CHS 2014 - Apostila de Processos Administrativos 2

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PROCESSO ADMINISTRATIVO

DISCIPLINAR

FUNDAMENTOS TERICOS

LISTA DE SIGLAS
CBMES Corpo de Bombeiros Militar do Esprito Santo
CD

Conselho de Disciplina

CJ

Conselho de Justificao

CPM

Cdigo Penal Militar

CPPM

Cdigo de Processo Penal Militar

IP

Inqurito Policial

IPM

Inqurito Policial Militar

PAD

Processo Administrativo Disciplinar

PAD-RO Processo Administrativo Disciplinar de Rito Ordinrio


PAD-RS Processo Administrativo Disciplinar de Rito Sumrio
PMES

Polcia Militar do Esprito Santo

RDME

Regulamento Disciplinar dos Militares Estaduais do Estado do Esprito


Santo

SUMRIO
1

INTRODUO .................................................................. 8

O PROCESSO....................................................................... 12

2.1

HISTRICO........................................................................... 12

2.2

CONCEITO............................................................................ 16

2.3

FINALIDADE.......................................................................... 19

2.4

ESPCIES............................................................................. 21

2.4.1

Processo Legislativo........................................................................... 22

2.4.2

Processo Judicial................................................................................ 22

2.4.3

Processo Administrativo.................................................................... 27

O PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR............... 35

3.1

CONCEITO............................................................................ 35

3.2

FINALIDADE.......................................................................... 39

3.3

ASPECTOS CONSTITUCIONAIS......................................... 42

3.4

ESPCIES............................................................................. 49

3.4.1

Inquisitrios......................................................................................... 50

3.4.2

Acusatrios.......................................................................................... 53

A TRANSGRESSO DISCIPLINAR..................................... 60

4.1

ASPECTOS DEONTOLGICOS.......................................... 60

4.2

CONCEITO............................................................................ 65

4.3

MEIOS DE APURAO........................................................ 68

4.3.1

O Inqurito Policial Militar.................................................................. 68

4.3.2

A Sindicncia....................................................................................... 71

4.4

MEIOS DE JULGAMENTO.................................................... 75

4.4.1

Consideraes gerais......................................................................... 75

4.4.2

O processo como garantia da defesa................................................ 77

4.4.3

O Processo Administrativo Disciplinar de Rito Sumrio................ 81

4.4.4

O Processo Administrativo Disciplinar de Rito Ordinrio............... 84

4.4.5

O Conselho de Disciplina................................................................... 88

4.4.6

O Conselho de Justificao............................................................... 96

PRINCPIOS.......................................................................... 104

5.1

CONSIDERAES GERAIS................................................. 104

5.2

CONCEITO............................................................................ 105

5.3

PRINCPIOS POSITIVOS DO DIREITO E PRINCPIOS


GERAIS DE DIREITO............................................................ 107

5.4

AS TRS FASES DOS PRINCPIOS.................................... 108

5.4.1

O jusnaturalismo................................................................................. 108

5.4.2

O juspositivismo.................................................................................. 109

5.4.3

O ps-positivismo............................................................................... 110

5.5

NORMAS JURDICAS: PRINCPIOS E REGRAS................. 111

5.6

A FUNO DESEMPENHADA PELOS PRINCPIOS.......... 112

5.7

PRINCPIOS DO PROCESSO ADMINISTRATIVO


DISCIPLINAR........................................................................ 114

5.7.1

Legalidade............................................................................................ 114

5.7.2

Impessoalidade.................................................................................... 117

5.7.3

Moralidade............................................................................................ 118

5.7.4

Publicidade.......................................................................................... 120

5.7.5

Eficincia.............................................................................................. 122

5.7.6

Devido Processo Legal....................................................................... 125

5.7.7

Ampla Defesa e Contraditrio............................................................ 128

5.7.8

Motivao............................................................................................. 132

5.7.9

Verdade Material (Formal).................................................................. 134

5.7.10

Informalismo (Formalismo Moderado ou Instrumentalidade das


Formas)................................................................................................ 136

5.7.11

Oficialidade (Impulso Oficial)............................................................. 137

5.7.12

Pluralidade de Instncias................................................................... 139

5.7.13

Persuaso Racional (Livre Convencimento).................................... 140

5.7.14

Imparcialidade..................................................................................... 141

5.7.15

Igualdade.............................................................................................. 143

ASPECTOS CONCLUSIVOS TERICOS............................ 145

PROCESSO E PROCEDIMENTO......................................... 148

7.1

DENNCIA

COMUNICAO

DE

INFRAO

DISCIPLINAR........................................................................ 148
7.2

SINDICNCIA ....................................................................... 148

7.3

PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR DE RITO


SUMRIO.............................................................................. 150

7.3.1

Breves consideraes........................................................................ 150

7.3.2

Roteiro de atividades e sequncia de peas.................................... 151

7.3.3

Fluxograma PADRS........................................................................... 152

7.3.4

Orientaes.......................................................................................... 153

7.3.4.1

PORTARIA............................................................................................ 153

7.3.4.1.1

Suspeio ou impedimento do encarregado......................................... 154

7.3.4.1.2

Erros na portaria.................................................................................... 155

7.3.4.1.3

Ausncia de fato na portaria.................................................................. 156

7.3.4.2

AUTUAO........................................................................................... 158

7.3.4.3

TERMO DE ABERTURA....................................................................... 159

7.3.4.4

CITAO............................................................................................... 160

7.3.4.5

LIBELO ACUSATRIO......................................................................... 162

7.3.4.6

OITIVAS................................................................................................ 163

7.3.4.6.1

Forma.................................................................................................... 163

7.3.4.6.2

Interrogatrio......................................................................................... 165

7.3.4.6.3

Confisso............................................................................................... 166

7.3.4.6.4

Registro das declaraes...................................................................... 167

7.3.4.6.5

Ordem das testemunhas....................................................................... 167

7.3.4.6.6

Ausncia de testemunha....................................................................... 169

7.3.4.6.7

Constrangimento da testemunha.......................................................... 170

7.3.4.6.8

Declarao da testemunha havendo vrios acusados.......................... 170

7.3.4.6.9

Oitiva de superior hierrquico................................................................ 171

7.3.4.6.10 Direito ao silncio.................................................................................. 171


7.3.4.6.11 Analfabeto............................................................................................. 172
7.3.4.6.12 Embriaguez........................................................................................... 172
7.3.4.6.13 Menor de 18 anos.................................................................................. 173
7.3.4.6.14 Consulta a apontamentos...................................................................... 173
7.3.4.6.15 Testemunha noutra localidade.............................................................. 174
7.3.4.7

JUNTADAS............................................................................................ 174

7.3.4.8

ACAREAO........................................................................................ 175

7.3.4.9

APREENSO E RESTITUIO............................................................ 176

7.3.4.10

RECONHECIMENTO............................................................................ 177

7.3.4.11

RECONSTITUIO.............................................................................. 178

7.3.4.12

INSPEO............................................................................................ 179

7.3.4.13

CINCIA DOS ATOS PROCESSUAIS................................................. 180

7.3.4.14

RECUSA DO ACUSADO EM RECEBER DOCUMENTOS................... 181

7.3.4.15

NEGATIVA

DO

ACUSADO

EM

ACOMPANHAR

OS

ATOS

PROCESSUAIS .................................................................................... 182


7.3.4.16

AUSNCIA DE ADVOGADO (DEFENSOR) ........................................ 183

7.3.4.17

POLCIA DAS SESSES...................................................................... 183

7.3.4.18

DENEGAO DE PEDIDOS................................................................ 184

7.3.4.19

SISTEMA DE REPETIO DA PROVA............................................... 185

7.3.4.20

VCIO PROCESSUAL........................................................................... 186

7.3.4.21

EXCESSO DE PRAZO.......................................................................... 188

7.3.4.22

DENNCIA ANNIMA.......................................................................... 189

7.3.4.23

AFASTAMENTO MDICO DO ACUSADO........................................... 190

7.3.4.24

OCORRNCIA DE FATO NOVO.......................................................... 192

7.3.4.25

MOVIMENTAO DO ACUSADO........................................................ 192

7.3.4.26

PRESCRIO....................................................................................... 193

7.3.4.27

INDEPENDNCIA DAS INSTNCIAS PENAL E ADMINISTRATIVA... 194

7.3.4.28

ASSENTAMENTOS FUNCIONAIS....................................................... 196

7.3.4.29

ALEGAES FINAIS............................................................................ 196

7.3.4.30

RELATRIO.......................................................................................... 196

7.3.4.30.1 Noo.................................................................................................... 196


7.3.4.30.2 Estrutura................................................................................................ 197
7.3.4.30.3 Fato que constitua outra transgresso.................................................. 198
7.3.4.30.4 Parecer do Encarregado....................................................................... 199

CONCLUSO.................................................................................... 201

REFERNCIAS ................................................................ 202

1 INTRODUO

A tarefa daquele que opera o direito administrativo disciplinar, em seu aspecto


material ou processual, no das mais simples, e se afigura muitas vezes como
extremamente tormentosa, da porque inmeras dificuldades na produo de um
manual. Tais dificuldades vo desde o no reconhecimento da existncia de uma
processualstica administrativa (negada por alguns) a at mesmo a dificuldade na
fixao de normas gerais aplicveis a esses processos. Diferentemente do que
ocorre no campo do direito penal e do direito processual penal, em matria de
processo administrativo escassa a produo literria, que a bem da verdade
somente se acentuou depois da Constituio Federal de 1988.
A primeira explicao possvel para tal fenmeno reside no fato de que antes de
1988, em matria de processos levados a curso perante a Administrao, apenas se
reconhecia pacificamente garantias, tais como a da ampla defesa, em processos
que pudessem importar na perda do cargo pblico. Negava-se, ento, tal
possibilidade nos processos destinados aplicao de sanes de menor
gravidade, e, portanto, de cunho corretivo.
Ocorre que de tal situao surgia, no mnimo, uma contradio: a reiterao na
prtica de ilcitos menores podia dar azo, quando considerados conjuntamente,
instaurao de processo destinado perda do cargo. Assim, como negar o direito de
defesa na aplicao dessas penas menores? Como possvel que em um processo
voltado perda do cargo o servidor possa se defender de fatos sobre os quais j foi
punido (situados no passado), sendo que muitas vezes deles sequer se recorda, at
porque em muitos casos inexistia processo?
Dessa forma, a Constituio Federal de 1988 (chamada de Constituio Cidad),
marco da passagem para o perodo democrtico, veio a corrigir esse e outros
grandes problemas existentes no ordenamento jurdico, tanto que fez inserir
expressamente em seu texto garantias processuais aplicveis aos processos em
geral, inclusive aos processos administrativos disciplinares, tais como o devido
processo legal, a ampla defesa e contraditrio, a igualdade, dentre outras.

Assim, as previses expressamente contidas na Constituio no deixam dvidas de


que

Legislador Constitucional

deu extrema

importncia

aos processos

administrativos, em especial queles que se destinam imposio de sanes.


Outra explicao a que se pode creditar a escassez de obras sobre o assunto diz
com uma caracterstica intrnseca do direito disciplinar, seja ele material ou
processual: a competncia para legislar sobre a matria, privativa de cada uma das
Pessoas Jurdicas de Direito Pblico sobre a qual versa.
Dessa forma, a dificuldade de se construir uma teoria aplicvel indistintamente aos
processos administrativos em geral reside no fato de que a norma disciplinar do
Estado x diferente da do Estado y, e pode se distinguir da do Municpio z; por
seu turno, nenhuma delas deve obedincia s normas disciplinares (materiais ou
processuais) relativas Unio, mas todas, inclusive esta, necessitam estar conforme
o Texto Constitucional.
Essa ausncia de primazia de uma norma em relao outra, decorrncia clara da
forma como so independentes os entes que as edita, pois so entidades isnomas,
dificulta a compreenso do tema e afasta doutrinadores, porquanto poucos se
interessam em militar nesse campo. Quando o fazem, debruam-se sobre normas
relativas Unio ou a Estados como So Paulo, trabalho que pouca ou nenhuma
valia tem para os demais entes, mormente quando o estudo versar to somente
acerca de direito material.
Partindo do problema da ausncia de uma teoria una em matria de processo
administrativo disciplinar, indaga-se sobre se o ordenamento jurdico permite dele
extrair preceitos gerais aplicveis a esses diversos processos, mesmo diante da
competncia privativa de cada uma das Pessoas Jurdicas de Direito Pblico para
legislar sobre a matria. Vale dizer: possvel identificar no ordenamento jurdico
princpios aplicveis aos processos administrativos disciplinares em geral?
A fim de esclarecer tal ponto, a metodologia usada no trabalho foi realizada em trs
planos: cotejando o Texto Constitucional a fim de identificar preceitos que sejam a
todos aplicveis; buscando na doutrina obras que tratam do processo administrativo,
especialmente o de cunho disciplinar; identificando pronunciamentos judiciais sobre
o tema.

10

Durante o estudo que se faz busca-se, ao incio, compreender a fenomenologia


processual. Para tanto, necessrio apresentar o processo em sua vertente
histrica de instrumento destinado realizao da justia, praticamente pondo fim
aos meios de mediao entre particulares, mecanismos quase sempre injustos.
Reala-se, assim, o carter instrumental do processo, que tem caractersticas
prprias de acordo com o campo material de atuao estatal.
Posteriormente, apresenta-se o processo administrativo como uma realidade ps
Constituio Federal de 1988, pois esta o alou ao status de garantia individual e
coletiva, e avanou ainda mais: alm de estabelecer o processo como um direito
inerente ao indivduo, traou inmeros preceitos de ndole constitucional que devem
necessariamente ser observados, fazendo referncia expressa aos processos
administrativos.
Em seguida, embora o objetivo precpuo do estudo seja o direito processual
disciplinar, resulta impossvel no abordar aspectos relativos ao ilcito administrativo,
at para que assim se possa ter uma melhor compreenso da matria, porquanto o
processo e ser instrumento destinado a operacionalizar o direito material.
Ao tratar da transgresso disciplinar, busca-se abord-la na perspectiva da Polcia
Militar do Esprito Santo (PMES), analisando inclusive questes de cunho
deontolgico que envolvem o desempenho da funo policial-militar.
Depois de traados os principais elementos que envolvem o ilcito administrativo
disciplinar militar, passa-se anlise das ferramentas existentes na PMES
destinadas apurao a ao julgamento das transgresses. Fala-se, assim, em
Inqurito Policial Militar (que anomalamente indica a ocorrncia de transgresso),
Sindicncia, Processo Administrativo Disciplinar de Rito Sumrio (PAD-RS),
Processo Administrativo Disciplinar de Rito Ordinrio (PAD-RO), Conselho de
Disciplina (CD) e Conselho de Justificao (CJ).
Posteriormente, analisa-se o fenmeno dos princpios e demonstra-se a fora
cogente que possuem, pois no se tratam de normas fluidas e destitudas de
qualquer normatividade, mas, ao contrrio, integram, ao lado das regras, o conceito
de norma jurdica, da porque se irradiam no processo administrativo. Assim,
identificam-se princpios aplicveis ao processo administrativo disciplinar, extrados
em sua maioria do texto constitucional, contribuindo sobremaneira para uma atuao

11

estatal mais clarividente em matria de processo e permitindo, seno resolver, ao


menos minorar o problema suso mencionado relativo falta de uniformidade na
compreenso sobre a matria.
Depois, explana-se sobre orientaes acerca de como proceder quando da
ocorrncia de certos incidentes durante o desenvolvimento de um processo
disciplinar, de modo a esclarecer o posicionamento a ser adotado pelo encarregado.
Por fim, apresentam-se modelos de diversas peas processuais e ainda pequenas
orientaes sobre a finalidade das peas e sobre como elabor-las.

12

2 O PROCESSO

2.1 HISTRICO

A noo de um processo como meio necessrio soluo dos conflitos havidos no


seio da sociedade confunde-se com a prpria histria da humanidade.
Nesse contexto, a evoluo da sociedade foi acompanhada tambm do
aprimoramento nos meios para a soluo dos litgios.
Sabe-se que no passado ao particular era dado o direito satisfazer como bem lhe
conviesse suas pretenses, por meio da autotutela (ou autodefesa).
Conforme assinalam GRINOVER et al (2007, p.26), inexistia, em tempos remotos,
um Estado suficientemente forte para mediar os conflitos surgidos na sociedade e,
assim, impor o interesse coletivo ao individual. No havia, portanto, um aparato
estatal que, com soberania e autoridade, pudesse efetivar plenamente o direito
posto.
Dessa forma, no restava ao particular alternativa seno valer-se de sua prpria
fora para obter aquilo que considerava justo, seja para alcanar suas pretenses,
seja para refutar agresses de outrem.
Conforme bem anota ALVIM (2000, p. 10) a mais primitiva modalidade de soluo
de conflitos entre indivduos era a autodefesa, pois no existia acima destes uma
autoridade capaz de, a um s tempo, decidir e impor tal deciso aos contendores.
Assim, nos primrdios da humanidade, aquele que pretendesse determinado bem da
vida, e encontrasse obstculos a isso, no tinha alternativa seno valer-se da fora
bruta (individualmente ou em grupo) para obt-lo (ALVIM, opus citatus, p. 11).
A necessidade de resoluo dessas contendas surge, ento, da prpria condio
humana, pois se de um lado o homem no pode viver seno em sociedade (FILHO,
F., 2001, p. 1-2), de outro tal convivncia com outros indivduos terreno frtil para o
surgimento de conflitos, contendas que necessitam ser solucionadas, seja pelos
prprios interessados, seja por um terceiro com poderes de impor sua vontade s

13

partes. Cumpre assinalar, nesse particular, que a inexistncia de tal poder externo
poderia levar a prpria sociedade runa, da porque a histria mostrar, no passado,
diversos e constantes conflitos entre grupos com interesses diferentes.
Trao marcante desse perodo inicial, no qual era dada ao particular a soluo de
todo e qualquer litgio, corresponde autotutela, cujas caractersticas eram:
a) a inexistncia de um juiz imparcial e distinto das partes;
b) a imposio de uma deciso por uma das partes envolvidas (GRINOVER et
al, opus citatus, p.27).
No demais afirmar que os resultados obtidos com tal modalidade de soluo
conflitos eram, no mais das vezes, extremamente injustos, porquanto o ofendido
poderia ser, por exemplo, mais fraco que o agressor, e ainda que obtivesse xito em
sua defesa poderia, no futuro, ser alvo de um novo e mais grave ataque (ALCALZAMORA, 1945, p. 10, apud FILHO, F., opus citatus, p. 5).
Paralelamente a tal hiptese de mediao de conflitos, assinalam GRINOVER et al
(opus citatus, p.27) que os particulares se valiam ainda de outras ferramentas aptas,
tanto quanto possvel, a solucionar os litgios. Fala-se, assim, em meios alternativos
de resoluo, tais como autocomposio. Tal modalidade comporta, ainda segundo
os autores citados, trs formas distintas:
a) a desistncia, segundo a qual o interessado literalmente renuncia sua
pretenso;
b) a submisso, isto , a renncia resistncia oferecida pretenso;
c) a transao, procedimento segundo o qual ambos os interessados fazem
concesses recprocas.
Quadra evidenciar, no entanto, que conforme nota de GRINOVER et al (opus citatus,
p. 27) tais modalidades de mediao operadas entre os particulares tinham, no mais
das vezes, o carter de parcialidade, pois dependiam da vontade e da atividade de
cada um dos envolvidos.
Ademais, de se acrescentar que outro aspecto sobre o qual no se pode olvidar
trata-se da prpria precariedade da deciso, passvel de modificao futura pela
simples vontade de um dos envolvidos.

14

Tambm no se pode desconsiderar o fato de que embora em princpio fosse uma


excelente soluo, devido prpria economia quanto aos gastos, a autocomposio
[...] no pode ser estendida generalidade dos conflitos, uma vez que, com
frequncia, envolve uma capitulao do litigante de menor resistncia. Ademais, e
se um dos litigantes no quisesse a composio? (FILHO, opus citatus, p. 5).
Cumpre assinalar que os males advindos desse sistema foram pouco a pouco se
tornando mais ntidos e incompatveis com as aspiraes de uma sociedade em
desenvolvimento, da porque os indivduos passaram a buscar a soluo proferida
por rbitros, ou seja, terceiros estranhos questo e sobre os quais era depositada
a confiana mtua dos envolvidos (GRINOVER et al, opus citatus, p. 27).
Em regra - assinalam os autores - tal misso era confiada aos sacerdotes (que
decidiam segundo alegadas ligaes com as divindades) ou aos ancios (que
conheciam as tradies do grupo social no qual estavam inseridos os interessados).
A linha divisria e bastante ntida entre a autotutela e autocomposio bem
explicitada no seguinte trecho:
Na autotutela, aquele que impe ao adversrio uma soluo no cogita de
apresentar ou pedir a declarao de existncia ou inexistncia do direito;
satisfaz-se simplesmente pela fora (ou seja, realiza a sua pretenso). A
autocomposio e a arbitragem, ao contrrio, limitam-se a fixar a existncia
ou a inexistncia de um direito: o cumprimento da deciso. Naqueles tempos
iniciais, continuava dependendo da imposio de soluo violenta e parcial
(autotutela) (GRINOVER et al, opus citatus, p. 28).

Retorna-se, assim, ao problema inicial: se a autocomposio resolvia a questo


relacionada ao dizer o direito, ou seja, proferir deciso segundo na qual havia
manifestao sobre o mrito da demanda formulada, faltava-lhe o carter cogente,
capaz de obrigar a parte cujo pedido fora julgado improcedente, da porque os
autores afirmarem que mesmo aps a autocomposio e a arbitragem comumente
se recorria posteriormente autotutela.
A linha evolutiva para a soluo dos litgios, ou seja, da autotutela at a fase atual
bem explicitada por ALVES (1971, p. 203-204, apud ALVIM, p. 10-11):
Conjectura-se, com base em indcios que chegaram at ns, que essa
evoluo se fez em quatro etapas: na primeira, os conflitos entre particulares
so, em regra, resolvidos pela fora (entre a vtima e o ofensor ou entre
grupos de que cada um deles faz parte), mas o Estado, ento incipiente,
intervm em questes vinculadas religio, e os costumes vo
estabelecendo, paulatinamente, regras para distinguir a violncia legtima da
violncia ilegtima. Na segunda, surge o arbitramento facultativo: a vtima em

15

vez de usar da vingana individual ou coletiva contra o ofensor, prefere, de


acordo com este, receber uma indenizao que a ambos parea justa, ou
escolher um terceiro (rbitro) para fix-la. Na terceira etapa, aparece o
arbitramento obrigatrio: o facultativo s era utilizado quando os litigantes o
desejassem, e, como este acordo nem sempre existia, da resultava que, as
mais das vezes, se continuava a empregar a violncia para defesa do
interesse do lesado; por isso o Estado no s passou a obrigar os litigantes a
escolher o rbitro que determinasse a indenizao a ser paga pelo ofensor,
mas tambm a assegurar a execuo da sentena, se, porventura, o ru no
quisesse cumpri-la. Finalmente, na quarta e ltima etapa, o Estado afasta o
emprego da justia privada, e, atravs de funcionrios seus, resolve os
conflitos de interesses surgidos entre os indivduos, executando, fora se
necessrio, a sentena.

Nessa medida, a ideia de Estado surge, dentre outros fatores, da necessidade de


um ente dotado de poderes para a salvaguarda dos interesses de seus sditos,
ainda que para tanto tenha de impor-lhes sanes, inclusive penais (que passam a
ser seu monoplio).
Quadra evidenciar que descabe no presente trabalho entrar em mincias acerca da
formao do Estado Moderno, mas o ponto sobre o qual no se pode descurar diz
respeito indissocivel linha evolutiva que liga a formao desses entes com a
necessidade de existncia de algum apto a solucionar os conflitos internos para,
assim, atingir a paz social.
A linha evolutiva para a mediao desses conflitos desgua, ento, no processo,
porm conforme tambm anotam GRINOVER et al (opus citatus, p. 29) [...] antes de
o Estado conquistar para si o poder de declarar qual o direito no caso concreto e
promover a sua realizao prtica (jurisdio), houve trs fases distintas: a)
autotutela; b) arbitragem facultativa; c) arbitragem obrigatria.
O processo pode ser considerado, ento, como sendo o fim dessa linha evolutiva e
instrumento por meio do qual se objetiva a soluo de um conflito havido em uma
dada sociedade, tendo como escopo uma deciso final emanada pelo Estado.

16

2.2 CONCEITO

Por processo entende-se o desencadeamento lgico de atos destinados


consecuo de um objetivo, razo pela qual se afirma que a forma, o instrumento,
o modo de proceder.
Tempo

houve

em

que

terminologia

processo

vinha

necessariamente

acompanhada da ideia de algo relacionado atividade jurisdicional. Sabe-se


atualmente, no entanto, que o processo no uma exclusividade do Poder
Judicirio, em razo de existir tambm nos demais Poderes, ou seja, tanto no
Executivo quanto no Legislativo, devido necessidade de utilizao de um mtodo
de atuao.
Sob o ngulo etimolgico, o termo processo significa marcha avante ou
caminhada (do latim, procedere, ou seja, seguir adiante), da porque por muito
tempo ele foi confundido com a simples sucesso de atos processuais, isto , com o
prprio procedimento (GRINOVER et al, opus citatus, p. 295). Atualmente, todavia, a
doutrina apercebeu-se de que a noo de processo vai alm da simples sucesso
de atos que o corporificam, porquanto abarca tambm a prpria relao estabelecida
entre os sujeitos e suas garantias processuais. Os mesmos autores esclarecem e
enfatizam que:
O procedimento , nesse quadro, apenas o meio extrnseco pelo qual se
instaura, desenvolve-se e termina o processo; a manifestao extrnseca
deste, a sua realidade fenomenolgica perceptvel. A noo de processo
essencialmente teleolgica, porque ele se caracteriza por sua finalidade de
exerccio de poder [...]. A noo de procedimento puramente formal, no
passando da coordenao de atos que se sucedem. Conclui-se, portanto, que
o procedimento (aspecto formal do processo) o meio pelo qual a lei
estampa os atos e frmulas da ordem legal do processo.

Assim, a noo de processo algo que ultrapassa o prprio direito processual. , na


realidade, o mais legtimo instrumento para o exerccio do poder, que est presente
nas mais diversas modalidades de atuao estatal (GRINOVER et al, opus citatus,
p. 296).
Em termos conceituais, observa-se existir inmeras teorias acerca da natureza
jurdica do processo, da porque GRINOVER et al (opus citatus, p. 296) chegam a
evidenciar que alguns autores manifestam o enorme ceticismo quanto a uma

17

conceituao cientfica, razo pela qual o caracterizam como um jogo, ou mesmo


como a misria das folhas secas de uma rvore, ou vendo nele uma busca
proustiana do tempo perdido. Dentre tais teorias, as principais so aquelas que
atribuem ao processo a natureza de: a) contrato; b) quase contrato; c) relao
jurdica processual; d) situao jurdica; e) procedimento informado pelo contraditrio
(GRINOVER et al, opus citatus, p. 297).
A (ultrapassada) teoria do processo como contrato, em voga nos sculos XVIII e
XIX, principalmente na Frana, tem ligao com a ideia romana de processo, e
fundava-se no falso pensamento de que as partes se submetem voluntariamente ao
processo e aos seus resultados, realizando verdadeiro negcio jurdico privado.
Sabe-se, contudo, que a noo de aceitao no corresponde realidade, pois o
Estado-Juiz impe sua vontade aos seus sditos independentemente da voluntria
aceitao (GRINOVER et al, opus citatus, p. 297).
No sculo XIX surge tambm na doutrina francesa a noo de processo como um
quase-contrato, teoria que, igualmente, incorreu no mesmo erro de buscar
enquadrar o processo dentre as categorias do direito privado (GRINOVER et al,
opus citatus, p. 298).
A noo de processo como relao jurdica surge somente na segunda metade do
sculo XIX e foi exposta no livro Teoria dos pressupostos processuais e das
excees dilatrias de Blow (GRINOVER et al, opus citatus, p. 298). Tal obra
considerada como sendo a primeira a adotar um mtodo cientfico para explicar o
fenmeno do direito processual, e funda-se na noo de que o elemento central do
processo a relao jurdica estabelecida entre as partes que o integram, dando,
inclusive, muito destaque existncia de dois planos de relao: o de direito
material (aquilo que se discute no processo) e o de direito processual (campo no
qual se discute o direito material). Acentuou, ainda, que o direito processual se
distingue do material pelo fato de naquele se observar a existncia de trs aspectos:
a) a existncia de sujeitos (em regra, autor, ru e Estado-Juiz);
b) por seu objeto (prestao jurisdicional);
c) por seus pressupostos (pressupostos processuais).
As principais crticas que se faz a tal teoria, dizem com o fato de ela cindir o
processo em duas fases, ou mesmo por colocar as partes em uma relao de

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sujeio autoridade do rgo jurisdicional (GRINOVER et al, opus citatus, p. 298299).


A teoria do processo como uma situao jurdica nasce, por seu turno, da crtica
teoria do processo como relao jurdica. Parte de uma metfora com a guerra, na
qual aps a vitria de uma das partes no mais se cogita se ela tinha de fato direito
ou no antes da contenda. Faz, assim, um paralelo entre a guerra e o processo, e
arremata dizendo que quando o direito assume uma posio dinmica (no processo)
ocorre uma verdadeira mudana estrutural, pois onde antes havia direito passam,
agora, a existir apenas chances (incertezas).
Tal teoria, pouco adotada por sinal, tambm no foi imune de crticas, dentre as
quais se pode citar o fato de argumentar pela exceo e no pela regra; ademais,
confunde o processo com o seu objeto: as incertezas no dizem respeito ao
processo e s garantias nele estabelecidas, mas so relativas ao direito material
(GRINOVER et al, opus citatus, p. 299-300).
Dentre todas as teorias citadas, observa-se que nenhuma delas imune de crticas,
embora seja possvel afirmar que a teoria do processo como relao jurdica seja a
mais bem aceita no Brasil.
Cumpre evidenciar, todavia, que hodiernamente tem ganhado corpo a teoria que, ao
analisar a natureza jurdica do processo, evidencia as garantias das partes
envolvidas como sendo sua principal caracterstica.
No se pode negar que um processo no se reduz ao mero procedimento, ou ainda
o fato de que tanto o Estado quanto as partes esto nele ligadas por uma srie de
laos jurdicos atribuindo-lhes, de um lado, poderes, direitos e faculdades, e de outro
deveres, obrigaes, sujeies e nus (GRINOVER et al, opus citatus, p. 300).
Cumpre ressaltar, no entanto, conforme os autores, que a aceitao da teoria da
relao jurdica processual, todavia, no significa afirmar, como foi feito desde o
aparecimento desta, que o processo seja a prpria relao processual, isto , que
processo e relao processual sejam expresses sinnimas.
Nessa esteira, ento, se insere a teoria do processo como procedimento em
contraditrio. Surgida na Itlia, tal teoria repudia a insero da relao jurdica
processual no conceito de processo; prefere falar em mdulo processual,
representado pelo procedimento realizado em contraditrio e prope que, no lugar

19

daquela, se passe a considerar como elemento do processo essa abertura


participao, que constitucionalmente garantida (GRINOVER et al, opus citatus, p.
303).
Assim, numa espcie de fuso entre tais teorias, GRINOVER et al (opus citatus, p.
303) preferem afirmar que o processo o procedimento realizado mediante o
desenvolvimento da relao entre seus sujeitos, presente o contraditrio, o que se
coaduna com a garantia estampada no Art. 5, inc. LV, da Constituio Federal,
segundo o qual so garantidos a ampla defesa e o contraditrio aos litigantes, seja
em processo judicial, seja em processo administrativo.

2.3 FINALIDADE

Conforme bem assinala ALVIM (opus citatus, p. 15), a existncia de um processo


no garantia de uma soluo justa, mas pela nota de imparcialidade a que so
conferidos poderes ao Estado, afigura-se tal modalidade de resoluo de litgios
como sendo aquela em que existe uma maior probabilidade de prolao de uma
melhor deciso.
Nesse contexto, no demais considerar que, afora as possibilidades de
autocomposio ainda existentes em nossa legislao, mormente quando se tratar
de direitos disponveis, o processo corresponde ao meio de soluo que mais se
coaduna com o atual Estado Democrtico de Direito, tendo em conta os direitos e as
garantias individuais.
Todavia, no se concebe a existncia de um processo (seja ele judicial ou
administrativo), bem assim o conjunto de regras a ele atreladas, se nele no se
perfaz o fim a que se destina, ou seja: a produo de uma deciso justa, e
preferencialmente clere (FRANCO, 2008, p. 62). Nesse particular - reala o autor
falar em devido processo legal (ponto sobre o que h de se debruar mais
detidamente no momento oportuno) nada mais que tratar desse aspecto.
Ademais, cumpre assinalar que a tutela prestada no processo (seja ele judicial ou
administrativo) no se limita apenas a seu resultado, isto , aos seus efeitos finais,

20

mas, sobretudo, abarca ainda a utilizao dos meios adequados para essa
prestao estatal.
Importante salientar, ainda, que se de um lado deve-se evidenciar a importncia da
existncia de um processo para a soluo dos mais diversos conflitos, de outro no
se pretende aqui, como fazem alguns, sobrep-lo ao prprio direito material: que
tanto as normas de direito material quanto as de direito processual possuem campo
de incidncia que lhes prprio; aquelas no podem muitas vezes ser satisfeitas
sem a existncia de um regular processo, e estas somente so concebveis como
instrumento apto a materializar direitos previamente concebidos.
A necessria distino entre direito material e direito processual pode ser bem
explicitada na seguinte passagem:
Para Chiovenda e outros, o ordenamento jurdico cinde-se nitidamente entre
direito material e direito processual (teoria dualista do direito): o primeiro dita
as regras abstratas e estas tornam-se concretas no exato momento em que
ocorre o fato enquadrado em suas previses, automaticamente, sem qualquer
participao do juiz. O processo visa apenas atuao (ou seja, realizao
prtica) da vontade do direito, no contribuindo em nada para a formao das
normas concretas; o direito subjetivo e a obrigao preexistente a ele.
Para outros, como Carnelutti, o direito objetivo no tem condies para
disciplinar sempre todos os conflitos de interesses, sendo necessrio o
processo, muitas vezes, para a complementao dos comandos da lei. O
comando contido nesta incompleto, como se fosse um arco que a
sentena completa, transformando-o em crculo. Para quem pensa assim
(teoria unitria do ordenamento jurdico), no to ntida a ciso entre o
direito material e o direito processual: o processo participa da criao de
direitos subjetivos e obrigaes, os quais s nascem efetivamente quando
existe uma sentena. O processo teria, ento, o escopo de compor a lide (ou
seja, de editar a regra que soluciona o conflito trazido a julgamento)
(GRINOVER et al, opus citatus, p. 45).

Feita essa necessria distino, pode-se afirmar que a finalidade do processo se


coaduna com a prpria razo de ser do Estado Moderno, ou seja, trata-se de meio
efetivo para a realizao da justia (GRINOVER, opus citatus, p. 43). Assinalam os
autores, ainda, que: afirma-se que o objetivo sntese do Estado contemporneo o
bem comum e, quando se passa ao estudo da jurisdio, lcito dizer que a
projeo particularizada do bem-comum nessa rea a pacificao com justia
(idem, ibidem).
Como se disse, a utilizao de um determinado tipo de processo est relacionada
com a prpria atuao estatal, ou melhor, com o campo de incidncia dessa
atuao.

21

No Brasil, tal qual nas naes que adotam o sistema de tripartio do poder, o
desempenho das funes legislativa, executiva e jurisdicional conferido aos
Poderes Legislativo, Executivo e Judicirio, respectivamente, cada qual com suas
competncias estabelecidas na Constituio Federal (SILVA, J., 2007, p. 106).
Assim, embora no se deva confundir a distino entre as funes (tpicas) de cada
poder com a prpria separao entre os Poderes, existe entre ambas as coisas uma
conexo necessria (idem, ibidem, p. 108).
Nessa medida, cumpre assinalar que cada um desses Poderes se vale de um meio
prprio para sua atuao, e pode-se identificar que todos se utilizam, em maior ou
em menor grau, de uma modalidade de processo, sendo certo que o processo
administrativo comum a todos. Logo, o termo processo passa a designar, em
sentido amplo, a maneira pela qual os trs Poderes se utilizam para a realizao de
seus objetivos.
certo que, em razo da prpria atividade a ser desempenhada, os processos
judicial, administrativo e legislativo, possuem caractersticas prprias, que so
peculiares a cada um deles, mas mesmo assim pode-se afirmar que existem alguns
preceitos estabelecidos da seara Constitucional comuns aos dois primeiros, algo
que se mostra de suma importncia para seu estudo.

2.4 ESPCIES

No desempenho de suas funes definidas no corpo da Constituio Federal, os trs


Poderes utilizam-se, precipuamente, de espcies de processos distintos, cada qual
com caractersticas que lhes so prprias.
Diz-se, assim, que no desempenho da funo legislativa, o Poder Legislativo utilizase de um processo legislativo para a criao das normas gerais e abstratas de sua
alada. Igualmente, fala-se na existncia do processo judicial (civil, penal,
trabalhista, etc.) quando se pretende referir-se atuao do Poder Judicirio no
desempenho de sua funo jurisdicional.

22

Por fim, grande parte dos atos ligados funo administrativa, proeminente no
Poder Executivo, corporifica-se por meio de um processo administrativo, de cujo
gnero decorre o processo administrativo disciplinar, que ser estudado no captulo
seguinte.

2.4.1 Processo legislativo

O processo legislativo est relacionado com o mecanismo constitucionalmente


estabelecido (Art. 59 a 69 da Constituio Federal) para a criao das normas e atos
da alada do Poder Legislativo, e aqui abordado com a finalidade de diferen-lo
dos processos (judicial e administrativo), nos quais existe a figura dos litigantes (ou
acusados).
Compreende [...] o conjunto de atos (iniciativa, emenda, votao, sano, veto)
realizados pelos rgos legislativos visando formao das leis constitucionais,
complementares e ordinrias, resolues e decretos legislativos (SILVA, J., opus
citatus, p. 524).
Trata-se, como se disse, do processo de formao das normas, no havendo,
assim, a participao de particulares que almejam uma deciso estatal que ponha
fim a um determinado litgio.

2.4.2 Processo Judicial

O processo judicial, como o prprio nome est a indicar, trata-se da espcie de


processo mais estudada e corresponde ao meio pelo qual o Estado-Juiz presta a
tutela jurisdicional, pondo termo a lides por meio de decises definitivas e com
carter cogente.
Cuida-se, assim, de instrumento destinado a compor conflitos de interesses, de
acordo com o caso concreto (SILVA, J., opus citatus, p. 553), ou seja, destina-se,

23

em ltima anlise, prolao de uma determinada deciso com o escopo de se


alcanar a paz social.
Tendo por base todo o ordenamento jurdico vigente, de acordo com a matria
veiculada o juiz atua decidindo o direito segundo regras pr-estabelecidas (leis,
costumes ou normas gerais) e perfaz o papel singular do Poder Judicirio,
consubstanciado na distribuio da justia.
No pode, contudo, estabelecer critrios particulares, privados ou prprios, para,
assim, resolver conflitos que lhe so postos apreciao, salvo nas hipteses do
mandado de injuno (Art. 5, inc. LXXI da Constituio Federal), situao na qual o
Poder Judicirio, devido inao do Poder Legislativo, acaba por criar a norma
aplicvel ao caso concreto, nas hipteses de omisso legislativa que torne invivel o
exerccio dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes
nacionalidade, soberania e cidadania.
Conforme nota de SILVA, J. (opus citatus, p. 554), nenhuma dificuldade se
apresenta entre diferir jurisdio de legislao, pois nesta esto os comandos de
ordem geral e abstrata, ao passo que a jurisdio as aplica na soluo das lides.
A sentena judicial, portanto, acaba por criar verdadeira norma de cunho individual e
concreto. Individual, porque somente alcana os envolvidos na contenda, e concreta,
porque a partir de sua definitividade costuma-se dizer que a deciso faz lei entre as
partes. Assim:
Veja-se, por exemplo, um ato jurisdicional tpico: a sentena. Esse ato, em
termos muito simplificados, declara: Condeno Fulano a restituir a Beltrano
determinado imvel, e mais os honorrios do advogado e os frutos do imvel
pelo tempo que indevidamente o ocupou. Est a o dispositivo de uma
sentena. Dirige-se a determinada pessoa, com determinada ordem
individualizada e concreta sobre um bem especificado. Compare-se com o
ato legislativo, a lei, que diz, por exemplo: aquele que por vinte anos,
independentemente do justo ttulo e boa-f, possui o imvel como seu,
adquirir-lhe- o domnio. Dirige-se, indistintamente, a todas as pessoas. No
d nada a ningum especificamente. Confere a todos um direito
abstratamente, e aquele que vier a encontrar-se na situao de fato descrita
no texto da lei ter um direito subjetivo ao objeto nela indicado (SILVA, J.,
opus citatus, p. 554).

Ora, se de um lado certo que a distino entre o papel da jurisdio e da


legislao se afigura como algo simples, o mesmo no ocorre quando se pretende
diferenciar jurisdio de administrao.

24

CHIOVENDA atribui administrao uma atividade primria (ou originria), pois a


desenvolve no seu prprio interesse, ao passo que jurisdio caberia uma
atividade secundria (ou coordenada), e isso devido ao fato de o juiz substituir a
vontade de algum. Nessa medida, o juiz julga a respeito de outrem e em razo da
vontade da lei concernente a outrem; a administrao decide a respeito da prpria
vontade (1965, p. 12, apud SILVA, J., opus citatus, p. 555).
Citando os problemas decorrentes das dificuldades em se estabelecer um parmetro
cientfico para estabelecer o limite entre a funo administrativa e a jurisdicional, e
que no tenha por base to somente o critrio orgnico, decorrente do prprio texto
constitucional, MEDAUAR (2008, p. 47) chega a sustentar ser essa inclusive uma
das razes pelas quais ainda existe, nos dias atuais, aqueles que neguem a
existncia de um processo administrativo, e que assim preferem a expresso
procedimento

administrativo,

ainda

que

da

tambm

decorram

inmeros

inconvenientes terminolgicos, posto que o termo procedimento incompleto, pois


no abarca o fenmeno em sua plenitude.
A questo ganha ainda mais importncia por que para alguns a referncia a
processo administrativo somente faria sentido em pases como a Frana, nos quais
subsiste a figura do contencioso administrativo, ou seja, as causas que envolvem a
Administrao no so apreciadas pelo Poder Judicirio, tal qual ocorre no Brasil,
que adotou o sistema de jurisdio una. Sobre pases que adotam sistema diverso
do que tem lugar no Brasil, cumpre assinalar que:
Originou-se na Frana a ideia de vedar ao Judicirio o julgamento de
controvrsias que envolvessem a Administrao, em virtude, principalmente,
de uma interpretao peculiar do princpio da separao de poderes,
combinada a fatos histricos a ocorridos antes da Revoluo Francesa. [...]
Tal modo de soluo de controvrsias suscitadas pela atuao administrativa
difundiu-se em muitos pases europeus no sculo XIX e at no Brasil a
Constituio de 1824 criou um Conselho de Estado, depois extinto pelo Ato
Adicional de 1834, reinstaurado em 1841 e abolido tacitamente pelo Dec. 1,
de 15 de novembro de 1889 (MEDAUAR, opus citatus, p. 48-49).

Observa-se que o termo contencioso administrativo nasceu, no Brasil, como algo


ligado noo de um julgamento posto aos cuidados da Administrao, que atuaria
a um s tempo como juiz e parte (MEDAUAR, opus citatus, p. 49).
Ainda segundo a autora, posteriormente na Frana, e tambm em outros pases,
reconheceu-se ao Conselho de Estado (ou a outro rgo que realizasse esse papel)

25

a independncia para decidir, motivo pelo qual desde ento se formou uma
verdadeira jurisdio administrativa.
Logo, e com o rigor tcnico necessrio, empregar o termo contencioso
administrativo somente se afigura como correto no caso de pases dotados de uma
jurisdio autnoma, independente tanto da administrao quanto da jurisdio
comum, e que tenha como papel resolver litgios referentes Administrao Pblica,
tal qual ocorre, por exemplo, na Frana, na Itlia e na Blgica (MEDAUAR, opus
citatus, p. 49).
Sendo assim, no correto referir-se no Brasil existncia, dentre ns, de um
contencioso administrativo. Incorrem, ento, em erro, os que confundem a existncia
de um processo administrativo com a figura do contencioso administrativo, pois no
so expresses sinnimas.
Ademais, pela garantia estampada no Art. 5, inc. XXXV, da Constituio Federal,
segundo a qual a lei no excluir da apreciao do Poder Judicirio leso ou
ameaa a direito, as decises emanadas pelo Poder Executivo (a includas as
decorrentes do processo administrativo) so passveis de apreciao pelo Poder
Judicirio.
Retornando ao ponto relativo possibilidade de se demarcar o espectro de atuao
entre a funo administrativa e a jurisdicional (e, por conseguinte, entre o processo
administrativo e o judicial), MEDAUAR (opus citatus, p. 50), acentua que talvez to
importante quanto identificar suas dissemelhanas seja apontar suas pedras de
toque, isto , os pontos que, sendo comuns a ambos, permitam uma melhor
compreenso da matria. Partindo dessa noo, a autora esclarece que inmeras
tentativas de tangenciar as funes administrativa e jurisdicional foram buscadas ao
longo da histria, contudo sem se obter em contrapartida um critrio mais seguro.
Fala, assim, em:
a) critrio fim, segundo o qual a funo administrativa objetivava os fins do
Estado, ao passo que a funo jurisdicional os fins daqueles particulares
interessados no ato emanado;
b) parmetro do litgio, que se baseia na ideia de que a funo jurisdicional tem
por fim a soluo de uma lide, algo que inexistiria na funo administrativa;

26

c) critrio da unilateralidade da atuao administrativa (desigualdade entre os


sujeitos) e bilateralidade da atuao jurisdicional (igualdade), pois consoante
tal pensamento o critrio distintivo seria o fato de a administrao ser parte
envolvida, ao passo que jurisdio seria isenta;
d) hierarquia e dependncia versus inexistncia de hierarquia e independncia,
as primeiras presentes na funo administrativa e as ltimas na jurisdicional;
e) parmetro quanto ao modo de atuao, ou seja, se de ofcio ou mediante
provocao; consoante tal corrente, o fator distintivo seria que a funo
jurisdicional

somente

age

mediante

provocao,

ao

passo

que

administrativa pode agir tanto por provocao quanto de ofcio;


f) outra baliza que se tentou traar diz com a obrigatoriedade de decidir, pois
alguns chegam a afirmar que somente estaria presente no desempenho da
funo jurisdicional, e isso como se normas diversas no cominassem
inclusive sanes para a omisso administrativa;
g) outro meio de diferenciao buscado seria quanto aos efeitos do ato, pois
consoante essa linha de pensamento a funo jurisdicional, diferentemente da
administrativa, atingiria somente as partes em litgio;
h) por fim, o ltimo critrio distintivo seria o de que na funo jurisdicional h
duas partes diante de um juiz, que atua de modo substitutivo em nome do
Estado, enquanto que na administrativa, em regra, h apenas duas partes
(MEDAUAR, opus citatus,. p. 51-54).
Observa-se que a longa enumerao de correntes que buscaram explicar a linha
demarcatria entre funo administrativa e funo jurisdicional j algo suficiente
para demonstrar que, isoladamente, nenhuma delas imune de crtica, da porque,
e j falando em matria de processo, ser importante traar as semelhanas
existentes.
No por outro motivo que existem correntes que chegam mesmo a negar a
existncia de distino entre administrao e jurisdio. Para tal linha de
pensamento, a bem da verdade existiriam apenas duas funes de Estado: a
legislao e a aplicao da lei, e esta se desdobraria em administrao e jurisdio
(SILVA, J., opus citatus, p. 555).
Ressalte-se que quando se leva em conta apenas as chamadas funes tpicas de
um determinado Poder, ou seja, o principal papel que desempenha, segundo o texto

27

constitucional, acabam sendo menores as dificuldades para traar o liame entre


funo judicial e administrativa, bem assim das modalidades processuais de que se
valem para execut-las. O problema surge, no entanto, pelo fato de tais Poderes
realizarem tambm as chamadas funes atpicas, e atpicas porque justamente
correspondem a uma funo tpica de outro Poder.
Exemplificando: a compra de material de expediente se d por meio de um processo
administrativo (licitatrio) conforme o estabelecido pela Lei n. 8.666/93, que institui
normas para licitaes e contratos firmados pela Administrao Pblica para todos
os Poderes da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios; igualmente,
os ilcitos administrativos praticados pelos servidores em geral (faltas disciplinares)
ho de ser apurados e julgados conforme normas de processo administrativo de
cunho disciplinar, de acordo com estatuto prprio. Nesses casos, est-se diante do
exerccio da funo administrativa, ainda que tais atos sejam praticados por
integrantes de outros Poderes que no o Executivo.
Assim, verifica-se, por exemplo, que alm de ser importante a identificao de um
ncleo comum aos processos judiciais e administrativos, cumpre ressaltar tambm o
fato de que a utilizao deste no exclusividade do Poder Executivo (no
desempenho de suas funes tpicas), mas tambm largamente usado pelos
demais Poderes.

2.4.3 Processo administrativo

As consideraes mais aprofundadas acerca do processo administrativo sero


tecidas no captulo seguinte, onde se tratar especificamente do processo
administrativo disciplinar. Por ora, cumpre evidenciar o fato de que embora sua
utilizao se d com maior incidncia na atuao do Poder Executivo, no
corresponde tal modalidade processual a uma exclusividade desse Poder. Liga-se,
ao contrrio, ao desempenho de atividades relacionadas funo administrativa,
seja no prprio Poder Executivo, como se disse, seja no Poder Legislativo ou no
Poder Judicirio.

28

Nessa esteira, no h como falar em processo administrativo sem que se aborde a


temtica referente funo administrativa.
Conforme salientado anteriormente, muitos critrios foram utilizados pela doutrina
para buscar tangenciar a funo administrativa para, assim, diferi-la da jurisdicional.
Nessa medida, existem aqueles que a caracterizam como a funo que tem por
escopo o atendimento concreto do interesse pblico. Diferiria, portanto, da legislativa
pelo fato de esta ter em conta o interesse abstrato e da jurisdicional pelo fato de ela,
embora atue no atendimento do interesse concreto, apenas o faz entre as partes
envolvidas em um litgio (MEDUAR, opus citatus, p. 55).
Incorre em erro tal corrente, porquanto existem casos em que a atuao
administrativa pode alcanar to somente um nmero restrito de indivduos, tal qual
em um processo de desapropriao por interesse pblico, da, portanto, em nada a
se distinguiria da funo jurisdicional (salvo o carter de definitividade das decises
desta ltima).
Outros estabelecem os critrios imediatos e mediatos para definir a funo
administrativa. Consoante tal corrente, a funo administrativa, diferentemente das
demais, atuaria de modo imediato na satisfao do interesse pblico. Difcil, no
entanto, definir o que seria tal atuao imediata e a mediata (MEDUAR, opus citatus,
p. 56).
A corrente que se filia ao critrio orgnico de repartio de competncias liga a
funo administrativa atuao do Poder Executivo (MEDUAR, opus citatus, p. 56).
Incorre, no entanto, em erro, pois no explica a contento o fato de tal funo tambm
poder ser exercida no mbito de outros Poderes, embora de modo atpico.
Existem ainda aqueles que se utilizam do critrio residual, isto , funo
administrativa corresponderia o plexo de atividades no compreendidas na funo
legislativa e na jurisdicional (MEDUAR, opus citatus, p. 56). Tal concepo, embora
se afigure como til e de fcil compreenso, tem o inconveniente de no utilizar um
critrio cientfico como mtodo, pois argumenta pela exceo.
H tambm os que buscam definir a funo administrativa como sendo uma
atividade subordinada, no autossuficiente, pois se destinaria realizao das
diretrizes polticas fixadas por autoridades de cpula ou pela lei (MEDUAR, opus
citatus, p. 56).

29

A crtica que se faz a tal corrente de pensamento advm do fato de a atuao da


Administrao no se dar, necessariamente, de ofcio, ou seja, como uma simples
aplicadora de prescries normativas previamente estabelecidas. Ao contrrio, em
muitas hipteses a prpria Administrao que fixa o modo de atuao diante do
caso concreto.
Por fim, tambm se buscou adotar um conceito de funo administrativa tendo em
conta o elemento teleolgico. Consoante tal pensamento, a funo administrativa
teria uma tarefa realizativa, isto , trata-se de verdadeira atividade de realizao
de tarefas e atribuies, sendo fundamental para sua identificao a projeo para
os fins sociais, percebidos como obrigatrios (MEDUAR, opus citatus, p. 57).
As restrio que se pode fazer a tal critrio distintivo liga-se ao fato de que nas
demais funes (legislativa e jurisdicional) tambm existem atribuies e tarefas que
se projetam para os fins sociais.
V-se, assim, que antes mesmo de se fixar os parmetros de atuao (campo de
incidncia) de um processo administrativo, de modo a diferen-lo do processo
judicial, o problema j ocorre quando da delimitao do prprio espectro de atuao
da funo administrativa.
Buscando pr termo incompletude das teorias acima apontadas, MEDAUAR (opus
citatus, p. 57), aps reconhecer a dificuldade de se estabelecer um conceito,
constri sua prpria noo acerca da funo administrativa:
Na verdade, apresenta-se difcil a caracterizao objetiva da funo
administrativa. As atividades que dela decorrem so desprovidas de
unicidade, fragmentando-se em inmeras variedades, cada qual com
caractersticas jurdicas e tcnicas prprias. A dificuldade de caracterizar
sempre existiu, mas na poca atual se agravou porque a Administrao se
tornou mais complexa e se mostra cada vez mais como ncleos diferenciados
que realizam atividades de diferentes tipos, sob formas e regimes tambm
diversos.
Pode-se tentar uma sntese, para identificar a funo administrativa como a
atividade estatal que: coadjuva as instituies polticas de cpula no exerccio
da atividade de governo: organiza a realizao das finalidades pblicas
postas pelas instituies polticas de cpula; produz servios, bens e
utilidades para a populao.
Aspecto relevante a se salientar diz respeito atividade multiforme da funo
administrativa, expressando-se portanto, em amplo e complexo leque de
atuaes. Falta funo administrativa a unicidade (ou uniformidade),
predominante na funo jurisdicional e na funo legislativa.

de se evidenciar, ento, que o exerccio das diversas atividades decorrentes da


funo administrativa pode ou no depender da prvia existncia de um processo

30

administrativo, meio segundo o qual a Administrao decide algumas questes de


sua alada.
Assim, a instaurao de regular processo administrativo deve ocorrer: na
decretao de sanes, disciplinares ou no; no consentimento de atividades que
possam prejudicar terceiros ou a coletividade; e ainda quando a funo
administrativa sujeita-se, no seu exerccio, observncia de igualdade entre
administrados (MEDAUAR, opus citatus, p. 57).
O grande leque de atividades decorrentes da funo administrativa, alm de
dificultar a compreenso do conceito de tal funo, acaba tambm por contaminar
a prpria conceituao acerca do que seja o processo administrativo.
Nessa esteira, observa-se que a expresso processo administrativo muitas vezes
adotada sem o necessrio rigor cientfico, da porque DI PIETRO (2002, p. 505-506)
identificou o uso do termo nas seguintes acepes:
1. num primeiro sentido, designa o conjunto de papis e documentos
organizados numa pasta e referentes a um dado assunto de interesse do
funcionrio ou da administrao;
2. ainda usado como sinnimo de processo disciplinar, pelo qual se apuram
as infraes administrativas e se punem os infratores; nesse sentido
empregado no artigo 41, 1, da Constituio Federal, quando diz que o
servidor pblico estvel s perder o cargo em virtude de sentena judicial
transitada em julgado ou mediante processo administrativo em que lhe seja
assegurada ampla defesa;
3. em sentido mais amplo, designa o conjunto de atos coordenados para a
soluo de uma controvrsia no mbito administrativo;
4. como nem todo processo administrativo envolve controvrsia, tambm se
pode falar em sentido ainda mais amplo, de modo a abranger a srie de atos
preparatrios de uma deciso final da Administrao.

Assinala PORTA (2003, p. 43) que o fenmeno da processualidade no condio


exclusiva do direito, eis que presente em diversos outros campos da vida humana.
Ressalta o autor que existiria inclusive uma processualidade da vida humana em
sentido amplo, consistente em todo o caminho percorrido desde o nascimento at a
morte. Sustenta, ainda, existir o que denomina de processualidade restrita, que
consiste nos diferentes processos em que vivemos imersos no dia-a-dia e que se
desenvolvem por intermdio de aes direcionadas para os mais diversos fins
(idem, ibidem).

31

Logo, o fenmeno da processualidade algo que ultrapassa a prpria atuao


estatal: algo inerente necessidade de estabelecimento de um mtodo de atuao
diante de determinada situao.
nesse campo que se insere o processo administrativo a terminologia adequada
no pacfica, havendo, ainda, menes a procedimento administrativo, o que se
apresenta como incorreto, dado o fato de que esta expresso traduz to somente
parte da questo (o ato) que corresponde maneira pela qual a Administrao se
vale para a implementao de seu fim de bem gerir a res (coisa) pblica, naquelas
hipteses acima estampadas, ou seja, nas quais exista a possibilidade de atingir
direitos dos particulares.
Importante realar, mais uma vez, nesse ponto, que quando se fala em
Administrao, no se est a referir-se to somente ao Poder Executivo, mas
tambm ao Legislativo e ao Judicirio. Isso porque, embora para o cumprimento de
suas finalidades precpuas esses Poderes se valham, respectivamente, dos
processos legislativo e judicial, dada a natureza das atividades que desempenham,
deve-se ter em mente que tambm realizam atos de administrao no exerccio
atpico da funo administrativa cujo principal corresponde ao trato com seus
servidores razo pela qual tambm utilizam o processo administrativo.
MELLO (2002, p. 429), de quem no escapou a observao a respeito da falta de
consenso na legislao e na doutrina a respeito da nomenclatura adequada para
designar tal modalidade de atuao Estatal, se processo ou procedimento, ressalta o
seguinte:
Procedimento administrativo ou processo administrativo uma sucesso
itinerria e encadeada de atos administrativos que tendem, todos, a um
resultado final conclusivo. Isto significa que para existir o procedimento ou
processo cumpre que haja uma seqncia de atos conectados entre si, isto ,
armados em uma ordenada sucesso visando a um ato derradeiro, em vista
do qual se comps esta cadeia, sem prejuzo, entretanto, de que cada um
dos atos integrados neste todo conserve sua identidade funcional prpria, que
autoriza a neles reconhecer o que os autores qualificam como "autonomia
relativa". Por conseguinte, cada ato cumpre uma funo especificamente sua,
em despeito de que todos co-participam do rumo tendencial que os encadeia:
destinam-se a compor o desenlace, em um ato final, pois esto ordenados a
propiciar uma expresso decisiva a respeito de dado assunto, em torno do
qual todos se polarizam.

Igualmente, FILHO, R. (2003, p. 39-46) depois de apontar as diversas posies de


autores de renome sobre o tema, assevera que o procedimento corresponde a um

32

requisito fundamental atuao estatal, pois diz respeito forma como se


exterioriza sua competncia. Chama a ateno, no entanto, para o fato de que todo
processo procedimento, porm a recproca no verdadeira: nem todo
procedimento converte-se em processo (idem, ibidem, p. 51).
Evidenciando a importncia do processo, FRANCO (opus citatus, p. 62) afirma que:
processo , como j mencionado, um mtodo de trabalho. So passos necessrios
para atingir determinada finalidade, praticados por todos aqueles que sero
atingidos, ou so responsveis, por essa finalidade.
Cumpre assinalar que a necessidade da existncia do processo administrativo surge
do crescente controle da atuao Estatal. No basta, assim, saber to somente os
fins a que se destina a Administrao Pblica. Necessrio desvendar o iter
(caminho) adotado para a soluo de determinada situao.
Assim a atuao Estatal, por adentrar, em regra, no mbito das liberdades dos
administrados, necessita ser conhecida e controlada no somente na verificao de
sua deciso final, mas tambm no modo como se chegou a tal deciso, algo que
somente possvel se houver normas disciplinantes de sua atividade.
Na lio de MELLO (opus citatus, p. 432), no estado de direito todos os
administrados tm no s a garantia de que o poder pblico est adstrito aos fins
que a lei especifica, mas tambm quanto ao modo de agir, pois deve perseguir seu
objetivo pela maneira previamente determinada, e conclui: dizer: a contrapartida
do

progressivo

condicionamento

da

liberdade

individual

progressivo

condicionamento do modus procedendi da Administrao, e prossegue afirmando


(opus citatus, p. 433):
certo, como bem salienta Carlos Ari Sundfeld, que entre a lei e o ato
administrativo existe um intervalo, pois o ato no surge como um passe de
mgica. Ele produto de um processo ou procedimento atravs do qual a
possibilidade ou a exigncia suposta na lei em abstrato passam para o plano
da concreo. No procedimento ou no processo se estrutura, se compe, se
canaliza, e a final se estampa a "vontade" administrativa. Evidentemente,
existe sempre um modus operandi para chegar-se a um ato administrativo
final.

Segundo bem anotou PERES (1964, apud MELLO, opus citatus, p. 435), para a
caracterizao de um determinado expediente como processo administrativo, ou se
preferir procedimento, necessrio a conjugao de alguns elementos:

33

[...] a) em primeiro lugar necessrio que cada um dos atos componentes da


cadeia seqencial possua uma autonomia, uma individualidade jurdica, de
sorte a conservar sua identidade prpria, embora tal autonomia seja
qualificada - como o , por muitos autores - de "relativa", uma vez que, ainda
que possuindo finalidades prprias, todos se encartam no plexo orientado
para um resultado final, de maneira a integrar a fattispecie, conforme diz
Pietro Virga; b) em segundo lugar, estes vrios atos tm que estar
conectados em vista da unidade de efeito jurdico que se expressa no ato
final; c) o terceiro requisito o de que haja entre os vrios atos uma relao
de causalidade de tal modo que um dado ato suponha o anterior e o ato final
suponha a todos eles.

CRETELLA JNIOR (1999, p. 19) pem em evidncia o fato de que o termo


processo administrativo, na prtica quotidiana, formado por alguns princpios
tericos que o norteiam e ainda por precisas regras do direito positivo, sejam elas de
cunho constitucional, legal ou estatutrio. Reala, ainda, que:
Processo administrativo o prprio processo, no mbito da Administrao,
mas levando-se em conta a divergncia dos autores a respeito, bem como as
vrias acepes da expresso, preciso cuidado especial para, numa s
definio, designar a realidade que esta expresso pretende.
Assim, em acepo ampla, processo administrativo refere-se ao conjunto
sistemtico de atos dos rgos da Administrao que, em matria
administrativa, objetiva a concretizao das relaes jurdicas reguladas,
anteriormente, pelo direito substantivo (idem, ibidem, p. 20).

Conforme muito bem salienta DI PIETRO (opus citatus, p. 507), o processo


administrativo pode ser classificado, nos pases que admitem a jurisdio
administrativa, em contencioso e gracioso.
No processo gracioso, modelo adotado pelo Brasil, compete aos prprios rgos da
Administrao a incumbncia de fazer atuar a lei, com fim ao exerccio das
atribuies estatais. H, no entanto, segundo a autora, conforme j assinalado,
pases que, por razes histricas, trilharam pela criao de um contencioso
administrativo. Em tal hiptese, o processo administrativo se desenvolve perante um
rgo independente e imparcial, competente para solucionar as questes surgidas
entre a Administrao e o administrado DI PIETRO (opus citatus, p. 507).
Embora a Constituio de 1967 tenha previsto no Brasil a figura do contencioso
administrativo, com o escopo de dirimir questes decorrentes das relaes de
trabalho de servidores com a Unio, autarquias e empresas pblicas federais, alm
de questes financeiras e previdencirias, inclusive as relativas a acidentes de
trabalho, tal situao no se afigurava como verdadeiro contencioso. Isso porque as
decises na esfera administrativa no tinham fora de coisa julgada, pois a

34

Constituio apenas impunha a necessidade de exaurimento da via administrativa


para a postulao em juzo (DI PIETRO, opus citatus, p. 508). Cabia, assim, ao
Judicirio, decidir com o carter de definitividade tais questes.
Todavia, cumpre assinalar que com o advento da Constituio Federal de 1988 tal
situao (necessidade de exaurimento da via administrativa para ingresso em juzo)
passou a no mais existir. Dessa forma, o contencioso, que a bem da verdade
sequer existia em razo da no definitividade das decises administrativas, no foi
nem mesmo mencionado no novo texto constitucional, caindo por terra tal
necessidade de se esgotar a via administrativa.
A nica exceo a tal situao corresponde chamada justia desportiva, pois
conforme Art. 217, 1, da Constituio Federal: O Poder Judicirio s admitir
aes relativas disciplina e s competies desportivas aps esgotarem-se as
instncias da justia desportiva, regulada em lei.
Portanto, no h, no Brasil, a figura do contencioso administrativo, competindo ao
Poder Judicirio analisar e controlar os atos da Administrao, ex vi do Art. 5, inc.
XXXV, da Constituio Federal: "a lei no excluir da apreciao do Poder Judicirio
leso ou ameaa a direito".
Nesse contexto, verifica-se que compete ao Poder Judicirio resolver, em ltima
instncia, questes surgidas entre administrao e administrados, deciso essa com
o carter de definitividade, atributo decorrente da chamada coisa julgada.
Como dito anteriormente, as garantias dos servidores em processo administrativo
disciplinar (PAD) ganharam o status de dogma constitucional, pois o legislador
constituinte inseriu no Art. 5 da Constituio Federal o direito ao devido processo
legal e ampla defesa e contraditrio.
Sabe-se que o processo administrativo tem por misso precpua tangenciar a
atuao Estatal num determinado caso concreto. Assim, embora se possam
identificar caractersticas que lhes so comuns, algumas dissemelhanas ho de
existir, de acordo com o objeto versado.
Seja como for, quadra evidenciar que o processo administrativo atende a um duplo
objetivo: resguarda os administrados (ou servidores) e concorre para uma atuao
administrativa mais transparente, o que permite com maior facilidade o controle dos
atos administrativos pelo Poder Judicirio.

35

3 O PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR

3.1 CONCEITO

Falar na existncia de um processo administrativo disciplinar implica reconhecer


estar superada a clssica noo segundo a qual o fenmeno da processualidade
estaria adstrito somente funo jurisdicional. Nesse sentido, a Constituio Federal
de 1988, ao prever expressamente tal espcie de processo, ps fim a tal discusso,
pois em seu texto reconheceu claramente a existncia de processos no apenas no
desempenho da funo jurisdicional, mas tambm em determinados atos da alada
da funo administrativa, mormente quando possam atingir interesses de
particulares ou de servidores que integram os quadros da Administrao.
Conforme j assinalado anteriormente, embora no processo administrativo no se
verifique uma identidade quanto aos sujeitos do processo da mesma forma como
ocorre no processo judicial, pois neste existem sempre trs partes (autor, ru e juiz)
ao passo que no processo administrativo h duas partes (particular e administrao),
possvel notar a existncia de um ncleo de processualidade comum a ambos os
processos, porquanto, por adentrarem ao mbito das liberdades individuais, ho de
respeitar os postulados jurdicos inerentes ao direito de contraditrio.
Nessa esteira, pode-se afirmar que tanto no processo judicial quanto no
administrativo (a includo o disciplinar) sobressaem caractersticas que so pedras
de toque entre eles, posto que revelam a existncia de um ncleo comum a ambos,
quais sejam:
a) fieri e factum, isto , algo que est se realizando e algo realizado;
b) sucesso encadeada de atos, na qual a ocorrncia de um provoca a
realizao de outro;
c) sucesso necessria, pois o encadeamento sucessivo no ocorre ao acaso,
sendo portanto obrigatria;
d) figura jurdica diversa do ato, uma vez que a processualidade diz com o vir a
ser de um ato, ao passo que este o feito;

36

e) correlao com o ato, porquanto embora sejam fenmenos distintos, a


processualidade instrumento para a prtica do ato;
f) obteno de resultado unitrio, isto , o processo desgua em um elemento
final, resultante na deciso adotada;
g) pluripessoalidade necessria, que diz respeito ao papel desempenhado por
cada uma das partes envolvidas;
h) interligao dos sujeitos, pois a cada um dos envolvidos so atribudos
direitos, deveres, nus, poderes e faculdades;
i) pertinncia ao exerccio do poder, uma vez que no processo traam-se as
diretivas de como a atuao estatal h de se pautar, tendo em conta os
direitos fundamentais dos envolvidos (MEDAUAR, opus citatus, p. 28-32).
Adotando conceituao prpria, LUZ (1999, p. 40-42) pe em evidncia apenas a
existncia de duas modalidades de processo administrativo: o comum e o disciplinar.
Por processo administrativo comum, entende ser aquele em que h um conjunto de
papis (documentos) organizados de modo sequencial, dentro de uma autuao ou
capa, havendo ali inmeros despachos, informaes, juntadas, pareceres etc., de
modo a moviment-lo, tendo como objetivo a adoo de uma deciso final.
Nessa medida, o requerimento de algum protocolizado, recebe numerao,
caminha pelos setores competentes at que, ao final, se produza um despacho
decisrio. Cumpre assinalar, no entanto, que nem sempre haver prvia provocao
da Administrao pelo particular, pois esta pode, diante do caso concreto, agir de
ofcio, dando incio a um processo administrativo comum (idem, ibidem, p. 41).
Diferentemente

do

processo

administrativo

comum

subsiste

processo

administrativo disciplinar, ainda conforme LUZ (opus citatus, p. 42). Segundo o


autor, trao marcante dessa modalidade processual seria o fato de ele ser mais
especfico, porquanto destinado realizao de um ato de cunho disciplinar:
O processo administrativo disciplinar trata, essencialmente, da ordenao dos
atos e dos termos necessrios caracterizao de autos tpicos para a
desenvoltura da instruo probatria e outros, ulteriores, tpicos do
julgamento ou pertinentes fase recursal.
Notamos, portanto, a profunda distino, porque, enquanto o processo
administrativo comum trata da mais variada soma de assuntos para decises
administrativas, o processo administrativo disciplinar, tal como ocorre
naqueles oriundos do Direito Judicirio, trata especialmente de tudo quanto
concerne imputao, apurao e, ao final, deciso e ao recurso.
Do exposto, infere-se que o processo administrativo comum pertence,
exclusivamente, ao direito administrativo, que ramo do direito pblico,
enquanto que o processo administrativo disciplinar a ele no se filia, mas

37

nitidamente est vinculado ao Direito Administrativo Disciplinar, o qual,


embora espcie do ramo, deste se destaca e, por isto mesmo, no pode, em
absoluto, se confundir.

Por seu turno, CRETELLA JNIOR (opus citatus, p. 67), depois de realar a
autonomia do direito disciplinar em relao a outros campos do direito, porquanto
possui caractersticas prprias, e ainda aps diferenar direito disciplinar material do
direito disciplinar processual, conceitua o processo administrativo disciplinar como
sendo:
[...] o captulo do direito administrativo, extraordinariamente vasto e
importante, que consiste no conjunto ordenado de formalidade que a
Administrao submete o servidor pblico (ou o universitrio) que cometeu
falta grave atentatria hierarquia administrativa.

Existem, ainda, outras tantas classificaes para o processo administrativo


disciplinar que seria na presente obra impossvel reproduzi-las todas, mormente
porque o critrio de definio varia de autor para autor, segundo a caracterstica que
deseja pr em destaque.
Assim, ALVES (1999, p. 51) afirma que [...] processo administrativo disciplinar o
instrumento utilizado na regra como prprio para viabilizar a aplicao de sanes
disciplinares no mbito da Administrao Pblica [...].
De outro lado, REIS (1999, p. 100) define o processo administrativo disciplinar como
sendo:
[...] o mecanismo estabelecido na lei para o controle das atividades dos
servidores, no que concerne ao descumprimento de suas obrigaes, ao
desrespeito proibies e realizao de fatos capitulveis como crimes ou
contravenes, pela legislao penal ou por leis especiais, com reflexo no
mbito administrativo.

Embora respeitvel a conceituao acima estampada, observa-se que o autor


incorre em erro ao ligar o processo administrativo disciplinar prtica de ilcitos
penais.
Essa confuso, ressalte-se, em nada tem contribudo para a compreenso do tema,
especialmente porque leva alguns a imaginar que a instncia administrativa de
deciso estaria necessariamente jungida esfera penal. Tal situao no
corresponde verdade, tanto que atualmente unnime o entendimento (doutrinrio

38

e jurisprudencial) segundo o qual as instncias administrativa e criminal so, em


regra, independentes, porquanto a absolvio nesta somente afasta a possibilidade
de responsabilizao pela Administrao quando o juiz negar cabalmente o fato ou a
autoria.
Em contrapartida, uma vez provado o fato e a autoria na esfera criminal no mais se
discute tal ponto em processo administrativo disciplinar, mas apenas e to somente
se corresponde ou no a um ilcito disciplinar e, caso afirmativo, qual a pena
correspondente.
Tem-se, contudo, afirmado que a nica situao na qual a Administrao deve
aguardar deciso na seara criminal, exceo, portanto, a tal independncia das
instncias, corresponde previso contida na Lei n. 8.112/90, que prev ser
passvel de demisso o servidor que praticar crime contra a administrao pblica
(Art. 112, inc. I).
Importa saber, portanto, para fins de instaurao de um processo administrativo
disciplinar se a conduta praticada (o fato) corresponde ou no a um ilcito
administrativo, independentemente de tambm ser um ilcito penal ou civil.
Nesse contexto, e a fim de delimitar o objeto do processo administrativo,
importantssima a lio trazida por MEIRELLES (2002, p. 223-224):
Responsabilidade administrativa a que resulta da violao de normas
internas da Administrao pelo servidor, sujeito ao estatuto e disposies
complementares estabelecidos em lei, decreto ou qualquer outro provimento
regulamentar da funo pblica. A falta funcional gera o ilcito administrativo e
d ensejo aplicao de pena disciplinar pelo superior hierrquico, no devido
processo legal.

Assim, a melhor doutrina aquela segundo a qual o pressuposto para a instaurao


de um processo administrativo disciplinar a ocorrncia de uma falta disciplinar (e
no criminal), salvo exceo apontada. Com isso, evitam-se no apenas confuses
terminolgicas, mas tambm, e principalmente, toda e qualquer alegao de que a
Administrao estaria se imiscuindo em terreno que no de sua competncia, qual
seja: o julgamento criminal do ato praticado.
Ao definir o que, segundo sua viso, corresponde a um processo administrativo
disciplinar, MARINELA (2010, p. 331) o conceitua como: [...] um conjunto de atos

39

que servem de instrumento para a apurao de ilcitos administrativos com a


consequente punio de faltas graves praticadas por servidores pblicos.
Reala, assim, a autora, o aspecto extrnseco do processo administrativo disciplinar,
isto , o procedimento, algo que, conforme j assinalado, tambm passvel de
crtica.
Cumpre assinalar que a caracterizao de um processo administrativo como sendo
de cunho disciplinar se d devido ao fato de nele ter-se por escopo a concretizao
do chamado poder disciplinar, que inerente Administrao.
Nessa medida, e considerando o processo como gnero, do qual o processo
administrativo espcie, pode-se afirmar que o nome dado subespcie (in casu,
processo administrativo disciplinar) h de variar em razo justamente do campo de
incidncia sobre o qual versar, ou seja, a matria nele veiculada, da falar-se, dentre
outros, em processo administrativo previdencirio, tributrio, fiscal, sanitrio, etc.,
alm evidentemente do processo administrativo disciplinar. Seja como for, em
qualquer dessas modalidades de processo administrativo deve-se observar a
garantia de ampla defesa e de contraditrio estabelecida na Constituio Federal
(Art. 5, inc. LV).
Portanto, para uma clara compreenso desse ponto, deve-se ter em mente que o
processo administrativo disciplinar corresponde no apenas ao conjunto de
procedimentos destinados apurao e ao julgamento de irregularidades praticadas
por servidores pblicos, mas engloba ainda, e principalmente, os direitos e garantias
assegurados aos acusados em geral, especialmente os previstos no corpo da
Constituio Federal e que tratam do devido processo legal e da ampla defesa e
contraditrio, pontos que sero adiante abordados com maior profundidade.

3.2 FINALIDADE

O grau de importncia do processo administrativo disciplinar diz com o fato de ser


ele o meio apto para, em um Estado Democrtico de Direito, apurar as

40

irregularidades praticadas pelos servidores, ou mesmo dos que contratam com a


Administrao, para, se for o caso, aplicar a sano correspondente.
Pondo em evidncia a nota da impessoalidade, REIS (opus citatus, P. 55) assevera
que sendo ela um princpio que deve reger a Administrao, resulta indispensvel
que todas as decises administrativas emanadas sejam formalizadas, de modo que
os interessados, sejam eles quem forem, tenham a possibilidade de receber as
informaes adequadas, inclusive no que concerne s razes de fato e de direito
que do ensejo deciso final.
No demais afirmar que o processo administrativo disciplinar d concretude a dois
poderes que permeiam a Administrao Pblica: o poder disciplinar e o poder
hierrquico.
Ressalta DI PIETRO (opus citatus, p. 86) que os poderes disciplinar e hierrquico
esto presentes na base da funo administrativa, pois sem eles seria praticamente
impossvel o bom desempenho de suas atribuies. Assinala a autora que longe de
serem meras faculdades postas disposio do administrador, tais poderes so na
realidade poderes-deveres, porquanto so irrenunciveis.
Nessa medida, o poder disciplinar corresponde ao dever que tem a Administrao
de apurar as condutas daqueles que se sujeitam disciplina administrativa, sejam
eles servidores ou no (particulares que contratam com a Administrao), no
englobando assim outros particulares no sujeitos a tal condio, pois nesses casos
a fiscalizao se d com base em outro poder, ou seja, o de polcia (DI PIETRO,
opus citatus, p. 91).
Estando diante de prtica de conduta que corresponda a um ilcito disciplinar, no
tem o administrador, ento, alternativa seno a de determinar sua apurao e o
julgamento da conduta do servidor faltoso, pois a omisso quanto a isso poder
fazer tal autoridade incidir em prtica de ato ilcito, algo que lhe poder acarretar a
responsabilizao por crime (condescendncia criminosa, Art. 320 do Cdigo Penal)
e ainda por ato de improbidade administrativa (Art. 11, inc. II, da Lei n. 8.429/92).
essa, pois, a faceta que corresponde ao poder disciplinar (DI PIETRO, opus
citatus, p. 91):
Poder disciplinar o que cabe Administrao Pblica para apurar
infraes e aplicar penalidades aos servidores pblicos e demais pessoas
sujeitas disciplina administrativa; o caso das que com ela contratam. [...]

41

No que diz respeito aos servidores, o poder disciplinar uma decorrncia


da hierarquia; mesmo no Poder Judicirio e no Ministrio Pblico, onde no
h hierarquia quanto ao exerccio de suas funes institucionais, ela existe
quanto ao aspecto funcional da relao de trabalho, ficando os seus
membros sujeitos disciplina interna da instituio. (...)
A Administrao no tem liberdade de escolha entre punir e no punir, pois,
tendo conhecimento de falta praticada por servidor, tem necessariamente
que instaurar o procedimento adequado para sua apurao e, se for o caso,
aplicar a pena cabvel. No o fazendo, incide em crime de condescendncia
criminosa, previsto no artigo 320 do Cdigo Penal e em improbidade
administrativa, conforme artigo 11, inciso II, da Lei n. 8.429, de 2-6-92.

Outro poder que guarda estreita relao com o poder disciplinar o poder
hierrquico. A existncia de tal poder se percebe devido relao de coordenao e
de subordinao entre os vrios nveis de deciso presentes no setor pblico,
notadamente no Poder Executivo. Conforme DI PIETRO (opus citatus, p. 92), o
poder hierrquico manifesta-se pela possibilidade de:
a) editar atos normativos que obriguem seus integrantes;
b) dar ordens aos subordinados, com o dever de obedincia por parte destes;
c) controlar as atividades dos nveis subordinados;
d) aplicar sanes disciplinares;
e) avocar decises de nveis inferiores;
f) delegar atribuies, ds que no privativas.
Tendo, portanto, a Administrao o dever de zelar pelo bom desempenho da
atividade Estatal, nasce da o dever de coibir as condutas de seus servidores que
sejam avessas aos deveres impostos pelo cargo que ocupam ou, dito em outras
palavras, que afrontem os princpios da Administrao Pblica.
Pondo em evidncia o aspecto relativo hierarquia, CRETELLA JNIOR (opus
citatus, p. 67-68) reala que:
O objetivo do processo administrativo disciplinar a tutela da hierarquia
atravs da apurao imediata da falta cometida e, em seguida, da aplicao
justa da pena cominada no Estatuto do Funcionrio, na sua respectiva esfera
(Unio, Estado ou Municpio). [...]
O processo administrativo disciplinar no tem por objetivo a apurao de
nenhum crime capitulado no respectivo Estatuto e no Cdigo Penal, mas, tos, o ilcito administrativo, tanto que, encerrados os trabalhos e proferida a
deciso, esta no transpe a rbita administrativa para repercutir no mbito
da jurisdio penal.

Igualmente, e em um conceito bastante completo acerca das finalidades do


processo administrativo disciplinar, MARINELA (opus citatus, p. 331) afirma que:

42

Tal processo administrativo tem como principais objetivos:


a) apurar ao ou omisso de servidor pblico, desde que punvel
disciplinarmente;
b) promover o deslinde de anormalidade prejudicial ao bom desempenho dos
servios pblicos;
c) evitar que autoridades, com base to somente no poder discricionrio,
condenem seus administrados, afastando-os da fundamental ampla defesa;
d) oferecer ao servidor a oportunidade de provar sua inocncia, corolrio do
direito de ampla defesa, que serve como mecanismo para evitar atitudes
arbitrrias;
e) funcionar como mecanismo que viabiliza o controle da atividade da
Administrao Pblica;
f) ser utilizado como mecanismo de legitimao e fundamentao da conduta
estatal.

Diante de todas essas demonstraes do quo relevante o processo administrativo


disciplinar como meio de julgamento justo das condutas ilcitas praticadas por
servidores pblicos, de se concluir que se de um lado Administrao compete o
dever de apurao das irregularidades, e, se for o caso, de imputao de sanes,
no menos certo que tal proceder h de se dar mediante regras preestabelecidas,
que garantam aos investigados (ou acusados) o respeito a seus direitos e garantias
previstos no ordenamento jurdico, mormente na Constituio Federal.

3.3 ASPECTOS CONSTITUCIONAIS

A exemplo do que ocorreu em outros pontos sobre os quais discorreu de modo


inovador, a Constituio Federal de 1988 modificou essencialmente a matria
relacionada aos processos levados a curso tanto dentro quanto fora do mbito de
atuao da funo jurisdicional. Alis, nesse particular, alm de estender aos
processos estranhos funo jurisdicional garantias sobre as quais antes pairavam
dvidas sobre sua aplicao (como no caso do direito ampla defesa), o prprio
reconhecimento acerca da existncia desses processos tambm representou
substancial inovao.
Dentro desse contexto, a Constituio Federal de 1988 passou a configurar o direito
processual, seja ele de qualquer natureza, no mais como um mero apndice do
direito material, mas como um instrumento pblico de realizao da justia
(GRINOVER et al, opus citatus, p. 86).

43

Nesse particular, a Constituio Federal trouxe inmeros dispositivos que


estabelecem diretivas no s para os processos judiciais, mas tambm para os
processos administrativos. Chega a englobar, inclusive, o direito de defesa para os
acusados em geral, da se podendo inferir que tal garantia extravasa os limites da
prpria atuao Estatal, podendo ser aplicada, por exemplo, s associaes
recreativas, aos partidos polticos, s entidades de classe, justia desportiva,
dentre outros, ou seja, a todo e qualquer campo no qual a algum seja imputada a
prtica de uma determinada conduta, devendo-se, portanto, reconhecer o direito de
demonstrar sua inocncia.
Pondo em evidncia um dado histrico, assevera FILHO, R. (2003, p. 58) que o
termo processo administrativo sempre esteve presente nas Constituies mais
recentes com a finalidade de dispor acerca da perda do cargo por parte dos
servidores:
O processo administrativo ingressou nos textos constitucionais mediante a
consagrao de um regime processual disciplinador da perda do cargo dos
servidores pblicos. Assim foi na Constituio de 1934 (processo
administrativo regulado por lei, e no qual lhes ser assegurada ampla defesa
Art. 169); na Constituio de 1937 (Art. 156 c); na Constituio de 1946
(processo administrativo em que se lhes tenha assegurado ampla defesa);
na Constituio de 1967 (Art. 103, II) e na Emenda 1/69 (Art. 105, II). A
variao ocorria nas condies exigidas para proteo constitucional dos
servidores, no adjetivo anteposto ao processo administrativo (plena defesa,
ampla defesa...). Todas referiam-se, no entanto, exigncia de processo
administrativo somente para a hiptese de perda do cargo.

Ocorre, assim, que as Constituies anteriores apenas tratavam do direito de defesa


para a perda do cargo, e de tal silncio quanto s demais situaes fazia com que
em muitos casos se negasse existir esse direito de ampla defesa em processos
administrativos de outra natureza (PORTA, opus citatus, p. 88), da decorrendo que
em muitos casos a aplicao de uma sano a um servidor decorria at mesmo do
sistema da verdade sabida, situao na qual o chefe imediato poderia impor uma
pena independentemente da existncia de um regular processo (COSTA, 2002, p.
102-103; REIS, opus citatus, p. 67-69; MARINELA, opus citatus, 338).
Observa-se que a Constituio Federal de 1988, em seu Art. 41, manteve tal
tradio de constar expressamente em seu bojo a previso relativa necessidade
de processo administrativo para a perda do cargo do servidor:

44

Art. 41. So estveis aps trs anos de efetivo exerccio os servidores


nomeados para cargo de provimento efetivo em virtude de concurso pblico.
1 O servidor pblico estvel s perder o cargo:
I - em virtude de sentena judicial transitada em julgado;
II - mediante processo administrativo em que lhe seja assegurada ampla
defesa;
III - mediante procedimento de avaliao peridica de desempenho, na forma
de lei complementar, assegurada ampla defesa.

Quadra evidenciar, no entanto, que a Constituio no se restringiu a apenas fixar


tal direito de ampla defesa nos casos de processo administrativo para a perda do
cargo, mas o ampliou para alcanar outras situaes.
Sem dvida alguma a maior garantia do texto Constitucional aos litigantes e aos
acusados, a preceder inclusive o direito de ampla defesa e contraditrio, diz respeito
ao devido processo legal, verbis:
Art. 5. Todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pas a
inviolabilidade do direito vida, liberdade, igualdade, segurana e
propriedade, nos termos seguintes:
[...]
LIV - ningum ser privado da liberdade ou de seus bens sem o devido
processo legal;

Embora sua construo histrica tenha se dado principalmente no ramo do direito


penal, com o advento da Constituio Federal de 1988 o devido processo legal
passou a ter aplicabilidade nos mais diversos processos, inclusive os administrativos
disciplinares.
Costuma-se atribuir tamanha importncia ao devido processo legal que a doutrina
chega muitas vezes a referir-se a ele como sendo um sobreprincpio, do qual
decorreriam as garantias aos acusados em geral, tais como, por exemplo, a
isonomia, a ampla defesa e contraditrio, a vedao ao uso de provas ilcitas, etc.
O devido processo legal, embora reconhecido desde antes da Constituio Federal
de 1988, somente ganhou status de dogma constitucional com a entrada em vigor
da atual Carta da Repblica. O princpio tem por escopo assegurar pessoa a
defesa em juzo (ou mesmo perante a administrao), a fim de que no seja privada
de sua liberdade ou propriedade sem a garantia que pressupe a tramitao de um
processo, segundo determinada forma pr-estabelecida pelo direito (FILHO, F., opus
citatus, p. 55) .

45

Conforme pontuam GRINOVER et al (opus citatus, p. 86), a construo desse


princpio histrica e se confunde com a prpria histria das relaes entre o
Estado e seus sditos, aquele tentando fazer valer sua vontade, estes buscando a
garantia de suas liberdades por meio da imposio de limites atuao Estatal.
Costuma-se atribuir sua origem Magna Carta do Direito Ingls, de 1215, que
citada como a primeira constituio escrita de que se tem notcia. O artigo 39 da
Magna Carta previa:
Nenhum homem ser detido ou aprisionado ou privado de seus bens ou de
seus direitos legais ou exilado ou de qualquer modo prejudicado. No
procederemos nem mandaremos proceder contra ele, a no ser pelo
julgamento regular de seus pares ou de acordo com as leis do pas
(GRINOVER et al, opus citatus, p. 86).

Esse dispositivo est em vigor na Inglaterra at os dias atuais e foi o que a


Constituio Federal de 1988 adotou, garantindo-se o trinmio: vida, liberdade e
propriedade.
Assim, o devido processo legal, que surgiu originalmente como uma garantia
processual, passou depois a ter seu sentido ampliado, abrangendo tambm
aspectos de direito material, o que levou a doutrina a falar na existncia de
substantive due process of law ao lado de um procedural due process of law.
Normalmente, ao se falar em devido processo legal, pensa-se de imediato em seu
aspecto formal. Todavia isso um engano, pois o aspecto formal apenas um,
sendo certo que o aspecto material (substancial ou substantivo) tambm deve ser
levado em conta.
O devido processo legal no aspecto formal diz respeito aos trmites, aos ritos, s
formas previamente estabelecidas e que devem ser observadas pelo fato de
consistirem em verdadeiras garantias daqueles que figuram em uma relao
processual.
J o plano material leva em conta o prprio aspecto de justia da norma ou do ato
administrativo praticado, a fim de que os atos normativos ou administrativos no
tenham o condo de ferir direitos individuais. Tal sucederia, por exemplo, no caso de
lei que viesse a obrigar o indivduo a produzir prova contra si mesmo.
Outro ponto que no pode ser dissociado do estudo do devido processo legal
corresponde garantia de ampla defesa e de contraditrio

46

Art. 5. [...]:
[...]
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em
geral so assegurados o contraditrio e ampla defesa, com os meios e
recursos a ela inerentes.

A previso de ampla defesa e contraditrio contida no texto da Constituio Federal


de 1988 corresponde ao reconhecimento de que quando os interesses de
particulares so postos apreciao da Administrao Pblica, tm eles o direito de
efetiva participao no processo decisrio. Funciona, assim, em um duplo sentido,
pois se de um lado constitui garantia dos administrados, de outro previne e remedia
violaes por parte do Estado (FILHO, R., opus citatus, p. 61).
Embora em certa medida parte da Doutrina reconhecesse que antes de 1988 tal
direito de defesa j existisse em matria de processo administrativo, certo que
havia aqueles que o negavam, salvo nas hipteses de perda do cargo. Nessa
esteira, a fixao da ampla defesa e do contraditrio como direito individual
estampado no Art. 5 da Constituio Federal ps por terra toda e qualquer
argumentao que pusesse dvida sobre sua aplicabilidade a tais processos.
Alm disso, passou a atuar como diretiva segundo a qual toda e qualquer norma de
cunho infraconstitucional que a afronte est fadada inconstitucionalidade.
Assim, se ao legislador infraconstitucional dado dispor conforme julgar conveniente
acerca de disposies relativas ao processo administrativo disciplinar, no menos
certo que seu grau de discricionariedade passa a estar limitado (depois de 1988)
pelo respeito ao estabelecimento de regras processuais justas (devido processo
legal) e nas quais se respeite o direito de uma ampla defesa.
O estudo da ampla defesa e do contraditrio costuma ser realizado em conjunto pela
nota de que o segundo pressuposto da primeira.
A passos largos, e sem pretender-se aqui adentrar s especificidades do tema, o
contraditrio pode ser entendido como o direito de ter o conhecimento do fato para,
ento, agir de modo a demonstrar seu ponto de vista. No por outra razo que o
resumem ao binmio informao necessria e reao possvel.
Nessa medida, costuma-se afirmar, ainda, que ao direito de defesa somente se
perfaz com o contraditrio.

47

J a ampla defesa diz respeito a reconhecer ao interessado o direito de, em sua


reao, valer-se dos mais diversos meios lcitos existentes para, assim, demonstrar
que tem razo em sua pretenso.
Cumpre ressaltar que os direitos de ampla defesa e contraditrio estendem-se aos
mais diversos campos de atuao da Administrao e, em se tratando de
verdadeiras Garantias Constitucionais, devem ser aplicados at mesmo aos
procedimentos de natureza mais simples, dizer: a dvida quanto natureza do
processo (ou do procedimento) j suficiente para a aplicao do dispositivo
constitucional.
Exemplos disso so os concursos pblicos, as licitaes, etc., dentre outros
processos nos quais possa haver litgio entre os administrados (PORTA, opus
citatus, p. 89).
Interessante salientar que o Legislador Constitucional, ao tratar da matria, vale-se
no texto de duas expresses distintas e com a clara inteno de diferenci-las, quais
sejam: litigantes e acusados em geral.
Por litigantes em processo administrativo deve-se ter em mente que tal condio,
na qual dois indivduos tm interesses conflitantes, no est adstrita aos processos
judiciais. Nesse sentido observa-se que:
Litigantes existem sempre que, num procedimento qualquer, surja um conflito
de interesses. No preciso que o conflito seja qualificado pela pretenso
resistida, pois neste caso surgiro a lide e o processo jurisdicional. Basta que
os partcipes do processo administrativo se anteponham face a face, numa
posio contraposta. Litgio equivale a controvrsia, a contenda e no a lide.
Pode haver litigantes e os h sem acusao alguma, em qualquer lide
(GRINOVER, 1991, p. 13, apud FILHO, R., opus citatus, p. 70-71) .

Quanto expresso acusados em geral, notrio que a Constituio Federal quis


com isso abarcar toda e qualquer situao na qual algum tenha de se defender de
uma acusao. Nessa esteira, observa-se que tal situao no se vincula nem
mesmo existncia de um processo, pois se projeta para alm dessa condio, de
maneira que o simples acusar faz nascer para o interessado o direito de
contraditrio e ampla defesa. Note-se, ademais, que tal acusao no necessita
sequer estar vinculada a um rgo estatal, ou seja, aplica-se a toda sorte de
situaes, sejam elas decorrentes ou no da atuao do Estado.

48

Tal ocorre, por exemplo, no direito de defesa do scio de entidade recreativa


(associao) a quem atribuda a prtica de uma determinada conduta inadequada,
e passvel de sanes segundo o estatuto prprio. Dessa situao, e por haver a
figura do acusado, tem o dispositivo constitucional plena aplicabilidade, garantindose ao interessado o direito de contraditrio e ampla defesa, seja qual for o meio
interna corporis de apurao.
A anlise da Constituio Federal permite, ainda, verificar que embora devido
processo legal e ampla defesa e contraditrio sejam os dois postulados mais
importantes aplicveis aos processos administrativos disciplinares, em outros pontos
seu texto tambm tm aplicao a essa espcie processual.
Ainda no captulo Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos (Art. 5) a
Constituio Federal possui duas outras importantes garantias aplicveis aos
processos administrativos disciplinares.
A primeira delas trata da inadmissibilidade, em processo, das provas obtidas por
meios ilcitos, conforme Art. 5, inc. LVI, ponto que ser mais bem explicitado no
momento oportuno.
A outra garantia, introduzida por meio da Emenda Constitucional n. 45/2004,
acentua que a todos, no mbito judicial e administrativo, so assegurados a
razovel durao do processo e os meios que garantam a celeridade de sua
tramitao (Art. 5, inc. LXXVIII).
H ainda no corpo da Constituio outros exemplos de aspectos relativos a
questes de cunho disciplinar, apurveis por meio de um processo, em regra
administrativo, podendo ser citados:
a) o processo administrativo para a retificao de dados (Art. 5, inc. LXXII, b);
b) a competncia dos partidos polticos para fixar suas normas internas
disciplinares (Art. 17, 1);
c) a j mencionada hiptese de processo administrativo para a perda do cargo
do servidor pblico estvel (Art. 41, inc. II);
d) a disciplina como uma das bases das Polcias Militares e dos Corpos de
Bombeiros Militares (Art. 42);

49

e) a devida motivao e o qurum de maioria absoluta para as decises


administrativas disciplinares dos Tribunais ligados ao Poder Judicirio (Art.
93, inc. X);
f) a competncia do Conselho Nacional de Justia para avocar processos
disciplinares de juzes e membros dos tribunais (Art. 103-B, 4, inc. III e V);
g) a competncia da Justia Militar Estadual para processar e julgar as aes
judiciais contra atos disciplinares militares (Art. 126, 4);
h) a competncia do Conselho Nacional do Ministrio Pblico para avocar
processos disciplinares de membros do Ministrio Pblico (Art. 130-A, 2,
inc. III e IV);
i) a disciplina como uma das bases das Foras Armadas (Art. 142, 2);
j) a previso segundo a qual o Poder Judicirio somente admitir aes
relativas disciplina e s competies desportivas depois de esgotadas as
instncias da chamada justia desportiva (Art. 217, 1).
Diante dos inmeros dispositivos em que o texto da Constituio faz referncia a
processos estranhos atuao jurisdicional pode-se concluir ento, extreme de
dvidas que: a) tais processos so atualmente uma realidade, no mais sendo
possvel admitir teorias segundo as quais se nega tal processualidade; b) por
tratarem, em regra, de direitos dos particulares, a tais processos ho de ser
aplicados os postulados do devido processo legal e da ampla defesa e
contraditrio.

3.4 ESPCIES

Ao se observar a natureza dos processos de cunho disciplinar levados a curso pela


Administrao, pode-se sustentar a existncia de duas categorias distintas de
procedimentos, isto : a) aqueles destinados apurao de um fato; e b) os que tm
por escopo o julgamento de um servidor pela prtica de uma transgresso
disciplinar.

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A grande nota distintiva entre essas categorias diz respeito, portanto, ao elemento
teleolgico: diz-se comumente que nos procedimentos destinados apurao de um
fato inexiste o direito de ampla defesa e contraditrio, e tal inferncia no de todo
desprovida de certa lgica na medida em que sequer existe nesses casos uma
acusao formulada contra algum.
Em regra, os estatutos disciplinares, de um modo, geral, preveem a possibilidade de
prvia investigao por meios de sindicncia, procedimento no qual se buscam
elementos necessrios para esclarecer determinada irregularidade ocorrida no setor
pblico. O outro grupo corresponde a processos acusatrios, nos quais o direito de
defesa deve ser sempre observado.
Dessa forma, pode-se at mesmo estabelecer um paralelo com o sistema de Justia
Criminal, pois se ali coexistem o inqurito policial (IP) e o processo judicial criminal,
aqui, de igual modo, e com semelhante finalidade, tm lugar a sindicncia e o
processo administrativo disciplinar.
Pode-se, assim, falar em procedimentos que tm por objetivo apurar uma
determinada irregularidade (com traos do perodo inquisitrio) e em procedimentos
destinados ao julgamento de uma conduta (processos de natureza acusatria).

3.4.1 Inquisitrios

A deciso relativa instaurao ou no de um procedimento prvio (preparatrio) ao


processo administrativo disciplinar de natureza acusatria passa necessariamente
pela indagao sobre se existem elementos suficientes para a formulao de uma
acusao, isto , pelo binmio: autoria e materialidade.
A clusula constitucional da ampla defesa e do contraditrio, associada ao devido
processo legal, impe ao Estado o dever de formular acusaes certas e
determinadas, ou seja, imputaes de cunho genrico ou direcionadas contra
inmeros indivduos sem individualizar o grau de participao de cada um deles
constitui verdadeira afronta Constituio Federal.

51

Ocorre que nem sempre diante de uma irregularidade qualquer possvel conhecer
minimamente os detalhes do fato e quem foi, em tese, seu autor.
Assim, por exemplo, o Regulamento Disciplinar dos Militares Estaduais do Estado do
Esprito Santo (RDME), aprovado pelo Decreto Estadual n. 254-R/2000, condiciona
a instaurao de processo existncia da chamada justa causa:
Justa causa para a instaurao de PAD
Art. 79. A determinao para instaurao de processo administrativo
disciplinar, com designao de Encarregado, somente ocorrer se houver
prova de fato que, em tese, constitua infrao disciplinar e indcios suficientes
de autoria.

A conceituao acerca do que seja a justa causa doutrinria, e a ideia relativa a


ser ela uma das condies de instaurao de processo acusatrio pode ser
atribuda, dentre outros, a JARDIM (1991, p. 250-251), que ao comentar tal questo
relativamente ao processo penal, mas que pode ser aplicada ao processo
administrativo disciplinar, afirmou:
Para ns, a justa causa funciona como uma verdadeira condio para o
legtimo exerccio do direito de ao penal. Levando em linha de conta que a
simples instaurao do processo penal j atinge o chamado status dignitatis
do acusado, o legislador exige do autor o preenchimento de mais esta
condio para se invocar regularmente a tutela jurisdicional. [...]
Desta maneira, torna-se necessria ao regular exerccio da ao penal a
slida demonstrao, prima facie, de que a acusao no temerria ou
leviana, por isso que lastreada em um mnimo de prova. Este suporte
probatrio mnimo se relaciona com os indcios da autoria, existncia material
do fato tpico e alguma prova de sua antijuridicidade e culpabilidade. [...]
Ressalte-se, entretanto, que uma coisa constatar a existncia da prova e
outra coisa valor-la. preciso deixar claro que a justa causa pressupe
um mnimo de lastro probatrio no inqurito ou peas de informao.
necessrio que haja alguma prova, ainda que leve. Agora, se esta prova
boa ou ruim isto j questo pertinente ao exame do mrito da pretenso do
autor.

Dentro dessa perspectiva, o RDME dispe que a Sindicncia ser instaurada


quando for necessrio investigar a ocorrncia de transgresso disciplinar:
Instaurao de sindicncia
Art. 81. A autoridade competente para aplicar sano disciplinar, nos termos
deste Regulamento, no havendo elementos suficientes para instaurao de
processo disciplinar, por falta de indcios da autoria ou no estar
caracterizada adequadamente, em tese, a infrao disciplinar, poder
determinar, preliminarmente, a instaurao de sindicncia, designando
autoridade sindicante, com o prazo mximo de 15 (quinze) dias, prorrogvel
por at igual perodo, para sua concluso.

52

Diante dessa peculiar caracterstica da sindicncia, procedimento destinado


investigao de um fato e no ao julgamento de uma conduta, que ela assume
papel distinto no cenrio em estudo, pois no h falar em direito de defesa se sequer
existe acusao.
necessrio pr em destaque, no entanto, que caso ao seu fim surjam indcios de
prtica de transgresso imputveis a um servidor, a aplicao de uma eventual
sano fica condicionada instaurao de regular processo administrativo
disciplinar de cunho acusatrio, conforme inclusive prev expressamente o RDME.
Art. 82. [...]:
1 - Sendo a sindicncia procedimento inquisitrio de apurao, onde no
h contraditrio, quando resultar em imputao de responsabilidade
disciplinar, a aplicao da sano disciplinar depender da instaurao de
processo administrativo disciplinar de rito ordinrio ou sumrio.

bom realar que a expresso procedimento inquisitrio assume aqui o papel de


distinguir a sindicncia (e o inqurito policial militar, conforme adiante) daquelas
outras modalidades de procedimentos que, sendo verdadeiros processos, trazem
em seu bojo todo o plexo de garantias inerentes aos acusados em geral.
No se est com isso, isto , com tal denominao, a invocar prticas passadas do
perodo inquisitrio, no suportveis em um Estado Democrtico de Direito, mas
apenas e to somente a valer-se de termo que, de modo simples, traa a linha
demarcatria entre esses dois gneros de procedimentos.
Tanto isso verdade que mesmo em se tratando de sindicncia (ou de inqurito)
permanecem intactas as garantias decorrentes do devido processo legal, tais como
o direito a no autoincriminao (o que engloba o direito de permanecer em
silncio), a vedao ao uso de provas ilcitas, a proibio da tortura ou do emprego
de outros meios degradantes para a obteno de prova, etc., ou seja: apenas no se
aplicam aos procedimentos com traos inquisitrios o direito de contraditrio e ampla
defesa.

53

3.4.2 Acusatrios

A noo de sistema acusatrio tem origem histrica ligada cincia do direito penal,
posto que ali o trao marcante a presena de uma acusao por prtica de crime
formulada contra algum. Nasce, ento, da represso aos delitos de maior
gravidade (crimes), condutas que por sua natureza e consequncias reclamavam
por reprimenda por parte dos governantes.
Note-se, todavia, que a variabilidade dos sistemas repressivo-penais se dava de
acordo com a cultura de determinada regio, sendo, contudo, o uso da violncia
fsica trao marcante comum a eles.
Nesse contexto, no demais afirmar que os primeiros grupos humanos
desconheciam mtodos sistematizados para a soluo de conflitos, e no mais das
vezes direito e moral eram comumente confundidos, posto que se tratavam de
pequenos, rudes e incipientes agrupamentos sociais (PRADO, 2005, p. 82).
Tal condio, no entanto, tendeu a se modificar com a evoluo da sociedade, pois
a partir da os conflitos internos se agudizaram, o que passou a clamar por novas
modalidades de soluo, pois:
Averbe-se que o aperfeioamento da organizao social, acrescido da
conscincia da necessidade de encontrar uma plataforma sobre a qual
pudessem ser erguidos os procedimentos de resoluo de conflitos, de forma
a preservar tanto quanto possvel a sociedade, foram as principais causas da
sistematizao contnua dos mtodos de implementao do Direito Penal,
naturalmente que a princpio indistintamente emaranhado ao que definimos
hoje como sendo Direito Civil, pois no se diferenciavam os ilcitos criminal e
civil, ambos fundados no primitivo conceito de dano (PRADO, opus citatus, p.
83).

Assevera PRADO (opus citatus, p. 84-92) que aquilo que hodiernamente se


denomina de direito penal, passou por inmeras transformaes.
Reala que, no Egito, embrio do sistema acusatrio, as principais caractersticas
eram (idem, ibidem, p. 84):
a) a acusao como um dever cvico das testemunhas do fato criminoso;
b) polcia repressiva e auxiliar da instruo, a cargo das testemunhas;
c) instruo pblica e escrita;
d) julgamento secreto e deciso simblica.

54

Assinala ainda o autor que na Palestina observa-se a existncia de trs espcies de


tribunais, consistindo-se, portanto, em trs graus de jurisdio. Acentua ainda que
mesmo em tais tempos remotos algumas garantias individuais eram reconhecidas, a
exemplo do que ocorria entre os hebreus, em cuja sociedade o recurso era
considerado um direito sagrado e na qual havia ainda o princpio fundamental de
que a verso de uma s testemunha jamais valer contra algum; qualquer deciso
dever apoiar-se sobre o dito de duas ou trs testemunhas (ALMEIDA JUNIOR,
1959, p. 19, apud PRADO, opus citatus, p. 85), podendo-se extrair ainda, de seu
sistema legal, os seguintes princpios:
a) no havia priso preventiva; fora do caso de flagrante delito, o acusado
hebreu no era preso seno depois de conduzido ao tribunal para defenderse e ser julgado;
b) no era o acusado submetido a interrogatrios ocultos: segundo os rabinos,
ningum poderia ser condenado somente pela confisso;
c) ningum podia ser preso e muito menos condenado pelo dito de uma s
testemunha, nem por conjecturas;
d) a instruo e os debates eram pblicos e os julgamentos conferidos e
acordados em segredo;
e) o recurso era um direito individual e sagrado.
Entre os gregos, muito embora houvesse distines entre as cidades-estados,
podem ser postas em evidncia as seguintes caractersticas (PRADO, opus citatus,
p. 87-88):
a) a existncia de tribunal popular, conforme o princpio da soberania do povo;
b) acusao popular, possibilitando a qualquer cidado formular demanda contra
quem se supunha autor ou partcipe de crime;
c) igualdade entre acusador e acusado, que em regra permanecia em liberdade
at a deciso final, porm s vezes condicionada cauo;
d) publicidade e oralidade do juzo, algo que se resumia a um debate entre
acusador e acusado, diante do tribunal e na presena do povo;
e) admisso da tortura e dos juzos dos deuses como meio de prova;
f) valorao da prova segundo ntima convico de cada juiz;
g) restrio do direito popular de acusao em certos crimes que mais atingiam
o indivduo que a sociedade;

55

h) deciso judicial irrecorrvel.


Em Roma, assinala PRADO (opus citatus, p. 88-93), observa-se que vrios sistemas
penais foram adotados ao longo dos tempos. Assevera que o primeiro sistema
dessa sociedade de que se tem notcia era denominado de cognitio (baseado na
inquisitio), que tinha natureza pblica e segundo o qual a instruo ficava a cargo de
um magistrado com plenos poderes para atuar em nome do rei, tendo tal juiz a
possibilidade ampla de iniciativa, instruo e deliberao. Reala o autor, ainda, que
posteriormente Roma conheceu o sistema denominado de accusatio, que em linhas
gerais se caracterizava pela prerrogativa concedida aos cidados em geral, mas
especialmente ao ofendido, de deduzir perante o povo uma acusao, desde que de
posse de provas (PRADO, opus citatus, p. 89-90).
O sistema inaugurado por Roma passou paulatinamente a deixar de lado o aspecto
mtico da prova, utilizando-se de outros meios para a deciso. Nesse sistema, o
contraditrio era plenamente exercido, por meio de debates entre as partes, e no
qual a prova passou a ter o valor de instrumento para a reconstruo histrica de um
acontecimento, em especial pelos vestgios deixados, porm tal sistema ainda
padecia de muitos males, tais como (PRADO, opus citatus, p. 90-91):
a) a impunidade do criminoso;
b) a facilitao da acusao falsa;
c) o desamparo dos fracos;
d) a deturpao da verdade;
e) a impossibilidade, em muitos casos, de julgamento;
f) a inexequibilidade, em outros casos, da sentena.
Em perodo mais recente, durante a Idade Mdia, a Europa vivenciou o que ficou
conhecido como invaso brbara, ou seja, a introduo de modelos estruturais
advindos dos povos germnicos, que passaram a influenciar de sobremaneira a
estrutura social, inclusive no que concerne persecuo penal. Alm disso, em tal
perodo observou-se um grande crescimento do Direito Cannico, havendo assim
influncias recprocas de ambas as ordens jurdicas (PRADO, opus citatus, p. 93).
Desse novo estado de coisas verifica-se que:
[...] os povos germnicos no s influenciaram o direito do restante do
continente europeu, inclusive e principalmente a rea antes dominada pelo
Imprio Romano, chegando a Portugal e Espanha, como sofreram influncia
da cultura e do direito romanos, de sorte que, do seu sistema

56

predominantemente acusatrio, passaram, lenta mas vigorosamente,


recepo e assimilao do Direito Romano-Cannico e introduo da
Inquisio (PRADO, opus citatus, p. 95).

Assim, se em seu perodo inicial a Idade Mdia experimentou um processo de


reduo do papel da justia, decorrncia da prpria fragmentao do poder, que
passou a ser concentrado na figura dos senhores feudais, a Igreja assumiu funo
de destaque, pois representava a nica instncia em condies de impor seu poder
centralizado.
Acentua PRADO (opus citatus, p. 96-97) que remonta a tal perodo a noo segundo
a qual ao crime no estariam ligadas apenas questes relacionadas a coisas
terrenas, mas principalmente a questes religiosas. Nasce, ento, o pensamento
segundo o qual o arrependimento no mais suficiente: necessria a penitncia, e
foi dessa juno entre crime e pecado que se valeu a Igreja para da em diante
investigar um sem nmero de infraes e aplicar penas para a expiao das culpas,
situao que, do ponto de vista poltico, acabou por contribuir para o fortalecimento
do poder eclesistico.
O Procedimento Inquisitrio, criao do Papa Inocncio III, previsto no IV Conclio
de Latro, em 1215, correspondeu a um marco desse crescimento do poder da
Igreja. A partir de ento se observa que as chamadas justias laicas passam cada
vez mais a adotar procedimentos de carter inquisitrio, abandonando os poucos
avanos obtidos at ento por meio dos incipientes procedimentos acusatrios.
Reala PRADO (opus citatus, p. 96/98), que embora em determinadas regies da
Europa fosse possvel verificar a coexistncia dos dois sistemas, a partir dos sculos
XIII e XIV as remanescentes estruturas acusatrias perdem fora, dando lugar a
aspectos quase presentes em procedimentos inquisitrios:
[...] tais como a forma escrita da deduo da acusao e o segredo que
envolvia a produo da prova testemunhal, chegando, pois, ao emprego da
tortura, a culminncia das presunes e da confisso. Por fim, o equilbrio
entre os dois modelos se rompe e o sistema inquisitrio vive seu apogeu no
continente europeu, at ser descartado, ao menos na Europa Ocidental, no
sculo XIX.

Desse perodo de procedimentos criminais com base na inquisio, pode-se extrair


algumas caractersticas, tais como:

57

a) admisso de denncias ainda que desprovidas de um mnimo de lastro


probatrio; podiam at mesmo ser annimas ou fruto de simples rumores;
b) forma escrita de documentao, em contraposio oralidade;
c) a forma secreta de investigao e julgamento, em substituio publicidade
predominante anteriormente;
d) imposio de castigos fsicos para se obter a confisso, algo a que se atribua
um carter cientfico, porquanto decorrente da aplicao de um mtodo;
e) o acusado como um simples objeto da investigao, e no mais como um
sujeito de direitos, deveres, nus e faculdades, tal qual ocorria no sistema
acusatrio (PRADO, opus citatus, p. 98).
O retomar de um processo criminal tendo por base o sistema acusatrio somente se
deu com o incio da perda do poder por parte da Igreja, algo que somente foi
possvel com o fortalecimento das monarquias europeias, embora tenham existido
casos como o da Espanha, na qual o reinado dos Reis Catlicos fez instalar, ao
lado da justia comum, o tribunal religioso denominado de Santo Ofcio, por certo o
mais cruel e violento da poca da Inquisio, tendo ele inclusive alcanado a
Amrica Espanhola e perdurado at 1834 (PRADO, opus citatus, p. 101).
Tambm no Brasil colonial os procedimentos com carter inquisitrios eram regra,
consoante o que previam as Ordenaes Manoelinas e Filipinas, das quais se pode
extrair o seguinte (PRADO, opus citatus, p. 101):
a) iniciativa da persecuo penal, de ofcio, pelo juiz;
b) emprego de tortura como mtodo;
c) sistema de avaliao legal das provas (prova tarifada);
d) forma predominantemente escrita.
Assim, em linhas gerais, pode-se sustentar que o sistema inquisitrio foi concebido
tento por base uma forma absolutista de poder, na qual razes de Estado, ou
mesmo religiosas, foram invocadas com a finalidade de justificar os meios (cruis)
empregados para a investigao de crimes e a persecuo penal.
O reencontro do processo penal moderno com o sistema acusatrio somente se
deu com as mudanas havidas no seio das sociedades, mormente com a adoo
dos ideais advindos do Iluminismo, porquanto este refutava as injustias at ento
cometidas. Assim, iniciou-se o perodo moderno de administrao da justia,

58

reduzindo-se e amenizando-se as caractersticas inquisitoriais dos procedimentos


penais (PRADO, opus citatus, p. 109).
Portanto, a crtica que boa parte dos filsofos iluministas formulava ao sistema
repressivo penal dizia respeito no apenas aos castigos fsicos aplicados e a toda
sorte de injustias praticadas, mas, e principalmente, ao fato de que:
[...] os mecanismos punitivos nada mais eram do que instrumentos de
manuteno da ordem classista e desigual em vigor, cabendo ao judicirio
daquele momento, de uma forma geral, o triste papel de garantidor de um
status quo de injustias.
[...] os filsofos iluministas, partindo do reconhecimento da necessidade de
substituir o sistema absolutista monrquico pela repblica, com repercusses
no campo do processo penal, por meio da abolio da tortura, e da adoo de
um sistema processual penal inspirado nos aplicados pela Roma Republicana
e pela Inglaterra, postularam um novo modelo que, a rigor, recolocaria a
oralidade e a publicidade no lugar da escriturao e do segredo,
assegurando-se a defesa e a liberdade de julgamento pelos jurados, com a
proscrio do sistema de provas legais (PRADO, opus citatus, p. 109-110).

Desse novo pensamento um novo modelo processual teve lugar na Frana ps


Revoluo Francesa, e se espalhou pela Europa no perodo das Guerras
Napolenicas. Conforme tal sistema, o processo penal passou a ser dividido em
duas fases:
Na primeira delas, denominada instruo, procedia-se secretamente, sob o
comando de um juiz, designado juiz-instrutor, tendo por objetivo pesquisar a
perpetrao das infraes penais, com todas as circunstncias que influem
na sua qualificao jurdica, alm dos aspectos atinentes culpabilidade dos
autores, de maneira a preparar o caminho para o exerccio da ao penal; na
segunda fase, chamado de juzo, todas as atuaes realizavam-se
publicamente, perante um tribunal colegiado ou o jri, com a controvrsia e o
debate entre as partes, no maior nvel possvel de igualdade (PRADO, opus
citatus, p. 110-111).

Conforme ALCAL-ZAMORA et al (s.d., p. 222, apud PRADO, opus citatus, p. 111112), a tendncia acusatria do processo penal acentuou-se no fim do sculo XIX
em pases como Frana, ustria e Espanha, embora tenha mantido caracterstica de
dualidade, contendo uma fase preliminar inquisitria (segredo, escriturao e
iniciativa do juiz), seguida de uma outra acusatria, reunindo assim, na viso dos
autores, as vantagens de ambos os sistemas de que derivou.
O sculo XX consagrou, em matria de processo penal, o sistema acusatrio como
mtodo moderno de persecuo criminal, pois se coaduna com o Estado

59

Democrtico de Direito. Tal marcha apenas foi interrompida com o surgimento dos
regimes totalitrios, pois nestes tendeu-se ao retorno de prticas inquisitoriais.
Assim, hoje, a prevalncia do sistema acusatrio sobre o inquisitrio um realidade
na maior parte das naes Europeias, havendo desde aquelas que adotam um
sistema misto (casos, por exemplo, de Frana, Espanha, Itlia e Portugal) a at as
que adotam um sistema puramente acusatrio (Inglaterra).
O Brasil adota, por certo, ainda que com reservas, o sistema acusatrio em matria
de processo penal, embora subsista procedimento prvio, facultativo, levado a cabo
pela Polcia Judiciria para apurar as infraes penais (Art. 144 da Constituio
Federal), procedimento que guarda caractersticas inquisitrias (sigilo, por exemplo)
e que corresponde ao inqurito policial (Art. 4 a 23 do Cdigo de Processo Penal).
Em matria de processo administrativo disciplinar sobressaem caractersticas
ligadas ao sistema acusatrio, embora no se tenha aqui a pretenso de importar
sem as devidas adaptaes tais noes desse sistema aplicadas aos processos
judiciais, porquanto estes tm caractersticas prprias, tais como:
a) poder de iniciativa e poder de deciso entregue a sujeitos processuais
distintos;
b) impulso oficial do magistrado aps iniciada a persecuo penal;
c) processo desenvolvido sob o crivo do contraditrio;
d) paridade de armas entre autor e ru;
e) publicidade;
f) oralidade.
Cumpre evidenciar, no entanto, que pelas garantias existes no bojo da Constituio
Federal, relativas aos acusados e litigantes em processo administrativo, no
demais afirmar que muitos aspectos relacionados ao sistema acusatrio podem ser
aplicadas a tais processos, notadamente aquelas que dizem respeito ao devido
processo legal, ampla defesa e contraditrio e publicidade.

60

4 A TRANSGRESSO DISCIPLINAR

4.1 ASPECTOS DEONTOLGICOS

O Estatuto dos Policiais Militares (Lei n. 3.196/78) a norma jurdica aplicvel aos
integrantes da PMES que regula a situao, as obrigaes, os deveres, os direitos
e as prerrogativas dos policiais militares.
Trata-se, assim, de norma que dispe acerca dos mais diversos aspectos
relacionados ao exerccio da funo policial-militar, de modo que cuida inclusive de
aspectos ligados aos deveres e tica policial, ou seja, questes de cunho
deontolgico que devem ser observados por todos os seus integrantes.
Ao tratar da estrutura da Corporao e de sua forma de organizao, o Estatuto
dispe acerca da hierarquia e da disciplina, pilares da PMES, verbis:
Da Hierarquia e da Disciplina
Art. 11. A hierarquia e a disciplina so a base institucional da Polcia Militar. A
autoridade e a responsabilidade crescem com o grau hierrquico.
1 A hierarquia policial militar a ordenao da autoridade em nveis
diferentes dentro da estrutura da Polcia Militar. A ordenao se faz por
postos ou graduaes; dentro de um mesmo posto ou graduao, se faz pela
antiguidade no posto ou na graduao. O respeito hierarquia
consubstanciado no esprito de acatamento sequncia de autoridade.
2 Disciplina a rigorosa observncia e o acatamento integral das Leis,
regulamentos, normas e disposies que fundamentam o organismo policial
militar e coordenam seu funcionamento regular e harmnico, traduzindo-se
pelo perfeito cumprimento do dever por parte de todos e de cada um dos
componentes desse organismo.
3 A disciplina e o respeito hierarquia devem ser mantidos em todas as
circunstncias da vida, entre policiais militares da ativa, da reserva
remunerada e reformados.

Hierarquia e disciplina, embora indissociveis em uma estrutura militar, no se


confundem. A disciplina diz respeito ao acatamento das normas em geral que do
suporte estrutura militar, acatamento esse que somente possvel exigir em uma
estrutura hierarquizada, com a clara definio do papel a ser desempenhado por
cada um dos integrantes dos mais diversos nveis. J a hierarquia tem relao com
a prpria estrutura organizacional da Corporao, na qual parcelas distintas de
atribuies so divididas entre os diferentes nveis.

61

O Estatuto trata, em seu Ttulo II (Art. 25 a 47), acerca Das Obrigaes e dos
Deveres Policiais Militares, e est dividido em trs captulos:
a) Captulo I Das Obrigaes Policiais Militares;
b) Captulo II Dos Deveres Policiais Militares;
c) Captulo III Da Violao das Obrigaes e dos Deveres Policiais Militares.
O Captulo I, denominado Das Obrigaes Policiais Militares, subdivide-se em: a)
Seo I, Do Valor Policial Militar; b) Seo II, Da tica Policial Militar.
Ao tratar do Valor Policial Militar (Art. 25) o Estatuto prev que suas manifestaes
essenciais so:
a) o patriotismo, o civismo e o culto s tradies histricas;
b) a f na misso elevada da Polcia Militar;
c) o esprito de corpo;
d) o amor profisso policial militar;
e) o aprimoramento tcnico profissional.
No que toca tica Policial Militar (Art. 26), o Estatuto elenca inmeros preceitos
de carter obrigatrio a ela relacionados. Diz que o sentimento do dever, o pundonor
policial militar e o decoro da classe impem a cada um dos integrantes da Polcia
Militar, conduta moral e profissional irrepreensveis com a observncia dos seguintes
preceitos de tica policial militar:
a) amar a verdade e a responsabilidade como fundamento da dignidade pessoal;
b) exercer, com autoridade, eficincia e probidade, as funes que lhe couberem
em decorrncia do cargo;
c) respeitar a dignidade da pessoa humana;
d) cumprir e fazer cumprir as leis, os regulamentos, as instrues e as ordens
das autoridades competentes;
e) ser justo e imparcial no julgamento dos atos e na apreciao do mrito dos
subordinados;
f) zelar pelo preparo prprio, moral, intelectual e fsico e, tambm, pelo dos
subordinados, tendo em vista o cumprimento da misso comum;
g) empregar todas as suas energias em benefcio do servio;
h) praticar a camaradagem e desenvolver, permanentemente, o esprito de
cooperao;
i) ser discreto em suas atitudes, maneiras e em sua linguagem escrita e falada;

62

j) abster-se de tratar, fora do mbito apropriado, de matria sigilosa relativa


Segurana Nacional;
k) acatar as autoridades civis;
l) cumprir seus deveres de cidado;
m) proceder de maneira ilibada na vida pblica e na particular;
n) observar as normas da boa educao;
o) garantir assistncia moral e material ao seu lar e conduzir-se como chefe de
famlia modelar;
p) conduzir-se, mesmo fora do servio ou na inatividade, de modo que no
sejam prejudicados os princpios da disciplina, do respeito e do decoro policial
militar;
q) abster-se de fazer uso do posto ou da graduao para obter facilidades
pessoais de qualquer natureza ou para encaminhar negcios particulares ou
de terceiros;
r) abster-se em inatividade do uso das designaes hierrquicas quando: em
atividades poltico-partidrias; em atividades comerciais; em atividades
industriais; discutir ou provocar discusses pela imprensa a respeito de
assuntos polticos ou policiais militares, excetuando-se os de natureza
exclusivamente tcnica, se devidamente autorizados; no exerccio de funes
de natureza no policial militar, mesmo oficiais;
s) zelar pelo bom nome da Polcia Militar e de cada um dos seus integrantes,
obedecendo e fazendo obedecer aos preceitos da tica policial militar.
Todos esses dispositivos tm por escopo a manuteno do sentimento do dever, do
pundonor policial militar e do decoro da classe, em razo da necessidade de
conduta moral irrepreensvel por parte dos policiais militares. Ao tratar desse
aspecto, onde o legislador se vale de verdadeiros conceitos jurdicos indeterminados
MIKALOVSKI (2002, p. 107-108) acentua o seguinte:
Pundonor Militar est diretamente ligado honra pessoal, pois o esforo
do indivduo para compatibilizar sua conduta como um profissional correto.
Em servio, ou fora dele, o Policial Militar deve manter alto padro de
disciplina, porque o sucesso profissional pode ser decorrente do respeito que
lhe devido, bem como a dignidade, o prestgio e a autoridade da nobre
profisso.
Decoro da Classe aqui se trata do valor moral e social da Organizao.
Esse valor no mais que uma repercusso do valor social dos indivduos
agrupados e no subsiste sem este. A profisso policial militar uma
experincia humana e, como tal, se situa no plano da tica e,

63

consequentemente, da conduta moral, deve ser pautada em funo do


objetivo da Instituio.
Honra Pessoal sentimento de dignidade prpria, como o apreo e o respeito
que objeto, ou se torna merecedor o indivduo perante os concidados. Se
a boa reputao necessria ao homem comum, notadamente ao Policial
Militar, cuja funo, perante o grupo social, de relevo, dever pautar sua
conduta para merecer o respeito da comunidade, do que se infere que sua
honra pessoal deve ser inatacvel.

Alm das disposies acima apresentadas, aos militares aplica-se, ainda, a vedao
estatutria de [...] comerciar ou tomar parte na administrao ou gerncia de
sociedade ou dela ser scio ou participar, exceto como acionista ou quotista em
sociedade, annima ou por cotas de participao (Art. 27).
O Captulo II compreende os Deveres Policiais Militares, que, conforme disciplina
do Art. 29 do Estatuto, emanam de vnculos racionais e morais que ligam o policial
militar comunidade estadual e sua segurana. Tais deveres compreendem,
essencialmente, o seguinte:
a) a dedicao integral ao servio policial militar e a fidelidade instituio a que
pertence, mesmo com o sacrifcio da prpria vida;
b) o culto aos smbolos nacionais;
c) a probidade e a lealdade em todas as circunstncias;
d) a disciplina e o respeito hierarquia;
e) o rigoroso cumprimento das obrigaes e ordens;
f) a obrigao de tratar o subordinado dignamente e com urbanidade.
Ainda no captulo referente aos Deveres Policiais Militares, a Seo I (Art. 30 e 31)
cuida do Compromisso Policial Militar, e afirma que todo cidado, ao ingressar na
Polcia Militar prestar compromisso de honra, no qual afirmar a sua aceitao
consciente das obrigaes e dos deveres policiais militares e manifestar a sua
firme disposio de bem cumpri-los. Tal juramento consiste no seguinte:
Art. 31 (...) Ao ingressar na Polcia Militar do Estado do Esprito Santo,
prometo regular a minha conduta pelos preceitos da moral, cumprir
rigorosamente as ordens das autoridades a que estiver subordinado e
dedicar-me inteiramente ao servio policial militar, manuteno da ordem
pblica, mesmo com o risco da prpria vida.

Portanto, conforme se v, inmeros so os dispositivos aplicveis aos Policiais


Militares por fora de seu Estatuto, de sorte a conformar-lhes o regramento
disciplinar, razo pela qual se pode afirmar que as obrigaes e os deveres

64

correspondem ao modo pelo qual os Policiais Militares devem pautar suas condutas
sob o ponto de vista tico.
Alm das disposies deontolgicas contidas no Estatuto, o prprio RDME tambm
trata de questes ticas relacionadas com o desempenho da funo policial-militar.
Assim, em sua Parte Geral, mais especificamente no Captulo I do Ttulo I, prev o
Regulamento norma segundo a qual camaradagem e o companheirismo tornam-se
indispensveis formao e ao convvio da famlia militar estadual, cumprindo existir
as melhores relaes sociais entre os militares (Art. 3). Nessa medida, estabelece
que para a manuteno do sentimento de coeso, incumbe aos superiores incentivar
e manter a harmonia, a solidariedade e a amizade entre seus subordinados.
Dispe ainda que a civilidade parte da educao militar e, como tal, de interesse
vital para a disciplina consciente (Art. 4). Dessa forma, torna-se necessrio que o
militar estadual demonstre considerao e respeito para com seus superiores, iguais
ou subordinados, em conformidade com as normas legais e regulamentares. Dentro
desse contexto, ao superior hierrquico compete tratar os subordinados com
educao e justia, interessando-se pelos seus problemas, encaminhando-os a
quem de direito de acordo com cada rea especfica.
Reza, inclusive, que tais demonstraes de camaradagem, cortesia e considerao
devem ser dispensadas tambm aos militares das Foras Armadas, aos policiais de
outras instituies e aos cidados em geral.
Ao tratar Dos Princpios Gerais da Hierarquia e da Disciplina no Captulo II do
Ttulo I, o RDME aborda tais aspectos de modo semelhante ao Estatuto.
Define a hierarquia militar como sendo a ordenao da autoridade, em nveis
diferentes, dentro da estrutura da PMES [...], por postos e graduaes, de acordo
com o que previsto estatutariamente, e arremata dizendo que o respeito
hierarquia consubstanciado no esprito de acatamento sequncia de autoridade
(Art. 6).
No que concerne disciplina, que denomina de disciplina militar estadual, a
conceitua como sendo a rigorosa observncia e o acatamento integral das leis,
regulamentos, normas e disposies, traduzindo-se pelo perfeito cumprimento do
dever por parte de todos e de cada um dos componentes da PMES [...], e ao final
elenca como suas manifestaes essenciais (Art. 7):

65

a) a correo de atitudes;
b) a rigorosa observncia das prescries legais e regulamentares;
c) a obedincia pronta s ordens legais;
d) a dedicao integral ao servio;
e) a colaborao espontnea disciplina coletiva e eficincia da instituio;
f) a conscincia das responsabilidades;
g) o zelo para a preservao dos padres de qualidade profissional, objetivando
a melhoria e a credibilidade perante a opinio pblica;
h) as manifestaes espontneas de acatamento dos valores e deveres morais
e ticos.
O RDME assinala ainda que o respeito disciplina e hierarquia devem ser
mantidos, permanentemente, pelos militares estaduais da ativa e da inatividade,
deixando claro, assim, que estes tambm se sujeitam s suas disposies.
No campo das proibies, sem prejuzo de outras, reza o Regulamento, ainda, que
vedado ao militar estadual, na ativa ou na inatividade, tratar, no meio civil, pela
imprensa ou por outro meio de divulgao, de assuntos de natureza militar, de
carter sigiloso ou funcional, ou que atente contra os princpios da hierarquia, da
disciplina, do respeito e do decoro militar, ou ainda, qualquer outro que atinja
negativamente o conceito ou a base institucional das Organizaes Militares.
Dessa maneira, o conjunto de postulados ticos aplicveis aos integrantes da PMES
deve ser compreendido como um conjunto de normas previstas tanto no Estatuto
quanto no RDME e que definem os principais preceitos que devem, no dia a dia,
nortear as aes de seus integrantes.

4.2 CONCEITO

O Captulo III do Ttulo II do Estatuto aborda aspectos disciplinares e criminais


relacionados com desvios de conduta por parte de integrantes da PMES.
Esse Captulo, sob a rubrica Da Violao das Obrigaes e dos Deveres Policiais
Militares, engloba os Art. 39 a 47 da Lei n. 3.196/78 e trata, em linhas gerais, da

66

prtica de ilcitos por parte de policiais militares, sejam eles ilcitos penais, civis ou
disciplinares. Diz que, na forma da legislao especfica, a conduta de um militar
poder corresponder a crime ou a transgresso disciplinar.
Assim, a prtica de crime, seja ele de que natureza for, ser apurada de acordo com
a legislao que trata da matria, ao passo que as condutas que correspondem a
transgresses disciplinares devero ser apuradas e julgadas, em regra, de acordo o
Regulamento Disciplinar, que a teor do Art. 45 da Lei n. 3.196/78, deve especificar e
classificar as transgresses disciplinares, e estabelecer as normas relativas
amplitude e aplicao das penas disciplinares.
Prev ainda, o Estatuto, medidas mais severas para os determinados casos de
prtica de ilcitos disciplinares, que podem ir desde o simples afastamento do cargo
(Art. 41) a at mesmo sua perda (Art. 46 e 47).
Sobre tal ponto, cumpre evidenciar que, conforme mais bem explicitado adiante, a
prtica de uma transgresso disciplinar poder sujeitar o militar aplicao de
penas de cunho corretivo, previstas no RDME (advertncia, repreenso ou
deteno), ou perda da condio de militar da ativa (reforma disciplinar,
licenciamento a bem da disciplina, excluso a bem da disciplina ou demisso). A
instaurao de processo mais simples ou de processo destinado perda do cargo
se d em razo da gravidade do fato praticado, dos antecedentes do envolvido, e
das consequncias da conduta.
Por ora, quadra evidenciar que o RDME define transgresso disciplinar da seguinte
forma:
Conceito de transgresso disciplinar
Art. 13 Transgresso disciplinar toda ao ou omisso, praticada por
militar estadual, que viole os preceitos da tica e os valores militares ou que
contrarie os deveres e obrigaes a que est submetido, ou ao contrria
aos preceitos estatudos em leis, regulamentos ou normas internas da PMES
e do CBMES.

As transgresses disciplinares propriamente ditas esto contidas na Parte Especial


do Regulamento, e agrupadas de maneira temtica, segundo a matria com a qual
guardam pertinncia, e esto relacionadas:
a) s regras gerais de conduta social e tica (Art. 133);
b) ao cumprimento do dever funcional (Art. 134);

67

c) pontualidade e ao cumprimento de prazos nas apresentaes e


permanncias (Art. 135);
d) s regras de boa prestao de servio (Art. 136);
e) aos

smbolos,

uniformes,

insgnias,

distintivos,

medalhas,

toques

apresentao pessoal (Art. 137);


f) s regras de zelo com documentos, materiais e animais (Art. 138);
g) s regras de entrada, permanncia, sada e comportamento em organizao
militar (Art. 139);
h) s regras de uso e porte de arma (Art. 140);
i) s regras sobre discusses, manifestaes, divulgaes e publicaes de
matrias (Art. 141);
j) s regras de respeito a superior, igual ou subordinado e civis (Art. 142);
k) s regras sobre circulao e uso de produtos txicos ou entorpecentes,
explosivos, inflamveis e bebidas alcolicas (Art. 143);
l) s regras de exclusividade do servio militar (Art. 144).
Descabe no presente trabalho adentrar anlise das transgresses propriamente
ditas, porquanto alm de obra de flego, trata-se de avaliao quanto a aspectos de
direito material, e no de direito processual administrativo, este sim objeto do
trabalho.
Cumpre assinalar, contudo, que em regra as transgresses estampadas no RDME
(Art. 133 a 144) so julgadas por meio de PAD-RS, de cuja concluso poder
resultar a aplicao das penas de advertncia, repreenso ou deteno.
Contudo, em se tratando de transgresso de maior gravidade, assim considerada
aquela que, em regra, atinja o sentimento do dever, a honra pessoal, o pundonor
militar ou o decoro, ser instaurado processo distinto do PAD-RS, pois nesses casos
poder ter lugar a prpria perda do cargo.

68

4.3 MEIOS DE APURAO

A distino que se adota no presente trabalho leva em conta a finalidade dos


procedimentos instaurados, ou seja, se tm como misso a apurao de fatos ou o
julgamento de condutas que correspondam a ilcitos administrativos disciplinares.
No primeiro grupo, isto , nos meios de apurao, esto contidos o Inqurito Policial
Militar (IPM) e a Sindicncia, ao passo que no segundo esto: o Processo
Administrativo Disciplinar de Rito Sumrio (PAD-RS), o Processo Administrativo
Disciplinar de Rito Ordinrio (PAD-RO), o Conselho de Disciplina (CD) e o Conselho
de Justificao (CJ).
O fator distintivo entre essas duas categorias se d pela nota de que no primeiro
grupo sequer existe acusao formulada, da porque se afirmar que nos casos de
IPM e de Sindicncia no existe sequer o contraditrio e a ampla defesa, conforme
acentuam GRINOVER et al (opus citatus, p. 89):
A investigao administrativa realizada pela polcia judiciria e denominada
inqurito policial no est abrangida pela garantia do contraditrio e da
defesa, mesmo perante o novo texto constitucional, pois nela ainda no h
acusado, mas mero indiciado. Permanece de p a distino do Cdigo de
Processo Penal, que trata do inqurito nos Arts. 4 e 23, e da instruo
processual nos Arts. 394 e 405.

Cumpre evidenciar, no entanto, que se o grande fator distintivo dessas duas


categorias o contraditrio e ampla defesa (ou a sua ausncia), remanescem,
contudo, tanto em sede de inqurito quanto em sindicncia, as demais garantias
decorrentes do devido processo legal.

4.3.2 O Inqurito Policial Militar

A exemplo do que ocorre com o Inqurito Policial (IP), no Inqurito Policial Militar a
razo de ser de sua instaurao se d em decorrncia de prtica de conduta que,
em tese, corresponda a um crime, neste caso crime militar, definido como tal no
Cdigo Penal Militar (CPM).

69

Trata-se, o inqurito, do conjunto de diligncias realizadas pela polcia judiciria


visando a investigar fato tpico, bem como para apurar a sua autoria. Difere, assim,
do processo, que lhe superveniente, pois este tem por escopo o julgamento da
prtica delituosa e a imposio de sanes de natureza penal.
O inqurito policial corresponde, assim, ao momento em que o EstadoAdministrao inicia a denominada persecutio criminis, a fim de esclarecer fatos e
circunstncias que envolvam a prtica de uma conduta criminosa.
Acerca dessa atuao, assinala FILHO, F. (1999, p. 25):
Quando algum comete uma infrao penal, cabe ao Estado, representado
pela Polcia, investigar o fato, apurando, inclusive, quem o cometeu. Trata-se
de um trabalho que, s vezes, se torna rduo. So inmeras investigaes
feitas: ouvem-se testemunhas, ofendido, procedem-se percias, realizam-se
buscas e apreenses, avaliaes, reconhecimentos, ouve-se o pretenso
responsvel, e a todo esse conjunto de diligncias, primeira etapa da
persecutio criminis, d-se o nome de inqurito.

O inqurito policial corresponde, ento, a um procedimento que - embora se destine


a subsidiar a denncia por parte do Ministrio Pblico, cujo recebimento pelo Juiz d
incio ao penal - realizado por setores especficos e no integrantes da
estrutura do Poder Judicirio. Sobre tal caracterstica, assinalam GRINOVER et al
(opus citatus, p. 63):
O inqurito policial mero procedimento administrativo que visa colheita de
provas para informaes sobre o fato infringente da norma e sua autoria. No
existe acusao nessa fase, onde se fala em indiciado (e no acusado, ou
ru) mas no se pode negar que aps o indiciamento surja o conflito de
interesses, com litigantes (Art. 5, inc. LV, CF). Por isso, se no houver
contraditrio, os elementos probatrios do inqurito no podero ser
aproveitados no processo, salvo quando se tratar de provas antecipadas, de
natureza cautelar (como o exame de corpo de delito), em que o contraditrio
diferido. Alm disso, os direitos fundamentais do indiciado ho de ser
plenamente tutelados no inqurito.

Ento, conforme evidenciado, o inqurito, e especificamente o IPM, no tem por


misso precpua apurar a ocorrncia de ilcito administrativo, mas a ocorrncia de
crime de natureza militar, conforme dispe claramente o Cdigo de Processo Penal
Militar:

70

Finalidade do inqurito
Art. 9 O inqurito policial militar a apurao sumria de fato, que, nos
trmos legais, configure crime militar, e de sua autoria. Tem o carter de
instruo provisria, cuja finalidade precpua a de ministrar elementos
necessrios propositura da ao penal.

Ocorre, contudo, que em razo de expressa previso contida no prprio Cdigo,


determina a legislao processual penal militar que o encarregado desse
procedimento, ao encerrar o IPM, se manifeste no apenas acerca da existncia de
indcios de crime, mas tambm se subsiste infrao disciplinar, verbis:
Relatrio
Art. 22. O inqurito ser encerrado com minucioso relatrio, em que o seu
encarregado mencionar as diligncias feitas, as pessoas ouvidas e os
resultados obtidos, com indicao do dia, hora e lugar onde ocorreu o fato
delituoso. Em concluso, dir se h infrao disciplinar a punir ou indcio de
crime, pronunciando-se, neste ltimo caso, justificadamente, sbre a
convenincia da priso preventiva do indiciado, nos trmos legais.

Igualmente, determina o CPPM que a autoridade competente, ao solucionar o


inqurito, decida tambm acerca da transgresso disciplinar:
Relatrio
Art. 22. [...].
Soluo
1. No caso de ter sido delegada a atribuio para a abertura do inqurito, o
seu encarregado envi-lo- autoridade de que recebeu a delegao, para
que lhe homologue ou no a soluo, aplique penalidade, no caso de ter sido
apurada infrao disciplinar, ou determine novas diligncias, se as julgar
necessrias.

Por bvio que a expresso aplique penalidade, no caso de ter sido apurada infrao
disciplinar h de passar pelo filtro constitucional que assegura o direito de
contraditrio e ampla defesa, porque a aplicao imediata de uma sano, tal qual
previsto no CPPM, no foi recepcionada pelo texto constitucional.
Dessa forma, uma interpretao de acordo com a Constituio Federal impe que o
dispositivo seja entendido do seguinte modo: instaure (ou determine a instaurao)
de processo administrativo disciplinar, no caso de ter sido apurado indcios de
infrao disciplinar.
Observa-se, assim, que a previso contida no Art. 22 do Cdigo de Processo Penal
Militar permite que a autoridade competente, diante da notcia de prtica simultnea
de crime e de transgresso disciplinar, determine a instaurao de um s

71

procedimento (IPM), porquanto ao seu fim haver necessariamente a manifestao


quanto a ambas as situaes. Evita-se, portanto, a instaurao de dois
procedimentos semelhantes (IPM e Sindicncia), pois a bem da verdade o que tm
por escopo a apurao do fato, sendo sua qualificao como crime ou
transgresso algo superveniente a essa investigao.
Tal possibilidade de, em sede de IPM, haver a manifestao acerca de indcios de
transgresso disciplinar, de inegvel importncia, pois o poder de investigao do
encarregado de inqurito muito maior, eis que dispe de inmeras medidas que
podem ser realizadas mediante autorizao judicial (por exemplo, busca e
apreenso, priso provisria, interceptao telefnica, dentre outras), em que pese o
fato de essa dupla funo do IPM acabar muitas vezes por contribuir para uma
certa confuso entre o conceito de ilcito penal militar e o de transgresso disciplinar,
hipteses totalmente distintas.
Ademais, de se reconhecer que o dispositivo est em consonncia com o Princpio
da Eficincia, previsto expressamente no caput do Art. 37 da Constituio Federal
como sendo um dos princpios aplicveis Administrao Pblica.

4.3.2 A Sindicncia

Diferentemente do que se d nos casos de instaurao de IPM, nos quais desde a


primeira notcia j se vislumbra a possibilidade de existir crime de natureza militar a
ser investigado, existem situaes da rotina administrativa nas quais embora
subsistam indcios de irregularidade, tal situao corresponde a apenas, e quando
muito, um ilcito de natureza disciplinar. Nesses casos, o procedimento utilizado para
a investigao do fato a Sindicncia.
A expresso sindicar, conforme registro dos lxicos, corresponde a tomar
informaes em razo de ordem superior, fazer inqurito, inquirir, ao passo que o
substantivo sindicncia usualmente empregado no sentido de se referir a uma
inspeo feita em repartio (ou associao) para se indagar dos atos empregados

72

e do modo como feito o servio (CRETELLA JNIOR, opus citatus, p. 55). Acerca
da origem do termo, assinala o autor que:
O vocbulo sindicncia, de origem grega, passou ao portugus atravs do
latim lngua, alis, em que as palavras forjadas sobre a mesma raiz, como
sndico, tiveram escassssimo emprego. Assim, o nome syndicus, i.m., era a
designao do advogado e representante duma cidade, sndico [...].
Na lngua grega, o adjetivo sndico designa, em sua forma substantiva,
aquele que assiste algum em juzo, defensor" e, em Atenas, indicava o
membro de uma comisso de cinco oradores pblicos encarregados de
defender as leis antigas contra as inovaes; mais tarde, depois da
denominao dos Trinta, o vocbulo sndico passou a designar o membro
dum sindicato encarregado de pronunciar-se a respeito dos confiscos.
Etimologicamente, no idioma de origem, os elementos componentes da
palavra em estudo so o prefixo syn (= junto, com, juntamente com) e dic
(mostrar, fazer ver, pr em evidncia), ligando-se este segundo elemento ao
verbo deiknymi, cuja acepo mostrar, fazer ver.
Sindicncia significa, em portugus, letra, a operao cuja faculdade
trazer tona, fazer ver, revelar ou mostrar algo, que se acha oculto.

A conceituao acerca do que seja uma sindicncia varia de autor para autor,
embora seja reconhecvel que, de forma geral, pem em evidncia o fato de se tratar
de procedimento levado a efeito pela administrao, sem maiores rigores formais, e
que se destina a investigar uma irregularidade no servio pblico.
Nessa medida, observa-se que a Sindicncia trata-se de procedimento por meio do
qual so reunidas informaes e outros elementos capazes de esclarecer situaes
de interesse da autoridade instauradora, a fim de evidenciar, ou no, a simples
existncia de inadequaes de atividade funcional (REIS, opus citatus, p. 86).
Ao tratar do tema, SILVA, E. (2009, p. 73-75) evidencia os seguintes aspectos:
Conceituando sob o ponto de vista do direito administrativo, Sindicncia nada
mais que o procedimento pelo qual o Sindicante, aquele que incumbido
de realizar a investigao administrativa, rene num caderno processual, as
informaes obtidas, com a finalidade de esclarecer determinado ato ou fato,
cujo esclarecimento e apurao, so de interesse da autoridade que
determinou sua apurao.
o conjunto de averiguaes promovidas no intuito de se obter informaes
e esclarecimento necessrios determinao do verdadeiro significado dos
fatos denunciados, de forma a permitir autoridade competente concluir
sobre as medidas disciplinares aplicveis ao caso.
[...] temos ento que a sindicncia na verdade, uma pea informativa do
processo disciplinar, e de seu interior normalmente surgem elementos que
so fundamentais para se apurar a responsabilidade do sindicado que a
pessoa objeto da sindicncia.

Por seu turno, COSTA (opus citatus, p. 331) acentua que:

73

Qualquer que seja seu alcance conceitual, a sindicncia, trazendo em seu


semblante a marca caracterstica de procedimento apuratrio sumrio, e por
vezes sigiloso, preordena-se indeclinavelmente a apurao de ocorrncias
anmalas, que tanto podem verificar-se na intimidade do servio pblico,
como em outras cidadelas [...].

Acentuando a nota de se tratar de procedimento com traos inquisitivos, isto , no


qual inexiste a figura do contraditrio e ampla defesa, e que se destina a uma
investigao de prtica de ilcito, assevera PORTA (opus citatus, P. 135):
Via de regra, as sindicncias administrativas possuem carter inquisitrio,
informativo e servem apenas para a apurao dos indcios de autoria e
materialidade, que embasam a instaurao de um processo administrativo.
Portanto, possuem caractersticas similares a um inqurito policial. Assim,
nas sindicncias no se verifica a litigiosidade e, em consequncia, no se
exigem o contraditrio nem a ampla defesa [...].

Depois de evidenciar a relevncia da sindicncia para o esclarecimento de


irregularidades, em especial de determinada infrao praticada por servidor e a sua
eventual responsabilidade, LUZ (opus citatus, p. 175) pondera que tal procedimento
tem uma dupla finalidade: a) o esclarecimento da verdade; b) servir de procedimento
informativo para a instaurao do processo administrativo disciplinar. Coloca em
evidncia, o autor, que sua instaurao h de se dar quando a autoria
desconhecida ou quando o fato ainda no est claramente tipificado. Noutro ponto, o
mesmo autor tambm faz um paralelo entre sindicncia e inqurito policial:
A respeito, ainda recordando o carter supletivo e subsidirio do Direito
Penal, pode-se afirmar, com toda a segurana, existir verdadeira regra de
trs, consagrando o inqurito policial.
Ela esta: a sindicncia est para o processo disciplinar, assim como o
inqurito policial est para o processo criminal. Vale observar a respeito
dessa verdadeira analogia que, enquanto o inqurito pea informativa
quase 100% obrigatria, a sindicncia quase 100% dispensvel. A
pergunta, ento : pode haver processo criminal sem o inqurito policial?
Pode, mas isso exceo. O reverso assim se apresenta, pode haver
processo administrativo disciplinar, sem a prvia sindicncia? Claro que pode
e deve, eis que isso regra, enquanto a ocorrncia da sindicncia exceo
(LUZ, opus citatus, p. 177).

Ao tratar das caractersticas da sindicncia, FILHO, R. (opus citatus, p. 92-94) reala


que, conforme j salientado, no mais tem lugar em nosso ordenamento jurdico a
chamada verdade sabida, porm esclarece que o conhecimento da falta e de seu
autor pela autoridade competente permite a imediata instaurao de processo
administrativo. Conclui, assim, que se no passado essa hiptese (conhecimento de

74

autoria e materialidade) era causa suficiente para a aplicao de pena, hoje


corresponde a situao que torna dispensvel a instaurao de sindicncia, e
conclui:
O instituto da verdade sabida, para ter alguma valia no direito atual, deve
prestar-se to-somente abreviao do procedimento, eliminando a
sindicncia com carter investigatrio. Afinal, se o fato confessado,
documentalmente provado ou manifestamente evidente (verdade sabida) no
h porque instaurar-se sindicncia investigatria, mas diretamente o processo
para apurao da responsabilidade.
[...]
A sindicncia, portanto, um procedimento que objetiva responder a duas
perguntas fundamentais: se o fato irregular ou no e se h presuno de
autoria.
Acaso alguma lei disponha sobre a sindicncia com o sentido antes
assinalado, tratar-se- de procedimento a ser convertido em processo
(contraditrio e ampla defesa) sempre que se deflagrar, em seu curso,
litigncia ou acusao. Porm, se o contraditrio e a ampla defesa no
incidem, a princpio, na sindicncia investigatria, os princpios constitucionais
da Administrao Pblica legalidade, moralidade, impessoalidade,
publicidade e eficincia devero ser respeitados, pois aplicveis a todas as
modalidades de funo administrativa.

Apontadas as opinies dos principais Doutrinadores acerca do tema, cumpre


evidenciar que, para alm de aspectos conceituais, CUNHA e LIMA (1989, p. 6,
apud REIS, opus citatus, P. 88-89) realam que uma sindicncia deve ser:
a) breve: a rapidez na coleta de informaes conduz, com certeza,
preciso das mesmas. A demora implica na deturpao dos fatos, influindo
negativamente nos elementos de convico;
b) clara: a clareza dos fatos fornece segurana, favorece a elaborao do
relatrio com objetividade prpria, legal e administrativamente exigvel. A
obscuridade de informaes conduz a erros e dvidas;
c) exata: a exatido importante requisito, pois o erro suscita dvidas.

Os mesmos autores desaconselham a instaurao de sindicncia quando:


a) no houver dano, fsico, material ou moral;
b) no ocorrer turbao;
c) no resultar em desprestgio ao Servio Pblico, ou ao rgo ou entidade;
d) no existir ocorrncia grave;
e) a mera verdade levar o chefe a adotar medida legal, no disciplinar, que
solucione o problema;
f) houver clareza quanto autoria e materialidade do ato ou do fato,
suficientes para a instaurao do processo administrativo disciplinar.

75

Conforme assinalado anteriormente, no mbito da PMES a sindicncia de natureza


disciplinar est prevista nos artigos 81 e 82 do RDME, tratando-se de procedimento
destinado a apurar a prtica de transgresso disciplinar nas hipteses em que no
seja possvel a imediata instaurao de processo administrativo disciplinar.
Como se disse, trata-se de procedimento sem maiores formalidades e com prazo de
durao de at 30 (trinta) dias. Quanto ao seu resultado, de acordo com o Art. 82 do
RDME a autoridade competente poder adotar as seguintes decises:
a) o arquivamento dos autos;
b) a adoo de medidas administrativas;
c) a instaurao de processo administrativo disciplinar;
d) a instaurao de IPM ou o encaminhamento autoridade competente, se
concludo haver indcio de crime.
Por fim, quadra evidenciar que em razo do Decreto Estadual n. 120-R/2000, todas
as sindicncias instauradas pela PMES devem ser encaminhadas ao Ministrio
Pblico Estadual, depois de concludas.

4.4 MEIOS DE JULGAMENTO

4.4.1 Consideraes gerais

O julgamento do militar estadual pela prtica de transgresso disciplinar pode se dar


de duas maneiras distintas, em processos que tm finalidades especficas, quais
sejam:
a) aqueles que tm por finalidade a aplicao de uma pena corretiva, situao
em que tem lugar a instaurao de Processo Administrativo Disciplinar de Rito
Sumrio (PAD-RS);
b) aqueles que objetivam julgar a prpria permanncia do militar na Corporao,
caso em que ser instaurado o Processo Administrativo Disciplinar de Rito

76

Ordinrio (PAD-RO), o Conselho de Disciplina (CD) ou o Conselho de


Justificao (CJ).
Referindo-se a tal distino entre tais penas, que tm objetivos to distintos, e que
por bvio devem tambm advir de processos diferenciados, ASSIS (2009, p. 127)
afirma que a sano disciplinar pode ser:
Corretiva: aquela em que h um escopo de cunho retributivo ao sujeito ativo
do ato transgressional; outro de carter preventivo individual, visando coibir
que o sujeito ativo no mais cometa tal ilcito administrativo; preventivo
coletivo (interna corporis), com o intuito de evitar a sensao de impunidade
aos demais, coibindo a prtica de ilcitos por outros policiais militares, e, por
fim, o princpio maior (finalstico) da reeducao.
Depurativa: a que tem como condo o ideal retributivo e preventivo coletivo,
diferindo na ausncia do carter preventivo individual e reeducativo, pois este
tipo de sano excluir o militar da organizao, haja vista que uma aplicao
de sano corretiva no atingiria o efeito finalstico.

Ao tratar das questes relacionadas com a prtica de transgresses disciplinares


(Art. 45 a 47 da Lei n. 3.196/78), o Estatuto dos Policiais Militares distingue
claramente tais casos. Primeiramente, cuida de ilcitos disciplinares que no tornam
o militar incompatvel com o exerccio do cargo. Para tanto, reporta-se ao
Regulamento Disciplinar, verbis:
Art. 45. O Regulamento Disciplinar da Polcia Militar especificar e classificar
as transgresses disciplinares e. estabelecer as normas relativas
amplitude e aplicao das penas disciplinares, classificao do
comportamento policial militar e interposio de recursos contra as penas
disciplinares.
1. As penas disciplinares de deteno ou priso no podem ultrapassar de
trinta dias.
2. praa especial, aplicam se, tambm as disposies disciplinares
previstas no regulamento do estabelecimento de ensino onde estiver
matriculado.

Em seguida, cuida de situaes nas quais tambm h prtica de transgresso,


porm de gravidade tamanha que, se comprovada, implica na incapacidade de
permanncia do militar como policial da ativa. So os casos de Conselho de
Justificao e de Conselho de Disciplina:
Art. 46. O Oficial presumivelmente incapaz de permanecer como policial
militar da ativa ser, na forma da legislao especfica, submetido a Conselho
de Justificao. [...]
Art. 47. O Aspirante a Oficial PM, bem como as praas com estabilidade
assegurada, presumivelmente incapazes de permanecerem como policiais
militares da ativa, sero submetidos a Conselho de Disciplina na forma da
legislao especfica. [...]

77

Ao tratar dos meios de apurao e de julgamento das transgresses disciplinares, o


RDME, que cuida especialmente do PAD-RS e do PAD-RO, prev em seu Art. 74
que o Processo Administrativo Disciplinar (PAD) o conjunto de atos, executados
cronologicamente, para investigar fato definido no Regulamento ou em outra
legislao como transgresso disciplinar, garantindo-se ao acusado o direito de
ampla defesa e de contraditrio, a fim de que a autoridade competente obtenha
elementos suficientes para sua convico e deciso sobre a aplicao de sano
disciplinar.
Em regra, o PAD a ser instaurado nos casos de prtica de transgresso o de Rito
Sumrio, aplicvel a todos os militares, conforme j salientado. Excepcionalmente,
no entanto, poder ser instaurado:
a) Processo

Administrativo

Disciplinar

de

Rito

Ordinrio:

destinado

essencialmente ao julgamento da Praa sem estabilidade assegurada (menos


de 10 anos de efetivo servio), e poder lhe acarretar a pena mxima de
licenciamento a bem da disciplina (perda do cargo sem direito a qualquer
indenizao);
b) Conselho de Disciplina: destinado ao julgamento da Praa com estabilidade
assegurada (mais de 10 anos de efetivo servio) ou do Aspirante a Oficial, e
poder implicar na pena mxima de excluso a bem da disciplina (perda do
cargo sem direito a qualquer indenizao);
c) Conselho de Justificao: destinado ao julgamento do Oficial, e poder
resultar na pena mxima de demisso (perda do cargo sem direito a qualquer
indenizao).

4.4.2 O processo como garantia da defesa

Importante ressaltar que o Processo Administrativo Disciplinar, seja ele de que


natureza for (PAD-RS, PAD-RO, CD ou CJ), dialtico, pois tese da acusao se
sucede a da defesa, com vista a uma sntese, que a deciso final. dialtico,
portanto, porque a cada ao da acusao surge para a defesa o direito de reao.

78

Isso se impe pelo fato de que tal deciso final necessita estar de acordo com as
garantias constitucionais do contraditrio e ampla defesa. Para tanto, necessrio
que haja efetiva participao do acusado durante todo o desenvolvimento
processual.
Segue, assim, lgica distinta dos procedimentos investigatrios (IPM e sindicncia),
pois se nestes o interesse maior esclarecer uma irregularidade (lgica da
investigao) o processo administrativo disciplinar deve privilegiar o direito da
defesa, que deve ser sempre considerado em sua plenitude.
No por outra razo que a instaurao processual somente se perfaz com a
citao vlida (Art. 99 do RDME).
Citao vlida, nessa medida, no apenas a existncia dessa pea nos autos, mas
a comprovao clara e inequvoca de que o acusado teve plena cincia de que
figura como acusado em um processo, situao que lhe pode trazer srias
consequncias.
Isso se deve ao fato de que o Ordenamento Jurdico abomina a aplicao de uma
sano, seja ela de que natureza for, sem que ao indivduo seja concedido o
inalienvel direito de se manifestar, isto , de se defender.
Mas no s. Determina o RDME, ainda, que no ato de citao seja fornecido ao
acusado o Libelo Acusatrio, inclusive com os documentos sobre os quais se
fundamenta a acusao:
Citao
Art. 99. O Encarregado do Processo citar ou mandar citar o acusado, para
apresentar sua defesa prvia, e se ver processar at o julgamento final, bem
como para acompanhar todos os demais atos do processo.
Mandado de citao
1. O mandado de citao ser, obrigatoriamente, acompanhado de cpia
do Libelo Acusatrio e demais documentos que motivaram a instaurao do
processo disciplinar, a fim de que o acusado saiba efetivamente o que lhe
est sendo imputado.

O Libelo Acusatrio o instrumento por meio do qual o acusado toma conhecimento


da imputao que lhe est sendo feita. Contm, assim, a descrio do fato e delimita
o objeto da discusso:

79

Libelo acusatrio
Art. 98. O Encarregado do Processo formular o libelo acusatrio, por escrito,
expondo o fato, com suficiente especificidade, de modo a delimitar o objeto
da controvrsia e a permitir a plenitude da defesa.
Contedo do Libelo Acusatrio
1. O Libelo Acusatrio conter:
I O nome do acusado;
II A exposio, deduzida por artigo(s), da(s) transgresso(es)
disciplinar(es) imputada(s) ao acusado;
III A indicao das circunstncias agravantes e de todos os fatos que
devam influir na aplicao da sano disciplinar;
IV O rol de testemunhas, se houver;
V O nome e a assinatura do Encarregado do Processo.
Mais de um acusado
2. Havendo mais de um acusado, o Libelo dever especificar a forma de
participao de cada infrator na(s) transgresso(es) disciplinar(es) a ser(em)
apurada(s).

Tal grau de especificidade do Libelo Acusatrio se mostra de suma importncia para


o exerccio do direito de defesa. Quanto mais especfica a acusao, maiores as
possibilidades de o acusado compreend-la; acusaes genricas, ou que no
sejam bem especficas, acabam por prejudicar a defesa, porquanto em muitos casos
pode sequer saber a linha pela qual dever trilhar.
Impe-se, assim, que a descrio da acusao seja clara, precisa e concisa,
evitando-se longas digresses que na maioria dos casos mais confundem que
explicam.
Dentro desse contexto, e retornando noo de dialeticidade do processo, quando
se disse que o processo administrativo disciplinar se desenvolve nessa perspectiva
fez-se tal afirmao no sentido de se compreender que para cada ato da acusao
permite-se outro da defesa.
No por outro motivo que imediatamente depois do recebimento da citao e do
libelo o acusado tem o direito de apresentar sua verso para os fatos, o que se d
tanto por meio de seu interrogatrio quanto na apresentao de suas razes escritas
(defesa prvia).
Sabe-se que alguns autores criticam o processo administrativo disciplinar pelo fato
de nele, diferentemente dos processos judiciais (cveis ou criminais), competir ao
Estado-Administrao tanto a iniciativa (acusao) quanto sua concluso (deciso).
Contudo, e pelo simples fato de no Direito Brasileiro no haver opo para essa
realidade (j que adotou jurisdio uma), tal situao, longe de ser vista como uma

80

ameaa para o acusado, impe que o Estado-Administrao se cerque de maiores


cuidados possveis durante a instruo processual.
Nessa medida, se ao Juiz compete refrear excessos cometidos por qualquer uma
das partes, mantendo assim o equilbrio entre autor e ru, a Autoridade que
determinou a instaurao de um processo administrativo disciplinar (autoridade
delegante), e aquela que recebeu a delegao para conduzi-lo (autoridade
delegada), deve sempre ter em mente que muito tnue a linha a separar o dever
de julgamento de uma transgresso e a arbitrariedade.
Por tal razo, em matria de processo que envolva uma acusao a dvida deve
sempre ser entendida em favor da defesa. Isso engloba no apenas a dvida
referente ao mrito processual (se culpado ou inocente), mas inclusive aquela que
advm da possibilidade de adoo desta ou daquela medida na conduo do
processo, que, frise-se, deve ter em conta principalmente a pessoa do acusado.
Dessa maneira, impe-se sua manifestao antes mesmo de a prova ser produzida.
Um bom exemplo disso ocorre quando necessria a manifestao de um perito,
situao em que se deve abrir prazo defesa para que, se desejar, formule os
questionamentos que pretende sejam respondidos. Outros exemplos ocorrem nos
casos de inspeo de local, exame de sanidade mental, etc., todos a exigir a plena
manifestao do interessado, pena de malferir o contraditrio e a ampla defesa, e,
por conseguinte, causar vcio irremedivel ao processo.
A lgica dialtica imposta por tais garantias constitucionais de contraditrio e ampla
defesa impe, portanto, o direito de manifestao do acusado durante todo o
desenvolvimento do processo. Assim, a uma prova da acusao permite-se a
contraprova da defesa.
Alis, justamente da que decorre a ordem de oitiva das testemunhas: primeiro
devem ser ouvidas as da acusao, depois as da defesa. A inverso dessa ordem
considerada de tamanha gravidade que pode at mesmo acarretar vcio que torna o
processo imprestvel. Tanto isso verdade que quando for necessrio ouvir outra
testemunha que no aquelas descritas pela acusao no Libelo Acusatrio, deve-se
sempre indagar ao acusado se deseja a realizao de qualquer outra oitiva, inclusive
de testemunha ainda no indicada por ele durante a instruo processual.

81

V-se, portanto, que as autoridades responsveis pelo Processo Administrativo


Disciplinar tm ampla liberdade instrutria, podendo conduzi-lo de acordo com a
realidade ftica ali existente, porm sem jamais se esquecer do direito do
contraditrio e ampla defesa e dos demais princpios aplicveis aos processos nos
quais existe a figura de um acusado.
Observa-se que, ainda dentro dessa lgica, encerrada a instruo processual deve o
Encarregado abrir prazo para que o acusado apresente suas razes escritas
(alegaes finais), momento no qual este poder refutar todo o contedo da
acusao. Somente depois dessa providncia que o Encarregado poder relatar o
processo, e mesmo depois disso dever dar conhecimento do teor do relatrio ao
acusado antes de enviar o processo Autoridade delegante.
Tecidas tais consideraes iniciais, aplicveis aos processos administrativos
disciplinares em geral, apresenta-se, a seguir, os quatro processos administrativos
disciplinares existentes na PMES (PAD-RS, PAD-RO, CD e CJ), com suas principais
caractersticas. Cabe evidenciar, desde j, que maiores consideraes sero tecidas
em relao ao PAD-RS, seja pelo fato de se tratar do processo mais comum, seja
porque muito do que se expe em relao a ele tambm se aplica aos demais
processos.

4.4.3 O Processo Administrativo Disciplinar de Rito Sumrio

O Processo Administrativo Disciplinar de Rito Sumrio est descrito inicialmente no


RDME em seu Art. 75, que cuida essencialmente dessa espcie de processo e
tambm do PAD-RO. Segundo tal artigo, a instaurao de PAD-RS a regra, sendo
o PAD-RO, o CD e o CJ excees.
Quanto ao seu desenvolvimento, ou seja, sua forma de tramitao, as normas
especficas relativas ao PAD-RS esto contidas nos Art. 128 a 130 do RDME.
Inicialmente, de se assinalar que o Art. 128 refora a ideia de que o PAD-RS
corresponde regra, pois afirma textualmente que as transgresses disciplinares, a
princpio, sero apuradas em processo administrativo disciplinar de rito sumrio [...].

82

A instaurao do PAD-RS, a exemplo do que ocorre com os demais processos, se


d mediante portaria, instrumento jurdico que deve conter: a) o nome da autoridade
responsvel pela instaurao; b) o nome do acusado; c) o nome do encarregado
(que age por delegao); d) a descrio da espcie de processo (in casu, PAD-RS);
e) a descrio, ainda que sucinta, do fato e das principais circunstncias que o
envolvem (acusao); f) a tipificao da transgresso praticada.
Embora se trate de processo cuja tramitao seja mais simples, o PAD-RS deve
garantir sempre ao acusado o direito de contraditrio e de ampla defesa, conforme
inclusive prev expressamente o Art. 128 do RDME. Nessa medida, no se deve
confundir o rito sumrio com o desrespeito ao direito de defesa.
O PAD-RS tem prazo de durao de 08 (oito) dias, prorrogveis por mais 05 (cinco),
e se desenvolve nas seguintes fases:
a) instaurao;
b) defesa prvia;
c) investigao sumria;
d) defesa do acusado;
e) relatrio e julgamento.
A primeira fase, ou seja, a instruo, engloba os seguintes momentos: a) elaborao
da Portaria pela Autoridade competente e sua entrega ao Encarregado, juntamente
com os anexos; b) a elaborao, pelo Encarregado, da Citao e do Libelo
Acusatrio, e sua entrega ao acusado.
A fase seguinte, isto , a defesa prvia, corresponde ao momento no qual o acusado
tem a possibilidade de, por escrito, refutar toda a acusao e apontar as provas que
deseja produzir. Importante salientar nesse aspecto que o Encarregado deve dar ao
acusado a possibilidade de manifestao, porm se este se negar a apresentar a
defesa prvia o processo seguir normalmente. Dessa forma, tal omisso da defesa
em nada atrapalha a marcha processual, porm mesmo assim o Encarregado
dever intimar o acusado para os atos que se realizaro. Vale dizer: a omisso do
acusado quanto ao acompanhamento de determinado ato processual do qual teve
cincia no permite ao encarregado deixar de intim-lo para atos futuros.
J a investigao sumria corresponde fase na qual so realizadas as diligncias
aptas ao esclarecimento da verdade. Tais diligncias so variveis de acordo com o

83

caso concreto, e podero englobar o interrogatrio do acusado, a tomada de


depoimentos, a realizao de percias, a juntada de documentos, a realizao de
acareaes, etc. livre, portanto, o Encarregado, na conduo do processo, que h
de oscilar entre as diligncias requeridas pela defesa e aquelas que ele
(Encarregado) julgar necessrias. O nico cuidado, ento, que se deve ter nessa
fase o de garantir ao acusado o pleno exerccio de seu direito de contraditrio e
ampla defesa, algo que se faz lhe dando cincia da realizao dos atos e permitindo
sua manifestao.
A fase seguinte corresponde defesa do acusado. esse o momento no qual tem a
possibilidade de expor suas razes depois de procedida a instruo processual. O
acusado pode, e deve, refutar as acusaes existentes no processo demonstrando
por meio de exerccio de argumentao os motivos pelos quais se considera
inocente. Nesse particular, uma boa defesa aquela na qual o interessado no se
restringe a manifestar-se apenas sobre o todo (culpa ou inocncia), mas que adentra
aos pormenores, inclusive para apontar, por exemplo, a errnea tipificao da
transgresso, a ausncia de circunstncias atenuantes, o excesso de circunstncias
agravantes, dentre outros.
Por fim, a fase final compreende o relatrio do Encarregado e o julgamento da
Autoridade competente. No relatrio, que pea opinativa, o Encarregado faz uma
sntese de tudo aquilo que foi apurado nos autos, emitido de modo circunstanciado
um juzo de valor acerca da culpabilidade do acusado. Manifesta-se sobre a tese da
acusao, as alegaes da defesa, o resultado das provas colhidas, enfim: sobre
todos os elementos que contriburam para formar sua convico, seja pela culpa
seja pela inocncia do acusado. Pode at mesmo apontar para a existncia de uma
transgresso diversa quando o fato praticado se enquadrar melhor em uma outra
tipificao, pois no demais lembrar que o acusado se defende do fato que lhe
imputado, e no de sua tipificao legal. Uma vez concludo o relatrio, deve o
Encarregado dar conhecimento de seu parecer ao acusado para somente ento
encaminhar o processo autoridade competente, a quem compete a deciso final.
No julgamento, tal Autoridade aprecia todo o conjunto probatrio existente e, de
modo fundamentado, expe se aceita ou no o parecer do Encarregado do
processo. Deve, portanto, motivar adequadamente sua deciso, expondo as razes
de fato e de direito pelas quais concluiu pela culpa ou pela inocncia do acusado.

84

Cabe acrescer que caso a deciso final seja pela responsabilidade do acusado, a
Autoridade competente a um s tempo o considera culpado e impe a pena
disciplinar cabvel, que em se tratando de PAD-RS poder ser de advertncia,
repreenso ou deteno.

4.4.4 O Processo Administrativo Disciplinar de Rito Ordinrio

Tal qual ocorre com o PAD-RS, o PAD-RO tambm regulado no RDME.


Conforme se observa no Art. 75, 1, o PAD ter rito ordinrio para apurao de
transgresses disciplinares e julgamento do acusado, nas hipteses previstas no
artigo 30, Incisos I e II, ou em outros casos, a critrio da autoridade competente.
A primeira constatao que se faz ento a seguinte: a) o PAD-RO destina-se,
precipuamente, aos casos de licenciamento a bem da disciplina (Art. 30, Incisos I e II
do RDME); b) excepcionalmente, o PAD-RO pode ser aplicado em outros casos,
conforme adiante se explicitar.
Com relao primeira hiptese, ou seja, os casos de licenciamento a bem da
disciplina, cumpre evidenciar primeiramente que tal situao corresponde ao
desligamento das fileiras da Corporao em razo de prtica de transgresso da
disciplina.
Inicialmente, deve-se atentar para o fato de o direito disciplinar no fugir a uma
realidade do direito segundo a qual uma mesma expresso pode se referir a eventos
fenomenolgicos distintos, situao que por vezes pode levar a equvocos.
Nesse prisma, o termo licenciamento pode adquirir diversas significaes, sendo
oportuno, aqui, diferen-las.
O Estatuto dos Policiais Militares do Esprito Santo trata do licenciamento nos Art.
110 a 112, e o subdivide em dois: a) licenciamento a pedido; b) licenciamento exofficio.
Nos termos do Art. 110 do Estatuto:

85

Art. 110. [...]:


[...]
1. O licenciamento a pedido poder ser concedido, uma vez que no haja
prejuzo para o servio praa que tenha completado o tempo inicial
obrigatrio, de 2 (dois) anos, contados da incorporao ou que, estando
engajado ou reengajado conte, no mnimo, a metade do tempo de servio a
que se abrigou a servir.

V-se, portanto, que o licenciamento a pedido corresponde ao ato de desligamento


da Praa do servio ativo em razo de deciso desta de no mais permanecer na
Corporao.
J o licenciamento ex-officio operado segundo o interesse da Administrao. Reza
o Estatuto, ainda em seu Art. 110:
Art. 110. [...]:
[...]
2. O licenciamento ex-officio ser feito na forma do Regulamento Disciplinar
da Polcia Militar, da Lei do Servio Militar e do seu Regulamento:
a) por concluso de tempo de servio;
b) por convenincia do servio;
c) a bem da disciplina.

As duas primeiras hipteses de licenciamento ex-officio tratam-se de situaes que,


em tempos recentes, no se tem notcia, sendo inclusive duvidosas quanto a sua
constitucionalidade, porquanto a perda do cargo depende da instaurao de
processo administrativo no qual seja assegurado ao interessado o direito de ampla
defesa e contraditrio.
Interessa, no entanto, ao presente estudo, o licenciamento a bem da disciplina, de
que cuida mais precisamente o RDME.
O PAD-RO, conforme assinalado, cuida principalmente dos casos em que se tem
por escopo a aplicao de uma pena que implique na perda do cargo da Praa sem
estabilidade assegurada (licenciamento a bem da disciplina).
As hipteses em que poder se dar o licenciamento a bem da disciplina esto
descritas no Art. 30, Incisos I e II do RDME, verbis:
Aplicao do licenciamento a bem da disciplina
Art. 30. O licenciamento a bem da disciplina poder ser aplicado, quando:
I A transgresso afetar o sentimento do dever, a honra pessoal, o pundonor
militar ou o decoro, considerando-se:
a) Sentimento do dever, o envolvimento em uma tomada de conscincia
perante o caso concreto e a realidade, implicando no reconhecimento da
obrigatoriedade de um comportamento coerente, justo e equnime;

86

b) Honra pessoal, a qualidade ntima do militar estadual que se conduz com


integridade, honestidade, honradez e justia, observando com rigor os
deveres morais que deve ter consigo e com seus semelhantes;
c) Pundonor militar, o sentimento de dignidade prpria com que ilustra e
dignifica a Corporao, conduzindo-se com honestidade, decncia e retido
moral;
d) Decoro, a qualidade baseada no respeito prprio, dos companheiros e da
comunidade a que serve, baseado no mais digno desempenho da profisso
militar;
II O militar, estando no comportamento mau, praticar uma transgresso
disciplinar gravssima ou grave, duas mdias ou trs leves, no perodo de um
ano.

Dessa maneira, o PAD-RO, para fins de licenciamento a bem da disciplina, pode ser
instaurado quando a praa sem estabilidade assegurada: a) praticar transgresso
cuja gravidade a faa incidir no inciso I do Art. 30, independentemente do
comportamento militar estadual em que esteja classificada; ou b) j estando no
comportamento militar estadual mau, vier novamente a reincidir na prtica de
outras transgresses, na forma do inciso II do Art. 30.
Importante salientar, por fim, que uma vez licenciada a bem da disciplina, a Praa
sem estabilidade no faz jus a qualquer remunerao ou indenizao, inteligncia do
Art. 110, 3, do Estatuto.
Finalmente, j delineada a primeira hiptese de instaurao do PAD-RO, cumpre
esclarecer o real alcance da locuo ou em outros casos, a critrio da autoridade
competente, que corresponde segunda hiptese prevista no Art. 75, 1.
Primeiramente, uma interpretao sistemtica leva concluso de que outros
casos corresponde, por certo, a outras hipteses de prtica de transgresso
disciplinar, nos quais seja necessrio apurar e julgar a conduta de militar estadual,
para ao final aplicar-se uma pena de natureza tambm disciplinar.
O mesmo RDME define em seu Art. 15 as sanes disciplinares a que os militares
estaduais esto sujeitos, verbis:
Art. 15. As sanes disciplinares a que esto sujeitos os militares estaduais
da PMES e do CBMES, so as seguintes:
I Advertncia;
II Repreenso;
III Deteno;
IV Reforma Disciplinar;
V Licenciamento a Bem da Disciplina;
VI Excluso a Bem da Disciplina;
VII Demisso.

87

Dessa forma, a nica razo de ser para a instaurao de um PAD-RO em outros


casos se prende ao carter finalstico de imposio de uma pena.
Ocorre, no entanto, que conforme adiante se ver a demisso, aplicvel ao Oficial,
somente tem lugar depois de concludo o Conselho de Justificao, processo
administrativo disciplinar com essa finalidade, que regulado pela Lei n. 3.213/78 e
portanto impossvel de ser alterado por meio do RDME (introduzido no ordenamento
jurdico por meio de decreto).
Igualmente, e tambm conforme explicitado posteriormente, a excluso a bem da
disciplina, aplicvel ao Aspirante a Oficial ou Praa com estabilidade assegurada,
somente pode se dar depois de concludo o Conselho de Disciplina, processo
administrativo disciplinar com essa finalidade. Pela mesma razo acima apontada,
eis que o CD regulado pela Lei n. 3.206/78, o RDME no o poderia alterar.
O licenciamento a bem da disciplina tambm no corresponde a outros casos, pois
j tratado na primeira parte do dispositivo Art. 75 do RDME.
Igualmente, a reforma disciplinar, que consiste na passagem inatividade com
proventos proporcionais ao tempo de servio, tambm no pode decorrer do PADRO. que tal modalidade de sano somente pode ser aplicada ao Oficial (depois
de concludo o CJ), ou ao Aspirante a Oficial ou Praa com estabilidade assegurada
(depois de concludo o CD), e em ambos os casos as leis que regulam esses
processos j trata do tema.
Restam, ento, os casos de deteno, repreenso e advertncia, porm essas
tambm j tm disciplina prpria, porquanto podem decorrer do PAD-RS.
Dentro dessa perspectiva, a nica razo para a existncia dessa possibilidade de
instaurao de PAD-RO para outros casos situao, como dito, no mnimo
estranha corresponde s hipteses em que a grande quantidade de acusados ou a
complexidade do caso impusesse um rito mais solene, em especial no que diz
respeito a um perodo de tempo maior para sua concluso, j que a teor do Art. 83
tal processo tem prazo de 30 (trinta) dias, prorrogvel por mais 20 (vinte) dias.
A respeito de sua forma de tramitao, o RDME cuida do PAD-RO nos Art. 83 a 127,
e traa normas acerca de todas as suas fases, que so praticamente as mesmas do
PAD-RS, ou seja: instaurao, defesa prvia, instruo, alegaes finais e relatrio,
valendo aqui as consideraes anteriores quando se tratou do processo sumrio.

88

Quadra evidenciar, por fim, que alm das hipteses a que se destina, diversas das
do PAD-RS, a grande nota distintiva do PAD-RO o fato de neste processo ser
proibida a dispensa de fases quando se apontar para a culpabilidade do acusado e
isso puder importar em seu licenciamento a bem da disciplina (art. 96, 2 do
RDME).

4.4.5 O Conselho de Disciplina

O Estatuto dos Policiais Militares do Esprito Santo, ao tratar de questes afetas


violao das obrigaes e dos deveres policiais militares, ou seja, de que aspectos
relacionadas disciplina, previu a possibilidade de instaurao de processo prprio
para, pela via administrativa, julgar a capacidade de permanncia do Aspirante a
Oficial ou da Praa com estabilidade assegurada na Corporao. A tal processo
administrativo disciplinar denominou de Conselho de Disciplina (CD).
Art. 47. O Aspirante a Oficial PM, bem como as praas com estabilidade
assegurada, presumivelmente incapazes de permanecerem como policiais
militares da ativa, sero submetidos a Conselho de Disciplina na forma da
legislao especfica.
1. O Aspirante a Oficial PM e as praas com estabilidade assegurada, ao
serem submetidas a Conselho de Disciplina, sero afastados das atividades
que estiverem exercendo.
2. Compete ao Comandante Geral da Polcia Militar julgar, em ltima
instncia, os processos oriundos do Conselho de Disciplina convocado ao
mbito da Polcia Militar.
3. O Conselho de Disciplina tambm poder ser aplicado s praas
reformadas e da reserva remunerada.

Em obedincia previso contida no Estatuto, ainda no ano de 1978 editou-se a Lei


n. 3.206/78, de 29 de maio de 1978, que Dispe sobre o Conselho de Disciplina.
O Conselho de Disciplina destinado, assim, a julgar a incapacidade do Aspirante a
Oficial PM e das demais praas da Polcia Militar do Esprito Santo com estabilidade
assegurada, para permanecerem na ativa, criando-lhes, ao mesmo tempo,
condies para se defenderem, podendo ser, inclusive, aplicado aos que estejam na
inatividade (reformados ou na reserva remunerada), e sejam presumivelmente
incapazes de permanecer na situao de inatividade em que se encontram.

89

No que concerne aos motivos de sua instaurao, observa-se que a Lei que rege o
CD cuida, em seu Art. 2, de diversos casos:
Art. 2. submetida a Conselho de Disciplina, ex-officio, a praa referida no
art. 19 e seu pargrafo nico:
I acusada oficialmente ou por qualquer meio licito de comunicao social de
ter:
a) procedido incorretamente no desempenho do cargo;
b) tido conduta irregular; ou
c) praticado ato que afete a honra pessoal, o pundonor policial militar ou
decoro da classe.
II afastada do cargo, na forma de legislao policial militar, por se tornar
incompatvel com o mesmo ou demonstrar incapacidade no exerccio de
funes policiais militares a ele inerentes, salvo se o afastamento
decorrncia de fatos que motivem sua submisso a processo.
III condenada por crime de natureza dolosa no previsto na legislao
especial concernente Segurana Nacional, em tribunal civil ou militar, a
pena restritiva de liberdade Individual at 2 (dois) anos, to logo transite em
julgado a sentena; ou
IV pertencente a partido poltico ou associao, suspensos ou dissolvidos
por fora de disposio legal ou deciso judicial, ou que exeram atividades
prejudiciais ou perigosas Segurana Nacional.

certo, conforme salientou ASSIS (opus citatus, p. 246), que o legislador se vale
muitas vezes de conceitos vagos e imprecisos para determinar a prtica de
determinadas

infraes

disciplinares.

So

verdadeiros

conceitos

jurdicos

indeterminados, cabendo ao intrprete dar-lhes concretude, sempre levando em


conta os princpios que regem a administrao pblica e os deveres e obrigaes
decorrentes do cargo pblico que o servidor ocupa.
Trata-se da conhecida discusso entre tipicidade e atipicidade, ou seja, sobre se at
que ponto correto o legislador, ao definir certas infraes administrativas, no
seguir a lgica do direito penal, no qual vige a tipicidade. Sem adentrar ao campo
dessa discusso, que por si s j seria suficiente para um estudo prprio, verifica-se
que a adoo da atipicidade tem sido algo comum em normas que definem certas
condutas praticadas por servidores pblicos.
Certo , ento, que em tais casos, o Administrador deve se cercar de maiores
cautelas possveis, no sendo bastante que o ato inicial de instaurao e o ato final
de deciso faam apenas referncias vagas tipificao da transgresso, mas
descrevam de maneira pormenorizada a conduta material (ao ou omisso) do
servidor que o fez incidir na prtica de tal transgresso, bem como deve-se
evidenciar em que medita tal situao trouxe prejuzo para o servio pblico
(econmico, moral, desprestgio, etc.). Vlida a lio de MIRANDA (s.d., p.480-

90

481, apud ASSIS, apus citatus, p. 187) ao conceituar ao estabelecer os requisitos


necessrios para que se reconhea a prtica de transgresso disciplinar:
[...] a transgresso disciplinar refere-se necessariamente, a: a) hierarquia,
atravs da qual flui o dever de obedincia e de conformidade com
instituies, regulamentos internos e recebimento de ordens; b) poder
disciplinar, que supe a atribuio de direito de punir, disciplinarmente, cujo
carter subjetivo o localiza em todos, ou em alguns, ou somente em alguns
do superiores hierrquicos; c) ato ligado funo; d) pena, susceptvel de ser
aplicada disciplinarmente, portanto sem ser pela justia como justia.

Verificou-se ao se tratar do PAD-RO que o RDME buscou definir no Art. 30 os


conceitos de sentimento do dever, honra pessoal, pundonor militar e decoro,
todavia sabe-se que nem sempre definies levam a uma melhor compreenso da
temtica. Alis, muito frequentemente acabam por confundir ainda mais o objeto
estudado.
Uma definio para tais preceitos (que acabam por ser semelhantes tanto no PADRO, quanto no CD e no CJ) foi apontada na referncia feita a MIKALOVSKY (2002,
p. 107-108), conforme pgina 64 infra.
Os conceitos jurdicos indeterminados so usados pelo legislador para definir
algumas espcies de transgresses disciplinares, algo que no vai de encontro ao
postulado da legalidade. De acordo com OSRIO (2009, p. 215):
No h dvidas de que conceitos ou termos jurdicos indeterminados,
clusula gerais e elementos normativos semanticamente vagos ou ambguos
podem ser utilizados na tipificao de condutas proibidas, seja no Direito
Penal seja no Direito Administrativo Sancionador, neste com maior
frequncia. Trata-se, inclusive, de um problema de linguagem, de inevitvel
abertura da linguagem normativa, com todas suas potencialidades.

Por seu turno, observa-se que ASSIS (opus citatus, p. 246), ao comentar o Conselho
de Justificao, e depois de realar o aspecto de que tais processos correspondem
a verdadeiros tribunais de honra, busca assim definir os conceitos ali utilizados:
CONDUTA IRREGULAR o desregramento, a frequncia habitual a locais
no compatveis com a situao de militar, principalmente de oficial.
apresentar-se comumente embriagado, no ter postura perante seus iguais,
superiores ou subordinados; ser reincidente em faltas disciplinares de
natureza grave, mostrando-se refratrio disciplina.
J o DECORO a decncia, respeito de si mesmo e dos outros.
PUNDONOR o zelo, brio, altivez, denodo, cavalheirismo. A HONRA
PESSOAL, sendo bem jurdico de altssimo valor, no demarcada
milimetricamente. Sendo pessoal, a honra no se transfere para os outros e
s que pode defend-la seu titular.

91

Dessa forma, para uma melhor compreenso dos comandos compreendidos no Art.
2 da Lei n. 3.206/78 deve-se ter em mente o seguinte:
a) procedido incorretamente no desempenho do cargo no pode ser tomado
como uma falta qualquer, porquanto at mesmo uma transgresso de menor
gravidade poderia estar dentro desse conceito e, assim, levar a uma
interpretao teratolgica segundo a qual essa mesma falta ensejaria uma
pena capital; deve-se, portanto, aplicar tal conceito a casos extremos, tais
como desvios de recursos, atos de corrupo, dentre outros em que o
indivduo se vale do cargo que ocupa para agir em desacordo com a lei;
utiliza-se das facilidades e do poder de seu cargo para a prtica da
transgresso;
b) a conduta irregular pode estar ligada a uma srie de infraes menores mas
que, quando tomadas conjuntamente, demonstram que o servidor indivduo
de vida torta, que no pauta sua conduta pessoal e profissional de acordo
com o mnimo de decncia que a liturgia de seu cargo exige; tem-se,
portanto, que nesses casos a incidncia no dispositivo legal no decorre
necessariamente de prtica de atos ligados sua funo, mas podem advir,
inclusive, de sua vida privada, desde que ela tenha se tornado escandalosa a
tal ponto de contraindicar sua permanncia no servio pblico; quando
ligados funo, tratam-se de atos repetidos de modo contnuo, sendo certo
que a aplicao de sanes anteriores no foi suficiente para coibir a prtica
de novas condutas de mesma natureza; toma-se, assim, nos casos de
conduta irregular, o histrico de vida do servidor para o fim de avaliar se
ou no conveniente sua permanncia no servio pblico;
c) o ato que afete a honra pessoal, o pundonor policial militar ou decoro da
classe corresponde prtica de uma determinada conduta cujo grau de
reprovabilidade tamanho que, quando ontologicamente considerada, denota
a total incompatibilidade com o padro tico-moral exigvel de um servidor
pblico; compreende situaes que at mesmo aos olhos do leigo se
afiguram como condutas inadmissveis para aquele que, integrante do servio
pblico, deve pautar sua vida com o mnimo de decncia; exemplos que
podem ser citados so os casos de corrupo (que tambm se enquadram

92

em

conduta

irregular),

envolvimento

com

criminosos,

trfico

de

entorpecentes, roubo, estupro, pedofilia, etc.


Essas so, pois, as causas principais de submisso a Conselho de Disciplina; das
demais, frise-se, no se tem notcia.
A hiptese ventilada no inciso II do Art. 2 da Lei n. 3.206/78 de difcil
compreenso porquanto resulta impossvel imaginar situao segundo a qual a
Praa seja afastada de seu cargo por praticar ato que a torne incompatvel com ele e
que tal ato no se insira necessariamente nas hipteses anteriormente elencadas.
dizer: o afastamento do cargo vem, at por imperativo lgico, como consequncia de
atos j apontados, e no se cuida de condio para a instaurao do processo.
De igual modo, a previso contida no inciso III do Art. 2 da Lei n. 3.206/78, a
determinar a instaurao de CD nos casos de condenao por crime a pena superior
a 02 (dois) anos, tambm se mostra incua, pois o Art. 17 da mesma Lei reza que
prescrevem em 06 (seis) anos, computados da data em que foram praticados, os
casos previstos nesta Lei, de sorte que resulta pouco provvel que nesse intervalo
de tempo j tenha ocorrido o trnsito em julgado da sentena penal condenatria.
Por fim, a ltima hiptese, prevista no inciso IV do Art. 2 da Lei n. 3.206/78 diz
respeito submisso do Aspirante a Oficial ou da Praa estvel a Conselho de
Disciplina quando pertencente a partido poltico ou associao, suspensos ou
dissolvidos por fora de disposio legal ou deciso judicial, ou que exeram
atividades prejudiciais ou perigosas Segurana Nacional. Conforme realou
ASSIS (opus citatus, p. 246) atualmente, no existem partidos polticos na
clandestinidade nem considerados nocivos segurana nacional, razo pela qual o
dispositivo tem nenhuma aplicabilidade em termos de processo dessa natureza.
Vale realar, no entanto, que h previso constitucional de vedao de filiao dos
militares a partidos polticos legalmente constitudos (Art. 42, 1 c/c Art. 142, 3,
inc. V, da Constituio Federal), subsistindo, assim, a prtica de transgresso
punvel em PAD-RS caso tal filiao se verifique.
No que diz respeito ao desenvolvimento do Conselho de Disciplina e de suas
consequncias para o acusado, cumpre assinalar que este, ao ser submetido a tal
processo, afastado do exerccio de suas funes.

93

A instaurao do processo ato de competncia privativa do Comandante Geral da


Corporao (Art. 4), situao que se justifica em razo da pena disciplinar
extremamente grave que pode acarretar para o acusado, sendo, portanto, temerrio
que essa iniciativa pudesse ser confiada a outros nveis subordinados, dado a
possibilidade de adoo de perigosos e diferentes parmetros de avaliao.
Em sua composio, atuando como autoridades delegadas, devem figurar sempre
03 (trs) Oficiais, dos quais ao menos um deles deve ser ocupante, no mnimo, do
posto de Capito (Art. 6). As funes entre seus membros so assim divididas: a) o
mais antigo o Presidente e responsvel pela conduo dos trabalhos; b) o
segundo em ordem de antiguidade o Interrogante e Relator, e como o prprio
nome est a indicar compete-lhe precipuamente formular perguntas ao acusado e
testemunhas e elaborar o relatrio final; c) o membro mais moderno o Escrivo, ou
seja, incumbe-lhe realizar os atos de registro documental dos depoimentos, a
elaborao de atas, a expedio de ofcios, etc.
Sobre seu funcionamento, prev a Lei do Conselho de Disciplina que o acusado
intimado a comparecer em dia, hora e local determinado para que se colha seu
interrogatrio acerca do fato imputado (Art. 7), ou seja, seu interrogatrio ato de
defesa e momento no qual tem a primeira oportunidade de apresentar sua verso
para os fatos.
Depois de realizado o Interrogatrio, ser fornecido ao acusado Libelo Acusatrio
contendo a descrio da acusao que lhe formulada, a fim de que no prazo de 05
(cinco) dias apresente suas razes de defesa (Art. 9), que devero ser escritas.
Depois disso passa-se fase de instruo, com a colheita de provas aptas a
esclarecer a verdade. So vlidas, aqui, as consideraes j tecidas no que
concerne aos direitos e garantias do acusado durante a instruo processual,
descabendo repeti-las.
Quanto ao prazo de sua tramitao, assinala o Art. 11 que os membros de Conselho
de Disciplina dispem de 30 (trinta) dias, prorrogveis por mais 20 (vinte) dias, para
a concluso dos trabalhos.
Importante salientar que o Art. 12 da Lei n. 3.206/78 tem redao confusa e que
poderia levar a erro, pois afirma que realizadas todas as diligncias, o Conselho de
Disciplina passa a deliberar, em sesso secreta, sobre o relatrio a ser redigido.

94

Cumpre evidenciar que o dispositivo suso mencionado poderia levar concluso de


que aps a instruo os membros do Conselho poderiam passar ao relatrio sem
que houvesse, antes disso, a manifestao do acusado. Tal possibilidade deve, no
entanto, ser desde j afastada, porquanto iria de encontro ao direito de ampla defesa
e contraditrio. Lembre-se que, ao acusado, sempre dever ser garantido o direito
de se defender, e no teria o menor cabimento que se manifestasse nica e to
somente em sede de defesa prvia. Assim, uma vez realizadas as diligncias, e
antes da elaborao do relatrio, os membros devem dar ao acusado a possibilidade
de se manifestar em alegaes finais, cujo prazo, por analogia ao Art. 9, dever ser
de 05 (cinco) dias.
Somente depois dessa providncia, ento, que ser elaborado o relatrio,
momento no qual os membros, cujos votos tem o mesmo peso, decidiro sobre a
culpabilidade do acusado.
Depois disso, o processo encaminhado ao Comandante Geral da Corporao, a
quem compete no prazo de 20 (vinte) dias a deciso final; poder tal Autoridade em
seu julgamento declarar que o militar :
a) inocente, motivo pelo qual determinar o arquivamento dos autos;
b) culpado, porm no pela prtica de transgresso que se subsuma aos casos
previstos no Art. 2 da Lei n. 3.206/78, mas sim por haver transgresso
disciplinar punvel com advertncia, repreenso ou deteno;
c) culpado, da prtica de transgresso que se subsuma aos casos previstos no
Art. 2 da Lei n. 3.206/78, razo pela qual determinar a efetivao da
reforma disciplinar ou da excluso a bem da disciplina.
de se evidenciar que a excluso a bem da disciplina, tal qual a observao acerca
do licenciamento, pode advir de diferentes situaes e como j se disse,
corresponde perda do cargo pblico. Tal sano prevista, dentre outras normas,
tambm no Estatuto dos Policiais Militares do Esprito nos Art. 113 a 115.
Conforme o Art. 113 do Estatuto existe a possibilidade de aplicao dessa pena ao
Aspirante a Oficial ou Praa com estabilidade assegurada:
a) sobre os quais houver pronunciado tal sentena o Conselho Permanente de
Justia, por haverem sido condenados em sentena passada em julgado, por
aquele Conselho ou Tribunal Civil, a pena restrita de liberdade individual

95

superior a 2 (dois) anos ou nos crimes previstos na legislao especial


concernentes Segurana Nacional, pena de qualquer durao;
b) sobre os quais houver pronunciado tal sentena o Conselho Permanente de
Justia, por haverem perdido a nacionalidade brasileira;
c) que incidirem nos casos que motivarem o julgamento pelo Conselho de
Disciplina previsto no Art. 47 do Estatuto e forem considerados culpados.
Conforme dispe expressamente o Estatuto em seu Art. 114 (com previso idntica
no Art. 13 da Lei n. 3.206/78) da competncia do Comandante Geral da PMES o
ato de excluso a bem da disciplina do Aspirante a Oficial assim como das praas
com estabilidade assegurada, excluso essa que acarreta a perda do seu grau
hierrquico e no isenta das indenizaes dos prejuzos causados Fazenda do
Estado ou a terceiros, nem das penses decorrentes de sentena judicial.
Igualmente, o militar excludo a bem da disciplina no ter direito a qualquer
remunerao ou indenizao e sua situao militar ser definida pela Lei do Servio
Militar, ex vi do Art. 115 do mesmo Estatuto.
Outra espcie de sano possvel de ser aplicada ao final do Conselho de Disciplina
corresponde reforma disciplinar, e por certo seus efeitos so menos graves que os
da excluso a bem da disciplina. Consiste, neste caso, na passagem do militar
situao de inatividade (reformado) em razo de prtica de transgresso disciplinar.
Contudo, antes de tratar a tal espcie de pena (reforma disciplinar) cumpre
esclarecer o termo reforma mais apresenta, mais uma vez, o problema comum ao
direito: a polissemia, ou seja, uma mesma palavra com diferentes significados.
Assim, quando se fala em reforma preciso primeiro indagar sobre que tipo de
reforma est a se referir, pois por certo tal situao pode decorrer de variadas
causas.
A reforma (gnero) tratada pelo Estatuto dos Policiais Militares do Esprito nos Art.
94 a 103, sendo importante destacar que pode ser decorrente de (espcies):
a) haver o militar atingido a idade limite de permanncia na inatividade (Art. 95,
inc. I);
b) incapacidade definitiva para o servio ativo decorrente de: ferimento em
servio; acidente de servio; doena, molstia ou enfermidade adquirida em
razo do servio; doenas incapacitantes descritas no Art. 97 inc. IV

96

(alienao mental, cegueira, cardiopatia grave, mal de Parkinson, neoplasia


maligna, etc.);
c) agregao por mais de 02 (dois) anos em razo de incapacidade temporria
por motivo de doena;
d) condenao a tal pena pela prtica de crime militar, conforme o disposto no
Cdigo Penal Militar;
e) julgamento no qual seja determinada tal sano ao Oficial pelo Tribunal de
Justia, deciso proferida em Conselho de Justificao;
f) julgamento realizado pelo Comandante Geral no qual se imponha tal sano
ao Aspirante a Oficial ou Praa estvel, deciso proferida em Conselho de
Disciplina.
Nessa medida, quando a Lei do Conselho de Disciplina se refere reforma est a
tratar do ltimo caso, ou seja, a reforma disciplinar.
As hipteses de reforma de natureza disciplinar podem ocorrer tanto ao final do
Conselho de Disciplina quanto ao fim do Conselho de Justificao. Tal modalidade
de reforma frise-se, pena, e como tal pressupe a existncia de um regular
processo administrativo disciplinar que lhe seja anterior, no qual seja garantido ao
acusado o exerccio do direito de defesa em sua plenitude. No se confunde, assim,
com outros casos de reforma previstos no Estatuto dos Policiais Militares.
Cumpre salientar, por fim, que a reforma disciplinar do Aspirante a Oficial ou da
Praa estvel submetida a Conselho de Disciplina se d no grau hierrquico que
possui na ativa, e sua remunerao (proventos) ser proporcional ao seu tempo de
servio.

4.4.6 O Conselho de Justificao

Depois de discorrer sobre o PAD-RS, o PAD-RO e o CD, pouco resta para tratar em
matria

de

Conselho

de

Justificao,

porquanto

as

diretivas

abordadas

anteriormente tm tambm aplicabilidade aqui naquilo que couber, especialmente no


que concerne ao direito de ampla defesa e contraditrio.

97

Quadra assinalar que a exemplo do que fez em relao ao CD, o Estatuto dos
Policiais Militares do Esprito Santo, ao tratar de aspectos relacionados violao
das obrigaes e dos deveres policiais militares, ou seja, de questes ligadas
disciplina, previu a possibilidade de instaurao de processo prprio para, em sede
administrativa, julgar a capacidade de permanncia do Oficial na Corporao,
processo administrativo disciplinar nominado de Conselho de Justificao (CJ).
Art. 46. O Oficial presumivelmente incapaz de permanecer como policial
militar da ativa ser, na forma da legislao especfica, submetido a Conselho
de Justificao.
1. O Oficial ao ser submetido a Conselho de Justificao poder ser
afastado do exerccio de suas funes automaticamente ou a critrio do
Comandante Geral da Polcia Militar, conforme estabelecido em Lei
especfica.
2. Compete ao Tribunal de Justia do Estado julgar os processos oriundos
do Conselho de Justificao, na forma estabelecida em leis especficas.
3. O Conselho de Justificao tambm poder ser aplicado aos oficiais
reformados e da reserva remunerada.

A Norma que regula o funcionamento do Conselho de Justificao a Lei n.


3.213/78, de 09 de junho de 1978. A teor do que dispe o Art. 1 da Lei suso
mencionada, o Conselho de Justificao destinado a julgar, atravs de processo
especial, da incapacidade do oficial da PMES para permanecer na ativa, criando-lhe,
ao mesmo, tempo, condies para se justificar, sendo que tal processo [...] pode,
tambm,

ser

aplicado

ao

oficial

da

reserva

remunerada

ou

reformado,

presumivelmente incapaz de permanecer na situao de inatividade em que se


encontra. No que diz respeito aos motivos de sua instaurao, a Lei que rege o CJ
trata, em seu Art. 2, dos seguintes casos:
Art. 2. submetido a Conselho de Justificao, a pedido ou ex-officio, o
oficial da PMES:
I acusado oficialmente ou por qualquer meio lcito de comunicao social de
ter:
a) procedido incorretamente no desempenho do cargo;
b) tido conduta irregular; ou
c) praticado ato que afete a honra pessoal, o pundonor policial militar ou o
decoro da classe;
II considerado no habilitado para o acesso, em carter provisrio, no
momento em que venha a ser objeto de apreciao para ingresso em Quadro
de Acesso ou lista de escolha;
III afastado do cargo, na forma do Estatuto do Policial Militar ou, na sua
falta, da legislao vigente; por se tornar incompatvel com o mesmo ou
demonstrar incapacidade no exerccio de funes policiais militares a ele
inerentes, salvo se o afastamento decorrncia de fatos que motivem sua
submisso a processo;
IV condenado por crime de natureza dolosa, no previsto na legislao
especial concernente segurana nacional, em Tribunal civil ou militar pena

98

restritiva de liberdade individual at 2 (dois) anos, to logo transite em julgado


a sentena; ou
V pertencente a partido poltico ou associao, suspensos ou dissolvidos
por fora de disposio legal ou deciso judicial, ou que exeram atividades
prejudiciais ou perigosas segurana nacional.

Verifica-se que os motivos que determinam a instaurao de CJ para o Oficial so


praticamente os mesmos que impem a instaurao de CD para o Aspirante a
Oficial ou para a Praa estvel, sendo vlidas, aqui, as consideraes tecidas
acerca dos dispositivos que do ensejo a essa modalidade de processo
administrativo disciplinar, bem como o real alcance dos conceitos existentes no Art.
2 da Lei n. 3.213/78.
A nica situao ventilada na Lei do CJ e que inexiste na do CD diz com a situao
prevista no Art. 2, inc. II, da Lei n. 3.213/78, qual seja, a do Oficial considerado
no habilitado para o acesso, em carter provisrio, no momento em que venha a
ser objeto de apreciao para ingresso em Quadro de Acesso ou lista de escolha.
Em que pese a previso contida na norma, acredita-se que mais uma vez est-se
diante de dispositivo incuo (a exemplo do que ocorre com o inciso III do mesmo
artigo), pois dificilmente se pode imaginar algum como no habilitado a ingressar
em quadro de acesso cuja conduta, por sua gravidade, j no o tenha feito ser
submetido ao Conselho de Justificao. Vale dizer: a inabilitao para o quadro de
acesso se afigura como uma consequncia da prtica de uma determinada conduta,
e no como verdadeira causa a ensejar a instaurao do Conselho. O dispositivo, ao
que parece, tambm inverte essa lgica (algo j apontado ao se comentar o CD) e
se mostra at mesmo despiciendo.
Diferentemente do que ocorre nos casos de CD, no Conselho de Justificao o
afastamento do Oficial de suas funes:
a) automtico, nos casos do Art. 2, inc. IV e V;
b) pode ocorrer, a critrio do Comandante Geral, nas hipteses do Art. 2, inc. I;
c) no previsto para as situaes do Art. 2, inc. II e III.
Conforme preceitua o Art. 4, a instaurao do processo a nomeao dos membros
ato privativo do Governador do Estado.

99

Quanto sua composio, o Conselho de Justificao integrado por 03 (trs)


Oficiais, dos quais ao menos um deles deve ser ocupante, no mnimo, do posto de
Major (Art. 5), e os demais no mnimo Capites.
Tal qual ocorre no CD, as funes entre os membros do CJ so assim divididas: a) o
mais antigo o Presidente e responsvel pela conduo dos trabalhos; b) o
segundo em ordem de antiguidade o Interrogante e Relator, e como o prprio
nome est a indicar compete-lhe precipuamente formular perguntas ao acusado e s
testemunhas e elaborar o relatrio final; c) o membro mais moderno o Escrivo, ou
seja, incumbe-lhe realizar os atos de registro documental dos depoimentos, a
elaborao de atas, a expedio de ofcios etc.
As disposies relativas tramitao do CJ so praticamente idnticas quelas
referentes ao CD, da porque ser desnecessrio repeti-las. As distines, no entanto,
se acentuam depois de concludos os trabalhos pelos responsveis pela sua
conduo.
Uma vez elaborado o Relatrio, o processo encaminhado ao Governador do
Estado por meio do Comandante Geral.
Recebidos os autos, o Governador do Estado pode adotar uma das seguintes
providncias, conforme Art. 13:
a) o arquivamento do processo se considera procedente a justificao;
b) a aplicao de pena disciplinar, se considera transgresso disciplinar a razo
pela qual o oficial foi julgado culpado;
c) na forma do Estatuto dos Policiais Militares ou, na sua falta, de legislao
vigente, a adoo das providncias necessrias transferncia para a
reserva remunerada, se o oficial for considerado no habilitado para o acesso
em carter definitivo, providncia cuja constitucionalidade questionvel,
salvo se essa no habilitao decorrer de fator alheio a questes
disciplinares;
d) a remessa do processo ao Tribunal de Justia do Esprito Santo se a razo
pela qual o Oficial foi julgado culpado est prevista no Art. 2, inc. I, III e V, ou
se pelo crime cometido (Art. 2, inc. IV) o Oficial foi julgado incapaz de
permanecer na ativa ou na inatividade.

100

Observa-se, ento, que o processo pode se desenvolver em duas fases: a primeira,


no mbito do Poder Executivo, pois ao Governador do Estado compete a
instaurao do processo e ao seu final o primeiro juzo acerca da conduta do Oficial,
podendo ele mesmo adotar diversas medidas, sendo-lhe, contudo, defeso aplicar a
pena de demisso ou de reforma disciplinar antes de manifestao nesse sentido
pelo Tribunal de Justia; a segunda tem vez no mbito do Poder Judicirio nas
hipteses em que o processo remetido ao Tribunal de Justia pelo Governador do
Estado, a fim de que tal Tribunal se pronuncie sobre a indignidade ou
incompatibilidade com o oficialato.
A razo de ser dessa garantia do Oficial histrica (ASSIS, opus citatus, p. 244) e
foi repetida pela Constituio Federal de 1988, que prev:
Art. 142. [...]:
[...]
VI - o oficial s perder o posto e a patente se for julgado indigno do oficialato
ou com ele incompatvel, por deciso de tribunal militar de carter
permanente, em tempo de paz, ou de tribunal especial, em tempo de guerra;
VII - o oficial condenado na justia comum ou militar a pena privativa de
liberdade superior a dois anos, por sentena transitada em julgado, ser
submetido ao julgamento previsto no inciso anterior;

Os dispositivos acima mencionados so aplicveis aos Oficiais das Polcias Militares


e dos Corpos de Bombeiros Militares, tambm de acordo com o Texto
Constitucional.
Art. 42. Os membros das Polcias Militares e Corpos de Bombeiros Militares,
instituies organizadas com base na hierarquia e disciplina, so militares dos
Estados, do Distrito Federal e dos Territrios.
1 Aplicam-se aos militares dos Estados, do Distrito Federal e dos
Territrios, alm do que vier a ser fixado em lei, as disposies do art. 14,
8; do art. 40, 9; e do art. 142, 2 e 3, cabendo a lei estadual especfica
dispor sobre as matrias do art. 142, 3, inciso X, sendo as patentes dos
oficiais conferidas pelos respectivos governadores.

Dessa forma, tanto a Lei n. 3.196/78 quanto a Lei n. 3.213/78, apenas do


concretude previso contida na Constituio Federal, que determina ser da
competncia do Tribunal de Justia a deciso relativa perda do posto e da patente.
Acerca da distino entre posto e patente, vlida a lio apresentada por SILVA,
J. (opus citatus, p. 702-705):
[...] A patente era antigamente a carta rgia de concesso de um ttulo, posto
ou privilgio militar de nvel superior. Hoje o ato de atribuio do ttulo e do
posto a oficial militar; por isso que Pontes de Miranda pde dizer que quem

101

tem a patente tem o ttulo, o posto e o uniforme que a ela correspondem, bem
como as prerrogativas, direitos e deveres a ela inerentes, diz a Constituio
(Art. 142, 3, I). Mas o ttulo e o posto no se confundem, como pode dar a
entender o texto desse autor. Posto o lugar que o oficial ocupa na
hierarquia dos crculos militares. O ttulo a designao da situao confiada
ao titular dos postos (ex.: posto: General de Exrcito; ttulo: Comandante do
Exrcito). [...] As patentes dos oficiais das Foras Armadas so conferidas
pelo Presidente da Repblica (Art. 42, 3, I), e as dos oficiais das polcias
militares e corpos de bombeiros militares dos Estados e do Distrito Federal,
pelos respectivos Governadores (Art. 42, 1).

Sobre os conceitos de indignidade para o oficialato ou de incompatibilidade para seu


exerccio, no campo criminal o Cdigo Penal Militar (CPM) traz suas definies nos
Art. 100 e 101, o primeiro a tratar da indignidade e o segundo da incompatibilidade.
Nesse sentido:
No campo penal militar, o conceito de indigno para o oficialato legal,
estando previsto no Art. 100 do Cdigo Penal Militar. pena acessria (CPM,
Art. 98, II) imprescritvel (CPM, Art. 130), e a ela ficam sujeitos os oficiais
condenados, qualquer que seja a pena, nos crimes de traio, espionagem
ou cobardia (Art. 355 367 tempo de guerra), ou em qualquer dos definidos
nos Art. 161 (desrespeito a smbolo nacional); 235 (pederastia ou outro ato de
libidinagem); 240 (furto simples); 242 (roubo simples); 243 (chantagem); 251
(estelionato); 252 (abuso de pessoa); 303 (peculato); 304 (peculato mediante
aproveitamento de erro de outrem); 311 (falsificao de documento); e 312
(falsidade ideolgica).
Por sua vez, o conceito de incompatvel para o oficialato est no Art. 101 do
Cdigo Penal Militar, sendo tambm pena acessria (CPM, Art. 98, III),
igualmente imprescritvel, ficando sujeitos sua declarao os oficiais
condenados nos crimes dos Art. 141 (entendimento para gerar conflito ou
divergncia com o Brasil) e 142 (tentativa contra a soberania do Brasil),
ambos crimes contra a segurana externa do pas.
J o oficial que restar condenado por tribunal civil [ou militar], a pena privativa
de liberdade superior a dois anos, fica igualmente sujeito mesma
declarao [...] (ASSIS, opus citatus, p. 242).

Ocorre que conforme bem acentuou ASSIS (opus citatus, p. 242-243) no campo do
direito administrativo, do qual ora se cuida, tal declarao de indignidade ou de
incompatibilidade advm no da prtica de um crime, mas de uma conduta que,
luz das normas disciplinares da Corporao, correspondam a um ilcito
administrativo disciplinar, e arremata dizendo:
[...] o conceito de indigno ou incompatvel com o oficialato no direito
administrativo militar bastante amplo, bastando que se diga, como ponto de
partida que incompatvel o inconcilivel com o oficialato, como o relapso,
indulgente, irresponsvel profissionalmente, o promscuo de vida
escandalosa, enquanto que o indigno o baixo, torpe, srdido, no
merecedor da condio de oficial, como o assaltante, o traficante, o
peculatrio, o estuprador etc.

102

Conforme salientado, uma vez encaminhado o processo do Conselho de


Justificao ao Tribunal de Justia, compete a este rgo emanar deciso acerca da
indignidade ou da incompatibilidade do Oficial para o exerccio do Oficialato.
No caso do Tribunal de Justia do Esprito Santo, a matria regulada em seu
Regimento Interno ao tratar Dos Processos Oriundos do Conselho de Justificao
da Polcia Militar do Esprito Santo e Representao para a Aplicao de Penas
Acessrias:
Art. 336. Os processos oriundos do Conselho de Justificao, relativos
incapacidade de oficial da Polcia Militar do Esprito Santo para permanecer
na ativa e as representaes do Ministrio Pblico para aplicao de penas
acessrias sero julgados, em instncia nica, pelas Cmaras Criminais
Reunidas do Egrgio Tribunal de Justia.
Art. 337. Recebido o processo, ser o mesmo distribudo a um dos
Desembargadores que compem a Cmara, que abrir o prazo de cinco (5)
dias para que a defesa se manifeste, por escrito, sobre a deciso do
Conselho de Justificao ou Representao do Ministrio Pblico.
Pargrafo nico - Nesta fase, no se admite produo de provas.
Art. 338. Concluda a fase de defesa, o Relator redigir relatrio e pedir dia
para o julgamento.
1. O Tribunal, caso julgue que o oficial incapaz de permanecer na ativa,
dever:
I - declar-lo indigno do oficialato ou com ele incompatvel, determinando a
perda de seu posto ou patente, ou
II - determinar sua reforma, ex vi lege.
2. Aplicada a pena acessria e publicado o acrdo, ser o processo
devolvido inferior instncia para a execuo, ou, se for o caso, ser o
processo devolvido ao Poder Executivo, para os devidos fins.

Dessa maneira, o Tribunal de Justia pode: a) considerar o Oficial inocente;


porquanto se justificou da acusao; b) determinar a reforma do Oficial; c) declarar o
Oficial indigno do oficialato, ou com ele incompatvel, situao na qual determinar a
perda de seu posto e da patente.
Nas hipteses dos itens b e c suso mencionados, no cabe mais ao Governador
qualquer juzo de discricionariedade quanto pena a ser aplicada, pois o ato
subsequente vinculado deciso do Tribunal de Justia.
Assim, na hiptese do item b, dever praticar o ato material de reforma, situao
na qual o Oficial h de passar condio de inatividade, com proventos
proporcionais a seu tempo de servio, tudo de acordo com o que preceitua o Art. 95,
inc. V, da Lei n. 3.196/78 c/c o Art. 16, 1 e 2, da Lei n. 3.213/78.
Igualmente, no caso do item c, uma vez tendo o Tribunal de Justia declarado o
Oficial indigno para o oficialato, ou com ele incompatvel, com a conseguinte perda

103

do posto e da patente, compete ao governador aplicar a pena de demisso, o que


implica na perda do cargo sem direito a qualquer remunerao ou indenizao,
conforme estabelecem os Art. 107 e 108 da Lei n. 3.196/78 c/c o Art. 16, 2, da
Lei n. 3.213/78.

104

5 OS PRINCPIOS

5.1 CONSIDERAES GERAIS

Ao se tratar dos processos administrativos disciplinares, um dos pontos de maior


relevncia a ser abordado diz respeito possibilidade de existncia de balizas que
possam ser aplicadas a tais processos em geral, independentemente de onde
tramitam, isto , qualquer que seja o Poder (Executivo, Legislativo ou Judicirio) e a
Pessoa Jurdica de Direito Pblico (Unio, Estados, Distrito Federal ou Municpios).
A fim de que se verifique a existncia dessa possibilidade, necessrio identificar no
ordenamento jurdico o plexo de proposies que, como garantias aos acusados em
geral, estendem-se a todo e qualquer processo de ndole administrativa onde
algum figure como acusado.
Para que isso seja possvel, necessrio partir da anlise do Texto Constitucional,
tanto no que concerne s garantias aos acusados quanto em relao aos Princpios
da Administrao Pblica, para s ento adentrar s principais normas que regulam
o funcionamento desses processos.
Conforme pondera CARRAZA (opus citatus, p. 29), ao contrrio do que possa
parecer, as normas postas na Constituio Federal no possuem a mesma
relevncia, pois enquanto algumas veiculam simples regras, outras correspondem a
verdadeiros princpios, a arremata dizendo que os princpios so diretrizes, isto ,
os nortes, do ordenamento jurdico.
Ao cuidar dos riscos inerentes violao de um princpio, MELLO (opus citatus, p.
527) afirma que:
Violar um princpio muito mais grave que transgredir uma norma qualquer.
A desateno a um princpio implica ofensa no apenas a um especfico
mandamento obrigatrio mas a todo o sistema de comandos. a mais grave
forma de ilegalidade ou inconstitucionalidade, conforme o escalo do princpio
atingido, porque representa insurgncia contra todo o sistema, subverso de
seus valores fundamenteis, contumlia irremissvel a seu arcabouo lgico e
corroso de sua estrutura mestra. Isso porque, com ofend-lo, abatem-se as
vigas que o sustm e alui-se toda a estrutura nelas esforada.

105

Dessa forma, o autor suso mencionado pe em evidncia o fato de que sendo o


princpio um elemento estruturante do prprio ordenamento jurdico, a desateno a
seus postulados traz srias consequncias, pois pode at mesmo fulminar de
ilegalidade, in casu, o processo administrativo disciplinar.

5.2 CONCEITO

Quando se fala em princpio a primeira noo que vem mente traz consigo a ideia
de comeo, de base. A palavra origina-se do latim principium, principii, e se
relaciona a incio, estrutura, etc.
Seja qual for o objeto em estudo, e em qualquer cincia, a avaliao quanto aos
princpios aplicveis espcie corresponde a um importante elemento a ser levado
em conta pelo pesquisador, e nisso no difere o Direito.
Tomando-se por base a ideia de KELSEN (1962, p. 2, apud CARRAZA, opus citatus,
p. 27) de que o fundamento de validade de uma norma apenas pode ser a validade
de uma outra norma, a compreenso acerca da natureza, funo, eficcia, dentre
outros pontos relativos aos princpios se mostra como algo de fundamental
importncia, mormente quando se consideram os princpios constitucionais.
Na viso de PICAZO (1983, p. 1.267-1.268, apud BONAVIDES, 1999, p. 222 e 229)
a ideia de princpio vem da linguagem da geometria, com o significado de onde
designa as verdades primeiras. Dessa forma, o termo pode ser empregado como
algo que est ao princpio, correspondendo s premissas de todo um sistema que
se desenvolve more geometrico (idem, ibidem).
Cumpre ressaltar que, no passado, os princpios eram referidos como algo
pertencente apenas ao campo do Direito Civil, de modo a desempenhar uma funo
suplementar na integrao das lacunas da lei. Sua evoluo, porm, os fez
abandonar esse papel secundrio da concepo civilista, sendo atualmente
reconhecveis nos mais diversos campos do direito, especialmente no corpo da
Constituio Federal de 1988. No se pode negar, assim, o trao marcante que
atualmente tm, ou seja: sua normatividade.

106

Ainda nos idos da dcada de 50, CRIZAFULLI (1957, p. 15, apud BONAVIDES,
opus citatus, p. 230) formulou a seguinte pensamento acerca dos princpios:
Princpio , com efeito, toda norma jurdica, enquanto considerada como
determinante de uma ou de muitas outras subordinadas, que a pressupem,
desenvolvendo e especificando ulteriormente o preceito em direes mais
particulares (menos gerais), das quais determinam, e portanto resumem,
potencialmente, o contedo: sejam, pois, estas efetivamente postas, sejam,
ao contrrio, apenas dedutveis do respectivo princpio geral que as contm.

Importante ainda para a compreenso do tema a noo apresentada por GUASTINI


(1990, p. 15, apud idem, ibidem); que identificou nada menos que seis diferentes
empregos para o vocbulo princpio, quais sejam:
a) em primeiro lugar, princpio pode corresponder a normas com alto grau de
generalidade;
b) em segundo lugar, utiliza-se por vezes o vocbulo para referir-se a normas
com alto grau de indeterminao e que, por conseguinte, necessitam de
concretizao pela via interpretativa, quando somente ento sero aplicadas
aos casos concretos;
c) em terceiro lugar, a expresso princpio pode se referir a norma de cunho
programtico, que expressa a um ideal a ser perseguido;
d) em quarto lugar, pode-se utilizar o termo princpio para referir-se a normas
cuja posio bastante elevada na hierarquia das fontes de Direito;
e) em quinto lugar, alguns valem-se do vocbulo princpio para referir-se a
normas que desempenham importante e fundamental funo no sistema
jurdico;
f) em sexto lugar, por fim, a expresso princpio pode ser utilizada para se
referir a normas dirigidas aos rgos de aplicao das leis, com a funo de
tornar possvel a escolha desse ou daquele dispositivo.
Existem autores que identificam outros empregos para o termo princpio, havendo
aqueles que chegam a reconhecer dez significados distintos (CARRI, 1970, p. 3138, apud ESPNDOLA, 1999, p. 51-52), todavia importa ressaltar que mais relevante
que a classificao adotada fato de ser foroso admitir que os princpios jurdicos
esto a desempenhar crescente e fundamental papel no ordenamento jurdico, pois
no se restringem ultrapassada viso de que constituem meras normas de cunho
prescritivo, destitudas de qualquer vinculabilidade.

107

5.3 PRINCPIOS POSITIVOS DO DIREITO E PRINCPIOS GERAIS DE


DIREITO

Conforme o pensamento de GRAU (1990, p. 95, apud ESPNDOLA, opus citatus, p.


50), [...] um sistema ou ordenamento jurdico no ser jamais integrado por regras;
nele se compem, tambm, princpios jurdicos ou princpios de direito.
Para a noo que ora se pretende expor, a expresso princpios pode ser tomada,
basicamente, em dois sentidos: princpios gerais do direito ou princpios positivos do
direito.
A diferenciao entre tais categorias reside no seguinte aspecto (GRAU, opus
citatus, p. 95, apud idem, ibidem, p. 52):
a) os princpios positivos do direito no podem ser considerados pela anlise de
falso ou verdadeiro, prpria da Cincia do Direito, mas segundo critrios
de: vlido ou invlido; vigente ou no-vigente; eficaz ou ineficaz; ou
seja, parmetros adequados para a anlise do direito enquanto sistema de
normas positivadas, pois tais princpios positivos do direito pertencem
linguagem do direito;
b) os princpios gerais do direito, por se inserirem no campo da anlise descritiva
da Cincia Jurdica, submetem-se ideia de falso ou verdadeiro; assim,
so posies descritivas (e no normativas), por meio das quais o intrprete
se refere ao contedo e s grandes tendncias do direito positivo.
Sem olvidar das distines acima apontadas, suficientes para a distino entre
ambos os tipos de princpios, cumpre evidenciar que, embora no se negue o
carter normativo dos princpios gerais do direito, eis que conforme ESPNDOLA
(opus citatus, p. 55) [...] esse carter no predicado somente dos princpios
positivos de direito, mas tambm, como j acentuado, dos princpios gerais do
direito, sero adotados neste trabalho to somente os princpios jurdicos postos no
sistema jurdico, ainda que implicitamente.

108

5.4 AS TRS FASES DOS PRINCPIOS

Os princpios percorreram uma longa caminhada terica, na qual passaram de


princpios gerais, para os quais se atribua apenas o carter programtico (um fim a
ser atingido), at se elevarem ao altiplano dos textos constitucionais modernos
(BONAVIDES, opus citatus, p. 231).
Assim, para uma melhor compreenso da funo que desempenham no
ordenamento jurdico, resulta importante conhecer o caminho percorrido pelos
princpios gerais do direito, que inegavelmente ingressaram nas constituies com
fora positiva incontrastvel, da a concluso de que os princpios, em nosso sistema
jurdico, esto positivados.
Assim, a insero dos princpios nas constituies constitui trao marcante do
constitucionalismo moderno, cuja principal caracterstica corresponde em perder a
clssica alegao de indeterminao quanto a seu contedo e alcance.
Em sua evoluo, tomando por base a lio de BONAVIDES (opus citatus, p. 232238), verifica-se que a juridicidade dos princpios passou por trs fases distintas: a)
jusnaturalista; b) positivista; c) ps-positivista.

5.4.1 O jusnaturalismo

O jusnaturalismo corresponde ao que se denomina de primeira fase dos princpios, e


diz respeito ao perodo no qual se situavam em campo abstrato, e sua normatividade
era, por assim dizer, nula e duvidosa, posto que correspondiam a verdadeiros
postulados de justia. Tal fase dominou a dogmtica dos princpios at o advento da
Escola Histrica do Direito, quando ento lhe cedeu lugar (BONAVIDES, opus
citatus, p. 232).
Na fase do jusnaturalismo, os princpios so considerados de modo abstrato, e tidos
como inspiradores do ideal de justia concebidos na forma de verdadeiros axiomas
jurdicos (BONAVIDES, opus citatus, p. 234). Representam um direito ideal,

109

porquanto na viso dos pensadores desse perodo o ideal de justia se daria com o
emprego dos princpios gerais do direito.
Ressalte-se, por fim, que para tal Escola, o direito posto pelo prprio ordenamento
jurdico insuficiente para a soluo das lacunas da lei, sendo necessrio, pois,
recorrer ao Direito Natural para equacionar tais situaes. Essa posio no aceita
pela Escola Histrica, uma vez que professa o pensamento segundo o qual tais
solues esto postas no interior do ordenamento jurdico e no fora, como
defendem os jusnaturalistas (BONAVIDES, opus citatus, p. 232-238).

5.4.2 O juspositivismo

A Escola Juspositivista (Histrica) corresponde segunda fase da teoria dos


princpios, com a entrada destes nos Cdigos como fonte normativa subsidiria.
At ento, aos princpios se atribua apenas uma funo complementar, secundria,
porm posteriormente, ao serem codificados, passaram a ser vistos, conforme
CAAS (1988, p. 484-485, apud BONAVIDES, opus citatus, p. 235), como
verdadeira vlvula de segurana, que garante o reinado absoluto da lei.
Assim, a principal caracterstica desse perodo a de que os princpios adentraram
aos Cdigos no como normas de cunho relevante, mas to somente como algo
secundrio, suplementar, a regular situaes no previstas e a impedir a ocorrncia
de um vazio normativo (CAAS, 1988, p. 484-485, apud BONAVIDES, opus
citatus, p. 235).
Dessa forma, a Escola Histrica do Direito e a elaborao dos Cdigos acabou por
levar decadncia o direito natural clssico, tornando possvel a expanso
doutrinria do positivismo jurdico de forma bastante acentuada, e nesse perodo os
princpios perderam o papel anterior de relevncia.
A lio, porm, extrada do juspositivismo exacerbado acabou por colocar em
segundo plano os princpios, e por via reflexa os princpios constitucionais,
atribuindo-se lhes o carter de mera programaticidade e, por conseguinte, ausncia
de normatividade, estabelecendo, assim, sua irrelevncia jurdica (BOBBIO, 1958, p.

110

889, apud BONAVIDES, opus citatus, p. 236). Finaliza o autor, dizendo que nessa
fase os princpios baixaram [...] das alturas montanhosas e metafsicas de suas
primeiras formulaes filosficas para a plancie normativa do direito civil, ainda que
para desempenhar papel secundrio e complementar (idem, ibidem, p. 264)

5.4.3 O ps-positivismo

Corresponde o ps-positivismo ao momento no qual os princpios, em que pese no


terem deixado de servir s normas infraconstitucionais, alaram novo voo,
transitando da [do papel subalterno] para as constituies, noutro passo largo,
subiram ao degrau mais alto da hierarquia normativa (idem, ibidem, p. 264).
Assim, tal fase coincide com a promulgao das novas constituies, que acentuam
a hegemonia axiolgica dos princpios, que passaram a ser o pedestal normativo
sobre o qual assenta todo o edifcio jurdico dos novos sistemas constitucionais
(idem, ibidem, p. 237). Tm, assim, os princpios constitucionalmente estabelecidos,
o condo de servir de padro, pelos quais se verifica a compatibilidade de
determinada norma jurdica inferior, que lhes deve respeito.
Aps acurada anlise acerca dos principais juristas que trataram da matria,
digresso no cabvel na presente obra em face do corte metodolgico estabelecido,
BONAVIDES (opus citatus, p. 265) conclui que:
Em resumo, a teoria dos princpios chega presente fase do ps-positivismo
com os seguintes resultados j consolidados: a passagem dos princpios da
especulao metafsica e abstrata para o campo concreto e positivo do
Direito, com baixssimo teor de densidade normativa; a transio crucial da
ordem jusprivatista (sua antiga insero nos Cdigos) para a rbita
juspublicista (seu ingresso nas constituies); a suspenso da distino
clssica entre princpios e normas [mais detidamente analisada a seguir]; o
deslocamento dos princpios da esfera da jusfilosofia para o domnio da
cincia jurdica; a proclamao de sua normatividade; a perda de seu carter
de normas programticas; o reconhecimento definitivo de sua positividade e
concretude por obra sobretudo das constituies; a distino entre regras e
princpios, como espcies diversificadas do gnero norma, e finalmente, por
expresso mxima de todo esse desdobramento doutrinrio, o mais
significativo de seus efeitos: a total hegemonia e preeminncia dos princpios.

111

Dessa forma, o ps-positivismo, com a incorporao dos princpios gerais do direito


ao texto das constituies modernas, ps termo, em grande parte, s discusses
jusnaturalistas e juspositivistas acerca, dentre outras coisas, de eles estarem dentro
ou fora do sistema, bem como a respeito da normatividade que possuem.

5.5 NORMAS JURDICAS: PRINCPIOS E REGRAS

A ideia de que princpio jurdico corresponde a uma espcie do gnero norma


jurdica foi construda ao longo do tempo. Primeiramente, a metodologia distinguia
os princpios das normas, tratando-as distintamente, isto , cada qual, princpio e
norma jurdica, possua sua significao, emprestando-se, conforme viso pretrita,
carter de sobrepujana da norma em face dos princpios (ESPNDOLA, opus
citatus, p. 61).
Entretanto a evoluo acerca do tema levou pacfica distino entre regras e
princpios como espcies do gnero norma jurdica (BONAVIDES, opus citatus, p.
243), havendo ainda os que incluem um terceiro elemento nessa classificao: o
valor (ESPNDOLA, opus citatus, p. 239), que por no guardar pertinncia com o
trabalho aqui apenas citado.
Sendo, pois, princpios e regras espcies do gnero norma jurdica, no h negar
que possuam aqueles (princpios e regras) os mesmos predicados da norma, e
mais: devido funo de que se ocupam os princpios, a concepo atual de seu
papel est a coloc-los em situao de primazia em relao s regras jurdicas,
posto que esto a estruturar todo o sistema jurdico.
Sobre o real alcance e importncia dos princpios, bem assim o fato de serem, ao
lado das regras, elementos que compem a norma jurdica BOBBIO (1958, p. 890,
apud BONAVIDES, opus citatus, p. 263) afirma o seguinte:
Os princpios gerais so, a meu ver, normas fundamentais ou generalssimas
do sistema, as normas mais gerais. O nome de princpio induz a engano,
tanto que velha questo entre juristas se os princpios so ou no normas.
Para mim no h dvida: os princpios gerais so normas como todas as
demais. E esta a tese sustentada tambm pelo estudioso que mais
amplamente se ocupou da problemtica, ou seja, Crisafulli. Para sustentar
que os princpios gerais so normas os argumentos vm a ser dois e ambos

112

vlidos: antes de tudo, se so normas aquelas das quais os princpios gerais


so extrados, atravs de um procedimento de generalizao sucessiva, no
se v por que no devam ser normas tambm eles: se abstraio de espcies
animais obtenho sempre animais, e no flores ou estrelas. Em segundo lugar,
a funo para a qual so abstrados e adotados aquela mesma que
cumprida por todas as normas, isto , a funo de regular um caso. Para
regular um comportamento no regulado, claro: mas agora servem ao
mesmo fim para que servem as normas expressas. E por que ento no
deveriam ser normas.

Cumpre ento, sob esse prisma, distinguir princpios e regras jurdicas, ainda que
no haja uniformidade sobre tal distino. Tendo como base a posio adotada por
CANOTILHO (1992, p. 166-168, apud ESPNDOLA, opus citatus, p. 65-67) pode-se
evidenciar os seguintes aspectos principiolgicos:
a) o grau de abstrao, maior nos princpios que nas regras;
b) o grau de determinabilidade na aplicao do caso concreto, pois os princpios,
posto

que

vagos

indeterminados,

necessitam

de

mediaes

concretizadoras, ao contrrio das regras, que so suscetveis de aplicao


direta;
c) carter de fundamentalidade no sistema de fontes de direito, pois os
princpios so normas de natureza ou com papel fundamental no
ordenamento jurdico devido sua posio hierrquica no sistema das fontes
(por exemplo, princpios constitucionais) ou em face da sua importncia
estruturante no sistema jurdico (por exemplo, princpio do Estado de Direito);
d) proximidade da ideia de direito, pois os princpios correspondem a verdadeiro
standard juridicamente vinculantes, ao passo que a vinculatividade das
regras meramente formal;
e) natureza normogentica, que consiste no fato de os princpios serem o
fundamento de regras, isto , so normas que esto na base ou so a razo
de regras jurdicas.

5.6 A FUNO DESEMPENHADA PELOS PRINCPIOS


Uma vez superadas as antigas noes de princpios como sendo algo fora do
ordenamento jurdico (jusnaturalismo) ou apenas como normas suplementares
(juspositivismo), observa-se que atualmente os princpios ocupam relevante papel

113

no sistema jurdico, e emprestam significativa importncia na compreenso de


diversos institutos.
Conforme acentua ARCES et al (1990, p. 53, apud BONAVIDES, opus citatus, p.
257), os princpios desempenham os seguintes papis no ordenamento jurdico:
a) funo de ser fundamento da ordem jurdica, com eficcia derrogatria e
diretiva;
b) funo orientadora do trabalho interpretativo;
c) fonte em caso de insuficincia da lei e do costume.
As duas primeiras noes correspondem s mais difundidas e tradicionais dentre as
desempenhadas pelos princpios, sendo que a ltima diz respeito viso reinante
em poca na qual se acreditava que princpios no so normas, tampouco redutveis
a normas. Por certo, a primeira caracterstica dos princpios apontada pelo autor pe
em relevo seu trao mais marcante, sem o qual eles redundariam em meras normas
de cunho programtico, qual seja: sua normatividade.
Dessa forma, constituem os princpios normas-chaves de todo o sistema jurdico,
dotados que so de inegvel eficcia, espargindo seus efeitos por todo o
ordenamento jurdico, razo pela qual so, conforme BONAVIDES (opus citatus, p.
257): [...] normas das quais se retirou o contedo incuo de programaticidade,
mediante o qual se costumava neutralizar a eficcia das constituies em seus
valores reverenciais, em seus objetivos bsicos, em seus princpios cardeais.
Noutro ponto, o mesmo autor sentencia:
A importncia vital que os princpios assumem para os ordenamentos
jurdicos se torna cada vez mais evidente, sobretudo se lhes examinarmos a
funo e presena no Corpo das constituies contemporneas, onde
aparecem como os pontos axiolgicos de mais alto destaque e prestgio com
que fundamentar na Hermenutica dos tribunais a legitimidade dos preceitos
da ordem constitucional (idem, ibidem, p. 260).

Dentro desse quadro apresentado acerca da normatividade dos princpios, sejam


eles constitucionais ou infraconstitucionais, explcitos ou implcitos, o ponto que se
pretende evidenciar cuida da existncia de princpios que informam o processo
administrativo disciplinar, servido para pautar a atuao da Administrao.

114

5.7 PRINCPIOS DO PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR

Afirmar a existncia de princpios prprios do processo administrativo disciplinar


implica em reconhecer a existncia de normas jurdicas possveis de serem
aplicadas nos mais diversos processos de tal ndole.
certo que a tarefa de classificar algo nem sempre das mais fceis, pois passa
necessariamente por um juzo de valor do intrprete, e nesse caso diferente.
Tomando por base o que existe de mais relevante sobre o tema no seio da Doutrina
Ptria, busca-se a seguir apresentar os princpios mais relevantes que informam o
processo administrativo disciplinar, adotando-se, contudo, o cuidado de no apontar
um princpio onde ele sequer existe, ou ainda alando ao patamar principiolgico
uma simples regra. Para tanto, evidencia-se os princpios de maior relevncia do
processo disciplinar, que podem advir: a) dos princpios prprios da Administrao;
b) dos princpios decorrentes das garantias aos acusados em geral; c) dos princpios
prprios do processo.

5.7.1 Legalidade

O Princpio da Legalidade est contido no Corpo da Constituio Federal e se situa


dentre aqueles previstos expressamente em relao Administrao Pblica:
Art. 37. A administrao pblica direta e indireta de qualquer dos Poderes da
Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios obedecer aos
princpios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficincia
[...].

Estando inserido tal princpio na Constituio Federal, e sendo ele aplicvel


Administrao Pblica, no se pode negar que acabe tambm por se irradiar pelo
processo administrativo disciplinar.
No se confunde, contudo, legalidade com reserva legal, pois a primeira diz com
o fato de a Administrao ter de agir de acordo com normas previamente plasmadas
no ordenamento jurdico, ao passo que a segunda se cuida da garantia individual do

115

segundo a qual ningum ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa
seno em virtude de lei (Art. 5, inc. II, da Constituio Federal).
SILVA, J. (opus citatus, p. 667) reala que para alm das clssicas conceituaes,
existe estreita ligao entre legalidade e finalidade, porquanto se impe que o
administrador pblico somente pratique determinado ato visando seu fim legal.
Decorrncia do princpio da legalidade o fato de as atividades desenvolvidas pelo
administrador estarem submetidas ao imprio da lei, o que somente possibilita ao
agente pblico a prtica de atos nela previstos, ao contrrio do particular, que tudo
pode, seno o que vedado em lei (FRANCO, opus citatus, p. 26). De se ressaltar,
nesse sentido, que se em matria de Princpio da Reserva Legal a lei deve ser
compreendida como lei em sentido estrito (garantia ao particular), no campo do
Princpio da Legalidade a expresso lei deve ser tomada como lei em sentido
amplo. Isso se deve pelo fato de, no primeiro caso, somente lei ser possvel
inovar no ordenamento jurdico para o fim de obrigar os cidados; no segundo caso,
no entanto, o Administrador, alm de se sujeitar lei em sentido estrito, deve
obedecer aos postulados decorrentes de outros atos normativos existentes.
Ainda com FRANCO (idem, ibidem) outra decorrncia do princpio da legalidade o
fato de que alm de ser necessrio um motivo legal para o ato, precisa-se tambm
para tanto da existncia de um motivo de fato, e da decorre a circunstncia de que
tal atuao em matria de processo administrativo disciplinar (quase sempre)
vinculada, e poucas vezes discricionria, porquanto ao administrador so impostas
normas de observncia obrigatria diante do caso concreto.
Pondo em evidncia aspectos relativos legalidade em confronto com a
discricionariedade, FILHO, R. (opus citatus, p. 172-173) assinala que se a
contraposio entre discricionariedade e legalidade capaz de alimentar a
contraposio entre garantia e eficincia, a adequada regulamentao legal do
processo administrativo constitui uma das frmulas para equilibr-las.
Assinala ainda, o mesmo autor, que nem mesmo o fato de normas disciplinares
utilizarem-se muitas vezes de conceitos vagos (genricos) se afigura como um risco
para a legalidade, porquanto mesmo em havendo tal previso no campo do direito
material disciplinar, o processo administrativo disciplinar (e o procedimento) fornece

116

aportes para o responsvel e coerente exerccio da competncia disciplinar (FILHO,


R., opus citatus, p. 173).
Ainda acerca da elasticidade do tipo disciplinar e de suas implicaes com o
Princpio da Legalidade, OSRIO (opus citatus, p. 208-209) tambm no v na
espcie afronta a tal Princpio, e assevera que isso ocorre pelo fato de em matria
de direito administrativo sancionador existir uma dinmica prpria do direito
administrativo, na qual h uma permanente inspirao dos interesses pblicos e
gerais a orientar feitura e aplicao das normas, e conclui dizendo:
As leis administrativas mudam com constante rapidez, tendem a proteger
bens jurdicos mais expostos velocidade dos acontecimentos e
transformaes sociais, econmicas, culturais, de modo que o Direito
Administrativo Sancionador acompanha essa realidade e , por natureza,
mais dinmico que o Direito Penal, cuja estabilidade normativa j resulta da
prpria estrita competncia da Unio Federal.

Dentro da perspectiva legalidade-processo, MEDAUAR (opus citatus, p. 91) diz


existir verdadeiro vnculo entre tais elementos, porquanto a legalidade contribui para
uma atuao parametrada da Autoridade

administrativa, em contraposio

atuao livre, em tese, mais suscetvel ao arbtrio. E acentua que embora se


reconhea existir algumas (poucas) atuaes discricionrias em matria de
processo, o conhecimento das ferramentas de deciso possibilita direcion-las s
finalidades da atuao (idem, ibidem, p. 92).
Por fim, realce-se que se de um lado o princpio da legalidade impe a existncia
prvia de um regular processo disciplinar apto ao julgamento das transgresses e
imposio de penalidades, de outro ao Administrador no h discricionariedade
quanto instaurao desse mesmo processo: ocorrida a falta, o Princpio da
Legalidade impe a instaurao do processo e, se for o caso, a aplicao da pena
correspondente, pena esta tambm previamente prevista em lei.

117

5.7.2 Impessoalidade

A Constituio Federal de 1988 tambm elencou o Princpio da Impessoalidade


dentre aqueles inerentes Administrao Pblica, conforme caput do Art. 37.
Decorre de tal Princpio que os atos praticados pelos agentes pblicos so
imputveis no s pessoas que os executam, mas ao rgo ou entidade
administrativa em nome do qual o funcionrio age, porquanto trata-se de simples
agente, de modo que o administrado no se confronta com o funcionrio x ou y que
expediu o ato, mas com a entidade cuja vontade foi manifestada por ele (SILVA, J,
opus citatus, p. 667).
Alm da caracterstica acima estampada, FRANCO (opus citatus, p. 27) identifica no
Princpio da Impessoalidade uma outra faceta segundo a qual a todos deve ser
dispensado idntico tratamento, sem benefcios ou prejuzos. Assevera o autor que
decorrncia imediata de tal princpio em matria de processo administrativo diz
respeito ao fato de que o administrador deve aplicar a norma de modo que ela
melhor se coadune com os interesses pblicos, sendo vedada a sua aplicao de
forma a fazer com que prevaleam interesses particulares, e conclui dizendo que o
processo administrativo, como j delineado tem como objetivo a concreta aplicao
da norma substancial e, portanto, o processo deve fornecer todas as condies
possveis e necessrias para que essa finalidade seja atingida (FRANCO, opus
citatus, p. 29).
Destacando a ligao do Princpio da Impessoalidade com outros Princpios,
MEDAUAR (opus citatus, p. 92) afirma que:
Os princpios da impessoalidade, moralidade e publicidade apresentam-se
intrincados de maneira profunda, registrando-se mesmo instrumentalizao
recproca; assim, a impessoalidade configura meio para atuao dentro da
moralidade; a publicidade, por sua vez, dificulta medidas contrrias
moralidade e impessoalidade; a moralidade, de seu lado, implica observncia
da impessoalidade e publicidade.

Assevera FILHO, R. (opus citatus, p. 188-189) que Administrao Pblica compete


gerir a res publica (coisa pblica), e isso deve ser feito em favor do interesse
coletivo, isto , do bem comum, e no em razo de individualidades.

118

No por outra razo que em matria de processo existem regras prprias a fim de
afastar possveis afrontas ao princpio da impessoalidade, tendo como exemplo
aquelas que cuidam dos casos de suspeio e de impedimento da Autoridade
competente, pois esta, ao agir, no pode o fazer movida por sentimentos ou
interesses pessoais, ou seja, por sentimentos de inimizade ou predileo. Outras
normas que tambm encarnam o Princpio so as que determinam a fundamentao
de uma deciso, pois somente assim ser possvel verificar se existe real pertinncia
entre o ato praticado e os motivos apontados.
Dessa forma, tem-se que impessoalidade, imparcialidade e objetividade implicam em
uma atuao acima dos interesses pessoais, e norteada para os interesses maiores,
razo pela qual a prpria Constituio visa a obstaculizar a preponderncia de
critrios subjetivos que possibilitem a adoo de fatores tais como predileo,
antipatias, simpatias, vingana, raiva, nepotismo, favorecimentos diversos, etc., algo
que infelizmente ainda permeia a realidade de concursos pblicos, licitaes,
processos disciplinares e outros modos de atuao da Administrao (MEDAUAR,
opus citatus, p. 93).
A importncia do processo administrativo resulta, ento, do fato de ele representar:
[...] instrumento de objetivao do poder, para evitar ou dificultar que motivos
e fins subjetivos informem a tomada de decises, pois nele se contrapes
argumentos, dados e fatos, que permanecem registrados; se mveis
subjetivos, mesmo assim, afetarem a deciso, torna-se mais fcil o controle
administrativo e jurisdicional (MEDAUAR, opus citatus, p. 93).

5.7.3 Moralidade

O Princpio da Moralidade tambm extrado do caput do Art. 37 da Constituio


Federal. Consoante tal princpio, que pode ser considerado como filtro da
legalidade, ao Administrador no basta agir conforme a legalidade, mas sua
atuao, para que se pretenda legtima, deve tambm se conformar com a
moralidade administrativa.
MEDAUAR (opus citatus, p. 94) alerta para o fato de ser tal Princpio de difcil (qui
impossvel) compreenso.

119

Lecionando sobre o tema SILVA, J. (opus citatus, p. 668-669) assinala que ao alar
a moralidade ao status de princpio o Legislador Constitucional teve por desiderato
torn-la elemento capaz de fulminar de nulidade o ato viciado que, mesmo legal,
seja imoral. Assevera o autor que, embora alguma dificuldade se apresente na sua
verificao, pode-se desfazer um ato administrativo que padea desse vcio, algo
que poderia ocorrer, por exemplo, quando a Autoridade administrativa, ainda que
dentro da lei, pratica ato com o fim de prejudicar ou beneficiar deliberadamente
algum. Nesse caso, o ato administrativo ser formalmente legal, mas materialmente
ilegal (SILVA, J., opus citatus, p. 668).
Decorrncia direta da moralidade a probidade administrativa, que consiste no
dever de o funcionrio servir a Administrao com honestidade, procedendo no
exerccio das suas funes, sem aproveitar os poderes ou facilidades delas
decorrentes em proveito pessoal ou de outrem a quem queira favorecer
(CAETANO, 197, p. 684, apud SILVA, J., opus citatus, p. 669)
Assinala FRANCO (opus citatus, p. 35), depois de tambm evidenciar a dificuldade
de conceituao do Princpio, que moralidade e legalidade no se confundem,
porquanto embora no passado o princpio pudesse ser tomado apenas como regras
de boa administrao, ou seja, de obedincia finalidade da norma de direito
pblico, essa viso insuficiente, pois corresponde a uma verdadeira regra de
civilidade essencial sobrevivncia das instituies democrticas (ZANCANER,
1997, p. 632, apud idem, ibidem).
Dessa forma, a instaurao de processo disciplinar para caso determinado em que
comumente no se instaura, a adoo injustificada de medida mais gravosa quando
for possvel outra, a fixao de pena em limites mximos de modo desarrazoado, a
absolvio de algum com quem se tem predileo ou com grau de parentesco,
dentre outros casos, so exemplos claros de prtica de condutas que vo de
encontro ao Princpio da Moralidade, porque demonstram o fim ilcito perseguido
pelo Administrador.
Assim, importante salientar que a ideia de moralidade administrativa nasceu do
desvio de poder, e a imoralidade estaria na inteno do agente, motivo por que
consistiria numa ilegalidade relativa aos fins do ato, segundo parcela da doutrina
(FRANCO, opus citatus, p. 37).

120

Retornando ao campo do processo administrativo, FILHO, R. (opus citatus, p. 195198) pondera que implicaes diretas do Princpio so as regras processuais de
lealdade e boa-f. Nessa medida, assinala o autor que o Princpio da Moralidade
Administrativa, quando tomado no campo da processualidade administrativa
disciplinar, incide justamente na esfera do anseio de certeza e segurana jurdica,
mediante a garantia da lealdade e boa-f tanto da Administrao Pblica que acusa,
instrui e decide; quanto do servidor pblico acusado ou litigante (idem, ibidem, p.
195).
Assim, o Princpio da Moralidade, quando tomado em seus elementos de boa-f e
lealdade processual, aponta em um futuro prximo para os seguintes caminhos
(idem, ibidem, p. 197):
(a) no exerccio de poderes e faculdades com relao ao tempo, exigindo-se
a fixao de prazos adequados para cumprimento da prestao, vedando a
imposio de obstculo resultante de um comportamento desleal; (b) no
estabelecimento de um debate processual leal em que a acusao e a defesa
sejam expostas de forma clara, a partir de captulos e pontos numerados que
no constituam uma emboscada para o adversrio; (c) na unificao das
excees a fim de evitar a sucessiva e interminvel possibilidade de
oposies; (d) na limitao da prova: os meios de prova devem limitar-se aos
fatos debatidos para evitar a maliciosa disperso do material probatrio e a
demonstrao de fatos irrelevantes; (e) na convalidao das nulidades: os
erros de procedimento devem ser corrigidos imediatamente mediante recurso
de nulidade, sob pena de convalidao; (f) na fixao de condenaes
processuais: o litigante que atua com malcia condenado ao pagamento dos
gastos excessivos em razo de sua conduta

5.7.4 Publicidade

Outro Princpio Constitucional que decorre do caput do Art. 37 da Constituio


Federal o da Publicidade, de cuja nomenclatura se extrai facilmente seu contedo.
Trata-se de princpio que alm de inerente Administrao Pblica tambm afeto
aos processos em geral da competncia do Poder Judicirio, em obedincia
inclusive ao que estabelece a Declarao Universal dos Direitos do Homem,
proclamada pelas Naes Unidas em 1948, que em seu Art. 10 prev
expressamente a publicidade popular dos juzos (GRINOVER, opus citatus, p. 75),
no que foi secundada pela Constituio Federal em seu Art. 93, inc. IX, que coloca a
publicidade como regra processual.

121

Conforme se extrai da prpria razo de ser da Administrao, o Princpio em voga


impe um dever de agir de modo a dar a maior publicidade possvel aos atos
emanados pelo Poder Pblico, a fim de que os administrados tenham, a toda hora,
conhecimento do que os administradores esto fazendo (SILVA, J., opus citatus, p.
669). Contudo, assinala o mesmo autor que a publicidade no se cuida de um
elemento formador do ato, que existe distintamente dela, mas de algo que lhe d
eficcia e moralidade, e arremata que, [...] por isso mesmo os atos irregulares no
se convalidam com a publicao, nem os regulares a dispensam para sua
exequibilidade, quando a lei ou o regulamento a exige (idem, ibidem, p. 670).
O Princpio da Publicidade visa a atingir, assim, o que comumente tem se chamado
de transparncia na atuao do Poder Pblico, permitindo, dessa forma, ao
particular, a fiscalizao de seus atos, com vistas a uma melhor prestao dos
servios pblicos.
de se evidenciar que em matria de processo administrativo disciplinar, a
publicidade dos atos deve se iniciar desde a instaurao do processo, que necessita
ser divulgada em meio idneo a dar conhecimento geral de tal situao, objetivando
no apenas cincia do acusado (at porque este ser citado), mas a todo e
qualquer interessado.
Dessa forma, a publicidade dos atos (ao menos os principais) em matria de
processo administrativo disciplinar no est adstrita s partes (ou interessados),
mas a qualquer pessoa que pretenda inteirar-se do assunto nele tratado, como
decorrncia da fiscalizao ampla a que a Administrao est sujeita (FRANCO,
opus citatus, p. 46).
Em razo disso, nada pode impedir a vista de autos ou mesmo a obteno de
certides, seja l de que fato, dado ou documento, mesmo que no tenha sido
invocado na deciso, ou que ainda no haja deciso (FERRAZ et al, 2003, p. 84,
apud idem, ibidem, p. 46).
O princpio guarda ento, estreita relao com os do contraditrio e o da motivao:
[...] com o primeiro, porque sem publicidade impossvel o controle dos atos e
a participao dos interessados em sua prtica (embora evidente, frise-se
que no necessrio ser o particular interessado juridicamente num processo
para que se tenha interesse em conhecer de seus atos e fatos, podendo-se
utiliz-los em outro processo, em que tenha interesse jurdico; basta referir ao
exemplo dos pareceres para chegar a essa bvia concluso), alm da
possibilidade, nos processos administrativos, de se dar publicidade mais

122

ampla, possibilitando consulta pblica, o que amplia o contraditrio e aumenta


a cognio, agregando-se qualidade deciso; e com o segundo porque se a
publicidade a garantia da motivao se esvazia, uma vez que no se torna
possvel o conhecimento das razes de decidir da Administrao e,
consequentemente, seu controle (FRANCO, opus citatus, p. 46-47).

MEDAUAR (opus citatus, p. 97-98) v no Princpio da Publicidade importante


ferramenta de controle da Administrao, e assinala que:
[...] em virtude da participao de administrados (particulares e servidores), a
publicidade inerente ao processo administrativo. Tornam-se impossveis
atuaes ocultas em processo, embora em casos relativos privacidade,
honra, p. ex., sua realizao possa ocorre em crculo restrito, mas sempre
com a atuao dos sujeitos a que se refere.

Assim, o princpio em comento inerente administrao pblica converge com a


processualidade administrativa disciplinar, porquanto tambm assegurado aos
processos em geral, seja no campo do Processo Penal, seja no do Processo Civil.
Importante salientar, nessa esteira, a observao de FILHO, F. (2001, p. 41)
segundo quem esse princpio prprio do processo de tipo acusatrio, caracterstica
inerente ao processo penal, mas tambm aplicvel aos processos administrativos
disciplinares, razo pela qual para que no haja desateno ao postulado
Constitucional necessrio, tanto quanto possvel, dar conhecimento geral acerca
da instaurao do processo e de sua deciso final, algo que se atinge por meio da
publicao desses atos.

5.7.5 Eficincia

O Princpio da Eficincia no constava do texto original da Constituio Federal de


1988 e foi nele inserto por meio da Emenda Constitucional n. 19 de 1998, figurando
ao lado dos demais Princpios aplicveis Administrao Pblica por fora do caput
do Art. 37.
A introduo desse princpio na Constituio Federal causou, ao incio, certa
estranheza, porm ele deve ser compreendido no contexto das inovaes trazidas
pela Emenda suso mencionada, que alterou substancialmente dispositivos aplicveis

123

Administrao Pblica tendo em conta a necessidade de modernizar o texto


anterior.
Acentua SILVA, J. (opus citatus, p. 671) que o conceito de eficincia no jurdico,
mas econmico, pois no qualifica normas; qualifica atividades. Assevera que [...]
eficincia significa fazer acontecer com racionalidade, o que implica medir os custos
que a satisfao das necessidades pblicas importam em relao ao grau de
utilidade alcanado (idem, ibidem, p. 671). Contudo, ainda de acordo com o autor:
A dificuldade est em transpor para a atividade administrativa uma noo
tpica da atividade econmica, que leva em conta a relao input/output
(insumo/produto), o que, no mais das vezes, no possvel aferir na
prestao do servio pblico, onde nem sempre h um output (produto)
identificvel, nem existe um input no sentido econmico. Por outro lado, na
economia, a eficincia tem por objeto a alocao de recursos de modo a
aumentar o bem-estar de pelo menos um consumidor sem diminuir,
simultaneamente, o de outros. Na Administrao Pblica as condies de
eficincia so diferentes porque, em relao aos bens pblicos, vale o
princpio de no-excluso, isto , o consumo da parte de um agente
econmico no exclui a possibilidade que outros consumam
contemporaneamente o mesmo bem; enquanto no caso dos bens privados
cada um consome diversas quantidades ao mesmo preo, no caso dos bens
pblicos (p. ex., a defesa nacional), todos consomem a mesma quantidade
atribuindo-lhes valores diferentes. que o financiamento do custo dos bens
pblicos decorre normalmente de imposio tributria, cujo montante
independente das preferncias individuais, como ocorre nos preos de bens
privados (idem, ibidem, p. 671).

Sendo assim, uma definio possvel para o princpio a de que, em razo dele,
deve a Administrao alocar da melhor forma possvel os meios e recursos
existentes, de modo a satisfazer as necessidades da coletividade.
Em matria de processo administrativo disciplinar, o Princpio da Eficincia pode ser
invocado para impedir a durao excessiva dos processos administrativos, impondo
regras de celeridade, informalidade e economia processual e autorizando a
Administrao a adotar as medidas necessrias para materializar a eficcia
administrativa [...], de modo que em nome da eficincia no se abra mo da
juridicidade (FRANCO, opus citatus, p. 40).
Cumpre ressaltar que a ideia de eficincia no processo administrativo traz embutida
a noo de efetividade, e nesse sentido MOREIRA (1984, p. 27, apud FRANCO,
idem, ibidem) identificou cinco itens para um programa bsico em prol da
efetividade:

124

(i) o processo deve dispor de instrumentos adequados para tutelar todos os


direitos previstos no ordenamento; (ii) tais instrumentos devem ser utilizados
independentemente de quem sejam os titulares desses direitos, inclusive na
hiptese de serem indeterminados ou indeterminveis; (iii) o processo deve
assegurar meios e modos para a exata reconstituio dos fatos relevantes, de
modo a assegurar correspondncia da deciso realidade; (iv) o resultado do
processo deve assegurar a especfica utilidade do direito reclamado; e (v)
esse resultado deve ser atingido com o mnimo dispndio de tempo e energia.

De acordo com FRANCO (idem, ibidem), se a efetividade (eficincia) algo


importante em um processo, existem, contudo, riscos ao se tom-la como
demasiadamente relevante. O primeiro risco seria tornar a efetividade um valor
absoluto, no dando assim relevncia aos meios, mas to somente ao resultado do
processo. Com isso, poderia haver a possibilidade de interesses igualmente valiosos
serem posto de lado (intimidade, por exemplo). O segundo risco seria o de que o
valor velocidade venha a contrastar com o valor (igualmente importante) verdade,
algo que no mais das vezes resulta em uma difcil escolha. Por fim, reala o autor
que haver o risco de se descuidar da tcnica em prol de uma suposta efetividade,
porquanto:
[...] efetividade e tcnica no so valores contrastantes ou incompatveis, que
deem origem a preocupaes reciprocamente excludentes, seno, ao
contrrio, valores complementares, ambos os quais reclamam a nossa mais
cuidadosa ateno. Demonstra tambm que a tcnica bem aplicada pode
constituir instrumento precioso a servio da prpria efetividade (MOREIRA,
1997, p. 28 apud FRANCO, opus citatus, p. 41).

Ao tratar do sobredito princpio, FILHO, R. (opus citatus. p. 218-220) depois de


apontar como ponto forte da Emenda Constitucional n. 19 de 1998 o aspecto da
profissionalizao do servidor, assinala que o preparo tcnico para o desempenho
do cargo, emprego ou funo pblica passa a ser caracterstica fundamental para o
exerccio desses postos. Alm disso, o mesmo autor evidencia o aspecto de que
com tal Emenda acentuou-se a responsabilizao do servidor pelo desempenho
ineficiente, e nessa esteira o processo administrativo disciplinar passa a ser adotado
para o fim de medir a atuao dos integrantes do quadro da Administrao Pblica,
tanto em relao ao servidor estvel quanto ao no estvel.
Tal responsabilizao do servidor, no entanto, seja o ineficiente, seja o que incorre
na prtica de ilcitos administrativos, deve se dar dentro de regras previamente
estabelecidas. No de se admitir, por exemplo, que em nome da eficincia a

125

legalidade seja afastada, afinal inexiste tal sobreposio do princpio da eficincia


sobre o da legalidade. Os dois princpios devem ser conciliados, buscando a
Administrao atuar com eficincia, dentro da legalidade (MEDAUAR, opus citatus,
p. 98).

5.7.6 Devido processo legal

O Princpio do Devido Processo Legal (due process of law) pode ser considerado
como o mais importante em um processo onde exista a figura do acusado, seja
processo penal ou no. Embora sua construo histrica tenha se dado
principalmente no ramo do direito penal, o Princpio em voga tem aplicabilidade nos
processos administrativos disciplinares, porquanto neste existe a figura de algum a
quem imputada a prtica de uma determinada conduta (acusado), ainda que se
trate de ilcito de cunho administrativo disciplinar.
Muito j se discorreu acerca do Princpio do Devido Processo Legal, em especial o
fato de que a Doutrina aponta a Magna Carta Inglesa de 1215 como o marco
histrico de onde se origina, pois representou naquele momento a imposio de
determinados limites ao poder estatal.
Na legislao Ptria, em que pese ser reconhecido desde antes da Constituio
Federal de 1988, somente com o advento desta que pde se afirmar com exatido
acerca de sua aplicabilidade em processos (ou mesmo procedimentos) que
envolvam a privao de liberdade ou de bens do particular (Art. 5, inc. LIV), o que
por certo engloba a aplicao de sano disciplinar, mormente em se tratando de
pena que envolva a constrio de liberdade, como si ocorrer no meio militar.
No por outra razo que FRANCO (opus citatus, p. 159) afirma, extreme de
dvidas, que o devido processo legal encontra-se na base do direito administrativo
sancionador brasileiro.
Conforme reala FILHO, R. (opus citatus, p. 223) a noo de devido processo legal
foi desenvolvida pela Suprema Corte dos Estados Unidos com a finalidade de operar
o controle de constitucionalidade das leis, e tal Tribunal construiu entendimentos que

126

levaram identificao de duas perspectivas do princpio: substantive due process e


procedural due process; a primeira, cuida-se do princpio aplicado ao campo do
direito material, ao passo que a segunda atua como garantia na esfera processual.
O substantive due process corresponde a um meio de deciso amplamente utilizado
pela Suprema Corte na perspectiva de realizar o controle de constitucionalidade das
leis (WOLFE, 1991, p. 210, apud idem, ibidem, p. 224), e explica o autor que o
emprego da clusula do devido processo para proteger os direitos da propriedade e
para supervisionar a regulao legislativa de negcios o ato mais caracterstico da
doutrina do Supremo Tribunal entre 1830 e 1937 [traduo livre].
A teoria do substantive due process esteve agregada primeira prtica real
da moderna judicial review. A doutrina do devido processo substantivo foi
assim denominada porque a investigao no se centrava no procedimento
legal, mas na prpria lei e caso se pudesse exigir que uma pessoa
obedecesse essa lei. Se a lei operasse privao arbitrria da vida,
propriedade, liberdade, a Suprema Corte poderia declarar sua
inconstitucionalidade por ofensa ao princpio do substantive due process. A
deciso, que aperfeioou a clusula, data de 1897 em que o Estado de
Louisiana impunha restries sobre contratos de seguros celebrados em
outros Estados (Allgeyer versus Louisiana).
Mesmo depois de vrias idas e vindas como por exemplo, a renncia da
Suprema Corte em controlar assuntos econmicos por meio da clusula do
devido processo econmico a doutrina do substantive due process
continuou intacta: o juiz segue com autoridade para derrogar qualquer
legislao arbitrria e desarrazoada (WOLFE, 1991, p. 201, apud FILHO, R.,
opus citatus, p 224).

Disse-se que a Suprema Corte Norte-Americana foi a grande responsvel pelo


desenvolvimento da teoria do devido processo legal, tanto em seu aspecto material
quanto no processual, e sobre essa segunda vertente quadra assinalar:
Quanto ao procedural due process, os dois interesses centrais podem ser
identificados no caso Marshall v. Jerrico, Inc., 445 U.S. 238 (1980): o governo
no deve privar uma pessoa de um interesse importante a menos que a
correta compreenso dos fatos e a lei permita; mesmo se o governo
legalmente puder privar algum de um interesse importante, o indivduo tem o
direito de ser ouvido perante uma Corte neutra antes da privao. Enquanto a
primeira regra prende-se realidade da justia (actuality of justice), a
segunda envolve aparncia de justia (appearance of justice).

Nessa medida e dentro da perspectiva do devido processo legal, FARBER et al


(1993, p. 561, apud FILHO, R., opus citatus, p. 225) assinalam que a imparcialidade
e o fato de no existir particular interesse dos Tribunais na demanda podem ser
elencadas como sendo o ncleo do Princpio, e arrematam dizendo que nenhuma

127

pessoa pode ser privada de seu interesse seno por meio de procedimento no qual
tenha a possibilidade de demonstrar suas razes e com a convico de que no
exista a predisposio do juiz contra ele.
Desenvolvendo linha paralela, COUTURE (1979, p. 50, apud idem, ibidem) reala
que o devido processo legal [...] compreende o direito material da lei
preestabelecida e o direito processual do juiz competente. O processo desencadeiase na forma legal dotada de todas as garantias processuais, e no que concerne ao
ltimo aspecto assinala que tais garantias, na tica da Suprema Corte,
compreendem:
(a) cientificao do demandado da promoo dos procedimentos agressivos a
seus direitos; (b) razovel oportunidade de comparecer e expor suas razes,
inclusive apresentar provas; (c) constituio do Tribunal julgador de molde a
apresentar razovel segurana de honestidade e imparcialidade; (d)
competncia do Tribunal. As circunstncias anteriormente arroladas
equivalem razovel possibilidade de se fazer escutar, constituindo-se em
uma notice e uma hearing.

No se pode negar o fato de que o Princpio do Devido Processo Legal esteja


estreitamente ligado, de um lado, ao Princpio da Ampla Defesa e do Contraditrio e,
de outro, s demais garantias aos acusados em geral. Assinala FRANCO (opus
citatus, p. 163) que inclusive o Supremo Tribunal Federal tem demonstrado em suas
decises essa conectividade entre o devido processo e a ampla defesa e
contraditrio. Alis, segundo o mesmo autor, a jurisprudncia ptria tem aplicado
sistematicamente o princpio ao apreciar atos sancionatrios emanados da
Administrao (opus citatus, p. 173).
Naquilo que guarda pertinncia com as garantias em geral decorrentes do Princpio
do Devido Processo Legal pode-se citar, por exemplo (algumas sero abordadas a
seguir de modo aprofundado):
a) a inadmissibilidade, em matria de processo, de provas obtidas por meios
ilcitos;
b) o direito do acusado (e at mesmo do investigado) de no produzir prova que o
incrimine, a englobado o direito de permanecer calado e de sua inviolabilidade
fsica;

128

c) o favor rei, isto , as hipteses em que, no sendo possvel extrair da norma


uma interpretao unvoca, deve-se buscar aquela que seja mais favorvel ao
acusado;
d) a regra do non bis in idem, segundo a qual ningum pode ser sancionado duas
vezes (no mesmo mbito de responsabilizao) pelo mesmo fato;
e) o postulado da inocncia, conforme o qual o indivduo somente poder ser
considerado culpado depois de concludo o processo no qual foi julgado;
f) a busca pela verdade real (material), ou seja, pelo esclarecimento dos fatos
conforme eles ocorreram;
g) o direito a um tratamento isonmico quanto aos demais indivduos;
h) a ampla defesa e o contraditrio;
i) a vedao reformatio in pejus quando se tratar de recurso da defesa.

5.7.7 Ampla defesa e contraditrio

A exemplo do que se deu em relao ao Princpio do Devido Processo Legal, ao


longo do trabalho explanou-se largamente acerca do Princpio do Contraditrio e da
Ampla Defesa, porquanto ambos representam traos marcantes do processo
administrativo disciplinar que se pretenda justo e em conformidade com o
ordenamento jurdico.
Dentro dessa perspectiva, acentuou-se que o Legislador Constitucional, em diversas
passagens, fez expressa meno aplicabilidade do Princpio aos processos
administrativos, sejam eles de que ndole forem, e j no Art. 5, inc. LV, o inseriu
expressamente no campo dos direitos e garantias fundamentais.
Assim, se em constituies anteriores existia a previso de sua aplicabilidade aos
processos, a garantia expressa de ampla defesa era citada apenas e to somente
nas hipteses que versavam a respeito da perda do cargo, sendo, portanto, omissas
quanto aos demais casos de aplicao de outras sanes, da porque a resistncia
de parte significativa da doutrina e da jurisprudncia em reconhecer sua aplicao
aos processos administrativos, a includo o disciplinar.

129

Ampla defesa e contraditrio no se confundem, embora guardem entre si estreita


correlao, porquanto o segundo pressuposto da primeira, vale dizer: no existe
ampla defesa se no ocorrer o contraditrio, que em sntese constitudo por dois
elementos: a) informao; b) reao [...] (GRINOVER et al, opus citatus, p. 63).
Alis, como o processo administrativo disciplinar trata de matria relativa a direitos
indisponveis (e na PMES engloba a liberdade), pode-se afirmar extreme de dvida
que em processos dessa natureza no existem excees ao contraditrio.
Algumas implicaes do contraditrio que podem ser citadas so (PORTA, opus
citatus, p. 117): a) o direito de acesso aos elementos contidos nos autos; b) o direito
de ser ouvido (direito de audincia); c) a possibilidade de reagir. Alm desses, de
se acrescer, ainda, o direito de ser informado com antecedncia razovel a respeito
dos atos que ho de se realizar no processo.
FILHO, R. (opus citatus, p. 229) assevera que a razo de ser do contraditrio
decorre do fato de, dentro de uma perspectiva lgica, a verdade no poder ser
simplesmente adquirida, pois pressupe a existncia de, no mnimo, dois
pensamentos, contrapostos por meio do dilogo, e finaliza dizendo que o
julgamento, a superao da dvida, depende do cotejar de teses opostas
(FOSCHINI, 1965, p. 193-194, apud idem, ibidem, p. 229).
Do ponto de vista jurdico, o contraditrio corresponde a uma:
[...] escolha legislativa de oportunidade prtica, visando contraposio
dinmica entre as partes [...]. Tal contraposio depende da adoo do
mtodo dialtico na busca racional da verdade, da exigncia de uma
regulamentao interna das foras processuais com controle bilateral e
recproco dos riscos de abuso dos instrumentos processuais disponveis
(COMOGLIO et al, 1995, apud idem, ibidem, p. 231) .

Sob o enfoque prtico, o contraditrio tem por fundamento facilitar a busca pela
verdade, por meio da contraposio das teses, com a atuao dos sujeitos
envolvidos no processo na busca da investigao do material ftico e jurdico
envolvido na causa. Nessa perspectiva:
O contraditrio tem como mtodo o dilogo. Enquanto o monlogo limita a
perspectiva do observador, o dilogo, em compensao, amplia o quadro de
anlise, concita comparao, minimiza o perigo de opinies preconcebidas
e favorece a formao de um juzo mais aberto e ponderado. Afinal o
dilogo que corrige continuamente a lgica e no a lgica que controla o
dilogo (OLIVEIRA, 1993, p. 37, apud idem, ibidem, p. 231).

130

Realce-se que nem mesmo a no separao entre acusador e julgador em matria


de processo administrativo, algo presente no processo penal, indica a no
aplicabilidade do contraditrio e essa espcie processual.
A Autoridade julgadora no se assemelha figura do Juiz em processo civil ou
criminal, mas mesmo assim deve-se compatibilizar o princpio com as caractersticas
peculiares do processo administrativo, de maneira que a finalidade do contraditrio
no difere daquela prevista pelo processo judicial: proteger a capacidade de
influncia dos sujeitos processuais (Administrao/servidor acusado ou litigante) na
formao do convencimento do rgo julgador (FILHO, R., opus citatus, p. 239).
Depois de reconhecer que do contraditrio que nasce o direito de defesa,
MEDAUAR (opus citatus, p. 108) assinala que no menos verdade fato de que,
tomada a questo sob outro enfoque:
[...] a defesa que garante o contraditrio, conquanto nele se manifeste [...].
Defesa, pois, que garante o contraditrio, e que por ele se manifesta e
garantida: porque a defesa, que o garante, se faz possvel graas a um de
seus momentos constitutivos a informao e vive e se exprime por
intermdio de seu segundo momento a reao. Eis a ntima relao entre
interao da defesa e do contraditrio (GRINOVER, 1990, p. 4-6, apud idem
ibidem).

A mesma autora, na obra suso mencionada, ao apontar as finalidades do


contraditrio, elenca as seguintes:
a) informao dada ao sujeito para que possa reagir no processo administrativo
(enfoque garantista);
b) busca da verdade, ou seja, o conhecimento mais preciso dos fatos, com a
coleta de informaes para uma deciso mais precisa;
c) propiciar a impessoalidade, pela igual oportunidade dada aos sujeitos entre si,
e perante a Administrao, para que possam apresentar suas alegaes,
provas, teses etc;
d) ampliar a transparncia administrativa.
Como desdobramentos do contraditrio, assinala MEDAUAR (opus citatus, p. 110118) que o Princpio leva adoo de algumas medidas no campo prtico, quais

131

sejam, o dever de informao geral sobre os atos da Administrao, o dever de


ouvir os sujeitos envolvidos, e o dever de motivar os atos decisrios.
A ampla defesa, por seu turno, tal qual o contraditrio, percorreu um longo caminho
no decorrer da histria, e est intimamente ligada s relaes entre o indivduo e o
Estado em matria penal e processual penal, quando quele era imputada a prtica
de um crime.
Descabe nesse particular, por razes metodolgicas, adentrar aos pormenores
dessa longa trajetria, que guarda tambm estreita relao com o devido processo
legal. Certo que, contudo, no h falar em existncia de processo administrativo
de ndole disciplinar sem que ao acusado seja dada a ampla oportunidade de se
defender da acusao que lhe formulada. Nessa esteira, do contraditrio nasce
para o acusado o direito ao exerccio de uma defesa que lhe permita, de modo
amplo (embora no irrestrito), apresentar sua verso para os fatos e apresentar as
provas que deseja sejam produzidas para amparar suas alegaes.
Dessa forma, no mais se admite, por exemplo, a aplicao de sanes tendo por
base o critrio da verdade sabida, situao na qual, no passado, se conferia
Autoridade o poder de aplicar imediatamente determinadas punies to logo
tomasse conhecimento do fato (MEDAUAR, opus citatus, p. 123). Decorrncias do
Princpio da Ampla Defesa apontadas pela mesma autora so, por exemplo:
a) o direito de apresentar defesa antes de a Autoridade competente emanar uma
deciso;
b) o direito de interposio de recurso, independentemente de previso legal;
c) a possibilidade de, se desejar, utilizar-se da defesa tcnica;
d) o direito de ser informado das decises (guarda paralelo com o contraditrio);
e) o direito de solicitar a produo de provas, v-las realizadas e, principalmente,
consideradas no momento da deciso;
f) a inadmissibilidade de provas obtidas por meios ilcitos;
g) o direito ao silncio (tambm correlato ao devido processo legal).
Dessa maneira, observa-se ser incontestvel a importncia dos Princpios da Ampla
Defesa e do Contraditrio em matria de processo administrativo disciplinar,
porquanto, quando considerados conjuntamente com o Princpio do Devido

132

Processo Legal, constituem, de um lado, garantias aos interesses do acusado e, de


outro, clara limitao ao exerccio do jus puniendi por parte da Administrao.

5.7.8 Motivao

A motivao dos atos administrativos algo inerente sua prpria estrutura, e vem
a se somar garantia que tem o acusado de tomar conhecimento das razes de fato
e de direito que levaram o Administrador a adotar uma determinada medida em
detrimento de outra.
Nessa linha, o Princpio da Motivao guarda estreita relao com outros, mormente
os que se ligam ao controle das atividades administrativas, tais como os cinco
Princpios da Administrao Pblica presentes no caput do Art. 37 da Constituio
Federal (Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade e Eficincia), bem
como o Princpio do Devido Processo Legal e o Princpio da Ampla Defesa e
Contraditrio.
Citando a seara judicial, GRINOVER et al (opus citatus, p. 74-75) assinalam que
motivao e publicidade guardam estreita ligao, uma vez que permitem aos
indivduos em geral controlar o exerccio da funo jurisdicional (in casu, o exerccio
da funo administrativa).
No por outro motivo que os autores acentuam o fato de que, modernamente, vem
se salientando a funo poltica do Princpio em voga, pois no se trataria de uma
garantia apenas em relao aos envolvidos numa determinada causa, mas a
qualquer cidado, com a finalidade de aferir a imparcialidade do julgador e a
legalidade e justia das decises.
Em matria de processo administrativo disciplinar, o Princpio cumpre inmeras
funes, dentre as quais se podem citar, por exemplo:
a) permite ao interessado conhecer as razes de fato e de direito usadas pela
Autoridade como esteio para suas decises;

133

b) torna possvel para o acusado insurgir-se contra uma deciso arbitrria,


principalmente quando no existe correlao entre os elementos apontados
pela Autoridade e a realidade ftico-jurdica;
c) permite (principalmente aos demais servidores) o controle das decises que
possam favorecer de modo ilegal este ou aquele acusado;
d) torna possvel aos servidores em geral conhecer o pensamento da
autoridade em relao a determinado assunto, especialmente quando se
tratar de matria de direito, balizando assim os casos futuros.
Tamanha relevncia tem a motivao para o controle dos atos da Administrao que
a Lei n. 9.784/99, que regula o processo administrativo no mbito da Administrao
Pblica Federal, no se limitou a cit-la, mas previu expressamente as hipteses em
que exigvel:
Art. 50. Os atos administrativos devero ser motivados, com indicao dos
fatos e dos fundamentos jurdicos, quando:
I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;
II - imponham ou agravem deveres, encargos ou sanes;
III - decidam processos administrativos de concurso ou seleo pblica;
IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo licitatrio;
V - decidam recursos administrativos;
VI - decorram de reexame de ofcio;
VII - deixem de aplicar jurisprudncia firmada sobre a questo ou discrepem
de pareceres, laudos, propostas e relatrios oficiais;
VIII - importem anulao, revogao, suspenso ou convalidao de ato
administrativo.
1. A motivao deve ser explcita, clara e congruente, podendo consistir
em declarao de concordncia com fundamentos de anteriores pareceres,
informaes, decises ou propostas, que, neste caso, sero parte integrante
do ato.
2. Na soluo de vrios assuntos da mesma natureza, pode ser utilizado
meio mecnico que reproduza os fundamentos das decises, desde que no
prejudique direito ou garantia dos interessados.
3. A motivao das decises de rgos colegiados e comisses ou de
decises orais constar da respectiva ata ou de termo escrito.

importante ressaltar que a Lei em comento abarca apenas os rgos que integram
a Unio, mas serve ela de parmetro para os demais Entes Federativos (Estados) e
tambm Municpios, at porque o dever de motivao pode ser extrado tambm do
devido processo legal.

134

5.7.9 Verdade material (real)

Causa repulsa ao senso de justia o fato de algum ser punido em razo de uma
falta que no cometeu, at porque se de um lado isso se afigura como moralmente
condenvel, de outro por certo o verdadeiro infrator restar impune. Por tal razo,
costuma-se afirmar que em processos que envolvam uma acusao (processo penal
e processo administrativo disciplinar) no pode a autoridade responsvel pela
deciso contentar-se apenas com a verso dada pelas partes envolvidas, mas deve
perseguir sempre a realidade ftica.
Por certo tal tarefa no das mais fceis. Os envolvidos em um processo, ainda que
no ajam de m-f, tendem a exprimir sua particular viso em relao aos fatos, o
que por certo traz consequncias no momento em que se vai prolatar uma deciso.
Alis, nesse particular, nem mesmo as testemunhas escapam dessa caracterstica,
pois tendem a manifestar seu ponto de vista sobre os fatos a partir de sua prpria
experincia de vida, seus valores, suas crenas, suas opinies.
Diante desse quadro, o Princpio da Verdade Material desempenha um importante
papel na seara do processo administrativo disciplinar na medida em que impe
Autoridade competente verdadeiro dever tico de perquirir, a todo instante, sobre
como os fatos realmente ocorreram.
GORDILLO (1998, p. IX-59, apud MEDAUAR, opus citatus, p. 131) cita como
exemplo desse verdadeiro dever da Administrao de apurar os acontecimentos
conforme ocorreram no caso de acordo firmado entre sujeitos a respeito dos fatos;
a Administrao no se v obrigada a acatar essa verso dos fatos, nem o acordo,
cabendo-lhe verificar a autenticidade dos fatos.
Os casos em que a verdade mitigada so tratados pela doutrina como campo de
incidncia da verdade formal.
Contrastam-se, assim, verdade material com verdade formal, porquanto nesta
(mais acentuada no processo civil), a busca pela realidade ftica no to presente
quanto naquela, embora a expresso cunhada pela doutrina no seja das melhores
para retratar os casos em que a verdade mitigada: ou algo verdade ou no; no
existe, do ponto de vista lgico, meia verdade (verdade formal) ou verdade absoluta
(verdade material).

135

Nesse aspecto, inclusive, ambas as expresses so passveis de crtica: a verdade


formal, porque do ponto de vista vernacular implica em admitir uma verdade falsa;
e a verdade real, porque sob o enfoque processual implicaria tratar o processo
(penal ou administrativo disciplinar) como algo infalvel, em que pese os inmeros
casos de erro judicial, algo que de sabena geral.
Assim, tem-se que, a bem da verdade, o Princpio se projeta para o processo
administrativo disciplinar em seu aspecto teleolgico, isto , correspondendo a um
ideal a ser perseguido.
No por outra razo que FILHO, F. (2001, p. 35), sobre o tema, afirma que a
natureza pblica do interesse repressivo exclui limites artificiais que se baseiam em
atos ou omisses das partes. A fora incontrastvel desse interesse consagra a
necessidade de um sistema que assegure o imprio da verdade [...].
FRANCO (opus citatus, p. 47) tambm reala que a busca pela verdade real no
decorre expressamente de nenhum mandamento constitucional, mas mesmo assim
deve ser referido porque, embora expresso unvoca, seu conceito importante na
valorao das provas e na distribuio do nus equivalente, [...] alm da presuno
de veracidade do ato administrativo.
Importante consequncia do Princpio da Verdade Real diz com o fato de, em
matria de processo administrativo disciplinar no existir a figura da precluso
(perda do direito de realizao de um ato devido ao decurso de tempo) quanto
produo de provas, podendo assim a Administrao admitir qualquer prova
admissvel em processo a qualquer tempo, desde que por bvio se respeite o direito
de ampla defesa e contraditrio (COSTA, opus citatus, p. 68).
Dessa lio pode-se, portanto, extrair que, no existindo em matria administrativa a
figura da coisa julgada (efeito da deciso judicial que a torna imutvel), pode o
interessado, a qualquer tempo apresentar novas provas de sua inocncia, ainda que
o faa por meio de recurso ou de reviso processual.

136

5.7.10 Informalismo (formalismo moderado ou instrumentalidade das formas)

O Princpio do Informalismo pode ser apontado como decorrncia lgica do Princpio


da Eficincia, e assegura que em matria de processo administrativo disciplinar
inexistem formas rgidas para a prtica de um ato, que deve ser considerado vlido
quando atingidos os fins a que se destina. Trata-se, assim, da primazia do contedo
sobre a forma, desde que com tal informalismo no se venha a macular direitos e
garantias do acusado.
Nasce, o Princpio, da moderna viso segundo a qual embora o processo seja
instrumento de realizao da justia, por conta das inmeras garantias nele
inseridas, tal situao no tem o condo de elev-lo a categoria tal que o torne um
fim em si mesmo, embora no se possa negar seu carter (importante) de
instrumentalidade, pois visa a manejar o direito material.
Na lio de MEIRELLES (1997, p. 594 apud FILHO, R., opus citatus, p. 181) o
princpio dispensa ritos sacramentais e formas rgidas para o processo
administrativo, principalmente para os atos a cargo do particular, pois o processo
administrativo deve ser simples, despido de exigncia formais excessivas [...].
Procura-se, assim, afastar de pronto, o estabelecimento de regras rgidas que no
levam a nada, seno prpria morosidade do processo, devendo-se, contudo,
atentar para o fato de que Informalismo no sinnimo de total e completa ausncia
de forma, pois por certo essa situao traria srios prejuzos defesa,
especialmente pelo fato de que assim lhe seria impossvel conhecer o modus
procedendi da Administrao.
Consoante esse entendimento, assinalam GRINOVER et al (opus citatus, p. 79) que
se o processo um instrumento, no pode exigir um dispndio exagerado com
relao aos bens que esto em disputa. E mesmo quando no se trata de bens
materiais deve haver uma necessria proporo entre fins e meios [...].
Dessa maneira, a forma de se praticar determinado ato, como elemento de sua
validade, somente necessita ser observada fielmente quando esta se mostre
essencial a ponto de, se desatendida, causar inegvel prejuzo para o acusado
(COSTA, opus citatus, p. 65-66). Exemplo disso ocorreria na hiptese de citao por
edital antes de esgotadas as outras modalidades de citao.

137

Vale aqui, contudo, outro alerta acerca da abrangncia do Princpio do Informalismo:


Evidentemente que exigncias decorrentes do contraditrio e ampla defesa,
tais como motivao, prazo para alegaes, notificao dos sujeitos, no
podem ser consideradas filigranas ou formalidades dispensveis, como por
vezes invocado ao se pretender invocar razes pessoais subjacentes.
Portanto, o princpio do formalismo moderado no h de ser chamado para
sanar nulidades ou para excusar o cumprimento da lei. Visa a impedir que
mincias e pormenores no essenciais afastem a compreenso da verdadeira
finalidade da atuao (MEDAUAR, opus citatus, p. 133).

Realce-se que decorrem desse Princpio inmeras previses contidas nas diversas
normas de direito processual, sendo a principal delas a que consiste na no
anulao de um ato defeituoso, desde que tal imperfeio no cause prejuzo para o
acusado.

5.7.11 Oficialidade (impulso oficial)

O Princpio da Oficialidade decorrncia do Princpio da Legalidade em matria


disciplinar, porquanto se traduz em um dever-poder por parte do Administrador ao
apurar e julgar a prtica de um ilcito administrativo.
Consoante esse princpio, a Autoridade que tomar conhecimento da ocorrncia de
um ilcito tem o dever, e no a simples faculdade, de determinar a sua imediata
apurao, com o posterior julgamento da conduta atribuda ao servidor e, se for o
caso, a aplicao da correspondente sano, sob pena de responsabilidade por
omisso.
Guarda, assim, estreita relao com o postulado da indisponibilidade, que nada mais
significa que o fato de o Administrador, em razo de agir em nome da coisa
pblica, no poder abrir mo do exerccio de um determinado poder (dever) que lhe
conferido por lei.
Refere-se tal Princpio no somente ao dever de dar incio, mas tambm ao impulso
de ofcio do processo, cabendo Administrao tomar todas as medidas
necessrias ao trmite contnuo at a deciso final (FILHO, R., opus citatus, p. 186)

138

e compreende, assim, tanto a impulso de ofcio como a instruo de ofcio, que


pressupe a participao do acusado (idem, ibidem).
Cumpre realar, no entanto, que no se deve confundir oficialidade com
unilateralidade das decises, pois aquela expressa to somente responsabilidade
na conduo do processo para que este alcance o fim constitucional e legal
(COMADIRA, 1972, p. 130, apud idem, ibidem, p. 186-187).
Segundo lio apresentada por COSTA (opus citatus, p. 65):
Orienta-se esse princpio no sentido de que o procedimento disciplinar,
qualquer que seja ele, sindicncia ou processo, dever ser agitado por
impulso oficial. Ainda que tenha sido instaurado com base em expediente
formalizado por particular, o processo, uma vez instaurado, deve projetar at
o final por conta da iniciativa dos servidores pblicos encarregados de sua
feitura. Intrinsecamente, o princpio da oficialidade indica que a iniciativa
investigatria fica por conta da comisso processante, embora possa ela
determinar a realizao de diligncias a pedido das partes interessadas. Se
os membros integrantes do colegiado processante descuidam-se no trato do
correspectivo processo, ter havido uma afronta ao princpio da oficialidade,
devendo tais componentes ser responsabilizados disciplinarmente. O
princpio sub examen traduz, ainda, a noo de no ocorrer perempo de
instncia, bem como no poder o processo ser extinto em consequncia da
ao corrosiva de certos limites temporais que no configurem uma das
causas prescritivas legalmente previstas.

Dessa forma, extrai-se do Princpio que a Autoridade responsvel pela conduo do


processo administrativo disciplinar deve desenvolver seus trabalhos ainda que o
acusado se quede inerte. Assim, o princpio impe a adoo de medidas aptas
consecuo dos objetivos processuais, especialmente no que concerne adoo de
uma deciso final.
Outra decorrncia lgica do Princpio da Oficialidade (em conjunto com o Princpio
da Indisponibilidade) consiste no fato de que uma vez trazida ao conhecimento da
Administrao, pelo particular, uma irregularidade praticada por determinado
servidor, ser indiferente da em diante o interesse desse mesmo particular na
apurao dessa falta; dizer: se depois de noticiar a irregularidade o particular
demonstrar vontade de se retratar, ainda assim persiste o dever que tem a
Administrao de apurar o fato.

139

5.7.12 Pluralidade de instncias

O Princpio da Pluralidade de Instncias em matria de processo administrativo


disciplinar guarda estreita correlao com o Princpio do Devido Processo legal, pois
implica, para o acusado, no direito de levar sua demanda a um escalo superior
para assim buscar uma soluo que, para ele, se afigure como justa.
Nesse sentido, previses legais que porventura prevejam deciso em nica
instncia, e portanto irrecorrveis, encontram-se fulminadas de patente vcio de
ilegalidade, pois vo de encontro ao Princpio em voga, e contrariam de modo
inescusvel o senso de justia.
Ao comentar acerca de princpio correlato em matria processual penal, ou seja, o
Princpio do Duplo Grau de Jurisdio, FILHO, F. (opus citatus, p. 70-71) assinala:
Trata-se de princpio de mais alta importncia. Todos sabemos que os Juzes,
homens que so, esto sujeitos a erros. Por isso mesmo o Estado criou
rgos jurisdicionais a eles superiores, precipuamente para reverem, em grau
de recurso suas decises. Embora no haja texto expresso a respeito na Lei
Maior, o que se infere do nosso ordenamento que o duplo grau de jurisdio
uma realidade incontrastvel. Sempre foi assim entre ns.

PORTA (opus citatus, p. 126) v no Princpio em voga (que chama de Direito


Revisibilidade e de Duplo Grau) uma manifestao do direito ampla defesa,
segundo o qual os atos administrativos emitidos pela autoridade competente dentro
do processo administrativo so passveis de recurso ao superior hierrquico de
quem proferiu a deciso administrativa, para sua apreciao. Assevera o autor que
a Lei n. 9.784/99 consagrou o Princpio ao prever expressamente que das decises
administrativas cabe recurso, em face de razes de legalidade e de mrito (Art. 56).
Na seara administrativa, o Princpio decorre em especial da prpria estrutura
hierarquizada, que permeia a Administrao Pblica, tornando possvel ao escalo
superior rever atos do nvel subordinado.
Dessa forma, e tomando por base a lio de DI PIETRO (opus citatus, p. 92) tem-se
que o Princpio traduz em si a manifestao do chamado poder hierrquico,
caracterstica presente na funo administrativa. Na perspectiva processual, esse
poder demonstra algumas caractersticas dos escales superiores em relao aos

140

nveis subordinados, tais como: a) controlar suas atividades; b) anular atos ilegais; c)
avocar decises.

5.7.13 Persuaso racional (livre convencimento)

Conforme o Princpio da Persuaso Racional, a Autoridade Administrativa livre na


apreciao da prova produzida no curso do processo, podendo decidir de acordo
com seu grau de convencimento, emprestando maior valor a esta ou quela, desde
que demonstre claramente a razo pela qual tomou uma em detrimento da outra.
GRINOVER et al (opus citatus, p. 73) situam esse Princpio como um meio termo
entre o sistema da prova legal e o julgamento secundum conscientiam, e
esclarece:
O primeiro (prova legal) significa atribuir aos elementos probatrios valor
inaltervel e prefixado, que o juiz aplica mecanicamente. O segundo colocase no polo oposto: o juiz pode decidir com base na prova dos autos, mas
tambm sem provas e at mesmo contra a prova. Exemplo do chamado
sistema da prova legal dado pelo antigo processo germnico, onde a prova
representava, na realidade, uma invocao a Deus. Ao juiz no competia a
funo de examinar o caso, mas somente a de ajudar as partes a obter a
deciso divina; a convico subjetiva do tribunal s entrava em jogo com
relao atribuio da prova. O princpio da prova legal tambm predominou
largamente na Europa, no direito romano-cannico e no comum, com a
determinao de regras aritmticas e de uma complicada doutrina envolvida
num sistema de presunes, na tentativa da lgica escolstica de resolver
tudo a priori.
O princpio secundum conscientiam notado, embora com certa atenuao,
pelos tribunais do jri, compostos por juzes populares.

Assinalam os autores suso mencionados que somente a partir do sculo XVI que
comeou a se delinear o sistema intermedirio do livre convencimento do juiz (ou
da persuaso racional)
Realce-se, entretanto, que o livre convencimento no sinnimo de deciso
arbitrria, mas, contudo e sobretudo, de deciso pautada nos critrios da legalidade,
da moralidade e da razoabilidade.
No pode, assim, o julgador, simplesmente deixar de considerar determinada prova
em razo de suas idiossincrasias, mas deve expor de modo claro e inequvoco a

141

razo pela qual trilhou esse caminho, da porque ser importante a fundamentao
das decises (Princpio da Motivao).
Dessa maneira, observa-se que o Princpio da Persuaso Racional permite
Autoridade cotejar o conjunto de provas aquelas que lhe formam o seu
convencimento (livre), de modo a decidir a questo do modo mais justo possvel.

5.7.14 Imparcialidade

Falar da existncia de um Princpio da Imparcialidade dentro do processo


administrativo disciplinar pode se afigurar, primeira vista, com algo estranho. que
diferentemente do que ocorre na funo jurisdicional, onde o Estado-Juiz encontrase equidistante das partes, no exerccio da funo administrativa o EstadoAdministrao est diretamente envolvido na questo (salvo quando tem de dirimir
interesses opostos de particulares em processo administrativo), da porque grande
parcela da doutrina negar tal possibilidade de atuao imparcial.
Para tanto, assinalam que sendo o Estado-Administrao responsvel, ao mesmo
tempo, por formular a acusao, conduzir o processo e prolatar uma deciso final,
estaria ele diretamente envolvido na questo posta apreciao, tendo, portanto,
interesse direto na soluo do caso, nas hipteses de processo administrativo
disciplinar.
Ocorre que, tal qual evidenciou PORTA (opus citatus, p. 118-119), quando se trata
de processo administrativo essa parcialidade deve se transformar em imparcialidade
por fora do ordenamento jurdico Ptrio, que impe o dever de assim proceder.
Portanto, ainda segundo o autor, deve a Administrao garantir a igualdade entre as
partes, ainda que uma delas seja ela mesma, e qualquer desequilbrio nessa relao
poder colocar em risco tanto a ampla defesa como o contraditrio (idem, ibidem).
No por outra razo que grande parte das Pessoas Jurdicas de Direito Pblico
forma comisses processantes, visando a dar a esses profissionais maior
independncia em suas decises, existindo ainda pensamento unnime de que

142

delas no podem fazer parte servidores sem estabilidade, e isso se explica pelo fato
de estes serem mais susceptveis a presses (PORTA, opus citatus, p. 119).
Conforme GRINOVER et al (opus citatus, p. 58-59), ao tratar do tema em comento,
a imparcialidade do juiz uma garantia de justia para as partes. Por isso, tm elas
o direito de exigir um juiz imparcial: e o Estado, [...], tem o correspondente dever de
agir com imparcialidade na soluo das causas que lhe so submetidas.
Expondo pensamento acerca da possibilidade clara de aplicabilidade do Princpio da
Imparcialidade aos processos administrativos, FRANCO (opus citatus, p. 50-51)
reala que ele decorrncia do Princpio do Devido Processo Legal. Assinala que
no processo administrativo de fato inexiste terziet, isto , a equidistncia do
julgador em relao s partes, mas mesmo assim a imparcialidade est presente
nos processos levados a efeito pela Administrao, embora aqui adquiram feies
prprias e diversas do processo judicial (idem, ibidem). Noutra passagem, o mesmo
autor traa importante diferena entre imparcialidade e equidistncia:
No processo judicial, que tem como uma das caractersticas a
substitutividade, ou seja, o Estado pratica atos em substituio aos atos das
partes, fica fcil perceber que o juiz pessoa alheia ao objeto do processo.
No processo administrativo, entretanto, o juiz no possui esse
distanciamento, essa indiferena com o resultado do processo, mas, como se
verifica pela imposio do princpio da finalidade, est ele diretamente
envolvido com o resultado do processo, pois tem o dever de encontrar a
melhor soluo, em benefcio do interesse pblico.
A doutrina processual italiana faz diferena entre imparcialidade e a
terziet do juiz. A imparcialidade seria a caracterstica pela qual o servidor
pblico deve agir no interesse do Estado e no em interesse privado, prprio
ou de terceiro. A terziet no significa apenas agir no interesse do Estado,
mas agir alm de qualquer interesse, pblico ou privado; no uma
neutralidade, mais que isso, uma indiferena. No processo administrativo,
como no legislativo, h a imparcialidade mas no a terziet, tanto que, se
impugnado judicialmente algum desse atos, a demanda ser ajuizada em
face da Administrao, ao passo que, se houver impugnao de algum ato
judicial, no se prope contra o Estado-Juiz, mas ao prprio Estado-Juiz. A
terziet, ademais, na prtica significa a independncia do juiz, mas isso no
completamente exato, pois a independncia o meio para obter essa
condio (FRANCO, opus citatus, p. 102-103).

Noutro ponto o mesmo autor arremata dizendo:


A questo, portanto, parte dessa indagao: ser suficiente a imparcialidade
ou impe-se, no processo administrativo, tambm a terziet?
Evidentemente, no h como existir esse grau de indiferena no processo
administrativo, pois o juiz sempre ser um membro da Administrao
envolvida, em menor ou maior grau, no resultado do processo, qualquer que
seja seu objeto; em sua deciso, sempre dever o juiz considerar a finalidade
pblica da norma pr ele interpretada e decidir de acordo com essa finalidade.

143

Todavia, exatamente esse o trabalho desenvolvido pelo juiz de direito, caso


lhe seja levada essa deciso para o controle de legalidade.
[...]
J se est encaminhando a resposta, portanto, para a concluso de que a
terziet no essencial no processo administrativo, como tambm
possvel haver um processo administrativo inquisitrio, embora sejam
indispensveis outros meios para aferir a imparcialidade do juiz. Ele deve ser
independente, ou seja, no deve sofrer qualquer presso para que decida,
vinculando-se apenas ao preenchimento do interesse pblico (primrio,
repita-se) do ato.

Dessa forma, observa-se que imparcialidade no sinnimo de equidistncia, e


tambm no atributo exclusivo dos processos judiciais, at porque nestes nem
sempre a recproca verdadeira, ou seja, a equidistncia no garantia de uma
atuao necessariamente independente.
Decorrncia direta do Princpio da Imparcialidade em matria de processo
administrativo disciplinar so as regras de suspeio e impedimento aplicveis tanto
aos integrantes das comisses (autoridade delegada) quanto queles a quem
compete decidir (autoridade delegante), podendo assim o interessado suscitar tal
questo no curso do processo, direito que se conforma tambm com os Princpios
da Impessoalidade e da Ampla Defesa.

5.7.15 Igualdade

O postulado da igualdade tem previso expressa na Constituio Federal, pois esta


assegura que todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pas a inviolabilidade
do direito vida, liberdade, igualdade, segurana e propriedade [...] (Art. 5,
caput), e cuida-se de garantia pessoal.
O Princpio da Igualdade em matria processual encontra amparo e decorre da
garantia individual, afinal de nada adiantaria a previso estampada no artigo suso
mencionado se ela no fosse extensvel aos processos em geral, campos nos quais
justamente se travam as maiores discusses que versam acerca da aplicabilidade

144

dos direitos materiais. Dessa forma, negar tal implicao da igualdade em matria
processual seria at mesmo algo desarrazoado.
GRINOVER et al (opus citatus, p. 59-60) defendem ponto de vista segundo o qual
para se garantir a igualdade material seria necessrio, em alguns casos, tratar os
desiguais de modo desigual, garantindo-se parte mais fraca um tratamento
diferenciado, e chegam a apontar o favor rei como um dos exemplos em que se leva
em conta a fragilidade do acusado perante o Estado-Juiz.
Consoante PORTA (opus citatus, p. 50) em vrios casos a prpria Administrao
participar do processo com alto grau de interesse em sua concluso, mas ainda
que isso ocorra necessrio que se mantenha um tratamento processual
equidistante tanto quanto possvel, o que implica em igualdade de oportunidades,
direitos, deveres, nus e faculdades entre ela e a figura do acusado em processo
administrativo disciplinar (paridade de armas), de modo que deve haver limites
atuao da Administrao, de um lado, e de outro a garantia de que esses limites
sero observados. Reala o autor que nem mesmo a necessidade de se fazer
prevalecer o interesse pblico sobre o particular no campo do direito material pode
significar, em matria processual, a inobservncia da igualdade (idem, ibidem).
Dessa forma, o Princpio da Igualdade impe em matria de processo administrativo
disciplinar uma atuao justa por parte da Administrao, de modo a garantir ao
acusado (polo mais fraco da relao) ampla possibilidade de demonstrar sua
inocncia. Tomando-se em conta tal hipossuficincia do acusado, deve-se inclusive,
em caso de dvidas acerca da aplicao de determinado dispositivo, prazos
recursais, por exemplo, buscar soluo segundo a qual a medida adotada seja
aquela que lhe for mais favorvel.

145

6 ASPECTOS CONCLUSIVOS TERICOS

Conforme se assinalou anteriormente, ainda escassa no Brasil a produo


doutrinria a respeito do tema processo administrativo disciplinar, embora seja
foroso reconhecer um incremento de trabalhos nos ltimos anos.
Sabe-se que obrar por tal campo de pesquisa representa para os doutrinadores
inmeros inconvenientes, dentre os quais o maior sem dvida a profuso de
normas existentes no plano federal, estadual e municipal, da porque estudo que se
pretenda aplicvel indistintamente a tais esferas de poder deve perpassar
necessariamente pelo cotejo da Constituio Federal, que a todas as normas
subordina.
Dentro dessa perspectiva, o estudo buscou investigar acerca da existncia de
preceitos gerais aplicveis aos diversos processos administrativos disciplinares
levados a curso nas diferentes esferas de Poder (Executivo, Legislativo e Judicirio)
no exerccio da funo administrativa, independentemente de quem seja a Pessoa
Jurdica de Direito Pblico (Unio, Estados, Distrito Federal ou Municpios).
Para tanto, apresentou as caractersticas intrnsecas aos processos administrativos,
especialmente os sancionatrios, e ps em relevo sua importncia como meio
estabelecido para que o Estado exera seu jus puniendi dentro de preceitos prestabelecidos e que garantam ao acusado o respeito a seu status dignitatis.
Com base em posicionamentos doutrinrios sobre o tema, identificou a existncia de
uma processualidade no exerccio da funo administrativa, em muitos aspectos
semelhante funo jurisdicional, embora com algumas caractersticas prprias.
Constatou-se que o processo administrativo uma realidade da Administrao nos
tempos atuais, pois em decorrncia do Estado Democrtico de Direito, caminho
trilhado pelo Brasil depois da Constituio Federal de 1988, a atuao do Estado
deve se dar dentro de determinadas balizas, de modo que o exerccio do poderdever de apurar e punir condutas irregulares no se convole em mero exerccio de
livre arbtrio da autoridade do momento. Nessa medida, o respeito s garantias dos
acusados, em especial ao devido processo legal e ampla defesa e contraditrio,
previstos expressamente na Constituio Federal, somente pode se concretizar

146

dentro de um regular processo, realizado de acordo com parmetros previamente


estabelecidos.
Acentuou-se desde o incio que a dificuldade existente estava relacionada com a
necessidade de buscar no ordenamento jurdico normas indistintamente aplicveis
aos processos administrativos disciplinares, independentemente de onde se
desenvolvam.
Em que pese tal ponto, constatou-se que embora sejam muitos os diplomas legais a
tratar de processo administrativo disciplinar, a anlise da Constituio Federal bem
como da Doutrina relativa matria permitiu identificar no ordenamento jurdico
preceitos de ordem geral (a que chamou de princpios), que apresentam tal
caracterstica de aplicabilidade a esses diversos diplomas legais.
Essa aplicabilidade indistinta somente possvel em razo da particular e relevante
posio que tais princpios ocupam no plano das normas, pois advm: a) do texto
constitucional; b) das garantias inerentes aos acusados; c) da estrutura lgica do
processo.
Nesse contexto, princpios, espcie integrante da norma jurdica, no so algo fluido
e de normatividade duvidosa, mas, ao contrrio, se mostram com fora cogente
tamanha que permitem at mesmo afastar determinada regra que os contrarie, algo
que a teoria dos princpios demonstra claramente.
Sendo assim, a anlise da estrutura da Constituio Federal, das garantias aos
acusados e de preceitos de ordem processual permitiu, ento, extrair princpios que
foram apresentados como inerentes ao processo administrativo disciplinar e que,
como tais, se mostram de extrema importncia para, seno solucionar, ao menos
minorar o problema apresentado.
No se pode, contudo, olvidar de dois aspectos relevantes a serem aqui
considerados: a) a separao em princpios distintos uns dos outros se d por
aspectos meramente didticos, pois nem sempre a linha que os divide to clara,
havendo em muitos casos implicao direta de um princpio em outro; b) que a
classificao adotada objetivou catalogar e apresentar os princpios mais relevantes,
algo que no afasta a legtima posio de outrem que, ao pesquisar sobre o tema,
adote classificao prpria.

147

Verificou-se, ainda, que se de um lado todos os princpios tm grande importncia


para a compreenso das caractersticas do processo administrativo disciplinar, de
outro no se pode olvidar do fato de que os princpios do devido processo legal e da
ampla defesa e contraditrio correspondem aos princpios que ocupam posio de
destaque, pois constituem os maiores limitadores da atuao estatal, e deles
decorrem outros princpios.
Dessa forma, portanto, constatou-se que o fato de existir no Brasil inmeros e
diferentes diplomas legislativos em matria de processo administrativo disciplinar,
no impede que a eles seja aplicada a teoria dos princpios, porquanto h normas
que tm fora cogente capaz de e irradiar por todo o sistema jurdico. Nessa esteira,
a identificao desses princpios, extrados de dentro do prprio ordenamento
jurdico, contribuiu sobremaneira para a compreenso de caractersticas intrnsecas
ao processo administrativo disciplinar, pois dessa forma foi possvel identificar a
existncia de um ncleo comum a tais processos sancionatrios.

PROCESSO ADMINISTRATIVO
DISCIPLINAR

ORIENTAES DE PAD-RS

148

7 PROCESSO E PROCEDIMENTO

7.1 DENNCIA E COMUNICAO DE INFRAO DISCIPLINAR

Para que ocorra a apurao de uma denncia envolvendo a prtica de transgresso


disciplinar o RDME estabelece, em seu Art. 80, que tal pea deve conter elementos
mnimos necessrios, tais como a identificao, a assinatura e o endereo do
denunciante. Caso no contenha tais elementos, o documento deve ser considerado
como prova impertinente, ou seja, no suficiente para dar incio sequer a uma
sindicncia.
Quanto s comunicaes feitas por militar estadual, por bvio que deve conter
identificao do comunicante e sua assinatura, alm de ter de ser clara, concisa e
precisa, devendo conter os dados capazes de identificar as pessoas ou coisas
envolvidas, bem como as testemunhas, o local, a data e a hora da ocorrncia e
caracterizar as circunstncias que a envolverem, sem tecer comentrios ou opinies
pessoais, conforme reza o Art. 11, 2, c/c o Art. 80 do mesmo Regulamento.
No que diz respeito denncia annima, trata-se de meio de comunicao que deve
ser objeto de levantamento dos setores competentes de investigao (DINT, P/2,
C/2 da Corregedoria), e o resultado dessa investigao, quando restar indcios de
transgresso, que dar incio sindicncia ou ao processo administrativo
disciplinar. Alis, prev o RDME inclusive que tal denncia annima no pode
sequer ser juntada comunicao, sindicncia ou ao processo administrativo
disciplinar.

7.2 SINDICNCIA

Relembrando em poucas linhas tudo aquilo que j fora devidamente explanado no


momento prprio, na seara do direito disciplinar faz-se a seguinte distino: a)

149

sindicncia: meio de apurao; processo administrativo disciplinar (PAD-RS, PADRO, CD e CJ): meio de julgamento.
A sindicncia est prevista nos Arts. 81 e 82 do RDME e deve ser instaurada para
investigar e esclarecer fato, bem como para orientar a tomada de providncias
administrativas. Em matria disciplinar, busca a autoria e a materialidade do fato
(justa causa), elementos imprescindveis para a instaurao de processo acusatrio.
Assim, quando tomada em sua acepo mais ampla, a sindicncia pode ser usada
para apurar toda sorte de irregularidade em torno do servio pblico, ou seja, no
tem somente os assuntos de carter disciplinar. Pode ser usada, por exemplo, para
identificar pontos vulnerveis na administrao, falhas no servio de controle e
segurana, ou mesmo problemas que afetem a qualidade dos servios pblicos.
Difere tal procedimento inquisitrio do processo administrativo disciplinar na medida
em que este s pode ser instaurado contra servidor, ao passo que aquela apura fato,
que pode ou no envolver um servidor.
Trata-se, assim, de procedimento no obrigatrio, pois caso existam elementos
suficientes, o processo administrativo poder ser instaurado diretamente.
Assim, a sindicncia deve, tanto quanto possvel, dar resposta aos seguintes
questionamentos: quem? o que? onde? quando? como? com que meios? por qu?
A sindicncia tem como regra o sigilo, pois se trata de uma investigao, e por isso
mesmo no obedece ao postulado da ampla defesa e do contraditrio.
O prazo de sua realizao de 15 (quinze) dias, prorrogvel por igual perodo, e
diferentemente do que ocorre no PAD, o Encarregado da Sindicncia tem a
liberdade de ampliar o objeto da investigao, analisando tambm outros fatos
correlatos.
Quanto ao seu resultado, a sindicncia poder concluir pelo seguinte: a)
arquivamento dos autos; b) adoo de medidas administrativas; c) instaurao de
processo administrativo disciplinar (PAD-RS, PAD-RO, CD ou CJ); d) instaurao de
inqurito policial militar; e) encaminhamento autoridade competente (Polcia Civil,
Ministrio Pblico, Poder Judicirio, etc.).

150

7.3 PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR DE RITO SUMRIO

7.3.1 Breves consideraes

Conforme j explanado, o Processo Administrativo Disciplinar de Rito Sumrio tem


previso no RDME, inicialmente, em seu Art. 75, que o difere do Processo
Administrativo Disciplinar de Rito Ordinrio. Tem-se que no regime disciplinar da
PMES a instaurao de PAD-RS a regra, sendo o PAD-RO, o CD e o CJ
excees. As normas quanto sua tramitao constam dos Arts. 128 a 130 do
RDME.
Frise-se que a instaurao do PAD-RS ocorre mediante portaria da autoridade
competente, que alm da delegao de tais atribuies a um encarregado, contm:
a) o nome da autoridade responsvel pela instaurao; b) o nome do acusado; c) o
nome do encarregado (que age por delegao); d) a descrio da espcie de
processo (in casu, PAD-RS); e) a descrio, ainda que sucinta, do fato e das
principais circunstncias que o envolvem (acusao); f) a tipificao da transgresso
praticada.
Diferentemente do que ocorre na sindicncia, o PAD-RS deve garantir ao acusado o
pleno exerccio do direito ao contraditrio e ampla defesa, conforme inclusive
prev expressamente o Art. 128 do RDME.
Quanto ao prazo, o PAD-RS deve tramitar em 08 (oito) dias, prorrogveis por mais
05 (cinco), e se desenvolve nas seguintes fases: a) instaurao; b) defesa prvia; c)
investigao sumria; d) defesa do acusado; e) relatrio e julgamento.
Assim, a tramitao desse processo deve seguir o roteiro de atividades e sequencia
de peas, apresentado em seguida.

151

7.3.2 Roteiro de atividades e sequncia de peas

FASES

PROVIDNCIAS

1. Instaurao

1. Autuao da documentao encaminhada pela


Autoridade delegante.
2. Citao do acusado, contendo cpia anexa do
libelo acusatrio e demais provas, advertindo-o
para apresentao de defesa prvia, por escrito,
no prazo de 02 (dois) dias.

2. Defesa Prvia

1. Apresentao da defesa escrita, pelo acusado ou


seu defensor.

3. Investigao Sumria
(quando necessria)

1. Interrogatrio do acusado.
2. Tomada de depoimentos (acusao e defesa)
3. Juntada de documentos.
4. Realizao
necessrio.

de

percias

diligncias,

se

5. Realizao de acareaes, se necessrio.


4. Defesa
(se for o caso)

1. Intimao do acusado e/ou seu defensor para


vistas ao processo e apresentao de defesa,
por escrito, no prazo de 02 (dois) dias.
2. Recebimento e anlise da defesa.

5. Relatrio/Julgamento

1. Descrio circunstanciada do que foi apurado na


investigao sumria, com a concluso do
Encarregado do Processo sobre a culpabilidade
do acusado.
2. Intimao do acusado para tomar cincia da
deciso proferida.
3. Remessa autoridade delegante.

6. Soluo

1. Anlise dos autos pela autoridade competente.


2. Deciso da autoridade competente.
3. Publicao da deciso em Boletim.

152

7.3.3 Fluxograma PAD RS

PORTARIA
CITAO/LIBELO
No Apresenta
Defesa Prvia
Art 102 e 118 2

Apresenta
Defesa Prvia
Art 129 4 I e II

Apresenta
Defesa e Confessa
Art 96

Inocncia
Art 96 1

Relatrio

Diligncia

Relatrio

Diligncias

Relatrio

Relatrio

Cincia

Alegaes Finais

Cincia

Alegaes Finais

Cincia

Cincia

Remessa

Relatrio

Remessa

Relatrio

Remessa

Remessa

Soluo

Cincia

Soluo

Cincia

Soluo

Remessa

Remessa

Soluo

Soluo

Soluo/Arquivo

Devoluo
Diligncias
e Demais Fases

153

O fluxograma retrata os caminhos que pode percorrer o PAD-RS de acordo com as


diversas situaes fticas que se apresentam. Serve, assim, para uma viso global
do processo, que a depender de sua realidade, poder tramitar de diversas formas.
Trata-se, assim, de um retrato do que o RDME prev expressamente. Contudo, com
o advento de deciso judicial que reconheceu a necessidade de interrogatrio em
PAD-RS como ato obrigatrio, embora se cite outra em contrrio, conforme exposto
em tpico especfico adiante, torna-se recomendvel a realizao dessa providncia,
da porque tambm dever ser dado prazo defesa para que se manifeste em
alegaes finais.

7.3.4 Orientaes

7.3.4.1 PORTARIA

A portaria o meio pelo qual se formaliza a instaurao do processo. Para tanto, a


autoridade delegante deve possuir ascendncia funcional tanto sobre o acusado
quanto sobre o militar estadual escolhido para atuar como encarregado, e este sobre
os envolvidos.
A Portaria lavrada na Seo da Unidade encarregada de assessorar o Comando
em matria de ordem disciplinar e, depois de pronta, deve ser publicada e entregue
ao encarregado juntamente com os documentos constantes do anexo.
A Portaria deve trazer expressas as seguintes informaes: a) nome da autoridade;
b) nome do encarregado; c) nome dos acusados; c) resumo da acusao, indicando
seus principais elementos de identificao, tais como, dia, hora, local, envolvidos,
vtima (caso haja); d) transgresso imputada; e) elementos de identificao (OME,
Seo, nmero, data).
No momento em que recebe a portaria de designao, o encarregado deve
dispensar especial ateno quanto ao prazo de concluso dos trabalhos, pois nesse

154

momento marca-se o incio da contagem do prazo regulamentar concedido para


concluir os trabalhos.
Outro ponto importante refere-se conferncia da documentao registrada como
anexo portaria e tambm de possveis materiais (objetos e armas) nela
discriminados, pois possvel que embora descritos no corpo desse documento, tais
materiais, por erro, no tenham sido enviados ao encarregado.
Resumindo, na ocasio do recebimento da portaria, o encarregado deve atentar
para os seguintes pontos:
a) envolvimento de militar estadual com posto ou graduao superior ou mais
antigo que o encarregado (a necessidade de inquirir superior hierrquico na
condio de testemunha no impede o encarregado de presidir a apurao);
b) falta de algum documento, que embora descrito no anexo, no tenha sido
entregue junto com a portaria;
c) falta de objeto, sobretudo munio, ou objeto pequeno, que venha descrito
como apenso ao expediente;
d) questes de foro ntimo, tais como ser amigo pessoal ou inimigo de algum dos
envolvidos, grau de parentesco, etc., conforme adiante se v, ou seja,
situaes que retiram a imparcialidade do encarregado.

7.3.4.1.1 Suspeio ou impedimento do encarregado

As regras relativas suspeio e impedimento do encarregado do PAD-RS contam


nos artigos 92 do RDME e 37 e 38 do CPPM (aplicveis subsidiariamente por fora
do artigo 147 do RDME). No pode atuar no PAD-RS quem:
a) comunicou o fato;
b) atuou como encarregado ou escrivo de sindicncia ou IPM;
c) for amigo ntimo ou inimigo do acusado ou da vtima (quando existir);
d) for cnjuge, companheiro ou parente, consanguneo ou afim, at terceiro grau
inclusive, do acusado ou da vtima (quando existir);

155

e) como advogado ou defensor, encarregado ou escrivo de sindicncia ou IPM,


tiver funcionado seu cnjuge, ou parente consanguneo ou afim at o terceiro
grau inclusive;
f) tiver ele prprio ou seu cnjuge, ou parente consanguneo ou afim, at o
terceiro grau inclusive, particular interesse no julgamento do fato;
g) se ele, seu cnjuge, ascendente ou descendente, de um ou de outro, estiver
respondendo sindicncia ou processo administrativo por fato anlogo;
h) se seu cnjuge, ou parente, consanguneo ou afim at o segundo grau
inclusive, responder a processo que tenha de ser julgado pelo acusado;
i) tiver aconselhado o acusado.

7.3.4.1.2 Erros na portaria

O erro material na Portaria, ou seja, o erro crasso, pode ser corrigido pelo prprio
Encarregado no momento da confeco do Libelo Acusatrio. So exemplos de erro
material as incorrees relativas ao nome, RG, data, etc. O erro quanto ao
enquadramento tambm pode ser corrigido pelo encarregado quando tal situao for
manifesta, todavia nesse caso o recomenda-se consultar o Cartrio da Unidade a
fim de que se manifeste sobre se deseja retificar a portaria.
Jurisprudncia sobre o tema:
STF RHC 106397/MS Rel. Min. Ricardo Lewandowski 15/02/2011 1
Turma
EMENTA: RECURSO ORDINRIO EM HABEAS CORPUS. PROCESSUAL
PENAL.
ALEGAO
DE
AUSNCIA
DE
ADVOGADO
NO
INTERROGATRIO DA R. INOCORRNCIA. DEFENSOR PBLICO
PRESENTE. FALTA DE ASSINATURA NO TERMO DE AUDINCIA. ERRO
MATERIAL. VERIFICAO POR MEIO DE MERA ANLISE DE
DOCUMENTOS. DESNECESSIDADE DE DILAO PROBATRIA.
CONDENAO
TRANSITADA
EM
JULGADO.
PRECLUSO.
DESPROVIMENTO DO RECURSO.
STF RHC 97667/DF Rel. Min. Ellen Gracie 09/06/2009 2 Turma
EMENTA: PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINRIO EM HABEAS
CORPUS. CRIME DE TRFICO INTERNACIONAL DE DROGAS.
NULIDADES. INEXISTNCIA. AUSNCIA DE COMPROVAO DE
EFETIVO PREJUZO. PRECEDENTES DO STF. ERRO MATERIAL NO
NOME DO ACUSADO CORRIGIDO POR MEIO DE EMBRAGOS DE
DECLARAO. RECURSO DESPROVIDO. [...] 9. Por fim, a citao pela
Juza do nome do ru Carlos Alberto Simes na sentena condenatria do

156

recorrente foi mero erro material e restou devidamente corrigido por meio de
embargos declaratrios. 10. Ante o exposto, nego provimento ao recurso.
STF HC 88711/MG Rel. Min. Carlos Britto 21/06/2007 1 Turma
EMENTA: HABEAS CORPUS. ALEGADO CONSTRANGIMENTO ILEGAL.
REFORMA DA PENA IMPOSTA PELO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA.
ERRO MATERIAL GROSSEIRO. CORREO DA PENA IMPOSTA EM
BENEFCIO DO PACIENTE. ORDEM DENEGADA. No h ilegalidade na
deciso do Superior Tribunal de Justia que, excluindo erro material grosseiro
de sentena confirmada pelo acrdo estadual, faz da pena-base a pena
definitiva. Erro material na dosimetria da pena no causa de nulidade do
Processo Penal. Ordem denegada.
STJ HC 166875/SP Rel. Min. Og Fernandes 14/02/2012 6
TurmaEmenta: HABEAS CORPUS. DESCAMINHO. ALEGAO DE
CERCEAMENTO DE DEFESA POR VIOLAO AO PRINCPIO DA
CONGRUNCIA. IMPROCEDNCIA. PRESENA DE MERO ERRO
MATERIAL, SANADO PELA CORTE REGIONAL. NULIDADE POR
AUSNCIA DE COMPROVAO DA MATERIALIDADE DELITIVA.
EXISTNCIA DE LAUDO PERICIAL ATESTANDO A PROCEDNCIA
ESTRANGEIRA DA MERCADORIA.
1. No h falar em mutatio ou em emendatio libelli quando se constata a
existncia de mero erro material na sentena, oportunamente corrigido pela
Corte Regional.
2. No caso, o Magistrado singular fez mera aluso alnea "c" do art. 334,
1, do CP, embora tenha narrado as condutas que caracterizam efetivamente
a prtica da conduta descrita no pleito acusatrio, a saber, o delito inscrito no
art. 334, 1, "d", do mesmo Cdex. [...].
STJ AgRg no HC 152525/MG Rel. Min. Marco A. Belizze 14/02/2012
5 Turma
Ementa: AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. PRINCPIO DA
COLEGIALIDADE.AUSNCIA DE DEFENSOR NO INTERROGATRIO.
NULIDADE ABSOLUTA. PRESENADO DEFENSOR. AUSNCIA DE
ASSINATURA.
ERRO
MATERIAL.
PRECLUSO.
FALTADE
DEMONSTRAO DE PREJUZO. INEXISTNCIA DE NULIDADE.
[...]
2. Declarada presena do defensor no interrogatrio, a ausncia da
assinatura deste caracteriza mero erro material, incapaz de gerar nulidade no
feito.
3. Nulidade no arguda em momento oportuno, caracterizando a ocorrncia
da precluso.
4. No h que se falar em nulidade do ato processual, sem que haja
comprovao do fato ter acarretado efetivo prejuzo para as partes - princpio
do pas de nullit sans grief.
5. Agravo regimental a que se nega provimento.

7.3.4.1.3 Ausncia de fato na portaria

Diferentemente do que ocorre na sindicncia, onde existe a possibilidade de o


sindicante expandir o objeto da investigao para abarcar fatos correlatos, o
encarregado do PAD-RS atua to somente nos estritos limites a ele impostos na

157

portaria delegatria, porquanto nesse caso a prpria Autoridade delegante j


delimitou o objeto da acusao. Pode o encarregado, na formulao do Libelo
Acusatrio, pormenorizar a acusao, mas jamais trazer fatos no contidos na
portaria delegatria. Assim, a ausncia de fatos na portaria (mas que constam de
seus anexos) dever ser informada Autoridade para que retifique a portaria.
Jurisprudncia sobre o tema:
STJ MS5316/DF Rel. Min. Fernando Gonalves 03/11/1998 3 Seo
EMENTA: MANDADO DE SEGURANA. PORTARIA INAUGURAL.
PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. INPCIA. NULIDADE.
1. A portaria inaugural, no processo administrativo, deve explicitar os atos
ilcitos atribudos ao acusado, sob pena de nulidade, por inpcia, sem
prejuzo do oferecimento de outra, revestida das formalidades legais, pois
ningum pode defender-se eficazmente sem pleno conhecimento das
acusaes que lhe so imputadas.
2. No processo administrativo disciplinar cumpre sejam assegurados o
contraditrio, a ampla defesa e observado a garantia constitucional do devido
processo legal.
3. Segurana concedida.
STJ RMS 10598/PA Rel. Min. Vicente Leal 22/11/1999
EMENTA: CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. MANDADO DE
SEGURANA. SERVIDOR PBLICO ESTADUAL. DEMISSO. ILCITO
ADMINISTRATIVO. INQURITO DISCIPLINAR. INSTAURAO. DIREITO
DE DEFESA. INEXISTNCIA.
- A instaurao do processo disciplinar efetuada mediante ato da autoridade
administrativa em face de irregularidades funcionais praticadas pelo servidor
pblico, o qual deve conter a descrio e qualificao dos fatos, a acusao
imputada e seu enquadramento legal, alm da indicao dos integrantes da
Comisso de Inqurito.
- O inqurito administrativo disciplinar instaurado para apurao da prtica de
ilcito administrativo mediante Portaria que no contm a descrio dos fatos
imputados ao servidor pblico contm grave vcio de nulidade, porque afronta
os princpios do contraditrio e da ampla defesa.
- Recurso Ordinrio Provido.
STJ ROMS 20481/MT Rel. Min. Gilson Dipp 11/09/2006
EMENTA: ADMINISTRATIVO. AGENTE DE TRIBUTOS ESTADUAIS.
PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. NULIDADES. OFENSA AO
DEVIDO PROCESSO LEGAL. INOCORRNCIA. [...]. PORTARIA
INAUGURAL. AUSNCIA DE IRREGULARIDADE. [...].
[...]
III Consoante entendimento do Superior Tribunal de Justia, a portaria de
instaurao do processo disciplinar prescinde de minuciosa descrio dos
fatos imputados, sendo certo que a exposio pormenorizada dos
acontecimentos se mostra necessria somente quando do indiciamento do
servidor. Precedentes.
IV - Aplicvel o princpio do "pas de nullit sans grief", pois a nulidade de ato
processual exige a respectiva comprovao de prejuzo. In casu, o servidor
teve pleno conhecimento dos motivos ensejadores da instaurao do
processo disciplinar. Houve, tambm, farta comprovao do respeito aos
princpios constitucionais do devido processo legal, contraditrio e ampla
defesa, ocasio em que a indiciada pde apresentar defesa escrita e produzir
provas.
[...]
VII - Recurso desprovido.

158

7.3.4.2 AUTUAO

A autuao um termo, ou seja, Termo de Autuao, lavrado na capa do processo


(Termo de Autuao ou simplesmente Autuao). A finalidade do termo registrar e
marcar a primeira medida solene adotada pelo encarregado, ou seja, o momento em
que ele, de posse dos primeiros documentos (aqueles que lhe foram entregues
juntamente com a portaria), os transforma em autos, passando de um simples
amontoado de folhas, s vezes at mesmo fora de ordem, a um processo com
folhas organizadas, numeradas e rubricadas. Toda a documentao inicial
encartada, passando forma de autos, da a denominao autuao.
Alm da autuao, a primeira folha do processo tambm sua capa, e serve para
proteo das demais peas. Assim, na parte inferior da capa consta o Termo de
Autuao e em sua parte superior os elementos de identificao, tais como nome e
numero do processo, nome do encarregado e nome dos acusados.
Devido sua destinao, o ideal que a capa seja de material diferenciado, tanto na
espessura como no tamanho, possibilitando assim a conservao e tambm uma
boa aparncia e apresentao do processo.
Frise-se que o zelo dispensado pelo encarregado nessa etapa resulta em autos com
boa apresentao. O contrrio, contudo, certamente resultar em um processo com
aparncia desarrumada e desleixada, algo que, independentemente do contedo da
investigao, repercutir negativamente na reputao do Encarregado. O desleixo e
falta de zelo podem, inclusive, acarretar responsabilidade disciplinar.
Resumindo, temos o seguinte:
a) a Capa/Autuao a primeira folha do processo, em seguida, devem ser
encartada a portaria e seus anexos;
b) a finalidade da capa dar proteo a todos os documentos que compem o
processo;
c) a finalidade do Termo de Autuao transformar em autos os documentos
recebidos pelo encarregado. Assim, autuar significa encartar em ordem
cronolgica todas as folhas;
d) por ser a primeira folha, a Capa/Autuao a folha de nmero 01, mas esse
nmero no deve vir expresso no canto superior direito, conforme ocorre com

159

as demais folhas. A Capa/Autuao tambm no recebe rubrica, ao contrrio


das demais folhas;
e) para uma boa apresentao do processo, a capa no deve ser de papel
comum (no tamanho e na espessura), pois tal material no protege os
documentos;
f) a elaborao da Capa/Autuao, deve ser a primeira providncia adotada
pelo encarregado;
g) a partir da autuao, todas as folhas so numeradas e rubricadas pelo
encarregado da sindicncia, na ordem cronolgica em que forem acrescendo
os autos;
h) cada volume do processo deve conter no mximo 200 folhas; havendo
excedente, o encarregado dever autuar outro volume (segundo volume), ou
quantos forem necessrios, unindo-os por meio de amarrao.

7.3.4.3 TERMO DE ABERTURA

Como o prprio nome est a informar, o Termo de Abertura um termo cuja


finalidade registrar formalmente o momento em que foram realizadas as primeiras
diligncias da fase de instruo, assinalando o incio da marcha processual. A pea
elaborada pelo encarregado logo aps a autuao de toda a documentao inicial,
vez que j conferiu da Portaria e seus anexos.
Embora seja a segunda pea a ser confeccionada pelo encarregado, o Termo de
Abertura vem depois do ltimo documento que integra os anexos da portaria de
instaurao, assinalando de modo claro onde se inicia a produo do encarregado,
resultando na seguinte sequncia: 1) Capa/Autuao; 2) portaria; 3) anexos da
portaria; 4) Termo de Abertura.
Imediatamente aps a lavratura do Termo de Abertura, torna-se imprescindvel que
o encarregado proceda a uma leitura atenta de toda a documentao, com especial
ateno ao que se determina na portaria, para s a partir de ento iniciar seus
trabalhos.

160

Assim, j de posse das informaes existentes e principalmente tendo cincia


sobre onde reside a dvida aconselha-se que o Encarregado elabore um
planejamento inicial sobre como dever desenvolver seu trabalho de investigao:
a) quais so os pontos a ser esclarecidos?
b) onde esto as contradies ou omisses?
c) quem testemunhou os fatos?
d) quais pessoas deve ouvir?
e) quais documentos so importantes juntar?
f) quais as principais perguntas a cada uma das testemunhas?
g) como as dvidas mais importantes podero ser elucidadas?
Dessa forma, deve-se buscar ao longo do processo esclarecer sobre: QUEM, O
QUE, QUANDO, ONDE, COMO, e POR QU?
Note-se que se de incio j h resposta para algumas delas (situao que pode
ocorrer), cabe ao encarregado buscar responder s demais.
Diante desses questionamentos, e daquilo que ainda falta esclarecer ou atestar, o
encarregado escolher as pessoas (ou at mesmo as coisas) com as quais, no
curso do processo, poder confirmar ou no a acusao.

7.3.4.4 CITAO

A citao constitui meio pelo qual o encarregado d ao acusado cincia oficial


acerca da instaurao do processo administrativo disciplinar, devendo para tanto
observar as formalidades do artigo 99 do RDME, que prev:
Art. 99. O Encarregado do Processo citar ou mandar citar o acusado, para
apresentar sua defesa prvia, e se ver processar at o julgamento final, bem
como para acompanhar todos os demais atos do processo.
Mandado de citao
1. O mandado de citao ser, obrigatoriamente, acompanhado de cpia
do Libelo Acusatrio e demais documentos que motivaram a instaurao do
processo disciplinar, a fim de que o acusado saiba efetivamente o que lhe
est sendo imputado.
Meio para citao
2. A citao far-se- pelo Secretrio:

161

I - mediante mandado, quando o acusado estiver servindo na mesma OME do


Encarregado do Processo;
II - mediante precatria ou requisio ao comandante do acusado, quando ele
estiver servindo em OME distinta da OME do Encarregado do Processo;
III - por edital:
a) quando o acusado se ocultar ou opuser obstculo para no ser citado;
b) quando no for encontrado;
c) quando estiver em lugar incerto ou no sabido.
Certificao
3. Nos casos das letras a, b e c do inciso III do pargrafo anterior, o
secretrio, depois de procurar o acusado por duas vezes, em dias diferentes,
certificar, cada vez, a impossibilidade da citao pessoal e o motivo.
Requisito da citao
4. A citao conter cpia do Libelo Acusatrio, dia e hora para o
comparecimento e advertncia de que no comparecendo o acusado, salvo
provas convincentes em contrrio, considerar-se-o verdadeiras as
acusaes contidas no Libelo, se no forem contestadas na defesa prvia.
Comparecimento espontneo
5. O comparecimento espontneo do acusado suprir a falta ou nulidade
da citao.
Suspenso de prazos
6. Caso o acusado encontre-se em situao, atestada por Junta Militar de
Sade, impeditiva de responder ao processo, ou internado, mesmo que em
residncia, todos os prazos sero suspensos, mediante registro nos autos.
Acusado preso
7. Estando o acusado preso, ser requisitada autoridade responsvel a
sua apresentao perante o Encarregado do Processo em dia e hora
designados.

Cumpre evidenciar que a citao do acusado essencial demonstrao de que,


realmente, efetivou-se a relao jurdica acusao/defesa, razo pela qual se mostra
de suma importncia estar tal circunstncia cabalmente demonstrada nos autos,
mormente quando o processo corre revelia do acusado.
Todavia, se por um motivo qualquer a citao no tenha sido procedida, tal
circunstncia pode constituir apenas mera irregularidade, desde que evidentemente
esteja demonstrado que o acusado tomou conhecimento da acusao e exerceu o
direito ampla defesa.
Exemplo: mesmo sem ser citado formalmente, apresentou defesa prvia, foi
interrogado, apresentou alegaes finais.

162

7.3.4.5 LIBELO ACUSATRIO

Constitui uma mxima em matria de processo administrativo (importada do


processo penal) a circunstncia de que o acusado se defende dos fatos a ele
imputados e no de sua tipificao legal, razo pela qual o elemento mais
importante de um libelo a descrio ftica.
Recomenda-se que o encarregado, no libelo, explicite com a maior clareza possvel
o fato atribudo ao acusado.
Deve atentar, contudo, para o cuidado de que a ele no permitido expandir a
acusao com fatos no descritos na portaria, ou seja: ao encarregado dado o
direito de enfatizar as circunstncias em que o fato ocorreu, mas jamais alcanar
situaes no contidas na delegao.
Recomenda-se, ainda, que o encarregado se valha de perodos curtos e com
oraes na ordem direta, evitando-se, assim, eventuais lacunas, contradies ou
ambiguidades.
Os elementos que devem compor o libelo acusatrio esto descritos no artigo 98 do
RDME e so eles:
a) o nome do acusado;
b) a exposio, de modo articulado, dos fatos atribudos ao acusado, e dos
artigos a ele imputados;
c) a indicao das circunstncias agravantes e de todos os fatos que devam
influir na aplicao da sano disciplinar;
d) o rol de testemunhas se houver;
e) o nome e a assinatura do Encarregado do Processo.
Embora o RDME no se refira expressamente a tal situao, recomenda-se, ainda,
que o encarregado especifique quais so as circunstncias atenuantes aplicveis ao
caso.

163

7.3.4.6 OITIVAS

7.3.4.6.1 Forma

O depoimento prestado por quem quer que seja, acusado, vtima ou testemunha,
deve ser feito oralmente, e ao encarregado incumbe reduzi-lo forma escrita, na
forma de Termo, que ser datilografado ou digitado.
As pessoas podem ser ouvidas no processo na condio de ofendido, testemunhas
ou acusado, dispensando-se de acordo com cada caso garantias e formalidades
previstas na legislao processual. Por isso, de suma importncia que o
encarregado explicite a condio da pessoa ouvida:
a) ofendido a pessoa que figura como vtima no fato apurado;
b) acusado o policial militar que figura como autor do fato investigado;
c) testemunhas so todas pessoas que, de qualquer modo, presenciaram ou
tomaram conhecimento do fato, e que por tal motivo so chamadas a depor
mediante compromisso legal de dizer a verdade;
d) informantes so aqueles que, embora tenham presenciado ou tomado
conhecimento do fato, so chamados a depor, porm sem prestar compromisso, em
razo de dispositivo legal (menor de 18 anos, parente, etc.).
No processo administrativo disciplinar, a primeira pessoa a ser ouvida deve ser o
acusado, a fim de que apresente sua verso para os fatos. Depois, passa-se
declarao da vtima (se houver) e das testemunhas (acusao e defesa,
preferencialmente nessa ordem).
Note-se que essa ordem inversa sugerida em sindicncia, procedimento
investigativo no qual se recomenda colher a declarao do sindicado por ltimo.
Recomenda-se que o encarregado realize entrevista prvia com o declarante, a fim
de assinalar os principais pontos, esclarecendo-lhe, na medida do possvel o motivo
pelo qual foi intimado. A partir da, com o incio da declarao, o encarregado deve
permitir pessoa que est sendo ouvida, falar livremente, relatando passo a passo
como ocorreram os fatos.

164

Permite-se ao encarregado fazer o declarante retornar ao objeto principal quando


se desviar do foco, algo que bastante comum. Posteriormente, depois de
concludo o relato, e colhido seu registro, o encarregado passa a fazer as perguntas
convenientes ao esclarecimento do fato. Ao final, deve permitir defesa a
formulao de suas perguntas, exceo feita, evidentemente, quando se tratar de
sindicncia, pois nesta os investigados no participam da coleta da prova.
Ainda no que diz respeito estrutura do documento, importante ser consignado,
no incio da narrativa, as informaes que situem o declarante no contexto da
histria.
Exemplo: QUE o DEPOENTE Diretor do Presdio e no estava no
estabelecimento no momento dos fatos, mas foi cientificado do que aconteceu pelos
funcionrios. Ou ento: QUE o DEPOENTE vizinho do Ofendido e acompanhou
o andamento de toda a ocorrncia policial.
Ressalte-se que as declaraes devem ser tomadas individualmente, no sendo
permitido que uma testemunha, ofendido ou informante, assista ou acompanhe a
declarao do outro. Os nicos a acompanhar tais declaraes, no processo, sero
o acusado e seu defensor, se houver.
Assim, resumindo:
a) importante que o encarregado identifique os principais pontos de controvrsias
a ser apurados para que durante as oitivas assuma uma postura ativa e indague
detalhadamente as testemunhas, os envolvidos e a vtima, buscando elucidar por
completo como foi a dinmica dessa parte importante do evento. No se deve,
assim, aceitar sem questionamentos explicaes ou narrativas com lacunas ou
incoerncias.
b) para uma boa oitiva, no basta que a pessoa apresente sua verso sobre os
fatos, pois esse tipo de depoimento pouco ou nada prova; assim, aps narrar o fato,
o declarante deve ser tambm questionado sobre como tomou conhecimento dele
(estava no local ou ouviu dizer?) e indicar algum elemento que comprove ou ateste o
que foi narrado e a circunstncia do conhecimento.

165

7.3.4.6.2 Interrogatrio

Em se tratando de PAD-RS, o RDME disciplinou-o em apenas trs artigos (Art. 128 a


130), de modo que, conforme previso expressa do Art. 130, aplicam-se a ele
subsidiariamente as regras compatveis previstas para o PAD-RO (Art. 83 a 127).
Dessa forma, a primeira dvida que se apresenta sobre quais seriam as regras do
rito ordinrio aplicveis ao sumrio. De certo que um processo, ainda que sumrio,
no pode descurar das garantias da ampla defesa e do contraditrio, da porque a
regra do Art. 111 do RDME, a determinar a intimao do acusado para os
depoimentos das testemunhas, tem plena aplicabilidade no PAD-RS, at porque
ele, o acusado, o principal interessado na produo da prova.
Pacificado esse ponto, outro aspecto sobre o qual se indaga em sede de PAD-RS
acerca do interrogatrio do acusado, previsto expressamente apenas para o rito
ordinrio (Art. 114 e 115).
A leitura do Art. 129 do RDME, em especial do seu 4, leva concluso que em
determinadas situaes o encarregado do PAD-RS, depois de expedida a citao e
o libelo acusatrio, pode passar diretamente ao relatrio. Disso resulta que,
primeira vista, no haveria em relao a essa espcie de processo a obrigatoriedade
de realizao do interrogatrio.
Sabe-se, contudo, que o interrogatrio do acusado constitui-se em importante meio
de defesa, ocasio na qual o encarregado do processo tem a possibilidade de ouvir
diretamente dele sua verso para os fatos objeto de inculpao. Dessa forma,
mesmo diante do silncio das normas prprias do rito sumrio, recomenda-se que o
encarregado adote tal medida, evitando-se assim futuros questionamentos relativos
ao cerceamento do direito de defesa, embora haja julgados divergentes do Egrgio
Tribunal de Justia do Esprito Santo.
Jurisprudncia sobre o tema:
TJES Remessa Ex-officio Proc. 002.04.000760-7 Rel. Des. Catharina
Maria Novaes Barcellos 20/04/2007 4 Cmara Cvel
EMENTA: REMESSA EX OFFICIO. MANDADO DE SEGURANA. ATO
DISCIPLINAR. AUSNCIA DE INTERROGATRIO DURANTE O
PROCESSO ADMINISTRATIVO. OFENSA GARANTIA DA AMPLA
DEFESA. NULIDADE. EXTENSO APENAS PARA OS ATOS
POSTERIORES AO OMITIDO. SENTENA REFORMADA APENAS EM
PARTE.

166

I Compete ao Poder Judicirio apreciar a regularidade do procedimento,


luz dos princpios do contraditrio, da ampla defesa e do devido processo
legal, sem, contudo, adentrar no mrito administrativo.
II [...] decorre da ampla defesa constitucional positivada no Art. 5, inc. LV, a
garantia da autodefesa, dentro da qual se insere o interrogatrio, sendo este
o momento adequado para o ru, em contato direto com a autoridade
julgadora, trazer a sua verso a respeito dos fatos da acusao.
III Considerando que a sentena analisada declarou a nulidade do processo
administrativo disciplinar sem opor nenhuma ressalva quanto extenso da
invalidade, parece-me que apenas neste aspecto pontual h lastro para a
reforma, ou seja, para que a nulidade se estenda somente aos atos
praticados a partir da omisso do interrogatrio.
IV Sentena parcialmente reformada.
TJES Agravo Regimental Mand. Segurana Proc. 000037158.2006.8.08.0000 (100.06.000371-0) Rel. Des. Samuel Meira Brasil
Junior 09/03/2006 Tribunal Pleno 4 Cmara Cvel
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL. LIMINAR EM MANDADO DE
SEGURANA PREVENTIVO. DECISO DENEGATRIA. COMISSO
ESPECIAL DE INQURITO DA ASSEMBLIA LEGISLATIVA. DEPUTADOS
ESTADUAIS. VIOLAO AO DEVIDO PROCESSO LEGAL EM SENTIDO
FORMAL. INOCORRNCIA. INOBSERVNCIA DE FORMALIDADES
PROCEDIMENTAIS. MATRIA INTERNA CORPORIS. GARANTIAS
CONSTITUCIONAIS. CONTRADITRIO. INTERROGATRIO.
MEIO
ADEQUADO A CARGO DA ASSEMBLIA PRAZO EXTRAPOLADO. LIMITE
MXIMO FIXADO EM LEI. INOCORRNCIA. COMPOSIO DA COMISSO
PRESERVANDO PARTICIPAO PARTIDRIA. SUBMISSO DO
RELATRIO AO PLENRIO. AUSNCIA DE NULIDADE. ILEGALIDADE NA
QUEBRA DO SIGILO FISCAL. AUSNCIA DE FUNDAMENTO RELEVANTE
PARA A PARALISAO DA INVESTIGAO. IMPOSSIBILIDADE DE
CASSAO DE MANDATO POR QUEBRA DO DECORO PARLAMENTAR.
FATO OCORRIDO EM MANDATO PRETRITO. MATRIA INTERNA
CORPORIS.
COGNIO
SUMRIA
DA
LIMINAR.
RECURSO
DESPROVIDO.
[...]
2. A falta de interrogatrio pode gerar nulidade relativa, mas no implica
violao ao contraditrio. Interrogatrio meio de produo de provas,
enquanto contraditrio instrumento de defesa. A parte pode alegar, em sua
pea de defesa, a verso que daria em seu depoimento. Assim sendo, no h
prejuzo para a defesa, que poder argumentar sobre as provas produzidas
na oportunidade que lhe for concedida.
[...]
9. Recurso desprovido.

7.3.4.6.3 Confisso

O RDME prev a possibilidade de rito mais clere para os casos de confisso,


conforme o seguinte:
Dispensa de fases do processo
Art. 96. Se o acusado, no momento de apresentar a defesa prvia, confessar,
por escrito ou mediante declarao reduzida a termo, em presena de pelo

167

menos duas testemunhas e/ou seu defensor, a autoria e a prtica da


transgresso que lhe imputada, o Encarregado do Processo produzir o
relatrio dos autos, dispensando as demais fases processuais, encaminhando
o processo autoridade delegante, para deciso sobre a aplicao de sano
disciplinar.

No interrogatrio no qual se d a confisso, o acusado deve ser perguntado sobre


quais os motivos e as circunstncias da infrao, e sobre se outras pessoas
concorreram para ela, quais foram e de que modo agiram (CPPM, Art. 306, 2).

7.3.4.6.4 Registro das declaraes

O registro das declaraes prestadas dever ser realizado na 3 pessoa do singular,


evitando-se com isso ambiguidades.
Ex: QUE esteve no local dos fatos; QUE viu o momento no qual ocorreu a
discusso; QUE soube por meio de terceiros que havia algum armado; QUE [...].
Assim, para retratar a fala do declarante no se deve usar a 1 pessoa do singular a
exemplo do trecho QUE vi o momento no qual os policiais chegaram, pois nesse
caso muitas vezes surge dvida sobre se as palavras so do declarante ou do
prprio encarregado.
O uso da 1 pessoa somente deve ser feito quanto o prprio encarregado falar no
termo, e preferencialmente de modo destacado: NESTE MOMENTO, PELO
ESTADO DE SADE DA TESTEMUNHA, SUSPENDI A AUDINCIA, QUE SER
REDESIGNADA PARA DATA POSTERIOR.

7.3.4.6.5 Ordem das testemunhas

As testemunhas a serem ouvidas do PAD-RS devero prestar suas declaraes na


seguinte ordem: primeiro as de acusao, depois as de defesa. A inverso dessa

168

ordem pode acarretar nulidade processual por cerceamento do direito de


contraditrio e ampla defesa.
Ocorre, contudo, que em certos casos testemunhas ouvidas por ltimo podem
acabar atribuindo responsabilidade ao militar, da porque ser importante, ao final das
declaraes, indagar defesa (de modo formal) se deseja alguma outra oitiva. Igual
providncia dever ser adotada depois de declarao das chamadas testemunhas
referidas, ou seja, aquelas que foram ouvidas pelo encarregado mas que no
constavam no libelo acusatrio e na defesa prvia.
Jurisprudncia (divergente) sobre o tema, havendo julgados que indagam acerca do
prejuzo com a inverso:
STF RHC 67191/RJ Rel. Min. Clio Borba 03/03/1989 2 Turma
EMENTA: RECURSO ORDINRIO EM HABEAS CORPUS. PROCESSUAL
PENAL. AUDINCIA DE INSTRUO. INVERSO DA ORDEM DE
INQUIRIO DAS TESTEMUNHAS. ARTIGO 212 DO CDIGO DE
PROCESSO
PENAL.
ARGUIO
DE
NULIDADE.
PREJUZO.
DEMONSTRAO. AUSNCIA. RECURSO IMPROVIDO.
I No de se acolher a alegao de nulidade em razo da no observncia
da ordem de formulao de perguntas s testemunhas, estabelecida pelo art.
212 do CPP, com redao conferida pela Lei 11.690/2008. Isso porque a
defesa no se desincumbiu do nus de demonstrar o prejuzo decorrente da
inverso da ordem de inquirio das testemunhas.
II Esta Corte vem assentando que a demonstrao de prejuzo, a teor do
art. 563 do CPP, essencial alegao de nulidade, seja ela relativa ou
absoluta, eis que (...) o mbito normativo do dogma fundamental da
disciplina das nulidades pas de nullit sans grief compreende as nulidades
absolutas (HC 85.155/SP, Rel. Min. Ellen Gracie). Precedentes.
III A deciso ora questionada est em perfeita consonncia com o que
decidido pela Primeira Turma desta Corte, ao apreciar o HC 103.525/PE, Rel.
Min. Crmen Lcia, no sentido de que a inobservncia do procedimento
previsto no art. 212 do CPP pode gerar, quando muito, nulidade relativa, cujo
reconhecimento no prescinde da demonstrao do prejuzo para a parte que
a suscita.
IV Recurso improvido.
STF MS 25647 MC/DF Rel. Min. Carlos Brito 30/11/2005 Tribunal
Pleno
EMENTA: PARLAMENTAR. PERDA DE MANDATO. PROCESSO DE
CASSAO. QUEBRA DE DECORO PARLAMENTAR. INVERSO DA
ORDEM DAS PROVAS. REINQUIRIO DE TESTEMUNHA DE
ACUSAO OUVIDA APS AS DA DEFESA. INDEFERIMENTO PELO
CONSELHO DE TICA. INADMISSIBILIDADE. PREJUZO PRESUMIDO.
NULIDADE CONSEQUENTE. INOBSERVNCIA DO CONTRADITRIO E
DA AMPLA DEFESA. VULNERAO DO JUSTO PROCESSO DA LEI (DUE
PROCESS OF LAW). OFENSA AOS ARTS. 5, INCS. LIV E LV, E 55, 2,
DA CF. LIMINAR CONCEDIDA EM PARTE, PELO VOTO INTERMEDIRIO,
PARA SUPRIMIR, DO RELATRIO DA COMISSO, O INTEIRO TEOR DO

169

DEPOIMENTO E DAS REFERNCIAS QUE LHE FAA. VOTOS


VENCIDOS. Em processo parlamentar de perda de mandato, no se admite
aproveitamento de prova acusatria produzida aps as provas de defesa,
sem oportunidade de contradio real.
STJ HC 121216/DF Rel. Min. Jorge Mussi 01/06/2009 5 Turma
EMENTA:PARLAMENTAR. PERDA DE MANDATO. PROCESSO DE
HABEAS CORPUS. NULIDADE. RECLAMAO AJUIZADA NO TRIBUNAL
IMPETRADO. JULGAMENTO IMPROCEDENTE. RECURSO INTERPOSTO
EM RAZO DO RITO ADOTADO EM AUDINCIA DE INSTRUO E
JULGAMENTO. INVERSO NA ORDEM DE FORMULAO DAS
PERGUNTAS. EXEGESE DO ART. 212 DO CPP, COM A REDAO DADA
PELA LEI 11.690/2008. OFENSA AO DEVIDO PROCESSO LEGAL.
CONSTRANGIMENTO EVIDENCIADO.

7.3.4.6.6 Ausncia de testemunha

falta da testemunha deve-se seguir uma apreciao do Encarregado sobre a


necessidade de sua oitiva (se for de acusao) ou mesmo uma manifestao da
defesa sobre tal necessidade (se for de defesa). Em qualquer caso, a falta da
testemunha militar ou pertencente a outra categoria de servidor pblico dever ser
comunicada autoridade competente para a adoo das medidas cabveis,
porquanto estes tm o dever de testemunhar acerca de fatos que envolvam outros
servidores.
Caso se insista na realizao da diligncia, ao Encarregado competir as
providncias para a apresentao da testemunha de acusao. Em se tratando de
testemunha de defesa, compete a esta apresent-la, tudo conforme o artigo 109 7
do RDME.
Cumpre evidenciar, no entanto, que a Doutrina praticamente unnime acerca da
impossibilidade de conduo coercitiva de testemunha em matria de processo
administrativo disciplinar, exceo feita queles que so integrantes da Corporao,
inteligncia do mesmo artigo do Regulamento.

170

7.3.4.6.7 Constrangimento da testemunha

Excepcionalmente, o acusado poder ser retirado de sala toda vez que sua
presena no recinto importar em constrangimento testemunha. Possuindo
advogado, este acompanhar a oitiva e formular seus questionamentos. Caso o
acusado no conte com advogado, o encarregado dever providenciar-lhe um
defensor ad hoc para aquele ato, que poder ser militar estadual (recomenda-se
seja mais antigo que o acusado).
Importante salientar que toda vez que a medida de retirar o acusado for adotada,
dever haver registro no PAD-RS, podendo ser feito no prprio termo.
A hiptese est tratada no Art. 112 do RDME, verbis:
Constrangimento da testemunha
Art. 112. Verificando o Encarregado do Processo que a presena do acusado,
pela sua atitude, possa influir no nimo da testemunha, dever adverti-lo
formalmente, fazendo o registro nos autos, e, em persistindo na conduta,
dever retir-lo do recinto, permanecendo seu defensor.
Constrangimento pelo acusado-defensor
1. Estando o acusado fazendo a sua prpria defesa, ser este alertado que
poder ser retirado do recinto, sendo-lhe, neste caso, nomeado defensor ad
hoc.
Registro
2. Em qualquer hiptese deste artigo, ser reduzida a termo a ocorrncia,
constando os motivos que ensejaram a providncia tomada.

7.3.4.6.8 Declarao da testemunha havendo vrios acusados

Em regra, o depoimento de uma testemunha de defesa somente relevante para


aquele que a indicou. De qualquer modo, e em havendo mais de um acusado no
PAD, h situaes nas quais o contedo da declarao da testemunha de defesa de
um militar pode ser importante para outro acusado, ou mesmo, em casos
excepcionais, significar verdadeira testemunha de acusao relativamente a outro
militar.
Por tais razes, e principalmente quando essa situao no estiver bem clara,
recomenda-se intimar todos os acusados para a oitiva das testemunhas, evitando-

171

se, assim, futuras alegaes de cerceamento do direito ampla defesa e


contraditrio.

7.3.4.6.9 Oitiva de superior hierrquico

No h vedao no RDME ou mesmo em outras normas quanto oitiva de superior


hierrquico na condio de testemunha, desde que evidentemente a defesa no
pretenda, de sua declarao, transform-lo em acusado. Recomenda-se nesses
casos de oitiva de superior hierrquico deixar a critrio dele assinalar dia, hora e
local de sua oitiva.
Outra medida que pode ser adotada, mas que nesse caso deve contar
necessariamente com a anuncia da defesa, a solicitao de esclarecimentos por
escrito, dando inclusive ao acusado a possibilidade de tambm formular seus
quesitos.
Em tal situao, a diligncia deixa de ingressar no processo como prova
testemunhal e passa a integr-lo como prova documental, o que plenamente
possvel no sistema de provas adotado pelo ordenamento jurdico Ptrio.

7.3.4.6.10 Direito ao silncio

Em decorrncia da garantia do devido processo legal, o acusado (ou mesmo o


investigado na sindicncia) no est obrigado a produzir prova que o responsabilize
pela prtica de um ilcito. Tal aspecto do sistema de provas adotado no Brasil tem,
inclusive, previso expressa no CPPM, pois em seu Art. 295, 2, estabelece que
ningum est obrigado a produzir prova que o incrimine, ou ao seu cnjuge,
descendente, ascendente ou irmo.
Assim, o indivduo sobre o qual possa recair responsabilidade acerca do fato
investigado tem direito ao silncio, no respondendo pelo crime de falso testemunho

172

quando negar ou calar a verdade, ou at mesmo quando mentir (crime do artigo 346
do CPM).
Nos casos em que o acusado se negar a responder os questionamentos,
recomenda-se ao encarregado consignar uma a uma as perguntas que lhe foram
dirigidas, bem como a eventual resposta que talvez d a qualquer delas, ou a razo
que invocar para seu silncio (CPPM, Art. 305, P. nico).
O crime de falso (fazer afirmao falsa, calar ou negar a verdade) tambm no
imputvel queles que tm particular interesse na causa e que, por conseguinte, no
prestam compromisso legal de dizer a verdade.
O mesmo no ocorre em relao queles que prestam tal compromisso, pois as
testemunhas prestam juramento e tm o dever de falar a verdade e, inclusive,
devero ser alertados sobre o crime em tela (se civil, artigo 342 do Cdigo Penal).

7.3.4.6.11 Analfabeto

O analfabeto pode prestar declarao, contudo no assinar o termo. As assinaturas


que nele devero constar so a do encarregado e as de duas testemunhas (a rogo)
que tenham acompanhado a leitura do documento na presena do declarante.
Inexiste, assim, a necessidade de coleta de impresses digitais do analfabeto,
medida que, alm de constrangedora, se mostra totalmente desnecessria.

7.3.4.6.12 Embriaguez

A pessoa em estado de embriaguez no pode prestar declarao ou mesmo ser


interrogada (acusado), devendo a audincia ser redesignada, sem prejuzo das
medidas disciplinares cabveis (RDME, Art. 114, 6).

173

O encarregado dever estar atento, ainda, para o fato de a embriaguez poder ser
proveniente no apenas do uso de lcool, mas de qualquer outra droga, situao na
qual tambm dever adotar semelhante providncia.

7.3.4.6.13 Menor de 18 anos

O menor de 18 anos no presta compromisso legal, e sua declarao dever ser


colhida na forma de Termo de Informao.
Dessa forma, ao menos em tese, no tem o mesmo valor probante que o de uma
testemunha juramentada, salvo se outros elementos colhidos aos autos lhe
emprestarem maior valor, e esteja assim em harmonia com as demais provas.
Deve-se ainda ter o cuidado de nomear curador ao menor de 18 anos,
preferencialmente o responsvel ou um parente, mas podendo ser tambm um
militar. Ao final, assinaro o termo de informao: o encarregado, o menor de 18
anos e seu curador.

7.3.4.6.14 Consulta a apontamentos

O depoimento da testemunha deve ser prestado oralmente e reduzido a termo, no


lhe sendo lcito traz-lo por escrito (RDME, Art. 110). A testemunha pode, contudo,
realizar consulta a alguns apontamentos, a fim de embasar melhor o contedo de
sua declarao.
Esses registros podem consistir em formulrios, boletins de ocorrncia, e
documentos em geral, nos quais haja o registro do fato em anlise.

174

7.3.4.6.15 Testemunha noutra localidade

A testemunha no est obrigada a se deslocar at a presena do encarregado para


prestar declarao quando residir em local distante e essa medida representar
gastos. Assim, se por motivo relevante ela no puder comparecer, s resta adotar
uma das seguintes medidas: a) o encarregado vai at sua presena, dando cincia
do acusado, evidentemente, a fim de que possa acompanhar a diligncia; b) o
encarregado providencia meios para o deslocamento da testemunha at o local de
sua oitiva; c) o encarregado emite carta precatria, delegando a outra autoridade,
residente na mesma localidade da testemunha, a atribuio de sua oitiva.
Na Carta Precatria o encarregado delega a outrem misso de tomar a termo a
declarao

da

testemunha,

apresentando

os

quesitos

que

deseja

sejam

esclarecidos, inclusive os da defesa.


Dessa forma, dever encaminhar solicitao autoridade militar superior do local
onde residir a testemunha, a fim de que esta adote as providncias necessrias.

7.3.4.7 JUNTADAS

A juntada representa a diligncia em que o encarregado traz para o processo


documentos necessrios sua concluso. A diligncia, ou seja, o acmulo de
documento, no deve acontecer informalmente ou de maneira desorganizada. A
cada grupo de documentos que o encarregado trouxer para o caderno processual
deve ser lavrado o Termo de Juntada, que mencionar a data da diligncia, os
documentos juntados e sua origem.
Assim, o termo recomendvel sempre que vierem aos autos documentos de fora
do processo. Logo, no existe Termo de Juntada para documentos produzidos pelo
prprio Encarregado (Termo de Declarao, Termo de Apreenso, Termo de
Acareao, etc.).

175

Os princiapais documentos que podem ser juntados ao processo so: a) escala de


servio; b) Relatrio do Comandante do policiamento; c) Boletim de Ocorrncia
Policial; d) livros de registro; e) outros documentos, pblicos ou particulares, que
podero ser solicitados formalmente por meio de Comunicao Interna ou de Ofcio
diretamente respectiva autoridade, pois o encarregado age por delegao,
conforme consta na portaria de instaurao.

7.3.4.8 ACAREAO

o ato por meio do qual duas ou mais pessoas so novamente ouvidas pelo
encarregado, simultaneamente, de modo a confrontar seus depoimentos, criando
assim a possibilidade de elucidar os pontos divergentes de suas primeiras oitivas.
No existe restrio com relao condio das pessoas que participaram da
acareao. Assim, pode haver acareao entre testemunhas, acareao entre
acusados, acareao entre vtimas, ou acareao de vrias entre uns e outros.
A acareao deve ser realizada, a critrio do encarregado, apenas quando houver
pontos controvertidos de natureza relevante para a soluo da causa investigada.
Desse modo, no ser qualquer tipo de divergncia, principalmente se irrelevante,
que ensejar tal medida.
Exemplo: quando duas testemunhas diretas declaram coisas diferentes sobre algo
essencial, a acareao pode revelar que uma delas se equivocou, omitiu ou mentiu.
Em havendo uma dessas situaes, comum a testemunha temer mudar sua
verso em razo de isso poder significar, em tese, a ocorrncia de um ilcito. Cabe
ao Encarregado, contudo, esclarecer aos presentes que a legislao penal prev
que o fato deixa de ser punvel se o agente se retrata, dizendo a verdade.
importante assinalar, contudo, ser comum a existncia de depoimentos com
contedos parcialmente diferentes. Isso se deve, muitas vezes, em razo da prpria
percepo pessoal que cada pessoa tem em relao aos fatos, sendo certo que
muitas vezes acaba por misturar suas prprias impresses e sentimentos com aquilo

176

que v. Logo, no de se estranhar determinadas divergncias. O que no se


admite, contudo, so verses totalmente opostas para um mesmo acontecimento.
Para realizar a acareao, as pessoas a serem acareadas so intimadas a
comparecer no mesmo dia, hora e local perante o encarregado. Desse modo, so
colhidos os depoimentos dos acareados, que so colocados um frente ao outro. Do
mesmo modo como acontece nas oitivas, na acareao tambm lavrado um
termo, chamado Termo de Acareao.
Embora haja quem suste a inutilidade da medida, uma vez que, via de regra, os
acareados ratificam seus depoimentos anteriores, mesmo quando colocados frente a
frente, de assinalar que durante sua realizao o encarregado poder, de acordo
as reaes dos presentes, formar seu convencimento e emprestar maior
credibilidade verso de um deles.

7.3.4.9 APREENSO E RESTITUIO

A apreenso o meio pelo qual o Encarregado traz aos autos determinado


instrumento ou objeto, a fim de que ele passe a integrar as provas contidas no
processo.
A medida formalizada por meio do Termo de Apreenso, e tem lugar toda vez que
a prova de um fato estiver a depender da anlise (inclusive pericial) de determinada
coisa.
O objeto ou instrumento pode estar em poder da Administrao (livros de registros,
escala de servio, bens pertencentes Fazenda Estadual, etc.) situao na qual o
encarregado no ter maiores dificuldades em levar adiante a apreenso. Pode
ocorrer, no entanto, de o objeto ou instrumento estar em poder de testemunha ou
mesmo do acusado, hipteses em que, durante suas oitivas, o encarregado far
constar solicitao para a apresentao do material, a ser entregue em ocasio
futura (recomenda-se assinalar desde logo a data).
Todavia, h de se ressaltar no existir sano para o acusado, ou mesmo para a
testemunha, caso se negue a apresentar a coisa. Isso porque o encarregado apenas

177

tem o poder de solicitar a apresentao das coisas em poder de terceiros, pois o


pedido de busca somente pode ocorrer no curso de investigao criminal, e seu
cumprimento mediante ordem judicia.
Cumpre assinalar que os materiais apreendidos podero ser restitudos a quem de
direito quando no mais interessarem apurao, mediante a lavratura do Termo de
Restituio. Isso ocorre, por exemplo, com os livros j periciados, com os
documentos particulares j analisados, dentre outras hipteses. A medida, porm,
deve ser cercada de extrema cautela, j que a coisa, uma vez restituda, pode ser
adulterada ou mesmo se perder. Em razo disso, recomenda-se consultar o setor
competente (SPAJ, Cartrio, etc.) para orientao quanto adoo da providncia.
H de se ressaltar, porm, que no podem ser restitudos os objetos cujo porte ou
deteno constitua fato ilcito (arma sem registro, por exemplo), ou ainda que sejam
resultado do produto do ilcito (salvo ao lesado ou ao terceiro de boa-f).

7.3.4.10 RECONHECIMENTO

Reconhecimento a diligncia realizada de maneira formal pelo Encarregado do


processo, na qual algum convidado a confirmar a identidade de pessoa ou coisa
que lhe apresentada, em relao a outra que tenha visto no passado. Assim, vale
lembrar que a diligncia pode ser realizada tanto para o reconhecimento de pessoas
como de objetos.
O reconhecimento um ato formal, e para sua validade o encarregado dever
observar a regra prevista no artigo 368 do Cdigo de Processo Penal Militar. Assim,
segue as seguintes etapas:
a) inicialmente, antes de qualquer exibio, o reconhecedor far uma descrio da
pessoa ou da coisa a ser reconhecida, devendo tal descrio ser consignada no
termo;
b) na sequncia, a pessoa ou coisa colocada ao lado de outras, com as quais
tenham qualquer semelhana; no havendo algum tipo de semelhana entre as
coisas ou pessoas, o reconhecimento nulo; para evitar constrangimento para o

178

reconhecedor, no caso de reconhecimento de pessoa, o encarregado deve adotar


providncias para que a pessoa a ser reconhecida no tenha possibilidades de ver o
reconhecedor;
c)

por

ltimo,

encarregado

providenciar

lavratura

do

Termo

de

Reconhecimento, consignando todas essas circunstncias, colhendo a assinatura do


reconhecedor e de duas testemunhas presenciais.
Caso haja mais de um reconhecedor, a diligncia de reconhecimento dever ser
realizada para cada um deles separadamente, a fim de que um no influencie o
outro.
Outra medida que pode ser adotada o Reconhecimento Fotogrfico, realizado de
acordo com as mesmas regras citadas anteriormente, mas a partir de fotografias.
Quanto aos resultados, o encarregado deve ser cauteloso na avaliao da diligncia.
Cautela maior ainda dever ter com relao ao Reconhecimento Fotogrfico.
Nesses tipos de diligncia comum a vacilao e os equvocos. Assim, o
reconhecimento deve ser visto como diligncia inicial, a ser complementada por
outras. Pode, tambm, ser diligncia confirmatria, cujos resultados devero ser
analisadas em conjunto com outras provas, pois o reconhecimento, tomado como
nica prova, pode levar a equvocos, erros e injustias, tanto para inocentar quanto
para inculpar algum.

7.3.4.11 RECONSTITUIO

A reconstituio (reproduo simulada) corresponde diligncia por meio da qual o


encarregado busca reconstruir os fatos, a fim de verificar o modo como ocorreram. A
medida tem previso no Pargrafo nico do artigo 13 do CPPM, e pode ter lugar
toda vez que for necessrio aferir as verses apresentadas, que muitas vezes
podero ser confirmadas ou infirmadas por essa diligncia. Assim, dificilmente se
poder iniciar um processo com tal providncia, tampouco recomendvel, uma vez
que o encarregado dever ter em mos as verses que deseja esclarecer.

179

Ressalte-se que, por imperativo legal, a diligncia no poder ser realizada quando
contrarie a moralidade ou a ordem pblica, ou atente contra a hierarquia ou a
disciplina militar.
Para sua realizao, e para se alcanar um bom resultado, aconselha-se que o
prprio acusado participe da diligncia, inclusive reproduzindo suas aes quando
da ocorrncia dos fatos. De ser ver, entretanto, que em razo do Princpio do Devido
Processo Legal, no est ele obrigado a participar efetivamente da diligncia, e isso
pelo fato de no ter o dever de produzir prova que o incrimine, embora seja
permitido ao encarregado fazer com que ele pelo menos comparea ao local.
A diligncia, conforme consta do modelo de Termo de Reconstituio, se d por
meio do registro dos fatos mediante a reproduo dos atos praticados, que devero
ser devidamente fotografados. Tais fotografias devero ser necessariamente
juntadas ao processo, como meio de prova, e imediatamente aps o Termo de
Reconstituio. No Termo de Reconstituio dever constar um resumo da
diligncia, fazendo-se sempre aluso s fotografias nas quais esto registrados os
passos do agente.

7.3.4.12 INSPEO

A inspeo o meio de prova que consiste na percepo sensorial direta do


encarregado sobre qualidades ou circunstncias corpreas de pessoas, coisas ou
locais que guardem relao com o objeto da apurao. Logo, pode recair sobre:
a) pessoas, quando for necessrio verificar seu estado de sade, condies de
vida, etc.;
b) coisas, mveis e imveis, e mesmo documentos de arquivos, desde que tais
coisas no possam ser apresentadas ao encarregado no local onde preside
os trabalhos;
c) locais, quando, por exemplo, houver a convenincia e a necessidade de se
conhecer detalhes de um lugar, cujos relatos das pessoas ouvidas jamais
trariam a riqueza de detalhes de uma verificao in loco.

180

Deve ser realizada quando as provas contidas nos autos forem insuficientes para
que o encarregado obtenha informao que em sua sala jamais poderia ter,
principalmente quando for necessrio mentalizar o local onde os fatos ocorreram e
determinar de modo claro a posio na qual estava cada um dos envolvidos, ou
seja, a dinmica dos eventos.
Exemplo: se a testemunha, na posio em que estava, teria sido capaz de ver os
acontecimentos ou mesmo ouvir os dilogos; se sentinela teria sido possvel ver
determinado fato, etc.
Assim, de fundamental importncia que a diligncia seja realizada em horrio
semelhante ao da ocorrncia do fato em apurao.
Ao seu final, questes que se mostravam controvertidas podero se tornar claras,
permitindo ao encarregado chegar a uma concluso sobre determinado ponto
relevante.
Para realizar a diligncia, o encarregado deve se deslocar at a pessoa, coisa ou
local a ser inspecionado e, para o registro, recomenda-se a realizao de
fotografias, a serem juntadas ao processo, bem como deva ele tomar nota de tudo
aquilo que julgar importante, a fim de lhe possibilitar a confeco do Termo de
Inspeo. Pode, ainda, em se tratando de inspeo de local, confeccionar diagrama
(croqui) para melhor esclarecer o episdio.

7.3.4.13 CINCIA DOS ATOS PROCESSUAIS

Ao contrrio do que ocorre na sindicncia, onde impera o sigilo, a regra em matria


de PAD a da publicidade para o acusado.
Aqui, por se tratar de processo, no se admite a realizao de atos s escondidas
ou sem a afetiva participao do acusado, e isso em decorrncia do direito ao
contraditrio e ampla defesa.
Assim, bom ressaltar que o rito sumrio no implica em desateno quelas
garantias constitucionais, mas trata-se apenas de meio mais clere para o

181

julgamento de transgresses de menor gravidade, com a aplicao de sanes que


no levam perda do cargo.
Sendo assim, no PAD-RS todos os atos processuais devero ser previamente
comunicados ao acusado, regra que se estende realizao de exames, percias ou
outros meios de prova, situaes nas quais defesa dever ser sempre possvel a
elaborao de quesitos.
Pode ser aplicado genericamente, aqui, o prazo de 02 (dois) dias, em analogia ao
Art. 129, incisos I e IV do RDME.
Cumpre evidenciar, no entanto, que se de um lado a comunicao prvia ao
acusado sempre necessria, de outro a sua ausncia no momento de realizao
da diligncia no implica necessariamente em seu adiamento, medida que somente
dever ocorrer quando sua presena se mostrar de fato imprescindvel ou mesmo
quando a falta decorrer de caso fortuito ou de fora maior.

7.3.4.14 RECUSA DO ACUSADO EM RECEBER DOCUMENTOS

Constitui regra geral aplicveis em tais casos (inclusive quando se tratar da citao)
que o acusado no est obrigado a receber documentos, tampouco assinar o
recebimento.
Nesses casos, deve-se o encarregado adotar a providncia de arrolar duas
testemunhas (instrumentrias), que acompanharo a leitura do documento na
presena do acusado e o assinaro juntamente com o encarregado ( 1 do artigo
101 do RDME).
Jurisprudncia sobre o tema:
STJ RHC 67191/RJ Rel. Min. Clio Borba 03/03/1989 2 Turma
EMENTA: RECURSO DE HABEAS CORPUS. AUTO DE PRISO EM
FLAGRANTE QUE PREENCHE OS REQUISITOS LEGAIS, DELE NO
CONSTANDO APENAS A ASSINATURA DO DETIDO QUE A RECUSOU.
NULIDADES INEXISTENTES. RHC IMPROVIDO.

182

7.3.4.15 NEGATIVA DO ACUSADO EM ACOMPANHAR OS ATOS PROCESSUAIS

A negativa do acusado em acompanhar os atos processuais no significa que o


encarregado deva paralisar o PAD-RS. Para se perfazer o contraditrio, pressuposto
da ampla defesa, a notificao prvia sobre a realizao das diligncias condio
suficiente para cumprir o mandamento constitucional.
Deve-se observar, contudo, que a omisso do acusado em determinada fase no
implica em abdicar dos direitos que tem nas demais, ou seja: i) mesmo no tendo
apresentado defesa prvia, tem o direito de ser cientificado sobre a oitiva de
testemunhas e demais diligncias; ii) mesmo tendo se omitido em relao s
diligncias, tem o direito de apresentar suas alegaes finais; iii) mesmo no tendo
apresentado alegaes finais, tem o direito de ser notificado sobre o contedo do
relatrio do encarregado.
Jurisprudncia sobre o tema:
STJ MS 6896/DF Rel. Min. Fernando Gonalves 05/08/2002 3 Seo
EMENTA:
ADMINISTRATIVO.
SERVIDOR
PBLICO.
PROCESSODISCIPLINAR. DEMISSO. CERCEAMENTO DE DEFESA.
NULIDADE. LEI 8.112/90.
No processo administrativo disciplinar, indispensvel que se proporcione ao
servidor processado, esteja ele j indiciado (art. 161, 1, da Lei 8.112/90) ou
ainda como simples acusado (na fase de instruo do inqurito
administrativo), o direito ampla defesa e ao contraditrio, devendo-se
chamar o acusado ao feito desde o seu incio, para que tenha oportunidade
de acompanhar a instruo. Precedentes do c. STF. Segurana concedida.
STJ MS 7773/DF Rel. Min. Fernando Gonalves 04/03/2002 3 Seo
EMENTA: ADMINISTRATIVO. PROCESSO DISCIPLINAR. DEMISSO.
AUSNCIA. NULIDADE. CERCEAMENTO DE DEFESA. PORTARIA.
INTIMAO.
OITIVA.
TESTEMUNHAS.
INDEFERIMENTO.
PROVATESTEMUNHAL.
DEFESA.
INOCORRNCIA.
PRESCRIO
DAPRETENSO PUNITIVA. FALTAS ADMINISTRATIVAS. DIVERSIDADE.
ILCITO PENAL.
1. No h falar em cerceamento de defesa se o impetrante recebeu a cpia
integral do termo de indiciamento e dos autos do processo disciplinar, sendo
notificado da instaurao da Comisso de Processo Administrativo Disciplinar
e do cronograma de oitivas de testemunhas, comparecendo a alguns
depoimentos, no restando demonstrada a ocorrncia de efetivo prejuzo
decorrente da sua ausncia nos demais, uma vez que apresentou defesa
escrita, tanto na fase de sindicncia, quando do processo disciplinar.
[...]
5. Segurana denegada.

183

7.3.4.16 AUSNCIA DE ADVOGADO (DEFENSOR)

No PAD-RS a presena de advogado/defensor no obrigatria, podendo o


acusado optar ou no por essa medida. Cumpre-se, assim, o entendimento firmado
pelo Supremo Tribunal Federal (STF), assim vertido no verbete da Smula
Vinculante n. 05: A falta de defesa tcnica por advogado em processo
administrativo disciplinar no ofende a Constituio.
A edio dessa Smula ps fim divergncia de diversas correntes acerca do tema,
eis que o Superior Tribunal de Justia (STJ) j havia anteriormente editado a Smula
343, que dispunha em sentido contrrio: obrigatria a presena de advogado em
todas as fases do processo administrativo disciplinar.
Dessa forma, pacificado est que a presena do advogado em tais processos uma
escolha a cargo do servidor que figurar como acusado.
Importante frisar, contudo, que a Smula Vinculante 05 do STF no vedou a
utilizao de advogado, tampouco o obrigou. Remanesce, entretanto, a prerrogativa
do advogado de acompanhar os atos processuais quando regularmente constitudo
no processo.
Assim, havendo advogado constitudo, deve o encarregado do processo intim-lo
previamente, e tambm o acusado, a cerca dos atos processuais.
Nessa esteira, so nulos os atos realizados pelo Encarregado quando o advogado
constitudo no for previamente intimado de sua realizao e no se fizer presente
no ato.

7.3.4.17 POLCIA DAS SESSES

Compete ao encarregado a conduo dos trabalhos no PAD, devendo manter a


ordem nas sesses, conforme dispe o Art. 89 do RDME:

184

Polcia das sesses


Art. 89. O Encarregado prover a regularidade do processo e a execuo da
lei e manter a ordem no curso dos respectivos atos, podendo determinar o
que for conveniente manuteno da ordem.
Independncia e imparcialidade da autoridade processante
Pargrafo nico. O Encarregado exercer suas atividades com absoluta
independncia e imparcialidade.

As perguntas dirigidas s testemunhas, acusados, ofendidos etc., devero passar


pelo encarregado, que as dirigir pessoa ouvida, podendo inclusive indeferi-las
quando:
a) formuladas de modo a direcionar a verso (perguntas antecedidas de longa
explanao);
b) se mostrarem impertinentes (sem nenhum valor para o esclarecimento dos
fatos);
c) forem ofensivas (colocando, por exemplo, a vtima em verdadeira condio de
acusado).
Nesse contexto, no incomum a defesa buscar atribuir vtima ou testemunha a
pecha de viciado, brio habitual, prostituta, meliante, dentre outros adjetivos
pejorativos. Em tais casos, dever o encarregado estar atento para que no se
inverta a ordem natural das coisas, pois o julgamento em PAD do militar estadual e
no da testemunha.
Por fim, cumpre ressaltar tambm que as mudanas ocorridas recentemente no
Cdigo de Processo Penal no atingiram o Cdigo de Processo Penal Militar, da
porque vedado ao defensor dirigir-se diretamente testemunha.

7.3.4.18 DENEGAO DE PEDIDOS

A garantia da ampla defesa no significa que tal exerccio seja absoluto, a ponto de
inclusive paralisar o PAD. Nessa medida, contudo, o indeferimento de diligncias
requeridas pela defesa dever ser evitado ao mximo, restringindo-se s hipteses
em que restar claro que se trata de expediente meramente protelatrio ou que vise a

185

tumultuar o processo, ou ainda quando a providncia requerida no guardar


qualquer relao com o objeto do processo (tomar cuidado neste ltimo caso para
no se fazer um pr-julgamento aleatrio). Caso haja a necessidade de indeferir
pedidos, a circunstncia dever ser consignada no relatrio, bem como os motivos
que levaram o encarregado a isso. Por motivao no presente caso entende-se no
apenas o jargo por se tratar de pedido protelatrio, ou seja, no basta dizer que ;
preciso dizer por que protelatrio. Deve-se, em todo caso, dar defesa a
oportunidade de requerer outras diligncias quando qualquer delas for indeferida.
Jurisprudncia sobre o tema:
STJ MS 7773/DF Rel. Min. Fernando Gonalves 04/03/2002 3 Seo
EMENTA: ADMINISTRATIVO. PROCESSO DISCIPLINAR. DEMISSO.
AUSNCIA. NULIDADE. CERCEAMENTO DE DEFESA. PORTARIA.
INTIMAO.
OITIVA.
TESTEMUNHAS.
INDEFERIMENTO.
PROVATESTEMUNHAL.
DEFESA.
INOCORRNCIA.
PRESCRIO
DAPRETENSO PUNITIVA. FALTAS ADMINISTRATIVAS. DIVERSIDADE.
ILCITO PENAL.
[...]
2. No importa em nulidade o indeferimento, motivado, do requerimento de
prova testemunhal, em face do carter protelatrio da medida, tampouco a
falta de produo de prova pericial no requerida pelo impetrante e, em
princpio, desnecessria.
[...]
5. Segurana denegada.
STJ MS 7834/DF Rel. Min. Felix Fisher 08/04/2002 3 Seo
EMENTA: ADMINISTRATIVO. SERVIDOR
PBLICO.
PROCESSO
DISCIPLINAR. DEMISSO. INDEPENDNCIA ENTRE AS INSTNCIAS
PENAL, CIVIL E ADMINISTRATIVA. MATERIALIDADE. COMPROVAO.
CERCEAMENTO DE DEFESA.
[...]
3. O indeferimento de pedido de produo de provas, por si s, no se
caracteriza como cerceamento de defesa, principalmente se a parte faz
solicitao aleatria, desprovida de qualquer esclarecimento. A Constituio
Federal de 1988, em seu art. 5, LV, garante aos litigantes em maneira geral
o direito ampla defesa, compreendendo-se nesse conceito, dentre os seus
vrios desdobramentos, o direito da parte produo de provas para
corroborar suas alegaes. Mas esse direito no absoluto, ou seja,
necessrio que a parte demonstre a necessidade de se produzir a prova, bem
como deduza o pedido no momento adequado. Segurana denegada.

7.3.4.19 SISTEMA DE REPETIO DA PROVA

Os elementos de convico produzidos em sede de sindicncia tm validade quando


da instaurao do PAD-RS, mormente quando se tratar de prova no repetvel

186

(exame toxicolgico, exame de local de crime, exame de leses corporais, etc.) ou


de prova cautelar (quebra de sigilo fiscal, bancrio, telefnico, buscas e apreenses,
etc.), produzida em investigao criminal e trazida ao processo como prova
emprestada. Quanto prova testemunhal, e em se tratando de PAD-RS, o
encarregado dever, sempre possvel, e por iniciativa prpria, colher ao menos a
declarao das principais testemunhas que atribuem responsabilidade ao acusado.
Eventuais mudanas na declarao da testemunha no significam necessariamente
um juzo absolutrio, mormente se tal mudana estiver desacompanhada de motivo
razovel e existam outras provas de responsabilidade do acusado.
Jurisprudncia sobre o tema:
STM Apelfo 46964/MG Rel. Min. Antonio Carlos de Nogueira
25/11/1993
EMENTA: ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR. PRELIMINAR DE
NULIDADE ANTES REJEITADA. CONFISSO FEITA NO IPM DIANTE DE
TESTEMUNHAS E RETRATADA EM JUZO.
- As declaraes prestadas no inqurito policial perante as autoridades
investigantes, embora retratadas em juzo, tm valia, desde que no elididas
por qualquer indcios ponderveis, ao revs, se apresentam harmonicamente
ajustadas a outros elementos dos autos.
- Elenco probatrio vlido e suficiente para o convencimento. Sentena de
primeiro grau mantida. Deciso unnime.

7.3.4.20 VCIO PROCESSUAL

O vcio processual pode ocorrer quando o encarregado do processo pratica


determinado ato (ou mesmo deixa de pratic-lo) em descompasso com determinada
formalidade. Em que pese o fato de o contedo do ato ser mais importante que a
forma, h determinadas situaes nas quais se exige certos requisitos de validade, a
exemplo do que ocorre na citao por edital, que somente tem lugar quando
esgotadas as outras formas de citao.
A existncia de vcio processual pode constituir desde uma mera irregularidade a at
mesmo uma nulidade capaz de tornar imprestvel todo o processo. Diz-se que o
vcio constitui mera irregularidade quando no influenciar na deciso e, mais ainda,
quando dele no importar para o acusado um prejuzo a seu direito de defesa.
Nesse contexto, mxima consagrada em processo (administrativo e judicial) que

187

no h nulidade sem que haja prejuzo defesa, conforme estabelece


expressamente o artigo 131 1 do RDME, que consagrou o brocardo pas de nullit
sans grief.
Havendo prejuzo defesa, ou seja, tendo havido uma nulidade, necessrio
verificar o momento de sua ocorrncia para o fim de aplicar o princpio da
causalidade, conforme regra do artigo 127 do RDME. Consoante esse princpio, a
anulao de um ato implica na anulao de todos os subsequentes que dele
dependam, situao que pode levar :
a) nulidade parcial; ou
b) nulidade total.
Haver nulidade total, por exemplo, quando o vcio j existir desde o nascedouro do
PAD, conforme ocorre nos casos de processo instaurado por autoridade
incompetente. J a nulidade parcial se d quando o vcio insanvel ocorre no
desenvolver do processo, a exemplo de quando, depois da realizao de diligncias,
no se d ao acusado o direito de apresentar suas alegaes finais. Nesse caso, os
atos subsequentes (relatrio, soluo e punio) esto contaminados e devem ser
anulados, retornando o processo ao momento da omisso para que seja ela
corrigida.
Jurisprudncia sobre o tema:
STF RHC 110056/SP Rel. Min. Luiz Fux 10/04/2012 1 Turma
EMENTA: PENAL. PROCESSUAL PENAL. AUDINCIA DE INSTRUO.
AUSNCIA DO RU NA ASSENTADA. NULIDADE ABSOLUTA.
INEXISTNCIA. PRECEDENTES. RECURSO ORDINRIO DESPROVIDO.
1. A declarao de nulidade no direito penal no prescinde da demonstrao
do efetivo prejuzo para defesa, consoante dispe o artigo 563 do Cdigo
de Processo Penal, o que importa dizer que a desobedincia s formalidades
estabelecidas na legislao processual somente poder implicar o
reconhecimento da invalidade do ato quando a sua finalidade estiver
comprometida em virtude do vcio verificado. Precedentes: Habeas Corpus n
68.436, rel. Ministro Celso de Mello, DJ de 27.03.92; Habeas Corpus n
95.654, rel. Min. Gilmar Mendes, DJe de 15.10.2010; Habeas Corpus n
84.442, rel. Min. Carlos Britto, DJe de 25.02.2005; Habeas Corpus n 75.225,
rel. Min. Seplveda Pertence, DJ de 19.12.1997.
2. A ausncia do acusado na audincia de instruo no constitui vcio
insanvel apto a ensejar a nulidade absoluta do processo, posto tratar-se de
nulidade relativa, exigindo-se, para o seu reconhecimento, a demonstrao
de prejuzo defesa.
3. In casu, no ato do interrogatrio foram intimados o ru e seu defensor para
comparecerem audincia de instruo e esses, reiteradamente, deixaram
de comparecer s sesses sucessivamente designadas para a oitiva das
testemunhas de acusao, fazendo-se presente o defensor na derradeira
assentada, quando participou ativamente, inclusive fazendo reperguntas aos

188

inquiridos. Inexistncia de prejuzo para a defesa (pas de nullits sans grief).


Ademais, no dado parte arguir vcio a que haja dado causa, ou para que
tenha concorrido (CPP, artigo 565).
4. Recurso ordinrio a que se nega provimento.

7.3.4.21 EXCESSO DE PRAZO

Tambm constitui mxima em matria de processo que a sua concluso fora do


prazo corresponde a mera irregularidade, no o tornando nulo.
Ocorre que tal excesso de prazo deve ser justificado, pena de importar em
responsabilidade disciplinar para aquele que lhe deu causa (encarregado ou
autoridade), de acordo com o previsto no artigo 127 3 do RDME.
Vcio insanvel
Art. 127. [...].
[...]
Soluo fora do prazo
3. A soluo fora do prazo legal no implica em nulidade do processo, mas
importa em responsabilidade da autoridade, salvo motivo de fora maior,
plenamente justificado.

Jurisprudncia sobre o tema:


STJ MS 7962/DF Rel. Min. Vicente Leal 01/07/2002 3 Seo
EMENTA:
ADMINISTRATIVO.
SERVIDOR
PBLICO.
PROCESSODISCIPLINAR. DEMISSO. CONDENAO CONTRRIA
PROVA DOSAUTOS. DILAO PROBATRIA. IMPOSSIBILIDADE EM
SEDE DEMANDADO DE SEGURANA. ORDEM DENEGADA.
- Esta Colenda Corte j firmou entendimento no sentido de que a
extrapolao do prazo para a concluso do processo administrativodisciplinar no consubstancia nulidade susceptvel de invalidar o
procedimento.
- [...].
- Segurana denegada.
STJ MS 7069/DF Rel. Min. Felix Fischer 12/03/2001 3 Seo
EMENTA:ADMINISTRATIVO.
SERVIDOR
PBLICO.
PROCESSODISCIPLINAR. DEMISSO. NULIDADE. DENNCIA ANNIMA.
I - No h nulidade no processo disciplinar pela ausncia de instaurao
prvia de sindicncia, pois esta mera medida preparatria daquele, sendo
dispensvel se j h elementos suficientes para a deflagrao do processo.
Precedente do c. STF.
II - A portaria de instaurao do processo disciplinar que faz referncias
genricas aos fatos imputados ao servidor, deixando de exp-los
minuciosamente, no enseja a nulidade do processo, tendo em vista que tal
exigncia deve ser observada apenas na fase de indiciamento, aps a
instruo.

189

III- O excesso de prazo verificado na concluso do processo administrativo


no constitui irregularidade capaz de prejudicar a deciso. Precedentes.
IV - Ao se intimar as testemunhas para depor no processo disciplinar, no h
necessidade de inform-las acerca dos fatos atribudos aos servidores
processados.
V - Impossibilidade de se reconhecer a violao ao direito das impetrantes,
em face da ausncia de provas, por no terem demonstrado, de plano, a
violao ao direito, no que tange s questes referentes ao cerceamento de
defesa, vedao ao direito de nomear advogado, nulidade no processo por se
iniciar com base em denncia annima e nulidade ocorrida na citao.
Segurana denegada.
STF MS 23195-2/DF Rel. Min. Moreira Alves 11/10/2001 Tribunal
Pleno
EMENTA: MANDADO DE SEGURANA. DEMISSO DO CARGO DE
PROFESSOR ASSISTENTE.
- Improcedncia das alegaes de que, no processo administrativo, no
foram observados os princpios do contraditrio e da ampla defesa, com
ofensa, portanto, do princpio do devido processo legal.
- Tambm no so procedentes as alegaes de que houve ilegalidade no
exame das provas. E de que o processo administrativo em causa seria nulo
por exceder o prazo de 120 dias previsto no artigo 152 da Lei n 8.112/90.
- Finalmente, no h, no caso, reformatio in peius. Mandado de segurana
indeferido.
STF MS 21494-5/DF Rel. Min. Marco Aurlio 11/09/1992 Tribunal
Pleno
EMENTA: MANDADO DE SEGURANA. DEMISSAO. CMARA DOS
DEPUTADOS.
ALEGAO
DE
NULIDADE
DO
PROCESSO
ADMINISTRATIVO POR EXCESSO DE PRAZO. INDEFERIMENTO.
- Ato demissrio de responsabilidade da mesa da Cmara dos Deputados.
Pretenso anulatria do ato, a luz do excesso verificado no prazo para o
encerramento do inqurito. Inconsistncia da argumentao, visto que o
artigo 169- 1 da Lei 8.112/90 proclama no ser, semelhante demora, fator
nulificante do processo.
- Alegaes ancilares igualmente improcedentes. Mandado de segurana
indeferido.

7.3.4.22 DENNCIA ANNIMA

O Art. 80 do RDME estabelece que as denncias acerca de infraes disciplinares


devem conter os requisitos mnimos para seu processamento, quais sejam,
identificao, assinatura e endereo do denunciante, e sejam formuladas por escrito.
Por certo tal previso visa a dar concretude ao que preceitua o Art. 5, IV da
Constituio Federal de 1988, segundo o qual livre a manifestao do
pensamento, sendo vedado o anonimato. Assim, se de um lado o Texto
Constitucional garante a todos o direito de petio aos Poderes Pblicos em defesa

190

de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder (Art. 5, XXXIV, a), de outro o


prprio Estado Democrtico de Direito impe que o exerccio do direito de petio se
d de acordo com normas que visem a compatibiliz-lo com outras garantias
decorrentes da Constituio, tais como a honra, a privacidade, a indenizao pelo
dano material, moral ou imagem.
Dessa forma, a denncia annima no pode ser juntada em comunicao,
sindicncia ou processo administrativo disciplinar, conforme estabelece o Art. 80 3
do RDME. Em se tratando de sindicncia ou de processo, e caso isso tenha
ocorrido, o encarregado, ou a autoridade competente, dever providenciar sua
retirada do interior dos autos, mediante Termo de Desentranhamento.
Consoante o que prev o Art. 80 2 do RDME, a denncia annima ser objeto de
levantamento por parte dos setores competentes da PMES e o resultado dessa
investigao, quando apontar para indcios de transgresso, poder levar
instaurao de sindicncia ou de processo administrativo disciplinar.

7.3.4.23 AFASTAMENTO MDICO DO ACUSADO

circunstncia

de estar o

acusado afastado pelo

mdico

no

resulta

necessariamente na paralisao do processo. Em tais casos, recomenda-se


consultar o setor competente (JMS) a fim de que responda se em razo da molstia
apresentada o acusado est ou no apto a ser submetido a processo administrativo
disciplinar.
Dessa forma, e quando a dvida recair sobre a sanidade mental do acusado, devese proceder de acordo com o que determina o Art. 119 do RDME:
Exame de sanidade mental
Art. 119. Quando houver dvida sobre a sanidade mental do acusado, o
Encarregado do Processo propor autoridade competente que o acusado
seja submetido a exame por junta militar de sade, da qual participe pelo
menos um mdico psiquiatra, suspendendo-se os prazos processuais,
mediante registro nos autos.
Incidente de sanidade mental
Pargrafo nico. O laudo pericial expedido pela junta militar de sade que
atestar a insanidade mental do acusado ser juntado aos autos, acarretando
a suspenso do prazo para prescrio da ao disciplinar.

191

Caso haja o impedido de acusado acompanhar o processo, e assim providenciar sua


defesa, este dever ser sobrestado, suspendendo-se, assim, os prazos.
Citao
Art. 99. O Encarregado do Processo citar ou mandar citar o acusado, para
apresentar sua defesa prvia, e se ver processar at o julgamento final, bem
como para acompanhar todos os demais atos do processo.
[...]
Suspenso de prazos
6. Caso o acusado encontre-se em situao, atestada por Junta Militar de
Sade, impeditiva de responder ao processo, ou internado, mesmo que em
residncia, todos os prazos sero suspensos, mediante registro nos autos.

Aspecto relativo imputabilidade do militar na esfera disciplinar e que tem suscitado


dvidas diz com os casos em que sobrevm a interdio civil.
Nessa hiptese, importante esclarecer que tal interdio, conforme o prprio nome
indica, refere-se to somente incapacidade do indivduo de administrar seus bens,
de assumir obrigaes nessa esfera.
Desse modo, a interdio no resulta na impossibilidade de sua responsabilizao
nas esferas administrativa e criminal.
Interdio e incapacidade delitual Se algum foi interditado, entende-se que
a interdio concerne sua capacidade para atos jurdicos stricto sensu e
negcios jurdicos; no, para a sua capacidade de atos ilcitos absolutos. De
modo que, se o interdito comete crime, ou pratica ato ilcito absoluto, se tem
de alegar e provar que ele incapaz delitualmente, pois a carga de
constitutividade e de declaratividade, que tem a sentena de interdio,
somente concerne aos atos lcitos 'lato sensu'. (L. Enneccerus, Lehrbuch, I,
86, nota 2, 208). No h interdio que crie incapacidade; apenas declara
existir a incapacidade para atos jurdicos e constitui a situao para as
medidas pertinentes e o respectivo tratamento. (MIRANDA, 1983, p. 217)
O exame ser sempre especfico para os fatos relatados no inqurito ou no
processo, e no pode ser substitudo por interdio civil ou exame de
insanidade realizado em razo de outro fato. Isto porque, em virtude do
sistema biopsicolgico sobre a inimputabilidade acolhido pelo Cdigo Penal,
os peritos devem responder se poca do fato o acusado era, ou no, capaz
de entender o carter criminoso do fato ou de determinar-se segundo esse
entendimento. Logo, no pode haver aproveitamento de outro exame
referente a outro fato. Outro exame de insanidade ou a interdio civil sero
elementos circunstanciais que levam determinao da realizao do exame
especfico, mas no o substituem. (FILHO, s.d., pg. 192).

192

7.3.4.24 OCORRNCIA DE FATO NOVO

Considera-se fato novo aquele que surge durante do PAD e no est descrito na
portaria inaugural, imputvel igualmente ao acusado.
Para tais casos, conforme estabelece o artigo 87 do RDME, compete ao
Encarregado comunicar o caso Autoridade delegante, que poder:
a) aditar a portaria inicial, caso se trate de fato conexo, hiptese em que o
encarregado dever expedir novo libelo acusatrio (mutatio libelli); ou
b) editar nova portaria, de procedimento inquisitrio ou acusatrio, com a
designao de outro encarregado, quando se tratar de fato diverso e sem
relao com o contido no PAD.
A mutatio libelli tambm est prevista na legislao processual penal, aplicvel
subsidiariamente ao RDME por fora de seu Art. 147. Assim, embora o Cdigo de
Processo Penal Militar (CPPM) no preveja expressamente a hiptese, aplica-se a
ele, subsidiariamente, o Cdigo de Processo Penal (CPP), que em seu Art. 384 trata
de tais casos.

7.3.4.25 MOVIMENTAO DO ACUSADO

Quando durante o processo administrativo disciplinar ocorrer movimentao de


Unidade do acusado, o encarregado dever seguir normalmente suas diligncias at
a elaborao do Relatrio final. Aspectos relativos competncia ou no para
soluo do processo so medidas que sero apreciadas posteriormente pela
autoridade que determinou sua instaurao, e no pelo encarregado.
A Autoridade que instaurou o processo poder adotar uma das seguintes medidas:
a) 01 (um) militar acusado: se mudou de OME, soluciona o PAD, e caso o julgue
culpado encaminha tal deciso a fim de que o novo Comandante aplique a
sano (elabore a Nota de Punio e faa cumprir a pena); se passou

193

inatividade, encaminha o PAD para ser solucionado pelo Subcomandante


Geral, menor autoridade com ascendncia sobre os inativos;
b) 02 (dois) ou mais acusados: se qualquer um deles mudou de OME,
encaminha o PAD para ser solucionado pelo Corregedor, menor autoridade
com ascendncia sobre militares de unidades distintas; se qualquer um deles
passou inatividade, encaminha o PAD para ser solucionado pelo
Subcomandante Geral, menor autoridade com ascendncia sobre os inativos.

7.3.4.26 PRESCRIO

Diz o RDME, em seu artigo 145, que em se tratando de PAD-RS a ao disciplinar


prescreve em 02 (dois) anos, prazo que comea a correr da ocorrncia do fato ou da
prtica do ato. J os do mesmo artigo estabelecem que tanto a sindicncia como
o PAD tm o condo de interromper a prescrio.
Dessa regra temos o seguinte: i) da ocorrncia do fato, ou da prtica do ato, comea
a correr a prescrio, ou seja, a administrao tem dois anos para instaurar a
sindicncia ou o PAD-RS; ii) supondo que tenha sido instaurada sindicncia, tal
situao interrompe a prescrio (zera a contagem); iii) quando a sindicncia for
concluda (publicao), o prazo de dois anos volta a correr; iv) a partir da publicao
da soluo da sindicncia a administrao tem o prazo de dois anos para instaurar o
PAD-RS, que novamente interrompe a prescrio; v) com a publicao da soluo
do PAD-RS, o prazo de dois anos volta a correr novamente.
No se deve confundir, contudo, os prazos de prescrio previstos no RDME com o
dos Conselhos de Disciplina e de Justificao, que so de 06 (seis) anos, conforme
estabelecem as Leis n. 3.206/78 e n. 3.213/78, respectivamente.

194

7.3.4.27 INDEPENDNCIA DAS INSTNCIAS PENAL E ADMINISTRATIVA

assente tanto na Doutrina quanto na Jurisprudncia que as esferas civil, penal e


administrativa

so

independentes e podem

se

cumular-se entre

si. Por

independncia deve-se entender que a absolvio ou a condenao em uma delas


no implica, necessariamente, em igual deciso nas demais.
Assim a regra, prevista expressamente no RDME nos artigos 39 e 40, a de que se
pode ter decises diferentes sem que isso cause espcie. As nicas excees
admitidas a tal regra ocorrem quando o juzo criminal: i) nega cabalmente o fato ou a
autoria; ii) decida cabalmente sobre o fato e seu autor.
De outra banda, dizer que as trs instncias podem se cumular corresponde a
reconhecer que a punio em um desses mbitos de responsabilidade no impede a
condenao do autor nos demais.
Assim, no de se invocar, aqui, a regra do non bis in idem, segundo a qual
ningum pode ser punido duas vezes em razo de apenas um fato: no pode ser
duplamente sancionado na esfera penal; no pode ser duplamente sancionado na
esfera administrativa.
Tambm assente na Doutrina e na Jurisprudncia que o eventual arquivamento do
inqurito policial pelo Juiz, trate-se de IP ou de IPM, em nada aproveita ao acusado
em sede de processo administrativo, e mais uma vez isso ocorre devido
independncia das instncias.
Jurisprudncia sobre o tema:
STF RE 120570/BA Rel. Min. Seplveda Pertence 08/11/1991 1
Turma
EMENTA: FUNCIONRIO PBLICO. PUNIO. NE BIS IN IDEM
(SMULA 19), INAPLICABILIDADE. DIVERSIDADE DOS PRESSUPOSTOS
DAS PUNIES SUCESSIVAS, DE RESTO, NO IMPOSTAS NO MESMO
PROCESSO DISCIPLINAR.
I Em tese a priso disciplinar imposta ao recorrente por um fato
determinado no impede que o mesmo fato se some a faltas antecedentes
para lastrear a afirmao de sua incapacidade para a funo militar e
determinar a sano final de excluso.
II Para a incidncia da orientao assentada na Smula 19 necessrio
como resulta do precedente que a lastreia (RMS 8.084, 31.1.62, Victor
Nunes) que as duas punies sucessivas sejam impostas no mesmo
processo administrativo. [...]

195

STF MS 20396/DF Rel. Min. Soares Munhoz 19/08/1983 Tribunal


Pleno
EMENTA: FUNCIONRIO PBLICO. DEMISSO.
- O despacho que determina, a requerimento do Ministrio Pblico, o
arquivamento de Inqurito Policial no impede que o funcionrio pblico,
pelos mesmos fatos, possa ser demitido a bem do servio a vista das faltas
disciplinares apuradas em processo administrativo. Mandado de segurana
preventivo indeferido.
STF MS 21332/DF Rel. Min. Nri da Silveira 27/11/1992 1 Turma
EMENTA: MANDADO DE SEGURANA. SERVIDOR POLICIAL. DEMISSO
POR TER SE PREVALECIDO DA CONDIO DE POLICIAL.
I O ato de demisso, aps processo administrativo, no est na
dependncia de processo criminal a que submetido o servidor, por crime
contra a administrao pblica. Independncia das instncias. Constituio,
art. 41, par. 1. Transgresses disciplinares de natureza grave. Mandado de
segurana indeferido.
STJ MS 7834/DF Rel. Min. Felix Fisher 08/04/2002 3 Seo
EMENTA: ADMINISTRATIVO. SERVIDOR
PBLICO.
PROCESSO
DISCIPLINAR. DEMISSO. INDEPENDNCIA ENTRE AS INSTNCIAS
PENAL, CIVIL E ADMINISTRATIVA. MATERIALIDADE. COMPROVAO.
CERCEAMENTO DE DEFESA.
1. A independncia entre as instncias penal, civil e administrativa,
consagrada na doutrina e na jurisprudncia, permite Administrao impor
punio disciplinar ao servidor faltoso revelia de anterior julgamento no
mbito criminal, ou em sede de ao civil por improbidade, mesmo que a
conduta imputada configure crime em tese. Precedentes do STJ e do STF.
[...]
Segurana denegada.
STJ MS 7042/DF Rel. Min. Jos Arnaldo da Fonseca 05/03/2001 3
Seo EMENTA: ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PBLICO. PROCESSO
DISCIPLINAR. DEMISSO. INDEPENDNCIA ENTRE AS INSTNCIAS
CRIMINAL E ADMINISTRATIVA.
1. A independncia entre as instncias criminal e administrativa questo
pacificada tanto na doutrina, quanto na jurisprudncia deste C. STJ.
2. Aplicada a pena de demisso de servidor pblico com base em processo
administrativo no qual no se vislumbra qualquer irregularidade, no h
porque determinar a suspenso do ato demissionrio at que a justia
criminal se pronuncie, de forma irrecorrvel, sobre as faltas imputadas ao
servidor. Precedentes.
Segurana denegada.
STJ ROMS 9023/DF Rel. Min. Felix Fisher 25/10/1999 5 Turma
EMENTA: ADMINISTRATIVO. PROCESSO ADMINISTRATIVO. PRINCPIO
DA AMPLA DEFESA. ART. 517, CPC.
1. Procedimento administrativo instaurado pela autoridade competente, com
observncia dos princpios do contraditrio e da ampla defesa.
2. No h cerceamento de defesa no indeferimento de produo de prova
manifestamente desnecessria.
3. [...]
4. O arquivamento do inqurito em nada favorece o recorrente tendo em
conta a independncia das instncias administrativa e judiciria.
5. Recurso desprovido.

196

7.3.4.28 ASSENTAMENTOS FUNCIONAIS

Caso tal providncia no tenha sido ainda adotada, recomenda-se ao encarregado


anexar ao PAD cpia da Ficha Individual ou dos Assentamentos Funcionais do
Acusado, pois assim permite-se autoridade delegante avaliar o histrico do militar
acusado. Contudo, a regra do Art. 97 do RDME, que determina a obrigatoriedade de
tal documento prpria do PAD-RO, no sendo, portanto, obrigatria nos casos de
PAD-RS, porquanto ser indispensvel naquele processo, pois ali se avalia a prpria
permanncia do militar na Corporao.

7.3.4.29 ALEGAES FINAIS

Caso o encarregado tenha realizado qualquer diligncia, ainda que se trate da


juntada de um simples documento, ainda que do PAD conste como diligncia
apenas o interrogatrio do acusado, dever ser dado ao acusado, ad cautelam, o
direito de manifestao em alegaes finais, evitando-se, assim, a possibilidade de
qualquer alegao de cerceamento do direito ampla defesa e contraditrio.
Como a recomendao estabelecida a de que se realize o interrogatrio do
acusado, a fim de evitar alegao de cerceamento do direito de ampla defesa e
contraditrio, o encarregado do PAD dever, sempre, dar-lhe a possibilidade de
manifestao em alegaes finais.

7.3.4.30 RELATRIO

7.3.4.30.1 Noo

197

O Relatrio o documento no qual o encarregado, depois de concluir todas as


diligncias realizadas, relata Autoridade quais foram as providncias adotadas no
curso de sua misso e, ainda, a qual concluso foi possvel chegar ao final dos
trabalhos. tambm no Relatrio que o encarregado emite seu parecer,
devidamente justificado, sobre se h ou no transgresso da disciplina militar e
quais so os responsveis.
Ressalte-se que no h frmula nica para a elaborao de um relatrio, podendo o
encarregado usar de sua criatividade para expor as ideias.

7.3.4.30.2 Estrutura

Recomenda-se dividir o Relatrio em cinco partes, cada qual reservada para


determinados assuntos:
1) Introduo: a primeira parte do Relatrio ocupa geralmente um ou no mximo dois
pargrafos. Faz-se uma breve sntese sobre o trabalho do PAD, apontando os
elementos de identificao, tais como o nmero da portaria, a Autoridade que
determinou a instaurao, os fatos a averiguar, o nome dos envolvidos, e ainda a
data e o local do ocorrido. Assim, diante de uma rpida leitura da Introduo, ser
possvel a qualquer pessoa ter acesso s informaes gerais sobre o processo.
2) Diligncias: a segunda parte do Relatrio enumera as diligncias realizadas pelo
encarregado no curso do processo, todas voltadas ao esclarecimento do evento.
Nessa parte, o Encarregado deve fazer referncia ao nmero da folha em que cada
documento representativo da diligncia pode ser encontrado. Vale mencionar
tambm que os ofcios e solicitaes diversas, bem como as intimaes expedidas
no curso da investigao, no necessitam ser registrados no Relatrio como se
fossem diligncias, exceto nos casos em que essas providncias representem as
nicas demonstraes das iniciativas do Encarregado em levar adiante alguma
diligncia importante que no foi concluda. O registro das diligncias tem
importncia fundamental para a Autoridade, uma vez que assim poder verificar se o
Encarregado esgotou todos os meios de prova possveis.

198

3) Resumo dos Fatos: na terceira parte do Relatrio, o encarregado deve fazer uma
narrativa sobre o evento, mas limitando-se apenas quilo que possa ser considerado
fato ou acontecimento, ou seja, aquilo que consta nos autos desde o momento da
instaurao do PAD. So os chamados pontos incontroversos, sobre os quais no
paira dvida. Assim, tudo aquilo que configurar opinio (mera verso ou
controvrsia), dever ser apreciado no tpico seguinte (item 4 do Relatrio
Anlise das Provas). Para facilitar a leitura, o encarregado pode subdividir o item
3 em tantos quantos pargrafos forem necessrios.
4) Anlise das Provas: na quarta parte do Relatrio, sem dvida a mais difcil e
relevante, o encarregado faz a apreciao dos elementos de prova existentes.
Verifica se os elementos de convico existentes ao tempo da instaurao do
processo foram ou no confirmados na instruo. A fim de demonstrar as razes de
seu convencimento, o encarregado necessita motivar seu parecer. Nesse sentido,
no lhe basta afirmar que o acusado culpado ou inocente, mas necessita apontar o
meio, a forma, pelo que chegou a tal convencimento. A motivao do ato
administrativo um importante elemento na aferio de sua legalidade, da porque o
encarregado deve explicitar de modo claro as razes de seu convencimento, isto ,
as provas que lastreiam seu parecer.
5) Concluso: ltima parte do Relatrio, na qual o encarregado, com base nos
elementos de convico apontados no item anterior, emite parecer segundo o qual o
acusado culpado ou inocente em relao aos fatos que lhe so atribudos no
processo. Pode, ainda, evidenciar situaes verificadas ao longo do PAD, tais como
outras transgresses, atribuveis ao prprio acusado ou a outrem, bem como a
ocorrncia de qualquer fato que julgue relevante para o conhecimento da autoridade
competente.

7.3.4.30.3 Fato que constitua outra transgresso

O encarregado do PAD poder em seu Relatrio sugerir o enquadramento do militar


em outra transgresso (tipificao), ds que, evidentemente, no se trate de

199

inovao em matria de fato, pois a, ao se mudar o fato, se estaria diante de outra


acusao.
pacfico que em matria de processo acusatrio, seja ele penal ou administrativo,
o acusado se defende dos fatos a ele atribudos e no de sua capitulao legal
(artigos infringidos). De qualquer sorte, recomenda-se extrema cautela na aplicao
do dispositivo, conhecido como emendatio libelli (Art. 437 a do CPPM e Art. 383 do
CPP), pois na dvida se recomenda proceder de acordo com o item acima.
Igualmente, recomendvel que os casos de emendatio libelli no representem para
o acusado um maior gravame, a exemplo do que ocorreria se ao final lhe fosse
imputada a prtica de uma transgresso de maior gravidade que a descrita
inicialmente (embora na esfera criminal o Juiz possa faz-lo).
Jurisprudncia sobre o tema:
STJ MS 8106/DF Rel. Min. Vicente Leal 28/10/2002 3 Seo
EMENTA:
ADMINISTRATIVO.
SERVIDOR
PBLICO.
PROCESSOADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. EXERCCIO DO DIREITO
DEDEFESA. EMISSO IRREGULAR DE PORTE DE ARMA. PENA.
SUGESTO
DA
COMISSO
DE
INQURITO.
AGRAVAMENTODESFUNDAMENTADO.
PRINCPIO
DA
PROPORCIONALIDADE.
- Constando do ato de indiciamento a precisa descrio dos fatos imputados
ao servidor, no tem procedncia a alegao de nulidade do processo porque
punido por falta diversa, pois a defesa exercitada contra os fatos imputados
e no contra a eventual definio jurdica. [...].

7.3.4.30.4 Parecer do encarregado

O parecer do encarregado, como inclusive si ocorrer nos demais pareceres


administrativos, no vincula a deciso da autoridade competente, que pode dele
discordar de modo fundamentado, conforme preceitua o artigo 126 do RDME, verbis:
Soluo diferente da apresentada na concluso
Art. 126. A autoridade competente poder dar ao processo soluo diferente
da apresentada na concluso do Encarregado do Processo, desde que
motivada e fundamentada nas provas dos autos.
Relatrio contrrio s provas dos autos
1. Quando o relatrio do Encarregado do Processo contrariar as provas
dos autos, a autoridade competente poder responsabilizar ou isentar o
militar da responsabilidade.

200

Motivao da deciso
2. Em qualquer hiptese, concordando ou discordando da concluso do
Encarregado do Processo, as decises da autoridade competente sero
motivadas e fundamentadas, sob pena de nulidade.

Jurisprudncia sobre o tema:


STJ MS 8106/DF Rel. Min. Vicente Leal 28/10/2002 3 Seo
EMENTA:
ADMINISTRATIVO.
SERVIDOR
PBLICO.
PROCESSOADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. EXERCCIO DO DIREITO
DEDEFESA.
EMISSO
IRREGULAR
DE
PORTE
DE
ARMA.
PENA.SUGESTO
DA
COMISSO
DE
INQURITO.
AGRAVAMENTODESFUNDAMENTADO.
PRINCPIO
DA
PROPORCIONALIDADE.

[...]
- A autoridade administrativa competente, ao efetuar o julgamento dos fatos
apurados em processo administrativo disciplinar, no est vinculada s
concluses do parecer da Comisso de Inqurito, podendo aplicar sano
diversa da sugerida, mesmo mais severa, desde que adequadamente
fundamentada. E ao afastar-se do sugerido no parecer, deve especificar os
pontos em que o mesmo se dissocia das provas colhidas no procedimento,
de modo a demonstrar a necessidade de agravamento da sano disciplinar,
na linha do comando expresso no art. 168, da Lei n 8.112, de 1990.
STJ RMS 6570/RO Rel. Min. Fernando Gonalves 03/03/1997 6
Turma
EMENTA: RMS. FUNCIONRIO PBLICO. PROCESSO ADMINISTRATIVO
DISCIPLINAR. DEMISSO. APLICAO DE PENA DIVERSA DAQUELA
SUGERIDA PELA COMISSO.
1. No a autoridade administrativa obrigada a acatar o parecer da
Comisso no tocante a pena a ser aplicada. Pode adotar soluo diversa,
porquanto o funcionrio se defende dos fatos que lhe so imputados,
devendo a agravao ou atenuao ser fundamentada.
2. Recurso improvido.

201

8 CONCLUSO

A misso de criar um manual de processo administrativo disciplinar se afigura como


um desafio para aqueles que pretendem enveredar por essa seara.
O tema tortuoso e muitas vezes de difcil assimilao na medida em que ainda h
aqueles que imaginam ser possvel pura e simplesmente transportar para o PAD
noes advindas do processo penal sem, contudo, fazer as devidas adaptaes.
Esquecem-se esses que ao Administrador no so dados os mesmos poderes
instrutrios do Juiz e que tal aspecto pode criar muitas vezes obstculos
intransponveis para a concluso de um processo administrativo disciplinar.
De outra banda, h outros a invocar os poderes que detm a administrao para a
soluo de situaes-limite de um processo esquecendo-se, no entanto, do fato de
que o PAD, por envolver a figura de um acusado, deve ser realizado luz dos
direitos e garantias estabelecidos no Texto Constitucional.
Some-se a isso o fato de as Pessoas Jurdicas de Direito Pblico terem competncia
para legislar sobre a matria quando versar sobre seus servidores o que contribui
para a profuso de normas e se ter o quadro atual, no qual obras escritas sobre
determinada categoria tm pouco ou nenhum valor para compreender outra.
Dentro dessa perspectiva, a elaborao do manual buscou a todo o momento
investigar acerca das pedras de toque capazes de informar o assunto,
notadamente aquelas contidas na Carta de 1988, sendo assim aplicvel s diversas
normas disciplinares que integram o regime disciplinar da PMES.
No se trata de obra pronta, acabada, e que no venha a ser objeto de crtica, mas
corresponde a uma iniciativa para espargir luz sobre a matria e abordar temas que
se mostram relevantes, fornecendo a um s tempo suporte terico e prtico para os
que atuam em tal rea.

202

9 REFERNCIAS

ALVES, Lo da Silva. Questes Relevantes da Sindicncia e do Processo


Disciplinar. Braslia: Braslia Jurdica, 1999.
ALVIM, Jos Eduardo Carreira. Elementos de Teoria Geral do Processo. 7. ed.
Rio de Janeiro: Forense, 2000.
ASSIS, Jorge Csar de. Curso de Direito Disciplinar Militar: Da Simples
Transgresso ao Processo Administrativo. 2. ed. Curitiba: Juru, 2009.

BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 8. ed. So Paulo: Malheiros,


1999.
BRASIL. Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988. Disponvel em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 28 out.
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______. Decreto Lei n. 2.848 de 07 dez. 1940. Cdigo Penal. Disponvel em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm>. Acesso em: 10 out. 2011.

______. Decreto Lei n. 3.689 de 03 out. 1941. Cdigo de Processo Penal. Disponvel em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del3689.htm>. Acesso em: 15 out. 2011.

______. Decreto Lei n. 1.002 de 21 out. 1969. Cdigo de Processo Penal Militar.
Disponvel em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del1002.htm>. Acesso em:
12 out. 2011.

______. Lei n. 8.112 de 11 dez. 1990. Estatuto dos Servidores Pblicos Civis da Unio.
Disponvel em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8112cons.htm>.
Acesso em: 14 out. 2011.

______. Lei n. 8.429 de 02 jun. 1992. Dispe sobre os Casos de Enriquecimento Ilcito por
parte
dos
Agentes
Pblicos.
Disponvel
em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8429.htm>. Acesso em: 12 out. 2011.

______. Lei n. 9.784 de 29 jan. 1999. Regula o Processo Administrativo na


Administrao
Pblica
Federal.
Disponvel
em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9784.htm>. Acesso em: 14 out. 2011.

203

CARRAZZA, Roque Antnio. Curso de Direito Constitucional Tributrio. 11. ed.


So Paulo: Malheiros, 2002.
COSTA, Jos Armando da. Teoria e Prtica do Processo Administrativo
Disciplinar. 4. ed. Braslia: Braslia Jurdica, 2002.
CRETELLA JNIOR, Jos. Prtica do Processo Administrativo. 3. ed. So Paulo:
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DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 14. ed. So Paulo: Atlas,
2002.
ESPNDOLA, Ruy Samuel. Conceito de Princpios Constitucionais. So Paulo:
Revista dos Tribunais, 1999.
ESPRITO SANTO (Estado). Tribunal de Justia. Regimento Interno. Disponvel
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______. Polcia Militar. Coletnea de Leis. Vitria, [s.n.]: 1999.

______. Polcia Militar. Coletnea de Decretos. Vitria, [s.n.]: 2000.

FILHO, Fernando da Costa Tourinho. Cdigo de Processo Penal Comentado. 4.


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FILHO, Romeu Felipe Bacellar. Processo Administrativo Disciplinar. 2. ed. So
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FRANCO, Ferno Borba. Processo Administrativo. So Paulo: Atlas, 2008.
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Rangel. Teoria Geral do Processo. 23. ed. So Paulo: Melhoramentos, 2007.
JARDIM, Afrnio Silva. Direito Processual Penal. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense,
1991.
LUZ, Egberto Maia. Sindicncia e Processo Administrativo: Teoria e Prtica. So
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MARINELA, Fernanda. Servidores Pblicos. Rio de Janeiro: Impetus, 2010.
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 19. ed. So Paulo:
Malheiros, 1994.

204

MELLO. Celso Antnio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 14. ed. So
Paulo: Malheiros, 2002.
MEDAUAR, Odete. A Processualidade no Direito Administrativo. 2. ed. So
Paulo: Revista dos Tribunais, 2008.
MIKALOVSKI, Algacir. Prtica em Processos e Procedimentos Administrativos.
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OSRIO, Fbio Medina. Direito Administrativo Sancionador. 3. ed. So Paulo:
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SILVA, Edson Jacinto da. Sindicncia e Processo Administrativo Disciplinar. So
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REIS, Antnio Carlos Palhares Moreira. Processo Disciplinar. 2. ed. Braslia:
Consulex, 1999.

A AUTUAO DISCIPLINAR
1. NOO

A Autuao Disciplinar tambm conhecida como


Flagrante Disciplinar. O procedimento o Termo lavrado
pela Administrao Militar na forma de Auto, com a
finalidade de formalizar as circunstncias em torno de atos
de indisciplina, e que legitimaram a adoo de medidas
enrgicas e imediatas contra o transgressor. Alm da
lavratura do Auto sobre o fato e suas circunstncias, o
transgressor ser tambm recolhido, se assim o exigir o
interesse da disciplina, da ordem pblica e do decoro da
instituio. medida excepcional, devendo o Militar ser
posto em liberdade to logo cessem as causas de seu
recolhimento.

2. FINALIDADE

FORMALIZAR, por meio de autuao, os fatos que


configuraram a transgresso (o flagrante), atestando assim,
a legitimidade do recolhimento do transgressor e de outras
medidas de interveno, alm de possibilitar, muitas vezes,
a dispensa de investigao sobre o fato.

3. NATUREZA
JURDICA
4. COMPOSIO

5. COMPETNCIA

NATUREZA INVESTIGATIVA. No obedece aos


princpios da ampla defesa e do contraditrio, pois no h
acusao.
O Regulamento Disciplinar no menciona o Posto ou a
Graduao do Presidente do Flagrante Disciplinar. O tema
foi regulamentado pela Portaria n 388-R, de 02.09.2004,
que se refere somente a Oficiais como responsveis pelas
autuaes, sendo esse o melhor entendimento.
Qualquer militar com ascendncia hierrquica, ainda que
no tenha ascendncia funcional sobre o envolvido, poder
ser o condutor do flagrante disciplinar. Adotado o
procedimento, os autos devero ser encaminhados ao
Comandante do transgressor, que decidir sobre a
autuao, obedecendo s regras de competncia previstas
no Art. 10 do RDME.

6. SUJEIO

Todos os Militares Estaduais, sem distino

7. FONTE
NORMATIVA

Artigo 11, 2 e 3 do RDME.

8. PRAZOS

Dever permanecer recolhido, at cessar as causas da


medida, pelo perodo mximo de 24 horas.

9. OBSERVAES
IMPORTANTES

No impede a instaurao
administrativo disciplinar.

de

posterior

processo

A SINDICNCIA
1. NOO

A Sindicncia procedimento destinado a apurar


irregularidades com repercusso na administrao militar,
em especial os fatos envolvendo Militares Estaduais, e que
no constituam crime. O atual regime disciplinar,
inaugurado no ano de 2000 com a introduo do RDME,
manteve a Sindicncia, mas apenas como instrumento de
investigao, pois a aplicao de sano depender da
instaurao de processo administrativo disciplinar.

2. FINALIDADE

AVERIGUAR, INVESTIGAR e ESCLARECER os fatos


e as circunstncias em torno de atos de indisciplina ou
desvio de conduta, cuja responsabilidade seja atribuda a
Militar Estadual, ou ainda, irregularidades envolvendo a
Administrao Militar. Seguindo a mesma idia do
Inqurito Policial, a investigao realizada por meio da
Sindicncia visa a esclarecer o fato (MATERIALIDADE)
e a apontar indcios de autoria (AUTORIA).

3. NATUREZA
JURDICA

4. COMPOSIO

NATUREZA INVESTIGATIVA. No obedece aos


princpios da ampla defesa e do contraditrio, pois no h
acusao.
A Sindicncia presidida por apenas 01 Militar Estadual,
com Posto de Oficial ou com Graduao de Subtenente ou
de Sargento. O Presidente (Encarregado) da Sindicncia
no conta com ajuda de Auxiliar (Escrevente, Escrivo ou
Secretrio).

5. COMPETNCIA

Comandantes de Batalho, de Cia Independente e demais


Autoridades previstas no artigo 10 do RDME.

6. SUJEIO

Todos os Militares Estaduais, sem distino.

7. FONTE
NORMATIVA

Praxe Administrativa e artigos 81 e 82 do RDME.

8. PRAZOS
9. OBSERVAES
IMPORTANTES

15 (quinze) dias, prorrogveis por mais 15 (quinze).


S deve ser instaurada se os fatos a serem investigados se
caracterizarem, desde o incio, como possvel ato de
indisciplina.

O PAD-RS
1. NOO

O Processo Administrativo Disciplinar de Rito Sumrio


(PAD-RS) representa uma das novidades introduzidas pelo
RDME no atual regime disciplinar da PMES. Antes do
ano de 1988, quando no existia a figura do PAD-RS, o
Militar Estadual acusado de cometer transgresso da
disciplina recebia a respectiva sano disciplinar com base
na verdade sabida ou de acordo com resultado de
Sindicncia ou de IPM, ou de aprovao de punio.

2. FINALIDADE

JULGAR o Militar Estadual contra quem recaia acusao


de ter praticado transgresso da disciplina. A Acusao
pode resultar de Procedimento Investigatrio (Sindicncia,
IPM, IP, APFD, IT, Autuao Disciplinar) ou ainda, pode
estar noticiada em expedientes diversos, cujo contedo
aponte o fato irregular devidamente esclarecido (JUSTA
CAUSA).

3. NATUREZA
JURDICA

4. COMPOSIO

NATUREZA PUNITIVA. Obedece ao princpio do


devido processo legal e outros princpios ligados a este,
em especial a ampla defesa e o contraditrio.
Presidido por apenas 01 Militar Estadual com Posto de
Oficial, ou com Graduao de Subtenente ou de Sargento.
O Presidente do PAD-RS no conta com ajuda de Auxiliar
(Escrevente, Escrivo ou Secretrio). Se o acusado da
Graduao de Sargento ou Subtenente, o Encarregado
deve ser Oficial.

5. COMPETNCIA

Comandantes de Batalho, de Cia Independente e demais


Autoridades previstas no art. 10 do RDME.

6. SUJEIO

Todos os Militares Estaduais, sem distino.

7. FONTE
NORMATIVA

Artigos 74, 75 e 128 a 130 do RDME.

8. PRAZOS

08 (oito) dias, prorrogveis por mais 05 (cinco).

9. OBSERVAES
IMPORTANTES

O PAD-RS viabiliza apenas a aplicao de sano


corretiva
(ADVERTNCIA,
REPREENSO
ou
DETENO). Naquilo que couber, as normas do PADRO aplicam-se de maneira suplementar.

O PAD-RO
1. NOO

O Processo Administrativo Disciplinar de Rito Ordinrio,


mais conhecido pela sigla PAD-RO, ao lado do PAD-RS,
tambm representa mais uma das novidades introduzidas
pelo RDME, e surgiu em substituio ao antigo PA.
Tambm com a finalidade punitiva (julgar o ME e
possibilitar a aplicao de sano disciplinar), o PAD-RO
se destina a apurao de casos mais complexos, os quais
necessitam de um procedimento com rito mais solene,
alm de um prazo maior para sua concluso.

2. FINALIDADE

JULGAR o Militar Estadual nos casos de aplicao de


sano de LICENCIAMENTO A BEM DA DISCIPLINA
(artigos 30 e 75 1 do RDME) podendo
excepcionalmente ser instaurado em outros casos, nos
quais os fatos envolvidos se revelam complexos.

3. NATUREZA
JURDICA

NATUREZA PUNITIVA. Obedece ao princpio do


devido processo legal e outros princpios ligados a este,
em especial a ampla defesa e o contraditrio.

4. COMPOSIO

Os trabalhos do PAD-RO so realizados pelo Encarregado


com auxlio de um Secretrio, da seguinte forma:
Encarregado: 01 Oficial;
Secretrio:
01 Sargento ou Subtenente.

5. COMPETNCIA

Comandante Geral da PMES.

6. SUJEIO

Praas sem estabilidade (menos de 10 anos de servio),


para os casos de aplicao da sano de
LICENCIAMENTO A BEM DA DISCIPLINA.
Demais Militares Estaduais, nos casos que sejam
complexos.

7. FONTE
NORMATIVA

Artigos 74, 75 e 83 a 127 do RDME.

8. PRAZOS

30 (trinta) dias, prorrogveis por mais 20 (vinte) dias.

9. OBSERVAES
IMPORTANTES

Caso no se confirme situao do artigo 30 do RDME,


mas subsista transgresso disciplinar, o PAD-RO pode
resultar em sano corretiva, ou seja, ADVERTNCIA,
REPREENSO ou DETENO. No cabe REFORMA
DISCIPLINAR em PAD-RO.

O CD
1. NOO

O Conselho de Disciplina, conhecido tambm como CD,


Processo Administrativo previsto no regime disciplinar da
PMES para o julgamento sobre a permanncia ou excluso
dos quadros da Polcia Militar das Praas com estabilidade
assegurada e tambm dos Aspirantes a Oficial.

2. FINALIDADE

JULGAR, na esfera administrativa, a conduta irregular ou


o grave desvio de conduta (violao do sentimento do
dever, do decoro da classe e da honra pessoal), podendo
resultar em EXCLUSO A BEM DA DISCIPLINA.

3. NATUREZA
JURDICA

NATUREZA PUNITIVA. Obedece ao princpio do


devido processo legal e outros princpios ligados a este,
em especial a ampla defesa e o contraditrio.

4. COMPOSIO

O Conselho de Disciplina possui a seguinte composio


mnima:
Presidente:
01 Oficial Intermedirio (Capito);
Interrogante e
Relator:
01 Oficial Subalterno (Tenente);
Escrivo:
01 Oficial Subalterno (Tenente).

5. COMPETNCIA

Comandante Geral da Polcia Militar.

6. SUJEIO

Praas estveis e Aspirantes a Oficial.

7. FONTE
NORMATIVA

Lei Estadual n. 3.206/78.

8. PRAZOS

30 (trinta) dias, prorrogveis por mais 20 (vinte).

9. OBSERVAES
IMPORTANTES

Ao militar considerado culpado poder ser aplicada


alternativamente a sano de REFORMA DISCIPLINAR.
Caso no se confirme situao do artigo 2 da Lei n.
3.206/78, mas subsista transgresso disciplinar, o CD pode
resultar em sano corretiva, ou seja, ADVERTNCIA,
REPREENSO ou DETENO.

O CJ
1. NOO

O Conselho de Justificao, conhecido tambm como CJ,


Processo Administrativo previsto no regime disciplinar
da PMES para o julgamento sobre a permanncia ou
demisso dos Oficiais dos quadros da Polcia Militar.

2. FINALIDADE

JULGAR, na esfera administrativa, a conduta irregular ou


o grave desvio de conduta (violao do sentimento do
dever, do decoro da classe e da honra pessoal), podendo
resultar em DEMISSO.

3. NATUREZA
JURDICA

NATUREZA PUNITIVA. Obedece ao princpio do


devido processo legal e outros princpios ligados a este,
em especial a ampla defesa e o contraditrio.

4. COMPOSIO

O Conselho de Justificao possui a seguinte composio


mnima:
Presidente:
01 Oficial Superior;
Interrogante e Relator:
01 Oficial Intermedirio;
Escrivo:
01 Oficial Intermedirio.
Todos os membros, necessariamente, sero Oficiais mais
antigos que o acusado.

5. COMPETNCIA

Governador do Estado.

6. SUJEIO

Apenas os Oficiais.

7. FONTE
NORMATIVA

Lei Estadual n. 3.213 de 1978.

8. PRAZOS

30 (trinta) dias, prorrogveis por mais 20 (vinte).

9. OBSERVAES
IMPORTANTES

Aps concluso do processo por seus membros, o


Governador do Estado pode decidir pela inocncia e
determinar seu arquivamento.
Caso no se confirme situao do artigo 2 da Lei n.
3.213/78, mas subsista transgresso disciplinar, o
Governador pode aplicar sano corretiva, ou seja,
ADVERTNCIA, REPREENSO ou DETENO. Caso
entenda ser cabvel a DEMISSO ou a REFORMA
DISCIPLINAR, dever encaminhar os autos ao Tribunal
de Justia do Estado, a quem compete decidir sobre tais
sanes.

GOVERNO DO ESTADO DO ESPRITO SANTO

POLCIA MILITAR
OME

PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR


RITO SUMRIO
PORTARIA N ____/____ SPAJ ____BPM
ENCARREGADO: _________________, RG ___________
ACUSADO: _________________, RG ___________
FATO: ____________________________________

AUTUAO

Aos _____ dias do ms de _________do ano de ________, nesta Cidade de


_________, Estado do Esprito Santo, autuo os documentos de fls. _________, que
adiante se vem, do que, para constar, lavrei o presente termo.
Eu ____________________, Encarregado do PAD-RS, o confeccionei.

_________________________
ENCARREGADO DO PAD-RS

GOVERNO DO ESTADO DO ESPRITO SANTO

POLCIA MILITAR
OME
SEO DE POLCIA ADMINISTRATIVA E JUDICIRIA SPAJ

Portaria N ___/____ SPAJ OME

Quartel em __________________, ___/___/___.

Assunto: Instaurao de PAD-RS (Determina)

O Ten Cel QOC, Comandante do ________________ da Polcia Militar do Estado do


Esprito Santo, usando da atribuio legal que lhe confere o Art. 10, inciso VI e art.
77, 1 do Regulamento Disciplinar dos Militares Estaduais (RDME),
RESOLVE:
Determinar a instaurao de PAD-RS, designando o _____________, RG_______,
para atuar como Encarregado, a fim de, no prazo de 08 (oito) dias, contados a partir
da entrega da presente, julgar a conduta do ____________________, RG________,
de acordo com as regras estabelecidas no RDME para o Rito Sumrio, visto pesar
em

desfavor

do

acusado

seguinte:

__________________________________________, conduta que corresponde


prtica de transgresso disciplinar capitulada no Art. _______ (transgresso
classificada como __________).

________________________________________
COMANDANTE DO _____ BPM

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RITO SUMRIO

TERMO DE ABERTURA

Aos ______ dias do ms de ______ do ano de ______, nesta Cidade de _________,


Estado do Esprito Santo, na sala do __________, Quartel do ______ (OME), dei por
iniciados os trabalhos do PAD-RS, instaurado por meio da Portaria N ___/____
SPAJ/OME, com a Citao do ___________________, RG_________, militar
acusado, e a respectiva entrega do Libelo Acusatrio, conforme adiante se v.
E, para constar, lavrei o presente Termo, que Eu _____________________,
RG________, Encarregado do PAD-RS, o assino.

________________________________________
ENCARREGADO DE PAD-RS

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OME
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RITO SUMRIO

CITAO
O

_____________________,

RG________,

Encarregado do PAD-RS, instaurado por meio da


Portaria N ___/____ SPAJ/OME, no uso de suas
atribuies legais e com o fulcro nos Art. 77, 1,
90, 99 e 130 do Regulamento Disciplinar dos
Militares Estaduais (RDME),

Promove a CITAO do ___________________, RG_________, cientificando-o de


que, por meio de ato ordinatrio baixado pelo Comandante do ______BPM, foi
instaurado Processo Administrativo Disciplinar de Rito Sumrio, em cujos termos do
Libelo Acusatrio, que segue em anexo, o Militar Estadual citado acusado
formalmente de prtica de transgresso da disciplina.
Assim, de acordo com as regras do Art. 129, 3 do RDME, o acusado dever
apresentar, pessoalmente, ou por meio de Defensor, e no prazo de 02 (dois) dias, as
Razes Escritas em Defesa Prvia, sendo facultado, desde j, vista dos autos,
inclusive cpias, e acompanhamento de todos os atos processuais, alm do
requerimento de diligncias.
Quartel em __________________, ___/___/___.

________________________________________
ENCARREGADO DE PAD-RS

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RITO SUMRIO

MANDADO DE CITAO
O

_____________________,

RG________,

Encarregado do PAD-RS, instaurado por meio da


Portaria N ___/____ SPAJ/OME, no uso de suas
atribuies legais e com o fulcro no Art. 77, 1,
90, 99 e 130 do Regulamento Disciplinar dos
Militares Estaduais (RDME),

MANDA,
Ao policial militar que este receber, que se dirija at a sede do _____ BPM, ou local
onde for encontrado o ___________________, RG_________, e l fao sua
CITAO, cientificando-o de que, por meio de ato ordinatrio baixado pelo
Comandante do ______BPM, foi instaurado Processo Administrativo Disciplinar de
Rito Sumrio, em cujos termos do Libelo Acusatrio, que segue em anexo, o Militar
Estadual citado acusado formalmente de prtica de transgresso da disciplina.
Assim, de acordo com as regras do Art. 129, 3 do RDME, o acusado dever
apresentar, pessoalmente, ou por meio de Defensor, e no prazo de 02 (dois) dias, as
Razes Escritas em Defesa Prvia, sendo facultado, desde j, vista dos autos,
inclusive cpias, e acompanhamento de todos os atos processuais, alm do
requerimento de diligncias.
Quartel em __________________, ___/___/___.

________________________________________
ENCARREGADO DE PAD-RS

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RITO SUMRIO

CITAO DE MILITAR ESTADUAL

CI/PMES/___ (OME) N ___/___ - SPAJ OME.

Do: _____________________, RG________, Encarregado do PAD-RS.


Ao: Sr. Ten Cel QOC_________________, Comandante do_________.

Assunto: Citao de Militar Estadual (solicita)


Referncia: Portaria N ___/____ SPAJ OME.

Atendendo ao disposto no Art. 129 do RDME, o presente expediente tem a


finalidade de solicitar a V. Sa. que se digne em CITAR o ___________________,
RG_________, informando-o sobre a instaurao e o incio dos trabalhos do
Processo Administrativo Disciplinar de Rito Sumrio de Portaria N ___/____ SPAJ
OME.
Assim, de acordo com as regras do Art. 129 3 do RDME, o Militar Estadual conta
com o prazo de 02 (dois) dias, concedidos a partir da em que receber esta
CITAO, para apresentao das Razes Escritas em Defesa Prvia, que poder
ser elaborada pessoalmente, ou por meio de Defensor.
Quartel em __________________, ___/___/___.

________________________________________
ENCARREGADO DE PAD-RS

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RITO SUMRIO

LIBELO ACUSATRIO
O

_____________________,

RG________,

Encarregado do PAD-RS, instaurado por meio da


Portaria N ___/____ SPAJ/OME, cumprindo o
disposto no Art. 129, 3 do RDME, na forma do
Art. 98,

ACUSA FORMALMENTE,
O ___________________, RG_________, visto que conforme Portaria de
instaurao do PAD-RS, e seus anexos, ao militar imputada a seguinte conduta:
1) Em data de __/__/____, s _________h, estando ___________(DE FOLGA ou
DE SERVIO), no ________________ (LOCAL), _____________ (VERBO que
indica a ao ou omisso) _______________________ (complemento que indica,
que demonstra o fato), ______________ (forma como o acusado agiu), conforme
emerge de ________________ (documentos que registraram o fato).
Infringiu, em tese o Art. ______ (descrio da transgresso) do RDME.
Transgresso classificada como ___________.
Agravantes: ______________.
Atenuantes: ______________.
Rol de testemunhas ______________.
Quartel em __________________, ___/___/___.

________________________________________
ENCARREGADO DE PAD-RS

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RITO SUMRIO

TERMO DE INTERROGATRIO
___________________ - RG_________

Aos ______ dias do ms de ______ do ano de ______, nesta Cidade de _________,


Estado do Esprito Santo, na sala do __________, Quartel do ______ (OME), o
_____________________, RG________, Encarregado do PAD-RS, instaurado por
meio da Portaria N ___/____ SPAJ/OME, colheu o INTERROGATRIO do
Acusado neste Processo Administrativo Disciplinar de Rito Sumrio, acompanhado
de seu Defensor ____________, e foi assim qualificado: __________ (NOME);
__________ (FILIAO); __________ (NATURALIDADE); __________ (DATA DE
NASCIMENTO);

__________

(ESTADO

RESIDENCIAL);

__________

(UNIDADE

CIVIL);
EM

__________

QUE

SERVE),

(ENDEREO
__________

(TELEFONE).
Ciente da acusao que pesa em seu desfavor, ao ser interrogado sobre os fatos o
Policial Militar DISSE: QUE __________; QUE __________; QUE __________.
PERGUNTADO, RESPONDEU: QUE __________; QUE __________.
E como nada mais disse nem lhe foi perguntado, dei por encerrado o presente
termo, que depois de lido e achado conforme, vai devidamente assinado pelo
Interrogado, pelo seu Defensor e por mim, Encarregado do presente PAD, que
digitei (ou mandei digitar).
________________________________________
ACUSADO
________________________________________
DEFENSOR
________________________________________
ENCARREGADO DE PAD-RS

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RITO SUMRIO

TERMO DE DECLARAO
___________________ - RG_________

Aos ______ dias do ms de ______ do ano de ______, nesta Cidade de _________,


Estado do Esprito Santo, na sala do __________, Quartel do ______ (OME), o
_____________________, RG________, Encarregado do PAD-RS, instaurado por
meio da Portaria N ___/____ SPAJ/OME, colheu a declarao da TESTEMUNHA
que foi assim qualificada: __________ (NOME); __________ (FILIAO);
__________

(NATURALIDADE);

__________

(DATA

DE

NASCIMENTO);

__________

(ESTADO

__________

(ENDEREO

RESIDENCIAL);

CIVIL);

__________ (UNIDADE EM QUE SERVE), __________ (TELEFONE).


Perguntada quanto aos costumes (PARENTESCO, AMIZADE ou INIMIZADE COM
O ACUSADO), respondeu negativamente. Compromissada na forma da lei, ao ser
perguntada sobre os fatos DISSE: QUE __________; QUE __________.
PERGUNTADA, RESPONDEU: QUE __________; QUE __________. DADA A
PALAVRA DEFESA, RESPONDEU: QUE __________; QUE __________.
E como nada mais disse nem lhe foi perguntado, dei por encerrado o presente
termo, que depois de lido e achado conforme, vai devidamente assinado pela
Testemunha, pelo Acusado e por mim, Encarregado do presente PAD, que digitei
(ou mandei digitar).
________________________________________
TESTEMUNHA
________________________________________
ACUSADO
________________________________________
ENCARREGADO DE PAD-RS

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RITO SUMRIO

TERMO DE INFORMAO
___________________ - RG_________

Aos ______ dias do ms de ______ do ano de ______, nesta Cidade de _________,


Estado do Esprito Santo, na sala do __________, Quartel do ______ (OME), o
_____________________, RG________, Encarregado do PAD-RS, instaurado por
meio da Portaria N ___/____ SPAJ/OME, colheu a declarao do INFORMANTE
que foi assim qualificado: __________ (NOME); __________ (FILIAO);
__________

(NATURALIDADE);

__________

(DATA

DE

NASCIMENTO);

__________

(ESTADO

__________

(ENDEREO

RESIDENCIAL);

CIVIL);

__________ (UNIDADE EM QUE SERVE), __________ (TELEFONE).


Perguntado quanto aos costumes (PARENTESCO, AMIZADE ou INIMIZADE COM
O ACUSADO), respondeu pai do acusado, razo pela qual no prestou
compromisso. Perguntado sobre os fatos DISSE: QUE __________; QUE
__________. PERGUNTADA, RESPONDEU: QUE __________; QUE __________.
DADA A PALAVRA DEFESA, RESPONDEU: QUE __________; QUE _________.
E como nada mais disse nem lhe foi perguntado, dei por encerrado o presente
termo, que depois de lido e achado conforme, vai devidamente assinado pela
Testemunha, pelo Acusado e por mim, Encarregado do presente PAD, que digitei
(ou mandei digitar).
________________________________________
INFORMANTE
________________________________________
ACUSADO
________________________________________
ENCARREGADO DE PAD-RS

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RITO SUMRIO

MANDADO DE INTIMAO
O

_____________________,

RG________,

Encarregado do PAD-RS, instaurado por meio da


Portaria N ___/____ SPAJ/OME, no uso de suas
atribuies legais,

MANDA,
Ao policial militar que este receber, que se dirija a ____ (LOCAL), ou no local onde
for encontrado _________________ (NOME DA TESTEMUNHA), e l o intime a
comparecer sala do na sala do __________, Quartel do ______ (OME), situado
__________ (ENDEREO), s _____h do dia ___/___/___, a fim de ser ouvido em
Processo Administrativo Disciplinar de Rito Sumrio (PAD-RS), na qualidade de
Testemunha arrolada pela Defesa.
Quartel em __________________, ___/___/___.

________________________________________
ENCARREGADO DE PAD-RS

Em: _____/_____/_______.
Recebi uma via.
______________________
Assinatura

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REQUISIO DE MILITAR ESTADUAL

CI/PMES/___ (OME) N ___/___ - SPAJ OME.

Do: _____________________, RG________, Encarregado do PAD-RS.


Ao: Sr. Ten Cel QOC_________________, Comandante do_________.

Assunto: Apresentao de Militar Estadual (solicita)


Referncia: Portaria N ___/____ SPAJ OME.

Considerando ter sido designado Encarregado de PAD-RS por ato do Sr. Ten Cel
QOC_________________, Comandante do_________, e em razo da necessidade
de realizao de diligncias, solicito a V. Sa. que se digne em fazer apresentar a
este Encarregado, na sala do na sala do __________, Quartel do ______ (OME),
situado __________ (ENDEREO) os seguintes Militares Estaduais:
1. ___________________ - RG_________, s _____h do dia ___/___/___.
2. ___________________ - RG_________, s _____h do dia ___/___/___.
3. ___________________ - RG_________, s _____h do dia ___/___/___.
Respeitosamente,
Quartel em __________________, ___/___/___.

________________________________________
ENCARREGADO DE PAD-RS

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RITO SUMRIO

TERMO DE JUNTADA
Aos ______ dias do ms de ______ do ano de ______, nesta Cidade de _________,
Estado do Esprito Santo, na sala do __________, Quartel do ______ (OME), EU,
_____________________, RG________, Encarregado do PAD-RS, instaurado por
meio da Portaria N ___/____ SPAJ/OME fao a JUNTADA aos autos dos
seguintes documentos:
1. Laudo de __________, fl._____;
2. Boletim de Ocorrncia n __________, fl._____;
3. Relatrio de CPU __________, fl._____;
4. Cpia do Livro __________, fl._____;
Os documentos foram autuados ao presente processo, do que, para constar, EU,
_____________________, RG________, Encarregado do PAD-RS, lavrei o
presente Termo.

________________________________________
ENCARREGADO DE PAD-RS

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RITO SUMRIO

TERMO DE ACAREAO

Aos ______ dias do ms de ______ do ano de ______, nesta Cidade de _________,


Estado do Esprito Santo, na sala do __________, Quartel do ______ (OME),
presente o _____________________, RG________, Encarregado do PAD-RS,
instaurado por meio da Portaria N ___/____ SPAJ/OME, compareceram as
TESTEMUNHAS __________ (NOME), __________ (NOME), j qualificadas nos
autos, com a finalidade de serem acareados, em vista de divergncias em seus
depoimentos anteriormente prestados, nos pontos _________ (EXPLICITAR A
CONTROVRSIA). Assim, sob o compromisso legal de dizer a verdade, e
reinquiridas sobre essas divergncias, assim declararam. PELO DECLARANTE
__________ (NOME): QUE __________; QUE __________. PELO DECLARANTE
__________ (NOME): QUE __________; QUE __________. E como nada mais
disseram e nem lhes foi perguntado, dei por encerrado o presente termo, que depois
de lido e achado conforme, vai devidamente assinado pelas Testemunhas, pelo
Acusado e por mim, Encarregado do presente PAD, que digitei (ou mandei digitar).

________________________________________
TESTEMUNHA
________________________________________
TESTEMUNHA
________________________________________
ACUSADO
________________________________________
ENCARREGADO DE PAD-RS

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TERMO DE EXIBIO E APREENSO

Aos ______ dias do ms de ______ do ano de ______, nesta Cidade de _________,


Estado do Esprito Santo, na sala do __________, Quartel do ______ (OME),
presente o _____________________, RG________, Encarregado do PAD-RS,
instaurado por meio da Portaria N ___/____ SPAJ/OME, compareceu o
_____________________,

RG________,

que

exibiu

______________

(DESCREVER O OBJETO, E SE POSSVEL, MENCIONAR TAMBM A MANEIRA


COMO FOI ENCONTRADO E A RELAO COM O FATO A SER APURADO).
Assim, fao a APREENSO do material, por ser imprescindvel elucidao do fato,
passando a integrar o presente Processo Administrativo Disciplinar de Rito Sumrio,
do que, para constar, lavrei o presente Termo, em duas vias, permanecendo uma
com o exibidor, que depois de lido e achado conforme, vai devidamente assinado
pelo Exibidor, pelas Testemunhas, pelo Acusado e por mim, Encarregado do
presente PAD, que digitei (ou mandei digitar).
________________________________________
EXIBIDOR
________________________________________
TESTEMUNHA
________________________________________
TESTEMUNHA
________________________________________
ACUSADO
________________________________________
ENCARREGADO DE PAD-RS

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RITO SUMRIO

TERMO DE ENTREGA/RESTITUIO

Aos ______ dias do ms de ______ do ano de ______, nesta Cidade de _________,


Estado do Esprito Santo, na sala do __________, Quartel do ______ (OME),
presente o _____________________, RG________, Encarregado do PAD-RS,
instaurado por meio da Portaria N ___/____ SPAJ/OME, compareceu o
_____________________, RG________, a quem foi entregue o ______________
(DESCREVER O OBJETO DEVOLVIDO E O MOTIVO DA DEVOLUO). Assim,
fao a DEVOLUO/RESTITUIO do material, do que, para constar, lavrei o
presente Termo, que depois de lido e achado conforme, vai devidamente assinado
pelo Recebedor, pelas Testemunhas, pelo Acusado e por mim, Encarregado do
presente PAD, que digitei (ou mandei digitar).

________________________________________
RECEBEDOR
________________________________________
TESTEMUNHA
________________________________________
TESTEMUNHA
________________________________________
ACUSADO
________________________________________
ENCARREGADO DE PAD-RS

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TERMO DE RECONHECIMENTO

Aos ______ dias do ms de ______ do ano de ______, nesta Cidade de _________,


Estado do Esprito Santo, na sala do __________, Quartel do ______ (OME),
presente o _____________________, RG________, Encarregado do PAD-RS,
instaurado por meio da Portaria N ___/____ SPAJ/OME, compareceu o
_____________________, RG________, j qualificado nos autos, que na presena
das

testemunhas

_____________________,

RG________

_____________________, RG________ foi convidado a descrever as pessoas que


viu (DESCREVER A CIRCUNSTNCIA QUE LEVOU O RECONHECEDOR A
MEMORIZAR O RECONHECIDO), afirmando tratar-se de pessoa com as seguintes
caractersticas

(CONSIGNAR

TODA

DESCRIO

RELATADA

PELO

RECONHECEDOR). Em seguida, por meio de dispositivo que preservava o


RECONHECEDOR, a este foram exibidas, lado a lado, as seguintes pessoas:
1)

____________________,

RG________;

3)

RG________;

2)

____________________,

____________________,
RG________;

4)

____________________, RG________; 5) ____________________, RG________;


pessoas com caractersticas semelhantes. Aps observ-las o Reconhecedor
afirmou __________ (RESULTADO). Nada mais havendo a tratar, dei por encerrado
o presente termo, que depois de lido e achado conforme, vai devidamente assinado
pelo Reconhecedor, pelas Testemunhas, pelo Acusado e por mim, Encarregado do
presente PAD, que digitei (ou mandei digitar).

________________________________________
RECONHECEDOR

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OME
________________________________________
TESTEMUNHA
________________________________________
TESTEMUNHA
________________________________________
ACUSADO
________________________________________
ENCARREGADO DE PAD-RS

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RITO SUMRIO

TERMO DE REPRODUO SIMULADA DOS FATOS

Aos ______ dias do ms de ______ do ano de ______, nesta Cidade de _________,


Estado do Esprito Santo, por volta das _____h, Eu, o _____________________,
RG________, Encarregado do PAD-RS, instaurado por meio da Portaria N
___/____ SPAJ/OME, acompanhado dos policiais _____________________,
RG________

_____________________,

RG________,

do

acusado

_____________________, RG________, dirigi-me ao __________ (ENDEREO), a


fim de proceder reproduo simulada dos fatos ali ocorridos em ___/___/___, em
que o _____________________, RG________ figura como Acusado. O papel da
vtima (agressor, etc.) ficou a cargo do policial militar _____________________,
RG________, em vista da recusa do mesmo em participar da reconstituio (CASO
ISSO OCORRA). Para realizar a reconstituio, foi realizado o registro fotogrfico
das principais cenas, bem como a confeco de croqui do itinerrio percorrido pela
vtima e sindicado. A encenao tomou como base as declaraes da Vtima, do
Acusado e das Testemunhas, que se prontificaram a esclarecer e reproduzir, de
maneira simulada, com fidelidade que lhes permitissem suas memrias, o que teria
ocorrido no dia do episdio. De tudo o que foi observado, podem os fatos ser
relatados, em suas cenas principais, da seguinte maneira:
1 FOTO ______________; 2 FOTO ______________;3 FOTO ______________.
Estadas foram as cenas principais. Nada mais havendo a tratar, dei por encerrado o
presente termo, que depois de lido e achado conforme, vai devidamente assinado
pela Vtima, pelas Testemunhas, pelo Acusado e por mim, Encarregado do presente
PAD, que digitei (ou mandei digitar).

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OME
________________________________________
VTIMA
________________________________________
TESTEMUNHA
________________________________________
TESTEMUNHA
________________________________________
ACUSADO
________________________________________
ENCARREGADO DE PAD-RS

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PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR
RITO SUMRIO

TERMO DE INSPEO

Aos ______ dias do ms de ______ do ano de ______, nesta Cidade de _________,


Estado do Esprito Santo, por volta das _____h, Eu, o _____________________,
RG________, Encarregado do PAD-RS, instaurado por meio da Portaria N
___/____ SPAJ/OME, acompanhado dos policiais _____________________,
RG________

_____________________,

RG________,

do

acusado

_____________________, RG________, dirigi-me ao __________ (ENDEREO), a


fim de proceder inspeo de _______________ (COISA, PESSOA ou LOCAL) em
razo na necessidade de _______________ (DIZER O MOTIVO PELO QUAL A
DILIGNCIA FOI REALIZADA), sendo possvel constatar que _______________
(RESUMO DAS IMPRESSES), tudo conforme registrado s fls. _____________
(CROQUI, FOTOS, ETC.). Nada mais havendo a tratar, dei por encerrado o presente
termo, que depois de lido e achado conforme, vai devidamente assinado pelas pelas
Testemunhas, pelo Acusado e por mim, Encarregado do presente PAD, que digitei
(ou mandei digitar).

________________________________________
TESTEMUNHA
________________________________________
TESTEMUNHA
________________________________________
ACUSADO
________________________________________
ENCARREGADO DE PAD-RS

GOVERNO DO ESTADO DO ESPRITO SANTO

POLCIA MILITAR
OME
PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR
RITO SUMRIO

NOTIFICAO
O

_____________________,

RG________,

Encarregado do PAD-RS, instaurado por meio da


Portaria N ___/____ SPAJ/OME, no uso de suas
atribuies legais e com o fulcro nos Art. 90 c/c
130, e 129 6, do Regulamento Disciplinar dos
Militares Estaduais (RDME),

NOTIFICA,
O ___________________, RG_________, tendo em vista o encerramento das
investigaes realizadas no Processo Administrativo Disciplinar de Rito Sumrio,
para que, no prazo regulamentar de 02 (dois) dias, contados a partir do recebimento
desta, apresente, consoante o artigo 129, 6 do RDME, a Defesa Escrita em
Alegaes Finais, com referncia s acusaes em seu desfavor, tendo para tanto
livre acesso aos respectivos autos no Cartrio da Seo de Polcia Administrativa e
Judiciria do _____ (OME).
Quartel em __________________, ___/___/___.

________________________________________
ENCARREGADO DE PAD-RS

Em: _____/_____/_______.
Recebi uma via.
______________________
Assinatura

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POLCIA MILITAR
OME
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RITO SUMRIO

RELATRIO

1 HISTRICO DO PROCESSO
1.1 Fundamento
O presente Processo Administrativo Disciplinar, instaurado por meio da Portaria N
___/____ SPAJ/OME, da lavra do Sr. Ten Cel QOC, Comandante do
________________ da Polcia Militar do Estado do Esprito Santo, e teve como
acusado o _____________________, RG________, e teve por fundamento o
__________________

(REPRESENTAO,

COMUNICAO

DISCIPLINAR,

SINDICNCIA, ETC.).
1.2 Fato
________________________(NCLEO DA CONDUTA ATRIBUDA AO ACUSADO).
1.3 Data/hora
___/___/___ _____h.
1.4 Em servio
_______ (SIM OU NO).
1.5 Acusao
_______________________(DESCRIO DA TRANSGRESSO DISCIPLINAR).
1.6 Dispositivos infringidos
Artigo ___, inciso ___, alnea ___.

GOVERNO DO ESTADO DO ESPRITO SANTO

POLCIA MILITAR
OME

2 INSTRUO DO PROCESSO DISICPLINAR


2.1 Citao
Procedida regularmente, conforme fl. ___.
2.2 Libelo Acusatrio
Entregue regularmente, conforme fl ___.
2.3 Defesa escrita
Razes de Defesa Prvia, com ___laudas, conforme autuao s fls. ___.
Razes Escritas de Defesa em Alegaes Finais, com ___laudas, conforme fls. ___.
2.4 Investigao Sumria
Para investigar o fato atribudo ao acusado, foram realizadas as seguintes
diligncias, na fase de investigao sumria:
a) Interrogatrio do acusado, fls. ___;
b) Oitiva de _______________, fls. ___;
c) Oitiva de _______________, fls. ___;
d) Juntada de _____________, fls. ___.

3 APRECIAO DAS PROVAS E EVIDNCIAS


3.1 Acusao
O exame das peas que serviram de JUSTA CAUSA, fundamentando a instaurao
do PAD-RS, revela que, em desfavor do Militar Estadual, havia os seguintes
elementos de prova (OU EVIDNCIAS): ___________________________________.
3.2 Razes sustentadas pela Defesa
Por outro lado, examinando as peas produzidas pela Defesa a partir da acusao
formulada contra o Militar Estadual, conforme fls. ___, pode extrair as seguintes teses
principais: ___________________________________________________________.
3.3 Avaliao das provas

GOVERNO DO ESTADO DO ESPRITO SANTO

POLCIA MILITAR
OME
Cotejando o que consta da acusao, as teses apresentadas pela defesa, bem como
o que foi produzido ao longo do PAD-RS, verifica-se que (APONTAR DE MODO
FUNDAMENTADO SE A ACUSAO CONTIDA NA PORTARIA FOI CONFIRMADA
OU INFIRMADA PELAS PROVAS PRODUZIDAS NA INSTRUO PROCESSUAL,
INDICANDO

INCLUSIVE

OS

MEIOS

DE

PROVA

QUE

FORMAM

CONVENCIMENTO DO ENCARREGADO).

4. CONCLUSO E PARECER FINAL


Diante do que foi exposto, e daquilo que consta nos autos, sou do parecer de que o
_____________________,

RG________

_______________

(CULPADO,

CULPADO EM PARTE ou INOCENTE) das imputaes formuladas no Libelo


Acusatrio, pois a prova carreada ao caderno processual demonstra claramente que
_______________ (REALIZOU, REALIZOU EM PARTE ou NO REALIZOU) a
conduta tpica que lhe atribuda, __________ (INCORRENDO ou NO
INCORRENDO), assim, no Artigo ___, inciso ___, alnea ___, com as agravantes do
Artigo 26, incisos __________, e as atenuantes do Artigo 27, incisos __________,
tudo do RDME (CASO SEJA JULGADO CULPADO ou CULPADO EM PARTE).

Quartel em __________________, ___/___/___.

________________________________________
ENCARREGADO DE PAD-RS

Em: _____/_____/_______.
Ciente.
______________________
Assinatura

GOVERNO DO ESTADO DO ESPRITO SANTO

POLCIA MILITAR
OME

PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR


RITO SUMRIO

TERMO DE ENCERRAMENTO E REMESSA

Aos ______ dias do ms de ______ do ano de ______, nesta Cidade de _________,


Estado do Esprito Santo, na sala do __________, Quartel do ______ (OME), depois
de cumpridas as formalidades previstas no RDME para o Processo Administrativo
Disciplinar de Rito Sumrio, dou por encerrados os trabalhos atinentes ao PAD-RS,
instaurado por meio da Portaria N ___/____ SPAJ/OME, da lavra do Sr. Ten Cel
QOC, Comandante do ________________ da Polcia Militar do Estado do Esprito
Santo, Autoridade a quem o processo deve ser remetido, e que teve como acusado
o _____________________, RG________, cujas folhas por mim rubricadas e
numeradas vo de 01 a _____. E, para constar, lavrei o presente Termo, que Eu
_____________________, RG________, Encarregado do PAD-RS, o assino.

________________________________________
ENCARREGADO DE PAD-RS

GOVERNO DO ESTADO DO ESPRITO SANTO


POLCIA MILITAR
CORREGEDORIA

REGULAMENTO DISCIPLINAR
DOS MILITARES ESTADUAIS DO
ESTADO DO ESPRITO SANTO

(APROVADO PELO DECRETO N. 254-R/2000)


(ALTERADO PELO DECRETO N. 634-R DE 02.04.2001)

ATUALIZAO: MAJ PM MATEUS GARCIA PEREIRA


VITRIA 2012

PARTE GERAL

TTULO I

DISPOSIES GERAIS

CAPTULO I

Generalidades

Previso estatutria
Art. 1 O presente Regulamento baixado em obedincia ao estabelecido em
norma estatutria, para regular os assuntos relacionados disciplina nas instituies
militares estaduais.
Finalidade
Art. 2 O Regulamento Disciplinar dos Militares Estaduais do Estado do
Esprito Santo (RDME) tem por finalidade instituir o regime disciplinar, tipificar,
classificar e mensurar as transgresses disciplinares, estabelecer normas relativas
amplitude e aplicao das sanes disciplinares, classificao do comportamento do
militar estadual, interposio de recursos contra a aplicao das sanes e concesso de
recompensas.
Camaradagem e companheirismo
Art. 3 A camaradagem e o companheirismo tornam-se indispensveis
formao e ao convvio da famlia militar estadual, cumprindo existir as melhores relaes
sociais entre os militares.
Harmonia
Pargrafo nico Incumbe aos superiores incentivar e manter a harmonia, a
solidariedade e a amizade entre seus subordinados.
Civilidade e respeito mtuo
Art. 4 A civilidade parte da educao militar e, como tal, de interesse vital
para a disciplina consciente, e por isso necessrio que o militar estadual demonstre
considerao e respeito para com seus superiores, iguais ou subordinados, em
conformidade com as normas legais e regulamentares, devendo o superior hierrquico
tratar os subordinados com educao e justia, interessando-se pelos seus problemas,
encaminhando-os a quem de direito de acordo com cada rea especfica.
Respeito a outros militares e civis
Pargrafo nico - As demonstraes de camaradagem, cortesia e considerao,
existentes entre os militares estaduais, devem ser dispensadas aos militares das Foras
Armadas, aos policiais de outras instituies e aos cidados em geral.
Organizao Militar Estadual - OME
Art. 5 Para efeito deste Regulamento, Organizao Militar Estadual
(OME) a denominao genrica dada a corpo de tropa, repartio, estabelecimento ou a

qualquer outra unidade administrativa ou operacional da Polcia Militar do Esprito Santo


(PMES) e do Corpo de Bombeiros Militar do Esprito Santo (CBMES).
Comandante
1 Para efeito deste Regulamento, o termo Comandante a denominao
genrica dada ao militar estadual investido de cargo de comando, direo ou chefia de
OME.
Militar Estadual
2 Para efeito deste Regulamento, a denominao militar estadual
equiparada a policial militar e a bombeiro militar.

CAPTULO II

Princpios Gerais da Hierarquia e da Disciplina

Hierarquia
Art. 6 A hierarquia militar a ordenao da autoridade, em nveis diferentes,
dentro da estrutura da PMES e do CBMES, por postos e graduaes.
Previso legal da hierarquia
1 A ordenao dos postos e graduaes a definida estatutariamente.
Respeito Hierarquia
2 O respeito hierarquia consubstanciado no esprito de acatamento
seqncia de autoridade.
Disciplina
Art. 7 A disciplina militar estadual a rigorosa observncia e o acatamento
integral das leis, regulamentos, normas e disposies, traduzindo-se pelo perfeito
cumprimento do dever por parte de todos e de cada um dos componentes da PMES e do
CBMES.
Manifestaes de Disciplina
1 So manifestaes essenciais de disciplina:
I - A correo de atitudes;
II - A rigorosa observncia das prescries legais e regulamentares.
III - A obedincia pronta s ordens legais;
IV - A dedicao integral ao servio;
V - A colaborao espontnea disciplina coletiva e eficincia da instituio;
VI - A conscincia das responsabilidades;
VII O zelo para a preservao dos padres de qualidade profissional,
objetivando a melhoria e a credibilidade perante a opinio pblica;
VIII As manifestaes espontneas de acatamento dos valores e deveres
morais e ticos.
Abrangncia interpessoal dos institutos
2 A disciplina e o respeito hierarquia devem ser mantidos,
permanentemente, pelos militares estaduais da ativa e da inatividade.
Vedao de divulgao de assuntos
3 vedado ao militar estadual, na ativa ou na inatividade, tratar, no meio
civil, pela imprensa ou por outro meio de divulgao, de assuntos de natureza militar, de
carter sigiloso ou funcional, ou que atente contra os princpios da hierarquia, da

disciplina, do respeito e do decoro militar, ou ainda, qualquer outro que atinja


negativamente o conceito ou a base institucional das Organizaes Militares.
Responsabilidade pelas ordens e atos
Art. 8 Cabe ao militar estadual a inteira responsabilidade pelo cumprimento
das ordens que der, pelos atos que praticar e pelas conseqncias que deles advierem.
Esclarecimento de Ordens
1 Cabe ao subordinado, ao receber uma ordem, solicitar os
esclarecimentos necessrios ao seu total entendimento e compreenso, podendo, em casos
de maior complexidade, solicitar que a ordem seja escrita.
Excesso no cumprimento de ordem
2 Cabe ao executante que exorbitar no cumprimento de ordem recebida a
responsabilidade pelos excessos e abusos que cometer.

CAPTULO III

Esfera de Ao do Regulamento Disciplinar e Competncia para sua Aplicao

Sujeio ao Regulamento Disciplinar


Art. 9 Esto sujeitos a este Regulamento os militares estaduais da ativa e da
inatividade.
Sujeio
1 O militar estadual passa a estar sujeito ao regime disciplinar deste
Regulamento a partir da data em que, oficialmente, se der a sua admisso na PMES ou no
CBMES, assim permanecendo independentemente de estar afastado da atividade, agregado
ou no.
Alunos
2 Os alunos militares estaduais em atividade pedaggica de formao,
adaptao, aperfeioamento e especializao, alm de ficarem sujeitos s normas
especficas das Organizaes Militares de Ensino onde estejam matriculados, ficam
sujeitos tambm a este Regulamento.
Autoridades competentes
Art. 10 A competncia para aplicar as prescries contidas neste
Regulamento conferida ao cargo e no ao grau hierrquico, sendo competentes para
aplic-las:
I O Governador do Estado, o Secretrio de Estado da Segurana Pblica e o
Comandante Geral, a todos que estiverem sujeitos a este Regulamento;
II O Subcomandante Geral, a todos os militares estaduais que estiverem sob
sua subordinao funcional e aos inativos;
III O Secretrio ou Chefe de Casa ou Gabinete Militar, aos que servirem sob
a sua chefia;
IV O Corregedor, a todos os militares estaduais da ativa, exceto aos
ocupantes dos cargos dos incisos anteriores e oficiais do posto de Coronel;
V Os Comandantes Intermedirios, os Diretores, e demais ocupantes de
funo privativa do cargo de Coronel, aos que servirem sob suas ordens;
VI Os demais oficiais ocupantes de cargos militares, aos que estiverem sob
sua subordinao funcional.

Sano aos inativos


1 Aos militares estaduais da inatividade da PMES e do CBMES, a
aplicao da sano disciplinar cabe, exclusivamente, s autoridades especificadas nos
incisos I e II, deste artigo.
Garantia de instncia administrativa
2 Ser assegurada a competncia da autoridade de menor nvel hierrquico
que tiver ascendncia sobre o(s) envolvido(s), para a apurao de infrao disciplinar, a
fim de evitar a supresso de instncia administrativa, ressalvada a hiptese da unidade
processual (art. 12, 1) e nos casos abaixo, por avocao da Corregedoria/PMES ou
rgo equivalente do CBMES:
I Quando houver solicitao da autoridade com ascendncia funcional sobre
o (s) envolvido (s);
II Por determinao do Comandante Geral da respectiva Corporao.
Obs.: J com nova redao dada pelo Art. 1 do DECRETO n. 634-R, de 02 de abril
de 2001.
Dever de comunicao de ato contra a disciplina
Art. 11 Todo militar estadual que presenciar ou tiver conhecimento de um fato
que, em tese, seja contrrio disciplina, praticado por subordinado, dever, desde que no
seja autoridade competente para tomar as providncias imediatas, particip-lo ao seu
Comandante imediato, por escrito, no prazo mximo de cinco (05) dias teis.
Formalizao da comunicao
1 A comunicao da infrao disciplinar dever ser clara, concisa e
precisa, devendo conter os dados capazes de identificar as pessoas ou coisas envolvidas,
bem como as testemunhas, o local, a data e a hora da ocorrncia e caracterizar as
circunstncias que a envolverem, sem tecer comentrios ou opinies pessoais.
Providncia imediata em caso de flagrante disciplinar Pronta
interveno
2 Quando, para preservao da disciplina e do decoro institucional e da
ordem pblica, a ocorrncia exigir uma pronta interveno, mesmo sem possuir
ascendncia funcional sobre o transgressor, a autoridade militar de maior antigidade, que
presenciar ou tiver conhecimento do fato, dever tomar imediatas e enrgicas providncias,
podendo recolher provisoriamente o infrator OME mais prxima, comunicando, de
imediato, o fato ao Comandante daquela OME ou ao seu preposto, que tomar as
providncias junto ao comandante do transgressor.
Garantias
3 Ao militar estadual recolhido nas circunstncias do pargrafo anterior,
so garantidos os seguintes direitos:
I A identificao do(s) responsvel(eis) pelo seu recolhimento provisrio;
II A comunicao imediata do local onde se encontre, sua famlia ou
pessoa por ele indicada, podendo ser feita pelo prprio militar;
III O recolhimento em instalao adequada.
Apurao de comunicao disciplinar
4 A autoridade, a quem a comunicao disciplinar dirigida, deve de
imediato instaurar ou determinar a instaurao do competente processo administrativo
disciplinar.
Autoridade incompetente
5 No caso do pargrafo anterior, se a autoridade no tiver competncia
para instaurar o processo, deve encaminhar a comunicao disciplinar ao seu superior
imediato, ou quela que seja competente.

Militares de OME distintas


Art. 12 No caso de ocorrncia disciplinar, envolvendo militares de mais de
uma OME caber ao comandante imediatamente superior, da linha de comando, ou
Corregedoria por avocao, apurar os fatos, procedendo a seguir de conformidade com o
art. 11 e seus pargrafos.
Unidade de processo
1 Todos os militares estaduais envolvidos na transgresso disciplinar
devero ter seu (s) processo (s) solucionado (s) por uma s autoridade que tenha
ascendncia funcional sobre todos.
Militares Estaduais de outras Corporaes
2 Nos casos de ocorrncia disciplinar envolvendo militares estaduais de
outras Corporaes, o fato ser comunicado aos respectivos Comandantes Gerais.
Envolvimento com militares das Foras Armadas
3 Nos casos de ocorrncia disciplinar envolvendo militares das Foras
Armadas e militares estaduais, a autoridade militar competente dever tomar as medidas
disciplinares referentes aos seus subordinados, informando ao escalo superior sobre a
ocorrncia, das medidas tomadas e o que foi por ela apurado, dando cincia do fato,
tambm ao Comandante Militar interessado.

TTULO II

TRANSGRESSES E SANES DISCIPLINARES

CAPTULO I

Conceituao e Classificao das Transgresses Disciplinares

Conceito de transgresso disciplinar


Art. 13 Transgresso disciplinar toda ao ou omisso, praticada por militar
estadual, que viole os preceitos da tica e os valores militares ou que contrarie os deveres e
obrigaes a que est submetido, ou ao contrria aos preceitos estatudos em leis,
regulamentos ou normas internas da PMES e do CBMES.
Classificao das transgresses
Art. 14 A transgresso disciplinar ser classificada, desde que no haja causa
de justificao, em:
I Leve (L);
II Mdia (M);
III Grave (G);
IV Gravssima (GG).

CAPTULO II

Sanes Disciplinares

Espcies de sano disciplinar


Art. 15 As sanes disciplinares a que esto sujeitos os militares estaduais da
PMES e do CBMES, so as seguintes:
I Advertncia;
II Repreenso;
III Deteno;
IV Reforma Disciplinar;
V Licenciamento a Bem da Disciplina;
VI Excluso a Bem da Disciplina;
VII Demisso.
Sanes acessrias
Pargrafo nico - Podero ser aplicadas cumulativamente com as sanes
disciplinares deste artigo, as seguintes medidas administrativas acessrias:
I Multa;
II Cancelamento de matrcula em curso ou estgio;
III Afastamento do cargo, funo, encargo ou comisso;
IV Movimentao da OME;
V Suspenso da folga, para prestao compulsria de servio administrativo
ou operacional OME.
Obs.: J com nova redao dada pelo art. 1 do DECRETO n. 634-R, de 02 de abril
de 2001.
Advertncia
Art. 16 Advertncia a forma mais branda de punir, consistindo numa
admoestao verbal feita ao transgressor, como forma de incentivo no reiterao da
prtica de transgresso disciplinar.
Registro
Pargrafo nico A advertncia dever ser registrada pelo prazo de dois anos,
no sendo avaliada para fins de classificao do comportamento, mas apenas como
referncia para aplicao de sanes posteriores, inclusive como circunstncia agravante.
Repreenso
Art. 17 Repreenso uma censura enrgica ao transgressor, publicada em
Boletim Interno e devidamente registrada, influenciando diretamente no comportamento do
militar estadual.
Deteno
Art. 18 A deteno consiste no cerceamento da liberdade do transgressor, o
qual deve permanecer no local que lhe for determinado, normalmente o quartel, sem que
fique, no entanto, isolado e circunscrito a determinado compartimento.
Comparecimento ao servio
1 O transgressor punido com deteno, comparece, obrigatoriamente, a
todos os atos de instruo e servio, objetivando sua reeducao e recuperao.
Compartimento especfico
2 Em casos excepcionais e devidamente motivados, a deteno poder ser
cumprida em compartimento especfico, com ou sem sentinela, quando a liberdade do
punido puder causar dano ordem e/ou disciplina, bem como oferecer perigo
integridade fsica prpria ou de outrem.
Comunicao de recolhimento

3 No caso do pargrafo anterior, se o militar que determinou ou recolheu o


transgressor, no tiver competncia funcional para puni-lo, dever comunicar o ocorrido,
em vinte e quatro horas, autoridade competente, para que mantenha ou relaxe a medida.
Militares de crculos diferentes
4 Os militares estaduais dos diferentes crculos de oficiais e praas no
podero ficar recolhidos no mesmo compartimento.
Falta de instalaes
5 Na hiptese do 2, quando no for possvel o recolhimento do
transgressor na OME a que pertencer, a autoridade responsvel pela aplicao da sano
dever solicitar a outra OME, a cesso de instalao apropriada para o cumprimento da
punio.
Local das refeies
6 O punido com pena de deteno far suas refeies na OME, exceto
quando determinado em contrrio pela autoridade detentora do poder disciplinar.
Reforma disciplinar
Art. 19 A reforma disciplinar poder ser aplicada ao oficial submetido a
Conselho de Justificao e praa submetida a Conselho de Disciplina, conforme disposto
na legislao que rege aqueles Conselhos.
Licenciamento a bem da disciplina
Art. 20 O Licenciamento a bem da disciplina, consiste no afastamento exofficio, por ordem das autoridades elencadas no inciso I do artigo 10, deste Regulamento,
do militar estadual sem estabilidade assegurada, aps concludo processo administrativo
disciplinar, assegurando-se ao acusado o direito ao contraditrio e ampla defesa.
Excluso a bem da disciplina
Art. 21 A excluso a bem da disciplina consiste no afastamento, ex-officio, do
Aspirante a Oficial e da praa com estabilidade assegurada, por meio de processo
administrativo disciplinar, mediante apurao feita por Conselho de Disciplina, conforme a
legislao vigente.
Demisso
Art. 22 A demisso consiste no afastamento, ex-officio, do oficial, por meio
de processo administrativo disciplinar, mediante apurao feita por Conselho de
Justificao, conforme a legislao vigente.
Multa
Art. 23 A ttulo de multa o militar estadual perder a remunerao do(s)
dia(s) em que faltar ao servio sem motivo justificado, e da folga subseqente, sem
prejuzo de outras sanes disciplinares a que se sujeite.
Falta justificada
1 Ser considerada prtica de transgresso disciplinar (Art. 135 II a)
quando o militar estadual faltar justificadamente ao servio, e gozar a folga a que tem
direito se tivesse trabalhado, sem estar para isso devidamente dispensado.
Apresentao obrigatria
2 No caso do pargrafo anterior, a apresentao do militar estadual darse- obrigatoriamente no dia seguinte, no mesmo local e horrio estabelecidos para o incio
do servio para o qual faltou, podendo ser empregado a critrio da OME a que pertencer.
Obs.: J com nova redao dada pelo art. 1 do DECRETO 634-R, de 02 de abril de
2001.

CAPTULO III

Aplicao e Cumprimento das Sanes Disciplinares

Objetivo
Art. 24 A sano disciplinar objetiva assegurar a regularidade e o
aperfeioamento do servio realizado pela PMES e CBMES, bem como a reeducao do
infrator, servindo como meio de preveno geral, buscando o fortalecimento da disciplina.
Excluso de transgresso disciplinar
Art. 25 No h transgresso disciplinar quando o militar estadual praticar o
ato e for reconhecida qualquer uma das seguintes causas de justificao:
I Ter sido cometida a transgresso na prtica de ao meritria, no interesse
do servio ou da ordem pblica;
II Ter sido cometida a transgresso em legtima defesa, prpria ou de outrem,
ou no exerccio regular de direito;
III Ter sido cometida a transgresso sob coao irresistvel ou em estrita
obedincia a ordem legal de superior hierrquico;
IV Ter sido cometida a transgresso pelo uso imperativo da fora a fim de
compelir o subordinado a cumprir rigorosamente o seu dever, no caso de perigo,
necessidade urgente, calamidade pblica, manuteno da ordem ou da disciplina;
V Ter sido cometida a transgresso em decorrncia de caso fortuito ou
motivo de fora maior, plenamente comprovado e justificado.
Publicidade da causa de justificao
Pargrafo nico Quando ocorrer causa de justificao, em relao s
transgresses graves ou gravssimas, esta circunstncia poder ser publicada em
substituio sano que deveria ser aplicada.
Circunstncias agravantes
Art. 26 So circunstncias agravantes:
I A existncia de registro de sano disciplinar nos assentamentos do
transgressor;
II A reincidncia especfica da transgresso;
III Mau ou insuficiente comportamento;
IV A prtica simultnea ou conexo de duas ou mais transgresses;
V O conluio de duas ou mais pessoas;
VI Ser praticada a transgresso durante a execuo do servio ou em razo
dele;
VII Ser cometida a transgresso na presena de subordinado;
VIII Ter abusado o transgressor de sua autoridade hierrquica e/ou funcional;
IX Ser praticada a transgresso com premeditao;
X Ter sido praticada a transgresso em presena de tropa e/ou pblico;
XI Ter sido cometida a transgresso, estando o militar fardado e de folga.
Prtica simultnea ou conexo
Pargrafo nico No caso previsto no inciso IV, na aplicao da sano ser
considerada a transgresso de maior gravidade, ficando as demais como agravantes.

Circunstncias atenuantes
Art. 27 So circunstncias atenuantes:
I A existncia de registro de recompensa nos assentamentos do transgressor;
II timo ou excepcional comportamento;
III Relevncia de servios prestados;
IV Ter sido cometida a transgresso para evitar mal maior;
V Nunca ter sofrido sano disciplinar;
VI Ter o transgressor confessado espontaneamente a transgresso;
VII A falta de prtica do servio;
VIII Ter se reabilitado de sano(es) anterior(es);
IX Nunca ter sofrido sano pela prtica de transgresso disciplinar
classificada como gravssima.
Falta de prtica do servio
Pargrafo nico Caracteriza falta de prtica do servio:
I Estar o militar estadual h menos de um ano nas fileiras da PMES ou do
CBMES;
II Estar freqentando curso de formao em qualquer nvel;
III Estar o militar estadual h menos de seis meses na atividade funcional
especfica, quando do cometimento da infrao disciplinar referente ao servio.
Fixao da sano disciplinar
Art. 28 Para fixao das sanes disciplinares de advertncia, repreenso e
deteno, sero observadas as seguintes regras:
I Para a transgresso disciplinar Leve:
a) havendo equilbrio ou prevalncia de circunstncias atenuantes, aplicar-se-
a sano de ADVERTNCIA;
b) havendo prevalncia de circunstncias agravantes, aplicar-se- a sano de
REPREENSO;
II Para a transgresso disciplinar Mdia, a sano base ser de quatro (4) dias
de DETENO, sendo a sano mnima de um (1) dia e a mxima de seis (6) dias;
III Para a transgresso disciplinar Grave, a sano base ser de dez (10) dias
de DETENO, sendo a sano mnima de sete (7) dias e a mxima de treze (13) dias;
IV - Para a transgresso disciplinar Gravssima, a sano base ser de dezessete
(17) dias de DETENO, sendo a sano mnima de quatorze (14) dias e a mxima de
vinte (20) dias;
Clculo da Sano
1 A fixao das sanes previstas nos incisos II a IV deste artigo ser feita,
adicionando-se ou subtraindo-se da sano base a diferena resultante entre o nmero de
circunstncias atenuantes e agravantes, respeitados os limites mnimos e mximos
previstos;
Equivalncia
2 - Para efeito da fixao da sano a que se refere o pargrafo anterior, cada
circunstncia atenuante ou agravante equivaler a um (1) dia.
Sano mnima
3 - Quando se tratar de transgressor que nunca tenha sofrido sano
disciplinar, poder ser aplicada a sano mnima prevista, independente do nmero de
circunstncias agravantes e atenuantes, ou at mesmo ser a transgresso desclassificada
para a imediatamente anterior.
Desclassificao
4 - Havendo a desclassificao prevista no pargrafo anterior, ser aplicada a
sano estabelecida para a nova classificao de acordo com o previsto no 1.

Converso em prestao de servio extraordinrio


Art. 29 No caso da transgresso disciplinar classificada como leve ou mdia,
a pedido do transgressor que esteja no comportamento militar excepcional, a autoridade
poder converter a sano disciplinar em prestao de at trs (03) escalas de servio
extraordinrio, no remuneradas como servio extra.
Registro
Pargrafo nico O registro da converso prevista no pargrafo anterior
obedecer aos critrios previstos no pargrafo nico do artigo 16.
Aplicao do licenciamento a bem da disciplina
Art. 30 O licenciamento a bem da disciplina poder ser aplicado, quando:
I A transgresso afetar o sentimento do dever, a honra pessoal, o pundonor
militar ou o decoro, considerando-se:
a) Sentimento do dever, o envolvimento em uma tomada de conscincia
perante o caso concreto e a realidade, implicando no reconhecimento da obrigatoriedade de
um comportamento coerente, justo e equnime;
b) Honra pessoal, a qualidade ntima do militar estadual que se conduz
com integridade, honestidade, honradez e justia, observando com rigor os deveres morais
que deve ter consigo e com seus semelhantes;
c) Pundonor militar, o sentimento de dignidade prpria com que ilustra e
dignifica a Corporao, conduzindo-se com honestidade, decncia e retido moral;
d) Decoro, a qualidade baseada no respeito prprio, dos companheiros e da
comunidade a que serve, baseado no mais digno desempenho da profisso militar;
II O militar, estando no comportamento mau, praticar uma transgresso
disciplinar gravssima ou grave, duas mdias ou trs leves, no perodo de um ano;
Publicao
Art. 31 A publicao das sanes disciplinares ser feita em Boletim Interno,
na esfera da autoridade detentora do poder disciplinar, em conformidade com o art. 10.
Oficial e Aspirante a Oficial
1 A publicao da punio imposta a Oficial ou Aspirante a Oficial dever
ser feita em Boletim Reservado, salvo se as circunstncias ou a natureza da transgresso
recomendarem o contrrio, no interesse da disciplina.
Autoridade sem Boletim
2 Quando a autoridade que aplicar a punio no dispuser de boletim, a
publicao desta dever ser feita, mediante solicitao escrita, no da autoridade a que
estiver subordinado.
Constituio do ato disciplinar
Art. 32 A aplicao da sano disciplinar consiste numa deciso
administrativa disciplinar, a qual contm uma descrio sumria, clara e precisa dos fatos e
circunstncias que determinaram a transgresso, seu enquadramento, sua motivao e a
conseqente publicao.
Enquadramento
Art. 33 Enquadramento a caracterizao da transgresso, em conformidade
com a parte especial deste Regulamento.
Nota de punio
Art. 34 Na nota de punio sero, necessariamente, mencionadas:

I A transgresso cometida e sua classificao, em termos precisos, sintticos


e a sua tipificao;
II As circunstncias agravantes e as atenuantes;
III A sano imposta;
IV A classificao do comportamento;
V A solicitao para fazer cumprir a sano disciplinar, se o punido estiver
disposio temporria de outra autoridade;
VI O local do cumprimento da sano disciplinar.
Notificao
Art. 35 Notificao o aviso formalizado por instrumento legal, que d
cincia oficialmente de ato punitivo ao infrator, ou, na hiptese de recurso, da ratificao
ou retificao do ato anterior.
Incio do prazo recursal
Art. 36 O prazo recursal passa a correr da data da publicao do ato ou da
notificao, nos casos em que ela for expressamente prevista.
Motivao
Art. 37 Motivao a razo pela qual est sendo aplicada a sano
disciplinar.
Conscientizao da autoridade e do transgressor
Art. 38 A aplicao da sano disciplinar, por maior que tenha sido a falta
cometida, deve ser feita com justia, serenidade e imparcialidade, a fim de que o
transgressor punido fique consciente e convicto de que a autoridade competente agiu no
estrito cumprimento do dever legal e que a sano visa o benefcio educativo do
transgressor e da coletividade.
Independncia da sano disciplinar
Art. 39 A sano disciplinar independe de processo civil ou criminal a que se
sujeite tambm o militar estadual, relacionado ao mesmo fato.
Concurso de crime e transgresso disciplinar
Art. 40 As instncias criminal e administrativa so independentes e podem
ser concomitantes, na ocorrncia de transgresso disciplinar residual ou subjacente ao fato.
Incio do cumprimento
Art. 41 O incio do cumprimento da sano disciplinar, dar-se- aps a
publicao do ato, conforme for nele estabelecido, ressalvada a hiptese do 2 do Art.
11..
Contagem do tempo
Art. 42 A contagem do tempo de cumprimento de sano disciplinar vai do
momento em que o punido for recolhido at aquele em que for posto em liberdade,
computado hora a hora.
Transgressor disposio ou a servio de outra autoridade
Art. 43 A autoridade especificada em um dos incisos do Art. 10, que punir
seu subordinado com deteno, estando este disposio ou a servio temporrio de outra
autoridade, solicitar a esta que adote as providncias para o cumprimento da sano.

Militar Estadual afastado do servio


Art. 44 O cumprimento de punio disciplinar, por militar estadual afastado
do servio, dever ocorrer aps a sua apresentao pronto na OME, salvo nos casos do
2, do art. 11.
Interrupo de afastamento
Art. 45 A interrupo da licena especial, licena para tratar de assuntos
particulares, licena para tratamento de sade de pessoa da famlia, frias ou outros
afastamentos temporrios, para fim de cumprimento de sano disciplinar, somente
ocorrer quando autorizada pelas autoridades referidas nos incisos I e II, do art. 10.
Cumprimento de sano por militar estadual inativo
Art. 46 O militar estadual da inatividade cumprir suas sanes disciplinares
na OME mais prxima de sua residncia.
Ininterrupo do cumprimento de sano disciplinar
Art. 47 No ser interrompido o cumprimento de sano disciplinar, exceto
na supervenincia de afastamentos de carter obrigatrio previstos em lei.
Baixa hospitalar ou em locais similares
1 Hospitais, enfermarias ou clnicas, podero servir como locais para
cumprimento de sano disciplinar, desde que haja determinao mdica expressa.
Parecer mdico com permanncia em residncia
2 O militar estadual, que estiver em cumprimento de sano disciplinar e
obtiver parecer mdico para que permanea em residncia, no ter seu cumprimento
suspenso.

CAPTULO IV

Reviso do Processo Disciplinar

Reviso do Processo
Art. 48 O processo disciplinar poder ser revisto, a pedido, no prazo de cento
e vinte (120) dias, ou "ex-officio", no prazo de dois (02) anos, desde que sejam
apresentados indcios de que:
I o ato disciplinar tenha sido contrrio ao texto expresso deste Regulamento
ou evidncia dos autos;
II o ato disciplinar tenha se baseado em depoimentos, exames ou documentos
comprovadamente falsos;
III aps o ato disciplinar, foram descobertas novas provas de inocncia do
militar estadual ou de circunstncia que determine ou autorize diminuio especial da
sano disciplinar.
Reiterao do pedido
Pargrafo nico No ser admissvel a reiterao do pedido, salvo se fundado
em provas novas.
Competncia para o pedido de reviso

Art. 49 A reviso poder ser pedida pelo prprio militar ou por procurador
legalmente habilitado.
Modificao
Art. 50 A modificao da aplicao de sano disciplinar pode ser realizada
pela autoridade que a aplicou ou por outra, superior e competente, discriminada no Art. 10,
desde que devidamente motivada, quando a sano disciplinar aplicada estiver alm ou
aqum do limite mximo e mnimo legal, ou ainda quando houver injustia ou ilegalidade
na sua aplicao.
Avocao
Art. 51 A autoridade superior quela que aplicou a sano disciplinar, ao
concluir que a mesma deve ser agravada ou atenuada, poder avocar para si a soluo e
agrav-la ou atenu-la, dentro dos limites legais, desde que devidamente motivada.
Formas de modificao
Art. 52 As modificaes da aplicao da sano disciplinar so:
I A anulao;
II A atenuao;
III A agravao.
Anulao
Art. 53 A anulao da sano disciplinar consiste na declarao de invalidade
do ato punitivo ilegtimo ou ilegal, retroagindo seus efeitos sua origem, invalidando as
conseqncias passadas, presentes e futuras do ato anulado.
Eliminao de registro
1 A anulao da sano disciplinar deve eliminar todo e qualquer registro
referente quele ato nas alteraes do militar estadual.
Concesso durante o cumprimento de deteno
2 A anulao, sendo concedida ainda durante o tempo de cumprimento da
deteno, importa na colocao imediata do militar estadual em liberdade.
Reverso em folga
3 Havendo a anulao de deteno, o perodo j cumprido ser revertido
em dobro, em folga.
Atenuao
Art. 54 A atenuao de sano disciplinar consiste na transformao da
punio proposta ou aplicada em uma menos rigorosa, se assim o exigir o interesse da
disciplina e da ao educativa do punido, respeitados os limites previstos para a falta neste
Regulamento.
Agravao
Art. 55 A agravao de punio disciplinar consiste na transformao da
punio proposta ou aplicada em uma mais rigorosa, se assim exigir o interesse da
disciplina e da ao educativa do punido, respeitados os limites previstos para a falta neste
Regulamento.
Prazo para agravao
Art. 56 Findo o prazo de quinze (15) dias, aps a data da publicao da
sano aplicada, ela no mais poder ser agravada.

TTULO III

COMPORTAMENTO MILITAR ESTADUAL

CAPTULO NICO

Classificao do Comportamento

Comportamento
Art. 57 O comportamento militar espelha o procedimento civil e funcional da
praa, sob o ponto de vista disciplinar.
Competncia
1 A classificao de comportamento da competncia das autoridades
elencadas no art. 10, obedecido o disposto neste Captulo.
Comportamento inicial
2 Ao ingressar na Instituio Militar Estadual, a praa ser classificada no
comportamento militar bom.
Espcies de comportamento
Art. 58 O comportamento da praa deve ser classificado em:
I Excepcional - quando no perodo de seis anos de efetivo servio no tenha
sofrido qualquer sano disciplinar;
II timo - quando no perodo de quatro anos de efetivo servio tenha sido
punida, no mximo, em decorrncia da prtica do equivalente a uma transgresso
classificada como mdia;
III Bom - quando no perodo de dois anos de efetivo servio, tenha sido
punida em decorrncia da prtica do equivalente a menos de uma transgresso classificada
como gravssima;
IV Insuficiente - quando no perodo de um ano de efetivo servio, tenha sido
punida em decorrncia da prtica do equivalente a at uma transgresso classificada como
gravssima;
V Mau - quando no perodo de um ano de efetivo servio, tenha sido punida
em decorrncia da prtica do equivalente a mais de uma transgresso classificada como
gravssima.
Equivalncia das transgresses
1 Apenas para efeito do que trata este artigo, deve-se fazer a seguinte
correlao:
I Duas transgresses leves equivalem a uma mdia;
II Duas transgresses mdias equivalem a uma grave;
III Duas transgresses graves equivalem a uma gravssima.
Casos de condenao
2 Para efeito do que trata este artigo:
I A condenao transitada em julgado por prtica de crime implicar na
classificao no comportamento militar "mau", mesmo nos casos de prescrio da pena
imposta;

II A condenao transitada em julgado por prtica de contraveno penal


equivaler a uma transgresso gravssima.
Classificao do comportamento
Art. 59 A classificao do comportamento das praas ser feita ex-officio, de
acordo com os prazos e critrios estabelecidos no artigo anterior, tendo como base a data
de publicao da sano disciplinar imposta.
Caso de condenao por crime
1 Quando se tratar de condenao por crime, o prazo para a modificao
da classificao do comportamento ter como base a data do encerramento do
cumprimento da pena, devendo ser observado o seguinte:
I Concedida a suspenso condicional por tempo superior ao da pena, aps o
seu trmino considerar-se- tambm a data em que se daria o encerramento da pena
concreta, como se ela tivesse sido cumprida,;
II Declarada a prescrio da pena imposta, a base ser a data da sentena.
Modificao da classificao do comportamento
2 A modificao da classificao do comportamento s ocorrer quando
atingidos os ndices previstos para comportamento inferior ou superior, permanecendo a
praa naquele em que estiver classificada enquanto isso no ocorrer.
Publicidade da modificao de classificao
Art. 60 A modificao da classificao de comportamento ser formalizada
com a publicao em boletim interno da OME, por meio de uma Nota de Classificao de
Comportamento.

TTULO IV

DIREITOS E RECOMPENSAS

CAPTULO I

Recursos
Interposio de recurso objetivo
Art. 61 Todo militar estadual que se julgue, ou julgue subordinado seu,
prejudicado ou injustiado por superior hierrquico, na esfera disciplinar, tem o direito de
interpor recurso disciplinar objetivando reverter a situao.
Tipos de recursos
Pargrafo nico So recursos disciplinares:
I O Pedido de Reconsiderao de Ato;
II A Representao.
Reconsiderao de ato
Art. 62 Reconsiderao de ato o recurso interposto, mediante requerimento,
por meio do qual o militar estadual, que se julgue, ou julgue subordinado seu, prejudicado
ou injustiado, solicita autoridade que praticou o ato o reexame de sua deciso.

Encaminhamento
1 O pedido de reconsiderao de ato poder ser encaminhado diretamente
autoridade que praticou o ato.
Prazo para apresentao
2 O pedido de reconsiderao de ato deve ser apresentado no prazo de
quinze (15) dias, a contar da data de publicao da sano imposta.
Prazo para deciso
3 A autoridade competente a quem dirigido o pedido de reconsiderao
de ato dever decidir no prazo de oito (08) dias teis, contados da data de entrada do
recurso.
Representao
Art. 63 Representao o recurso disciplinar interposto, mediante
requerimento do prprio ofendido, ou por autoridade que julgue subordinado seu estar
sendo vtima de ofensa, injustia, ilegalidade ou prejudicado em seus direitos, por ato de
autoridade superior, dirigido diretamente ao superior imediato desta autoridade.
Afastamento da subordinao
1 A critrio da autoridade superior o ofendido poder ser afastado da
subordinao direta da autoridade contra quem foi formulado o recurso, at que o mesmo
seja julgado.
Prazos da representao
2 Aplicam-se representao os prazos estabelecidos nos pargrafos 2 e
3 do artigo anterior.
Efeito suspensivo
Art. 64 A autoridade competente para apreciar o recurso poder, vendo
razes para isso, receb-lo com efeito suspensivo, quando ento o incio do cumprimento
da sano ficar condicionado publicao da soluo do recurso.

Apresentao de recurso
Art. 65 A apresentao de recurso disciplinar deve ser feita individualmente,
tratar de caso especfico, cingir-se aos fatos que o motivaram e sem utilizar comentrios
ofensivos autoridade.
Situao Excepcional
1 O incio da contagem do prazo para apresentao de recurso disciplinar
pelo militar estadual ser:
I da data em que cessar a situao impeditiva, quando estiver executando
servio ou ordem que o impea de apresent-lo;
II da data de sua apresentao ou da notificao, quando estiver afastado
temporariamente do servio.
Recurso prejudicado
2 O recurso disciplinar que contrarie o prescrito neste Captulo
considerado prejudicado pela autoridade a quem foi destinado, cabendo a esta mandar
arquiv-lo e publicar sua deciso em boletim, dando cincia, por notificao, ao
interessado.

CAPTULO II

Reabilitao

Reabilitao
Art. 66 Reabilitao o direito concedido ao militar estadual de ser
reabilitado, tendo apagadas a averbao de sanes disciplinares e outras notas a elas
relacionadas, em seu cadastro, assegurando-lhe o sigilo dos registros sobre seu processo e
sano disciplinar.
Prazos da reabilitao
Art. 67 A reabilitao ocorrer, ex-officio, decorridos os seguintes prazos,
tendo como base a data da publicao da sano disciplinar imposta, sem que o militar
estadual tenha sofrido qualquer punio disciplinar:
I Cinco (05) anos, quando a sano for pela prtica de transgresso
classificada como gravssima;
II Quatro (04) anos, quando a sano for pela prtica de transgresso
classificada como grave;
III Trs (03) anos, quando a sano for pela prtica de transgresso
classificada como mdia;
IV Dois (02) ano, quando a sano for pela prtica de transgresso
classificada como leve.
Forma de publicidade da reabilitao
1 A Nota de Reabilitao ser publicada em boletim competente.
Eliminao das anotaes
2 A eliminao das anotaes nas fichas disciplinares ser com o
tingimento de todas as anotaes de modo que no seja possvel a sua leitura, registrandose apenas o nmero e a data do boletim que publicou o ato administrativo que formalizou a
reabilitao, procedendo-se de forma anloga em outros sistemas de registro existentes.

CAPTULO III

Recompensas

Recompensas
Art. 68 Recompensas constituem reconhecimento por bons servios
prestados por militar estadual.
Tipos de recompensas
Art. 69 Alm de outras previstas em leis e regulamentos especiais, so
recompensas aos militares estaduais:
I O elogio individual;
II As dispensas do servio.
Elogio individual
Art. 70 O elogio individual, que coloca em relevo as qualidades morais e
profissionais, somente poder ser formulado a militar estadual que se haja destacado do

resto da coletividade, no desempenho de ato de servio, ao meritria ou ato de bravura,


pelas autoridades especificadas no artigo 10.
Publicidade e registro de elogios
1 Todos os elogios individuais, publicados em boletim, sero registrados
nos assentamentos do militar estadual, devendo ser divulgados aos integrantes da OME
onde servir o militar estadual elogiado.
Publicao em boletim
2 Quando a autoridade que conceder elogio no dispuser de boletim para
sua publicao, esta deve ser feita, mediante solicitao por escrito, no da autoridade
imediatamente superior.
Dispensa do servio
Art. 71 A dispensa do servio como recompensa pode ser concedida pelas
autoridades constantes do artigo 10.
Perodo mximo de dispensa
Art. 72 A dispensa do servio, como recompensa, poder ser concedida por
at oito (08) dias, ininterruptos, no podendo ultrapassar o total de dezesseis (16) dias no
decorrer de um ano civil, no invalidando o direito a frias.
Autoridade competente para anular, restringir ou ampliar
Art. 73 So competentes para anular, restringir ou ampliar as recompensas
concedidas por si ou seus subordinados, as autoridades especificadas no artigo 10, devendo
esta deciso ser motivada em boletim, dentro do prazo de cinco (05) dias teis contados da
data de sua concesso.
Limite de restrio da dispensa do servio
Pargrafo nico A dispensa do servio como recompensa poder ser
restringida at no mximo a metade.

TTULO V

PROCESSO E PROCEDIMENTO

CAPTULO I

Disposies Preliminares

Processo Administrativo Disciplinar


Art. 74 O Processo Administrativo Disciplinar (PAD) o conjunto de atos,
executados cronologicamente, para investigar fato definido neste Regulamento ou em outra
legislao como transgresso disciplinar, garantindo-se ao acusado o direito de ampla
defesa e do contraditrio, a fim de que a autoridade competente obtenha elementos
suficientes para sua convico e deciso sobre a aplicao de sano disciplinar.
Ritos
Art. 75 O PAD rege-se pelo rito ordinrio e pelo rito sumrio.
Rito Ordinrio

1 O PAD ter rito ordinrio para apurao de transgresses disciplinares e


julgamento do acusado, nas hipteses previstas no artigo 30, Incisos I e II, ou em outros
casos, a critrio da autoridade competente.
Rito sumrio
2 O PAD ter rito sumrio para apurao de transgresses disciplinares e
julgamento do acusado, exceto nas situaes do pargrafo anterior.
Conselho de Disciplina e Conselho de Justificao
Art. 76 Os processos disciplinares relativos ao Conselho de Disciplina e ao
Conselho de Justificao fundamentar-se-o na legislao especfica que os instituiu.
Normas prprias
Pargrafo nico As causas determinantes que levam o militar estadual a ser
submetido a um destes Conselhos, ex-officio ou a pedido, e as condies para sua
instaurao, funcionamento e providncias decorrentes, esto estabelecidas na legislao
que dispe sobre os citados Conselhos.

CAPTULO II

Competncia

Competncia
Art. 77 A competncia processual disciplinar na PMES e no CBMES ser
exercida pelas autoridades militares estaduais enumeradas no artigo 10, respeitadas as
normas deste Regulamento e o poder de avocao das autoridades superiores e da
Corregedoria.
Delegao
1 Obedecidas as normas regulamentares de circunscrio, hierarquia e
comando, as atribuies para instaurar processo disciplinar podero ser delegadas a militar
estadual para fins especificados e por tempo limitado, vedada a delegao de competncia
para julgamento do processo.
Restrio autoridade disciplinar e processante
2 Quando a autoridade competente para determinar a instaurao do
processo disciplinar e aplicar sano disciplinar ao infrator exercer, por iniciativa prpria, a
funo de Encarregado, ficar, automaticamente, impedida de emitir deciso final no
processo e punir o infrator, repassando-se esta competncia autoridade hierarquicamente
superior e competente.
Conflito de atribuies entre autoridades
3 Quando duas autoridades de nveis hierrquicos diferentes, ambas com
competncia para determinar a instaurao de processo disciplinar e aplicar sano
disciplinar ao infrator, tomarem conhecimento da prtica de transgresso disciplinar cabe
s de nvel hierrquico inferior determinar a instaurao do processo disciplinar, a fim de
evitar a supresso de instncia administrativa da autoridade de menor nvel.
Obrigatoriedade de instaurao do PAD
Art. 78 A autoridade militar estadual que tiver cincia de irregularidades no
mbito de sua subordinao obrigada a promover a apurao imediata, mediante processo
administrativo disciplinar, assegurando ao acusado o contraditrio e a ampla defesa.

Justa causa para a instaurao de PAD


Art. 79 A determinao para instaurao de processo administrativo
disciplinar, com designao de Encarregado, somente ocorrer se houver prova de fato
que, em tese, constitua infrao disciplinar e indcios suficientes de autoria.

CAPTULO III

Denncia e Comunicao de Infrao Disciplinar

Denncia
Art. 80 As denncias sobre infraes disciplinares sero objeto de apurao,
desde que contenham a identificao, assinatura e o endereo do denunciante e sejam
formuladas por escrito, confirmada a autenticidade.
Comunicao
1 As comunicaes de irregularidades feitas por militar estadual
obedecero as normas internas de correspondncia, com tramitao regular atravs dos
canais de comando.
Anonimato
2 Os fatos denunciados de forma annima sero objeto de levantamento
pelos setores competentes da PMES e do CBMES, cujo resultado, quando procedente, ser
comunicado na forma do 1.
Proibio de juntada
3 A denncia annima no caracteriza prova documental, no podendo ser
juntada em comunicao, sindicncia ou processo administrativo disciplinar.
Prova impertinente
4 O documento da denncia que no contiver assinatura, identificao e o
endereo do denunciante ser caracterizado como prova impertinente.
Arquivamento da denncia
5 Quando o fato no constituir infrao disciplinar ou ilcito penal, a
denncia ser arquivada, por falta de objeto.

CAPTULO IV

Sindicncia

Instaurao de sindicncia
Art. 81 A autoridade competente para aplicar sano disciplinar, nos termos
deste Regulamento, no havendo elementos suficientes para instaurao de processo
disciplinar, por falta de indcios da autoria ou no estar caracterizada adequadamente, em
tese, a infrao disciplinar, poder determinar, preliminarmente, a instaurao de
sindicncia, designando autoridade sindicante, com o prazo mximo de 15 (quinze) dias,
prorrogvel por at igual perodo, para sua concluso.
Resultado da sindicncia
Art. 82 Da sindicncia poder resultar:

I O arquivamento dos autos;


II A adoo de medidas administrativas;
III A instaurao de processo administrativo disciplinar;
IV A instaurao de Inqurito Policial Militar ou encaminhamento
autoridade competente, se concludo haver indcio de crime.
1 Sendo a sindicncia procedimento inquisitrio de apurao, onde no h
contraditrio, quando resultar em imputao de responsabilidade disciplinar, a aplicao da
sano disciplinar depender da instaurao de processo administrativo disciplinar de rito
ordinrio ou sumrio.
2 Quando a imputao de responsabilidade disciplinar resultar de Inqurito
o procedimento ser anlogo ao previsto no pargrafo anterior.

CAPTULO V

Processo Administrativo Disciplinar de Rito Ordinrio

Seo I

Generalidades

Prazo para concluso


Art. 83 O prazo para concluso do Processo Administrativo Disciplinar
PAD de Rito Ordinrio ser de trinta dias, contados a partir do primeiro dia til aps
aquele em que a autoridade processante receber a portaria delegatria.
Prorrogao de prazo
1 O prazo previsto no caput poder ser prorrogado por at 20 (vinte) dias,
a critrio da autoridade delegante, quando no estejam concludos exames ou percias j
iniciados, ou haja necessidade de novas diligncias, indispensveis elucidao do fato.
Pedido de prorrogao
2 O pedido de prorrogao deve ser feito at cinco dias antes da concluso
do prazo preestabelecido.
Necessidades de exames, percias, precatrias e outras diligncias
3 A autoridade delegante poder determinar o sobrestamento do processo
disciplinar, permanecendo este em mos do Encarregado, por prazo determinado, enquanto
aguarda a realizao de percias, exames, precatrias e outras diligncias imprescindveis
ao esclarecimento do fato investigado.
Forma
Art. 84 As peas do processo sero datilografadas ou produzidas por
qualquer outro meio de impresso, em espao dois e reunidas por ordem cronolgica,
sendo numeradas e rubricadas pelo secretrio.
Competncia processual delegada
Art. 85 A competncia processual tem incio aps a publicao da respectiva
portaria delegatria em boletim e se efetiva com a entrega ao Encarregado, juntamente com
a documentao que motivou a instaurao do processo disciplinar.

Incio do processo
Art. 86 O Encarregado do PAD dever iniciar o processo imediatamente aps
tomar conhecimento oficial da designao, com o recebimento da portaria delegatria.

Seo II

Encarregado do Processo

Encarregado do Processo
Art. 87 O PAD ordinrio ter como Encarregado oficial hierarquicamente
superior ao acusado, designado mediante portaria delegatria, podendo ainda o processo
ser avocado pela Corregedoria.
Encarregado de mesmo posto
1 Em casos excepcionais, poder ser designado como Encarregado, oficial
do mesmo posto que o acusado, desde que mais antigo.
Infrao disciplinar diversa
2 Se, no decorrer do processo, o Encarregado averiguar a existncia de
outra infrao disciplinar, diversa daquela que lhe foi determinado apurar, imputvel ao
acusado, dever informar, obrigatoriamente, este fato, autoridade delegante, que poder
tomar uma das seguintes providncias:
I Aditar a portaria delegatria inicial, atribuindo competncia ao Encarregado
para investigar igualmente esta outra infrao disciplinar imputada ao acusado;
II Editar nova portaria, designando outro Encarregado para apurar esta outra
infrao disciplinar imputada ao acusado.
Dedicao integral
Art. 88 Se necessrio, o Encarregado poder ser dispensada de suas funes
normais, para que possa dedicar-se, com exclusividade, aos trabalhos do processo, at a
entrega do relatrio final.
Polcia das sesses
Art. 89 O Encarregado prover a regularidade do processo e a execuo da
lei e manter a ordem no curso dos respectivos atos, podendo determinar o que for
conveniente manuteno da ordem.
Independncia e imparcialidade da autoridade processante
Pargrafo nico O Encarregado exercer suas atividades com absoluta
independncia e imparcialidade.
Competncias do Encarregado
Art. 90 Compete ao Encarregado do Processo colher todas as provas que
sirvam para o esclarecimento do fato e suas circunstncias, adotando, se necessrio, as
seguintes providncias:
I Ouvir denunciantes, ofendido, testemunhas e acusados;
II Proceder reconhecimento de pessoas ou coisas;
III Proceder acareaes;
IV Determinar a realizao de provas e exames periciais que julgar
necessrios ou quando solicitados;

V Proceder buscas e apreenses, na forma legal;


VI Determinar a avaliao e identificao de coisa subtrada, desviada,
destruda ou danificada, ou da qual houve indbita apropriao;
VII Tomar medidas necessrias destinadas proteo de testemunhas, peritos
ou do ofendido, quando coatos ou ameaados de coao que lhes tolha a liberdade de
depor, ou a independncia para a realizao de percias ou exames.
Sigilo
Art. 91 O Encarregado do Processo assegurar o sigilo necessrio
elucidao do fato ou exigido para defesa da intimidade ou do interesse social, respeitando,
todavia, o direito do defensor ter vista do processo em repartio.
Suspeio
Art. 92 A autoridade delegante poder declarar a suspeio do Encarregado
do Processo, a seu critrio, ou a pedido do Acusado, ou do prprio Encarregado, quando
este:
I for amigo ntimo ou inimigo do acusado;
II for cnjuge, companheiro ou parente, consangneo ou afim, at terceiro
grau inclusive, do acusado;
III tiver comunicado a irregularidade.
Revogao de delegao
Pargrafo nico No caso do Encarregado ser declarado suspeito ou, por
motivo de fora maior, no puder mais funcionar no processo, a autoridade delegante, por
meio de outra portaria, revogar a delegao anterior e delegar poderes a outro
Encarregado, mantendo-se todos os atos legalmente praticados at ento.
Nomeao de secretrio
Art. 93 A nomeao do militar estadual para atuar como secretrio no
processo administrativo disciplinar de rito ordinrio poder ser feita pela autoridade
delegante ou pelo seu Encarregado.
Atribuies do secretrio
Pargrafo nico Alm das atribuies tpicas de escrivo e de oficial de
justia nos processos, ao secretrio incumbir outras tarefas que lhe forem ordenadas pelo
Encarregado do Processo.

Seo III

Defensor

Defensor
Art. 94 No PAD de rito ordinrio, o acusado, ainda que ausente, no poder
ser processado ou julgado administrativamente sem defensor.
Defensor ad-hoc
1 Se o acusado no tiver constitudo, ser-lhe- nomeado defensor pelo
Encarregado do Processo, ressalvado o seu direito de, a todo tempo, nomear outro de sua
confiana.
Do defensor nomeado

2 O defensor nomeado pelo Encarregado do Processo ser militar estadual,


de posto ou graduao superior ao acusado, ou mais antigo, se de mesmo posto.
Defesa prpria
3 O acusado poder manifestar seu interesse, por escrito, para promover a
sua prpria defesa.
Intimao do defensor
4 O defensor poder participar de todos os atos do processo, ficando o
acusado responsvel pela sua notificao.
Nomeao provisria de defensor
5 A falta de comparecimento do defensor, ainda que motivada, no
determinar o adiamento de qualquer ato do processo, devendo o Encarregado do Processo
nomear substituto, ainda que provisoriamente, ou s para efeito daquele ato.
Constituio de defensor
6 A constituio de defensor pelo acusado ser feita, por meio de
procurao quando se tratar de advogado, e por indicao nos autos do processo, quando
for outro militar estadual.

Seo IV

Fases do Rito Ordinrio

Fases do rito ordinrio


Art. 95 O processo administrativo disciplinar com rito ordinrio desenvolverse- nas seguintes fases, assegurando-se ao acusado o contraditrio e a ampla defesa:
I Instaurao;
II Defesa prvia, no prazo de trs dias;
III Instruo;
IV Alegaes finais, no prazo de trs dias;
V Relatrio, contendo o julgamento do Encarregado do Processo sobre a
culpabilidade do acusado.
Obs.: J com nova redao dada pelo Art. 2 do DECRETO 634-R , de 02 de abril de
2001.
Roteiro do PAD de rito ordinrio
Pargrafo nico O roteiro do processo administrativo disciplinar com rito
ordinrio o constante do Anexo I.
Dispensa de fases do processo
Art. 96 Se o acusado, no momento de apresentar a defesa prvia, confessar,
por escrito ou mediante declarao reduzida a termo, em presena de pelo menos duas
testemunhas e/ou seu defensor, a autoria e a prtica da transgresso que lhe imputada, o
Encarregado do Processo produzir o relatrio dos autos, dispensando as demais fases
processuais, encaminhando o processo autoridade delegante, para deciso sobre a
aplicao de sano disciplinar.
Inocncia
1 Quando o Encarregado do Processo concluir, ante a defesa prvia, pela
inocncia do acusado, produzir o relatrio dos autos, dispensando as demais fases
processuais, e encaminhar o processo autoridade delegante que, concordando, o

solucionar determinando o seu arquivamento, ou, discordando, o devolver para que


sejam cumpridas todas as suas fases, descontando-se dos prazos o tempo dessa tramitao.
Proibio
2 Para a aplicao do licenciamento a bem da disciplina, o processo dever
concluir todas as suas fases, ainda que tenha ocorrido a confisso do acusado.

Seo V

Instaurao

Instaurao
Art. 97 A instaurao formalizada pela autuao da portaria, qual devero
estar juntadas cpias da denncia ou comunicao, do libelo acusatrio e da ficha
funcional do acusado, e se efetiva com a citao vlida.
Libelo acusatrio
Art. 98 O Encarregado do Processo formular o libelo acusatrio, por escrito,
expondo o fato, com suficiente especificidade, de modo a delimitar o objeto da
controvrsia e a permitir a plenitude da defesa.
Contedo do Libelo Acusatrio
1 O Libelo Acusatrio conter:
I O nome do acusado;
II A exposio, deduzida por artigo(s), da(s) transgresso(es) disciplinar(es)
imputada(s) ao acusado;
III A indicao das circunstncias agravantes e de todos os fatos que devam
influir na aplicao da sano disciplinar;
IV O rol de testemunhas, se houver;
V O nome e a assinatura do Encarregado do Processo.
Mais de um acusado
2 Havendo mais de um acusado, o Libelo dever especificar a forma de
participao de cada infrator na(s) transgresso(es) disciplinar(es) a ser(em) apurada(s).
Citao
Art. 99 O Encarregado do Processo citar ou mandar citar o acusado, para
apresentar sua defesa prvia, e se ver processar at o julgamento final, bem como para
acompanhar todos os demais atos do processo.
Mandado de citao
1 O mandado de citao ser, obrigatoriamente, acompanhado de cpia do
Libelo Acusatrio e demais documentos que motivaram a instaurao do processo
disciplinar, a fim de que o acusado saiba efetivamente o que lhe est sendo imputado.
Meio para citao
2 A citao far-se- pelo Secretrio:
I mediante mandado, quando o acusado estiver servindo na mesma OME do
Encarregado do Processo;
II mediante precatria ou requisio ao comandante do acusado, quando ele
estiver servindo em OME distinta da OME do Encarregado do Processo;
III por edital:
a) quando o acusado se ocultar ou opuser obstculo para no ser citado;

b) quando no for encontrado;


c) quando estiver em lugar incerto ou no sabido.
Certificao
3 Nos casos das letras a, b e c do inciso III do pargrafo anterior, o
secretrio, depois de procurar o acusado por duas vezes, em dias diferentes, certificar,
cada vez, a impossibilidade da citao pessoal e o motivo.
Requisito da citao
4 A citao conter cpia do Libelo Acusatrio, dia e hora para o
comparecimento e advertncia de que no comparecendo o acusado, salvo provas
convincentes em contrrio, considerar-se-o verdadeiras as acusaes contidas no Libelo,
se no forem contestadas na defesa prvia.
Comparecimento espontneo
5 O comparecimento espontneo do acusado suprir a falta ou nulidade da
citao.
Suspenso de prazos
6 Caso o acusado encontre-se em situao, atestada por Junta Militar de
Sade, impeditiva de responder ao processo, ou internado, mesmo que em residncia, todos
os prazos sero suspensos, mediante registro nos autos.
Acusado preso
7 Estando o acusado preso, ser requisitada autoridade responsvel a sua
apresentao perante o Encarregado do Processo em dia e hora designados.

Seo VI

Defesa Prvia

Prazo para defesa prvia


Art. 100 Citado do Libelo Acusatrio e demais documentos do processo
disciplinar, o acusado ter prazo de trs (03) dias para apresentar defesa escrita, por si s
ou por seu defensor, assegurando-se-lhe vistas do processo na repartio.
Obs.: J com nova redao dada pelo Art. 2 do DECRETO N 634-R, de 02 de abril
de 2001.
Recusa do acusado
1 A recusa do acusado em apor o ciente na cpia da citao ser
certificada pelo secretrio, ou pessoa encarregada de efetuar a citao, que relacionar duas
(02) testemunhas.
Contagem de prazo para defesa
2 Na hiptese do pargrafo anterior, o prazo para defesa contar-se- do
primeiro dia til aps a juntada da certido nos autos.
Defesa prvia
Art. 101 Na defesa prvia, o acusado poder arrolar testemunhas, juntar
documentos e requerer as diligncias que julgue necessrias para o esclarecimento dos
fatos e sua defesa.
Fatos no contestados ou ausncia de contestao

Art. 102 A defesa prvia, que ser escrita, dever conter toda matria de
defesa, reputando-se verdadeiros os fatos, constantes do Libelo Acusatrio, no
contestados pelo acusado, desde que no sejam contrrios s provas dos autos.

Seo VII
Instruo

Citao vlida
Art. 103 Estabelecida a relao processual, com a citao vlida, o
Encarregado do Processo, na fase da instruo, promover a tomada de depoimentos,
acareaes, investigaes e diligncias cabveis, objetivando a coleta de prova, recorrendo,
quando necessrio, a tcnicos e peritos, de modo a permitir a completa elucidao dos
fatos.
Contraditrio e ampla defesa
Art. 104 A instruo assegurar ao acusado o contraditrio e a ampla defesa,
com a utilizao dos meios e recursos admitidos em direito.
Juntada de documentos
1 Em qualquer fase do processo ser admitida a juntada de documentos.
Meios de prova
2 Todos os meios de prova moralmente legtimos, ainda que no
especificados em lei, so cabveis para provar a veracidade dos fatos alegados no processo.
Denegao de pedidos
3 O Encarregado do Processo poder denegar pedidos considerados
impertinentes, meramente protelatrios, ou de nenhum interesse para o esclarecimento dos
fatos.
Prova pericial
4 Ser indeferido o pedido de prova pericial, quando a comprovao do
fato independer de conhecimento especial de perito.
Perodo para inquiries
Art. 105 As testemunhas, ofendido e acusado, exceto em caso de urgncia,
sero ouvidos no perodo compreendido entre sete (07:00) e dezoito (18:00) horas.
Notcia de transgresso disciplinar
Art. 106 Cpias de autos de sindicncia e de inqurito policial, policialmilitar ou tcnico, que noticiarem transgresso disciplinar praticada por militar estadual,
podero integrar o processo disciplinar, como pea informativa da instruo.
Inquirio do ofendido e denunciante
Art. 107 Sempre que possvel, o ofendido e o denunciante ou comunicante
sero qualificados e perguntados sobre as circunstncias da transgresso disciplinar, quem
seja ou presuma ser seu autor, as provas que possam indicar, tomando-se por termos as
suas declaraes, no lhes sendo exigido o compromisso.
Declaraes Contradita pelo acusado/defensor
Art. 108 As declaraes do ofendido ou do denunciante ou comunicante e das
testemunhas sero feitas na presena do acusado/defensor, que poder contradit-las, no

todo ou em parte, aps a sua concluso, bem como requerer ao Encarregado do Processo
que esclaream ou tornem mais precisas quaisquer das suas declaraes, podendo,
inclusive fazer perguntas, por intermdio do Encarregado do Processo.
Intimao de testemunhas
Art. 109 As testemunhas sero notificadas a depor em dia e hora previamente
designados, mediante notificao expedida pelo Encarregado do Processo, devendo a
segunda via, com o recibo da contraf, ser anexada aos autos.
Comparecimento de testemunha
1 As testemunhas podero comparecer audincia independentemente de
notificao, ou mediante esta, se assim for requerido no prazo de cinco( 05 ) dias antes da
audincia marcada.
Testemunha servidor pblico
2 Se a testemunha for servidor pblico, a expedio do mandado ser
imediatamente comunicada ao chefe da repartio onde estiver lotado, com a indicao do
dia e hora marcados para inquirio.
Militares
3 Os militares sero requisitados autoridade a que estiverem
subordinados.
Inquirio de testemunha
4 As testemunhas sero inquiridas cada uma de per si, separadamente, de
modo que uma no possa ouvir o depoimento da outra.
Ordem de inquirio
5 Primeiramente sero inquiridas as testemunhas da acusao e depois as
da defesa.
Nmero de testemunhas
6 Para cada fato sero arroladas, no mximo, trs testemunhas de
acusao, facultando-se, igualmente, a cada acusado a indicao de at trs testemunhas de
defesa, por fato apurado, podendo o Encarregado do Processo ouvir outras, se entender
necessrio para melhor elucidar os fatos.
No comparecimento de testemunha
7 Se notificada para esse fim deixar de comparecer, sem justo motivo:
I Sendo integrante da Corporao, alm de ser conduzida coercitivamente
presena do Encarregado do Processo por requisio deste, ser responsabilizada pelo ato;
II No sendo integrante da Corporao, e sendo testemunha da defesa ou da
acusao, cabe respectiva parte apresent-la, em nova data a ser definida pelo
Encarregado do Processo, e havendo reiterao da ausncia, no mais ser ouvida, salvo
motivo de fora maior, devidamente comprovado.
Oralidade
Art. 110 O depoimento ser prestado oralmente e reduzido a termo, no
sendo lcito testemunha traz-lo por escrito.
Notificao do depoimento das testemunhas
Art. 111 O acusado ser notificado do dia e hora dos depoimentos das
testemunhas.
Inquirio pelo defensor
1 Ser facultado ao defensor a reinquirio das testemunhas, por
intermdio do Encarregado do Processo, durante o respectivo depoimento.
Perguntas impertinentes ou ofensivas

2 O Encarregado do Processo poder indeferir as perguntas impertinentes,


ofensivas ou que no tenham relao com os fatos a serem apurados.
Ausncia das partes
3 O no comparecimento do acusado ou seu defensor no impedem a oitiva
das testemunhas, devendo o Encarregado do Processo nomear defensor ad hoc para esse
ato especfico.
Constrangimento da testemunha
Art. 112 Verificando o Encarregado do Processo que a presena do acusado,
pela sua atitude, possa influir no nimo da testemunha, dever adverti-lo formalmente,
fazendo o registro nos autos, e, em persistindo na conduta, dever retir-lo do recinto,
permanecendo seu defensor.
Constrangimento pelo acusado-defensor
1 Estando o acusado fazendo a sua prpria defesa, ser este alertado que
poder ser retirado do recinto, sendo-lhe, neste caso, nomeado defensor ad hoc.
Registro
2 Em qualquer hiptese deste artigo, ser reduzida a termo a ocorrncia,
constando os motivos que ensejaram a providncia tomada.
Intimao dos atos em audincia
Art. 113 Aps regularmente citado dos atos praticados em audincia
considerar-se- o acusado ciente, desde logo, para o prximo ato processual.
Interrogatrio do acusado
Art. 114 Somente aps o interrogatrio do acusado o Encarregado do
Processo far a inquirio das testemunhas, exceto se for inadivel a oitiva anterior, por
motivo de fora maior, ou na hiptese de revelia.
Registro nos autos
1 Em qualquer das hipteses do caput, o motivo da oitiva anterior ser
registrado no termo de inquirio.
Interveno
2 O interrogatrio ser feito pelo Encarregado do Processo, no sendo
permitida a interveno de qualquer outra pessoa.
Questes de ordem
3 Findo o interrogatrio, podero ser levantadas questes de ordem, que o
Encarregado do Processo far consignar no auto, se assim lhe for requerido.
Mais de um acusado
4 Havendo mais de um acusado, ser cada um deles interrogado
separadamente, de modo que um no possa ouvir o depoimento do outro.
Perguntas no respondidas
5 Consignar-se-o as perguntas que o acusado deixar de responder e as
razes que invocar para no faz-lo.
Estado de embriaguez ou efeito de psicotrpico
6 Nenhum militar estadual dever ser interrogado em estado de
embriaguez ou sob efeito de substncia psicotrpica.
Atos sem a presena do acusado
Art. 115 O acusado deve ser intimado para o interrogatrio, bem como para
qualquer ato que no possa ser realizado sem a sua presena.
No comparecimento do acusado

1 Em caso de no comparecimento do acusado no, o Encarregado do


Processo dever mandar conduzi-lo ou requisitar a sua presena.
Observao obrigatria ao acusado
2 Antes de iniciar o interrogatrio, o Encarregado do Processo observar
ao acusado que, embora no seja obrigado a responder as perguntas que lhe forem
formuladas, este constitui um meio de defesa.
No interveno do defensor
3 O interrogatrio um ato pessoal, no podendo o defensor do acusado
intervir ou influir, de qualquer modo, nas perguntas e nas respostas.
Reinquirio
4 O Encarregado do Processo poder reinquirir o acusado, a qualquer
tempo, se assim achar conveniente.
Acareao
Art. 116 Em caso de mais de um acusado, sempre que houver divergncia em
declaraes, entre seus depoimentos, sobre fatos ou circunstncias relevantes, ser
admitida a acareao entre eles.
Acompanhamento do processo administrativo
Art. 117 assegurado ao acusado o direito de acompanhar o processo
pessoalmente ou por intermdio de defensor, arrolar e reinquirir testemunhas, produzir
provas e contraprovas e formular quesitos, quando se tratar de prova pericial, nos termos
deste Regulamento.
Revelia
Art. 118 Considerar-se- revel o acusado que, regularmente citado para
qualquer ato do processo administrativo disciplinar, deixar de comparecer ou no
apresentar defesa no prazo previsto neste Regulamento, sem motivo justificado.
Decretao da revelia
1 A revelia ser decretada, por termo, nos autos do processo e devolver o
prazo para defesa.
No apresentao de defesa prvia
2 No comparecendo o acusado regularmente citado para apresentar defesa
prvia, os fatos constantes do Libelo Acusatrio sero reputados verdadeiros, salvo se o
contrrio resultar da convico do Encarregado do Processo, com fundamento em outras
provas do processo.
Defensor ad hoc
3 Para defender o acusado revel, caso seu defensor constitudo no
comparea, o Encarregado do Processo designar defensor ad hoc, prosseguindo no
feito.
Exame de sanidade mental
Art. 119 Quando houver dvida sobre a sanidade mental do acusado, o
Encarregado do Processo propor autoridade competente que o acusado seja submetido a
exame por junta militar de sade, da qual participe pelo menos um mdico psiquiatra,
suspendendo-se os prazos processuais, mediante registro nos autos.
Incidente de sanidade mental
Pargrafo nico O laudo pericial expedido pela junta militar de sade que
atestar a insanidade mental do acusado ser juntado aos autos, acarretando a suspenso do
prazo para prescrio da ao disciplinar.

Seo VIII

Alegaes Finais

Prazo para alegaes finais


Art. 120 Terminada a instruo, o Encarregado do Processo promover a
intimao do acusado e de seu defensor para vistas ao processo, na repartio, e
apresentao da defesa escrita, em alegaes finais, no prazo de trs dias.
Obs.: J com nova redao dada pelo Art. 2 do DECRETO N 634-R, de 02 de abril
de 2001.

Seo IX

Relatrio/Julgamento

Relatrio/julgamento
Art. 121 Concluda a defesa, cabe ao Encarregado do Processo elaborar
relatrio circunstanciado de tudo o que foi apurado nos autos, emitindo julgamento sobre a
culpabilidade do acusado, encaminhando-os, a seguir, autoridade delegante, para a
deciso sobre a aplicao de sano ou encaminhamento autoridade superior competente.
Intimao do acusado e do defensor
Pargrafo nico O Encarregado do Processo dever intimar o acusado e seu
defensor a tomarem conhecimento do Relatrio do Processo, juntando comprovao aos
autos, antes de sua remessa autoridade delegante.
Requisitos do Relatrio
Art. 122 No relatrio, o Encarregado do Processo mencionar as diligncias
feitas, as pessoas ouvidas e os resultados obtidos, com indicao do dia, hora e lugar onde
ocorreu a transgresso disciplinar, concluindo sobre a culpa do acusado, sendo vedado
sugerir a punio a ser aplicada, a fim de no induzir a deciso da autoridade competente
para solucionar o processo.

Seo X

Soluo

Competncia para a soluo


Art. 123 O processo ser solucionado, em princpio, pela autoridade que
delegou a competncia processual.
Diferentes autoridades hierrquicas

1 Havendo mais de um acusado, subordinados a diferentes autoridades


hierrquicas, a soluo caber autoridade de menor nvel hierrquico, com ascendncia
funcional sobre todos.
Licenciamento a bem da disciplina
2 Sendo o licenciamento a bem da disciplina a sano a ser aplicada, a
soluo caber s autoridades a que se refere o art. 20, deste Regulamento.
Conselho de Disciplina ou de Justificao
3 Caso autoridade a quem for encaminhado o processo para soluo
entenda ser caso de instaurao de Conselho de Justificao ou de Disciplina, encaminhar
os autos ao Comandante-Geral que, concordando, determinar a instaurao do Conselho,
ou, discordando, devolver os autos autoridade competente para solucion-lo.
Reconhecimento de responsabilidade
Art. 124 Reconhecida a responsabilidade do militar estadual, a autoridade
competente solucionar o processo, indicando o dispositivo legal transgredido, bem como
as circunstncias agravantes e atenuantes.
Reconhecimento de causa de justificao
Pargrafo nico Reconhecida qualquer causa de justificao a autoridade
competente solucionar o processo, inocentando o acusado.
Prazo para soluo
Art. 125 No prazo de quinze dias, contados do recebimento do processo
administrativo disciplinar concluso, a autoridade competente dever solucion-lo,
proferindo a sua deciso.
Soluo diferente da apresentada na concluso
Art. 126 A autoridade competente poder dar ao processo soluo diferente
da apresentada na concluso do Encarregado do Processo, desde que motivada e
fundamentada nas provas dos autos.
Relatrio contrrio s provas dos autos
1 Quando o relatrio do Encarregado do Processo contrariar as provas dos
autos, a autoridade competente poder responsabilizar ou isentar o militar da
responsabilidade.
Motivao da deciso
2 Em qualquer hiptese, concordando ou discordando da concluso do
Encarregado do Processo, as decises da autoridade competente sero motivadas e
fundamentadas, sob pena de nulidade.
Vcio insanvel
Art. 127 Verificada a existncia de ilegalidade, a autoridade competente
dever declarar a nulidade total ou parcial do processo.
Nulidade total
1 Na hiptese de nulidade total, a autoridade determinar a instaurao de
um novo processo, designando outro Encarregado.
Nulidade Parcial
2 Na hiptese de nulidade parcial, a autoridade competente determinar ao
Encarregado do Processo o desentranhamento dos atos nulos e a sua repetio dentro dos
princpios da legalidade, aproveitando-se as peas que no contenham vcio.
Soluo fora do prazo

3 A soluo fora do prazo legal no implica em nulidade do processo, mas


importa em responsabilidade da autoridade, salvo motivo de fora maior, plenamente
justificado.

CAPTULO VI

Processo Administrativo Disciplinar de Rito Sumrio

Rito sumrio
Art. 128 As transgresses disciplinares, a princpio, sero apuradas em
processo administrativo disciplinar de rito sumrio, tendo como Encarregado militar
estadual mais antigo que o acusado, assegurando-se, contudo, ao acusado, o contraditrio e
a ampla defesa.
Fases
Art. 129 O processo administrativo disciplinar com rito sumrio, ter prazo
de at oito (08) dias, prorrogvel, se necessrio, por at cinco (05) dias, desenvolvendo-se
nas seguintes fases:
Obs.: J com nova redao dada pelo Art. 4 do DECRETO 634 - R, de 02 de abril de
2001.
I Instaurao;
II Defesa prvia, no prazo de dois (02) dias;
III Investigao sumria, se necessria;
IV Defesa do acusado, se for o caso, no prazo de dois (02) dias;
V Relatrio/julgamento.
Roteiro
1 O roteiro do processo disciplinar com rito sumrio o constante do
Anexo II.
Instaurao
2 A instaurao do processo administrativo disciplinar com rito sumrio
poder ser feita por despacho da autoridade delegante autoridade delegada, que atuar
diretamente sem auxlio de secretrio.
Libelo Acusatrio
3 O Encarregado do Processo expedir o Libelo Acusatrio, citando o
acusado para apresentar sua defesa prvia, no prazo de 02 (dois) dias.
Dispensa de fases/investigao sumria
4 Apresentada a defesa prvia, que poder ser feita pelo prprio acusado, o
Encarregado do Processo:
I entendendo-a suficiente, produzir o relatrio dos autos, dispensando as
demais fases, e o encaminhar autoridade delegante, para soluo; ou
II far investigaes, de forma sumria, para melhor elucidao dos fatos.
No obrigatoriedade de defensor
5 No processo administrativo disciplinar de rito sumrio no obrigatria a
presena de defensor.
Defesa do acusado
6 No caso do inciso II do pargrafo anterior, aps as investigaes
sumrias, o acusado dever ser notificado do seu resultado, com prazo de dois (02) dias

para apresentao de razes de defesa, aps o que o Encarregado do Processo produzir o


relatrio dos autos e o encaminhar autoridade delegante, para soluo.
Intimao do acusado
7 O Encarregado do Processo dever intimar o acusado a tomar
conhecimento do Relatrio do Processo, juntando comprovao aos autos, antes de sua
remessa autoridade delegante.
Obs.: J com nova redao dada pelo art. 3 do DECRETO N 634-R, de 02 de abril
de 2001.
Aplicao subsidiria de normas ao rito ordinrio
Art. 130 Aplicam-se subsidiariamente ao processo disciplinar com rito
sumrio as disposies compatveis previstas para o processo disciplinar com rito
ordinrio.

CAPTULO VII

Disposies Finais

Validade dos atos processuais


Art. 131 Os atos processuais sero vlidos sempre que preencherem as
finalidades para as quais forem realizados, desde que no contenham vcios insanveis.
Nulidade sem prejuzo
1 No ser pronunciada qualquer nulidade sem que tenha havido prejuzo
para a defesa.
Atos processuais em outras localidades
2 A prtica de atos processuais em outros municpios ou circunscries
poder ser solicitada por qualquer meio idneo de comunicao.
Transporte e dirias
Art. 132 A concesso de transporte e dirias por motivo de realizao de
processo disciplinar ser feita de acordo com as normas em vigor no Estado e na
Corporao.

PARTE ESPECIAL

TTULO NICO

Transgresses Disciplinares

CAPTULO I

Transgresses Relacionadas s Regras Gerais de Conduta Social e tica

Art. 133 As transgresses disciplinares relacionadas s regras gerais de


conduta social e tica, de acordo com a classificao abaixo, so as seguintes:
I Gravssimas:
a) Fazer diretamente, ou por intermdio de outrem, transaes pecunirias
envolvendo assunto de servio, bens da Administrao Pblica ou material proibido;
b) Ser conivente, por ao ou omisso, com autoridade militar, policial ou civil
que praticar atos ilegais ou de corrupo;
c) Empregar subordinado ou servidor civil, ou desviar qualquer meio material
ou financeiro sob sua responsabilidade ou no, para a execuo de atividades diversas
daquelas para as quais foram destinadas, em proveito prprio ou de outrem;
d) Fazer diretamente ou por intermdio de outrem, agiotagem ou transao
pecuniria envolvendo assunto de servio, bens da administrao pblica ou material cuja
comercializao seja proibida;
e) Provocar desfalques;
f) Dar, receber ou pedir gratificao ou presente com a finalidade de retardar,
apressar ou obter soluo favorvel em qualquer ato de servio;
g) Procurar a parte interessada no caso de furto, roubo, objeto achado ou
qualquer outro tipo de ocorrncia, mantendo com ela entendimento para obteno de
vantagem indevida;
h) Ameaar, induzir, ou instigar algum a que preste declaraes falsas em
procedimento administrativo, civil ou penal;
i) Receber ou permitir que seu subordinado receba, em razo da funo
pblica, qualquer objeto ou valor, mesmo quando oferecido pelo proprietrio ou
responsvel;
j) Manter relaes de amizade com pessoas de comprovada m reputao ou de
conduta social reprovvel ou irregular, ou apresentar-se publicamente com elas, salvo por
motivo de servio;
l) Promover escndalo ou nele envolver-se, comprometendo o prestgio da
Corporao;
m) Manter relacionamento ntimo no recomendvel ou socialmente
reprovvel, com superiores, pares, subordinados ou civis, trazendo prejuzos disciplina e
hierarquia, imagem ou administrao da Corporao;
n) Praticar violncia ou qualquer outro ato que denigra a imagem da
Corporao;
o) Exigir vantagem material ou pecuniria para proveito prprio ou de outrem,
ou a prtica de aes em seu favor ou de terceiros, em troca da prestao de servio ou da
omisso do cumprimento de obrigaes legais.
II - Graves:
a) Faltar verdade, exceto na condio de acusado nos inquritos e processos
penais;
b) Utilizar-se do anonimato;
c) Assumir compromisso pela Corporao ou pela OME em que serve, sem
estar autorizado;
d) Freqentar, uniformizado, lugares incompatveis com o decoro;
e) Espalhar boatos ou notcias tendenciosas, em prejuzo da boa ordem civil ou
militar, ou do nome da Corporao;
f) Manter em seu poder, indevidamente, bens de particulares ou da Fazenda
Pblica;
g) Envolver, indevidamente, o nome de outrem para esquivar-se de
responsabilidades;

h) Aceitar, ainda que por emprstimo, dinheiro ou quaisquer valores de pessoa


que trate de interesse ou que os tenha na repartio onde o militar exerce sua atividade, ou
esteja sujeita sua fiscalizao;
i) Fazer uso do posto ou da graduao para obter facilidades ou satisfazer
interesses pessoais, de qualquer natureza, ou para encaminhar negcios ou resolver
problemas particulares seus ou de terceiros;
j) Desrespeitar regras de trnsito, de trfego areo ou de navegao martima,
lacustre ou fluvial, em rea sob administrao militar ou com viatura, aeronave ou
embarcao militar;
l) Autorizar, promover ou executar manobras perigosas com viaturas
aeronaves, embarcaes ou animais, mesmo que a ttulo de exibio ou instruo, fora das
reas para tal estabelecidas, ou sem autorizao da autoridade competente;
m) Andar a cavalo, a trote ou galope, sem necessidade, pelas ruas da cidade ou
castigar inutilmente a montada;
n) Portar-se de modo inconveniente e sem compostura, faltando aos preceitos
da boa educao e moral;
o) Dirigir, quando uniformizado e de servio, gracejos a algum;
p) Demonstrar intimidade com outrem, mediante atos ou gestos
comprometedores, estando uniformizado e de servio;
q) Ter conduta incompatvel com os princpios da hierarquia, tica e valores
militares.
III Mdias:
a) Representar a OME e mesmo a Corporao, em qualquer ato, sem estar
devidamente autorizado;
b) Tratar, o militar inativo, quando convocado para o servio ativo, nas
reparties pblicas, civis ou militares, de interesses de indstria ou comrcio a que esteja
ou no associado;
c) No atender obrigao de alimentar a famlia;
d) Desrespeitar medidas gerais de ordem policial, administrativa ou judicial;
e) Dirigir, quando uniformizado e de folga, gracejos a algum;
f) Demonstrar intimidade com outrem, mediante atos ou gestos
comprometedores, estando uniformizado e de folga.
IV Leves:
a) Freqentar lugares incompatveis com o decoro;
b) Desrespeitar em pblico as convenes sociais;
c) Fumar em lugar ou ocasio onde isso seja vedado;
d) Desrespeitar regras de trnsito, de trfego areo ou de navegao martima,
lacustre ou fluvial, em via pblica, com veculo particular;
e) Deixar de portar ou ter ao seu alcance, em qualquer situao, o seu
documento de identidade militar, estando ou no uniformizado; ou de exibi-lo quando
solicitado;
f) Contrair dvida ou assumir compromisso superior s suas possibilidades,
deixando de saud-los, expondo assim o nome da Corporao;
g) Esquivar-se de satisfazer compromisso de ordem pecuniria que houver
assumido.
h) No atender a advertncia de superior a fim de satisfazer dbito j
reclamado.

CAPTULO II

Transgresses Relacionadas ao Cumprimento do Dever Funcional


Art. 134 As transgresses disciplinares relacionadas ao cumprimento do
dever funcional, de acordo com a classificao abaixo, so as seguintes:
I Gravssimas:
a) Investir-se de atribuies, misses, cargos, encargos ou funes para as
quais no tenha competncia ou no tenha sido autorizado, causando danos a terceiros ou
ao patrimnio pblico;
b) Evadir-se ou tentar evadir-se de escolta, bem como resistir a ela;
c) Dar, por escrito ou verbalmente, ordem ilegal ou claramente inexeqvel,
que possa acarretar ao subordinado responsabilidade, ainda que no chegue a ser cumprida.
II Graves:
a) Retardar ou prejudicar medidas ou aes de ordem judicial ou policial de
que esteja investido ou que deva promover;
b) Retardar ou prejudicar o servio de polcia judiciria militar que deva
promover ou em que esteja investido
c) No cumprir ordem legal recebida;
d) Simular doena ou fato impeditivo para esquivar-se ao cumprimento de
qualquer dever;
e) Esquivar-se de providenciar a respeito de ocorrncia no mbito de sua
atribuio, salvo o caso de suspeio ou impedimento declarado a tempo pelo meio
prprio;
f) Investir-se de atribuies, misses, cargos, encargos ou funes para as quais
no tenha competncia ou no tenha sido autorizado;
g) Confiar a pessoas estranhas Corporao, fora dos casos previstos em lei, o
desempenho de cargo, encargo ou funo que lhe competir, ou a seus subordinados;
h) Deixar de punir o transgressor da disciplina;
i) Efetuar desconto em vencimento sem estar autorizado por autoridade
competente, ou determin-lo fora dos casos legalmente previstos;
j) Deixar de providenciar a tempo, na esfera de suas atribuies, para que no
se venha a verificar desfalques e alcance pecunirio por parte de detentores de dinheiro ou
valores pertencentes Fazenda Pblica ou terceiros;
l) Deixar de assumir a responsabilidade de seus atos ou dos praticados por
subordinados que agirem em cumprimento de sua ordem;
m) Deixar de acatar ordem legal de militar de servio.
III Mdias:
a) Deixar de cumprir ou fazer cumprir normas regulamentares na esfera de suas
atribuies;
b) Deixar de informar processo que lhe for encaminhado, exceto nos casos de
suspeio ou impedimento ou absoluta falta de elementos, hiptese em que estas
circunstncias sero fundamentadas;
c) Retardar a execuo de qualquer ordem;
d) Aconselhar ou concorrer para no ser cumprida qualquer ordem de
autoridade competente, ou para retardar a sua execuo;
e) Alegar, sem fundamento clnico, impossibilidade de trabalhar;
f) Deixar ou negar-se a receber equipamento ou material que lhe seja destinado
ou deva ficar em seu poder ou sob sua responsabilidade;
g) Invocar circunstncias de matrimnio, de encargo de famlia ou de crena
religiosa, para eximir-se de obrigaes funcionais;

h) No ter o devido zelo pelo preparo prprio ou pelo de seus comandados,


instruendos ou educandos;
i) No levar falta ou irregularidade que presenciar, ou de que tiver cincia e
no lhe couber reprimir, ao conhecimento de autoridade competente, no prazo legal;
j) Fazer uso ou autorizar o uso de veculos oficiais para fins no previstos nas
normas legais;
l) Deixar de fiscalizar o subordinado que apresentar sinais exteriores de riqueza
incompatveis com a remunerao do cargo;
m) Recusar-se a exibir sentinela ou ao superior hierrquico, quando por ele
solicitado, objeto ou volume, ao entrar ou sair de qualquer OME;
n) Conduzir veculo, pilotar aeronave ou embarcao oficial, sem autorizao
do rgo competente;
o) Praticar, quando em gozo de licena ou dispensa por problemas de sade,
atividade incompatvel com o quadro clnico apresentado;
p) Deixar de prestar auxlio, quando necessrio ou solicitado, para atuao
policial ou de socorro, mesmo estando de folga;
q) Deixar de adotar a tempo, na esfera de suas atribuies, por negligncia ou
incria, medidas contra qualquer irregularidade da qual venha a tomar conhecimento;
r) Utilizar ou autorizar a utilizao de subordinados para servios no previstos
em regulamento, salvo com permisso da autoridade competente.
IV Leves:
a) Deixar de comunicar ao superior a execuo de ordem recebida;
b) Deixar de comunicar ao rgo competente de sua OME, o seu endereo
domiciliar, ou de atualiz-lo, em caso de mudana;
c) Conversar com a sentinela, em seu posto, salvo sobre objeto de servio.

CAPTULO III

Transgresses Relacionadas Pontualidade e ao Cumprimento de Prazos


nas Apresentaes e Permanncias

Art. 135 As transgresses disciplinares relacionadas pontualidade e ao


cumprimento de prazos nas apresentaes e permanncias, de acordo com a classificao
abaixo, so as seguintes:
I Gravssima: Passar a situao de ausente.
II Graves:
a) Faltar a qualquer ato de servio.
b) Deixar de recolher-se imediatamente OME, quando souber que
procurado para o servio ou por motivo de estado de prontido;
c) No se apresentar ao fim de qualquer afastamento do servio ou, ainda, logo
que souber que ele foi interrompido ou cassado;
d) Abandonar local de servio.
III - Mdias:
a) Afastar-se de qualquer lugar em que deva estar por fora de disposio legal,
ordem ou servio;

b) Deixar de se apresentar, no prazo determinado, OME para a qual tenha


sido transferido ou classificado e s autoridades competentes, nos casos de comisso ou
servio extraordinrio para os quais tenha sido designado;
c) Deixar de comunicar, no prazo legal, ao superior imediato, ocorrncia no
mbito de suas atribuies quando se julgar suspeito ou impedido de providenciar a
respeito;
d) Deixar de comunicar, no prazo legal, ao superior imediato ou na ausncia
deste, a qualquer autoridade superior, toda informao que tiver sobre iminente
perturbao da ordem pblica ou grave alterao do servio;
e) Deixar de analisar ou encaminhar autoridade competente, na linha de
subordinao, no prazo legal, recurso ou documento que receber, desde que elaborado de
acordo com os preceitos regulamentares, se no estiver na sua alada dar soluo;
f) Deixar de participar a tempo, autoridade imediatamente superior,
impossibilidade de comparecer OME, ou a qualquer ato de servio;
g) Chegar atrasado a qualquer ato de servio em que deva tomar parte ou
assistir.

CAPTULO IV

Transgresses Relacionadas s Regras de Boa Prestao de Servio


Art. 136 As transgresses disciplinares relacionadas s regras de boa
prestao de servio, de acordo com a classificao abaixo, so as seguintes:
I Gravssimas:
a) Deixar que presos conservem em seu poder armas ou instrumentos que
possam ser utilizados como arma, bem como txicos ou entorpecentes;
b) Agredir fsica ou psicologicamente preso sob sua guarda ou permitir que
outros o faam.
II - Graves:
a) Retardar a execuo do servio a que deva promover ou que lhe esteja afeto;
b) Trabalhar mal, intencionalmente, em qualquer servio ou instruo;
c) Conversar ou entender-se com preso de forma velada ou deixar que algum
o faa, sem para isso estar autorizado por sua funo ou por autoridade competente;
d) Deixar que presos conservem em seu poder instrumentos ou objetos no
permitidos;
e) Prestar informaes a superior induzindo-o a erro, deliberada ou
intencionalmente;
f) Omitir, deliberadamente, em nota de ocorrncia, relatrio ou qualquer outro
documento, dados indispensveis ao esclarecimento de fatos;
g) Liberar preso sem ordem da autoridade competente, ou dispensar parte de
ocorrncia sem competncia legal para tanto;
h) No cumprir as normas legais no ato de efetuar priso;
i) Deixar de assumir, orientar ou auxiliar o atendimento de ocorrncia, quando
esta por sua natureza ou amplitude assim o exigir;
j) Usar de fora alm da necessria no atendimento de ocorrncia ou no ato de
efetuar priso;
l) Deixar de providenciar para que seja garantida a integridade fsica das
pessoas que prender ou deter;

m) Reter o preso, a vtima, as testemunhas ou partes no definidas por mais


tempo que o necessrio para a soluo do procedimento policial, administrativo ou penal;
n) Desrespeitar os direitos constitucionais da pessoa no ato de sua priso;
o) Desrespeitar, desconsiderar ou ofender o cidado por palavras, atos ou
gestos, no atendimento de ocorrncia policial ou em outras situaes de servio;
p) Dormir em servio de policiamento, vigilncia ou segurana de pessoas ou
instalaes, salvo quando autorizado;
q) Pagar a outrem para cumprir o servio que lhe esteja afeto;
r) Deixar de encaminhar material apreendido em ocorrncia policial.
III Mdias:
a) Permutar servio mediante paga;
b) Trabalhar mal, mesmo que por falta de ateno, em qualquer servio ou
instruo;
c) Disparar alarme sem motivo justificvel.;
d) Conversar, sentar-se ou fumar, onde isso no seja permitido, a sentinela da
hora ou planto da hora, ou ainda consentir na formao ou permanncia de grupo ou de
pessoas junto a seu posto de servio;
e) Violar ou deixar de preservar local de crime;
f) Mostrar-se desatento e desinteressado, no servio;
g) Permitir a sentinela que desconhecidos, fardados ou no, penetrem na OME
ou outro local que esteja guarnecendo, sem a necessria identificao;
h) Interferir na administrao de servio ou na execuo de ordem ou misso
sem ter a devida competncia para isso;
i) Afastar-se, quando em atividade de polcia ou de bombeiro, qualquer que
seja o meio de locomoo, da rea em que deveria permanecer, ou no cumprir o roteiro
predeterminado;
j) Permitir que pessoa no autorizada adentre a prdio ou local interditado.
IV - Leves:
a) Causar ou contribuir para a ocorrncia de acidente de servio ou instruo;
b) Permutar servio sem permisso de autoridade competente.

CAPTULO V

Transgresses Relacionadas aos Smbolos, Uniformes, Insgnias,


Distintivos, Medalhas, Toques e Apresentao Pessoal
Art. 137 As transgresses disciplinares relacionadas aos smbolos, uniformes,
insgnias, distintivos, medalhas, toques e apresentao pessoal, de acordo com a
classificao abaixo, so as seguintes:
I Grave: Faltar com o respeito aos smbolos nacionais, estaduais, municipais
ou que representem a Corporao e/ou sua OME.
II Mdias:
a) Apresentar-se, em qualquer situao, sem uniforme, mal uniformizado, com
uniforme alterado, desabotoado, faltando peas, sem cobertura, sujo, desalinhado ou
diferente do previsto, contrariando ordem ou norma em vigor;
b) Iar ou arriar Bandeira ou Insgnia, sem ordem para tal;
c) Ter pouco cuidado com o asseio prprio, quando uniformizado;

d) Recusar ou devolver insgnia, medalha ou condecorao que lhe tenha sido


outorgada;
e) Comparecer, uniformizado, em manifestaes ou reunies de carter poltico
partidrio, salvo se por motivo de servio;
III Leves:
a) Deixar o superior de determinar a sada imediata, de solenidade militar ou
civil, de subordinado que a ela comparea em uniforme diferente do marcado;
b) Sobrepor ao uniforme insgnia ou medalha no regulamentar, bem como,
indevidamente, distintivo ou condecorao;
c) Transitar com uniforme inadequado contrariando normas a respeito;
d) Usar o uniforme, quando de folga, se isso contrariar norma, regulamento ou
ordem de autoridade competente;
e) Apresentao pessoal fora dos padres estabelecidos pela Corporao;
f) Usar, o militar estadual em inatividade, uniforme fora dos casos previstos em
leis ou regulamentos;
g) Dar toques militares ou fazer sinais regulamentares sem permisso;
h) Usar, em servio, armamento ou equipamento que no seja regulamentar,
salvo em caso de ordem ou autorizao escrita do Comandante da Unidade ou chefe direto.

CAPTULO VI
Transgresses Relacionadas s Regras de Zelo com Documentos,
Materiais e Animais
Art. 138 As transgresses disciplinares relacionadas s regras de zelo com
documentos, materiais e animais, de acordo com a classificao abaixo, so as seguintes:
I Gravssima: No ter o devido zelo, danificar, extraviar ou inutilizar,
dolosamente, documento, armamento ou outros bens ou animais pertencentes ao
patrimnio pblico ou particular, que estejam ou no sob sua responsabilidade.
II Graves:
a) No ter o devido zelo, danificar, extraviar ou inutilizar, por ao ou omisso,
documentos, armamento e outros bens ou animais pertencentes ao patrimnio pblico ou
particular, que estejam ou no sob sua responsabilidade;
b) Apresentar documentos em termos desrespeitosos ou com argumentos falsos
ou de m-f;
c) Rasurar livros de ocorrncias, fichas disciplinares, folhas de alteraes,
folhas de conceitos ou outros documentos, bem como lanar quaisquer outras matrias
estranhas s finalidades destes documentos;
d) No ter o devido zelo na apresentao ou elaborao de documentos para os
quais tenha sido designado, tais como: Processos Administrativos Disciplinares, Inquritos
Policiais Militares, relatrios, trabalhos individuais ou em comisso e outros congneres;
e) Subtrair, extraviar, danificar ou inutilizar documentos de interesse da
administrao pblica ou de terceiros;
f) Maltratar ou no ter o devido cuidado no trato com animais da corporao,
bem como outros animais, em decorrncia de ato de servio.
III Leves:
a) Extraviar a Carteira de Identidade;
b) Apresentar ou encaminhar documentos sem seguir as normas e preceitos
regulamentares.

CAPTULO VII

Transgresses Relacionadas s Regras de Entrada, Permanncia, Sada e


Comportamento em Organizao Militar
Art. 139 As transgresses disciplinares relacionadas s regras de entrada,
permanncia, sada e comportamento em Organizao Militar, de acordo com a
classificao abaixo, so as seguintes:
I Gravssima: Retirar ou tentar retirar de qualquer lugar sob administrao
militar, armamento, material, viatura ou animal, ou mesmo deles servir-se, sem ordem do
responsvel ou proprietrio.
II Graves:
a) Abrir ou tentar abrir qualquer dependncia da OME fora das horas de
expediente, desde que no seja o respectivo chefe ou sem sua ordem escrita com a expressa
declarao de motivo, salvo situaes de emergncia;
b) Promover ou tomar parte em jogos proibidos, ou jogar a dinheiro os
permitidos, em rea militar ou sob a administrao militar;
c) Adentrar, sem permisso ou ordem, em rea sob a administrao militar cuja
entrada lhe seja vedada;
d) Realizar exerccios profissionais, que envolvam risco a integridade fsica de
seus executantes, sem as devidas cautelas;
e) Transportar em viatura ou equivalente, pessoal ou material sem autorizao
de autoridade competente;
f) Servir-se sem autorizao ou ordem superior de objetos que no estejam sob
a sua responsabilidade ou pertenam a outrem.
III Leves:
a) Permanecer em dependncia de Organizao Militar, desde que seja
estranho ao servio, sem permisso de autoridade competente;
b) Conversar ou fazer rudos em ocasies, lugares ou horas imprprias;
c) Adentrar o militar estadual sem permisso ou ordem, em lugar onde a
entrada seja vedada;
d) Entrar ou sair de Organizao Militar com tropa armada, sem prvio
conhecimento ou ordem da autoridade competente;
e) Deixar o Oficial ou Aspirante a Oficial, ao entrar em Organizao Militar
onde no sirva, de dar cincia da sua presena ao Oficial de Dia, e, em seguida, de procurar
o Comandante da mesma ou o seu substituto legal, para cumpriment-lo;
f) Deixar a Praa, ao entrar em Organizao Militar onde no sirva, de
apresentar-se ao Oficial de Dia ou ao seu substituto legal;
g) Deixar o Comandante da Guarda ou agente de segurana correspondente, de
cumprir as prescries regulamentares com respeito entrada ou permanncia na OME de
civis ou militares estranhos mesma;
h) Permanecer, em trajes civis, desuniformizado, ou deitado, no interior de
aquartelamento, em horrio de expediente, sem estar para isso autorizado;
i) Entrar na OME ou dela sair em trajes civis ou por lugares que no sejam para
isso destinados, salvo os oficiais e os devidamente autorizados;

j) Penetrar ou tentar penetrar em alojamento de outra unidade ou subunidade


depois da revista do recolher ou trmino do expediente, sem licena do respectivo
comandante, salvo por motivo de servio.

CAPTULO VIII

Transgresses Relacionadas s Regras de Uso e/ou Porte de Arma


Art. 140 As transgresses disciplinares relacionadas s regras de uso e/ou
porte de arma, de acordo com a classificao abaixo, so as seguintes:
I Graves:
a) Disparar arma por imprudncia, negligncia ou impercia;
b) No ter os devidos cuidados com arma que estiver sob sua responsabilidade,
deixando que terceiros possam utiliz-la;
c) Portar ou possuir arma em desacordo com as normas vigentes.
II Leves:
a) Portar arma da Corporao sem estar de servio ou sem autorizao;
b) Deixar de devolver ao setor responsvel da OME, armamento, equipamento
ou outro material, ao trmino do servio.

CAPTULO IX

Transgresses Relacionadas s Regras Sobre Discusses, Manifestaes,


Divulgaes e Publicaes de Matrias
Art. 141 As transgresses relacionadas s regras sobre discusses,
manifestaes, divulgaes e publicaes de matrias, de acordo com a classificao
abaixo, so as seguintes:
I Gravssimas:
a) Aceitar manifestao coletiva de seus subordinados, exceto nas
demonstraes de boa e s camaradagem;
b) Publicar ou contribuir para que sejam publicados fatos, documentos ou
assuntos militares que possam concorrer para o desprestgio da Corporao ou firam a
disciplina ou a segurana;
c) Autorizar, promover ou tomar parte em qualquer manifestao coletiva, de
carter reivindicatrio, de crtica ou de apoio a ato de superior, exceto nas demonstraes
de boa e s camaradagem.
II Graves:
a) Participar, quando fardado, de manifestaes de cunho poltico, salvo
quando reconhecidamente em ato de servio;
b) Autorizar, promover ou assinar peties coletivas dirigidas a qualquer
autoridade militar ou civil, que possa gerar comprometimento Corporao ou segurana
pblica.
c) Dirigir memoriais ou peties, a qualquer autoridade, sobre assuntos da
alada do Comando Geral da Corporao, salvo em grau de recurso;

d) Ter em seu poder, introduzir ou distribuir, em rea militar ou sob a


administrao militar, publicaes, estampas ou jornais que atentem contra a disciplina ou
a moral;
e) Publicar ou contribuir para que sejam publicados, por qualquer meio, fatos,
documentos ou assuntos tcnicos militares, sem autorizao para tal;
f) Publicar, sem permisso ou ordem da autoridade competente, documentos
oficiais, ainda que no sigilosos, ou fornecer dados para sua publicao;
g) Fazer o militar inativo uso das designaes hierrquicas quando em
atividades poltico-partidrias, comerciais ou industriais, para discutir ou provocar
discusso pela imprensa, a respeito de assuntos de segurana pblica, excetuando-se os de
natureza exclusivamente tcnica e no exerccio de funo de natureza no militar, mesmo
em rgos oficiais.
III Mdias:
a) Manifestar-se publicamente a respeito de assuntos polticos, sem autorizao
e em prejuzo da Corporao;
b) Ser indiscreto em relao a assuntos de carter oficial cuja divulgao possa
ser prejudicial disciplina ou boa ordem do servio;
c) Dar conhecimento de fatos, ocorrncias, documentos ou assuntos militares
estaduais a quem no deva ter conhecimento e no tenha atribuies para neles intervir;
d) Discutir ou provocar discusses, por qualquer veculo de comunicao,
sobre assuntos de segurana pblica, excetuando-se os de natureza exclusivamente tcnica,
quando devidamente autorizados.
IV Leve: Promover ou tomar parte, em rea militar ou sob a administrao
militar, em discusses a respeito de poltica ou religio, desde que em prejuzo
Corporao ou ao servio, respeitadas as situaes que dependam de autorizao.

CAPTULO X

Transgresses Relacionadas s Regras de Respeito a Superior, Igual ou


Subordinado e Civis
Art. 142 As transgresses disciplinares relacionadas s regras de respeito a
superior, igual ou subordinado e civis, de acordo com a classificao abaixo, so as
seguintes:
I Gravssimas:
a) Desrespeitar superior hierrquico;
b) Ofender, provocar ou desafiar superior, igual ou subordinado;
c) Travar discusso, rixa ou luta corporal com seu superior, igual ou
subordinado.
II Graves:
a) Desrespeitar militar de mesmo posto ou graduao ou de posto ou graduao
inferior;
b) Dirigir-se, referir-se ou responder de maneira desatenciosa a superior;
c) Censurar ato de superior ou procurar desconsider-lo;
d) Procurar desacreditar seu igual ou subordinado;
e) Concorrer para a discrdia ou desarmonia ou cultivar inimizade entre
companheiros;
f) Induzir outrem pratica de transgresso disciplinar;

g) Desconsiderar ou desrespeitar autoridade civil;


h) Desrespeitar qualquer dos membros dos poderes constitudos, bem como
criticar, em pblico ou pela imprensa, seus atos ou decises.
III Mdia: Dificultar ao subordinado a apresentao de recursos.
IV Leves:
a) Deixar deliberadamente de corresponder a cumprimento de subordinado;
b) Negar ao subordinado, sem motivo justificvel, licena para se dirigir a
autoridade superior, a fim de tratar de assuntos de seu interesse;
c) No se apresentar a superior hierrquico ou retirar-se de sua presena, sem
obedincia s normas regulamentares;
d) Deixar o subordinado, quer uniformizado, quer em traje civil, de
cumprimentar superior, uniformizado ou no, neste caso desde que o conhea, ou prestarlhe as homenagens e sinais regulamentares de considerao e respeito;
e) Deixar o militar estadual, presente a solenidades internas ou externas onde
se encontrar superior hierrquico, de saud-lo de acordo com as normas regulamentares;
f) Deixar o militar estadual, no incio do expediente, de apresentar-se ao seu
Comandante ou Chefe imediato, para cumpriment-lo, salvo ordem ou instruo a respeito;
g) No cumprir as normas de apresentao, procedimentos, formas de
tratamento e precedncia, previstos nos regulamentos militares;
h) Dirigir-se a superior, quando no quartel ou em servio, tratando-o ou a ele se
referindo, sem designar o grau hierrquico;
i) Dirigir-se ao Comandante da OME onde serve, sem autorizao do
Comandante ou Chefe imediato sob cujas ordens servir;
j) Deixar o Comandante de OME ou seu substituto imediato, de dirigir-se a
superior hierrquico que adentrar na respectiva OME, quando disso tiver cincia;
l) Dirigir-se ao Comandante Geral, Subcomandante, Chefe do Estado Maior
Geral, Comandantes Intermedirios ou Diretores, sem autorizao do seu Comandante,
Diretor ou Chefe;
m) Recorrer a rgos, pessoas ou instituies, exceto ao Poder Judicirio, para
resolver assuntos de interesse pessoal relacionados com a Corporao;
n) Recorrer ao Poder Judicirio sem prvia comunicao ao Comandante
Geral;
o) Deixar, quando estiver sentado, de oferecer seu lugar a superior, em locais
sob a administrao militar ou no interior de viaturas militares.

CAPTULO XI

Transgresses Relacionadas s Regras Sobre Circulao e Uso de


Produtos Txicos ou entorpecentes, Explosivos, Inflamveis e Bebidas Alcolicas
Art. 143 As transgresses disciplinares relacionadas s regras sobre
circulao e uso de produtos txicos ou entorpecentes, explosivos, inflamveis e bebidas
alcolicas, de acordo com a classificao abaixo, so as seguintes:
I Gravssimas:
a) Ter em seu poder ou introduzir, em rea militar ou sob a administrao
militar, material inflamvel ou explosivo, txicos ou entorpecentes, ou bebida alcolica,
sem estar devidamente autorizado ou mediante prescrio de autoridade competente;

b) Introduzir bebida alcolica em qualquer local sob administrao militar ou


em presdios ou hospitais;
c) Fazer uso, estar sob ao ou induzir outrem ao uso de txicos, entorpecentes
ou qualquer outro produto alucingeno, salvo prescrio mdica.;
d) Fazer uso de bebidas alcolicas em local sob administrao militar, ou
comparecer a qualquer ato de servio apresentando sintoma de embriaguez, embriagar-se
ou induzir outrem embriaguez durante o servio.
II Graves:
a) Em pblico, induzir ou concorrer para que algum se embriague;
b) Embriagar-se ou apresentar-se em estado de embriaguez em pblico,
independente de constatao mdica, desde que visvel o estado.

CAPTULO XII

Transgresses Relacionadas s Regras de Exclusividade do Servio Militar


Art. 144 As transgresses disciplinares relacionadas s regras de
exclusividade do servio militar, de acordo com a classificao abaixo, so as seguintes:
I Graves:
a) Freqentar ou fazer parte de sindicatos, associaes profissionais com
carter de sindicato, ou de associaes cujos estatutos no estejam em conformidade com a
lei.
b) Exercer funo ou emprego remunerado no autorizado pela legislao;
II Mdias:
a) Exercer, o militar estadual da ativa, atividade de segurana particular ou
comercial ou tomar parte na administrao ou gerncia de sociedade com fins lucrativos ou
nela ser scio, exceto como acionista ou cotista;
b) Enquanto em servio ativo, filiar-se ou permanecer filiado a partido poltico;
c) Exercer outras atividades laborativas, remuneradas, estando dispensado ou
licenciado para tratamento de sade prpria ou de pessoa da famlia.

DISPOSIES FINAIS E TRANSITRIAS

Prescrio
Art.145 A ao disciplinar prescrever em dois (02) anos.
Incio do prazo prescricional
1 O prazo de prescrio comea a correr da data da ocorrncia do fato ou
da prtica do ato.
Interrupo da prescrio
2 A abertura de sindicncia ou a instaurao de processo disciplinar
interrompe a prescrio, at a deciso final proferida por autoridade competente.
Reincio do prazo prescricional
3 Interrompido o curso da prescrio, o prazo comear a correr a partir do
dia em que cessar a interrupo.
Cmputo dos prazos
Art. 146 Os prazos previstos neste Regulamento sero computados excluindo

o dia do comeo e incluindo o do vencimento.


Incio e trmino dos prazos
1 Todo prazo ter seu inicio ou seu trmino nos dias teis.
Prorrogao de prazo
2 Os prazos sero encerrados no ltimo minuto do expediente do dia de
seu trmino, sendo que se por qualquer motivo o expediente acabar antes do horrio
normal, ser prorrogado at o trmino do expediente do primeiro dia til subseqente,
independentemente de sua concluso antes do horrio normal.
Prazos no definidos
3 Os prazos, quando no expressamente definidos neste Regulamento,
sero de cinco (05) dias.
Prazos de recurso
4 Os prazos para recorrer de sanes disciplinares, obedecidas as normas
prescritas neste Regulamento, so contnuos e peremptrios.
Legislao subsidiria
Art. 147 A este Regulamento, aplicam-se, subsidiariamente, as disposies
do Cdigo de Processo Penal Militar.
Instrues complementares
Art. 148 Os Comandantes Gerais da PMES e do CBMES podero baixar
Instrues Complementares necessrias interpretao, orientao e aplicao deste
Regulamento Disciplinar, nas respectivas Corporaes.
Vigncia
Art. 149 Este Regulamento entrar em vigor na data de sua publicao,
aplicando-se as suas normas inclusive aos processos pendentes, sem prejuzo da validade
dos atos j realizados, bem como aos fatos ocorridos antes da sua publicao, cuja
apurao ainda no tiver sido iniciada ou concluda.
Revogao
Art. 150 Revogam-se as disposies em contrrio, especialmente o
Regulamento Disciplinar aprovado pelo Decreto n. 1.315-N, de 11 de junho de 1979.

ANEXO I

ROTEIRO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR


COM RITO ORDINRIO

FASES
1. Instaurao

PROVIDNCIAS
1. Autuao da Portaria da autoridade delegante e documentao que a
acompanha;
2. Elaborao da Portaria do Encarregado do Processo;
3. Confeco do libelo acusatrio;
4. Citao do acusado, contendo cpia anexa do libelo acusatrio,
advertindo-o para apresentao de defesa prvia, por escrito, no
prazo de dois dias;
2. Defesa Prvia
1. Apresentao da defesa escrita, pelo acusado ou seu defensor.
3. Instruo
1. Tomada de depoimentos;
2. Interrogatrio do acusado;
3. Realizao de percias e diligncias se necessrio;
4. Realizao de acareaes, se necessrio;
5. Juntada de documentos.
4. Alegaes finais 1. Intimao do acusado e/ou seu defensor para vistas ao processo e
apresentao de defesa, por escrito, em alegaes finais, no prazo de
dois dias;
2. Recebimento e anlise da defesa.
5.Relatrio/Julga
1. Elaborao do Relatrio do processo, com a concluso do
mento
Encarregado do Processo sobre a culpabilidade do acusado;
2. Intimao do acusado e/ou seu defensor para cincia da deciso
proferida;
3. Remessa dos autos autoridade delegante.
Soluo
1. Anlise dos autos pela autoridade competente;
2. Deciso da autoridade competente;
3. Publicao da deciso em Boletim Interno;
Obs.: J com nova redao dada pelo Art. 3 do DECRETO 634 R, de 02 de abril de 2001.

ANEXO II

ROTEIRO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR


COM RITO SUMRIO

FASES
1. Instaurao

2. Defesa Prvia
3. Investigao
Sumria
(se necessria)

. 4. Defesa
(se for o caso)
5.Relatrio/Julga
mento

Soluo

PROVIDNCIAS
1. Autuao da documentao encaminhada pela autoridade delegante;
2. Citao do acusado, contendo cpia anexa do libelo acusatrio,
advertindo-o para apresentao de defesa prvia, por escrito, no prazo
de trs dias;
1. Apresentao da defesa escrita, pelo acusado ou seu defensor.
1. Tomada de depoimentos;
2. Interrogatrio do acusado;
3. Realizao de percias e diligncias, se necessrio;
4. Realizao de acareaes, se necessrio;
5. Juntada de documentos.
1. Intimao do acusado e/ou seu defensor para vistas ao processo e
apresentao de defesa, por escrito, no prazo de trs dias;
2. Recebimento e anlise da defesa;
1. Descrio circunstanciada do que foi apurado na investigao
sumria, com a concluso do Encarregado do Processo sobre a
culpabilidade do acusado;
2. Intimao do acusado para tomar cincia da deciso proferida;
3. Remessa autoridade delegante.
1. Anlise dos autos pela autoridade competente;
2. Deciso da autoridade competente;
3. Publicao da deciso em Boletim;

Obs.: J com nova redao dada pelo Art. 3 do DECRETO 634 R, de 02 de abril de 2001.

GOVERNO DO ESTADO DO ESPIRITO SANTO


POLCIA MILITAR - COMANDO GERAL

PORTARIA N 268-R, de 14 de setembro de 2000


O CORONEL PM COMANDANTE GERAL DA POLICIA
MILITAR DO ESTADO DO ESPRITO SANTO, de conformidade com o que estabelece o art.148
do Regulamento Disciplinar dos Militares Estaduais do Estado do Esprito Santo (RDME),
aprovado pelo Decreto 254-R de 11 de agosto de 2000,
R E S O L V E:

Art. 1 - Baixar as INSTRUES COMPLEMENTARES ao Regulamento


Disciplinar dos Militares Estaduais do Estado do Esprito Santo (RDME) ;
Art. 2 - Estas INSTRUES COMPLEMENTARES so aplicveis a todos os
Militares Estaduais (ativos e inativos) pertencentes a Polcia Militar do Estado do Esprito Santo.
Art. 3 - Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicao.

Art. 4 - Revogam-se as disposies em contrrio.

JOO CARLOS BATISTA - CEL PM


Comandante Geral

INSTRUES COMPLEMENTARES

1 . FINALIDADE
Estas instrues complementam o Regulamento Disciplinar dos Militares Estaduais do Estado do
Esprito Santo, doravante denominado RDME, aprovado pelo Decreto 254-R de 11 AGO 2000, no mbito
da Polcia Militar.

2. APLICAO
2.1 Generalidades:
2.1.1 - A interpretao do RDME compete ao Comandante Geral da Polcia Militar do Esprito Santo. Ela
ser efetuada em soluo s consultas sobre dvidas das autoridades competentes para aplicar punies,
julgar recurso ou conceder recompensas.
2.1.2 - A interpretao sempre que necessria, obedece aos princpios gerais da hierarquia e da disciplina
militar.
2.2 - Abrangncia:
O RDME abrange todos os militares estaduais da ativa e da inatividade.
Os alunos militares estaduais, durante o curso que estiverem realizando, so abrangidos pelo presente
RDME, no tocante aos fatos disciplinares, tendo o direito a responder Processo Administrativo
Disciplinar, para ser punido em Boletim, podendo inclusive serem licenciados a bem da disciplina, se
forem praas sem estabilidade, e tendo estabilidade respondero a Conselho de Disciplina.
A Organizao militar de ensino poder baixar normas reguladoras de disciplina interna e no tocante aos
aspectos pedaggicos de ensino.

3. SANES ACESSRIAS
As sanes acessrias catalogadas no pargrafo nico do Art. 15 s podem ser efetivadas se uma das
sanes enumeradas no caput do art. 15 for devidamente aplicada.

4. APLICAO DAS SANES ACESSRIAS


4.1 - MULTA (Item I do nico, Art. 15) - A multa ocorrer, obrigatoriamente, sempre que o militar
estadual for punido disciplinarmente por faltar ao servio.
4.1.1 - Valor Dia Multa - O valor do dia multa ser calculado com base na remunerao mensal do
policial militar dividido por 30 (trinta);
4.1.2 - Remunerao - Consiste no somatrio do soldo mais gratificao e indenizao a que o policial
tem direito mensalmente, sendo:
. Soldo
. Assiduidade

. Gratificao Adicional por tempo de servio


. Gratificao Funo Policial Militar I
2

. Compensao Orgnica
. Gratificao de Motorista
. Gratificao Casa Militar

. Gratificao Funo Policial Militar lI


. Gratificao de Comando

4.1.3 - Servio - fica entendido como qualquer atividade a ser executada durante uma jornada de trabalho.
Podendo ser o expediente administrativo do Quartel ou outro local em que deva trabalhar ou uma escala
de servio previamente elaborada, ou mesmo instruo que deva assistir ou participar, ou ainda outra
atividade que tenha sido determinado a comparecer.
Fica estipulado que 01(uma) escala de servio com qualquer carga horria refere-se a 01 (um) dia de
servio.
4.1.4 - Falta ao servio - A falta do militar estadual ao servio de escala por qualquer motivo, mesmo
que justificada, no gera direito a folga , o militar estadual tem que se apresentar no 1 dia imediato ao
da falta ou dispensa justificada, no incio do expediente para trabalhar at a sua nova escala que pode ser
inclusive neste mesmo dia. O no comparecimento nestes dias pode gerar punio e multa (art. 23 e
pargrafo nico);
4.1.5 - Lanamento - Cada OPM aps a publicao em boletim contendo a punio disciplinar e a sano
acessria de multa, far o lanamento na ficha de provento e desconto no cdigo fornecido pela DP
(Diretoria de Pessoal).
4.2 - CANCELAMENTO DE MATRCULA EM CURSO OU ESTGIO (Item II do nico, Art.
15) - da competncia exclusiva do Cmt Geral.
4.3 -AFASTAMENTO DO CARGO, FUNO, ENCARGO OU COMISSO, MOVIMENTAO
DA OME E SUSPENSO DA FOLGA PARA PRESTAO COMPULSRIA DE SERVIO
ADMINISTRATIVO OU OPERACIONAL OME ( tem III, IV e V do nico, Art. 15) - da
competncia das autoridades constantes do Art. 10.

5. LICENCIAMENTO A BEM DA DISCIPLINA


a) obrigatria a realizao do Processo Administrativo Disciplinar de Rito Ordinrio, respeitando o Art.
30 e seus itens, do RDME.
a.1) Para realizar o PAD com base nas letras a), b), c), e d), do item I do Art. 30, independe do
comportamento em que se encontre o militar estadual.
b) A autoridade que determinou a instaurao, aps receber o PAD do Encarregado, no prazo mximo de
15 dias emitir seu parecer, sendo pelo licenciamento, o encaminhar ao Cmt Geral para deciso final (
2 do Art. 123 RDME).
c) O Cmt Geral proferir dentro de 15 dias a contar do recebimento, a deciso final, que dever ser
publicada em Boletim.

6. NOTA DE PUNIO/NOTIFICAO
A nota de punio dever atender o Art. 34, devendo ser obrigatoriamente publicada em Boletim e
notificada diretamente ao policial punido, conforme exemplo abaixo:
6.1 - NOTA DE PUNIO
O SD PM AZAMBUJA DUQUE DE CAXIAS RG 1111-1 da 1 Cia do 1 Btl, por ter faltado ao
servio de policiamento para o qual encontrava-se devidamente escalado no dia 14/ago /2000. Concedido
o direito a ampla defesa o militar estadual no justificou a sua conduta. Infringiu a letra o, item II do
3

Art. 135 com a agravante dos ns II do Art. 26 e atenuante dos ns V , VI e IX do Art. 27, tudo do RDME.
TRANSGRESSO GRAVE. Fica DETIDO com 08 dias a cumprir no 1 BPM. Permanece no
Comportamento Militar BOM. Pena acessria Multa de 01 dia.
6.2 - NOTIFICAO - Destina-se a dar conhecimento ao policial da sua punio. Deve constar em uma
folha com os seguintes dados:
1) NOTIFICADO;
2) TEOR DA PUNIO o mesmo teor tem que ser publicado em Boletim;
3) Assinatura do Oficial da P/1 ou da Cia;
4) Ciente do notificado contendo dia e hora;
5) Arquivar junto a seu pronturio.

NOTIFICAO DE PUNIO
SD PM _____________________ RG
Sano Disciplinar Copiar a sano publicada no Boletim

______________________
P/1 ou Oficial da Cia
INCIO DA PUNIO
___/___/___
TRMINO DA PUNIO ___/___/___
Ciente
Em ____/_____/_____ s ______ horas
_______________________
NOTIFICADO

7. CUMPRIMENTO DA SANO DISCIPLINAR


LOCAL - Ser devidamente transcrito no Boletim o local do cumprimento da punio, podendo ser a
sede do Btl, da Cia ou mesmo do Destacamento.
HORRIO - O horrio do cumprimento da punio ser das 08:00 as 18:00 horas diariamente (inclusive
Sbado, Domingo e feriado).
Nos casos que a disciplina exigir, devidamente registrado na nota de punio publicada no boletim, o
horrio de cumprimento da punio poder ser outro, inclusive integralmente.
[VIDE PORTARIA 442-R]

8. CLASSIFICAO DO COMPORTAMENTO
A Classificao do Comportamento Policial Militar (CPM), do militar estadual ser feito em respeito ao
Art. 58, 59 e 60, da seguinte forma:
Exemplo de Classificao do Comportamento Policial Militar no dia 15/08/2000.

DATA
Sano
Sano
Sano
Sano
Sano
Sano

05/94
GG
GG
G
G
L
L

GG= gravssima;

10/96
----GG
L
--G

06/97
--M
-- -- -----

G= grave

05/98
----M
GG
--M
M= mdia;

09/98
------M
--L

02/99 09/99 03/00


-------- ------L
----L
M
M
M
M
M
G
M

5/08/00
------M
G
G

CPM
EXCEP
OTIMO
BOM
BOM
INSUF
MAU

L= leve

A classificao do CPM do militar estadual feito ex-officio, considerando a data da publicao da


sano disciplinar imposta, e respeitando os perodos estipulados no Art. 58, considerando o tempo e as
sanes existentes dentro daquele perodo.
[VIDE EXEMPLOS DA AULA DE CLASSIFICAO DE COMPORTAMENTO]
8.1 - NOTA DE CLASSIFICAO DE COMPORTAMENTO
NO CPM - BOM
- 3 SGT PM __________________ RG ________ a contar de __/__/__ em conformidade com o item
III do Art. 58
- SD PM ______________________RG _________ a contar de __/__/__ em conformidade com o
item III do Art. 58.

9 . CASO DE CONDENAO POR CRIME (Art. 59)


Condenado transitado em julgado por crime - ingressa automtico no CPM MAU.
Condenado transitado em julgado por contraveno equivale a sano disciplinar Gravssima.
O prazo para modificao da classificao do Comportamento ter como base a data do encerramento da
pena, ou da sentena em que declara a prescrio da pena, ou indulto.
No caso de ocorrer a prescrio da pretenso punitiva do Estado - Art. 109 do Cdigo Penal (CP) ou 125
do Cdigo Penal Militar (CPM) , no ocorrer o registro em assentamento e nem alterao do
Comportamento Policial Militar (CPM), porque legalmente no houve condenao.
No caso de ocorrer a prescrio da pretenso executria da pena pelo Estado - Art. 110 do CP e 126 do
CPM, ocorrer o registro em assentamento e alterao do CPM, contados da data da sentena, o militar
estadual s no cumprir a pena imposta.
Ocorrendo suspenso condicional da pena, para efeito de alterao no CPM, aps o cumprimento da
suspenso, ser considerado a data do encerramento da pena efetiva aplicada (pena em concreto).
No caso de contraveno, a data a ser considerada para melhoria do CPM ser a da sentena.

10. REABILITAO
A reabilitao um direito do militar estadual, com base unicamente no tempo decorrido entre a
efetivao da punio e o momento de apagar definitivamente a sano disciplinar do cadastro.
A reabilitao ocorrer ex-officio, apenas respeitando o tempo estipulado no Art. 67, ocorrendo
obrigatoriamente a publicao em Boletim, conforme modelo abaixo:

NOTA DE REABILITAO
Conforme expresso nos art. 66 e 67 do RDME, determino que se apague a averbao no cadastro e
demais fichas funcional e de Comportamento dos seguintes militares estaduais:
SD PM _________________ RG ________ a punio disciplinar ____________ publicado no
Boletim n _____ de ___/___/____.

11. COMPETNCIA PARA INSTAURAR PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS


11.1 - SINDICNCIA
Preferencialmente os Comandantes de Batalho, Cmt de Unidades Especializadas, Cmt de Cia
Independente.
Autoridades constantes dos ns. I, II, III, IV e V do art. 10;

12. PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR - rito ordinrio (PAD-ro)


a) Fica determinado que todas portarias de PAD-RO sero de competncia exclusiva da Corregedoria,
que ficar responsvel pelo seu controle e fiscalizao.
b) Os Cmt de OME devero remeter para a Corregedoria toda a documentao referente ao fato,
solicitando a abertura do PAD-RO.

13. PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR - Rito Sumrio (PAD-RS)


Preferencialmente os Cmt de Cia/Btl, Cmt de Cia Independente, Cmt de Btl e Cmt de Unidade
Especializada.
Autoridades constantes dos ns. I, II, III, IV, V e VI do Art. 10.
O PAD-RS ser determinado via portaria das autoridades acima.
O PAD-RS que tenha como acusado CB ou SD pode ser delegada ao SGT ou SUBTEN.
O PAD-RS que tenha como acusado SGT ou SUBTEN, da competncia de Oficial.

14. REVISO DO PROCESSO DISCIPLINAR - Art. 48


A pedido - prazo de 120 dias.
Ex-officio - prazo de 02 anos.

15 . PRESCRIO
O direito de realizar a ao disciplinar prescreve em 02 anos, a contar da data em que ocorreu a
transgresso.

16 . DISPOSIES FINAIS

16.1 - O militar estadual submetido a Processo Administrativo Disciplinar de Rito Ordinrio (Art. 75 1)
afastado do exerccio de suas funes, ficando disposio do Processo, at a publicao da deciso
final, cujo ato publicado em Boletim.
O militar estadual nesta situao permanece durante o expediente administrativo na Unidade onde est
sendo realizado o Processo.
No perodo que o militar estadual permanecer afastado de suas funes ser sustado de seus vencimentos
a Gratificao de Funo Policial Militar tipo II, Gratificao de Comando e Gratificao de motorista.
16.2 - A melhoria do Comportamento Policial Militar e a Reabilitao (antigo cancelamento), relativas s
punies aplicadas e registradas nos assentamentos dos militares estaduais com base no RDPMES Dec.
n 1315-N, que foi revogado pelo Decreto n 254-R de 11/08/00, ter como base a classificao da
transgresso, LEVE , MDIA ou GRAVE e obedecer aos Art. 58 e 67 do novo Regulamento.
16.3 - Todas as punies publicadas no Boletim a partir do dia 14/08/2000, obrigatoriamente, tem que ter
como base o novo Regulamento Disciplinar - Decreto 254-R de 14/08/00. Se j ocorreu a publicao em
Boletim, os Cmt das OME devem tornar sem efeito esta publicao e fazer novo enquadramento com
nova publicao legal.

ESTADO DO ESPIRITO SANTO


POLICIA
MILITAR
COMANDO GERAL

DETERMINAO
PROCEDIMENTOS SOBRE O ART. 23 DO RDME - MULTA
Art. 1 Determinar o procedimento a ser adotado para toda a Polcia Militar no tocante ao art. 23 e
pargrafo nico do RDME - MULTA.
1. SERVIO - entende-se por servio qualquer atividade que o militar estadual deva se fazer presente
(expediente; escala de servio; instruo; representao ou qualquer determinao legal que deva
executar).
2. FOLGA - Perodo de descanso entre duas jornadas (escalas) de servio; s possui direito a folga
quem efetivamente cumpriu, ou seja, trabalhou na primeira jornada de trabalho.
3. SERVIO DE ESCALA - Na falta ao servio por qualquer motivo, mesmo que justificado o
militar estadual no tem direito a folga. Portanto obrigado a comparecer no 1 (primeiro) dia aps a sua
falta sua OME para cumprir uma jornada de trabalho at sua nova escala.
4. A falta do militar estadual, que concorre a servio de escala, nos dias a que teria folga se tivesse
efetivamente trabalhado, pode gerar punio e multa, mesmo que sua falta no dia da escala seja
justificada.
5. Toda falta no justificada dever ser punida disciplinarmente e obrigatoriamente ocorrer MULTA
como sano acessria.
6. No permitido a realizao de ESCALA EXTRA na semana que o militar estadual faltou a 01 ou
mais servio, mesmo que justificado.
Art. 2 O lanamento do dia-multa de responsabilidade de cada OME. Dever ser realizado aps a
publicao em boletim contendo a punio disciplinar e a sano acessria de multa, devendo-se lanar na
ficha de proventos e desconto no cdigo a ser fornecido pela DP (Diretoria de Pessoal).
Art. 3 Clculo do dia multa Competncia da DP/4.
A remunerao do policial militar para clculo do dia multa se processar com o somatrio dos valores
abaixo, dividido por 30 (trinta):
Soldo;
Assiduidade;
Compensao Orgnica;
Gratificao de Motorista;
Gratificao Casa Militar;
Gratificao Adicional por Tempo de Servio;
Gratificao Funo Policial Militar I;
Gratificao Funo Policial II;
Gratificao de Comando.

JOO CARLOS BATISTA CEL PM


CMT GERAL DA PMES

AUTUAO EM FLAGRANTE DE TRANSGRESSO DA DISCIPLINA MILITAR


- PORTARIA n 388-R, de 02 de setembro de 2004
Regulamenta o Art. 11, 2 do RDME que trata da autuao em flagrante de
transgresso da disciplina militar.
O Coronel PM Comandante Geral da Polcia Militar do Estado do Esprito Santo,
no uso de suas atribuies legais, e tendo em vista o disposto no Art. 4 da Lei n 3.044,
de 31 Dez 1975, nos incisos I, III, IV e IX do Art. 2 do RCGPM, aprovado pelo Decreto n
3.666-N, de 17 mar 94, e no Art. 148 do RDME aprovado Decreto n 254-R, de 11 ago
2000,
R E S O L V E:
Art. 1 - Observado o disposto no Art. 11, 2 do Regulamento Disciplinar dos
Militares Estaduais, o policial militar que atuar prontamente, dever conduzir o
transgressor sua OME de origem ou a OME mais prxima a fim de que seja decidida
pela autuao em flagrante disciplinar.
Art. 2 - Por pronta interveno expressa no RDME entende-se a iniciativa
adotada pela autoridade militar no sentido de cessar a prtica do ato que se
configure transgresso disciplinar, consistindo inclusive no recolhimento provisrio do
infrator referida OME.
Art. 3 - O oficial responsvel pela autuao, Oficial-de-Dia ou Chefe da 2
Seo/Cartrio da OME, conforme o caso, dever ouvir o condutor e as testemunhas,
bem como, o transgressor, adotando providncias quanto a juntada de documentos
ou requerimento de exames periciais, se for o caso, encaminhando, de imediato,
relatrio circunstanciado ao Comandante da OPM ou seu preposto.
Art. 4 - O Comandante da OME ou seu preposto poder decidir, com base no
relatrio encaminhado, pela imediata liberao do policial militar autuado
disciplinarmente ou at 24 horas aps a autuao, devendo aps esse prazo, ser
providenciada sua liberao.
Art. 5 - O relatrio circunstanciado instruir a instaurao de Processo
Administrativo Disciplinar adequado, se contiver os elementos exigidos no Art.79 do
RDME. Caso contrrio, optar-se- pela abertura de procedimento apuratrio.
Art. 6 - O perodo de 24 horas em que permanecer recolhido disposio do
Comandante da OME ser considerado para efeito de contagem de eventual
aplicao de sano disciplinar, aps soluo de ulterior processo disciplinar, tendo
tal prazo carter meramente cautelar.
Art. 7 - As providncias decorrentes da aplicao do disposto nessas normas
complementares por parte das respectivas OME devero ser publicadas em Boletim
Interno da Unidade.
Art. 8 Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicao.
Art. 9 - Revogam-se as disposies em contrrio.

CUMPRIMENTO DE PUNIES DISCIPLINARES


Normatizao
- PORTARIA n 442-R, de 09 de maio de 2007
Altera Portaria que normatiza o cumprimento de punio disciplinar no
mbito da PMES.
O CORONEL PM COMANDANTE GERAL DA POLCIA MILITAR DO ESTADO DO
ESPRITO SANTO, no uso de suas atribuies legais e tendo em vista o disposto no Art.
2, inciso III, do RCGPM, aprovado pelo Decreto n 3.666-N, de 17.03.1994,
R E S O L V E:
Art. 1 - O Art. 1 da Portaria n 439-R, de 15.02.2007, passa a vigorar com a
seguinte redao:
Art. 1 Determinar que as punies disciplinares aplicadas na PMES sejam
cumpridas da seguinte forma:
I Nas Unidades/Subunidades Independentes e Companhias destacadas, a
partir do 1 dia aps a publicao da punio, com incio s 08:00 horas e trmino s
22:00 horas, sem prejuzo do servio, ressalvada a disposio contida no Art. 46 do
RDME;
II O registro do cumprimento da sano disciplinar ser de responsabilidade
do Oficial de Dia ou seu substituto legal;
III Para fins de controle do cumprimento das sanes disciplinares os
Comandantes de Unidades/Subunidades Independentes, devero encaminhar
Corregedoria a relao dos Militares Estaduais, eventualmente punidos, com a data
do incio e o trmino da punio.
Art. 2 - Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicao.
Art. 3 - Revogam-se as disposies em contrrio.

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