um, dois,
trs, at hoje di/ Um, dois, trs, bateu
mais de uma vez/ Por isso que a gente
no tem vez/ Por isso que a gente sempre
est/ Do lado de fora/ Por isso que a gente sempre est/ L na cozinha/ Por isso
que a gente sempre est fazendo/ O papel
menor/ O papel menor/ O papel menor/
Ou o papel pior
9 Co de Raa
(Edson Gomes)
E mais uma vez o caso tornou-se um drama/ A seca est a e o povo bebendo lama/
Por culpa de tamanha incompreenso/
A seca arrasa, devora o serto/ Eles bem
sabem qual a maneira/ De exterminar
de uma vez com essa seca/ Enquanto eles
pensam o povo cumpre sua sina/ E vive
esperando a providncia divina/Agora todo
mundo quer opinar/ Palavras, palavras
so soltas no ar/ Promessas, promessas,
palavras perdidas/ O que o povo quer mesmo uma sada/ soluo/ Co de raa/
Co de raa
10 Leve Sensao
(I Shot the Sheriff, Bob Marley // Verso:
Edson Gomes)
Vai vai mudar, tudo isso vai mudar/ Vai vai
mudar, a gente vai se transformar/ Sempre
quando venho a rua, me assalta uma ideia/
Que vou encontrar uma dessas feras, bem
disposta a me golpear/ Uma leve sensao
que sempre me ocorre/ Eu sinto sempre
um par de olhos/ O tempo todo a me
vigiar/ Eu sinto sempre um par de olhos
o tempo todo a me vigiar/ Eles to a maquinar, esto armando armadilhas/ Esto
querendo me conquistar, esto querendo
(Edson Gomes)
15 Filho da Terra
(Edson Gomes)
26 Campo de Batalha
(Edson Gomes)
O campo de batalha cheira a morte/ No
campo de batalha a morte mais forte/
Algum vencer, algum vencer, algum
morrer,enfim/ Vais matar a quem nunca
viu/ Vais matar a quem no te fez nada/
Vais morrer por nada, por nada/ Derramar
teu sangue, em favor de que? De que?
E a famlia te espera, toda a famlia desespera/ Lgrimas nos olhos, tristeza na face/
O peito apertado pois sabe, pois sabe/ Que
algum vencer, algum vencer, algum
morrer enfim
27 Criminalidade
(Edson Gomes)
tanta violncia na cidade/ Brother, tanta
criminalidade/ As pessoas se trancam em
suas casas/ Pois no h segurana nas vias
pblicas/ E nem mesmo a polcia pode
impedir/ s vezes a polcia entra no jogo/
A gente precisa de um super-homem/ Que
faa mudanas imediatas/ Pois nem mesmo
a polcia pode destruir/ Certas manobras
organizadas/ tanta violncia na cidade/
Brother, tanta criminalidade/ A lua j no
mais dos namorados/ Os velhos j no
curtem mais as praas/ E quem se aventura
pode ser a ltima/ E quem se habilita pode
ser o fim/ A gente precisa de um super-homem/ Que faa mudanas imediatas/ Pois
nem mesmo a polcia pode destruir/ Certas
manobras organizadas/ No tudo um dia
vai passar/ Sei que tudo um dia vai mudar
28 Adultrio
(Edson Gomes)
Rastafari, se desligando desse sistema/ E
da coisa imunda que nos envenena
E que adultera a nossa sina/ Rastafari,
cantando o Reggae em cada esquina
Ah coisa linda que nos alucina/ E que faz
ficar to boa a vida
Eles querendo mudar nossa sina/ Nos
injetando a inconscincia/ Dizendo que a
democracia
Grande piada, conto de fada, eh/ Rastafari/
39 Calamidade Pblica
(Edson Gomes)
(Edson Gomes)
Cad nossos ndios, Cad nossos ndios/
Nossos ndios esto morrendo, Desaparecendo/ Sendo exterminados/ Pela ganncia/
Pela prepotncia/ Daquele que diz ser o
melhor/ Aquele que diz fazer tudo perfeito/
Aquele que diz fazer tudo direito/ Aquele
que diz ser o melhor/ Ento devolva as terras desses homens/ Ento devolva as terras/
Para que tudo fique direito/ Para que tudo
se torne perfeito/ E a alegria retorne quele
lar/ Enfim a paz se restabelea/ Aquele que
diz fazer tudo perfeito/ Aquele que diz fazer
tudo direito/ Aquele que diz ser o melhor/
Ento devolva as terras desses homens/
Devo, devolu, devo, devoluo
41 Lembranas
(Edson Gomes)
s vezes eu fico pensando em meu pensamento/ Me leva para um mundo distante/
Me leva para minha infncia/ Quando eu
brincava na margem do rio/ E via repleto
de embarcaes, era lindo/ Muito bonito/
Uma paisagem que embelezava/ Este
gigante rio/ E eu via/ Todo mundo trabalhando/ Todo mundo suando/ Trabalho
humilde, mas era trabalho/ Hoje eu estou
1997
SINE CALMON
FOGO NA BABILNIA // CD // ATRAO
FONOGRFICA
42 Andava Sozinho
(Sine Calmon)
J andei por tantos caminhos/ Quanto
tempo andei sozinho/ Viver sem razo
por qu? Por qu?/ Se em Jesus t todo
o poder/ Sinta agora mesmo em voc/
Nunca sers abalado/ Encontrei o amor
em voc/ E tudo mais que eu procurava/
No tem mais dvida/ J desceu, j desceu
por gua/ Encontrei o amor em voc/ E
tudo mais que eu procurava/ No tem mais
dvida/ O Senhor minha morada
43 Mississipi Blues
(Sine Calmon)
Sei que um dia vou pro cu/ Ao encontro
do Senhor
Sei que nunca vou morrer/ Pra viver
eterno amor
Somos remanescentes/ Neste mundo to
pendente
52 Roda Pio
(Nengo Vieira)
Roda, roda, pio/ Na roda da vida
Roda tudo que ele poderia ter
Fora o mundo que ele tem pra merecer
Erguer com trabalho e a dureza da servido
Sobrevive permanente na escravido
Perde a vida pra poder ganhar o po
Ningum liga se ele vai mudar ou no
Vem, Roda, roda, pio/ Na roda da vida
Trabalhador com muito amor/ Vive na paz
de Deus
Na luz do Senhor que alivia a dor/ Que
forte demais
Mas a pureza e a beleza do seu corao
mais que tudo, que qualquer dinheiro/
Da grande nao
1998
EDSON GOMES
51 Morro Fumegante
(Sine Calmon)
53 Perdido de Amor
(Edson Gomes)
54 Isaac
(Edson Gomes)
Isaac, vamos danar esse Reggae/ Isaac,
vamos cantar esse Reggae
O povo precisa de uma voz amiga/ Que
fale,que lute por uma verdade/ O povo
precisa da realidade/ Mas tenha cuidado
com as gentilezas/ Vov j dizia/ Beleza
no faz a mesa
Isaac/ existem mil formas de viver, eu sei
/ Isaac/ existem mil formas de fazer, eu
sei/ Isaac
Mas precisa assumir o compromisso/ Isaac/
E se for preciso morra por isso/ E fale que
o povo anda morto de fome/ E fale que
o povo anda passando fome/ Meu filho,
vamos danar esse Reggae/ Isaac, vamos
cantar esse Reggae
55 Acorde, levante e lute
(Edson Gomes)
Proprietrios, latifundirios/ Ningum
nesse mundo pode te mudar/ Porm no
espere por esse direito/ Acorde, levante,
lute/ Pois tu s o filho da natureza/ Ao longo dos anos sempre foi assim/ Agora no
pode ser adulterado/ D cinco, my brother,
estou do teu lado
E tens o direito de ser livre/ Ningum nesse
mundo pode impedir/ Porm no espere
por esse direito/ Acorde, levante, lute/
Homem da mata, no queira apito no/ A
sua tribo corre perigo
Homem da mata, no queira apito no/
Sinta no cheiro, a cor do perigo
56 Querida
(Edson Gomes)
meu bem/ Os meus cabelos no devem
servir/ Para impedir o nosso amor
meu/ A cor da minha pele tambm/ No
vai impedir o nosso amor
Diga pro seus pais/ Que nada queremos/
Diga pro seus pais/ No vou incomodar
S queremos desfrutar/ Desse nosso amor/
J que podemos sustentar sem danos
NENGO VIEIRA
61 Basta Man
(Nengo Vieira)
59 Divino
(Nengo Vieira)
A saudade tambm mata, eu sei/ Quando
se tem o amor/ quando quer se dar
At se dividir/ Se sentindo to forte quanto
o sol/ Mas a msica me faz sentir
Bate no corao/ At sobe a razo/ De no
mais suportar
A dor, a dor oh/ A dor, a dor, a dor oh
Chora, meu bem/ Chora, meu bem
Chora, meu bem/ Chora, meu bem/ Chora
A saudade tambm mata, eu sei/ Quando
se valor, sim
quando quer se dar/ At se dividir/ Se
sentindo to forte quanto o sol oh oh
Mas a msica me faz sentir/ Bate no corao/ At sobe a razo
De no mais suportar/ A dor, a dor oh/ A
dor, a dor, a dor oh
Divino dividir/ Divino dividir/ Dividindo
h de vingar
60 Aliana
(Nengo Vieira)
A primeira vez que eu te vi desejei te ver
mais
Nunca mais vou esquecer tanto bem que
voc faz
Ento deixa, deixa nascer o amor/ Deixa,
deixa fluir como uma flor
Numa nova aliana, na total confiana/ Eu
quero sempre estar pra viver
Quando acordo ao teu lado tudo fica
normal/ Quando sinto tua ausncia, a
tristeza total
Ento deixa, deixa nascer o amor de Deus/
Deixa... deixa fluir nos olhos teus
Numa nova aliana, na total confiana/ Eu
quero sempre estar pra viver
Quando acordo ao teu lado tudo fica
normal/ Quando sinto tua ausncia, a
tristeza total
Ento deixa, deixa nascer o amor/ Deixa,
deixa fluir como uma flor
Numa nova aliana, na total confiana/ Eu
quero sempre estar pra viver
1999
SINE CALMON
ROSA DE SARON // CD // ATRAO
FONOGRFICA
72 Natural
(Nengo Vieira e Jair Soares)
O controle t na mente, sim, s pra quem
sabe onde est
T na mente de quem sente, todo mundo
enfim transformar
Deus e Msica vm depressa e faz, toda
gente cantar
O controle t na prtica, todo dia trabalhar/ Todo dia trabalhar
Todo dia msica tambm/ Seja reggae,
rock ou ska (3x)
Natural, essa msica que Deus fez j/ Em
sementes pra ter sempre o natural sumo
que h
Trabalhando sem bandeira/ O reggae, o
rock ou ska
O controle t na prtica, todo dia trabalhar/ Todo dia trabalhar
Todo dia msica tambm/ Seja reggae,
rock ou ska (3x)
73 Divino
(Nengo Vieira)
A saudade tambm mata, eu sei/ Quando
se tem o amor
quando quer se dar/ At se dividir
Se sentindo to forte quanto o sol/ Mas a
msica me faz sentir
76 Ravengar
78 Rosa de Saron
(Sine Calmon)
(Sine Calmon)
77 Jogo Rpido
(Sine Calmon)
Dana, que eu quero ver/ Balana, que eu
quero ver
Suinga, que eu quero ver/ Com toda essa
multido
Dana, que eu quero ver/ Seleciona, que
eu quero ver
Cantando para viver/ Com toda essa
multido
jogo, jogo, jogo
jogo rpido pra danar
jogo simples de se jogar
jogo bom para ganhar
Dana, que eu quero ver/ Balana, que eu
quero ver
Suinga, que eu quero ver/ Com toda essa
multido
Dana, que eu quero ver/ Seleciona, que
eu quero ver
Cantando para viver/ Com toda essa
multido
79 Redemption Song
(Bob Marley)
Old pirates yes they rob I
Sold I to the merchant ships
Minutes after they took I from the bottom
less pit
But my hands was made strong
By the hand of the almighty
We forward in this generation triumphantly
All I ever had is songs of freedom
Wont you help to sing these songs of
freedom
Cause all I ever had redemption songs,
remdeption songs
Emancipate yourselves from mental slavery
None but ourselves can free our minds
Have no fear for atomic energy
Cause none a them cant stop the time
How long shall they kill our prophets
While we stand aside and look
Yes, some say its just a part of it
Weve got to fulfill the book
Wont you help to sing these songs of
freedom
Cause all I ever had redemption songs,
remdeption songs
80 Saia da Maresia
(Stir it Up de Bob Marley // Verso: Sine
Calmon)
Stir it up, little darling, stir it up
Para compor reggae assim, preciso
harmonia, amor
Para viver de boa, sim, e sair da maresia
Stir it up, little darling, stir it up
Para compor reggae assim, preciso
harmonia, amor
Para viver de boa, sim, e sair da maresia
Stir it up, little darling, stir it up
81 T A
(Sine Calmon)
T a pra todo casal, morro espiritual
Eu sei, no tem nada igual
Fogo na Babilnia, mais uma vez
Fogo na Babilnia, todos vocs
Eu vi um grande sinal
E sei que a vida legal
Jesus, o amigo total
82 Alm do Rio (O Rio Jordo)
Na cana no engenho/ Na cana no engenho/ Brasil, ou, ou, ou, Brasil/ Colonizar
esse pas/ Na cana no engenho/ Na cana
no engenho/ Na cana no engenho/ Na
cana no engenho
84 Primeira Bola
(Jorge Ax)
Queria saber se a saudade mata/ Queria
saber se vou suportar/ Eu queria saber
se vou ser bem chegado/ Se vou ser bem
chegado/ Por onde eu pisar/ Se vou conseguir tudo que quero/ Se vou mesmo meus
sonhos realizar/ No quero que seja pelo
contrrio/ Tenho muito medo de regressar/
Reviver tudo aquilo do passado/ Reviver
tudo aquilo que me fez chorar/ Mas vou pisar firme na estrada/ no quero pensar em
fracassar/ Vou entrar em campo de cabea
erguida/ E a primeira bola que vier vou
chutar/ Na primeira bola que sobrar vou
marcar o gol/ E a primeira bola que vier
vou chutar/ Na primeira bola que sobrar
vou marcar o gol
(Jorge Guedes)
(Nengo Vieira)
86 Zenaide
(Peto/ Tin Tim Gomes)
Zenaide segura a onda/ Eu sei no comeo
foi maravilha/ Os dias esto passando/ E
a crise sempre aumentando/ Sou digno/
De boa famlia/ Com o tempo/ Vo se
ajeitando as coisas/ E trabalhando por dia
melhor/ Na minha boca eu sinto o suor/
O suor no rosto e eu trabalhando/ No fim
(Edson Gomes)
Vem ver dentro de mim/ O meu sentimento/ E o meu desejo/ Voc no ouve minha
carncia/ Lcida e louca/ Teme morrer/ No
vazio da solido/ Vem e quebra a barreira/
Do desconhecido/ Me deixa beijar tua
imaginao/ Tudo sentimento/ Te levo
ao infinito/ Na imensido
90 Lenda
93 Bandeira Seca
2001
(Djavan)
SINE CALMON
Amanh outro dia, lua sai ventania/ Abraa uma nuvem que passa no ar
98 Jeov Jir
(Sine Calmon)
As portas do cu vo se abrir e a natureza
ir sorrir/ Quando voc chegar amor/
Eu sei que a vida faz brilhar/ O alfa e o
mega no ar/ Fortalece o meu cantar
Mais uma vez/ Vou cantar/ De uma s vez/
Vou chegar, vou chegar
Cheguei, cheguei, cheguei
As flores brincam em meu quintal e as borboletas no varal/ Me faz lembrar voc amor
Eu sei que belo o caminhar/ E a palavra
do verbo amar/ Amo voc, amor, amor.
Mais uma vez/ Vou cantar/ De uma s vez/
Vou chegar, vou chegar
Cheguei, cheguei, cheguei
As portas do cu vo se abrir e a natureza
ir sorrir/ Quando voc chegar amor/ Eu
sei que belo o caminhar/ E a palavra do
verbo amar
Amo voc, amor, amor
Mais uma vez/ Vou cantar/ De uma s vez/
Vou chegar, vou chegar
Cheguei, cheguei, cheguei
nunca me querer
Mas agora no quero saber/ E sabe
muito tarde pra voc
Tarde, tudo morreu/ Tarde/ Tarde, tudo
morreu/ Tarde
Agora ento no quero mais saber de voc
no/ Eu no tenho mais tempo pra perder
Agora ento no quero mais saber de voc
no/ Eu no tenho mais tempo pra perder
No tenho tempo, eu no tenho tempo
Todo mundo aqui sabia/ De todo aquele
amor que eu tinha
S voc no quis saber/ Fingindo no ter
nada a ver
Olhe eu sei do seu desejo/ Eu sempre
soube do seu peito
Mas agora no quero saber/ E finja sempre
nunca me querer
Mas agora no quero saber/ E sabe
muito tarde pra voc
Tarde, tudo morreu/ Tarde/ Tarde, tudo
morreu/ Tarde
Agora ento no quero mais saber de voc
no/ Eu no tenho mais tempo pra perder
Agora ento no quero mais saber de voc
no/ Eu no tenho mais tempo pra perder
No tenho tempo, eu no tenho tempo
100 Vibrao Positiva
EDSON GOMES
(Edson Gomes)
99 Tarde
(Edson Gomes)
Quando fiz voc minha rainha/ E te dei
todo amor que tinha
Voc no quis compreender/ Fingindo no
ter nada a ver
Quando te falei da situao/ Quando te
falei do meu corao
Voc no quis compreender/ Fingindo no
ter nada a ver
Todo mundo aqui sabia/ De todo aquele
amor que eu tinha
S voc no quis saber/ Fingindo no ter
nada a ver
Olhe eu sei do seu desejo/ Eu sempre
soube do seu peito
Mas agora no quero saber/ E finja sempre
101 Sandra
(Edson Gomes)
Fica to calada/ Zangada assim
Passa e nem me fala oi/ Fica to calada
Zangada assim/ Passa e nem me olha
Mudou minha msica/ Tornou-se musa
nica
Minha inspirao/ Dona do meu corao
Porm, minha alma, nunca (never)/ Porm, minha alma, nunca (never)
Eu sei, eu sei, eu sei/ Eu sei, eu sei, eu sei
Toda a brutalidade vir (brutality)/ A brutalidade vir/ Sei
Toda a brutalidade vir (brutality)/ A
brutalidade vir
Eu toco fogo/ Eu toco fogo/ Eu toco fogo
Eu ponho na Babilnia
Eu toco fogo/ Eu toco fogo/ Eu toco fogo
Eu ponho na Babilnia
Se por acaso o sistema (sistema, sistema)/
Quiser tirar minha vida
Talvez at possa conseguir/ Porm, minha
alma, nunca (never)
Porm, minha alma, nunca (never)/ Eu sei,
eu sei, eu sei/ Eu sei, eu sei, eu sei
Toda a brutalidade vir (brutality)/ A brutalidade vir/ Sei
Toda a brutalidade vir (brutality)/ A
brutalidade vir
Eu toco fogo/ Eu toco fogo/ Eu toco fogo/
Eu ponho na Babilnia
Eu toco fogo/ Eu toco fogo/ Eu toco fogo
Eu ponho na Babilnia
111 Homens Lixo
(Edson Gomes)
Ao longo dos anos sempre foi assim/ Homens malditos, homens lixo
Levando o povo ao desespero/ E ficando
louco pelo dinheiro
Quem deveria saber nos conduzir/ Hoje
nem sabe como prosseguir
Os homens do mundo agora piraram, eu
acho/ E ralam as caras na graxa do tacho
Na minha tica, eles no passam de lixo/
O compromisso, nunca zelaro por isso
Por isso que a gente passa o que passa/
Por isso que a gente paga altas taxas
Mas uma luz um dia vai brilhar/ Pra renascer a esperana
Pois vejo o povo na rua sem graa/ Velhos
semblantes sentados na praa
Mas com certeza o quadro vai mudar/ Com
a pura certeza eles vo pagar
Mas pensam que podem fugir do castigo,
meu pai/ Eles pensam que podem conter
o perigo
112 Barrados
(Edson Gomes)
Ando meio cansado (no desisto) / Por vrias vezes barrados no baile (ainda insisto)
Acredito em tudo aquilo que fao / E
persisto em tudo aquilo que fao
Acredito naquele que vem do espao /
Ainda ontem no condominio que moro
Uma senhora quando me avistou/ Apertou
a bolsa, ela escondeu sua bolsa
Apertou a bolsa, a branca segurou logo a bolsa
So cenas da minha cidade uma doena
da sociedade
Cenas da minha cidade uma doena talvez
incurvel e
Voc a como passa/ Voc a o que acha e
Voc a como passa/ Voc a o que acha disso
Somos barrados no baile, todos barrados no
baile/ Eles dizem que s para gente bonita
Somos barrados no baile, todos barrados no
baile/ Eles dizem que s para gente bonita
So cenas da minha cidade, uma doena
da sociedade
Cenas da minha cidade, uma doena
talvez icurvel
E voc a como passa/ Voc a o que acha
E voc a como passa/ Voc a o que acha
disso
Somos barrados no baile, todos barrados no
baile/ Eles dizem que s para gente bonita
Somos barrados no baile, todos barrados no
baile/ Eles dizem que s para gente bonita
Acredito em tudo aquilo que fao / E
persisto em tudo aquilo que fao
Acredito naquele que vem do espao/
Deus de Abrao, Jac, Issac vir
E nele toda minha esperana de paz, sade e alegria/ Oh, Jah, Jah, Jah, Jah, Jah
113 Bibliotecas Pblicas
(Edson Gomes)
As bibliotecas pblicas andam cheias de
coisas que nunca irei usar
Os seus livros andam cheios de histrias,
so contos que nunca irei contar
Porque, brother, eu no quero/ Porque,
brother, no eu no quero
Quero saber porque o povo vive assim/ Eu
quero saber porque a lei tanto oprimida-a
Preciso saber porqu na mesa falta a
180 l Brbara Falcn
luz) Oh now!
Jesus luz, luz, luz, luz/ ( luz, Jesus luz)
Moro na Babilnia/ Mas no sou daqui/
Vivo na Babilnia mais no sou daqui
Mesmo que eu venha parecer/ Mesmo que
parea ser assim
Mesmo assim no v se confundir/ Eu no
sou, no, no, no
No sou/ No sou da Babilnia/ No, brother
121 500 Anos
(Edson Gomes)
H 500 anos que/ Eu no tenho vida/ H
500 anos que/ A alma est ferida
No tenho dvidas, dvidas/ Minha conduta a fulga/ H 500 anos que vivemos
de mentira
H 500 anos que a mesma mentira/ No
tenho dvidas, dvidas
Minha conduta a fulga/ O corpo do ndio
tomba/ O corpo do negro dana
A espada se levanta/ Transpassando as
crianas/ Os ndios em desgraa
Os negros em mancadas/ H 500 anos
que/ Estou fora dos planos
H 500 anos que/ Eu venho mendigando/
E mesmo assim as migalhas
E mesmo assim so migalhas/ Meu corao
se aperta
Meu corao desperta/ Meu corao deseja/ Meu corao peleja
Por minha liberdade/ Total nessa cidade
H 500 anos eu/ Trabalho para os brancos
H 500 anos eu/ Vivendo nesse engano
Sobrevivncia dura/ Na resistncia pura /
Quero provas/ Eu quero provas
Sou a prova/ Eu a prpria prova
NENGO VIEIRA
MATA ATLNTICA // CD // INDEPENDENTE
122 Roda Pio
(Nengo Vieira)
Roda, roda, pio/ Na roda da vida
Roda tudo que ele poderia ter
Fora o mundo que ele tem pra merecer
Erguer com trabalho e a dureza da servido
Sobrevive permanente na escravido
Perde a vida pra poder ganhar o po
(Nengo Vieira)
Reggae, Reggae, Reggae Music/ Reggae,
Reggae, Reggae Music Now
Reggae, Reggae, Reggae Music/ Reggae,
Reggae, Reggae Music Now/ Now, now,
now, now
Que bom cantar Reggae/ A msica de
Deus/ Que bom cantar Reggae
A msica do amor/ Para esquecer a dor
desse sistema
E seus problemas, meu bem/ Que tanto
oprime a gente assim
Por isso eu canto, dano/ Canto, canto,
canto, dano
Por isso eu vou cantando/ Vou regando no
balano
No balano do Reggae/ Pra cantar Reggae,
Oh Lord!/ Pra cantar Reggae
2006
NENGO VIEIRA
(Nengo Vieira)
130 Chama
(Nengo Vieira)
Chama no apaga no/ Chama no apaga
no
Essa alegria acesa e viva no meu corao/
Trazendo boas novas pra tirar voc do cho
A luz j veio pra iluminar/ E aqui quer te
184 l Brbara Falcn
SINE CALMON
2007
NENGO VIEIRA
(Nengo Vieira)
Com o guerreiro mor/ Vamos sair na batalha/ No com sangue/ Mas com esprito/
E toda babilnia a sistematizar/ Dragando
tantas almas/ Pra se alimentar/ Mas o redentor/ A nos proteger/ Vem nos conduzir/
Vem nos dar saber/ Pois o mundo hoje
no sabe o que faz/ Presos nos deleites/
Mortos so carnais/ E estes homens cegos/
No sabem pra onde vo/ No, no, no,
no/ Com o guerreiro mor/ Vamos sair
na batalha/ No com sangue/ Mas com
esprito/ Se todo o meu querer/ Vem do
nosso Senhor/ Pois sua fina flor/ o seu
amor/ Para nos remir/ Dessa maldio/
Nos trazendo a paz/ No seu corao/ Pois
o mundo hoje no sabe o que faz/ Presos
nos deleites/ Mortos so carnais/ E estes
homens cegos/ No sabem pra onde vo/
No, no, no, no/ Com o guerreiro mor
143 Viu
(Edson Gomes)
146 Tu s Santo
(Nengo Vieira)
Tu s santo/ Tu s santo Senhor
Tu s santo/ Tu s santo Senhor
Toda terra cheia da tua glria/ Em Jesus
ns temos a vitria
J nascemos para te louvar/ Viveremos pra
te adorar, pois
Tu s santo/ Tu s santo Senhor
Tu s santo/ Tu s santo Senhor
voc entender
O amor do meu senhor Jesus/ Jesus,
minha razo e viver
Jesus, minha cano te louvar/ Jesus,
minha razo de viver/ Jesus, minha cano
te louvar
(Nengo Vieira)
Trago no meu peito/ Tua esperana
Meu corao jamais vai te esquecer/ Lava
o meu ser e torna-me criana
O meu prazer pra sempre te louvar/
Estou apaixonado por ti Jesus
Estou apaixonado por ti Jesus/ No me
apartarei diante dos teus olhos
A tua luz me alegra/ Me faz cantar
Eu quero o teu colo, quero o teu carinho/
Pra sempre minha vida te adorar
Estou apaixonado por ti Jesus/ Estou
apaixonado por ti Jesus
Estou apaixonado por ti Jesus/ Estou
apaixonado por ti Jesus
148 Escabelo
(Nengo Vieira)
(Nengo Vieira)
149 Graa
Com o guerreiro mor/ Vamos sair na batalha/ No com sangue/ Mas com esprito/
E toda babilnia a sistematizar/ Dragando
tantas almas/ Pra se alimentar/ Mas o redentor/ A nos proteger/ Vem nos conduzir/
Vem nos dar saber/ Pois o mundo hoje
no sabe o que faz/ Presos nos deleites/
Mortos so carnais/ E estes homens cegos/
(Nengo Vieira)
Quando amanhece/ Ainda sinto seu amor
Quando anoitece/ Buscarei na madrugada
teu consolo.
Tua graa me basta, teu consolo,Tua graa
me basta
Todo bem que eu sempre quis/ Foi fazer
188 l Brbara Falcn
154 Salvador
156 Reggaessncia
(Nengo Vieira)
A glria do Senhor chegou/ A glria do Senhor brilhou na minha vida, no meu viver
Na minha vida, no meu viver
Para libertar os presos, os oprimidos de
corao
tudo ser diferente/ Todo dia ser diferente/ Toda noite/ S, somente s, somente,
eu e voc/ S, somente s, somente, eu
e voc/ S, somente s, somente, eu e
voc/ S, somente s, somente, eu e
voc/ Todo dia/ Ser diferente/ Toda noite/ S, somente s, somente, eu e voc/
S, somente s, somente, eu e voc/ S,
somente s, somente, eu e voc/ S,
somente s, somente, eu e voc/ Da pra
melhor/ Da pra melhor
161 Cincia do Esprito
(Geraldo Cristal)
o amor, oh Senhor, eu li/ Alelujah/
Alelujah/ Bom/ Bom louvar ao Senhor/ E
cantar louvores em seu nome/ Ao altssimo
Jah em Jesus Cristo/ E pela manh anunciar a paz de verdade/ E a tarde um orvalho
de felicidade/ E a noitinha orvalho de
tranqilidade/ Sobre um instrumento de seis
cordas/ Um agog ou um atabaque/ Um
berimbau com som solene/ Pois tu Senhor
me mostraste/ E com teus feitos/ Exultarei/
Com as obras da sua mo meu rei ei ei/
Eu li/ Um homem brutal no entende isso/
Um homem sem f no entende isso/ Um
homem banal no entende a cincia/ Do
Esprito Santo/ Alelujah/ Bom louvar ao
Senhor com danas/ Bom louvar, louvar
ao Senhor com palmas, Amm
162 de Boa
(Geraldo Cristal)
to bom estar contente/ O amor a me
procurar/ demais estar com a gente/ O
amor est no ar/ de boa estar contente/
O amor a me procurar/ demais estar
com a gente/ O amor est no ar/ Olho pra
multido/ Tudo parece to tranqilo/ Sai,
sai solido/ Quero ficar na paz de esprito/
Olho pra multido/ Estou cantando e me
divertindo/ Sai solido/ A minha vida tem
sentido/ to bom, to bom/ de boa,
demais/ Olho pra multido/ Tudo parece
to tranqilo/ Sai solido, sai solido/
Quero ficar na paz de esprito/ Olho pra
multido/ Estou cantando e me divertindo/
Sai solido/ A minha vida tem sentido
163 Jahlivia
(Geraldo Cristal)
Voc me olha assim desse jeito/ Tento
identificar seus sinais/ Todo amor tem
seu preo/ Pago ver a diferena que voc
faz/ Posso lhe dar emoo/ Tocar fundo
no seu corao/ Com essa cano/ Voc
disfara/ Finge que no liga/ Mas l no
findo/ Sabe o que preciso/ Jahlivia/
lindo/ Eu me delicio/ Mergulhar nesse
amor/ Esse amor me mantm vivo/
Como negar um sentimento/ Fazer que
no est entendendo/ Sou o calor no seu
recanto/ O alcance daquilo que est pretendendo/ A praia voc o mar/ Chegando como no quer nada/ Ocupando meu
corao/ De areia/ Seu castelo sereia/ Pra
lhe amar/ Como negar um sentimento/
Fazer que no est entendendo/ Sou o
calor no seu recanto/ O alcance daquilo
que est pretendendo/ A praia voc o
mar/ Chegando como no quer nada/
Ocupando meu corao/ De areia/ Seu
castelo sereia/ Pra lhe amar
164 Libertao
(Geraldo Cristal)
Uouoh, uouoh, ooh, oh/ Uuuuuooh/
Tomara que chegue, tomara que chegue/
Antes que seja tarde/ A libertao dos
negros africanos/ Espero que chegue
antes que seja tarde/ A libertao dos
negros africanos/ Eu olho o sofrimento
do meu povo/ Nas ruas a servido dura
irmo/ A cada instante uma captura/ Trs
marcas na cabea/ Sela um pacto com a
besta/ Que est a sua procura irmo/ No
mais comigo, no/ Sistema do branco
mantm o negro nesta condio/ E na
opresso/ O negro vira as costas ao seu
passado/ Onde espiritualmente enraizado/ pra uma futura soluo/ Que futura
soluo eu acredito/ Eu acredito mesmo
na determinao/ De dar o bem que se
d, irmo/ Em um gesto de corao/ Ser
negro, ndio ou branco/ O ser que estou
procurando/ O ser que estou procurando,
irmo/ Tomara que chegue antes que seja
tarde/ A libertao dos negros africanos/
Espero que chegue antes que seja muito
166 A Sacizeiro
(Geraldo Cristal)
Na TV anunciaram/ Um produto novo no
mercado/ E no ms seguinte/ O estrago
tinha comeado/ principio ningum
ligava/ A cilada estava armada/ A peste se
alastrava/ E os primeiros da lista/ Crianas
de rua/ Que cheiravam cola/ Agora ratos
atrs do queijo/ Como queijo/ Sua cabea
vai ficar/ Cheia de crateras/ Cheia de seqelas/ Se voc no se tocar/ A sacizeiro,
cochilou/ O cachimbo cai/ A sacizeiro/
E voc vai logo atrs (bis)/ Neurtico,
descontrolado/ Olho esbugalhado/ Pele e
osso/ Todo chupado/ Os caras trabalharam
errado/ Saia dessa cara de coisa/ Saia
dessa cara de pedra/ V se, se v/ V se, se
enxerga/ D o segundo passo/ O salvador
j deu o primeiro/ E ele est do seu lado/
A sacizeiro/ Cochilou o cachimbo cai/ A
sacizeiro e voc vai logo atrs
SOBRE A AUTORA