Metodos de Transformacao de Plantas

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MTODOS DE TRANSFORMAO DE PLANTAS

Ana Lcia Soares da Silva Ribeiro Martins, Pmela Kalyenna Duarte

RESUMO
A tecnologia de transferncia de genes tem criado novas alternativas para a produo de plantas
com adaptaes ao ambiente de cultivo com maior capacidade de produo. Os mtodos
utilizados na produo de plantas geneticamente modificadas podem ser classificados como
indiretos e diretos. O mtodo indireto requer a utilizao de um vetor biolgico para a introduo
do DNA na planta. Os vetores mais utilizados so a Agrobacterium tumefaciens com capacidade
de transferir parte de seu DNA para o genoma da planta. A transferncia de genes mediada por
Agrobacterium tem sido bastante empregada. Os mtodos diretos so aqueles que provocam
modificaes nas paredes e membranas celulares para a introduo de DNA exgeno, atravs de
processos fsicos ou qumicos, os mais eficientes so a eletroporao de protoplastos e
biobalstica. As plantas transgnicas tem sido produzidas nas principais espcies cultivadas e
levadas ao mercado consumidor, expressando o aumento da qualidade nutricional ou resistncia a
herbicidas, insetos ou fungos.
Palavras chave: Agrobacterium tumefaciens, genoma, DNA, biobalstica.

INTRODUO
A biotecnologia vegetal consiste na aplicao de um conjunto de tcnicas para manipular
o potencial gentico das plantas, originou-se no final da dcada de 1850 com trabalhos dos
fisiologistas vegetais alemes Julius Von Sachs e W. Knop (RAVEN, 1999).
Os mtodos da biotecnologia permitem no somente reduzir o tempo da obteno de
variedades com novas caractersticas, mas tambm transmitir propriedades de espcies que,
normalmente so sexualmente incompatveis. Em outras palavras, as barreiras naturais entre as
espcies podem ser superadas, o que oferece um enriquecimento de variedades realmente novas
em forma de plantas transgnicas. Alm disso, possvel, com os mtodos da biologia molecular
moderna, isolar e manipular genes especficos, o que no acontece no melhoramento clssico,
onde o melhorista obrigado a trabalhar com genomas inteiros (BARROS e MOREIRA, 2001).
Segundo Borm (2001) a biotecnologia o desenvolvimento de processos biolgicos,
utilizando se a tcnica de DNA recombinante, a cultura de tecidos e outros. Pode-se ser tambm
o uso industrial de processos de fermentao de leveduras para a produo de lcool ou cultura de
tecidos para a extrao de produtos secundrios. E ainda um processo tecnolgico que permite a
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utilizao de material biolgico para fins industriais.


Para a melhoria da qualidade dos alimentos, quanto aos nveis nutricionais, para homens e
animais domsticos e a criao de variedades tolerantes a deficincia de nutrientes e ao stress do
ambiente, representam a grande perspectiva do uso da biotecnologia na agricultura (BARROS e
MOREIRA, 2001).
De acordo com Borm (2001) a transferncia especifica de genes que controlam
caractersticas, tambm especificas, de um organismo para o outro denominada engenharia
gentica e pode ser utilizada na transferncia desses genes,mesmo em organismos
filogenticamente distantes produzindo os organismos geneticamente (OGMs).
Os primeiros experimentos a campo com plantas transgnicas foram conduzidos em 1986,
nos Estados Unidos e na Frana. Na dcada de 1986 a 1995, 56 culturas diferentes foram testadas
em mais de 3,5 mil experimentos realizados em mais de 15 mil locais, em 34 paises. As culturas
mais freqentemente testadas foram milho, tomate, soja, canola, batata e algodo e as
caractersticas genticas introduzidas foram tolerncia a herbicidas, resistncia a insetos,
qualidade do produto e resistncia a vrus (BRASILEIRO e DUSI, 1999).
Os mtodos de engenharia gentica permitem que genes individualmente sejam inseridos
nos organismos de forma precisa e simples (RAVEN, 1999). Portanto ao invs de promover o
cruzamento entre organismos relacionados para obter uma caracterstica desejada, cientistas
podem identificar e inserir, no genoma de um determinado organismo, um nico gene
responsvel pela caracterstica em particular. O sucesso da produo de plantas transgnicas
depende da introduo do DNA no genoma vegetal e da regenerao de plantas que expressam
um gene inserido (DROSTE, 1998)
Vrios mtodos para a transferncia de genes em plantas tem sido propostos,
possibilitando a produo de plantas transgnicas das espcies de maior importncia no mundo
(SANTARM, 2000).
A transferncia de genes para espcies vegetais tem sido possvel graas a manipulao
gentica de clulas, utilizando mtodos diretos ou indiretos de transformao. O mtodo indireto
aquele no qual utiliza um vetor, como Agrobacterium tumefaciens (SANTARM, 2000) ou
Agrobacterium rhizogenes (BRASILEIRO e DUSI, 1999), de forma a intermediar a transferncia
de genes.
Entretanto, algumas dicotiledneas e a maioria das monocotiledneas e gimnospermas
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no so suscetveis, ou apresentam pouca suscetibilidade infeco pela Agrobacterium


(POTRIKUS, 1990). Os mtodos diretos, tm sido adotados, porque no requerem a utilizao de
vetores biolgicos, mas por outro lado utilizam protoplastos, que em alguns casos apresentam
dificuldade de regenerao de plantas. Os mtodos diretos mais utilizados so a eletroporao e a
biobalstica (SANTARM, 2000). O objetivo

deste trabalho apresentar uma reviso

bibliogrfica sobre os mtodos de transformao de plantas.

MTODOS DE TRANSFORMAO DE PLANTAS

TRANSFERNCIA POR AGROBACTERIUM


O bilogo molecular mexicano Luis Herrera - Estrela e o geneticista norte-americano
Robert B. Horsch foram os primeiros a conseguir, em 1984, plantas de tabaco transformadas
geneticamente via Agrobacterium, atravs da unio das tcnicas de biologia molecular, cultura de
tecidos vegetais, transformao e seleo in vitro. Portanto, foi demonstrado que essa bactria
poderia servir como um vetor natural para a transformao de plantas, possibilitando que genes
com caractersticas de interesse agronmico pudessem ser transferidos para vegetais
(SANTARN, 2000).
Agrobacterium uma bactria de solo, Gram negativa, aerbica, pertencente Famlia
Rhizobiaceae (LIPP-NISSINEN, 1993). Sua importncia para os estudos de transformao de
plantas reside na capacidade natural que esses patgenos possuem de introduzir DNA em plantas
hospedeiras. Esse DNA integrado e passa a ser expresso como parte do genoma da planta.
Como conseqncia dessa expresso, o padro normal de desenvolvimento alterado (LIPPNISSINEN, 1993).
Agrobacterium tumefaciens (figura 1) uma das cinco espcies do gnero Agrobacterium
que pode penetrar em plantas, principalmente nas dicotiledneas, causando a galha-da-coroa.
Esta bactria possui um plasmdeo indutor de tumor denominado Ti, parte do qual incorporado
nas clulas da planta hospedeira, que passa a produzir hormnios vegetais e opinas (compostos
sintetizados para a nutrio da bactria). Outra bactria do solo, Agrobacterium rihizogenes
(figura 2), causadora da proliferao de razes secundrias no ponto de infeco tem sido tambm
considerada excelente vetor para transformao gentica (BORM, 1998).

Na transformao mediada por Agrobacterium (figura 3) necessrio que a bactria fique


em contato com explantes, com potencial regenerativo, como segmentos de folhas jovens,
embries zigticos, entrens, cotildones etc. A tcnica consiste em colocar o explante na
presena do vetor de transformao (Agrobacterium) contendo o gene de interesse onde eles so
co-cultivados. As bactrias ento infectam o tecido vegetal iniciando o processo de transferncia
e transformao do genoma da planta. A seguir o tecido cultivado em meio de regenerao
contendo antibitico para eliminao da Agrobacterium e um agente seletivo que um sistema
baseado na utilizao de genes que conferem resistncia a antibiticos. As plantas transformadas
so ento, regeneradas in vitro e posteriormente aclimatadas (BRASILEIRO, 1998).
Quando a bactria conecta uma clula da planta, um segmento deste plasmdeo, chamado
de T-DNA transferido do plasmdio Ti para o ncleo da clula da planta e integrado em uma
posio aleatria em um dos cromossomos da planta durante a transformao (TORRES, 2003)
A infeco por Agrobacterium requer um ferimento no tecido vegetal. Primeiramente,
acreditava-se que o ferimento teria a funo de remover a barreira fsica imposta pela parede
celular. Atualmente, sabe-se que as clulas feridas, mas metabolicamente ativas, excretam
compostos fenlicos de baixo peso molecular, especificamente reconhecidos pela bactria no
momento da infeco. Essas molculas foram identificadas como acetosiringona (AS) ou ahidroxi-acetosiringona (OH-AS) (STACHEL et al., 1985), chalconas e derivados do cido
cinmico (STACHEL et al., 1985) e so responsveis pela iniciao da transferncia do T-DNA
(BRASILEIRO, 1998).
No incio do processo de infeco de uma planta por Agrobacterium, ocorre o
reconhecimento e a ligao da bactria clula vegetal. As bactrias so atradas em direo ao
tecido vegetal por quimiotactismo em relao s molculas-sinal (compostos fenlicos, acares
e aminocidos), que so exsudadas por clulas lesadas em decorrncia de ferimentos superficiais
causados por insetos e geadas. Uma vez em contato com as clulas vegetais, as bactrias
sintetizam microfibrilas de celulose para favorecer a formao de agregados de clulas
bacterianas em volta do tecido vegetal ferido. A capacidade de infectar clulas vegetais est
associada presena, nas agrobactrias, de um plasmdio de alto peso molecular (150 a 250 kb),
conhecido como plasmdio Ti (Figura 4) (AHMED, 2000)
Aps o ferimento e a colonizao no local seguida por neoplastia (formao de um calo) e
produo de certos derivados de aminocidos (opinas) os sintomas continuam mesmo na ausncia
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das bactrias, implicando na presena de algum determinante gentico que transformou a planta.
Este determinante o plasmdeo Ti que se integra ao genoma da planta hospedeira, havendo
produo de vrias opinas (que so polipeptdios e servem de fonte de carbono e nitrognio
bactria) e multiplicao acelerada das clulas transformadas. Diferentes tipos de pTi codificam a
produo de diferentes opinas (octopina, nopalina, agropina), que so sintetizadas pela planta.
Outros tipos de opinas tambm so sintetizadas pelas clulas das galhas da coroa. Por exemplo,
clulas de tumor induzidas pelo tipo que produz nopalina, sintetizam tambm agropina e
manopina (LIPP-NISSINEN, 1993).
Mais de 600 espcies vegetais so conhecidamente susceptveis infeco por A.
tumefaciens e A. rihizogenes, sendo a maioria delas da classe das Angiospermas dicotiledneas e
Gimnospermas e com raridade das Angiospermas monocotiledneas (BRASILEIRO, 1998).
As agrobactrias tm-se mostrado um vetor natural para transformao gentica, bastante
eficiente para dicotiledneas. Por ser uma metodologia fcil de ser aplicada e de baixo custo a
transformao via Agrobacterium tem sido a mais amplamente utilizada (BORM, 1998).
A

insensibilidade

de

certas

espcies

vegetais,

especialmente

Angiospermas

monocotiledneas, infeco por Agrobacterium limita a utilizao dessa bactria como vetor de
transformao gentica. Assim, sistemas de transformao direta, baseados em mtodos qumicos
ou fsicos, foram desenvolvidos paralelamente ao sistema Agrobacterium (BORM, 1998).
Sua importncia para os estudos de transformao de plantas reside na capacidade natural
que esses patgenos possuem de introduzir DNA em plantas hospedeiras. Esse DNA integrado
e passa a ser expresso como parte do genoma da planta (HOHN, 1992).

FIGURA 1: ESTRUTURA DE AGROBACTERIUM TUMEFACIENS


(FONTE: www.nsf.gov/.../news/press/01/pr01101derek1.htm)
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FIGURA 2: ESTRUTURA DE AGROBACTERIUM RHIZOGENES .


(FONTE: HTTP:// www.bio.davidson.edu/metod/dsmeth/ds/htm)

Figura 3: Esquema do processo natural de infeco de uma planta por Agrobacterium: 1) As


bactrias do solo so atradas pela planta, aps um ferimento, atravs de molculas-sinal. 2) TDNA transferido da bactria para o genoma da planta em forma de fita simples (fita-T). 3) Os
genes presentes no T-DNA ento so expressos, sintetizando opinas e hormnios vegetais
(citocininas e auxinas). 4) A sntese desses hormnios nas clulas transformadas provoca a
formao da galha (FONTE: http://enhs.umn.edu).

Figura 4: Vetor binrio, contendo o gene de interesse entre as extremidades do T-DNA, mantm
em uma linhagem desarmada de Agrobacterium de forma independente do plasmdio Ti
desarmado, cujos oncogenes foram eliminados e a regio vir mantida (Fonte:
http://www.ufv.br/dbg/trab2002/TRANSG/TRG004.htm)
TRANSFERNCIA POR ELETROPORAO DE PROTOPLASTOS
Protoplastos so definidos como clulas desprovidas de paredes celulares (EVANS,
1991). Para a introduo de DNA usando a eletroporao, os protoplastos so expostos a pulsos
curtos de corrente contnua e alta voltagem, em presena do DNA exgeno. o mtodo mais
indicado para plantas monocotiledneas como milho e trigo (EVANS, 1991).
Parmetros como durao dos pulsos eltricos, intensidade do campo eltrico,
concentrao e forma do DNA, presena ou ausncia de DNA carregador, composio do tampo
de eletroporao e temperatura de incubao dos protoplastos devem ser determinados
(SANTARM, 1998)
No procedimento conhecido como fuso de protoplastos, os protoplastos de duas plantas
diferentes so unidos, produzindo uma clula somtica hbrida. Logo aps a remoo das paredes
e antes que elas sejam novamente formadas, os protoplastos so fusionados pela adio de um
agente apropriado como polietileno glicol ou mediante descargas eltricas (RAVEN, 1999).
Para a transferncia dos genes, os protoplastos previamente selecionados e purificados so
mantidos em soluo juntamente com os plasmdeos que contem os genes a serem introduzidos.
Aps isso se utiliza uma descarga de capacitores para produzir pulsos de alta voltagem que induz
a abertura de poros na membrana celular, o que permite a penetrao e a eventual integrao dos
genes no genoma (BRASILEIRO e DUSI, 1999)
A descarga eltrica proveniente de um aparelho (eletroporador) que permite ao operador
o controle da voltagem e sua durao, bem como ao nmero de pulsos e o intervalo entre estes. A
amostra de suspenso das clulas intactas ou protoplastos contendo o material a ser inserido (em
geral 0,4 a 1 ml acondicionada em uma cmara cilndrica de "plexiglass" cujas extremidades
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so formadas por dois eltrons de ao inoxidvel). O nmero de pulsos consecutivos a ser


administrado, bem como sua intensidade e durao devem inviabilizar 50% das clulas (DL50),
pois assim considera-se que a formao de material exgeno seria maximizada (EVANS, 1991).
Esse tratamento induz uma alterao reversvel da permeabilidade da membrana
plasmtica e poros temporrios so formados, permitindo a entrada do DNA nas clulas (Figura
5). A extenso da formao de poros determinada pela intensidade e durao do pulso eltrico e
pela concentrao inica do tampo de eletroporao. Os poros aumentam em tamanho e nmero
com o aumento da durao e intensidade dos pulsos (BRASILEIRO e DUSI, 1999).
Mais recentemente, foi sugerido que a induo de plasmlise parcial das clulas,
imediatamente antes da eletroporao, substituiria o tratamento enzimtico (SABRI et al., 1996).
A associao de plasmlise e eletroporao permitem a difuso do DNA em espaos
intercelulares ou a penetrao lenta do DNA pelos poros das paredes celulares sendo o choque
eltrico necessrio apenas para permeabilizar a membrana plasmtica (DEKEYSER et al., 1990).
As clulas hbridas devem ser crescidas em meio de cultura slido para ocorrer o
desenvolvimento de calos. Os calos devero originar embries somticos que, ao se
desenvolverem, podero tornar-se plantas adultas frteis. Plantas hbridas haplides, obtidas por
intermdio do uso de plen ou de pores (explantes) das anteras, so inviveis para a reproduo
sexuada, sendo necessrio propag-las vegetativamente (RAVEN, 1999).
A eletroporao uma tcnica rpida, simples e realizada sem agentes txicos s clulas,
embora os pulsos eltricos possam ter efeito deletrio na sobrevivncia dos protoplastos e
subseqente regenerao de plantas. Algumas plantas transgnicas foram obtidas utilizando essa
tcnica (SHIMAMOTO et al., 1989)
A grande vantagem deste mtodo que o tecido regenerado a partir de uma nica clula,
evitando, desta forma as quimeras, porm a maior dificuldade a obteno de uma nova planta a
partir de um protoplasto (EVANS, 1991). Tem sido altamente utilizada na observao da
expresso transiente, que a expresso do gene exgeno sem que ele tenha sido incorporado ao
genoma, permitindo assim, testar a funcionalidade de uma construo gnica, sem a necessidade
de obter uma planta transgnica (AHMED, 2000).

Figura 3: Esquema representativo do isolamento e purificao de protoplastos de nicotina


tabacum (Fonte: http://www.ufv.br/dbg/trab2002/TRANSG/TRG004.htm).
No caso da insero de material exgeno o mtodo aplicvel introduo de molculas
de vrios tamanhos tais como a urease, grnulos de cromatina, 14c-sacarose, DNA e kimunoglobulina em clulas animais. Em protoplastos isolados de plantas a eletroporao tem
estimulado a absoro de 14c-insulina e calcena RNA e DNA. No caso de clulas intactas h
citaes da injeo de DNA em leveduras e fumo (AHMED, 2000)
O maior obstculo do mtodo est na dificuldade de regenerao de plantas a partir de
protoplastos transformados. Mesmo quando a regenerao obtida, as plantas podem apresentar
problemas de reduo de fertilidade (RHODES et al., 1989), alm de vrias espcies ainda serem
consideradas recalcitrantes para essa tecnologia (BIRCH, 1997).

BIOBALSTICA OU BOMBARDEAMENTO DE PARTCULAS


Este mtodo foi desenvolvido por Sanford e colaboradores na Universidade de Cornell, e
foi designado biobalstica (biolgico + balstica = biobalstica) em razo da alta velocidade
imprimida aos microscpicos projteis revestidos com DNA (SANFORD, 1992 apud BORM,
1998).
Como os outros mtodos de transferncia direta de genes aplicam-se a praticamente toda
espcie de planta. Em princpio a biobalstica abrangeria as trs condies principais que
compem um mecanismo ideal de transferncia de genes: Permitiria a transformao de clulas,
tecidos e espcies mais direta, simples e rapidamente; seria aplicvel para a transferncia de
genes s numerosas clulas, tecidos e espcies para os quais os outros mtodos so falhos;
praticidade de manuseio, pois atravs de um aparato relativamente simples pode-se transformar
geneticamente eucariotos e procariotos (SANFORD, 1988). Esta uma tcnica que apresenta
uma vantagem sobre as demais, uma vez que pode ser utilizada em tecidos intactos, alm disso, o
procedimento no requer cultura de clulas ou pr- tratamento dos tecidos a serem bombardeados
(RAVEN, 1999).
O mtodo consiste na acelerao de micropartculas que atravessam a parede celular e a
membrana plasmtica, de forma no letal, carregando substncias adsorvidas, como DNA, RNA
ou protenas, para o interior da clula (KLEIN et al., 1987 SANFORD, 1988) rompendo a
barreira da parede celular e da membrana plasmtica, sem o uso de vetores biolgicos. Para isso,
microprojteis de ouro ou tungstnio (Figuras 5 e 6), cobertos com molculas de DNA, so
acelerados a alta velocidade pelo acelerador de micropartculas que produz uma fora propulsora,
usando plvora, gs ou eletricidade, o que possibilita sua penetrao em clulas intactas (Figura
7). Aps o bombardeamento, uma proporo de clulas atingidas permanece vivel; o DNA
integrado no genoma vegetal e incorporado aos processos celulares de transcrio e traduo,
resultando na expresso estvel do gene introduzido (SANTARM e FERREIRA, 1997). Ele
apresenta a vantagem de poder ser usado em tecidos intactos, dispensando procedimentos prvios
de cultura de tecidos (SILVA, 2000). O termo biobalstica pode ser substitudo por acelerao de
microprojteis ou bombardeamento de partculas (SANFORD, 1988).
Todo o processo ocorre no interior de uma cmara sob vcuo, para evitar a desacelerao
das partculas causadas pelo ar (MOREIRA, et al., 1999). A onda de choque gerada impulsiona o
macrocarregador, no qual as micropartculas cobertas com DNA (microprojteis) foram
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previamente depositadas. Ao atingir a tela de reteno, a membrana retida e as micropartculas


contendo o DNA continuam em direo s clulas alvo, penetrando na parede celular e
membrana plasmtica (LACORTE et al., 1999; Figura 6).
As molculas de DNA e RNA so eficientemente ligadas s pequenas partculas de
tungstnio e molculas de diversos tamanhos podem ser arremessadas para dentro das clulas,
tais como RNA de vrus do mosaico do fumo e plasmdeo de DNA (SANTARM e FERREIRA,
1997). A desvantagem do tungstnio est na possibilidade das partculas sofrerem degradao
cataltica com o passar do tempo, sendo txicas para alguns tipos de clulas (RUSSELL et al.,
1992) so tambm sujeitas oxidao, o que afeta a adeso do DNA ou degrada o DNA aderido
(RUSSELL et al., 1992).
As partculas de ouro so mais uniformes e inertes biologicamente, no causando danos s
clulas. No entanto, elas tendem a se aglomerar irreversivelmente em solues aquosas,
reduzindo a eficincia do processo de introduo de DNA (KIKKERT, 1993).
Sendo assim, a relao entre o tipo de microprojteis usado para o bombardeamento e a
expresso temporria ou estvel do gene introduzido deve ser avaliada para cada espcie e tecido
estudados (SANTARM, 1998)
O processo de biobalstica foi inicialmente proposto com o objetivo de introduzir material
gentico no genoma nuclear de plantas superiores. Desde ento, sua universalidade de aplicao
tem sido avaliada, demonstrando ser um processo tambm efetivo e simples para a introduo e
expresso de genes bactrias, protozorios, fungos, algas, insetos e tecidos animais
(BRASILEIRO e CARNEIRO, 1998).
A biobalstica uma tcnica bastante verstil, pois permite alm da transformao de um
gentipo, pode tambm ser utilizado para uma organela como a mitocndria ou o cloroplasto.
Uma das principais vantagens a eficincia na transformao de Gimnospermas e Angiospermas
monocotiledneas, o que no observado na transformao por meio de Agrobacterium. Esse
processo possibilitou a obteno de plantas transgnicas de diversas espcies cultivadas, que at
ento no haviam sido transformadas por outras metodologias disponveis (AHMED, 2000)
A maioria dos modelos biobalsticos atuais emprega macroprojteis, usados como veculo
para acelerao dos microprojteis colocados na sua superfcie. Tipicamente, os macroprojteis
tm a forma de um cilindro plstico ou disco de metal (FINER, et al., 1996).
Uma das vantagens do sistema que este permite a introduo e expresso gnica em
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qualquer tipo de clula. Assim, foi permitida a transformao in situ de clulas diferenciadas sem
necessidade de regenerao. Outra importante vantagem est na possibilidade de obteno de
plantas transgnicas atravs da transformao de clulas-me do meristema apical. A tcnica de
biobalstica mostrou-se bastante eficiente, pois as micropartculas conseguem atingir as trs
camadas do meristema apical (BRASILEIRO e CARNEIRO, 1998) que formado por clulas
iguais e estas vo se diferenciando em trs tipos de meristema primrio a protoderme, o
procmbio e o cmbio vascular (RAVEN, 1999)
Diversos parmetros fsicos e biolgicos devem ser levados em considerao para se
estabelecer um protocolo de transformao utilizando-se esse mtodo, tais como a espcie vegetal
e seu estado fisiolgico, o tipo de explante, tipo e tamanho da partcula, mtodo de precipitao,
velocidade das partculas, tipo de equipamento (SANFORD et al., 1993).
A biobalstica tem se mostrado um mtodo promissor para a introduo de novas e
desejveis variedades, vrios protocolos de regenerao e transformao vem sendo publicados
(KLEIN, 1987).

Figura 5.: Micropartculas de ouro com 1 a 3 micrmetros de dimetro, recobertas com DNA a
ser introduzido ( Fonte: http://www.fruticultura.iciag.ufu.br/transgenicos.htm#MTODOS )

Figura 6. Micropartculas de tungstnio recobertas com DNA a ser introduzido.


(Fonte: http://www.fruticultura.iciag.ufu.br/transgenicos.htm#MTODOS )

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Figura 7. Microprojtil utilizado na biobalstica.


(Fonte: http://inventabrasilnet.t5.com.br/feijaot.htm)

CONCLUSO

As tcnicas de transformao gentica de plantas hoje uma prtica bastante utilizada,


tm permitido acelerar o melhoramento vegetal e est avanando com extrema velocidade. Os
mtodos de transformao variam tanto em eficincia quanto na forma de aplicao. Estes
mtodos podem ser indiretos ou diretos. Os mtodos indiretos consistem na transformao
mediada por algum agente biolgico como, por exemplo, o Agrobacterium mtodo que consiste
em ocasionar um ferimento na planta e inserir, assim fragmentos de DNA, sendo um mtodo
muito eficiente em dicotiledneas. Os mtodos diretos no necessitam desses vetores biolgicos e
sim de processos fsicos ou qumicos como a eletroporao de protoplastos que introduz o DNA
atravs de protoplastos que so acelerados at atravessar a membrana da clula a ser acrescido o
DNA e a biobalstica que um mtodo onde micropartculas de ouro ou tungstnio so aceleradas
conseguindo, assim, atravessar a membrana da clula. A obteno de plantas transformadas no
o fim deste processo, pois so necessrias diversas pesquisas para garantir que estas plantas no
apresentem risco sade e para serem posteriormente inseridas nos sistemas de produes.

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
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