O documento conta a história de Morgana e Charles. Morgana é libertada após 11 anos confinada em um convento, indo morar com seu pai Gorlois na Cornualha. Charles retorna à Cornualha após uma longa viagem, ainda abalado por ter liderado um massacre no norte.
O documento conta a história de Morgana e Charles. Morgana é libertada após 11 anos confinada em um convento, indo morar com seu pai Gorlois na Cornualha. Charles retorna à Cornualha após uma longa viagem, ainda abalado por ter liderado um massacre no norte.
O documento conta a história de Morgana e Charles. Morgana é libertada após 11 anos confinada em um convento, indo morar com seu pai Gorlois na Cornualha. Charles retorna à Cornualha após uma longa viagem, ainda abalado por ter liderado um massacre no norte.
O documento conta a história de Morgana e Charles. Morgana é libertada após 11 anos confinada em um convento, indo morar com seu pai Gorlois na Cornualha. Charles retorna à Cornualha após uma longa viagem, ainda abalado por ter liderado um massacre no norte.
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"A vida no passa de uma oportunidade de encontro de almas e alguns
deles acontecem mais de uma vez...." Comandante do exrcito, brao
direito do Rei... Honras que qualquer homem nobre desejaria, mas para Charles eram um fardo terrvel e doloroso. Morgana, a bela e gentil filha do Rei da Cornualha, h muito fora tomada por um intenso desejo de vingana e pelo dio. Duas almas, atormentadas pela dor e pela culpa, ligadas por um elo que transcende geraes, unidas pelas foras de um sentimento fugaz e implacvel, do qual no se pode fugir. Mal sabem eles que nasceram para permanecer juntos e que a vida de um estava intrinsecamente ligada existncia do outro. Duas almas, duas vidas... um nico destino! Porm, muitas vezes, o passado no pode ser apagado... Uma linda Histria, envolvente e emocionante, ambientada na Era do Rei Arthur! Prlogo
Sculo VI Onze anos atrs
Gorlois era um Cavaleiro de Camelot, amigo pessoal do Rei Uther e tinha uma casta elevada no Reino, assumindo uma posio de Comando. Ele era casado com a bela Vivienne Le fay, uma Feiticeira Elemental que possua o dom de comandar a gua. Ela poderia sobreviver tanto em terra quando em mar e tinha o poder de inundar cidades inteiras. Haviam se casado recentemente e eram muito felizes, mas ele sempre notou os olhares desejosos de Uther para ela. Porm sua esposa era uma mulher muito honesta e confiava nisso com sua vida. Quando foi convocado para uma Batalha nas Plancies do Norte, ele icou longe de casa por mais de nove meses, e quando retornou, Vivienne havia dado luz a uma menina de nome Morgana. Acreditando que ela era sua ilha, ele a aceitou como tal. Assim como sua me, Morgana nasceu com o dom de manipular os elementos da natureza, ela poderia manipular as partculas do ar e o vento, conseguia lanar uma pessoa metros de distncia, e poderia tambm alterar o clima quando bem entendesse. Seis anos depois, a irm de sua esposa, Morgause, casada com o Rei Marcus do Reino de Lot, veio visit-los, trazendo seu ilho Gawain. Ela e sua esposa no se davam bem desde que eram crianas. Vivienne acreditava que ela tinha inveja, devido ao fato do dom da magia Elemental ter pulado a sua gerao. Na verdade, entre as trs irms, Vivienne era a nica possuidora desse dom. Igraine, a esposa de Uther, tambm no havia nascido com magia. Possuda pela inveja, Morgause acabou lhe contando um segredo que Vivienne havia guardado to bem: Ela tinha o trado e Morgana poderia no ser sua ilha. Quando ele foi ao Norte, ela tinha se deitado com Uther e dessa traio nasceu Morgana. Mesmo destrudo por dentro, Gorlois expulsou Vivienne de casa, mas ela implorou que ele icasse com Morgana e num ltimo ato de misericrdia, ele aceitou. No se sabe que destino teve sua esposa... Logo aps sua partida, Gorlois se casou novamente com a Princesa Anne, do Reino de Tintagel, e com ela teve um nico ilho, Gael, que era muito apegado Morgana e eles viviam sempre juntos. Anne no possua o dom da magia. Os Elementais adquiriam o poder passado de gerao para gerao e cada um possua apenas um dom. Dois anos depois, Anne morreu da doena puerperal ao tentar dar luz ao seu segundo ilho, que nascera morto. Gorlois nunca conseguiu aceitar Morgana como sua ilha e sempre a rejeitou. Ele havia se tornado um homem cruel e amargo, e muitas vezes, entrava em uma depresso profunda. Uther notando que ele no tinha mais condies de trabalhar, ofereceu-lhe como recompensa a Regncia do Reino da Cornualha e o ttulo de Duque. Vendo que manteria distncia do seu amigo traidor, ele prontamente aceitou. Com o passar dos anos, Morgana foi se tornando cada vez mais parecida com Vivienne, e Gorlois no suportava mais conviver com ela. Quando completou dez anos de idade, ele a enviou Abadia de Northingan para que icasse afastada e reclusa, e s retornasse para casa quando atingisse a maioridade. Mesmo no reconhecendo e lutando bravamente contra isso, Gorlois amava Morgana, e o afastamento dela fez com que ele icasse cada vez mais doente e debilitado, passando boa parte do tempo na cama. E com o passar dos anos, seu estado de sade piorou consideravelmente.
11 anos depois
Charles fez o que pde, ele no queria estar ali, daria tudo para no ter visto o que viu. sua frente jazia o corpo de um menino, violentamente morto. Um menino que poderia muito bem ser seu filho Henrique e deveria ter a mesma idade, provavelmente. Ergueu o olhar para o horizonte, os raios de sol desfocaram-lhe a viso, e por um momento ele agradeceu aos Deuses por isso, mas logo a realidade se mostrou diante dos seus olhos. Uma promessa, ele havia feito uma promessa h quase um ano atrs, e no foi sequer capaz de cumprir. A paisagem do local, to bonita se tornou uma verdadeira cena de Guerra. Era Outono, ms de Novembro, as lores e folhas amarelas caiam das rvores aos montes, o clima j ia mudando, o Inverno estava prximo, o sol batia fraco e o vento j estava gelado. Desceu do seu cavalo e o amarrou em um tronco, forou seus ps a andarem. Por todos os lados jaziam corpos mutilados, rostos mortos, olhos embaados e sem vida. Foi caminhando naquele Vale da Morte, se castigando mentalmente. Tudo isso foi causado por ele, tudo culpa sua, de mais ningum, ele comandou esse massacre. Tentou evitar, mas foi fraco, o cumprimento do seu dever falou mais alto, mas deveria ter lutado, devia ter largado tudo e resistido, agora o que vai ser da sua vida? Mortos, centenas e centenas de mortos, no tem im, um Rio de Sangue, ele j no conseguia mais contar. O silncio profundo da morte, mais nenhuma palavra pode ser dita. No sentiu medo, sentiu-se destrudo, a escurido sugando sua alma, invadindo, ser que algum dia ver a luz novamente? 1 Liberdade
Hoje, inalmente Morgana ser liberta de sua priso. Onze anos. Onze longos anos vivendo aprisionada naquela Abadia, sem poder ver a luz do sol ou admirar a chuva. No sabia que mal poderia ter feito ao seu Pai para ser punida dessa maneira. Seu corao se apertou, mas j no havia mais lgrimas para chorar. Era seu aniversrio de vinte e um anos, as nicas pessoas que considerava lhe izeram uma doce surpresa. Magnus, que era seu tutor e o nico que considerava como pai, e sua ilha e adorada amiga, Evanora, izeram uma pequena festa para ela. Eles eram as nicas pessoas que a amavam incondicionalmente e Gorlois, querendo ou no, iro voltar com ela para Cornualha. Isso a deixava um pouco melhor, sabendo que com eles no estaria sozinha. Magnus tambm era um Feiticeiro Elemental, assim como Morgana, possua o dom da terra, e poderia utilizar a natureza para fazer qualquer tipo de poo, algumas inclusive, poderiam curar doenas ou enfermidades. Antes de virem para c, ele era o "Curandeiro" do Castelo, um homem de extrema coniana de Gorlois. Ele sempre cuidara dela, desde pequena. Sentia saudades do seu irmo Gael, mas sequer sabia se ele ainda se lembrava de que tinha uma irm. Com este sentimento veio uma angstia profunda. Pouco havia para se fazer naquele lugar, ento se ps a estudar e a aprimorar seus dons. Sua nica diverso era ler e escrever, isso que a salvou durante todo esse tempo, que ajudou a suportar sua priso. Sabia que sentimentos nada bons brotavam em sua alma, o desejo de vingana era cada vez mais crescente, por mais que lutasse contra isso. Como poderia se permitir odiar tanto seu prprio pai? Mas o odiava, no podia mais suportar tanto desprezo vindo dele. Em breve, estar de volta Cornualha, e sabia o que lhe aguardava, tinha dvidas de que sua vida l fora seria melhor do que aqui dentro. Dessa vez, no aceitaria. Mas Gorlois iria pagar. Iria pagar por toda sua dor. Ao anoitecer, uma carruagem viera busc-la, e enim pde sentir o frescor da noite. Ah, como adorava a noite! A Escurido lhe transmitia uma paz singular. Jamais a temeu, sempre a adorou. A lua estava linda, brilhava forte no cu. Concentrou-se para ouvir os rudos da noite. Como sentira falta disso! O aroma da loresta que circundava a estrada invadiu seus sentidos e inspirou profundamente. Sentira-se renovada. Livre. Sem que notasse, lgrimas molharam sua face. Magnus viajava ao seu lado e apertou gentilmente sua mo. Evanora lhe observava docemente do outro lado do assento. Sorriu para eles. Estaremos sempre contigo, Morgana. Magnus disse, envolvendo-a pelos ombros enquanto seguiam pela estrada. Eu sei, meu querido, eu sei... Morgana disse enquanto acariciava distraidamente seus antebraos. Fao minhas as palavras de meu pai. Evanora disse no tom doce que ela tanto adorava. Assentiu com a cabea. Adormeceu nos braos de Magnus. 2 Cornualha
Numa Bela Manh de sol, Charles retornava Cornualha com sua comitiva, aps uma longa viagem para uma negociao no Reino de Caerleon. Estava de volta ao lar, e apesar de feliz, se sentia ansioso, h dias no estava muito bem, havia acabado de voltar do Massacre do Norte. Massacre que cometeu em nome da Cornualha e do Rei Gorlois. Centenas e Centenas de Mortos. H uns meses, uma Rebelio se iniciou nas terras do norte da Cornualha e ia tomando propores gigantescas. O povo se revoltou contra os altos impostos cobrados por Gorlois. Os Guardas agiam de forma violenta, e muitas vezes, agrediam e insultavam a populao. Mesmo com Charles tentando fazer um acordo, os cidados no se dispersaram, e todos foram mortos num massacre comandado por ele. Sentia que estava perdendo a sanidade aos poucos, fantasmas o perseguiam. No queria encontrar mais sofrimento, ele no suportaria. Pensou consigo mesmo que seu casamento no ia nada bem. Catarina, sua esposa, no suportou o fato de ele ter tirado tantas vidas inocentes, e ela no conseguia mais estar ao seu lado, j no a amava como antes. Cada dia que se passava era pior, estavam praticamente separados, justamente agora que ele mais precisava dela. A culpa o consumia por dentro, mesmo somente tendo cumprido seu dever. Chegando aos portes da Cornualha, ele avistou a cidade, que estava bastante movimentada, todos cumprindo com seus deveres. Quando enim, chegou ao castelo, ele teve a mais bela viso que j viu na vida! No saguo, estava uma linda mulher, a mais bonita de todas, com certeza. Seus longos cabelos negros caam em ondas por suas costas, realando sua pele alva. Provavelmente deveria ser Lady Morgana, a ilha de Gorlois que viveu aprisionada numa abadia. Todos falavam sobre sua beleza, mas Charles no imaginava que fosse ser tanta assim. Ele icou fascinado com aquela viso, queria tocar em sua pele delicada e glacial, iluminada pelo sol da manh. Mas se conteve em admirar. Ela merece coisa melhor do que ele, somente era a casca de um homem e jamais poderia magoar uma lor to linda. A nica coisa que prestava era para isso, magoar e destruir vidas. Alm de que, sua prpria vida estava destruda. Lembrou a si mesmo que estava ali cumprindo seu dever, depois voltaria para sua vida mesquinha. Vendo a movimentao, ela olhou para baixo e seus olhos se encontraram. Ela tinha os olhos mais lindos que ele j vira, um tom de verde esmeralda nico. Sentiu sua pulsao acelerar. Ela desviou o olhar, icando totalmente ruborizada. Estremeceu perante aquela viso. Ela adentrou o castelo, como que se fugisse da situao constrangedora que ele a havia colocado, e fechou a porta atrs de si de forma brusca. Fora recebido com todas as Honras por Gael, futuro Herdeiro da Cornualha. Seja bem-vindo de volta, Charles da Cornualha, Comandante Geral do Exrcito do Rei Gorlois! Ele exclamou, sua voz ecoando alto. Me sinto muito honrado, Prncipe Gael, obrigado! fez uma leve reverncia. Gael vendo que estava cansado da viagem, permitiu que ele se retirasse e retornasse para sua casa onde enim, pde descansar. Foi recebido por seu ilho Henrique, que correu em sua direo e se jogou em seus braos. Catarina nem sequer se dignou a sair de seu quarto. Foi para suas acomodaes e adormeceu, entregando-se ao cansao da longa viagem e em seu breve sono, que se tornava cada vez mais raro, ele sonhou com Lady Morgana. H muito tempo no sabia o que era um sonho bom, somente tinha pesadelos horrveis, sonhava com morte, sangue e destruio, rostos inocentes suplicando por suas vidas. E hoje inalmente sonhou e foi com ela. Estavam em uma campina rodeados de lores, ela deitada ao seu lado, beijando-o docemente, um sorriso nos lbios, dizendo que o amava e que ele era a razo de sua vida. Era a viso do paraso! Esforou-se para no acordar, mas acordou, o dever chamava-o. No poderia permitir-se iludir, pois sua vida ultimamente se tornara um inferno. Foi tomar um banho, vestiu-se rapidamente e quando saiu do quarto um servo o aguardava. Rei Gorlois o aguarda no Salo do Castelo para um banquete, Senhor, para comemorarem o retorno de sua ilha Morgana Cornualha. Por favor, acompanhe-me. Charles agradeceu com um aceno de cabea, e o servo o levou pelos largos corredores e vielas das ruas at chegarem ao seu destino. Chegando ao local, ele se deparou com uma bela mesa, o cheiro da comida estava muito bom, mas ultimamente precisava de um esforo enorme at para comer, ele fazia o bsico para se manter vivo. Apresentou-se formalmente, e se sentou ao lado oposto de Gorlois, notando que haviam dois lugares vazios. Ele lhe pediu: Aguarde um pouco, comandante, que meu ilho Gael e minha ilha Morgana iro se juntar a ns mesa. Gorlois disse e seu corao deu um sobressalto somente com a meno do nome dela, iria v-la novamente, iria conversar com ela! Ser que conseguiria resistir a isso? Que os Deuses os ajudem! Morgana adentrou no salo, ele a viu, e sentiu seu corpo todo despertando em resposta. Ela usava um vestido vermelho, o cabelo levemente preso, caindo em seu belo rosto. Era o sinnimo da perfeio! Jamais em toda sua vida iria esquecer essa viso, iria habitar seus pensamentos para sempre. Ele se levantou rapidamente. Sir. Charles, essa minha querida ilha Morgana! Gorlois os apresentou. Encantado, Minha Lady! Charles fez uma reverncia e ela estendeu a mo para que ele a beijasse, e pde sentir sua pele macia. Ficou inebriado com seu perfume, olhou em seus olhos hipnotizantes e depositou um beijo mais intenso do que a ocasio exigia. Ela sorriu cordialmente e tomou seu lugar, andando de forma graciosa, enquanto ele a acompanhava com o olhar. Gael adentrou o salo, o cumprimentando, apertando sua mo e perguntou: Espero que o Senhor tenha descansado, Sir. Charles. Sente-se melhor? Sim, Majestade, h tempos que no dormia to bem! Charles disse e agradeceu, mal conseguindo falar. Deram incio ao almoo, e enim, depois de muitos dias ele conseguiu se alimentar, tudo estava delicioso. Sentia-se bem, Morgana no fazia ideia do que izera, ele se sentia mais vivo e revigorado. No decorrer da reunio, icaram conversando sobre assuntos diversos, a companhia era excelente. Sentia-se cada vez mais leve, disposto, Morgana fazia-o se sentir muito bem, com sua simples presena, mesmo falando pouco. Ele desejava muito toc-la, mas precisava se conter. Sequer sabia se ela tinha um amor, infelizmente sabia muito pouco sobre ela. E ainda era um homem casado. Se fosse h algum tempo, isso pouco importaria, mas hoje em dia ele amadureceu muito, a vida o fez amadurecer. Ainda no se sentia capaz de fazer algum feliz, sendo que ele sequer era feliz. O tempo passou depressa, Gael e Morgana se recolheram, e Charles no conseguiu desviar seu olhar dela, fazendo Gorlois notar sua indiscrio. Ele disse: Muito bonita minha ilha no , Sir.Charles? ele questionou-o, no conseguindo esconder seu tom de admirao. Sim, Majestade, sua famlia maravilhosa! O Senhor ainda casado, comandante? Sou sim. disse desanimado. Que pena. Voc seria um homem digno para ela, eu faria gosto dessa unio. ele disse e Charles agradeceu com um aceno de cabea, sem render muito o assunto. Ele jamais seria digno de uma mulher como Morgana. Era a sombra de um homem, no era nada. Mas estava feliz pelo simples fato de poder estar perto dela, ainda que fosse por poucas horas. Mesmo no querendo, em breve estaria de volta realidade de sua casa. O que enfrentaria no seria nada fcil, mas se sentia mais esperanoso. Morgana acendeu essa chama no seu corao enregelado. Recolheu-se ao aposento destinado a ele no castelo, ainda no queria voltar para casa. Sentou-se na confortvel poltrona e tentou relaxar um pouco, procurando descansar aps a longa viagem. A porta estava entreaberta. Ele fechou os olhos, o pensamento distante, tentando encontrar o caminho que iria seguir, o que faria de sua vida a partir de agora. Tomou uma deciso: iria se separar deinitivamente de Catarina, no dava mais. No momento em que mais precisou, ela o abandonou. Iria libertar Catarina dessa priso. Deve ter adormecido, acordando num sobressalto, quando algo fez um barulho e viu que na porta, estava Morgana, observando-o. Levantou-se, mas quando foi a sua direo, ela correu, entrando em seu quarto, que ele notou que era ao lado do seu. Dirigiu-se at sua porta, encostou seu rosto, e icou parado ali por incontveis minutos, to longe e to perto dela. Ele no foi capaz de fazer nada, icou paralisado, imaginando-se em seus braos. Voltou ao seu quarto, cabisbaixo. A noite veio rapidamente, fria. Novamente ele conseguiu dormir e em seus sonhos viu os lindos olhos verdes e a boca macia de Morgana. Ele a beijava e faziam amor. Ardeu no mais vido desejo. Su plicou a Deus que no o deixasse acordar. Mas ele acordou, a vida continuava. Notou que j era de manh, o sol entrava forte pela janela do quarto lembrando-o que j era um novo dia, que seu sonho havia acabado. Uma lgrima deslizou em seu rosto. No adiantava chorar, mas sentou-se na cama, entregou-se dor insuportvel que ardia em seu peito e chorou copiosamente. Porm, ele sentia que estava se despedindo daquela dor, no seria mais escravo dela. Tomaria uma atitude e mudaria sua vida de agora em diante. Reergueu-se e saiu do quarto. Procurou por todos os lugares, e no viu Morgana. Uma angstia tomou conta de si, ele queria ao menos v-la. Saiu do castelo e j ia partindo para sua casa, quando a viu na janela de seu quarto, observando sua partida, seu semblante estava triste. Ser que ela sentia o mesmo que ele? Livrou- se de seus devaneios, no poderia se permitir este tipo de iluso. Olhou ixamente para ela, acenando com a cabea. Ela sorriu, e seu sorriso ele guardaria consigo em seus pensamentos, para sempre.
Morgana estava de volta ao seu lar, mas no se sentia em casa. Este lugar se tornara estranho para ela. Cada vez mais sentia o dio e o desprezo que Gorlois lhe direcionava. Nunca fora capaz de entender o motivo disso tudo. Quando estavam em pblico, Gorlois a tratava como sua "querida ilha", mas quando estavam fora dos olhares alheios, ele no queria saber dela, e se insistisse, ele chegava a maltrat-la. E seu irmo, Gael, no era muito diferente, todos os laos que um dia tiveram foram desfeitos pela distncia. Ele a tratava melhor que Gorlois, mas sempre de forma fria e casual, como se Morgana no fosse mais da famlia. E era exatamente assim que ela se sentia. Inconscientemente, seu pensamento desviou-se para seu principal foco: o comandante Charles. Ele era um homem to lindo! Mas no pde deixar de notar que era um homem atormentado, ele deixou isso bem claro somente com o olhar. Ele o relexo de si mesma. Balanou a cabea em negao, no poderia se permitir a pensar dessa maneira sobre um homem casado. Assustou-se com o barulho da porta se abrindo e Gorlois entrou, mas notou que ele trazia uma garrafa de Wiskhy nas mos. Estava bbado e seus olhos ensandecidos se voltaram para Morgana. Sentiu medo, mas no havia para onde fugir, pois ele trancou a porta atrs de si. Voc igual sua me, Morgana! sua voz saiu embargada por causa da bebida. A voz dela desapareceu sufocada pelo medo. Gorlois vem aos tropeos em sua direo e segura fortemente em seu maxilar, virando- o de um lado para o outro. Mas voc no se parece em nada comigo, no mesmo? ele perguntou, pronunciando mal as palavras, dando-lhe um sorriso amargo, enquanto sua cabea ia mil. Queria responder, mas no saiu nenhum som. O cheiro de lcool era muito forte. Ele afunda os dedos no seu pescoo, e se sente sufocar. Escute aqui, voc no minha ilha. A meretriz de sua me me traiu. Ela acabou com minha vida! Voc o espelho dela! Eu odeio voc! ele grita colrico, destilando seu total menosprezo, e algo muda dentro de Morgana, sua alma se torna negra. Comea a chorar compulsivamente, e Gorlois desfere um tapa forte em seu rosto, fazendo-a cair com toda fora na cama, jogando-se em cima dela, rasgando seu vestido e abrindo suas pernas. Vivienne, minha Vivienne. ele murmurava sem parar. Tenta novamente dizer algo, mas o pnico e o temor fecham sua garganta, e sente um horrvel gosto metlico na boca. Est sangrando. Precisa usar sua magia ou ser estuprada. Juntou o resto das foras que tinha, viu as partculas de ar se juntando entre suas mos, e de repente Gorlois arrancado de cima dela pela fora do vento, e ele cai no cho, desacordado. Senta-se na cama e abraa seus joelhos. No pode icar mais aqui, no depois disso. Gorlois se contorce no cho, e parece que vai acordar. Rapidamente, pega sua capa e sai do quarto, levando somente a roupa do corpo. Atravessou o corredor que levava sada o mais rpido que pde, seu sangue fervia nas veias, a adrenalina estava lhe dominando. De repente, algum a puxa pelo brao, levando-a a um canto escuro, onde no seriam vistos. Ela se deparou com os mesmos olhos azuis que dominavam seus pensamentos: os de Charles. Quando o viu, e depois de tudo o que havia passado ali nas ltimas horas, no consegui segurar as lgrimas. Ele a abraou, e em seus fortes braos, ela se sentia por um momento segura. Apoiou-se em seu ombro e deixou que toda aquela dor sasse dela. Charles no disse nada, somente ficou ali a consolando. Lady Morgana, o que houve? Por que voc est fugindo? Ele sussurrou baixinho. Charles, Gorlois est fora de si... Ele me bateu... ele... fez uma pausa, incapaz de proferir a ltima palavra. Sinto muito, Morgana. ele disse, deslizando as mos na mancha rocha e no inchao que ia se formando no seu rosto devido agresso de Gorlois. Morgana, voc est machucada. Ficarei bem Charles, por favor, me ajude a sair do castelo, eu no posso mais icar aqui! Ela o abraou forte, sentindo-o bem prximo de si, ouvindo as batidas de seu corao que estava acelerado. Seria capaz de ficar assim com ele por toda a eternidade, mas precisava ir. Morgana, meu pensamento pertence a ti desde que te vi naquela sacada quando cheguei, por favor, no se v. Charles suplicou beijando- a avidamente e ela retribui, incapaz de rejeitar sua paixo. Por um momento, esqueceu todo o mal e toda a escurido que tomava conta do seu ser, e sabia que no seu inconsciente sempre existiria um sentimento bom que somente Charles seria capaz de resgatar. Algo fez um barulho, e ela se assustou, dizendo a ele: Charles, eu preciso ir, eu estou correndo risco e estou te colocando em risco, eu no posso ficar aqui. Morgana, eu vou te ajudar a sair da cidade. Venha comigo. Ele a levou a um corredor escuro, uma espcie de passagem subterrnea, onde saram na loresta, bem longe da cidade e do perigo iminente. Morgana olhou em seus belos olhos e o agradeceu. Ele a beijou sem dizer nada e se despediram. Com muita relutncia, ele a deixou ir, lutando contra a vontade de lhe manter ali. Sua alma se despedaou, como se algo houvesse sido arrancado de si. Correu em direo loresta, deixando-o, dizendo que jamais desistir dela. Permitiu-se por um momento acreditar nessa iluso, mas as coisas mudaram tanto, ela no era a mulher que ele imaginava que fosse. A partir de agora, no teria mais rumo, viveria um dia de cada vez, enfrentaria uma batalha por dia. Nunca faria um homem como ele feliz. Ela nunca mais ser feliz. 3 Camelot
H dias, Morgana vagava sozinha pela estrada, sequer sabia onde estava, foi caminhando sem rumo. Imaginava que estaria no reino vizinho, Camelot, mas no podia precisar. Perdera a noo do tempo, no sabia que dia seria hoje. Mas o mais importante: perdera sua essncia, a vida que tinha e o nico lar que conheceu. O forte tapa que Gorlois lhe dera doa at hoje, no mais em seu corpo que poderia se curar, mas em sua alma. E as duras palavras que ele dissera ecoavam em sua mente sem parar: "Voc no minha ilha", "A meretriz da sua Me me traiu". Por pior que ele fosse, crescera imaginando que Gorlois seria seu pai, e imaginar o contrrio era perturbador. No sabia o que fazer da sua vida de agora em diante. Talvez se encontrasse com sua tia Igraine, ela pudesse dizer a verdade sobre sua histria. Lembrou-se que h pouco tempo, ela tinha ido lhe visitar na Abadia, e gostava bastante dela. Nem mesmo seu pai realizou tal feito. Se ao menos soubesse qual destino teria tido sua Me, mas no fazia a mnima idia. Ela desapareceu sem deixar rastros, certamente no queria mesmo ser encontrada. Sentia seu corao enegrecer-se cada vez mais, era inevitvel. No tinha medo da escurido, pois sabia que ela seria sua casa um dia, tinha medo do desconhecido. A fome e o frio a dominavam, no se lembrava quando comeu pela ltima vez, mas colheu algumas frutas no meio da loresta h alguns dias, que a izeram icar doente. A febre e a dor no estmago estavam cada vez mais insuportveis e temia no conseguir mais caminhar a qualquer momento, mas o faria at que no lhe restasse mais foras. Quanto mais se afastasse da Cornualha, melhor seria. Em seus lbios ainda estava o gosto do beijo de Charles, nunca imaginava que pudesse sentir o que sentiu. Ele a levou ao limite de suas sensaes, fazendo-a experimentar algo que jamais imaginava que existia. Tinha conscincia de que o amava, mas muita coisa mudou. Agora estavam longe um do outro e esse amor no seria mais possvel. Pensar nisso, fazia- a sofrer cada vez mais. Era uma dor insuportvel, portanto, concentrou-se no caminho pela frente, talvez no estivesse to longe assim da cidade. Esforou-se para respirar meio agonia que oprimia seu peito. Suas pernas bambearam, tropeou e caiu, tentou se levantar, mas no tinha mais foras, engatinhou para fora da estrada, e deixou-se desfalecer na grama macia que cobria a estrada. Perdeu a conscincia.
Ricardo deslizou as mos pelos cabelos dela, deixando que os ios sedosos preenchessem sua palma. Ele no estava com sono, no queria perder um segundo ao lado dela. Quem ser que ela era? H trs dias a tinha encontrado cada na beira da estrada, ardendo em febre e inconsciente. Ele a trouxera para sua cabana e cuidara dela. Era perigoso andar sozinha assim por essas terras, meio a uma guerra. Podia sentir no fundo de seu ser que ela possua magia, assim como ele, e aqui em Camelot os Elementais eram perseguidos. Rei Uther havia declarado a Guerra Santa, e abriu um decreto de lei ordenando que todos os cidados se convertessem ao Cristianismo, que cada vez mais dominava os Cinco Reinos. No havia o direito de escolha, ou se submetia religio, ou morreria. Os que possuam magia eram considerados pagos e eram os mais perseguidos. Sem ter sequer um julgamento, eram queimados na fogueira. Uther devastou cidades inteiras, Vilas inteiras, e mau cheiro da morte e de sangue pairava por todos os lados. Seu ilho Arthur, que at ento era contra esse decreto de lei, se casara com a Princesa Guinevere, do Reino de Logres, uma Catlica fervorosa, que foi criada em um Convento, e era totalmente a favor e atuante na Guerra Santa. S sobrevivera at hoje nessas terras devido ao fato de ser um Soberano, um dos mais temidos Elementais. Os Soberanos, como eram chamados, conseguiam manipular todos os elementos, mas eram raros e alm dele, sabia somente da existncia de mais um feiticeiro que se encaixava nessa categoria: Merlin, conhecido por seu convvio druidico como Emrys, e que estava desaparecido h mais de 10 anos. Notcias diziam que ele foi aprisionado pela Dama do Lago de Avalon, devido ao fato de ele lhe ter feito um grande mal. Ela era uma Feiticeira Elemental que possu o dom de manipular a gua, e atraindo Merlin ao lago, o seduziu, prendendo-o eternamente ali. Olhou com reverncia para a bela mulher que estava deitada em sua cama, no via a hora de ela acordar. Nunca em toda sua vida vira uma mulher to linda! Queria faz-la sua, sentir sua pele macia e que seu corpo se espelhasse sobre o seu. Podia sentir a escurido brotando dela; farejar o dio e o desejo de vingana. Era exatamente assim que ele se sentira. Fora moldado pela escurido, ela fora sua companheira desde sempre. Essa bela mulher fora feita para ele. Voc nasceu para ser minha! ele riu com amargura, deslizando as mos suavemente sobre a pele delicada de seu belo rosto. Era como uma fruta madura pedindo para ser saboreada. Ela se remexeu sobre seu toque, e piscou fortemente vrias vezes. Iria despertar. Seu corao espancava seu peito, e quando ela abriu os belos olhos, ele sabia que estaria aprisionado neles para sempre.
Morgana estava deitada na cama, a luz do sol entrava fraca sobre a janela. Amanhecia e ao seu lado, estava um homem que no amava: Ricardo. No saberia descrever o que sentia por ele, talvez gratido. Desde quando ele a salvou e a cuidou, estavam juntos. Ele prometeu lhe ajudar a entrar na cidade de Camelot tentar procurar por sua Tia Igraine, que era casada com o Rei Uther, em busca de respostas, e em troca lhe fez prometer que seria sua. Em certos momentos, at chegou a pensar que o amava. Mas no conseguia mais esquecer aqueles olhos azuis, eles insistiam em fazer parte de seu pensamento. Charles. J estava fazendo um ano que ele a ajudara a sair da Cornualha, desde esse dia seu nome no saa de sua cabea. 365 dias. J no tinha mais a mnima esperana de reencontr-lo novamente, ento ia levando sua vida de forma automtica. Estava cansada e cada vez mais sozinha. Sentia-se enfraquecida e sem foras para lutar. Ento Ricardo encontrou-lhe e foi como um blsamo na dor que sentia. Ele conseguia suprir uma necessidade que ela tinha no momento. Sabia que Ricardo era um assassino cruel e perigoso e que era totalmente dominado pela escurido, mas, sinceramente, saber disso no faria a menor diferena. Morgana tambm estava sendo dominada por ele, sentia a escurido lhe consumir cada vez mais. Somente Charles conseguiria despertar novamente algo de bom nela. Era amor. Esse sentimento que j no se lembrava, achava que nunca mais fosse senti-lo novamente. Do resto, s consegue sentir dio. Lutava contra isso, mas ele insistia em lhe carregar de volta para a escurido. Jamais seria digna do amor do Charles. Sentiu uma lgrima brotando em seus olhos. Mas no adiantava chorar, essa era a sua realidade. Ela era escrava da dor e do sofrimento. Ultimamente, tinha sonhos estranhos. Sonhava que pedia perdo para sua famlia e que icavam juntos novamente. Sabia que sonhava com o futuro, e isso a amedrontava. No sabia de que forma isso seria possvel, mas tinha que admitir que sentia muito a falta de Magnus e Evanora. A ltima notcia que teve foi que Evanora havia se casado com seu irmo Gael. Gorlois no aceitou o casamento, devido ao fato de ela no ser da realeza, e ameaou, inclusive, de deserd-lo. No sabia o que pensar sobre isso. Seu peito doa, mas seu inconsciente teimava em mostrar-lhe uma imagem: Charles a beijando. Tentava recusar isso a todo custo, j estava sofrendo demais. Sem ter mais nada na vida com a qual se apegasse, a escurido foi tomando conta de si cada vez mais, ela era capaz de ouvir seu chamado e se deixou levar, afastando o que de bom ainda restava dentro dela. Sem Charles, foi fcil a escurido lhe tomar. Sua misso ainda no havia acabado. Gorlois iria pagar por todo seu sofrimento, isso seria seu objetivo de vida, j que tudo o que havia lhe restado se foi, tudo foi tirado dela. A noite estava quase chegando, e Morgana no conseguia ica dentro daquela cabana imunda, uma angstia insuportvel tomou conta de si e saiu a andar sem rumo, tentando colocar seu pensamento em ordem. Um misto de sentimentos invadia seu corao. Lutaria bravamente contra isso, no poderia fraquejar. Charles. Charles. Charles. Seu pensamento insistia em dizer esse nome. Comeou a chorar, ajoelhou-se no cho de terra e rogou Deusa que tivesse piedade dela. No conseguia aceitar, no entendia esses sentimentos. De repente, ouviu um trotar de cavalos, uma comitiva se aproximava. Entrou na mata densa e se escondeu. No poderia ser vista independente de quem fosse. J no aguentava mais fugir.
Gorlois chamou Charles em seus aposentos reais h alguns dias, com a ordem de que viesse Camelot, na tentativa de negociar com o Uther as terras da divisa com Nmendor. Ele queria construir um castelo para sua terceira esposa, Elaine de Crbenic. Seu casamento com ela no ia nada bem, e ele queria afast-la de sua Corte. Na verdade, a unio deles foi mais um erro que ele ajudara a cometer. O casamento foi um acordo feito com o Rei Breunor e ainda no foi consumado. Eles no suportavam sequer, dormirem na mesma cama, e em breve iriam se divorciar. Pensou no seu prprio casamento que tambm chegou ao im h alguns meses, e Catarina voltou para Eresby com seu ilho. Apesar de sentir muito a falta dele, foi melhor assim. J fazia um ano que Morgana estava desaparecida, e essa viagem era exatamente o que ele precisava. Assim que ela partiu, izera uma busca por toda a Cornualha, procurando em todos os cantos, buscando informaes, mas ela no estava no reino. Sozinha e a p, ela no poderia ter ido muito longe, ento imaginava que ela estaria em Camelot, que era o reino vizinho. E ele pensava: no irei descansar at encontr-la . Temia que ela estivesse passando necessidades sozinha na estrada ou at mesmo que estivesse ferida ou machucada. De alguma forma, sabia que ela estava viva, algo dentro dele dizia isso, ele podia sentir. No im das contas percebeu que estavam interligados, que ele s sobreviveria em um mundo onde ela estivesse. Assim que chegou s divisas do reino encontrou com o cavaleiro de Camelot, Lucan. Ficou sabendo que Arthur estava em uma misso e no chegaria a tempo de receb-lo. Sir. Lucan foi designado a atend-lo no que precisasse durante a estadia dele ali, e devido a isso, tornaram-se grandes amigos. Ia seguindo com sua comitiva pela longa estrada de terra, conversando para passar o tempo, quando sentiu uma urgncia em seu peito, uma presena muito forte, algo os vigiava. Era um sentimento bom, no era algo perigoso, era uma intuio. Morgana estava por perto. Foi algo mgico o que sentiu, algo o avisava. Charles ergueu a mo ordenando a Comitiva que parasse, imediatamente. Lucan se assustou, desceu do cavalo e tomou posio de ataque, mas pediu a ele que se acalmasse. Desceu do cavalo, e procurou em todas as direes, mas nada viu. Ele sabia que Morgana estaria ali em algum lugar daquela mata, provavelmente, escondida e com medo. No ousou chamar seu nome, ele jamais a colocaria em risco, mesmo esta sendo a ltima oportunidade de v-la. Ficou ali por um tempo, parado diante daquele horizonte, o desespero tomando conta de si. Colocou a mo em sua testa, e icou com a cabea abaixada, tentando afastar aquela tristeza que o dominava, os olhos cheios dgua. Sir. Lucan colocou a mo em seu ombro e disse: Fora, amigo. Vamos prosseguir. A noite logo chegar, temos que arrumar um local seguro para pernoitar, no h nada aqui. Partiu novamente, sem conseguir acreditar no que aconteceu. Ela estava to perto. Charles no conseguia tirar isso do seu pensamento e seu corao se entristeceu. Seguiu viagem, com os olhos distantes, deixando os ltimos resqucios de esperana para trs. Encontraram uma clareira e montaram acampamento ali mesmo. A noite estava silenciosa e fria. Deitou- se na barraca, sentindo-se solitrio. Daria tudo para que Morgana estivesse ali ao seu lado, mas ela no estava. Encolheu-se sob o ino colcho, tentando abafar sua dor. Com muito custo pegou no sono. Teve um sonho que parecia mais uma premonio. Sonhou com um beb, os olhos to lindos quanto os da Morgana, o mesmo cabelo, ela sorria para ele, erguia a mozinha e acariciava seu rosto. Ao seu lado estava Morgana e seu ilho Henrique, abraando-os com ternura. Eram uma famlia e se amavam muito! Deu um suave beijo no beb e acordou. Estava sorrindo, o sonho conseguiu amenizar um pouco aquela dor. Foi o sonho mais lindo que j teve em toda sua vida! Ele iria lutar para que um dia isso acontecesse! J era de manh, levantou-se e a maioria da comitiva j estava pronta para partir. Acabou dormindo demais. Tomou um caf rapidamente e seguiram viagem. Logo chegariam Camelot. Prosseguiu com sua comitiva, levando consigo a imagem daquele sonho maravilhoso, rezando para que um dia se tornasse realidade! Numa bela manh de sol, Charles chegava com sua comitiva cidade de Camelot que era governada pelo irredutvel Rei Uther, conhecido em todos os reinos como um tirano. Ele matou centenas de pessoas na sua Guerra Santa. Estava ansioso desde que sentiu a presena de Morgana na estrada. Sentia-se entristecido, e devido a isso, uma angstia j conhecida invadiu seu peito: a lembrana do Massacre do Norte. Massacre que cometeu em nome da Cornualha e do Rei Gorlois. Sentia que estava perdendo a sanidade aos poucos, fantasmas o perseguiam. Ele no queria encontrar mais mortes e sofrimento, pois no suportaria. S Morgana poderia acalm-lo. Precisava encontr-la, precisava dela. Iria encontr-la a todo custo, algum daqui deve saber informaes, algum deve saber onde ela est. Ele ir resgat-la da escurido e dessa vez, ela ser sua. Charles precisava cumprir sua misso, porm no sabia o que fazer. As leis ali eram muito rgidas e o simples fato de citar o nome ou procurar por um feiticeiro j era considerado traio das mais graves. Mesmo assim, quando Lucan o levou um dia para um passeio cavalo, contou sua histria a ele. No comeo, ele pareceu no entender, mas ouviu com muita ateno. No inal, disse que no poderia ajud-lo, pois ningum sabia onde Morgana estava. Lucan o aconselhou a no continuar sua busca, devido guerra, e que todos corriam risco de vida, inclusive ele. No insistiu com o Lucan, no queria coloc-lo em uma situao dicil. No iria desistir dela. Se no fosse dessa vez, seria em outra. Charles iria esperar o tempo que fosse preciso. Sabia no fundo de seu corao que pertenciam um ao outro e que um dia ficariam juntos.
O dia estava frio e sombrio, e Morgana cavalgava rapidamente entre a loresta escura das terras dominadas por Rei Uther, em direo ao castelo. Estava apreensiva. Ela precisava passar ilesa por aquele lugar, ningum poderia v-la e nem descobrir quem realmente era. Corria risco de morte, se o rei ou algum de seus vassalos a descobrissem, seria punida, talvez at morta. As leis ali naquelas terras estavam muito rgidas, eles adoravam a um Deus que ela no conhecia, no aceitavam nenhum outro, e uma Elemental no teria a mnima chance de ser julgada. Devido a isso, decidiu se disfarar de camponesa. Um pensamento voltou a atorment-la, com tantos acontecimentos j no havia mais tido tempo de ter lembranas boas, at porque a nica coisa que tomava a sua mente era ter de volta o que lhe tiraram: Cornualha, o nico lar que conhecia. Mas mesmo assim, lembrou-se de Charles, ele esteve to perto dela, ele est em Camelot. Lembra-se perfeitamente, quando ele, h um ano a ajudou a fugir, no teria conseguido sem a ajuda dele. Tanta coisa mudou depois disso, como ser que ele estava? Mas acima de tudo lembrava-se do seu beijo, do seu amor por ela. Ao seu lado, cavalgava Ricardo, ele realmente est cumprindo a promessa de que a ajudaria a entrar no Castelo de Camelot. Ele tambm estava disfarado e corria risco de morte, portanto, haviam combinado de que em situao de perigo iriam dizer que eram marido e mulher e que estavam indo visitar sua me que estava doente numa terra distante. Era o disfarce perfeito, mas mesmo assim, ela queria estar longe dali o mais rpido possvel. Queria muito rever Charles, mas sabia que isso no iria acontecer, seria melhor se no acontecesse, ento procurou se concentrar no caminho que vinha pela frente, invadindo aquela escurido toda. Quando inalmente saram da loresta, Morgana avistou uma comitiva que vinha a sua direo na estrada. Seu corao acelerou. No havia mais como fugir, j haviam sido vistos. Na frente da comitiva, um jovem homem muito bonito, altivo e de cabea erguida, comandava. A sua postura era de algum da realeza, e com certeza seria o Prncipe Arthur. Mal acreditava na sua falta de sorte, o jeito seria manter o disfarce a todo custo, ento icou com a cabea abaixada. Arthur os alertou sobre sua passagem, gritando para que parassem imediatamente. Ningum poderia atravessar o caminho da realeza, sem se identiicar, era uma falta gravssima. Foi muito azar mesmo estarem atravessando a estrada justamente naquele exato momento. Pararam e ela procurou manter a calma, se escondendo o mximo que pde sobre sua capa, sem manter contato visual. Deixou que somente Ricardo falasse com o prncipe. Ele desceu do cavalo, e foi logo abordado de forma brusca. Morgana arfou baixinho, o medo lhe dominando, naquelas terras estava totalmente sozinha e indefesa. Quem so vocs e como se atrevem a atravessar o caminho do prncipe? Arthur disse, deixando claro a exaltao em sua voz e sua insatisfao. Eu sou John e essa minha esposa Valentina, somos camponeses e atravessamos a estrada por estarmos viajando em extrema urgncia. A me dela est muito doente, e mora em uma terra muito distante daqui. Por favor, Majestade nos perdoe. Deixe-me falar com sua esposa. Arthur ordenou, itando-a com altivez. A arrogncia era clara em sua voz. Ela desceu do cavalo, relutante, tudo estava dando errado, seriam descobertos. Rogou Deusa que a deixasse sair ilesa dessa. Manteve sua cabea abaixada, mas o prncipe retirou sua capa, revelando-a totalmente, deixando-a a merc do perigo de ser reconhecida por algum a qualquer momento. Tremia por inteiro. Quando a revelou, uma comoo geral se formou entre sua comitiva, sendo extremamente elogiada por todos. Arthur suspirou e icou impressionado com o que viu, dando-lhe um suave beijo nos lbios e levando-a pelo brao. Ele atravessou por entre seus soldados, na direo de seu cavalo. Morgana estremeceu de medo, no sabia o que ele faria, no sabia qual seria seu destino. Mas o destino resolveu brincar com ela. sua frente estava Charles, montado em seu cavalo. Seu corao deu um salto, mas ela procurou disfarar tudo o que estava sentindo, tudo o que ele a fazia sentir. Seu olhar encontrou o seu, suplicando para que ele no dissesse nada, no dissesse quem ela era. Ele estava boquiaberto, sem entender o que diabos ela fazia ali. Ele a olhava ixamente, tentando entender sua expresso alita, e vendo-a ser levada pelo prncipe. Arthur a colocou em seu cavalo, atrs de si. Ela sentiu o olhar de Charles queimando em suas costas, mas ele no revelou nada, icou meio que paralisado. Entendia-o perfeitamente, nem ela acreditava em seu azar. Estava nas mos de quem menos queria estar nesse momento. Encaminharam-se para a Cidade. Ricardo estava amarrado, e quando chegaram, viu que ele foi levado para a Torre, seria preso. Arthur entrou com Morgana no Castelo, indo em direo de seus aposentos reais. Ela entendeu: teria que ser dele, ele a tornaria sua amante. Segurou as lgrimas que brotaram em seus olhos, teria que se manter firme at o final, era o nico jeito de sair ilesa dali. Arthur logo enjoaria dela e a libertaria. Assim esperava. Meu Deus, o que Charles ia pensar? Esse pensamento a incomodava o tempo todo, mas tentou tirar isso de sua mente.
Como temia, Arthur levou-a a seus aposentos e a fez sua. Ele no a machucou, e nem exatamente forou nada. Morgana tentou de todas as formas agrad-lo, mesmo se sentindo suja e enojada. Ela tinha que sair com vida dali. O Tempo foi passando, e satisfazer as vontades de Arthur se tornava cada vez mais dicil. As coisas no aconteceram como imaginou, ela no fora libertada. Ele a mantinha aprisionada nos seus aposentos, e os dias foram se passando devagar. Ele a tratava como um objeto,satisfazer-se-ia na hora que bem entendesse e, depois, simplesmente, abandonava-a ali. Mas quando ele saia, ela se sentia aliviada e podia se entregar s lgrimas e a dor. Em uma noite como todas as outras, logo aps Arthur se satisfazer e deix-la, um anjo veio a seu resgate: sua tia Igraine. Morgana, minha querida, venha comigo, vou te salvar. Ela disse, e Morgana mal acreditava que fosse verdade, parecia um sonho. Ela a ajudou a vestir suas roupas e a levou aos seus aposentos, que icavam bem prximos daquele onde estava. Oh querida, me perdoe, mas eu no sabia que Arthur te mantinha presa aqui no Castelo. E ainda mais que tinha lhe feito sua amante. ela disse, mas Morgana viu algo em seu olhar, alm da piedade que lhe atormentou imensamente. Havia algo de muito errado. Obrigada, tia, por me libertar de minha priso. disse quase sem foras. Pedirei para que tragam algo para voc comer, Morgana. Voc est bastante desnutrida. Por favor, deite-se na minha cama e descanse, assim que estiver recuperada, te ajudarei a sair do Castelo. J est tarde, ningum mais ir procur-la. Arthur j se recolheu aos aposentos de sua esposa, Guinevere. ela disse, porm no conseguiu dormir, as lembranas de tudo o que passou ali no deixavam sua mente. Seus olhos arderam a noite toda, devido as lgrimas contidas que foram sendo liberadas. Logo pela manh, Igraine entrou no quarto, trazendo consigo uma enorme bandeja. J conseguia se sentir um pouco melhor, ento pde saborear a comida. Igraine deslizou as mos em seu rosto plido. Minha pequena, o que aconteceu com voc? Por que voc fugiu de casa? ela perguntou e sentiu a dor apertar sua garganta, fazendo-a sufocar. Mas respirou fundo e contou tudo pra ela. Morgana, perdoe meu ilho, ele no sabia o que estava fazendo. Ele um Prncipe, e tem um apetite de Prncipe. No guarde rancor dele. ela fez uma pausa. Sei que voc j est sofrendo demais, mas depois de tudo que Arthur fez, preciso lhe revelar a verdade: Vocs so irmos. Morgana olhou pasma para ela, engasgando-se com um pedao de po. No conseguia acreditar no que acabara de ouvir. Como isso era possvel? Igraine, vendo seu total desentendimento, continuou a falar: Tudo aconteceu um pouco depois que Arthur nasceu. Uther se casou comigo, mas ele desejava outra mulher: sua me, e minha irm Vivienne. Mas ela nunca, nunca cedeu s suas investidas, que eram constantes. Sua me era uma mulher muito digna, Morgana, e amava muito Gorlois. Porm, um dia, quando a guerra estorou nas Plancies do Norte, intencionalmente, Uther convocou Gorlois para ser o comandante, e assim ele poderia afast- lo de Vivienne por longos meses. Uther, ento pediu ao Mago Merlin que o ajudasse a possuir Vivienne, e ele transformou-o por uma noite na imagem de Gorlois. Uther conseguiu entrar na casa dela e a fez acreditar que era Gorlois e que ele havia retornado antes do tempo. Vivienne feliz por ter seu amado de volta, entregou-se a ele. Uther adormeceu nos braos dela, mas se esqueceu que quando o sol raiasse, ele retornaria sua verdadeira forma. Logo que Vivienne despertou, ela viu que foi enganada por ele e o expulsou. Foi ento que sua me icou grvida de voc, e voc nasceu com sete meses e meio de gestao e no tinha a menor possibilidade de Gorlois ser seu pai, pois ele j estava fora por mais de nove meses. Voc nasceu to pequeninha, que quando Gorlois retornou, ele acreditou que voc fosse uma recm-nascida e que tinha sido concebida um pouco antes de ele partir para Guerra, ento nunca desconiou de nada. At que seis anos depois, minha irm, Morgause, possuda pela inveja que tinha de Vivienne, contou tudo a Gorlois e ele a expulsou de casa. Um pouco antes de Vivienne desaparecer, ela me procurou- e contou-me a verdadeira histria. Antes de partir, definitivamente, ela disse que iria se aprisionar no lago de Avalon, pois no poderia suportar a vergonha, o que gerou a Lenda da Dama do Lago. Mas sua me descobriu que a culpa de tudo era de Merlin e o seduziu, levando-o consigo at o lago, onde ela se aprisionou ali juntamente com ele. Nunca mais foram vistos. A Lenda conta que quem navega naquele lago ou se refresca em suas guas, ica aprisionado e que sua me a protetora de Avalon. Igraine despejou a verdade nela e no conseguia sequer raciocinar. Tudo era mais grave do que imaginava. E agora o que seria dela? No conseguiu dizer nada, pois as palavras icaram presas em sua garganta. No culpe Arthur, Morgana. Ele no sabe de nada, nunca tive coragem de contar a ele... Ento, se voc quer culpar algum, culpe a mim, pois fui fraca e nunca tive coragem de enfrentar essa situao, nunca tive coragem de dizer que Arthur tinha uma irm. Mas jamais imaginei que chegaria a esse ponto... a ponto de ele fazer da prpria irm, sua amante. Por favor, me perdoe. Igraine inalizou.Morgana balanou a cabea em negao. Solidariamente, Igraine a abraou, e ela retribui, sem pensar muito. No sabia a quem atribuir a culpa disso tudo, talvez ao destino. A nica coisa que queria, era sair dali para o mais longe possvel. Me ajude a sair daqui, tia. Eu lhe imploro, no posso mais icar, no depois disso. Claro, minha querida, isso o mnimo que eu posso fazer. Espero que um dia voc possa nos perdoar. Venha, vista esse traje de serva e essa capa, que vou acompanh-la at o estbulo, onde voc poder buscar seu cavalo e partir. Agradeceu com um aceno de cabea e prontamente fez o que ela lhe mandou. Pegou seu cavalo e sem pestanejar, saiu em disparada do Castelo. Seguiu na estrada, indo de encontro escurido novamente, deixando seu corao e todo sentimento bom naquele lugar.
************** Mesmo estando devastado por no conseguir encontrar Morgana, Charles se divertiu muito com os cavaleiros, principalmente com Lucan. Ele havia se tornado um irmo para ele. Sabia que no momento certo, encontraria novamente aqueles olhos verdes e eles lhe diriam a verdade. Infelizmente ningum em Camelot pde ajud-lo. Teria que partir, teria que voltar Cornualha, mesmo no querendo, mesmo no cumprindo sua misso. Ele precisava voltar s suas atribuies. Gorlois tambm precisava dele, temia uma guerra com o reino de Crbenic a qualquer momento, pois no havia cumprido os acordos do Casamento com Elaine. Charles tambm temia, h algum tempo, estar vivo ou estar morto no fazia a menor diferena, mas hoje em dia ele queria viver por Morgana. Enfrentaria o mundo, sobreviver a tudo por ela. Em uma tarde de Domingo, ele se despedia de todos. Despedia-se daquele lugar, iria para longe de Morgana novamente, mas a levaria em seu pensamento, o gosto de seu beijo, seu olhar doce. Lucan iria lhe acompanhar at a divisa de Nmendor com Camelot. Apesar de tudo, ele ficara feliz por ter encontrado ali, um grande amigo.
Nove meses depois
Sozinha em sua cabana, Morgana dava luz uma menina e a chamou de Nimithiel, que signiicava branca como a lua. Logo que fugiu do Castelo de Camelot, ajudada por sua tia Igraine, comeou a sentir os primeiros sinais. Estava grvida de Arthur, seu irmo. Por diversas vezes, tentou abortar, mas no ltimo segundo nunca fora capaz de ir em frente. Queria que Ricardo estivesse ali, mas desde que ele fora preso em Camelot, nunca mais voltou. Ele com certeza, saberia o que fazer, mas ela jamais seria capaz de matar uma criana inocente. Nimithiel nascera com o dom de manipular o fogo, mas com uma doena muito grave: Reptiliose. Existia uma antiga superstio que dizia que s os nascidos de uma relao incestuosa possuam essa doena, eram chamados popularmente de Daimons, ou demnios na lngua antiga. As pessoas que nasciam com essa doena eram consideradas amaldioadas, no poderiam ser batizadas mesmo que fossem cristos, e so mal vistas entre todos os povos. Eram frutos do pior dos pecados. Sentiu pena da pobre bebezinha. At mesmo, por no conseguir am-la. Ela trazia lembranas de uma poca difcil demais, mas esperava um dia conseguir. Olhou para o beb que dormia profundamente em seus braos, metade de seu rosto, parte de um dos seus braos, o lado inferior direito do abdmen e metade da perna esquerda eram cobertos por uma espcie de estrato crneo, que lembrava muito escamas, formando gretas e issuras e a pele icava endurecida no local, e bastante resistente. Lembrava muito a couraa de um rptil, da originou o nome da doena. Mas por baixo de toda essa deformao, via-se que era uma menina muito bonita, sua pele e seus cabelos eram bastante claros e seus olhos tinham um tom de azul violeta. Ela era um beb adorvel e muito tranquilo. Com o passar do tempo, notou que Nimithiel crescia de uma forma assustadora. A mutao fazia com que as clulas de seu corpo envelhecessem muito mais rpido e de uma forma no natural. Quando ela completou um ano de idade, seu corpo aparentava o de uma menina de cinco anos. Quando fez dois anos, ela podia ser claramente confundida com uma menina de dez e conclu que cada ano que passava, para ela, era como se fossem cinco. Ficou apreensiva, porque temia que ela envelhecesse demasiadamente rpido e morresse quando ainda fosse uma adolescente. E outra coisa lhe preocupava muito: ela ainda no conseguia falar. Quando Nimithiel fez trs anos de idade, mas com a aparncia de 15, alguns homens invadiram a cabana e a tiraram de Morgana, com a desculpa de que "um ser como ela no poderia existir na face da terra." No tiveram, sequer, tempo de reagir, porque ainda estavam dormindo, e alguns dos homens amarraram as suas mos e as seguraram fortemente pelos braos. E icou ali, impotente, vendo-os levar sua amada ilha, tirarem-na dela. Foi como se levassem parte do seu corao junto com eles. Com o tempo, fora buscando informaes, ela jamais desistira de procurar por sua ilha. Descobriu que os Elementais do fogo estavam sendo caados para serem usados em guerras, devido ao seu incrvel poder destrutivo. Eles eram tirados bruscamente de suas casas, levados e aprisionados por caadores mercenrios e vendidos aos reis para serem usados em campos de batalha por todos os reinos. Recebeu uma informao de um campons que haveria uma guerra na cidade de Nortmbria, e que provavelmente os Elementais estavam sendo vendidos e levados para l. Largou tudo o que tinha para trs e partiu. Durante todo o caminho, o sentimento de vingana lhe atormentou, no mais direcionado para Gorlois, pois apesar de tudo, sua atitude era justificvel, mas sim para Uther. Tudo era culpa dele, de ningum mais. Quando estava prestes a sair de Camelot, uma alcateia de lobos Dracopyre cruzou seu caminho. Eles eram criaturas mgicas e podiam se transformar em humanos. Sem pensar muito no que estava fazendo, escravizou-os, exatamente da forma como Ricardo tinha ensinado. Ordenou que um deles, uma loba, entrasse na cidade de Camelot, seduzisse um dos Cavaleiros e descobrisse informaes sigilosas. Assim que retornasse, ela deveria lhe encontrar e passar essas informaes. Esperava que tivesse a chance de se vingar de Uther. 4 Corao Guerreiro
Como Charles havia temido, a Cornualha estava em guerra com Crbenic. O rei Breunor no aceitou o fato do casamento de Gorlois com sua ilha Elaine no ter sido consumado, e no concordava com a futura anulao do casamento. Eles sempre foram adversrios, tanto que nenhum dos dois nunca cumpriu os acordos feitos um com o outro, ento essa guerra aconteceria mesmo de qualquer forma e estavam preparados para um confronto a qualquer momento. Gorlois se reuniu com o Conselho para os ltimos acertos da Guerra, e Charles como Comandante Geral, seria responsvel por comandar seu exrcito. A primeira Misso seria conquistar de volta a cidade de Nortmbria, que pertencia Cornualha por direito, e no foi devolvida aps o encerramento do acordo do casamento. Ele temia essa batalha tanto por sua vida, quanto pelo Reinado de Gorlois. Ele teria a glria que tanto queria se sasse vitorioso, seu nome jamais seria esquecido atravs dos sculos, mas ele icaria totalmente falido, alm de que estava cada vez mais doente. Teimava em acompanh-los nessa contenda que no seria nem um pouco fcil. Nortmbria era uma das cidades mais diceis de se dominar. Mas no discutiu, aceitou sua misso com orgulho e honra! H algum tempo, Charles no teria a mnima condio de fazer isso, e iria nessa guerra sem se importar com nada, mas agora era diferente. Ele no estaria mais sozinho. Lady Morgana iria consigo em seu pensamento e em seu corao. Charles vencer e retornar. Ir voltar e ir encontr-la. Derrotar um exrcito inteiro por ela. J faz trs anos que esteve em Camelot em sua busca. Cada minuto longe dela era dicil de suportar, mas ele estava feliz simplesmente pelo fato de ela existir nesse mundo. No seu corao, ele tinha a certeza que a histria deles ainda no havia acabado, na verdade, nem comeado. Reencontrar Morgana, nem que para isso tenha que enfrentar o mundo se for preciso. Ela estar ao seu lado, nunca teve dvidas disso. Em uma segunda-feira chuvosa e nublada, marcharam com o Exrcito da Cornualha em direo ao extremo Sul. Silenciosamente fez uma orao. Pedia para que isso acabasse logo e que acabasse da melhor forma possvel, se que algo poderia acabar bem em uma guerra. A Viagem foi tranquila, uma calmaria antes da tempestade. Enim, avistaram os muros de Nortmbria quatro dias aps uma longa e cansativa viagem e montaram o quartel bem prximo cidade. Os muros que a cercavam eram uma verdadeira fortaleza. Sabiam que os cidados no iriam aceitar a contenda, e se manteriam dentro dos muros o mximo que poderiam ou ento preparariam uma emboscada. Notou nesse momento, que essa guerra levaria vrios dias e ele s queria que o tempo passasse rpido, mas se manteve firme e determinado. Os dias foram passando, e suportar essa guerra se tornava cada vez mais complicado. Durante o dia, mantinha-se ocupado, mas durante a noite, ardia de desejo e a tristeza o dominava. Se estivesse acordado, que era o que acontecia na maioria das vezes, imaginava aquele corpo junto ao seu. Se estivesse dormindo, sonhava com ela. Lady Morgana. Mas o pior era que quanto mais o tempo passava, mais os dois lados dessa guerra sofreriam. Do lado da Cornualha, as provises estavam cada vez mais escassas, em breve os soldados passariam fome, sem contar que uma doena terrvel se espalhou entre eles, levando dezenas morte. No outro lado da Muralha, os cidados de Nortmbria, estavam acuados, e tambm sofreriam da mesma forma com a falta de alimento. Ningum entrava e ningum saia da cidade. A nica chance seria encontrar uma falha na defesa deles, e todos aguardavam por isso. Em um dia ensolarado, Charles saiu com alguns homens para veriicar o norte da loresta que cercava a cidade, ouviram rumores de que havia uma passagem secreta que dava acesso ao lado de fora de Nortmbria por onde os cidados estavam conseguindo sair. Gorlois lhe deu a ordem de descobrir essa passagem e intercept-la. Se realmente isso fosse conirmado, talvez encontrassem uma maneira mais fcil de entrar. Ele jamais imaginaria o que encontraria pela frente. Estavam tranquilamente veriicando o lugar, quando foram surpreendidos e atacados. Uma faixa de trinta homens os cercaram na densa mata e Charles estava somente com dez soldados. A batalha que seguiu foi sangrenta, perdeu cinco bons homens, mas conseguiu vencer. Por sorte, os soldados que o acompanhavam eram habilidosos, pois estavam em um nmero muito menor. De repente, se assustou com um barulho que vinha de uma rvore e um dos soldados de Nortmbria saiu detrs dela, assustado, e correu. Como ele estava em melhores condies de lutar, ordenou aos soldados que mantivessem o posto que iria captur-lo e, provavelmente, levaria-o como prisioneiro. Desembainhou sua espada e foi atrs dele.
Aps uma longa e cansativa viagem, Morgana avistou a cidade de Nortmbria. Estava disfarada. No caminho matou um soldado e pegou sua armadura, ento passar pelos portes foi fcil. Notou que a cidade era toda protegida por uma forte muralha, e os cidados estavam apreensivos, armazenando o mximo de provises que pudessem, tentando proteger suas casas. Iniltrou-se entre os soldados, evitando falar, para saber maiores informaes. Descobriu que Gorlois estava a caminho e iria tentar tomar a cidade. Na mesma hora, um pensamento a invadiu, ser que Charles estaria entre os soldados? Sentiu seu corao acelerando, como em todas as vezes que pensava nele. Uma lgrima brotou em seus olhos, mas respirou fundo e procurou se concentrar. Ela no fazia a mnima ideia aonde isso iria lev-la, mas precisava estar ali. Sua ilha, Nimithiel, foi levada e trazida para icar aprisionada aqui nesse lugar, para ser usada na guerra. Estava arrasada com isso, Nimithiel era a nica coisa que havia lhe restado. Os dias foram passando e logo o Exrcito de Gorlois sitiou a cidade, no permitindo que ningum entrasse e ningum sasse. Ela no conseguia descobrir onde Nimithiel estava presa, mas tambm no teria como continuar sua busca enquanto essa guerra no acabasse. Precisava sair dali com ela, sem que ningum as visse, e no fazia a mnima idia de como isso seria possvel. Morgana precisava ser discreta e se manter viva. Iria aguardar a guerra acabar. Ficou sabendo que duraria muito tempo, nenhum dos dois lados se entregaria fcil, mas foi paciente, buscando informaes e esperando o momento certo chegar. Sabia que um dia teria que lutar, mas no se importava com isso. Esperava que no tivesse que ser contra Charles, seno sua misso iria por gua abaixo. Queria muito v- lo, claro, mas no podia. Era muito angustiante saber que ele poderia estar ali depois daquela muralha, to perto dela. As coisas na cidade estavam diceis, faltava de tudo, mas principalmente comida, gua e remdios. Todos estavam sofrendo muito, mas ela precisava prosseguir. Ficou sabendo que havia Elementais presos ali em algum lugar, mas no conseguiu descobrir onde seria essa priso, ento deixou o tempo passar... Conseguiu manter seu disfarce, mantinha-se sempre afastada dos outros, jamais tirava a armadura. Ela j estava machucada e desconfortvel, mas no havia outro jeito. O mximo que fazia era esperar e esperar. Gorlois estava determinado, ele no desistiria. O comandante do exrcito de Nortmbria, abriu uma passagem secreta que levava loresta, para fora da cidade, e se no fosse descoberta, traria uma vantagem na guerra. Eles planejavam fazer uma emboscada ao Exrcito da Cornualha. Estava preocupada e apreensiva. No parava de pensar em Charles. Ser que ele estaria correndo perigo? Quando a passagem icou pronta, alguns soldados foram designados a veriicar, inclusive ela. Infelizmente, no tinha outra escolha a no ser aceitar e ir. Estava com um aperto no peito. Dirigiram-se para fora da cidade, a passagem era estreita, porm suiciente para um exrcito. Tudo estava tranquilo, at que atingiram o inal, e viram que os soldados da Cornualha aguardavam do lado de fora. Haviam sido descobertos. Ficaram quietos observando do lado de dentro. O mnimo de barulho colocaria a vida de todos em risco. Havia poucos soldados do lado de fora, no mximo dez, e o comandante geral estava entre eles, ento decidiram atacar, no poderiam perder essa oportunidade de lev-lo como prisioneiro ou at mesmo mat-lo. Do lugar onde estava no conseguia avistar o lado de fora. No momento certo, deram a ordem para que sassem e atacassem. Os soldados entraram na loresta e a batalha comeou. Manteve-se na passagem, primeiramente observou o que lhe aguardava. Notou que o outro grupo era trs vezes menor que o seu, estavam em desvantagem, mas, mesmo assim, pareciam estar vencendo. No meio daquela confuso no conseguia ver nada. Rapidamente todos os soldados de Nortmbria foram mortos e no meio daquela carnificina, o avistou. Charles. Lembrou-se que ele era o comandante do Exrcito da Cornualha. Novamente o havia encontrado. Nesse momento, comeou a acreditar no destino, realmente havia uma fora maior que queria uni-los. Antes que fosse vista e morta, Morgana correu e se escondeu atrs de uma rvore, mas mesmo assim, Charles viu que havia algum escondido ali, desembainhou sua espada e veio atrs, mas ela correu em direo loresta. Ela tremia muito, suas pernas estavam bambas, ento tropeou e caiu. Charles iria alcan-la... Ou lhe matar.
A perseguio no durou muito, o soldado tropeou e caiu ao cho. Charles logo o alcanou e o rendeu, sua espada estava em seu pescoo, ameaando-o, no teria como ele reagir. Ordenou que ele mostrasse seu rosto, dizendo que ele agora seria seu prisioneiro. Ele relutou, no mostrando sua identidade, notou que chorava. Arrancou seu capacete. Deu um passo para trs. sua frente estava nada mais nada menos que Morgana. Ele no acreditou no que seus olhos viam. Aproximou-se, achando que no poderia ser verdade, sua mente estava pregando-lhe uma pea. Mas era mesmo ela. Jogou sua espada longe e ajoelhou-se, uma lgrima escorria por seus olhos, segurou em seu lindo rosto e a beijou. Ela correspondeu. Charles disse: Meu Deus, Morgana, eu poderia ter te ferido, eu poderia ter te matado... Como isso pde ser possvel? Charles, eles a levaram, minha Nimithiel, eu vim resgat-la Ela dizia repetidamente, sua mo em seus braos, fragilizada. Ele odiava v-la assim. Queria muito proteg-la e a abraou forte. Nesse momento, viu que alguns soldados notaram sua demora e vinham atrs dele. Suplicou a Morgana que viesse consigo ou eles a matariam. Disse que iria ajud-la, e ela concordou. Colocou de volta seu capacete e amarrou suas mos, sentindo um aperto no peito, mas ela precisava manter o disfarce. Levou-a junto consigo, no deixando ningum toc-la, nem se aproximar dela. Conseguiram chegar ao acampamento, sem que ningum desconiasse de nada. Mal acreditava que a razo de sua vida estava aqui com ele. Estava feliz e triste ao mesmo tempo, pois sabia que teria que ter muito cuidado. Ordenou aos soldados que a deixasse na sua barraca que ele a manteria ali sob suas vistas. Eles prontamente obedeceram, sem questionar. Morgana teve muita sorte de ele ser o comandante e de ter cado justamente em suas mos. Sorte ou destino, no saberia dizer, mas no podia nem imaginar o que poderia ter acontecido a ela, se no estivesse ali naquele momento. Destino mesmo. Eram meras peas de um tabuleiro. Infelizmente teve que mant-la presa at que a noite chegasse e todos fossem dormir e enim pudessem conversar. Procurou fazer o que estivesse ao seu alcance. Ela estava bem alimentada e confortvel no canto de sua barraca. No deixou ningum falar com ela. Charles estava nervoso e apreensivo durante todo dia, tentando entender isso tudo. Por qual motivo Morgana se arriscaria tanto assim? Quem ser Nimithiel? Quando inalmente a noite chegou, e viu que mais ningum entraria ali, ele a libertou, carregou-a no colo e a trouxe para sua cama. Notou que ela estava bastante fraca, ento a deitou gentilmente, procurando se havia algum ferimento. Ela estava bem, somente cansada. Ainda estava cedo e a deixou dormir, segurando-a entre seus braos, alisando seus longos cabelos negros macios. A viso dela dormindo era o paraso seria capaz de passar a noite assim a observando. Perto de meia-noite, Morgana despertou assustada. Ele acalmou-a, dizendo que estava ao seu lado. Ela o abraou forte, explicando tudo que havia acontecido. Charles ouviu tudo atentamente, pensando em como poderia ajudar em sua misso. Prometeu que ele mesmo libertaria Nimithiel, assim que dominasse a cidade, traria-a de volta. Suplicou a ela que icasse, que a manteria escondida e a protegeria. No queria que ela se fosse, nunca mais. Morgana deslizou as mos suavemente por seu rosto, sua expresso era de amor e desejo e o que ela lhe disse em seguida jamais esquecer, nem que viva mil anos: Eu amo voc Charles, eu penso em voc o tempo todo, voc a luz da minha escurido. Eu tambm te amo, Morgana. Voc me salvou, eu no era nada antes de te encontrar, eu no tinha uma vida. Charles a beijou apaixonadamente. Morgana deslizou as mos pelos msculos rijos de Charles, sentindo-os lexionarem-se debaixo de seus dedos, exigindo mais e sentiu sua pele arrepiar-se por inteiro com seu toque. Charles deitou-a na cama, sem desviar os glidos olhos violeta dos dela. Morgana, eu quero voc o tempo todo, eu penso em voc o tempo. Voc me enfeitiou, no ? - Seus olhos brilharam em fogo, transmitindo todo o desejo enlouquecedor que sentia por ela. Ento o feitio virou contra a feiticeira, Charles! - Morgana disse. Ele retirou vagarosamente suas roupas sujas e as jogou no cho da barraca. Sua expectativa chegou ao limite, ela precisava senti-lo dentro de si imediatamente. Fizeram amor, e sentiram um prazer indescritvel, ela foi moldada exatamente para ele. Morgana dormiu ao seu lado, e teve a certeza que ela o grande amor da sua vida, nunca amou tanto algum assim, nunca sentiu isso por ningum. Encontrou seu paraso meio guerra, um osis em meio ao deserto. O dia amanheceu claro e bonito, A vida continuava. Charles precisava vencer uma guerra, ento se levantou, sentindo-se bem mais disposto. Morgana ainda estava dormindo e no quis acord-la. Beijou seu lindo rosto e saiu, deixando um soldado de sua extrema coniana na frente da barraca com a ordem de que ningum entrasse. Finalmente invadiram e tomaram Nortmbria. Os cidados no ofereceram nenhuma resistncia, eles estavam dominados pela misria e pela doena, devido a isso, ningum saiu ferido. A cidade pertencia novamente Cornualha. Venceram. Antes de retornar, ele conseguiu descobrir onde Nimithiel estava sendo mantida presa, e sem que ningum visse, libertou-a. Ela estava fraca e bastante desnutrida, com roupas sujas e rasgadas. Reconheceu-a pela deformao do seu rosto, exatamente como Morgana lhe explicara. Ele a carregou no colo e Nimithiel no ofereceu nenhuma resistncia. Envolveu-a em um manto e saiu com ela dali. Retornou feliz e realizado barraca, aps receber todas as honras do Rei Gorlois. Estava louco para rever Morgana. Quando chegou, ela correu em sua direo, beijando-o, e Charles a segurou forte em seus braos. A guerra acabou meu amor. Ns vencemos! A cidade foi tomada! - Charles disse. Ele entregou Nimithiel a ela, e viu as lgrimas de emoo que se formaram em seus olhos, quando abriu o manto, mas o corao dela estava apreensivo, pois Nimithiel no se mexia. Ela olhou desesperada para Charles. Ela est viva? - perguntou. Sim. Ela est bem, meu amor. S est bastante cansada. Vamos deixar que uma serva de coniana cuide dela. - Charles disse, pegando cuidadosamente Nimithiel de seus braos e ordenou que uma serva cuidasse dela, que a deixasse bem alimentada e limpa. Venha aqui, agora eu irei cuidar de voc! - Charles segurou em sua cintura e puxou-a para si. Vou preparar um banho delicioso para ns! disse, com o olhar cheio de malcia, que a incendiou por inteiro. Ele deu um delicado beijo em seus lbios e deixou-a. Minutos depois, estavam na banheira, abraados. Morgana relaxou sob a gua quente e perfumada, e procurou aproveitar cada segundo ao lado dele. Ela lhe beijou, um beijo doce e apaixonado. Ah Morgana, o gosto de seus lbios.... Esse seu beijo... por ele eu mataria a todos! - Charles pegou uma toalha que estava ao lado da banheira, enrolou Morgana nela e a levou de volta para a cama. Contou Morgana sobre sua vitria e ela pareceu feliz e aliviada. Charles deitou-a gentilmente na cama. Estava total e completamente nua. Ele deslizou a toalha por todo seu corpo, enxugando-a sem deixar nenhum recanto para trs. O toque macio e irme dele e ao mesmo tempo o toque spero do tecido da toalha, excitou-a de uma forma enlouquecedora. A toalha foi substituda pelos lbios dele, traando uma trilha de beijos. A viso era ertica demais: os lbios dele pressionado sua pele, aquela lngua rosada e macia a lambendo em lugares que jamais imaginou ser tocada, sugando profundamente... Ela gemeu o nome dele com adorao: Charles! Morgana j no podia mais resistir. Precisava dele dentro de si imediatamente. Tomou a atitude. Jogou-o ao lado da cama e montou sobre ele, sentindo Charles invadi-la ferozmente. Eu amo voc Morgana, agora e sempre! - ele sussurrou. Para todo sempre! Fizeram amor de novo e todos os sonhos se tornavam realidade. .
Morgana nunca havia sentido isso em toda sua vida, nunca foi to feliz. Esses dois dias lhe mudaram e a marcaro para sempre. Toda escurido se foi, o dio viu que no mais tinha lugar no seu corao, e foi vencido. A nica coisa que tem lugar na sua vida agora o amor. Voltou a ser aquela Morgana que era antes. Charles a salvou, assim como ela o salvou. O ama mais que tudo! Mas precisava recuperar o que foi destrudo, queria sua antiga vida de volta. Ela salvar Nimithiel, voltar para Cornualha e suplicar o perdo de sua Famlia. No ser fcil, mais uma batalha estava vindo pela frente. Mas ela quer lutar, ser digna de um homem como Charles. Ele ainda vai se orgulhar dela. Ento, teria que partir. No poderia retornar com Charles, pois no sabia o que lhe aguardava pela frente. No sabia como seria recebida por Gorlois. Hoje em dia no mais conseguia odi-lo, no depois de saber toda a verdade. Mesmo depois de tudo o que aconteceu, ele ainda era o nico pai que conhecera, ento faria o que estivesse ao seu alcance para se reconciliar com ele. Imploraria, se preciso fosse. Charles ainda estava dormindo, ela escreveu um bilhete a ele, explicando os motivos da sua partida. Ficou olhando por longos minutos para aquele homem que tanto amava e saiu sem que ningum a visse. Seu corao e sua alma se partiram ao meio. Foi muito dicil deix-lo. Mas quando se reencontrassem, seria deinitivamente. Ele jamais teria que sair de seu lado. Ainda estava de noite, conseguiu roubar um dos cavalos e partiu em direo Cornualha, com sua filha Nimithiel em seus braos.
Charles despertou e levantou-se rapidamente, assustado, Morgana no estava mais do seu lado. Notou um bilhete com uma escrita ina e bonita, destinado a ele. Era dela. Ela havia lhe deixado novamente. Correu para o lado de fora, com a esperana de que ainda pudesse encontr-la, mas nada viu. Uma tristeza tomou conta de si, mas entendia os seus motivos. Mesmo no aceitando icar longe dela, ele sentia que o momento de icarem juntos estava prximo. Esperar o tempo que for necessrio. 5 Retorno
J era tarde da noite e aps uma longa e cansativa viagem, enim Morgana avistou a cidade da Cornualha. Desde que deixou Charles em Nortmbria no se sentia muito bem, nem sica nem emocionalmente, se sentia fraca e febril, com uma dor horrvel no peito. O que mais queria era descansar. Mas no poderia desistir, estava bem perto e faltava apenas poucos quilmetros agora. Ela sentia muito frio, tremia da cabea aos ps. Seu estmago dava voltas e sentia muito medo de morrer; medo de que tivesse adquirido a doena que matou vrios dos soldados da Cornualha durante a guerra. Sentia sua conscincia se esvaindo aos poucos, e foi ento que avistou uma antiga cabana de caa. Nimithiel estava bastante fraca ainda e dormia profundamente em seus braos. Decidiu se estabelecer ali mesmo. Entrou na cabana e deitou Nimithiel carinhosamente na cama. Aconchegou-se ao seu lado e deve ter adormecido ou desmaiado, porque o que viu foi somente escurido.
Pela manh, quando despertou assustada, viu que algum cuidava delas, notou um pano molhado em sua testa e um cheiro forte de ervas. Abriu os olhos com muita diiculdade e viu seu primo Gawain, acendendo um fogo e fazendo um ch. O mximo que conseguiu dizer foi um oi, que saiu fraco e quase inaudvel. Quando ele viu que Morgana estava acordada, correu at ela e lhe deu um suave beijo nos lbios, dizendo que icou extremamente preocupado, que quando ele chegou, ela estava inconsciente. No entendia o motivo de ele estar ali, mas no tinha foras para questionar sobre isso agora, sentia seus olhos arderem sobre a claridade, estavam se fechando novamente. Gawain segurou sua cabea nos braos e a fez tomar um ch amargo, que desceu com diiculdade, arranhando sua garganta. Havia dias que no comia nada e se sentia muito indisposta. Adormeceu em seus braos, suando frio.
Mais tarde, acordou se sentindo um pouco melhor. Um cheiro agradvel tomava conta da Cabana. Gawain estava preparando uma sopa. No entendia o que ele fazia aqui e nem porque estava cuidando dela, mas no discutiu. Gawain a sentou com cuidado na cama, ela levantou arfando, sentindo muitas dores em todo corpo. Ele lhe deu a sopa, que estava quente e deliciosa. Morgana o agradeceu e ele se deitou ao seu lado. Quando, enfim, teve forcas para conversar, perguntou: Gawain, por que voc est cuidando de mim e o que voc faz aqui? Ele ica pensativo, por um momento, segura em seu rosto, seu olhar doce e triste. Receoso ele responde: Morgana, ultimamente voc no sai de meu pensamento, eu senti muito a sua falta. Agora eu moro aqui na Cornualha. Gorlois convidou-me para ser um de seus cavaleiros. ele explicou. Gawain foi seu primeiro amor, tiveram meio que um namoro infantil, eram muito apegados um ao outro quando crianas, mas nunca passou disso. Porm, o que menos queria no momento era discutir, ento concordou com um aceno de cabea. Eu estava passando na estrada, quando vi uma movimentao suspeita na cabana. Sabendo que h muito tempo ela no era habitada por ningum, suspeitei que fossem bandidos. Foi quando encontrei voc, Morgana, muito doente. ele continuou. Gawain icou ao seu lado o dia todo, enquanto descansava e tentava colocar seu pensamento em ordem. Precisava arrumar um jeito de entrar na Cornualha e se aproximar de Gorlois e suplicar seu perdo. No sabia de que forma faria isso, mas tinha que ser o mais rpido possvel. Precisava colocar sua vida em ordem, quanto antes melhor, somente assim se acharia digna de Charles. Somente assim poderiam icar juntos. Ela no sabia se Gorlois iria lhe aceitar de volta, nem se iria perdo-la, mas precisava tentar. Olhou para Gawain ao seu lado e se sentiu culpada por seus pensamentos, ainal, ele estava cuidando dela, mas pensar em Charles era mais forte do que tudo. Olhou para todos os lados e no viu Nimithiel. Ela tremia bruscamente, acordando Gawain. Gawain, onde est Nimithiel? perguntou a ele, e sentiu sua cabea rodear, a febre estava voltando. Ele se virou assustado para ela e colocou a mo em sua testa, dizendo: Morgana, ela est bem, est l fora brincando com alguns gravetos. Voc est muito quente, vou arrumar um jeito de te levar a Magnus. ele disse e Morgana tentou debater, no estava preparada para voltar Cornualha, mas antes que pudesse questionar, desmaiou, enquanto Gawain a carregava em seus braos e saia correndo com ela dali.
No sabe quanto tempo permaneceu desacordada, mas despertou em um lugar estranho. Morgana abriu seus olhos com diiculdade, no conseguia distinguir onde estava. Sabia que estava deitada em uma cama confortvel, em um quarto grande e que algum estava sentado em uma poltrona logo frente. Tentou irmar sua viso, mas somente via escurido. A pessoa se levantou e abriu a cortina, sentiu que colocava a mo gentilmente em sua testa. Sua viso estava embaada, e no conseguia ver direito. Quando inalmente sua viso se irmou, ela estremeceu, era Evanora. A vida no parava de surpreend-la, uma das pessoas que havia abandonado, estava aqui cuidando dela. Remexeu-se e comeou a se levantar. Notou que estava no Castelo da Cornualha, no seu antigo quarto que estava o mesmo de quando o deixou anos atrs. Nada mudou, tudo estava em seu devido lugar. Sentia-se nostlgica e saudosa. Era bom estar de volta. Evanora segurou-a pelo ombro e lhe ajudou a se sentar. Ela deslizou as mos por seu rosto, dizendo: Como voc se sente, Morgana? Morgana tentou responder, mas no saiu som algum, ela continuou: Voc icou desacordada durante trs dias, estvamos bastante preocupados contigo, mas felizes por voc estar de volta, minha querida! ela fez uma pausa, dizendo: Voc falou o nome Charles o tempo todo. Morgana comeou a chorar, ao ouvir seu nome. Como foi capaz de ferir e magoar pessoas to boas? Evanora a abraou, consolando-lhe. Agora est tudo bem, voc est em casa novamente, tudo de ruim passou... Morgana a abraou de volta. Evanora lhe trouxe uma deliciosa sopa e Morgana contou a ela tudo o que havia acontecido nos ltimos anos. Contou sua histria e sobre Charles, que ele havia lhe salvado e a resgatado da escurido deinitivamente. Sabia que no era digna de sua confiana, mas ela ouviu tudo com muita ateno e disse: Voc no sabia o que estava fazendo, eu tinha certeza que um dia estaria de volta. Morgana estava atnita, mal acreditando em tudo que estava acontecendo. Estava de volta! Isso era tudo o que precisava. Levantou-se bruscamente. Onde est Nimithiel? Eu preciso v-la! perguntou desesperada. Evanora segurou em seu rosto. Acalme-se, minha amiga, ela est muito bem. Eu mesma cuidei dela esse tempo todo, est muito bem acomodada no quarto que ica ao lado do seu. Ah Morgana, ela uma menina muito especial, um anjo! Evanora disse, e sorriu para ela. No tinha palavras para agradec-la. Eu posso imaginar o que aconteceu Morgana, mas mesmo assim ela uma menina muito bonita. Eu no acredito nessas supersties. disse Evanora, incentivando Morgana a lhe contar mais sobre a histria de Nimithiel. E assim Morgana o fez, contou toda a histria de sua ilha, inclusive suas origens. Evanora ouviu tudo atentamente sem julg-la. Era mesmo uma amiga valiosa. Gael entrou rapidamente no quarto e seu corao parou. Ficou sem reao quando ele se aproximou dela e tocou o seu brao, perguntando se estava bem. Engoliu em seco, e fez um aceno positivo com a cabea. Ele disse: Bom ter voc de volta Cornualha, minha irm. Independente do que aconteceu no passado. Voc ser muito bem-vinda caso queira ficar. Ela icou boquiaberta, achava que estava sonhando. Ele se retirou, sentia- se sonolenta e voltou a dormir. No conseguia acreditar que haviam lhe perdoado de tudo, era muito bom para ser verdade.
Quando acordou no se sentia mais febril e levantou-se, abrindo a porta e saindo no corredor. Teve medo, como da vez que em que teve que fugir dali. Cornualha ainda era um lugar estranho para ela. Viu diversas pessoas no castelo, elas estavam tranquilas e felizes, pareciam estar mesmo vivendo em uma poca de paz, provavelmente aliviadas com o im da guerra de Nortmbria. As pessoas a olhavam curiosas, ento voltou ao seu quarto. Sentia-se extremamente envergonhada pelo que fez e a forma como a receberam de volta. Saiu novamente, abriu a porta do quarto ao lado e viu que sua ilha dormia profundamente. Aproximou-se dela e beijou seu rostinho. Retornou aos seus aposentos. Estava quase dormindo, quando Magnus entrou em seu quarto, era bom v-lo novamente. Tinha-lhe um apreo muito grande, ele sempre cuidou dela desde pequena. Lembrou-se que ele foi uma das pessoas que abandonou e abaixou a cabea, envergonhada. Ele sorriu gentilmente e a examinou. Disse que a febre, enim, havia cedido e que todos tinham icado bastante preocupados. Explicou que ela estava com a doena do suor e correu srios riscos de vida, mas que Gael e Evanora tinham icado ao seu lado o tempo todo. Ficou emocionada. Magnus viu suas lgrimas e sorriu, dizendo: Minha querida eu sabia que um dia voc retornaria, muito bom ter voc de volta. Gael assumiu a regncia do reino, estava ansioso para que voc acordasse para lhe dizer isso e vocs pudessem ser uma famlia novamente. Gorlois retornou h alguns dias de Nortmbria, extremamente ferido, uma ferida de guerra que no quer cicatrizar, e sua doena se agravou muito com o passar dos anos. Hoje em dia todos entendem seus motivos, Morgana, sabemos o quanto voc sofreu nas mos de Gorlois. Mas no guarde rancor em seu corao, ele no sabia o que estava fazendo, estava fora de si. Gael passou os anos sendo obrigado por Gorlois a rejeit- la, ele no queria saber de ningum se aproximando de voc. Ele se sente muito culpado por isso, e hoje em dia tem autoridade suiciente para agir de acordo com sua vontade. Gael sempre te amou muito e foi um dos que mais sofreu com sua partida. Ele quer voc ao lado dele. ele sorriu polidamente. Enim, tudo parecia se resolver. Magnus disse que ela ainda estava fraca e precisava descansar. Achou bom, porque ainda no tinha coragem de encarar as pessoas, no sabia se realmente seria aceita, mas tinha o perdo de sua famlia e isso j era mais do que merecido e suficiente. Adormeceu e sonhou com Charles. Sonhou que ele chegava Cornualha e ela corria e ia abra-lo. Ele lhe segurava no alto e a beijava intensamente. Despertou com Evanora entrando no quarto, lhe contando que ela acabava de dizer o nome do Charles novamente. Morgana j ia question-la sobre ele, quando um mensageiro entrou no quarto lhe entregando- um envelope. Sentiu seu corao disparar. Evanora sentou-se ao seu lado e segurou suas mos trmulas. Abriu rapidamente e viu que era uma carta de Charles. Sua respirao estava ofegante de ansiedade. Dentro dele continha uma carta que dizia: Minha Lady Morgana, meu amor, como ests? Espero que estejas bem e que tenha pensado em mim, assim como eu penso em voc. Tens cuidado bem de meu corao? Ele foi com voc, quando me deixou em Nortmbria. Eu entendi seus motivos, meu amor, espero que tenha chegado bem ao seu destino, e que tenha alcanado seus objetivos. Eu estou ansioso para que chegue logo o dia em que possamos icar juntos novamente, eu acredito nisso com todas as minhas foras, acredito no nosso amor. Em breve sei que a terei em meus braos, definitivamente, e jamais irei sair do seu lado. Perdoe-me por no ter ido encontr-la ainda, mas como Gorlois fora gravemente ferido, ele me designou governante da cidade de Nortmbria. Mas tudo isso temporrio, meu amor. Em poucos dias poderemos nos reencontrar, e estou ansioso por isso. Aguardo um retorno seu. Saibas que te amo e sempre te amarei! De seu, Charles." Terminou de ler a carta em prantos, levou-a para junto de seu peito como que se isso trouxesse Charles para junto dela. Beijou-a e colocou ao lado da cama, carinhosamente. Quando voltou seus olhos para Evanora, ela tinha um sorriso compreensivo nos lbios. Sentia-se to feliz que no era capaz de descrever em palavras.
Depois de vrios dias de repouso na cama, enim, Morgana se sentia totalmente recuperada. Uma semana se passou desde que retornou extremamente doente Cornualha, trazida s pressas por Gawain, correndo risco de morte. Estava um dia bonito de sol, mas ela no tinha coragem de sair e encarar as pessoas, no depois de tudo que causou a todos. A culpa lhe consumia por dentro, queria ser capaz de voltar no tempo, mas no era possvel, o que lhe restava era mudar o seu presente e seu futuro. Saiu do quarto e procurou por Gael em todos os cantos do castelo, esperava que ele estivesse em casa, pois a situao j estava insuportvel, j no conseguia icar mais dentro daquelas paredes, que pareciam querer engoli-la. Encontrou Gael, assinando alguns papis no escritrio. Aguardou na porta, um pouco sem graa por estar atrapalhando-o com seus problemas, pois agora ele era um Rei, um homem ocupado que tinha um reino para cuidar. Quando ele a viu, pediu para que entrasse. O que aconteceu, Morgana? - ele quis saber. Gael, eu gostaria de te pedir permisso para morar na antiga casa de minha me Vivienne, que fica nos arredores da cidade. A casa sua por direito, minha irm e no irei lhe impedir. - ele levantou-se e segurou em sua mo. Mas saiba que estarei aqui para o que precisar e irei te ajudar com tudo. Obrigada, meu irmo. - Morgana disse, abraando-o. Principalmente por ter me dado o perdo, por ter me dado a paz e o descanso que eu precisava. Agora posso lutar e seguir em frente. - ela concluiu. Gael tocou gentilmente em sua face e viu que tinha lgrimas nos olhos dele. Ele soltou- a. V, minha irm. Espero que encontre o que tanto busca. - ele disse. Morgana retirou-se do escritrio. Pensou por um momento se levaria Nimithiel. Ela ainda estava bastante fraca e indisposta. Resolveu deixa-la no castelo, com Evanora at que se reestabelecesse. Arrumou as poucas coisas que tinha, despediu-se sob o olhar triste de sua famlia, dizendo a eles que agora estaria por perto, e saiu do castelo. J era noite, as ruas estavam vazias, ento encontrou poucas pessoas que mal notaram sua presena. Saiu pela parte de trs do castelo e andou sozinha pela estrada escura. Em dois minutos avistou a casa. Entrou, e mesmo notando que ela no estava em boas condies devido ao tempo, sentia-se mais vontade. Sabia que teria um pouco de trabalho para tornar esse local um lar, mas seria bom, pois manteria sua mente ocupada. Estava se sentindo cansada e foi se deitar, amanh comearia uma vida nova. Quando amanheceu, levantou-se totalmente disposta. Algum bateu porta e o reconheceu, Senhor Walter, dono do Mercado. Ele havia trazido uma carruagem cheia de mantimentos e outras coisas bsicas para uma casa. Disse-lhe que Evanora havia cuidado de tudo pessoalmente e que toda semana ele iria retornar, o que precisasse, bastava falar com ele. Morgana o agradeceu. Preparou um caf da manh, estava faminta. Enquanto se alimentava, pensou que a primeira coisa que teria de fazer era responder Charles. Seu corao acelerou, sentia tanto a falta dele, mas tanto! Tirou a poeira da mesa, sentou-se e comeou a escrever. Suas mos tremiam, mas deixou que somente seu corao falasse. Beijou a carta, chorando e fechou o envelope. Entregou sua vida nas mos do destino.
Os dias se passavam lentamente, e Charles ainda no teve uma resposta de Morgana, sua amada, a mulher que dominava seus sonhos. Cada dia que se arrastava era torturante, sem ela, sua vida era um vazio sem im. Sentia-se ansioso, desconcentrado. J se fazia vinte dias que ela o deixou em Nortmbria. Estava preocupado, no sabia qual foi seu destino, sequer sabia se estava bem. Se dependesse dele, j partiria para Cornualha, mas como ela havia lhe pedido, decidiu que icaria cumprindo seus deveres ali e aguardaria o momento certo. Quando a encontrasse, no mais a largaria. Assim que resolvessem suas vidas, ele a pediria logo em casamento. Se ela no quisesse icar na Cornualha, ele largaria tudo e icaria com ela em Camelot ou onde quisesse, no importava, seu lugar era ao lado dela. Estava distrado em seu Gabinete, como sempre desejando Morgana, lembrando-se da sensao de seu corpo junto ao dele, da boca macia e quente beijando-o ardentemente, quando algum bateu porta. Era um mensageiro lhe entregando diversos envelopes. Colocou-os sobre a mesa, sem dar muita importncia. Todos os dias ele recebia vrias cartas de todo o reino, mas nunca a que mais desejava. Retornou aos seus devaneios. Lembrou-se de Morgana fazendo amor com ele pela primeira vez em Nortmbria, meio guerra. O que sentiu foi to intenso, to novo, o que sentia por ela era muito forte. Seus olhos marejaram. Levantou-se, bruscamente, e derrubou tudo da mesa. No era justo! Queria que ela estivesse ali! Abaixou sua cabea, entristecido, quando viu um pequeno envelope com uma letra delicada, cado ao cho. Reconheceu aquela linda escrita ina, era a letra de Morgana! Recolheu rapidamente o envelope do cho, e um perfume suave tomou conta do ambiente, era o maravilhoso cheiro dela. Sentiu seu corpo reagir de imediato! Como sentia sua falta! Abriu a carta e comeou a ler:
Charles, meu amor, minha vida! Como tens passado? Eu estou bem, mas no estou completa, sem voc ao meu lado eu sou somente metade. Vou levando minha vida ansiando pelo dia em que estaremos juntos novamente. Recebi sua linda carta, e me emocionei muito, ela ica sempre guardada junto a mim. Queria me desculpar pela demora em te responder, mas retornei de Nortmbria extremamente doente. Porm, nada acontece por um acaso, meu amado, foi essa doena que me levou para junto de minha famlia novamente. Eu hoje tenho o perdo deles. Sei que ainda tenho um longo caminho a percorrer, para que eu me sinta uma mulher digna de voc, mas eu irei lutar. Muita coisa mudou aqui na Cornualha, meu irmo assumiu a regncia, e a paz reina. Sinto que esse o momento exato para que iquemos juntos novamente. Venha, meu amor, contarei os dias para sua chegada. Cada segundo longe de ti uma eternidade sem im! No demores, acabe logo com essa saudade e com esse desejo que sinto! A vida sem voc no tem sentido. Eu amo voc, incontrolavelmente! De sua Morgana."
Charles dobrou a carta, emocionado. Suspirou profundamente sentindo de novo seu perfume. Seu corao batia acelerado, o desejo o consumia por inteiro. Suas belas palavras ecoando em sua mente. Amanh mesmo, partir ao seu encontro. Em dois dias chegar Cornualha. Dois dias e a ter de novo em seus braos. Mal conseguia acreditar. Levantou-se e rapidamente foi tratar dos assuntos da viagem. A noite, tudo estava preparado. Mal conseguiu pregar o olho, tamanha era sua ansiedade, mas logo isso teria um im. Rezava para que tudo corresse bem e o tempo passasse rpido.
Assim que amanheceu, partiu com sua comitiva. Seria uma longa e cansativa viagem, mas estava empolgado. Faria esse percurso de agora em diante, muitas e muitas vezes, quantas forem preciso at que resolvam suas vidas deinitivamente. Mas h muito tempo no se sentia to feliz, tudo estava se acertando. A viagem correu de acordo com o previsto e logo avistou os portes do Castelo da Cornualha e seu corao mal cabia dentro do peito, batia acelerado. Adentraram a cidade e foram recebidos por Gael e os cavaleiros, dessa vez sem muitas formalidades. Assim que desceu do Cavalo, Gael o abraou, e disse bem-vindo de volta, amigo! Ele se sentia em casa. Sua Rainha e esposa Evanora o cumprimentou e o agradeceu. Ficou sem entender muito bem o que estava acontecendo, mas foi tratado como se fosse da famlia. Magnus veio a sua direo, apertou sua mo, dando-lhe um forte abrao, e disse que todos j conheciam sua histria com Morgana e que ele estava sendo considerado um verdadeiro heri. No se sentia assim, somente seguiu seu corao, e encontrou a mulher mais maravilhosa dos cinco reinos! Alm de qu, quem havia lhe resgatado tinha sido ela. Seu corao e sua vida pertenciam Morgana e os daria a ela de bom grado. Estava feliz por ver todos, mas ainda no havia visto Morgana. Perguntou a Gael, e ele disse que ela no quis icar no castelo, e que estava morando na antiga casa de sua me Vivienne, que icava um pouco afastada da cidade, mas que era bem perto dali. Ele notou seu olhar triste e distante, e disse que assim que Charles estabelecesse em seus aposentos, iria lev-lo at ela. Gael o acompanhou e deu as notcias dos ltimos acontecimentos, mesmo se sentindo ansioso, ele ouvi tudo atentamente. Rapidamente, terminou de arrumar suas coisas no quarto, e saram em direo casa da Morgana. Era um im de tarde agradvel e o sol j estava se pondo no horizonte, derramando raios em tom alaranjado por todo caminho, a vista da loresta que cercava a cidade de Cornualha era muito bonita. Quando avistara a casa, Charles sentiu sua pulsao acelerando, ele estava perto dela novamente. Morgana saiu correndo pela porta da frente, provavelmente notando que algum chegava. O queixo dele caiu, ela trajava um vestido verde do mesmo tom de seus olhos, seus longos cabelos negros como a noite, caiam em ondas por suas costas e sua boca tentadora estava em tons de vermelho. Ela estava ainda mais linda que antes, se que isso seria possvel! Ela era sem dvida a mulher mais bela que j viu em toda sua vida! Mal acreditava que o corao dessa deusa pertencia a ele, era bom demais para ser verdade. Desceu do cavalo, e quando ela o viu, deu-lhe um sorriso to lindo, que sentiu suas pernas bambearem. Correram na direo um do outro, como se um im os puxasse. Ele a beijou apaixonadamente, e ela retribuiu, sem pudores, esquecendo que no estavam ali sozinhos. Gael disse algo e ele sequer ouviu, perdido no beijo delicioso de Morgana. Ele pigarreou e, relutante, Charles desfez o beijo e olhou em sua direo. Gael disse: Vou deix-los a ss, vejo que vocs tm muito... o que conversar, mas olha, Sir. Charles cuide muito bem dessa mulher, minha irmzinha ok? todos sorriram e ele se despediu. Charles se virou na direo de Morgana, segurou desesperadamente seu lindo rosto, e a trouxe para junto de si novamente, colando sua boca sedenta na dela. Segurou-a em seu colo, onde ela se encaixava perfeitamente e entraram na casa. Ela lhe abraou forte, e ele mal conseguia tirar os olhos dos seus, sentindo o perfume inebriante de seus cabelos. Fechou a porta com o p, colocou Morgana no cho com delicadeza e ela beijou-o, tirando sua roupa, ele fez o mesmo, arrancando seu vestido, o desejo o dominando. Tudo estava to perfeito, parecia um sonho! Ela seria sua novamente! Deitaram-se na cama e fizeram amor. Morgana era sua! Somente sua! Ficaram deitados, olhando um para o outro, ela era to linda que ele poderia passar a vida inteira admirando sua beleza. Charles disse a ela: Senti tanto a sua falta, deusa! Eu tambm, meu amado! ouvir o som de sua voz era to bom! Beijou-a delicadamente, e ela adormeceu em seus braos. Ficou mais um tempo acordado, velando o sono dela, tentando gravar em sua memria cada parte de seu lindo rosto, e sentindo o calor de seu corpo junto ao dele. Achou que no iria conseguir dormir, estava feliz demais para isso, mas sentia uma paz to grande que acabou adormecendo junto a ela.
Os dias que se sucederam chegada de Charles na Cornualha foram um verdadeiro paraso. No se desgrudavam para nada, praticamente icavam o dia inteiro na cama, s vezes se esqueciam at de comer, pois o amor os sustentava. Esqueceram-se do mundo que os rodeava, Charles realmente cumpriu a promessa de que no sairia de seu lado. Esse tempo todo em que icavam juntos no parecia ser suiciente, cada vez mais a necessidade um do outro aumentava. J estava fazendo cinco dias que Charles chegou, e esses foram os melhores de suas vidas. Estarem juntos dessa forma, sem nada que os impedisse era tudo que desejavam. Mas quanto mais o tempo passava, mais Morgana tinha a certeza que ele teria que partir novamente, ainal, ele ainda tinha obrigaes a cumprir em Nortmbria. Sabia que no teria como ele abandonar Gorlois nesse momento, e jamais pediria isso. Em um sbado lindo de sol, Morgana acordou e notou que Charles estava encostado na cabeceira da cama, o olhar distante e entristecido. Aproximou-se, colando seu corpo ao dele, o abraou e deslizou gentilmente a mo em seu lindo rosto. Ele a abraou irmemente e respirou fundo, dizendo: Deusa, eu terei que partir amanh. Eu no queria deix-la aqui sozinha, mas eu preciso ir. Eu sei, meu amor, voc tem sua vida e suas obrigaes. No, Morgana, minha vida est aqui ao seu lado, como posso viver minha vida se minha vida ica aqui em Cornualha? ele disse com o olhar triste e distante. No se preocupe, Charles, v, cuide de seu dever com o Gorlois e volte para mim o mais rpido possvel, eu estarei aqui te esperando. ela disse emocionada com suas belas palavras, mas segurou as lgrimas, no queria deix-lo pior do que j estava. O dia e a noite que se seguiram foram intensos. Amavam-se como se esses fossem os ltimos dias de suas vidas. Ele a olhava e a beijava to intensamente, como que se quisesse levar consigo as lembranas de cada pedacinho seu e o gosto de seu beijo, e com certeza tudo isso icaria guardado com ela, at o dia em que, enim, ele voltasse. Mas o tempo era seu inimigo. As horas se passaram rapidamente e logo chegaria o momento de sua partida. Morgana no se sentia muito bem, uma ansiedade dentro do peito, como se algo essencial fosse ser arrancado dela, e na verdade era isso mesmo. Sabia que os dias que se seguiriam no seriam nada fceis de suportar, mas era preciso, ento procurou se conformar e pensar que logo ele voltaria. O im de tarde do dia seguinte chegou, o sol ia abandonando o horizonte e a noite chegava, trazendo o frio e a escurido Cornualha. E era exatamente assim que a alma de Morgana se sentia ao ver sua metade abrir a porta de casa, segurar irmemente seu rosto, dando-lhe um beijo intenso e apaixonado, olhar fundo em seus olhos e dizer: Eu amo voc Morgana, cada vez mais. Voltarei o mais breve possvel, nem dar tempo de voc sentir minha falta. - No conseguiu segurar as lgrimas que rolavam intensamente. Charles a abraou e seu rosto estava em seu peito, notou que seu corao batia no mesmo ritmo que o seu, acelerado. Com muito custo, ela olhou em seus lindos olhos azuis e o soltou. Ele segurou em suas mos, dando um beijo clido em cada uma delas, tocou novamente em seu rosto, enxugando suas lgrimas, subiu em seu cavalo e partiu. Ele parou por um momento, olhou para trs, seus olhos se encontraram , ele lhe enviou- um beijo e sussurrou Eu te amo! e seguiu viagem na longa estrada. Ela correu, atravessou o porto, e icou olhando sua partida, at que no tinha mais nada. Somente ela ali naquela estrada escura e fria. Sua viso estava embaada e seus olhos ardiam muito, no sabe quanto tempo icou ali parada olhando aquela estrada vazia, assim como sua vida sem Charles. Por que ele tinha que partir, por qu? Sua vontade era de gritar e gritar. Quando no tinha mais foras para chorar, arrastou-se para dentro de casa e deitou na cama, segurou irmemente o lenol branco que estava todo desarrumado, sentindo o cheiro delicioso que Charles deixou. J no tinha mais lgrimas, sentiu seus olhos pesados e adormeceu profundamente. Sua vontade era de acordar somente quando ele surgisse no horizonte e voltasse.
O dia amanheceu rpido, lembrando-a que o mundo no parava. Juntou os pedaos que sobraram de si e pensou consigo mesma que tinha de se acostumar com isso, ainal, esse era o trabalho dele. Charles cumpria uma funo extremamente importante no reino, era praticamente o brao direito do Rei Gorlois, alm de ser o seu melhor e, talvez, nico amigo de verdade. Sabia que Charles o amava como a um pai e no tinha o direito de tirar isso dele. Reergueu-se e decidiu que seguiria seu rumo. Ele voltaria logo, ele lhe prometera. Sentiu que um sorriso fraco brotava novamente em seu rosto. Era assim que ela queria que Charles a encontrasse quando chegasse aqui, no destruda pela dor. Sabe que ele no aguentaria e no queria que ele se sentisse assim. Lutou contra a angstia em seu peito e seguiu relutante com seus afazeres dirios.
Charles estava reunido numa mesa com o Conselho do Rei Gorlois em Nortmbria, mas mal ouvia o que os outros Lordes diziam, olhava ixamente o tom dourado da madeira, perdido em seus pensamentos. Na reunio de extrema urgncia, discutiam calorosamente sobre uma nova batalha que viria pela frente. Os herdeiros do rei Ambrosius tentariam novamente reclamar o trono da Cornualha, e como Gorlois no iria ceder, a batalha era iminente. Receberam uma mensagem, dizendo que eles desembarcariam com centenas de navios na Costa Sul, em menos de quatro dias e o plano era intercept-los antes mesmo de avistarem a Cornualha. Se tudo corresse de acordo com o previsto, evitariam uma invaso e uma batalha corpo a corpo, e tudo se resolveria mais rpido. A Cornualha pertencia ao irmo de Uther, o rei Ambrosius. Com a morte dele, Uther assumiu o trono e tomou para si o reino. O ilho mais velho de Ambrosius, Isaac, nunca aceitou, pois ele era o herdeiro da Cornualha por direito. Ele permaneceu na corte, tramando sua vingana at que Gorlois assumisse o reino e a liderana fosse enfraquecida por um homem que nunca tinha governado. Suspeitando da traio, Charles seduziu a ilha de Isaac, a im de descobrir seus planos. Quando j tinha provas suicientes, ele delatou tudo Gorlois, e Isaac foi humilhado e decapitado em praa pblica, e o restante da famlia dele foi exilada do reino. Mas eles jamais desistiram de retomar de volta o trono. Como de praxe, Charles foi eleito com a maioria dos votos do Conselho, o comandante geral. J se fazia uma semana que havia retornado Nortmbria, para o cumprimento de suas obrigaes, mas no esperava uma batalha por agora e isso o deixou pior do que estava. Mas ele tinha que se manter forte, teria que agir rpido e preparar uma grande batalha em poucas horas. Amanh, logo cedo, iriam partir para o litoral, com uma artilharia pesada. Iriam afundar os navios com canhes de munio mxima. A correria do dia lhe fez bem, manteve-o ocupado, mas a noite logo chegou, e ele se sentia cansado e dolorido, o pensamento agitado e confuso. Fechou os olhos tentando descansar, talvez pela ltima vez em dias. Logo adormeceu, devido ao cansao do dia. Acordou no meio da noite, como sempre. Olhou no relgio j eram cinco horas da manh. O sol nascia fraco no horizonte, mas ainda tinha um tempo. Virou-se de lado e notou a cama vazia, como ele queria olhar naqueles lindos olhos verdes agora, daria tudo por isso. Morgana sua fora nas batalhas, ela seu lar. Somente ao seu lado que se sentia vivo. Somente por ela que retornaria, sempre. O desejo dominava-o, incendiando por inteiro, noite aps noite. Sua ausncia doa muito, sentia muito sua falta, era como se faltasse um pedao de si mesmo. Lembrou-se de sua expresso triste na estrada quando partiu e isso acabou com ele. Precisava resolver logo essa situao, icar longe dela estava cada vez mais dicil para ambos, mas no sabia o que fazer. Que Deus o ajude, porque assim que acabasse essa batalha, ele iria deixar Nortmbria e voltar para o castelo. A situao estava complicada, mas assim que chegasse iria conversar com Gael, quem sabe ele poderia ajudar, ao menos lhe aconselhar, teriam que arrumar um substituto para ele. No via a hora de ter Morgana deinitivamente e cham-la de esposa. Era somente uma questo de logstica e poderiam se casar e isso era o que mais queria. Mas antes disso teria que vencer uma batalha, ento tratou de se levantar e acabar logo com isso. Cada hora que se passava era uma hora a mais longe dela. Exatamente ao meio-dia, de uma segunda-feira quente e abafada, Charles partia com os soldados da Cornualha rumo ao litoral Sul. Levavam centenas de carruagens contendo munies pesadas e algumas provises. Seria um dia e meio de viagem sob o sol escaldante do vero, se tudo corresse bem, mas se sentia fortalecido. Com Morgana no pensamento e no corao ele venceria mais essa batalha. Com tudo preparado e os canhes carregados, avistaram os navios velejando tranquilos pelo mar, sem esperar que fossem ser atacados. Esse era o momento exato, ento Charles deu a ordem de ataque e viu os navios serem afundados um a um, mal tendo tempo de contra atacar. Venceram. Uma mancha negra e vermelha tomou conta do mar, da mesma cor das velas dos navios. Mais um episdio macabro em sua vida. Ficou olhando ixamente aquela cena, por um tempo, mas no deixou que dominasse sua mente dessa vez, sabia que muitas almas inocentes haviam sido tomadas essa noite e que quando isso acontecia algo tambm era tirado dele, sua alma escurecia mais um pouco, mas virou as costas e partiu. Tomou a deciso que dali mesmo, ele voltaria para a cidade de Cornualha, em menos de um dia estar nos braos de sua deusa.
J era Noite e assim que adentrou em sua barraca, tomou um banho rpido, arrumou suas coisas, pegou seu cavalo, e seguiu sozinho estrada escura em direo cidade. Em breve ter sua Vida de volta! A viagem correu tranquila, sem nenhum obstculo sua frente. No final de tarde do dia seguinte, ele estava no alto do morro, avistando a casa de Morgana. sua direita avistou o belo castelo com suas grandes e altivas torres. Era um lugar deslumbrante. Quando voltou sua viso morro abaixo, notou uma movimentao estranha em torno da casa. Desceu a estrada o mais rpido possvel e se deparou com bandidos tentando invadir o local, provavelmente se aproveitando que a noite chegava, ela estava sozinha no momento e a casa era totalmente afastada da cidade, mas no contavam com sua presena ali, que chegaria exatamente na hora certa.
Evanora havia acabado de sair, ela gentilmente passou o dia com Morgana. Hoje ela no se sentiu muito bem, tinha chorado muito e estava abatida e fraca. Fazia mais de uma semana que Charles partira e ela tentava ser forte, mas essa noite sucumbiu tristeza. Conversar com Evanora ajudou a aliviar bastante a dor, porm ainda a sentia em seu peito.. A falta de Charles era imensa e a saudade machucava demais. Estava distrada na cozinha, preparando algo para comer, quando ouviu um barulho estranho, eram passos em volta da casa, e em seguida um tilintar de espadas batendo umas contra as outras. Seu corao acelerou, ser que eram bandidos? Correu at a janela mais prxima, tentando ver o que estava acontecendo, quando se deparou com Charles lutando bravamente. Pegou sua espada, foi at a porta e preparou-se para ajud-lo. Quando a abriu um homem pulou sobre ela com violncia, caiu no cho, mas conseguiu se reerguer e cravou a espada em seu ventre. O pouco que conseguiu ver, notou que tinha na faixa de dez bandidos ao entorno da casa, tentando invadir, e a sua frente estava seu amado, lutando para lhe salvar. Aos seus ps jazia diversos corpos, ele estava todo sujo de sangue e poeira. Ela se desesperou, no sabia se ele estaria ferido ou no. Correu em sua direo, quando um dos bandidos a agarrou pelo cabelo, jogou-lhe no cho e subiu em cima dela, rasgando sua roupa. No teve tempo de reagir. O homem foi arrancado dela com violncia e viu que Charles cravou a espada em seu peito, e ele caiu morto ao cho. Lgrimas escorriam por seu rosto, ela tinha alguns arranhes nos braos e nas pernas devido s quedas. Charles a pegou em seu colo, dizendo: Vida, voc est bem? pode notar o desespero em sua voz. Sim, meu amor, voc me salvou! disse admirada. Morgana, ainda bem que cheguei a tempo, no gosto nem de pensar o que poderia ter acontecido a voc. ele fecha os olhos como se sentisse dor, aninha-a ainda mais em seu colo e entra com ela na casa, coloca-a na cama, vai at a cozinha buscar um pano com gua e comea a cuidar dos seus ferimentos. Ele tira seu vestido que estava sujo e rasgado, revelando o restante de seu corpo, automaticamente sua face mudou de preocupao para desejo, e a dela tambm. Morgana disse, sobre sussurros: Charles eu estou bem, deixe-me preparar um banho gostoso para voc. Levantou-se e deslizou as mos em seu brao, notando que tinha um corte raso, continuou: Charles, voc est ferido? No, meu amor, isso no foi nada. ele se levanta e vai cozinha, esquenta gua e coloca na banheira, em seguida tira sua roupa, volta-se a ela e segura sua mo, ajudando-a a sair da cama. Charles a beija e solta seus cabelos negros que estavam presos em um coque. Suas mos esto por todo seu corpo que se arrepia em resposta, ele a leva at a banheira e a mergulha gentilmente na gua morna e perfumada, entrando em seguida. Charles a banha, deslizando o sabonete por todo seu corpo, excitando-a, e ela faz o mesmo, levando embora os vestgios da dor e batalha que enfrentaram juntos hoje. Juntos sim, estavam juntos novamente! Mesmo com tudo o que enfrentaram hoje, Morgana se sentia extremamente feliz por ele ter voltado. Tocou em seu rosto, olhou em seus olhos luminosos intensamente e o beijou. Ele retribuiu segurando em seus cabelos aprofundando o beijo. Fez amor com ela, sussurrando em seu ouvido o quanto a amava e o quanto a queria, levando embora todo o sofrimento que sua ausncia lhe causara. 6 Inverno
Novembro chegou, trazendo consigo a neve e a paisagem cinza que tomou conta do cenrio. Os jardins, antes coloridos, icaram brancos. O inverno chegou! Morgana e Charles j estavam juntos h uma semana, a forte nevasca dos ltimos dias impediu que ele voltasse Nortmbria. Ela amava a neve da manh, ento assim que se levantou, icou admirando pela janela, a montanha que cercava a casa ser tomada por um branco totalmente glacial e ser coberta pela neblina. Era lindo! A Lareira ainda estava acesa, o fogo crepitava fraco, quase extinto, lanando sombras pela casa, deixando seu interior quente e aconchegante, apesar do frio que fazia do lado de fora. Charles levantou-se sem que ela notasse e a abraou por trs, totalmente nu, trazendo consigo um cobertor. Ele icou admirando a neve com ela, enquanto afastava seus cabelos, beijava sua nuca e ela sentia um arrepio delicioso. Quem mandou a senhorita sair da cama? ele disse maliciosamente em seu ouvido. Estava s admirando a neve, amor, ela me traz boas lembranas. respondeu, enquanto ele a virava e ia de encontro sua boca, beijando-lhe ardentemente. No mais do que as que voc ter depois do dia de hoje! ele disse, encostando-a janela onde estavam e fazendo-a sua ali mesmo. Ele estava certo, as melhores lembranas que ela teria a partir de agora seriam com ele! Voltaram para a cama, ainda estava cedo. Quando a neve amenizou, Morgana levantou-se novamente, sob os protestos de Charles, mas precisavam comer, j devia ser quase hora do almoo. Preparou algo delicioso e levou para ele na cama. Adorava cuid-lo. Assim que terminaram de comer, Charles, enim quis se levantar. Tomou um banho rpido e disse que ia ao castelo tratar de um assunto urgente com o Gael, mas no lhe disse o que era. Ela ficou apreensiva.
A nevasca havia diminudo, mas ainda cobria boa parte da estrada. Charles saiu da casa de Morgana e teve que ir ao castelo p. Fazia bastante frio nesse momento. Esses dias ali, izeram-no reletir muito. O fato de no poder voltar a Nortmbria, fez-lhe ter a certeza que aqui mesmo seu lugar, ao lado de Morgana. Ela era seu porto seguro. No ir voltar mais, no ir deix-la. Ento decidiu conversar com o Gael e pedir sua orientao. Chegou cidade e a encontrou vazia. Era estranho, pois sempre estava cheia e bastante movimentada. Certamente as pessoas estariam no conforto de suas casas, fugindo do frio. O local estava assustador, o vento vinha do norte, assobiando sinistramente. Deu um sobressalto, quando algo se moveu nas sombras e o atacou. Foi to rpido que no teve tempo de reagir, jogado a alguns metros, no cho, coberto de neve. Abriu os olhos com diiculdade, quando notou que uma criatura alada com cabea de guia e corpo de leo estava sua frente e preparava um ataque. Ela era enorme, deveria ter quase trs metros de altura. Sua boca de pssaro era gigantesca, coberta de sangue, com certeza havia acabado de se alimentar de algo, ou de algum, e queria fazer dele seu prximo alimento. Suas garras eram enormes, com certeza poderiam rasgar um homem ao meio. Olhou para o lado e no viu nada, seria somente ele e a criatura sinistra. Sentiu medo, muito medo, mas canalizou esse sentimento em coragem. Levantou-se e sacou sua espada, enfrentando-a. Ela encarou-o com aqueles olhos amarelos sinistros e assustadores, deu um grunhido alto e apavorante. O desejo de matar saltava pelos olhos dele. Quis correr, mas manteve-se irme no lugar. A criatura avanou em sua direo, suas mos tremiam e suavam, teria que mat-la com somente um golpe, no haveria outra chance, ou a derrotava agora, ou seria totalmente destroado por ela. Juntou todas as foras que tinha e aguardou seu ataque, ela veio para cima dele, e Charles cravou fundo a espada em seu peito. Ela arfou e caiu morta ao cho. Tivera muita sorte mesmo, dessa vez sentiu que ia morrer. Ouviu vozes atrs de si, e virou-se. Era Gael com alguns dos cavaleiros. Eles vieram em sua direo, com largos sorrisos no rosto. Gael estendeu a mo para Charles e o agradeceu por ter matado a criatura que havia aterrorizado a noite da cidade. Disseram-lhe que se tratava de um grifo, uma perigosa criatura da era antiga, que tinha matado trs cidados nas ltimas 24 horas e que ele salvara a todos. Os cavaleiros lhe cumprimentaram, parabenizando-o por seu feito, dizendo que todos tinham tentado matar a criatura, mas no tiveram sucesso. Ele ainda estava em choque, mal via o que estava acontecendo ao seu redor, s havia se defendido, era um cara de muita sorte, pois poderia estar morto nesse exato momento. Notou que vrias pessoas se juntavam ao seu redor, admiradas com o que acabara de fazer. Sentia-se um pouco tonto e agitado, a adrenalina ainda corria em suas veias. Gael segurou em seu ombro e entraram no Castelo, foram ao seu gabinete e tiveram uma longa conversa, principalmente sobre o que ele pretendia fazer a partir de agora. Contou-lhe que no queria mais deixar Morgana e que havia vindo ao castelo exatamente para pedir sua ajuda. Ele icou pensativo por um momento e abriu um sorriso no rosto, dizendo que sabia exatamente o que fazer. Charles lhe darei o ttulo de Duque da Cornualha, e voc assumir a 2 maior posio de comando do reino. Voc mesmo poder tomar a deciso de icar e poder convocar um substituto para governar Nortmbria. Lembre-se: no estou lhe fazendo nenhum favor, s uma recompensa por todos os servios que voc prestou ao meu pai durante todos esses anos, e por toda sua bravura e lealdade em tempos de guerra. Caso queira, poder se tornar o lder dos cavaleiros da Cornualha, e assim voc no precisar se afastar da cidade em perodos de batalha. Gael disse, fazendo Charles icar boquiaberto, ele iria defender esse lugar e essas pessoas que tanto amava e jamais precisaria se afastar de Morgana novamente por muito tempo! Um sentimento bom tomou conta de seu peito, tudo estava se resolvendo, agora ele no precisaria mais sair do lado da Morgana e, enim, poderiam se casar. Ela seria deinitivamente sua. Aceitou a proposta de Gael na mesma hora que apertou fortemente sua mo, dizendo que em breve ele seria condecorado. Charles se sentia muito feliz e realizado! Era tudo o que ele precisava. Gael se levantou, dizendo que isso merecia um brinde, buscou uma bebida e lhe entregou uma taa. Brindaram por amor Cornualha! Correu at a Casa de Morgana, estava ansioso para lhe contar a novidade, j podia imaginar o sorriso lindo e o beijo que ela o daria quando soubesse. Chegou e chamou seu nome, ela veio rapidamente, assustada. Charles a tranquilizou, segurando em seu belo rosto e contando que agora ele seria o duque da Cornualha. Notou uma lgrima em seus olhos, e ela abriu o sorriso que ele tanto queria ver, beijando-o, dizendo que nunca se sentiu to feliz em toda sua vida! Ele tambm se sentia igualmente feliz, ento aproveitou o momento, foi at sua mala e a abriu, retirando um bonito estojo de veludo e cobre contendo o anel de noivado que pertenceu a sua me Elizabeth. Segurou-o por um momento em seu peito, virou-se para Morgana e disse: Deusa, voc me salvou, eu no tinha uma vida antes de te conhecer, eu no era nada. Eu era a casca e a sombra de um homem, voc chegou e mudou tudo. Eu jamais amei tanto algum como amo voc, jamais desejei tanto algum como a desejo ajoelhou-se no cho, mostrando que toda sua vida pertencia a ela e continuou: Morgana, aceita se casar comigo?
Morgana piscou os olhos, ela deveria estar sonhando s podia ser isso. Aos seus ps, ajoelhado, estava o amor de sua vida lhe pedindo em casamento. Em suas mos, ele trazia o anel de noivado mais bonito que j viu. Ficou sem reao, olhou para ele boquiaberta, o corao aos pulos, suas pernas tremendo, lgrimas inundando mais uma vez seus olhos. Ajoelhou-se tambm, icando de frente a ele que aguardava sua resposta ansiosamente. A emoo tomou conta de si, isso era o que mais queria. Disse: Sim, Charles, mil vezes sim, eu te amo tanto. Ele sussurrou seu nome, como se fosse uma orao, dizendo que ela o havia feito o homem mais feliz do mundo! Era exatamente assim que se sentia. Ele segurou irmemente em seu rosto, deslizando o dedo em seu lbio inferior, admirando-a com adorao. Os olhos dele brilharam cheios de amor e desejo. Inclinou-se para beij-lo, suas bocas se juntaram em xtase, em um beijo ardente. Ele a deixa sem flego! Charles se levanta e a puxa para seus braos fortes, o olhar ainda ixo nela, dizendo: Minha futura esposa! Suas palavras a deixavam totalmente inebriada. Ele faz uma pausa, desliza as mos por seus cabelos, enrolando- os e puxando de leve, fazendo sua cabea pender para trs, deixando seu pescoo totalmente a merc dele, sente sua boca quente, mordendo e beijando da sua orelha at a clavcula. Morgana arqueja lascivamente sob sua boca macia. To linda. Ele diz, com a voz baixa e incrivelmente sensual, abrindo o boto da frente de seu vestido. Ele abre o restante dos botes, fazendo o vestido deslizar suavemente em seus braos, caindo sob os ps, como se fosse um leque.. Seus lbios procuram os dela novamente, seu beijo dessa vez mais selvagem, juntando seus corpos sedentos e quentes. Ele geme, oferecendo-lhe sua mo, como um convite para o paraso, ,Charles agarra sua cintura e a joga na cama. Ela ica deitada, observando ele tirar toda sua roupa. Ele faz amor com Morgana, e ela mal consegue acreditar na sorte que tem! Futura Esposa! Suas palavras ecoam em sua mente, seu corao mal cabendo no peito.
Aps alguns dias de neve e frio intenso, o dia amanheceu claro e bonito, o mundo voltava a sua cor natural, o verde retornava as lorestas, os pssaros cantavam ao longe, e a luz do sol entrava tmida pela janela da casa. Fora um inverno rigoroso, mas Morgana nunca se sentiu to feliz em toda sua vida. H alguns dias atrs Charles estava ajoelhado a sua frente lhe pedindo em casamento. Sentiu lgrimas surgirem nos seus olhos com a lembrana desse momento, era tanta felicidade que mal cabia no peito. Tudo estava to perfeito, que mal conseguia acreditar que fosse possvel. Saiu na porta para admirar a neve se dissipar, o sol mudou de direo e bateu diretamente nela e sentiu um calor agradvel em sua pele. Viu alguns esquilos sarem da loresta e chegarem bem prximos, com o intuito de pegar as frutas da castanheira. Ficou admirada com a vida que nascia de novo sua volta. A vista dos campos ao redor era deslumbrante! Charles estava no escritrio que ele montou na casa pedindo dispensa de suas atribuies como governante de Nortmbria. Por direito, ele no perderia o ttulo, futuramente poderia revog-lo novamente, mas o rei poderia abrir uma sindicncia e invalidar, tomando o de volta e entregando sua corte. Caso isso acontecesse, ele no iria perder somente um papel, mas terras, riquezas e inmeras propriedades. Boa parte j estava em seu nome, mas mesmo assim, as perdas seriam incontveis. O casamento seria a quinze dias, e os preparativos corriam de vento em polpa. Muitas festividades viriam pela frente, e Morgana estava cada vez mais ansiosa e emocionada. Em breve ela seria esposa de Charles, tinha tanto orgulho disso, e em alguns dias seria parte de si para sempre. Colocou a mo do lado esquerdo do peito, seu corao batia acelerado, olhou para o cu e viu nuvens cinza darem lugar a um azul escarlate. Charles apareceu na porta, se espreguiou e veio em sua direo, colocando sua mo em sua cintura, lhe dando um sorriso deslumbrante. Ele a puxou para seus braos com o olhar fixo nela, disse suavemente: Um beijo por teus pensamentos, minha lady! ele puxa sua mo para seus lbios e deixa um suave beijo. Meus pensamentos pertencem a ti, meu amor! Morgana diz, colocando os braos em volta do seu pescoo e o beija avidamente. Decidiram ir para dentro da casa, ainda estava frio, andavam abraados, lado a lado, quando viram que algum caminhava solitrio na estrada. Aguardaram um tanto alarmados, mas logo Morgana viu que era Nimithiel, sua menina to querida! Correu em sua direo, encontrando-a logo que adentrou os portes. Ela estava com o semblante triste e bastante abatida. Sua vida nos ltimos anos no foi nada fcil, assim como Morgana, ela sofreu bastante. Ela abraa a me e olhos desanimados a encaram, mas no esconde seu sorriso de admirao e afeio. Nimithiel olha-a absorta e sente pena dela, o silncio se prolonga entre as duas. Morgana a abraa novamente, e ento nota que h lagrimas escorrendo em seu rosto. Charles as observa com a expresso indecifrvel. Entra com Nimithiel e v o rosto de Charles se suavizar ao reconhec-la, mas ela sorri ironicamente e isso a deixa alarmada, ela est com cimes de Morgana. Suspira pesadamente, o pensamento a entristece. Olha pasma para Nimithiel, sem entender os motivos de ela tratar Charles daquela maneira, justo agora que finalmente estavam em uma poca de paz. Morgana icou furiosa, um turbilho em sua cabea, as palavras ecoaram, perturbando a lembrana de um passado to prximo, tanto sofrimento, por que diabos ela no podia colaborar? Nimithiel a observa passivamente, fecha os olhos como se sentisse dor e vai embora. Seu queixo cai, abre a boca e no sai nenhuma palavra, ica imvel vendo-a sair e pegar a estrada, sumindo no horizonte. Seus olhos se enchem de lgrimas, Charles acaricia seu rosto com as costas das mos, beija sua testa, confortando-a: Acalme-se, vida, ela acabar entendendo e aceitando. Ele coloca uma mecha do seu cabelo atrs de sua orelha, e continua: Venha, vamos entrar, vamos continuar os preparativos de nosso casamento! Um sorriso plido aparece no rosto de Morgana ao ouvir a palavra, casamento, teve a certeza que tudo ia se acertar.
noite, um mensageiro de Camelot, veio at Morgana, entregando-lhe um convite oicial, que dizia que Gael e Evanora fariam amanh, bem cedo, um pronunciamento a todo reino, e que deveria comparecer. Um sentimento inquietante tomou conta de si, desde que saiu da cidade, nunca mais retornou, mas percebeu que j era hora de encarar as pessoas, no poderia fugir a vida toda. Ento se preparou emocionalmente para isso, enfim, voltaria ao lugar que um dia fora seu lar. Retornou cama onde Charles estava, e ele a admira com desejo. Ele sorri cheio de segundas intenes, jogando-a na cama e a beijando extasiado. Seu corpo se ergue em resposta ao seu beijo, enquanto Charles a pressiona no colcho macio. Arfando, Morgana solta um gemido sob seus lbios. Voc to linda, Morgana! Ele murmura de forma sensual. Fica ruborizada com seu elogio e sorri com timidez, se enchendo de excitao, o envolve com suas pernas, enquanto ele lhe abraa ternamente. Aconchega- se em seus braos protetores.
A Noite est escura e sombria, e Morgana estava adentrando, sozinha, os portes do castelo, no viu ningum sua frente. Uma chuva torrencial cai sobre a cidade. Est descala, sente os ps frios, a gua lhe molhar... O vestido negro esvoaa gentilmente com a fora da chuva... Sente os relmpagos carem bem perto, iluminando o cho ladrilhado. O cu antes negro se torna vermelho sangue. A noite turva o que lhe rodeia... Sente muito medo. As suas mos gelam, queimam-lhe os braos que esfrega, tenta se manter quente. Chega entrada do castelo e v um amontoado de corpos, arrepia-se por inteiro, aproxima-se e reconhece o rosto de todas as pessoas que um dia amou, todas jaziam sem vida e muito, muito sangue ao redor. Magnus saiu do castelo, seu semblante triste e vazio. Quando a viu, seu rosto se escureceu e se tornou uma nuvem negra que veio em sua direo, abriu a boca como se fosse lhe engolir, dizendo: Voc fez isso, bruxa, voc matou a todos! Sua voz era rouca e monstruosa. A fumaa negra lhe atravessou a alma e sumiu atrs de si, ela despencou ao cho e viu na montanha de corpos Charles sem vida, seus olhos embaados e vazios, olhando diretamente nos seus.
Ela grita aterrorizada, acorda sem ar, o pnico tomando conta de si. Respira tentando controlar os batimentos do seu corao. Charles sussurra ao seu lado na escurido do quarto, sua voz est cheia de preocupao, ele lhe abraa, e ento percebe que h lagrimas escorrendo em seu rosto. Ele a aninha em seu corpo. Calma, Vida, foi somente um pesadelo. sua voz suave acalma-lhe, tenta ignorar a desorientao e a devastao que sente. Ela sabe que seu maior medo perd-lo, a dor que sentiu quando viu seu olhar vazio e sem vida no pesadelo foi indescritvel. Morgana segura em seu rosto,suplicante. Charles promete que jamais me deixar? Por favor... Morgana segura em seu rosto e suplica. Sua voz sai quase inaudvel. Charles a observa ixamente, analisando seu rosto, os olhos esto cheio de inquietao, inclina-se e beija entre suas sobrancelhas, dizendo: Claro, Morgana, jamais te deixarei, nem nessa vida, nem em todas as que eu tiver. Voc minha alma e no posso viver sem voc. Acalme-se, meu amor, temos que ir ao castelo, j est quase na hora do pronunciamento. Fechou os olhos e tentou se acalmar, mas foi em vo, o fato de ter que ir cidade tambm fazia parte dos seus mais sombrios temores. No teria como fugir, iria ter que encarar as pessoas.
Minutos depois, ela e Charles esto caminhando na estrada, quando avistam a cidade. Ela desabaria ao cho, se no fosse o apoio dele, seus braos irmes segurando-lhe. Seu corao comea a bater forte de ansiedade, ica se castigando mentalmente. Olha para suas mos cruzadas, seus dedos esto esbranquiados de tanto que os aperta. Charles entra em seu campo de viso, parando sua frente. Estende a mo para ela, que est com olhos tristes e melanclicos. D a mo a ele. Olhe ao seu redor, Vida! suas palavras so pronunciadas suavemente bem prximas ao seu ouvido, enquanto ele a abraava e sua cabea descansava em seu peito. Charles ergue o queixo de Morgana, ita-a com os olhos cheios de compreenso e cumplicidade. Tenta avaliar sua expresso alita e vira seu rosto para a multido. Seus olhos percorrem ao redor, as pessoas realmente esto alheias a eles, algumas pessoas os observam curiosas, mas nenhuma delas a olha com pena. Sente-se um pouco mais aliviada. Morgana o agradece. Sinceramente no saberia o que seria dela sem ele ao seu lado nesse momento. Entram no castelo de mos dadas. Enim, chegaram ao salo principal e veem um grande nmero de pessoas esperando o to aguardado pronunciamento do rei e da rainha. Um murmurinho alto ecoa em todo o local. Ela entra. Suas mos esto suadas e trmulas, Charles a segura fortemente, dando-lhe apoio. Ficam na parte de trs do Salo, sem chamar muita ateno. Gael e Evanora adentram altivos e coniantes! Realmente formam um belo casal! Eles os avistam e abrem um sorriso. Venha, minha irm! Gael disse, abrindo caminho na multido, pedindo para que se aproximassem mais. Todos a encaram impassivelmente, ela solto o ar, a cor deixando seu rosto. Charles entra na sua frente, faz uma reverncia, segura sua mo no alto, posiciona-se ao seu lado e caminham em direo ao trono, parando exatamente em frente a ele. Gael e Evanora parecem felizes e animados. Evanora d um passo frente, e Morgana se surpreende com sua postura de rainha, impressionantemente majestosa, ela nasceu para isso! A rainha inicia o pronunciamento, todos ouvem com ateno, um silncio absoluto invade o salo: A Cornualha est em paz, o amor e amizade reinam. A guerra acabou e todos vivem em completa harmonia. Todos encontraram seu destino! Anuncio com grande alegria no corao, que o herdeiro est vindo! Eu estou grvida! Uma comoo geral invadiu o grande salo e todos eclodiram em palmas! Morgana ica emocionada, sentiu lgrimas surgirem compulsivamente. Vira-se para Charles, olhando no fundo de seus olhos azuis luminosos de alegria e ele a carrega e rodopia no ar, beijando-a. 7 Casamento
Faltavam exatamente dois dias para o casamento. A ansiedade, a expectativa e o nervosismo foram tomando conta de Morgana. Estavam na correria para ajeitar os ltimos detalhes da cerimnia e hoje noite seria a condecorao de Charles como duque da Cornualha. Ontem Charles saiu vencedor, juntamente com Gael do torneio que Evanora realizou em homenagem ao seu casamento. Nunca imaginou que os preparativos fossem ser to cansativos assim, nessa ltima semana tinha dias que passava o tempo todo fora, cuidando de tudo, e muitas vezes somente voltava tarde da noite. Algumas coisas tinha que olhar inclusive em outras cidades. Charles no quis interferir nessa parte, ele disse que queira que tudo sasse da forma como ela quisesse, pois sabia que isso era importante. Mas o mais importante seria estarem casados e t-la ao seu lado deinitivamente. Coniava nela e que sabia que tudo seria perfeito. Ela se esforou para isso, ainal de contas, era seu casamento com o homem que amava. A emoo desse momento era muito grande! Morgana quase no via Charles, ele tambm passava praticamente o dia todo treinando com os cavaleiros, e chegava ao im da tarde. Sentia a sua falta imensamente. Pensava nele nas 24 horas do dia, mesmo com toda agitao. Hoje deixou de fazer algumas coisas para esper-lo, queria muito estar ao seu lado nesse momento to importante. Morgana estava na porta de casa, o olhar na linha do horizonte distante, na luz perolada cor-de-rosa do anoitecer, tudo isso parecia um sonho, daqui h dois dias estaria casada com o amor de sua vida. Era inevitvel, as lgrimas invadiram seus olhos. Quanto tempo esperou por isso! Agora ficariam juntos para sempre! Avistou Charles ao longe, caminhando tranquilamente na estrada que ligava a cidade a casa. Ainda no tinha como ele lhe ver. Ele foi se aproximando devagar, ela sentiu sua pulsao se acelerando. Charles enim, a v e abre o seu sorriso encantadoramente sedutor, ela sente o rubor tomar seu rosto e sorri timidamente. Ele acelera o passo, corre em sua direo, e a carrega em seu colo, assustando-lhe. Ela d um gritinho estridente: Charles, est louco? No consegue conter o riso e solta uma gargalhada. Sim, Morgana, completamente louco por voc! sua voz subitamente ica baixa e cheia de desejo, seus olhos icam quentes. Ele beija intensamente sua tmpora e desliza os lbios em sua face ruborizada, at alcanar sua boca. Sente o prazer invadir o seu corpo, enquanto ele entra com ela na casa, sem desfazer o beijo. Charles a coloca no cho e lentamente vai tirando seu vestido, suas mos deslizam em suas costas nuas. Ele geme e empurra-a para o sof, segurando seu rosto entre suas mos, dizendo: Eu amo voc! e fazem amor, ela se enrosca em volta dele. Esto deitados no cho da sala, Morgana descansa a cabea no peito de seu amado, os dedos dela lentamente brincam com seus msculos peitorais, ele a beija no alto da cabea e murmura sonhadoramente: Minha Futura Esposa! Morgana fala baixo no conseguindo disfarar a emoo em sua voz: Meu Futuro Marido! e d um beijo suave em seu peito. Queria ser capaz de segurar o tempo nesse momento, mas a hora passou rapidamente e tinham um compromisso muito importante: a condecorao. Charles se levantou em um salto e a puxou para junto de si, capturando sua boca novamente. Vamos, minha noiva, temos um compromisso essa noite. Quero voc bem linda, quero que todos vejam a mulher deslumbrante que tenho! diz, com uma expresso reverente, um sorriso cobre seu rosto, ele pega sua mo com ternura, leva-a at o banheiro e a banha. Rapidamente se aprontam, ela o ajuda a vestir seu traje e se encaminham para o castelo.
Esto no grande salo. Charles est ajoelhado na frente de Gael, com o trono atrs de si, a cabea abaixada, enquanto uma espada encosta gentilmente em seu ombro direito, depois no esquerdo e paira sobre sua cabea. Morgana est na primeira ileira, a bela voz de seu irmo ecoa nas paredes. Sir. Charles, voc jura defender esse reino e todos os cidados que nela residem de acordos com as leis da Cornualha e sempre ser justo e honesto em suas decises? Sim, eu juro! Ele diz com veemncia e orgulho. Voc jura defender seu Rei e sua Rainha e ser leal a eles com todo seu amor? A voz de Gael soa altiva e majestosa. Sim, eu juro! Charles responde. Ento, levante-se Charles, Duque da Cornualha! Charles se vira na direo de Morgana e ergue a mo, ela a segura levemente. Gael lhe entrega um manto negro, ela o estende sob as costas de Charles e o prende em sua ombreira, os olhos dele deslumbrados e ixo nos seus. Ele abraa-a e sussurra no seu ouvido Eu te amo! no escondendo seu sorriso de admirao. Ela olha emocionada para ele, esse evento signiica o incio de sua felicidade. Viram-se para a multido de amigos e so aplaudidos, ele puxa suas mos para seus lbios e beija suavemente.Deixam o Salo, andando abraados lado a lado.
************* Estavam deitados na confortvel cama do Castelo de Loire. Era a primeira noite de lua de mel, e Morgana observava ixamente o teto desenhado do quarto, no conseguindo dormir, apesar do cansao, era muita emoo e o sono no vinha. Virou-se de lado a im de contemplar Charles, ele dormia profundamente. Era to bom velar seu sono, ele parecia um anjo, para ela, ele era um anjo mesmo. Seus votos de casamento vieram sua mente, na verdade ela nunca esquecer:
Morgana, minha vida! Eu nunca acreditei em inais felizes, at o dia em que te conheci, eu sabia que voc teria que ser minha. Eu te amo Deusa, hoje, amanh e sempre!
A emoo lhe invadiu novamente, era dicil conter seus pensamentos. Charles se remexe na cama, sua boca se entreabre e ele suspira profundamente, sem que acordasse. Levantou-se e foi at a varanda. O vale ao redor era totalmente deslumbrante, realmente era um lugar muito bonito. Encostou-se sacada, a im de avistar a lua no alto da imensido do castelo, mas ela estava encoberta. Ficou encantada com a arquitetura no estilo francs moderno, em tons de azul e cor de rosa. Lembrou-se que precisavam ter sua prpria casa, a de sua me estava muito velha e mal cuidada. Evanora queria que fossem morar no castelo, mas Morgana acha que devem ter seu prprio lar. Com certeza comear a construir assim que chegarem e ir se basear nesse lugar incrvel. A lua enim lhe agraciou com sua presena, hoje era dia de lua cheia, ela lanou raios prateados no grande lago que contorna o castelo, iluminando-o por inteiro. Viu uma raposa sorrateira, indo beber gua no lago. A natureza ao redor parecia ter vida! Sentia-se uma princesa num conto de fadas, e dentro do quarto estava seu prncipe encantado! Um vento gelado bateu em seus ombros descobertos, estremeceu e resolveu voltar cama.
O dia amanheceu claro e bonito, ento Morgana e Charles decidem dar uma volta e conhecer o vilarejo de Loire, que ica bem prximo ao castelo. Foram caminhando numa estrada ladrilhada toda lorida ao redor, Charles se agacha e pega uma das delicadas lores. Ele avana os dois passos que os separam e para frente dela, coloca uma mecha de cabelo que cai sobre seu rosto atrs da orelha e prende a lor. Ele esfrega as costas das mos na sua face e passa a ponta do polegar no seu lbio inferior. Morgana fecha os olhos, ele a beija e ela se deixa perder no seu calor. A sombra de um sorriso cruza o seu rosto, ele beija o canto de sua boca de maneira mais casta, ela coloca a mo no seu bolso traseiro e continuam o passeio, como um casal de namorados. Passam por belas fazendas no estilo francs, at que avistam o vilarejo, todo rodeado por uma muralha alta e fortificada. Chegam ao vilarejo e icam maravilhados com toda a iluminao das pequenas casinhas, cada uma com uma tonalidade de cor diferente. Andam abraados, Charles descansa a mo em sua cintura, enquanto passam por ruas e vielas estreitas. Chegam at a praa central, veem chafarizes, fontes luminosas, esculturas antigas, jardins em cores ricas e vibrantes, barracas vendendo produtos locais. Sentam-se num banco de madeira, bem prximo a um campo de girassis, afastados de toda multido. O sol da manh bate forte nas lores amarelas, que o seguem como se estivessem apaixonadas. Charles acaricia seu joelho e vai subindo em direo sua coxa.Levam um susto, um grupo de crianas passa correndo frente e some atrs dos chafarizes. Charles segura seus cabelos e os coloca sobre seu ombro, deixando o pescoo a merc dele. Ele inclina sua cabea para o lado, comea a beijar at que sua lngua habilidosa encontra a dela. O mundo ao redor se apaga, no conseguem ouvir mais vozes e nem nada mais, como se estivessem dentro de uma redoma, onde somente existissem os dois. Uma sobrecarga de prazer a invade. Ele segura seu queixo entre o polegar e o indicador, enquanto ele diz: Quer me deixar louco, senhora Duquesa? A vontade que tenho de te fazer minha aqui mesmo! Ela sorri radiante ao ouvi-lo cham-la pelo ttulo, tem tanto orgulho dele! Vamos voltar para o castelo, meu amor! Ele abre seu sorriso deslumbrante, to branco feito neve. Levanta segurando fortemente em sua mo e seguem a estrada de volta ao Castelo de Loire, um pouco mais apressadamente dessa vez.
************* Sendo assim, eu vos declaro marido e mulher. Pode beijar a noiva!
A voz de Gael, seu adorado irmo, ressoa no grande salo do castelo, anunciando e oficializando o casamento. Charles beija os lbios de Morgana suavemente e viram-se para a multido que os observa maravilhados. Avistam nas ileiras todos os adorados amigos e parentes vestidos elegantemente em trajes de gala e Evanora enxuga algumas lgrimas com um delicado leno branco, graciosamente. Todos aplaudem. Charles, gentilmente lhe d o brao e ela o segura fortemente. Andam no meio da multido que os encara com olhares doces, sonhadores e emocionados, todos com largos sorrisos no rosto. Charles diz baixinho: Morgana, voc tem noo do tanto que voc est deslumbrante? Voc tambm est lindo e muito elegante Sir. Charles! No vejo a hora de icar a ss com voc, minha esposa! Estou louco para arrancar esse seu vestido! Suas palavras lhe deixam inebriada ao mesmo tempo em que a incendeiam por inteiro. Ela tenta disfarar o seu desejo enlouquecedor e sorri meio sem jeito para a multido. Acho que vamos ter que adiantar nossa lua de mel, querido esposo! responde com a voz baixa, rouca e sensual. Charles aperta o seu brao, em sinal de consentimento e, disfaradamente, desliza as mos em suas costas nuas at alcanar a cintura. Ela sustenta seu olhar. Recebem os cumprimentos. Nesse momento, Morgana est muito emocionada e o abrao dos amigos faz com que chore compulsivamente. Enim, est casada, agora esposa de Charles! Nunca se sentiu to viva como se sente agora e nem to completa. Com certeza esse o dia mais feliz da sua vida! A festa do casamento est muito animada! O salo est todo decorado em rosas vermelhas, propositalmente escolhidas por Morgana e que combinam muito com ela e Charles. Paixo! Ela olha ao redor e v todos os amigos se divertindo e celebrando juntos a sua felicidade. Nesse momento est sozinha, Charles bebe animado com os cavaleiros num canto afastado do salo. Em breve tero de ir, logo o navio que ir lev-los para Loire, partir. O olhar de Charles cruza com o seu e ele com certeza tem o mesmo pensamento, pois se despede dos amigos. Ele se aproxima dela lentamente, aumentando sua expectativa, seu olhar demonstrando fascinao, amor e reverncia. Ela se derrete toda por dentro, sempre como se estivessem se vendo pela primeira vez. Suas mos esto em sua cintura e ele a beija extasiado. Subitamente ele diz: Vamos vida, termos de ir! Nossa hora chegou! Seus olhos esto erguidos para seu rosto e o sorriso se alarga. Viram-se para a multido que est prxima e se despedem, anunciando a partida. Todos aplaudem, abrem caminho para a passagem e so recebidos por uma chuva de arroz e desejos sinceros de muitas felicidades.
Esto no Porto das Praias de Meriador, bem prximo a Cornualha. Uma bela carruagem toda decorada os trouxe e chegaram rapidamente. Est uma noite clara e bonita, as estrelas brilham no cu acima deles, como se tambm estivessem em festa. A lua brilha sobre a imensido azul do mar frente. um lugar realmente encantador. A alguns metros adiante est a maravilhosa e gigantesca embarcao que os levar ao seu destino. O navio pertence a Charles e ao longe se avista seu nome "Queen Anne Revenge", curiosa Morgana pergunta o signiicado, ele explica-lhe que o navio foi o presente de Gorlois, no seu casamento com Catarina, e o nome foi em homenagem Rainha Anne, sua esposa na poca. Aps pegarem uma embarcao menor, enim, esto no grande navio, que imediatamente inicia sua viagem. Charles faz com Morgana, um pequeno passeio em torno da proa para lhe mostrar suas belas acomodaes. Fica impressionada, realmente era majestoso. Ele para abruptamente, e frente h uma porta de madeira macia com delicados intricados ao redor. Ela olha para ele curiosa. Charles a ergue no colo, seguindo a tradio e entende que ali sero seus aposentos, o lugar onde iro passar a noite de npcias. Charles entra com ela no quarto, e fecha a porta atrs de si com o p, colocando-a suavemente no cho. Seus olhos atentos em cada movimento seu, aquele olhar que enche seu corpo de excitao. Voc to linda, Morgana! ele suspira, colocando nfase em cada palavra dita. Ela sente-se corar e abre um sorriso gentil e apaixonado em resposta. Charles se inclina em sua direo e a beija, um beijo doce e delicado, cheio de amor, respeito e admirao. Suas mos passeiam em suas costas, abrindo o fecho de seu vestido, fazendo-o deslizar suavemente sobre o seu corpo e se espalhar como um leque ao redor dos ps. Est seminua sua frente, somente usando uma lingerie branca. Que bela viso! sussurra ele contra sua boca, e beija-lhe novamente, dessa vez, um beijo profundo, desesperado e carnal, transmitindo um gosto de carncia e desejo. Devagar, Morgana comea a abrir cada boto de sua camisa branca, iniciando pelo que ica logo abaixo do queixo. Seus dedos hbeis e ligeiros se movem, ajudando-lhe, um boto de cada vez, at estar toda aberta. Inclina-se, empurrando a camisa sobre seus ombros, deixando que casse ao cho e se junte ao vestido branco. Voc minha vida! Charles diz, e suas belas palavras ecoam na mente de Morgana. Ela suspira, tentando controlar as batidas do seu corao e somente consegue dizer "Te amo!" Ele a puxa para seu colo, as mos subindo em direo a sua nuca e ento seus lbios esto nos dela novamente, sua lngua quente e irme na sua boca, seus olhos brilham cheios de promessas. Charles fecha os olhos e geme, puxando-a para lhe derrubar no colcho. Ele agarra seus tornozelos e a arrasta na direo dele, engatinhando por cima do seu corpo, deixando uma trilha de beijos. Quando alcana seu rosto, ele diz com seus olhos fixos nos dela: Voc o amor da minha vida! suas mos esto nas suas meias trs quartos, ele as faz deslizar sobre suas pernas. E voc, o meu! responde enquanto ele a faz sua.
Morgana olha para o cu, um cu iluminado, consegue sentir o aroma das lores do jardim ao lado. Inspira profundamente, sentindo o ar puro que vem dos campos. Esto no ltimo dia de lua de mel, aproveitando o sol da manh, no lago do Castelo de Loire. Charles relaxa na espreguiadeira ao lado da sua. Sente-se sonolenta e cochila sobre o sol fraco da manh. Acorda assustada com Charles sussurrando suavemente em seu ouvido e mordendo o lbulo da sua orelha com delicadeza: Quer nadar comigo, minha Deusa? ele sorri com malcia e astcia. O sol mudou de posio e bate diretamente nela, deve ser quase meio-dia. Sente muito calor e sua pele estava vermelha nesse momento. Ele se deita por cima e cobre seu corpo com o dele, fazendo-a despertar do sono imediatamente. Ela geme, enquanto Charles segura fortemente em sua cintura. Entrelaa suas pernas nas dele, murmurando manhosamente: Hum, tem certeza que isso que voc quer, amor? Ele cola seus lbios nos dela, silenciando-a, agarrando seus quadris, e Morgana instintivamente comea a se movimentar, buscando-o. Suas mos esto em seus cabelos, enquanto sua boca invade a dela com avidez. A nica coisa que os separa o ino tecido de suas roupas de banho. Ele desfaz o delicado lao da parte de cima, enquanto beija sua clavcula. A nica coisa que tenho certeza nessa vida que quero voc, Morgana. ele sussurra, e fecha os olhos, aumentando as sensaes de prazer, que se aprofundam em todo seu corpo. Charles sorri tardiamente, diante de sua pergunta, um brilho de divertimento percorrendo seus olhos, ele se levanta abruptamente e a ergue seminua em seus braos fortes. Sente a expectativa e a adrenalina invadindo-a, de ele a jogando no lago. Mas ao contrrio disso, ele entra delicadamente com ela, tomando todo o cuidado, como se fosse a coisa mais preciosa de sua vida, os olhos ixos nos seus. Devagar, ele a mergulha na gua morna do lago, deixando que seu corpo quente se acostume com a mudana de temperatura. Um raio de sol bate neles, iluminando-os. Charles deixa que seus ps se apiem no cho, no fundo do lago. V-o se afastando um pouco e, volta em sua direo, joga um jato de gua em seu rosto com fora. Ela revida, sorri e nada em sua direo, envolve os braos em seu pescoo, os ps lutuam na gua. Ele subitamente ica srio e a encosta na parede, na beira do lago. Seus dedos habilidosos percorrem seu corpo todo, suas pernas se entrelaam em sua cintura e se beijam. Fazem amor apaixonadamente.
Morgana est apoiada na proa do navio Queen Anne Revenge, esto fazendo a viagem de volta Cornualha. So dez dias de viagem de ida e mais dez dias de viagem de volta, ento faz quase um ms que viajam em lua de mel. Esto bem prximos das praias de Meriador, se tudo ocorrer de acordo com o previsto, amanh chegaro. Desde ontem que ela no se sente muito bem, tem enjoos e tonturas. Achou estranho, porque durante todo esse tempo da viagem, ela no sentiu exatamente nada, mas Charles acredita que deve ser esse o motivo, a viagem foi longa e muitos dias velejando. O vento gelado bate no seu rosto e faz seu cabelo balanar loucamente, isso a faz bem, ajuda a aliviar bastante o mal-estar. Em silncio, faz uma orao, roga a Deusa para que no esteja doente. No icara sabendo de nenhuma doena que acometeu o vale de Loire e Charles est muito bem, mas est preocupada. Suspira pesadamente sentindo o cheiro lmpido e o frescor do Mar Mediterrneo. V Charles se aproximar, ele a abraa por trs e a beija suavemente a tmpora, ela sente um calor emanar de seu corpo. Ele vira, segura em seu queixo, olhando-a com uma preocupao discreta. Como voc se sente, Vida? sua voz sai baixa, muito baixa, ele parece cansado. Vou icar bem querido, vou icar bem... Morgana sente-se culpada por preocup-lo, ele permanece em resoluto silncio, inspira profundamente, o rosto marcado pela angstia. Logo estaremos em casa... ele diz desanimado. Sim amor, agora vou ter que dividir voc com o resto do reino! Ela diz, tentando amenizar um pouco a tenso. Um sorriso cruza seu rosto, ele parece mais aliviado. Sempre serei seu, s seu! ele murmura suavemente em seu ouvido, seu nariz roando em seu pescoo. Fecha os olhos, entregando-se a seu toque. Charles a beija delicadamente, olhando-a, tentando decifrar sua expresso. Olha para ele provocativamente, seus lbios semicerrados, metodicamente ela comeo a abrir cada boto de sua camisa, enquanto ele desce o zper do seu vestido. Minha! sua boca se movimenta, quase sem emitir nenhum som. Meu! ela imita seus movimentos labiais. Ele a ergue na proa, e em um minuto j est lhe preenchendo, enquanto se aninha entre seus seios.
Charles e Morgana esto deitados na cama dos aposentos que Evanora preparou especialmente para eles no Castelo da Cornualha. Aqui moraro at que sua casa esteja pronta. Morgana ordenou a construo do castelo imediatamente e mandou reformarem a antiga casa de sua me, quem sabe um dia ela volte e possa conhec-la. Olha para o lado, observando atentamente Charles dormir, ele est muito sexy, vestindo apenas um short preto. Ela no poderia estar mais feliz, casou-se com o homem dos seus sonhos! Fechou os olhos tentando mudar seus pensamentos, seno acabaria chorando, estava muito sensvel ultimamente. O gosto amargo do medo encheu sua boca, ela ainda no havia melhorado. Desembarcaram ontem, no comeo da tarde e chegaram cidade, e seu estado de sade no melhorou muito. O pnico asixiante percorre seu corpo, o que ser que ela tem? Tem muito medo de estar doente e morrer. Ela precisa de Magnus; assim que chegaram, foram procur-lo, mas tiveram a notcia de que ele viajou a um vilarejo distante e no se sabe o dia que ele vai retornar, provavelmente, s daqui a uma semana. Ela estava cada vez mais apreensiva e a preocupao e o desespero de Charles eram evidentes. Comeou a chorar, era inevitvel. Charles acorda. No chore, Vida, por favor. suplica ele, e com o polegar seca uma lgrima que escorre. O que est acontecendo comigo Charles? No quero icar doente. ela suspira, e ele a olha com a expresso triste. Estou aqui, Vida... Estou aqui com voc, icarei do seu lado, na sade e na doena, na alegria e na tristeza, lembra-se? um sorriso plido aparece em seus lbios. Obrigada, meu amor! no sabe o que seria dela sem Charles, seria capaz de fazer qualquer coisa por ele, o ama tanto! Ela abre seu sorriso tmido. Os olhos de Charles esto fechados e seus braos a envolvem, apertando seu corpo contra si e icam deitados ali, perdendo a noo do tempo.
Charles saiu cedo para seu primeiro dia de trabalho como um Duque. Ele queria muito icar e apesar da dor que sentia no peito com sua partida, ela insisti que ele v. Na parte da manh, os enjoos eram constantes e muito piores. Ela permaneceu deitada na cama, no tinha foras para levantar, sentia-se indisposta e febril. Algum bate a porta, e ela diz "Entre!", mas sua voz sai rouca, fraca e baixa. Evanora adentra no quarto com um olhar preocupado voltado para Morgana. Ela desliza as mos gentilmente em sua barriga que j est enorme e se senta ao lado. Como voc se sente, Morgana, minha querida? sua voz gentil, cheia de carinho e preocupao, ela toca com delicadeza em seu rosto e em sua testa Voc est febril! ela diz, se levantando com diiculdades, indo buscar um pano com gua e pressionando-o contra seu rosto. Morgana sente um alvio momentneo. Nada bem, Evanora... faz uma pausa, sentindo a bile subir em sua garganta, mas ela tenta segurar Eu que deveria estar cuidando de voc, o seu beb est quase chegando.. diz em meio a uma crise de tosse. Cuidaremos uma da outra, como sempre izemos, minha amiga. Ela sorri docemente para ela. Morgana ergue sua mo e coloca delicadamente em sua barriga, olhando em seus olhos calorosos e gentis. Evanora continua: E tenho certeza que voc cuidar muito bem desse seu ailhadinho aqui. arregala os olhos para Evanora, a emoo dominando-a, nesse momento sente o beb mexer. Junta todas as foras que tem e se senta na cama, a im de abra-la e, vem uma vontade esmagadora de chorar, desliza as mos em suas costas e a agradece, no s por isso, mas por tudo. Deite-se, Morgana, voc deve descansar! a voz dela est alita e ela obedece, sentindo uma tontura repentina. Evanora lhe ajuda a deitar e a cobre, continua fazendo as compressas de gua em seu rosto. Morgana sente seus olhos fecharem e adormece profundamente.
Acorda e est escuro, j deve ser noite com certeza, no tem a mnima noo de quanto tempo icou dormindo, mas se sente bem melhor. A febre e o enjoo passaram, percebe agora como est com fome! Uma serva entra rapidamente no quarto. A senhora deseja alguma coisa? Por favor, traga-me algo para comer! ela faz uma leve reverncia, assentindo com a cabea e sai do quarto. Volta depois de alguns minutos com uma bandeja cheia. Morgana se senta na cama devagar, agradece por no sentir a tontura costumeira e devora tudo como se no comesse nada h dias. Enim, sente-se satisfeita. Sua boca est seca, ergue a mo e pega um copo de gua da jarra que est na cabeceira da cama. A gua desce com dificuldade, arranhando sua garganta. Uma dor conhecida invade seu peito. Saudades... Queria que Charles estivesse aqui, sente muito a falta dele; sente falta do seu marido. Percebe que j tarde da noite, provavelmente ele no voltar hoje. Essa agora ser sua vida. Esposa de um homem cheio de atribuies: duque e lder dos cavaleiros. Esperar o dia inteiro, e talvez ele no retornar no inal. Vira-se para o lado dele na cama, agarra seu travesseiro, aspira profundamente, seu maravilhoso cheiro est impregnado ali. Ela abraa o travesseiro, aconchegando-se, sabe que isso tudo que ter de Charles por hoje. V Nimithiel passar pelo corredor, desde seu ltimo encontro, mal se falaram. Ela no aceitou o fato de ter que dividi-la com Charles. No conseguia entender, pois se no fosse por ele, ela ainda estaria aprisionada em Nortmbria. Porm, no fundo podia compreend-la, ela no odiava Charles, mas sempre se acostumou a lhe ter somente para si, sempre foi s as duas. Nimithiel parou por um instante na porta quando a viu e seu semblante mudou, irradiando tristeza. Seu olhar abatido se prendeu por um instante no de Morgana, a dvida transpassando-a, mas ela simplesmente seguiu seu caminho pelo corredor. Ainda se sentia enfraquecida e seus olhos pesam novamente, no consegue mais se manter acordada e ca no mundo dos sonhos. "Est em um jardim muito bonito, todo iluminado e decorado por lores vivas e radiantes. Escuta uma risada de criana. Vira-se e v uma pequena garotinha de aproximadamente cinco ou seis anos correndo alegremente em volta do corredor com os braos abertos. No consegue ver seu rostinho, s seu cabelo castanho escuro esvoaando contra o vento. Um sentimento maternal se apodera dela, ama-a com todas as suas foras. Sorri, mas percebe que ela some de seu campo de viso, onde ser que est? Sente angstia e corre na direo onde ela foi. Encontra a menina prximo a uma loresta, agachada no cho, recolhendo gentilmente com as mozinhas, um pequenino pssaro que est muito ferido, morrendo. Sente pena da pobre garotinha que ter que ver seu novo amiguinho partir em suas mos. Aproxima-se a im de consol-la, quando v um milagre acontecendo bem diante de seus olhos: o pssaro sai voando e ganha o cu, totalmente revigorado. Pisca os olhos com fora, tentando entender o que aconteceu, o pssaro no tinha a menor chance de sobreviver. A luz do entendimento enim, toma sua mente: Ela o curou! Sente lgrimas nascerem nos seus olhos, foi a coisa mais linda que j viu na vida! A garotinha se vira em sua direo, solta uma gargalhada e lhe abraa, dizendo empolgada: 'Mame!' Ela ergue o olhar para seu rosto, seus olhos eram to azuis... to azuis... iguais os de Charles."
Acorda com um sorriso nos lbios, ainda sem abrir os olhos, tenta voltar a dormir, e quem sabe, voltar a esse sonho maravilhoso que acabara de ter. Uma mo macia, porm irme, acaricia seu rosto, e desliza o dedo indicador nos seus lbios, acompanhando a curvatura do seu sorriso. Morgana abre os olhos rapidamente, Charles est deitado ao seu lado na cama, enfim, ele voltou! Dormiu to pesadamente que nem o viu chegar. Que bom ver voc sorrindo, Vida! ele faz uma pausa, acariciando seus cabelos. Bom dia, meu amor, como voc se sente hoje? Melhor agora que voc chegou, meu amado! responde com sinceridade, tivera longas horas de um sono repousante, e acordou renovada, no sentindo nenhum enjoo. Charles sorri com ternura. Senti muito sua falta. Eu tambm, meu amor! diz e seu corao parece que vai saltar pela boca. Ele a envolve em seus braos, beijando-a com avidez e a abraa, aninhando-lhe em seu peito. Fecha os olhos, saboreando o contato. to bom t-lo consigo novamente! D um beijo casto em seu queixo, ele fecha os olhos sentindo seu toque, e no segundo seguinte, suas bocas esto coladas, buscando-se com violncia. Ele se levanta e segura seu rosto entre as mos. Quer tomar um banho, amor? ele pergunta, como se lesse seus pensamentos. S se voc for comigo! ela responde com voz cheia de segundas intenes. Ele sorri lascivamente e ajuda-a a se levantar. Senta-se devagar na cama, avaliando o seu estado. No sente tonturas. Levanta-se de uma s vez e v tudo rodar, as pernas bambearem, um suor frio preenchendo seu corpo e desmaia nos braos de Charles.
Abre os olhos com diiculdade, continua deitada na cama onde estava antes, mas ao seu redor tem um monte de pessoas. V as paredes rodando e aperta os olhos com fora tentando entender o que aconteceu. Algum ergue seu pescoo com certa gentileza, abre novamente os olhos e v Magnus sua frente, com um vidro de remdio. Tome esse remdio, minha querida, vai fortalec-la! ele diz, fazendo-a abrir a boca e despejando um contedo oleoso e amargo que desce com diiculdades por sua garganta. Faz uma careta, o gosto muito ruim. O que est acontecendo comigo, Magnus? Por favor, diga-me. ele permanece em silncio por alguns segundos, o semblante indecifrvel, como se no soubesse o que lhe dizer. V ele se virar, e falar algo com Charles. O desespero lhe invade e comea a chorar compulsivamente, o que tem deve ser muito grave mesmo, pois ningum tem, sequer, coragem de falar para ela. Charles se aproxima, as palavras saem apressadas de sua boca, em um misto de emoo e ansiedade e o que ele lhe diz em seguida vai marcar sua vida para sempre. Minha Vida, voc est grvida! Ele no consegue esconder a felicidade em sua voz, ele est radiante, como um sol iluminando a brisa da manh. Morgana olha pasma para ele, no conseguindo digerir as palavras que ele acabou de dizer: Grvida! Est... grvida. Mentalmente, faz algumas contas; realmente est atrasada. Com toda a agitao da lua de mel mal notou esse detalhe. E todo esse mal-estar que vem sentindo, agora faz todo o sentido. Pela Deusa! Ter um beb! Acorda de seus devaneios e percebe que todos olham para ela aguardando alguma reao, com expectativas. Tenta ordenar seus pensamentos, abre a boca, mas no sai nenhum som. Charles se senta na cama, segura em seu rosto com as duas mos. Vida voc me fez o homem mais feliz do mundo! olha em seus belos olhos azuis e se deixa perder por um momento neles, v uma lgrima brilhar, ele est extremamente emocionado. Sua alegria e sua emoo contagiam-lhe, ela envolve seu pescoo com os braos e choram juntos de felicidade. Olha ao redor e v as pessoas que os cercavam, retirando-se discretamente do quarto, certamente com o intuito de deix-los a ss nesse momento to ntimo. Eu vou ser pai, Vida, eu vou ser pai! Charles repete sem parar, mal contendo sua alegria.
O tempo passou mais depressa do que Morgana imaginava, j devia estar agora com aproximadamente cinco meses de gravidez. Charles no cabia em si de tanta felicidade, ele fica lhe mimando e paparicando o tempo todo, cheio de cuidados. Que marido incrvel que ele ! Por vezes, ele inclusive saia no meio da noite para atender alguns de seus desejos malucos, principalmente, o de comer frutas vermelhas. Hum, s de pensar ela j sente um desejo enorme. Mas seu maior desejo era Charles, mesmo estando grvida, a vida de casados estava mais agitada do que nunca. Sempre com certo receio por causa do beb, ele no conseguia resistir s suas investidas e sempre cedia. Ainal de contas, no atender ao desejo de uma grvida era complicado. H aproximadamente um ms atrs, o ilho de Charles, Henrique, veio visit-los, e gostou tanto de l, que resolveu vir morar deinitivamente, sempre foi muito apegado ao pai. Ele um garoto incrvel, muito gentil, educado, um verdadeiro Lorde. Adaptou-se muito bem ao seu novo lar, e logo que chegou j foi encantando a todos com seu carisma; Ele sempre tratou Morgana com muito carinho e respeito. Ele realmente ilho do Charles, por vrias vezes consegue ver traos de sua personalidade nele. Henrique icou muito contente em saber que ganhar um irmozinho ou uma irmzinha, bastante empolgado at. Enfim, estavam muito felizes! Para completar a felicidade, o beb de Evanora estava nascendo, ela estava em trabalho de parto desde a manh de hoje. Todos no reino estavam muito apreensivos, ainda no teve notcias e nem nenhum anncio oicial do nascimento. Magnus estava nos seus aposentos reais, j havia algumas horas e no deixava ningum entrar, nem mesmo Gael, que estava extremamente nervoso, no inal das contas, estava mais atrapalhando do que ajudando. Ele andava de um lado para o outro do corredor, hora encostando-se parede, hora se sentando, claramente inquieto. No meio da tarde, inalmente tiveram a notcia do nascimento! O beb nasceu forte e saudvel, era um menino! Thomas chegou! O herdeiro da Cornualha! Aps saber da excelente notcia, Morgana pediu licena e se recolheu aos aposentos, pois se sentia cansada e fatigada. Deitou-se na cama, pois no devia fazer muito esforo. Charles entrou rapidamente no quarto, o semblante preocupado. Voc est bem, Vida? ele perguntou, e assim que o beb ouviu a voz de Charles, ele comeou a se mexer na sua barriga, ela soltou um grunhido e apoiou-se na cabeceira da cama, a im de respirar melhor. Charles correu ao seu encontro, os olhos transmitindo todo seu desespero. Morgana segurou em seu lindo rosto, tentando tranquiliz-lo. Estou bem, Charles, querido, no se preocupe. ela disse, segurando em sua mo e levando sua barriga, continuou: Ns estamos muito bem! assim que colocou sua mo, o beb chutou forte, e ela gemeu, doa bastante quando ele fazia isso. Os olhos de Charles se iluminaram cheios de amor e venerao. Segurou em seu rosto e lhe deu um beijo delicado nos lbios, presenteando-lhe com seu sorriso encantadoramente sedutor. Ele te ama muito Charles, foi s ouvir sua voz que comeou a se mexer! ela disse emocionada. Charles chegou bem perto da sua barriga, seus lbios encostaram-se nela. . Eu tambm te amo, meu ilho! ele depositou um beijo ali e Morgana deixou-se levar por esse momento to lindo e to nico, as lgrimas surgiram em seus olhos. Charles a olhou com ternura e comoo. Eu amo voc! ele disse e ela respondeu espontaneamente: Te amo muito! E permaneceram ali, incontveis minutos, Morgana, Charles e o beb. Acabaram adormecendo, entregando-se ao cansao do dia.
"Morgana estava na porta de uma casa, com uma menina nos braos, ela deveria ter pouco mais de cinco anos de idade. Era sua ilha. Todos na cidade estavam desesperados, um amigo de nome Galahad havia se ferido gravemente e estava beira da morte. Suspeitava-se que o ferimento foi feito atravs da magia de um drago e os que possuam o dom dos elementos no poderiam fazer nada, ou pior, ainda poderiam piorar a situao, levando-o a morte. Ningum sabia mais o que fazer, o rapaz teria uma morte certa. Assim que recebeu a notcia, Morgana pegou sua ilha nos braos e saiu em direo casa de Galahad, sentiu uma angstia no peito, pois ele era seu amigo. Correu o mais rpido que pde e adentrou em sua casa. Ele agonizava, quase sem vida em seu leito de morte, extremamente ferido. O beb se remexeu em seu colo, esticando a mozinha na direo de Galahad, e Morgana a abaixou at que ela tocasse seu rosto, depois tocasse seu ferimento. Novamente viu o milagre acontecer diante dos seus olhos: o ferimento foi se fechando aos poucos, at que icasse totalmente cicatrizado, e Galahad antes inconsciente, foi abrindo os olhos lentamente. Quando ele viu a pequenina olhando ansiosa em sua direo, ele sorriu e agradeceu: Pequena Annabelle, voc um anjinho, voc me curou, muito obrigado!' Todos olhavam a cena admirados e incrdulos."
Abre os olho lentamente, est deitada nos braos de Charles, com a cabea em seu peito, e ela o acariciou com o rosto. Ele se remexe e acorda. Est muito emocionada com o sonho que acabara de ter, foi um sonho do futuro. Lembrou-se que teve um sonho parecido com esse um pouco antes de descobrir que estava grvida. Pensou no signiicado do sonho: Est esperando uma menina e ela vai se chamar Annabelle! Muito lindo! Esse um nome que sempre gostou. Contou o sonho a Charles. Ah, Morgana! sussurra ele ao lhe apertar mais Ela ser to maravilhosa como voc! To bela quanto voc! J consigo imaginar uma menina linda com os mesmos cabelos que os seus... E com seus lindos olhos, Charles! ela complementa sua frase. Charles acaricia sua face com as costas das mos, olhando atentamente dentro dos seus olhos, um sorriso magnico no rosto, beija-a calidamente e lhe aperta contra seu peito de novo; icam deitados, apenas aconchegando- se um no outro. Morgana pensou consigo mesma que sua ilha ser uma feiticeira, assim como ela e ter o dom da vida. Galahad estava certo, ela mesmo um anjo! 8 Ricardo
Desde que Ricardo ajudou Morgana h alguns anos, ela jamais saiu de seu pensamento. No tinha como no se apaixonar, ela a mulher mais linda de todos os reinos. Ela seria capaz de despertar o desejo de qualquer homem em s conscincia. Seu dio foi o que mais o impressionou, sua obsesso e seu desejo de vingana. Ela foi feita exatamente para ele. Olhou para o homem que jazia sem vida, h alguns metros a sua frente. Torturara-o das piores formas imaginveis, e vendo que no tinha mais utilidade nenhuma, matou-o sem resqucios de piedade. No mandou ele se colocar em seu caminho. Assassino, isso o que ele era. Assassino de aluguel. Se pagassem bem, faria o servio que mandassem e muito bem feito. O prximo da lista era Gorlois, sim o pai to odiado da Morgana. Esse a, mataria com as prprias mos e com o maior prazer, simplesmente pelo fato de ter feito to mal e de ter tirado tanto de sua amada. Seu belo rosto invadiu seu pensamento. Ah como ele a desejava, seria capaz de tudo para t-la deitada nua na sua cama novamente e ter aqueles olhos verdes to lindos voltados a sua direo. Sorriu maliciosamente, ela ser sua de novo, nem que seja a ltima coisa que faa nessa vida maldita. E dessa vez, ser para sempre. Subiu em seu cavalo, sua misso no reino de Meriador havia encerrado, estava pronto para ir Cornualha. Finalmente reencontraria Morgana. No a via h exatamente trs anos. Quando cumpriu a promessa de ajud-la a entrar no Castelo de Camelot, Ricardo foi preso e assim permaneceu at que inalmente foi solto h 15 dias. Mas Morgana lhe fez uma promessa, ele a ajudaria, em troca ela seria sua. Esse era o acordo e estava indo faz- la cumprir, quer queira, quer no, ela lhe deve isso. Nunca mais teve notcias dela e morria aos poucos, mas agora sua longa espera chegaria ao im. Pegou a estrada que levava Cornualha. Seria uma longa viagem, mas a far com o maior prazer, e espera que ningum se meta em seu caminho!
Ricardo est escondido em um arbusto, a volta do Castelo da Cornualha. Sentia-se cansado, a viagem fora muito demorada e mais longa do que imaginava, mas no tivera nenhum impedimento. Estava todo dolorido e sua cabea doa muito, mas no podia esperar mais nenhum segundo, ele precisava espreitar, precisava descobrir alguma coisa, quem sabe se tivesse um pouco mais de sorte, saber o paradeiro de Morgana. Seu corao bateu acelerado somente com a lembrana do nome dela, mas procurou se acalmar, o momento certo estava chegando. O castelo estava agitado, alguma coisa de importante havia acontecido hoje, parecia que estavam comemorando algo. Estava distrado, quando algum chegou sacada. Seu corao para: Morgana! Pisca seus olhos para ver se no est sonhando. No est, realmente ela, perde o io do pensamento e do raciocnio. A noite est escura e no consegue v-la nitidamente, mas que diabos ela est fazendo aqui? Ser que ela atingiu seus objetivos e agora Cornualha a pertencia? Ela se aproxima mais um pouco da beirada, sua mo desliza em sua barriga. No consegue acreditar no que seus olhos veem: Ela est grvida! Sentiu seus olhos arderem de tanta raiva, o dio percorre o seu sangue, fazendo-o ferver. Ela est diferente, muito diferente, seu olhar, sua feio, seu sorriso doce, definitivamente no aquela Morgana que ele conhecera; mas ainda assim ela e ter que pagar o que deve, ter que ser sua. Desperta de seus pensamentos, abruptamente, algum est vindo, um cavaleiro. Fica pensativo, conhece esse homem, ele esteve em Camelot quando foram presos. Forou sua memria a se lembrar de seu nome. Ele foi se aproximando mais e Ricardo deu dois passos para trs, no podia ser visto ainda, no por enquanto. Um nome invadiu seu pensamento: Charles, o comandante do Exrcito da Cornualha, brao direito e amiguinho do bastardo do Rei Gorlois. Sua mente entra em queda livre, dando um n. Lembrou-se do que Gorlois fez a Morgana, e com certeza esse sujeitinho a o apoiou em tudo, permitiu que ele izesse aquilo com ela. Deu dois passos para frente, iria mat-lo. Charles parou por um momento e seus olhos estavam ixos na sacada onde Morgana ainda estava. Ela se ergue na ponta do p e olha para baixo, dando um sorriso deslumbrante para ele. Seus olhos se encontram e ele retribui o sorriso, coloca a mo em seu peito, se ajoelha e grita: "Eu te amo!" Ela solta uma gargalhada e envia um beijo a ele. Que pattico! Sente-se enojado, seu estmago embrulha, sente um gosto amargo na boca. Quer dizer ento que eles esto juntos e provavelmente ele deve ser o pai do ilho que ela est esperando. Seu couro cabeludo pinica, Ricardo d mais dois passos para frente e sai do arbusto onde estava. Ele ergue a mo e um vento forte surge do cho, levantando a poeira que se mistura com o ardor das lgrimas que escorrem em seus olhos. Cai ao cho, um batalho de cavaleiros vem em sua direo do lado oposto de onde Charles est ajoelhado. Arrasta-se no cho at chegar novamente no arbusto onde estava. Abraa seus joelhos, tentando se manter em silncio o mximo que puder, sente as lgrimas molharem sua cala velha e umedecerem-na, uma dor indescritvel. Quem esse maldito pensa que para tirar Morgana dele? Ele pagar caro, pode ter certeza disso. Pagar com a vida! Volta para o local onde montou acampamento, respira fundo tentando encher os seus pulmes com o ar do incio da noite. Caminha de cabea baixa, est aptico, no sente nada alm de dor, um sentimento oco no peito, a mente entorpecida e vazia. At quando ter que suportar isso? Deita-se nos cobertores velhos e rasgados e tenta dormir; fecha os olhos, mas o sono no vem, no consegue desligar seu pensamento. Esse Charles no ser impedimento algum, alcanar seu objetivo cedo ou tarde e ele que no tente lhe impedir. Escutou um trotar de cavalos na estrada bem prxima de onde estava. Levantou-se rapidamente e escondeu-se numa rvore, viu o mesmo batalho de cavaleiros liderados por Charles deixando a cidade e indo em direo ao Sul. Um pensamento maligno o invade e um sorriso sinistro surge em seu rosto. Morgana est sozinha! Toma novamente o caminho que leva s extremidades do muro do castelo, e to gil como um gato, Ricardo escala a mesma sacada onde Morgana estava antes e entra na cidadela, agachado no cho sem fazer rudo algum. Providencialmente, a janela do quarto de Morgana est aberta, Ricardo est parado no batente, nada mais do que uma sombra escura. Morgana est deitada sua frente, metade do corpo descoberto, a outra metade coberta por um lenol ino branco. Ela est usando uma camisola de renda e cetim preta, seus longos cabelos negros espalhados no travesseiro, seus lbios perfeitamente esculpidos em tons de rosa esto contrados, pressionados numa linha rgida, em seguida, ele v o esboo de um sorriso brotar. Ela est sonhando! Ela a mais linda viso que j tivera na vida! Ficou srio, ela provavelmente deve estar sonhando com aquele maldito. Arfa irritado, fazendo um rudo estridente. Morgana se remexe na cama e se levanta pairando sobre os cotovelos, os olhos assustados e temerosos, Ricardo habilmente ergue seu corpo se escondendo na parede ao lado. Ela diz, surpreendentemente corajosa: "Quem est a?" O silncio paira no ar, ele prende a respirao e desce rapidamente o telhado, fazendo o caminho de volta para fora do castelo, antes que fosse visto. Caminha novamente na loresta, tentando manter em seu pensamento que em breve ela ser sua, por um momento se permitiu ter essa iluso e isso aliviou um pouco sua alma devastada.
Pela primeira vez desde que se reencontram na Cornualha, Charles sai em uma ronda noturna de urgncia. H rumores no vilarejo, que um soberano muito poderoso est nos arredores, e teme-se que a vida de Gael esteja correndo extremo perigo, ento ele ordenou que os cavaleiros icassem em alerta 24 horas. Justo agora que Thomas nasceu. Morgana foi sacada mais cedo se despedir de Charles e observ-lo sumir ao longe na estrada, liderando um grupo grande de cavaleiros. Morgana anda pelo corredor que leva aos seus aposentos, a noite est bastante quente hoje, mas sente um arrepio percorrer sua espinha, um pressentimento ruim preenchendo seu peito. Tenta ignorar esses sentimentos, abraando-se e esfregando seus braos. Estremece, sente como se estivesse sendo observada, vira-se bruscamente para trs, mas nada v. Entra no quarto, fechando a portas atrs de si e trancando-a, claramente assustada. Acende uma vela, a chama lamejante ilumina o quarto, lanando sombras sinistras ao redor. Senta-se na cama e rapidamente coloca sua camisola preta que deixou ali para passar a noite. Um vento entra pela janela aberta, apagando a vela. Levanta-se com o intuito de fech-la, mas est muito calor e se lembra que est num dos lugares mais altos do castelo, no tem nenhum perigo deix-la assim. Deita- se na cama e logo adormece.
Est sonhando novamente, desta vez est deitada com Charles na relva, observando Annabelle e Henry brincarem felizes na beira de um lago, juntamente com uma jovem mulher muito bonita e muito parecida com Charles, ela era sua irm. Ele se vira e beija languidamente os seus lbios... Acorda assustada, acabara de ouvir um barulho estranho, tem algum no quarto. Olha para a janela, de onde veio o barulho e v um vulto negro. Pergunta quem est ali, mas no obtm nenhuma resposta. Pisca os olhos com fora, sente muito medo, pde sentir as batidas de seu corao ecoando na sua garganta e o sangue pulsando no seu tmpano. Receosa, abre os olhos e no v nada, um silncio absoluto. Talvez no tenha sido nada, s sua mente pregando-lhe uma pea. Por via das dvidas, levanta-se e decide fechar a janela. Deita-se novamente, dessa vez do lado de Charles, encolhendo-se, totalmente desperta pelo susto. Coloca a mo em sua barriga que j est bem grande. O sono no vem, ica encarando o teto branco e liso. Vira-se de lado, buscando uma melhor posio, cobre sua cabea, mas no consegue dormir.
Ainda era madrugada e Ricardo se encontrava em frente Caverna de Roan, que icava aproximadamente 30 milhas da cidade, seguindo pela estrada Sul. No tinha conseguido dormir e resolveu seguir o encalo dos cavaleiros e de Charles, na esperana de que tivesse uma chance de destru-lo de uma vez por todas, e tir-lo de seu caminho. Na estrada, lembrou-se de Roan que icava nas proximidades do Vilarejo de Calendor, que era o destino dos cavaleiros da Cornualha. Seguiu-os, procurando sempre manter uma determinada distncia, e tomou a estrada de terra vermelha que levava caverna, separando-se deles. Roan era um lugar sombrio e frio, cercado por duas gigantescas rochas, no permitindo que o sol alcanasse a mata ao redor que estava completamente morta. O caminho era cheio de galhos e cips que caiam das rvores secas, a passagem era estreita e no tinha como passar de cavalo. Continuou p, andando o mais rpido que pde na estrada vermelha, at que o cho se tornou um completo cinza, da mesma tonalidade das rochas. Prosseguiu caminhando e logo encontrou a caverna. Ficou parado por um momento na entrada, onde tinha um aviso "A maldio reside aqui." O vento veio das rochas, assobiando sinistramente, fazendo-o estremecer, mas no iria desistir, manteve-se irme e determinado. Forou seus ps a andarem e entrou dentro da caverna sombria, percorrendo um longo corredor rochoso. Ali naquele lugar esto aprisionados os Sete Cavaleiros que um dia j foram bravos guerreiros, mas que foram amaldioados pelo Mago Merlin a mando do Rei Uther, por traio. Eles esto condenados a viverem a eternidade, adormecidos aqui. So nada mais nada menos que sombras, nem vivos e nem mortos que s podem ser despertados por um soberano com profundo conhecimento da Magia Antiga, assim como Ricardo, e usando uma espada que pertenceu Uther. Era exatamente a espada que tinha, a que roubou do Castelo de Camelot um pouco antes de ser solto. Os Sete Cavaleiros estariam sob seu comando e somente poderiam ser derrotados caso ele fosse morto ou gravemente ferido. Aps alguns minutos, avistou a tumba onde jaziam os cavaleiros, o local estava empoeirado, cheio de teias de aranha, e fedia a mofo e umidade. Ricardo apressou-se, queria logo sair dali. Cravou a espada no cho, no centro das sete tumbas, e no mesmo instante ouviu o barulho de algo se partindo, eram as tumbas se quebrando. Mos esquelticas surgiram de dentro e sentiu um cheiro horrvel de putrefao, e imediatamente tampou o nariz, pois o odor era insuportvel. Os cavaleiros saram da tumba, um a um foram se posicionando sua frente, em posio de ataque. Ele pegou a espada e mostrou a eles que imediatamente izeram uma reverncia, submetendo-se a maldio que os dominava e mostrando total obedincia. Virou-se de costas e seguiu o caminho de volta, Os cavaleiros o seguiram e tomaram a estrada que levava Calendor.
J era de manh, quando enim Charles avistou o Vilarejo de Calendor. O lugar ainda estava vazio e parecia calmo e tranquilo. Decidiu instalar-se juntamente com os cavaleiros na hospedaria que icava na rua principal, pois todos estavam muito cansados aps uma noite inteira de viagem sobre o lombo dos cavalos. Sabiam que um feiticeiro muito cruel e poderoso, um assassino, jurou a famlia de Gorlois de morte e sabiam que ele j estava nos arredores do castelo, espreitando. O objetivo da vinda at ali, era atra- lo para bem longe do castelo, bem longe de Gael e do Herdeiro Thomas e onde pudessem confront-lo. Pelo jeito, o plano dera certo, pois ele os estava seguindo na estrada, certamente mordendo a isca. Encostou-se desconfortvel cama da hospedaria, estava apreensivo e bastante preocupado. Apesar de tudo ter corrido de acordo com o previsto, o castelo icou praticamente desprotegido e temia por Morgana no estado em que se encontrava, sozinha. Que a Deusa a proteja. Fechou os olhos tentando descansar, mas foi em vo, o pensamento estava fervilhando, sentia-se ansioso e angustiado, sabia que um confronto estava por vir, com certeza o feiticeiro devia estar planejando algo contra eles nesse exato momento, e Charles precisava estar alerta. Queria acabar com isso logo e voltar para casa, para os braos de sua Vida. Estava a ponto de dormir, quando ouviu um grito vindo da rua, levantou-se num sobressalto e comeou a calar suas botas. Gawain entrou no quarto, assustando-o. Charles o vilarejo est sobre ataque! ele diz, desesperado. Rena os cavaleiros, Gawain! pediu a ele, que saiu aos trpegos do quarto. Rapidamente terminou de vestir sua armadura e coloco sua espada no cinturo de couro. Encontrou com todos os cavaleiros no corredor prontos para a luta que estava por vir. Saram da hospedaria e deram de cara com o caos: fumaa por todos os lados, algumas casas ardiam em chamas, muita poeira, pessoas correndo desesperadas de um lado para o outro e alguns mortos e feridos no cho. Sir. Gawain e Sir. Garret, por favor ajudem essas pessoas! Charles pediu, horrorizado com tudo o que estava acontecendo. Eles correram ao encontro das pessoas, cuidando de seus ferimentos. Tinham que agir rpido, portanto continuaram seguindo nas ruas, tentando encontrar a origem do ataque. Quando chegaram Praa Central, foram atacados por aproximadamente sete cavaleiros esquelticos, meio mortos, meio vivos, provavelmente mantidos de p pelo uso de magia negra e o feiticeiro deveria estar nos arredores do vilarejo. Um deles partiu para cima de Charles com tudo, eles tinham fora e agilidade sobrenaturais e ele fora jogado ao cho. Rolou para o lado fugindo da espada do cavaleiro, mas quase fora atingido. Levantou-se e sacou sua espada. Olhou para o lado, todos os cavaleiros lutavam com diiculdades com as criaturas. Viu Sir. Owain cravar sua espada fundo na garganta de um deles, e nada acontecer. A criatura continuou de p, arrancou a espada e a jogou longe, a uma distncia que ele no mais alcanaria. Eles no poderiam ser mortos. O cavaleiro que estava lutando com Charles antes, atacou-o novamente, suas espadas se encontraram, tilintando uma na outra, num barulho estridente. Ele desviou do seu primeiro ataque, mantendo certa distncia da criatura. Avistou o feiticeiro ao longe usando uma capa preta, que cobria completamente todo seu rosto, deixando somente parte mostra. No conseguiu reconhec-lo. Ele se virou em sua direo, sua boca se contraindo num sorriso astucioso, seu grito sinistro eclodiu em toda a rua: Charles, seu maldito, voc tirou Morgana de mim e pagar com sua vida! estremeceu ao ouvir o nome de sua Vida saindo daquela boca, ento ele estava atrs dela. Fora tomado pelo dio, virou-se na direo da criatura que o enfrentava e atravessou-o com sua espada. O cavaleiro se desfez por completo e caiu ao cho, transformando-se num amontoado de ossos, morto deinitivamente. Olhou para sua espada e uma lembrana boa retornou sua mente. Assim que se tornara o lder dos cavaleiros, Morgana o presenteara com essa espada, dizendo que ela foi forjada pelo fogo do Drago Vermelho que vivia numa caverna subterrnea. A espada seria capaz de destruir qualquer criatura que fosse mantida por magia ou no, era um artefato nico, porque cada drago s conseguia forjar uma espada em toda sua vida. Morgana queria que Charles lutasse de igual para igual e que icasse protegido. Um sentimento bom e genuno invadiu seu peito, Morgana mesmo distante sempre estaria ao seu lado. A batalha prosseguia, e Charles era o nico que conseguiria destruir as criaturas, portanto atacou o que estava mais prximo. O cavaleiro esqueltico estava de costas lutando com Sir. Percival, ento ele aproveitou a chance e atravessou a espada em seu corpo degenerado, fazendo-o cair morto ao cho da mesma forma que o outro, e assim cada um deles foram sendo destrudos, restava somente um, que lutava incansavelmente com Sir. Ethan. Caminhou na direo deles, mas uma dor terrvel no peito jogou- o no cho, seu corao parecia que estava sendo esmagado. Viu a criatura cravar a espada no abdmen de Ethan e ele cai morto no cho. S teve tempo de jogar sua espada para Percival, que estava mais prximo e o viu lutar bravamente com a criatura restante, conseguindo derrotar o inimigo. Virou-se de costas e viu o feiticeiro a 10 metros de distncia dele, seus olhos queimavam de raiva e sua mo estava erguida em sua direo. Ele estava atacando-o com magia. Encolheu-se no cho de terra, e grunhiu alto, olhando para o feiticeiro em sinal de splica, nunca sentiu uma dor to terrvel em toda sua vida. Tentou dizer algo, mas a voz no saia, somente conseguia se contorcer. Sir. Garret tentou ajud-lo, lanando-se contra aquele que o atacava. O feiticeiro soltou uma gargalhada aterrorizante, jogou Garret contra a parede e ele caiu inconsciente. Ele se voltou novamente para Charles. Charles... Charles enim nos encontramos, hoje voc ir sair de meu caminho, maldito! ele diz com um desprezo assustador. Quem voc? Charles perguntou, sua voz saindo mais como um rudo rouco. Sou aquele que acabar com sua vida! o feiticeiro responde com desdm, enquanto a dor em seu peito aumenta cada vez.
Morgana acorda sufocada, gritando, no conseguindo respirar, um aperto no peito, uma angstia indescritvel e sua cabea latejando. Charles corre perigo, ela pode sentir isso, alguma coisa est acontecendo com ele. Levanta-se em um pulo, sentindo tudo girar ao seu redor e senta-se novamente na cama. Magnus invade seu quarto, o semblante aterrorizado. Minha querida, o que houve? automaticamente, ele coloca a mo em sua barriga. Magnus, me ajude, est acontecendo algo com Charles, ele corre perigo... faz uma pausa e segura em sua mo. Magnus, por favor! consegue sentir o desespero em sua voz, lgrimas brotam compulsivamente de seus olhos. Se acalme, minha querida, no estado em que voc est, no nada bom voc se exaltar. ele disse, segurando em seus braos. Ela estava descontrolada e se debateu, fazendo com que ele a soltasse. Magnus, eu preciso salvar Charles, me ajude. ela repetia essa frase sem parar, desesperada. Tudo bem, minha Lady, vou te ajudar, existe um feitio muito poderoso que somente aqueles que so conectados pela alma podem fazer, mas eu preciso que voc se concentre... ele olhou em seu rosto e continuou: Respire, Morgana, respire. ela fecha seus olhos e tenta se acalmar, vai sentindo seu corpo se relaxando e seu peito subindo e descendo normalmente. Eu preciso que voc se concentre no que est ao seu redor, a magia est em todos os lugares, tente reconhecer as partculas do ar e sinta seu corpo se conectando elas. Morgana abre os olhos e v pequenas partculas iluminadas ao seu redor que danavam em torno dela. Era lindo! Magnus segurou em suas mos deixando-as de frente uma para a outra, em formato de crculo. Agora voc deve tentar juntar essas minsculas partculas dentro de suas mos, voc ter que manipul-las, use sua magia e junte-as. ela pde senti-las, viu as partculas ao seu redor se unirem e formarem uma esfera de luz dourada entre suas mos, ela tomou forma e foi crescendo cada vez mais. Olhou para Magnus, satisfeita. Muito bem, minha menina, est perfeito! Isso mesmo! ele disse orgulhoso, e prosseguiu com as explicaes: Limpe seu pensamento, pense em Charles, pense nas coisas boas que vocs viveram, deixe o amor que voc sente te guiar, ele vai fazer com que voc o encontre, independente de onde Charles esteja, a esfera vai te levar at ele. Charles preencheu seu pensamento, seus olhos, seu cheiro, seu carinho, seu beijo, suas almas se encontrando quando se tornam um s. Sentiu-se sonolenta e entrou em uma espcie de transe, sua alma parecia se desprender de seu corpo e seguir viagem atravs do espao, rodeada pela esfera dourada. Sentiu o vento batendo em seus cabelos, o cheiro de mato, o frescor da manh, a brisa nas folhas, a neblina que rodeava as montanhas. Entrou em um vilarejo, parecia ser Calendor. Viu Charles cado no cho, desfalecendo, jogou-se na frente dele e a esfera de luz se explodiu num estrondo, envolvendo Charles e o protegendo. Ele desperta e seus olhos a fitam, incrdulo. Consegue v-la, sorri e se levanta.
Charles tenta respirar com diiculdades, mas o ar no entra em seus pulmes, sua pulsao est fraca, sente que ir perder a conscincia a qualquer momento. Seu corao est sendo esmagado, tenta buscar foras, mas no as tem mais. Faz uma orao, no quer morrer. Um filme comea a passar em sua mente, tudo o que fez, tudo o que viveu. O rosto de Morgana invade sua mente, sua beleza, sua coragem, sua bondade, como se desse pause; tudo que viveu antes dela se tornou bobo, simplesmente deixou de existir. Ela a coisa mais importante de sua vida, ou melhor, ela sua vida. Sentiu-se como se estivesse lutuando, a morte est prxima. J no ouviu e nem sentia mais dor alguma, no lhe resta mais o que fazer a no ser desistir. Fechou os olhos e se entregou. Um barulho estrondoso invade seus ouvidos. Sentiu um formigamento em todo seu corpo e a dor simplesmente desapareceu. Forou o ar a entrar em seus pulmes, sentindo-se um pouco zonzo pelo esforo, mas conseguiu enim, respirar. As foras retornam ao seu corpo, abriu os olhos, e deixou-os se acostumarem a luz forte, por algum milagre estava vivo! Olhou ao redor, uma luz dourada iluminava-o, parecia que o sol tinha invadido a terra. Dentro dela viu Morgana, protegendo-o. Sorriu ironicamente. Ser que morreu e foi para o paraso? Como isso foi possvel? Levantou-se, mas sentiu suas pernas dormentes, parou um pouco, deixou o sangue correr nos seus membros inferiores, despertando-os. Esticou as mos tentando tocar Morgana, na esperana de que tudo isso fosse real, mas seus dedos atravessam seu corpo. Ele podia senti-la, ela estava ali, mas em forma de um holograma, sua alma estava ali com ele. A confuso toma conta de si, ela deve estar usando sua magia, mas est aqui e lhe salvou e isso que importa. Aproximou-se da imagem, e conseguiu tocar seu rosto, sentiu sua pele sedosa deslizar nos seus dedos e ela depositou um suave beijo na palma de sua mo. Vida! Charles disse, deleitando-se com sua viso, por um momento teve a certeza de que tudo ficar bem. Charles, meu amor! Morgana diz emocionada, uma lgrima brilha em seus lindos olhos. Voc me salvou! Eu te amo. a imagem de Morgana pisca, perdendo as foras, ela est partindo... Charles beija seus lbios reletidos no holograma, a sua imagem se desigura e ela desaparece, tornando-se pequenas partculas iluminadas que somem completamente em segundos. Ele consegue ouvir sua voz distante "Te amo, Charles !" nada mais que um eco fraco. Ela se foi... Seus sentidos, relutantes, voltam batalha que prossegue sua frente, agora ele s um espectador. O feiticeiro olha-o furioso, derrotado, v-se um punhal cravado profundamente no seu peito. Ele estende o dedo indicador para Charles e diz: Ainda no acabou, eu retornarei.. sua voz um gemido gutural, assustador. Sente um arrepio percorrer seu corpo, mas mantm seu olhar ixo no dele, enfrentando-o. Ele desaparece no ar, deixando somente um cheiro de fumaa. 9 Nascimento
Seguiram em comitiva na estrada de volta para o castelo, em total silncio, somente se ouve o trotar lento dos cavalos no cho batido de terra. Perderam um irmo hoje, mas poderia ter sido muito pior se Morgana no tivesse os salvado. Quando Charles se lembra do que ela fez por todos e principalmente por ele em Calendor, um sentimento invade seu peito. No tem como agradecer por tudo o que ela j fez por ele, ela lhe salvara de todas as formas que uma pessoa pode ser salva. Morgana salvou sua vida, no somente hoje, mas todos os dias. Enxugou algumas lgrimas que embaavam sua viso sem que houvesse notado. Olhou para trs para o corpo de Sir. Ethan que era carregado por seu cavalo, qualquer um poderia estar no lugar dele, inclusive Charles, ou at mesmo todos os cavaleiros. Ethan lutou com bravura e honra, e jamais deixar que seu nome seja esquecido. Sir. Garret cavalgava ao seu lado, e se lembrou claramente de sua coragem quando ele se jogou na frente do feiticeiro com o intuito de tentar lhe salvar. Eram mais do que colegas de trabalho, eram uma verdadeira famlia. Olhou para Garret e acenou com a cabea, ele sorriu em resposta. Como vai sua noiva, Sir. Garret? perguntou a ele, querendo puxar assunto e suavizar a tenso ao redor. Vai muito bem, Sir. Charles, em breve nos casaremos! ele abre um sorriso franco e genuno. Que excelente notcia! Desejo que voc seja to feliz em seu casamento, quanto eu sou no meu. Charles responde, a saudade aperta seu peito. Sir. Garret acena positivamente com a cabea em agradecimento, e continuam seguindo em deliberado silncio na interminvel estrada frente. Pensou no quanto apaixonado por Morgana, cada dia mais. Quem ama de verdade, assim como ele, capaz de se apaixonar pela pessoa milhares de vezes se for preciso. Acelerou o passo, queria chegar em casa logo.
Morgana olha para a janela que d para o terreiro e mais alm para as montanhas, a saudade e a ansiedade est a corroendo por inteira. S ir sossegar quando Charles apontar na estrada, s assim saber que ele est seguro, mas o tempo parece estar contra ela. Cada segundo que se passa, sufoca-a. Sempre sentir saudades de Charles, no importa se o viu h um minuto ou h dias, seu corao no sabe contar quanto tempo ele est ausente. Sabe que o deixou so e salvo ontem em Calendor, mas no consegue controlar a angstia dentro do peito. Precisa dele ao seu lado. Hoje recebeu a visita de um mensageiro dizendo que o castelo enim icou pronto, e no via a hora de estar junto de Charles no seu cantinho, no seu lar, junto de seus ilhos e queria dar essa excelente notcia a ele. J comeou a mudana e assim que ele chegar, j podero ir para casa. Em breve, Annabelle vir ao mundo para completar a sua felicidade, falta pouco agora. Uma lembrana invade seu pensamento fazendo seu estmago se retrair de dor. Era Ricardo que estava ameaando Charles em Calendor, um antigo aliado seu. Por mais que tentasse entender a atitude dele no conseguia. Ele quer a ela. Ser que ele levou aquela promessa a srio? Mas foi uma promessa to v e to sem sentido, um ato desesperado, nada mais que isso. Ela havia prometido que seria sua, caso ele a ajudasse, mas tanta coisa mudou na sua vida, tanto tempo se passou, como ele esperou que ela cumprisse esse tipo de promessa? Seu sangue gelou, ele era um forte inimigo e no deveria jamais ser subestimado. Ele, depois de Emrys, o mago mais poderoso que j conheceu. Que a Deusa os proteja. Instintivamente, acaricia sua barriga. Uma mo afaga gentilmente suas costas, um carinho mais que conhecido por ela. Estava to abstrada em seus pensamentos que nem viu Charles chegar. Sentiu a alegria irradiar de seu peito, enim ele chegou e estava so e salvo! Joga os braos em volta do seu pescoo, seu corpo colando no dele. Um sorriso lascivo surge em seu rosto e sente seus lbios se juntarem. H sabores que no podem ser esquecidos e sua boca sempre desejar a dele. Ele a beija, um beijo carnal e libidinoso, transbordando sensualidade por todos os poros. Charles a mantm junto de si, pressionando seu corpo ao de Morgana, pegando seu pulso para dar um beijo terno na palma da mo. Segurando-a, ele a leva em direo ao quarto, enchendo seu corpo de expectativas. Sem dizer nada, Charles abre rapidamente a porta e a fecha atrs de si, encostando-a madeira lisa. Ele a encara com o olhar feroz e libidinoso, e seus lbios percorrem o contorno do seu rosto. Sente o desejo quente e ntimo luir por sua corrente sangunea, e ela geme. Ele sorri maliciosamente e pressiona o quadril contra o seu mais uma vez. Beijando- a, ele vai caminhando lentamente em direo cama, deitando-os nela, com todo cuidado vai retirando toda sua roupa e ele faz o mesmo com as dela. Charles rola de repente, icando inteiramente em cima de Morgana, erguendo-se pelos cotovelos para diminuir o peso do seu corpo sobre o dela e com o joelho ele abre suas pernas, passando o nariz em seu maxilar, em seu pescoo e em sua orelha. Ah Vida, senti tanto sua falta! ele sussurra, e abruptamente muda de posio, levando-a junto at que esteja montada nele. Sente-se mais confortvel, adorando a forma como seus corpos se encaixam. Seus longos cabelos se soltam do coque, caindo como um vu negro sua volta. Charles a observa com total devoo, enquanto delicadamente sente ele dentro de si.
O tempo passou depressa e no tiveram notcias de Ricardo, esperavam do fundo do corao que ele houvesse desistido e seguido seu rumo. Annabelle poderia nascer a qualquer momento e a nica coisa que queriam era paz. J fazia algumas semanas que haviam se mudado para o novo castelo e ainda tinha muitas caixas empilhadas que chegaram de Eresby com pertences de Henry, e muita coisa para arrumar. Como era um sbado, reuniram-se na sala, para terminar de desembalar e guardar tudo em seu devido lugar. Algum bateu porta. Charles atendeu e Nimithiel entrou, trazendo uma pequena mala consigo. Morgana se levantou e foi em sua direo. Ela a olhou com os olhos azuis violeta cheios de culpa e amor desvelados. Filha, ah minha amada filha! Morgana disse enquanto a abraava. Ma...mama ela balbuciou, claramente se esforando para dizer mame. Sorri com lgrimas nos olhos. Voc vai ficar? Ela fez um sinal de positivo com a cabea. Morgana estava imensamente feliz por ter sua pequena de volta.
Hoje era noite de Shamain, e antes de se deitar procurou se lembrar de seus antepassados com alegria e amor, pois hoje o vu que une o mundo dos vivos e o mundo dos mortos se romper. Morgana aguardou at que fosse perto da meia-noite e foi janela para acender uma vela laranja para que s os espritos bons que andarem sobre a terra venham visit-los. Quando o relgio bateu exatamente doze baladas, subitamente ela sente uma contrao e uma dor insuportvel, o beb estava querendo vir ao mundo. A hora chegou! Colocou a mo na coluna lombar e se sentou na cadeira mais prxima, depressa, sufocando um grito de dor e apenas ofegando, sua respirao icando rpida e entrecortada. Charles vem em sua direo, a preocupao dominando seus olhos. Ele se vira para Henrique: Henry, v chamar o Magnus, meu ilho, sua irmzinha est chegando! as palavras saram atropeladas de sua boca, num misto de felicidade e ansiedade. Henry saiu em disparada para fora da casa. Charles olhou para ela com ternura e amor, mal escondendo sua alegria. Deu um grito de dor. Charles se retrai, ele ica esttico e seus olhos se arregalam. Gentilmente ele a carrega em seus braos, levando-a para a cama, onde Morgana consegue se sentir um pouco melhor, ao menos consegue respirar mais normalmente. O rosto de Charles transparece medo e dor. Segura em seu lindo rosto. Vai dar tudo certo amor, em breve nossa princesinha estar conosco! Tenta ao mximo disfarar, mas uma nova contrao veio com tudo e ela arfou alto de dor. Nesse momento, Magnus entra no quarto rapidamente e a examina. Minha Querida, sua hora chegou! Seu beb j est a caminho! Ela sorri em meio s lgrimas. Uma serva entra carregando uma grande bacia de gua fervente. Charles andava de um lado para outro, sua expresso aflita. Morgana, quando a contrao vier, voc empurra com toda a sua fora, j consigo v-la! Magnus disse, e quando sentiu a contrao, inspirou profundamente tentando juntar todas as suas foras e empurrou. Sentiu seu corpo todo se contraindo e foi como se tivesse sendo partida ao meio. Um choro de beb ecoou em todo quarto.
Charles no conseguia parar de olhar para aquele lindo rostinho. Annabelle estava deitada no seu bero e dormia profundamente, certamente exausta do esforo que fez para vir ao mundo. Morgana descansava na cama, apesar de estar tudo bem, ela estava bastante fraca e cansada, sua ilha nasceu bem grandinha. Sentia-se completamente emergido pelo sentimento paternal que o invade. Ele a ama muito! Abaixou-se e deu um suave beijo em seu rostinho, ela sorri em resposta, imersa no seu sono. Vai at a cama onde Morgana descansa, e deita-se ao seu lado. Ela se remexe, e seus braos envolvem sua cintura, apertando-o forte contra si. Suas mos sobem para sua nuca. Aqueles lindos olhos verdes encontram os seus, aflitos. Charles, Annabelle tem o poder do quinto elemento. Ela uma lenda entre os elementais. De acordo com uma antiga profecia, uma menina nascida exatamente meia-noite do Shamain ter o poder da vida e da morte, devido ao fato do vu entre os mundos estar aberto exatamente na hora de seu nascimento. O beb ser o fruto da unio de uma Elemental com um dos maiores guerreiros que j existiram. Ela ter o poder dos espritos e poder tanto curar quanto matar com somente um toque. Exatamente como vi nos meus sonhos. Charles... teremos que ter muito cuidado, temos que ensinar Annabelle usar seus poderes s para o bem, ela no poder us-los em benecio prprio e muito menos cair em mos erradas. Tudo tem o seu preo e ela precisar ter muita cautela. ela disse, e Charles ficou pensativo por um momento. Tenho certeza, Morgana, que ela vai escolher o caminho certo! ele disse, orgulhoso. Assim espero, pois o poder Elemental extremamente guiado pelas emoes e ela precisa aprender a control-las. Annabelle pode matar simplesmente pelo fato de estar chateada, ou pode curar porque est feliz. No se preocupe com isso agora, Vida, voc precisa descansar. Obrigada pelo presente que me destes Charles, eu amo voc! Murmura ela, quase que inarticuladamente. Eu te amo mais, Vida! responde com suavidade. Sua cabea est em seu ombro e ela respira suavemente em seu pescoo enquanto dorme. Fecha os olhos e entra no mundo dos sonhos juntamente com ela. 10 Ameaada
Levantou-se bem cedinho e foi para a sala para no acordar Charles, no havia conseguido dormir muito bem, um sentimento estranho no peito, uma angstia que no conseguia descrever. Geralmente esse tipo de sentimento lhe invade quando algo de ruim est prestes a acontecer. Piscou os olhos, tentando espantar esse mau pensamento, e se aconchegou mais nos cobertores sobre o sof. Respira fundo tentando controlar as emoes ainda presentes no seu organismo. Charles entra na sala, o semblante preocupado, usando somente sua cala de pijama caindo sobre seus quadris... Morgana icou hipnotizada contemplando seu abdmen, seus msculos. Est tudo bem, Morgana? Acordei e no te encontrei ao meu lado, a cama ica fria e vazia sem voc. ele se deita no sof e a envolve em seus braos e lhe puxa para seu colo, suas costas coladas frente do seu corpo. Estava com insnia, meu amor, no queria te acordar. ela disse enquanto a mo de Charles viajava prazerosamente sobre seu corpo. Hum. ele ofega gostosamente em seu ouvido. Ela se vira em sua direo e desta vez so seus braos que o envolvem, seus corpos se juntando e quando seus lbios se tocam, eles se perdem um no outro. Eu amo voc, nunca se esquea disso. Morgana sussurra itando seus olhos azuis, cada vez mais escuros. Te quero, Morgana, embriaga-me de voc! e quando sua boca se perde na sua e seu corpo se mistura ao seu, mais uma vez so um s.
Est uma agradvel manh de im de vero, um vento fresco entra pela janela da cozinha. Essa noite Charles no dormiu em casa, ele icou de guarda no castelo, e provavelmente retornar somente no im da manh, quando outro cavaleiro assumir seu posto. Com certeza, ele deve ter dormido muito pouco e chegar cansado em casa.
Algum bateu porta, entregando a Morgana uma delicada rosa vermelha e um bilhete endereado a ela. Reconheceu a caligraia de Charles. Ela abriu e leu:
"Vida, fui dormir para fugir da saudade e sonhei com voc. Vontade de voc, louco para matar essa saudade, saciar esse meu desejo por ti. Quero seu toque, quero sua boca na minha, seu corpo no meu. Te amo!" Abraou a si mesma, com um sorriso maior que o prprio rosto e seu corao se derrete. Recolhe a linda rosa da mesa e exala seu perfume que entorpece seus sentidos trazendo-lhe doces lembranas, quando sente um ardor na ponta do dedo e algo a lhe espetar. Uma gota de sangue vermelha cai ao cho, manchando o piso branco imaculado. Mais uma gota ca ao cho e ela se perde naquela viso, leva a mo ao peito tentando conter uma angstia que a invade, pde sentir uma presena maligna. Algum entra pela porta da cozinha que estava aberta desde que o mensageiro chegou. Lady Morgana, enim nos encontramos. o invasor diz, num tom de voz ameaadoramente baixo. Ricardo... a palavra sai de sua boca num suspiro de horror antes que possa impedir. Fica imvel, paralisada no lugar. De certa forma ou de outra, isso era bom, no poderia acordar as crianas, que dormiam tranquilamente no andar de cima sem terem noo do perigo. No poderia coloc-las em risco. O que voc quer, Ricardo? V embora e me deixe em paz. ela implora lutando contra as lgrimas, os joelhos vacilam sob o peso do seu corpo. To fraca... ele faz uma pausa, encarando-a os olhos fumegando de raiva. O que aconteceu com aquela Morgana que no se importava com mais nada e nem com ningum? Eu mudei, Ricardo, e voc... tambm pode mudar. Eu encontrei o... amor... sua voz falha, e as lgrimas que ameaavam cair inalmente rolam pelo seu rosto. Amor... ele diz, Morgana ica chocada com o tom depreciativo em sua voz. Isso no leva ningum a nada. Voc me fez uma promessa. grita ele, colrico. Sinto muito por isso, Ricardo, mas eu no posso cumprir, eu amo Char... Ele a silencia com o olhar gelado se aproximando e icando a centmetros dela, seus olhos cinzentos e frios examinam os seus, sua voz tomada pela raiva. De repente, sente-se sufocada. Voc querendo ou no me pertencer, Morgana! diz ele mais alto que antes, com total arrogncia. Sente medo, no por ela desta vez, mas logo Henry descer para ver o que est acontecendo. No poderia lutar, ele era mais forte do que ela, teria que faz-lo ir embora, precisava se manter calma. Nunca se sentiu to impotente e to fraca em toda sua vida. Jamais serei sua, por favor v embora de minha casa! ela diz e Ricardo passa a mo pelo cabelo, fulminando-a com o olhar. Nunca diga dessa gua no beberei, o caminho longo, Morgana, e na volta voc pode sentir sede. ele sussurra acidamente para ela, a voz gelada, sente a ameaa cada vez mais visvel em suas palavras. Ricardo desliza os ns dos dedos sobre sua face, um lampejo malicioso nos olhos, e se aproxima do seu rosto olhando fixamente em sua boca. No! ela grita, consciente do terror e da ansiedade em sua voz e antes que se d conta do que est fazendo, desfere um tapa forte em seu rosto, fazendo-o se curvar para o lado, da tamanha fora que desprendeu sobre ele. Ricardo sorri ironicamente, e antes de se virar e encar-la novamente, ele apalpa a face vermelha, soltando uma gargalhada alta. Isso, essa a Morgana que eu conheci! Essa a Morgana que eu desejo! sua mo segura forte em seu pulso, imobilizando-a na parede. Nesse momento, ouve um barulho l fora e Charles aparece na soleira da porta. Ricardo desaparece sua frente, virando uma fumaa, deixando somente um rastro negro de poeira, nada mais. Suas pernas icam bambas, todo sangue se esvai da sua cabea e s o brao forte de Charles lhe impede de cair no cho. Ele senta-a na cadeira mais prxima. Morgana voc est bem? Ele te machucou, Vida? diz ele, o desespero evidente em sua voz. Engole em seco ao pensar na possibilidade. No Charles, ele no me machucou, s foi impertinente... sua voz denota cansao, suspira e balana a cabea em lamentao, estremece com a recordao desagradvel. As lgrimas caem compulsivamente do seu rosto. Charles coloca a mo no seu ombro e aperta ligeiramente, tentando lhe tranquilizar. Ele se senta na cadeira ao seu lado, coloca-a gentilmente em seu colo e ela deixa-se levar, aninhando-se nele. Ouve seu corao, que forma uma batida percussiva rtmica. Sente uma crise de ansiedade que faz seu corao apertar e bater acelerado, recordando-se de tudo. Charles afaga seu rosto com as costas das mos, o que lhe acalma instantaneamente, tenta conter uma esmagadora onda de emoes. Ainda bem que cheguei a tempo, Morgana, no gosto nem de imaginar o que poderia ter acontecido com voc, Vida, eu no suportaria... sua voz soa melanclica e incongruente, transmitindo dor. Ele se inclina e pressiona os lbios contra sua testa. O que vamos fazer, Charles? olha nervosa para ele, mal contendo as lgrimas. Vamos dar um jeito, Morgana meu amor, sempre damos um jeito. sua voz leve como uma pluma, mas v ceticismo nela, ele tambm est assustado, e o entende perfeitamente, ainda mais depois do que ele passou nas mos desse maldito em Calendor. Charles lhe ergue no colo, olhando-a com os olhos cheios de suavidade e afeto, leva-lhe at o quarto e a deita gentilmente na cama. Ele desliza para debaixo dos lenis, puxa-a para seus braos, virando-se de costas para ela e a abraa forte. De repente, sente-se mais calma, como se estivesse protegida de tudo e nada mais fosse capaz de lhe atingir. Esse homem seu porto seguro.
A raiva tomava cada centmetro do seu corpo. Ricardo ainda no conseguia acreditar no que Morgana havia se tornado. Uma vida feliz num enorme castelo ao lado de um cavaleiro... Que pattico! Que romantismo nauseante! Cerrou seu punho direito e com fora acertou a pequena mesa da antiga cabana usada por eles. Havia se desmaterializado do castelo direto para l. Ele fora criado para ser como uma arma, matar era tudo o que sabia. As lembranas daquele tempo, de sua Morgana forte inundaram sua mente, como o impetuoso correr de guas e toda aquela adorao se transformou no mais puro dio. Ainda que parecesse impossvel, ele acreditava que dentro daquela casca melosa ainda havia aquela Morgana, cega por vingana e por poder; ela s precisaria de um incentivo... E ele sabia exatamente como consegui-lo. 11 Tempos de Paz
"Morgana estava apoiada janela de seu quarto, observando, absorta, o belo nascer do sol. A brisa fresca da manh bagunava um pouco seus cabelos, mas ela no importava; a sensao de tranquilidade era superior. Fechou os olhos por poucos segundos e ao longe, viu Nimithiel no jardim. Abriu os olhos, sorridente e chamou seu nome, mas desta vez ela no izera como de costume; ela no atendeu o seu chamado. Chamou-a mais uma, duas, trs, inmeras vezes, gritando cada vez mais alto, mas ela parecia no ouvir; simplesmente continuou andando at desaparecer de seu campo de viso. Atnita, piscou algumas vezes e ento sentiu seu corao apertar. Caiu de joelhos, sentindo o ar lhe faltar e ento, juntando seus ltimos resqucios de fora gritou, em total desespero, seu nome uma ltima vez... NIMITHIEL!."
Acordou de uma vez, assustando Charles que dormia ao seu lado. Suas mos tremiam, sua testa estava coberta de suor. As lgrimas tomavam seus olhos. Charles a olhou preocupado e a abraou no exato momento em que percebeu o rolar de lgrimas em seu rosto. Afagando seus cabelos, ele disse que tudo icaria bem, que no passava de um sonho. Desvencilhou-se de seus braos e levantou da cama. Preciso ver Nimithiel. Preciso saber se ela est bem! falou decidida, pegando sua longa capa vermelha e calou seus sapatos, partindo em direo porta do quarto, quando foi interrompida pela voz, grave e carregada de preocupao de seu marido. Voc no sair sozinha daqui, Morgana. ele falava, ao passo que levantava e vestia suas roupas Depois do ltimo acontecimento, no vou deix-la sozinha um minuto sequer. tomou sua espada na mo e andou em sua direo abrindo a porta para que sassem. A caminhada em direo ao quarto de Nimithiel fora a mais longa da sua vida. Cada passo dado parecia aumentar o seu desespero, e o silncio que pairava entre Charles e ela tambm no estava ajudando muito. Passaram pelo ptio gelado do castelo, protegendo a vela para que no apagasse. Charles passou o brao em sua cintura, aproximando-se de seu corpo at que adentrassem o corredor. Andaram mais um pouco at, em im, chegaram porta do quarto. Abriu-a com cuidado e ento seu corao inalmente descansou; l estava ela, sua preciosa ilha, sua querida Nimithiel, dormindo calmamente. Aproximou-se dela e passou uma de suas mos sobre sua cabea, vendo-a se mexer um pouco. Sorriu, desviando seu olhar para Charles, que mantinha seus olhos atentos ao corredor. Ele retribuiu, dando-lhe o sorriso mais perfeito do mundo e ento, levantou-se, andando at ele. Tocou sua face com a mo e beijou seus lbios delicadamente. Ela est bem, Vida. Nada acontecer com nossa pequena enquanto ela estiver do nosso lado. falou sinceramente e lhe abraou forte. Sentiu as lgrimas se formarem em seus olhos, mas dessa vez no eram de desespero, eram de alvio. Voltaram para o quarto e deitou na cama aconchegando-se a seu marido. Fechou os olhos e a mesma cena retornou sua mente, contudo desta vez sabia que no era verdade. Respirou fundo e, apesar daquela angstia ainda encher seu corao, tentou dormir se apegando s palavras de Charles... Nada aconteceria com a sua Nimithiel enquanto estiver aqui, enquanto estiver com ela.
Depois de tanto tempo vivendo merc do medo, estavam em tempos de paz. Ricardo desapareceu novamente, mas sabiam que ele no desistiria. Estremece com a recordao desagradvel de seu ltimo encontro. Est sentada em frente ao espelho da penteadeira do quarto, penteando vrias vezes a mesma mecha de cabelo. Em seu pensamento sabe que tudo isso fora causado pelo passado que teimava em vir ao seu encontro. Essa a vida real em sua essncia e teme que algo mais venha lembra-la de seus erros. A luz do dia est desaparecendo e estremece de frio, quando sente o vento gelado da noite que entra pela janela semiaberta. Infelizmente no se pode apagar o passado, mas precisa se preocupar com o presente que onde a vida acontece, no adiantaria icar remoendo isso. Inesperadamente se sentiu velha, mais velha do que realmente era. Quando se lembra de tudo o que passaram, lgrimas escorrem por sua face. Atravs da cortina de suas lgrimas, v Charles sair do banheiro, seu cabelo ainda molhado do banho, a toalha amarrada em sua cintura e o mundo para de girar. Seus olhos o acompanham enquanto ele cruza o quarto em direo penteadeira, pairando atrs dela, seus olhos se cruzando atravs do espelho. Ele sorri doce para Morgana e como se toda dor que eu sentisse fosse embora. Seu cabelo to lindo, voc to perfeita! sua voz suave como um. Ele pisca vrias vezes e seus olhos percorrem seu corpo avidamente, abaixa- se e diz bem prximo ao seu ouvido, abraando-lhe por trs: Ah Morgana, quero toc-la por inteiro. Quero voc! Ele gira a cadeira e de repente est virada em sua direo, desliza as mos por seu quadril, subindo e descendo e o frgil n de sua tolha se desfaz, o puxa em sua direo, pressionando levemente a boca contra sua barriga. Charles agarra sua nuca e a beija mantendo-a irme no lugar, enquanto suas lnguas se exploram. Ela se levanta, e quando seus corpos se tocam, sente o calor que vem do teu corpo, misturado ao calor do seu e todo frio se esvai. Almas em sintonia se reconhecem e quando isso acontece no existem limites. Tome posse do que teu, Charles. Tenha-me, guia-me ao teu rumo! sua voz provocante e sedutora, as batidas de seu corao chegam ao mximo. Ele agarra sua cintura e a beija novamente, Morgana passa os dedos pelo cabelo dele, intensiicando o beijo, empurrando-o contra a parede, pressionando o corpo contra o dele. Ele lana-lhe um olhar contundente que a faz estremecer por dentro, segura em seu queixo e ordena, sua voz ressoando claramente: Olha em meus olhos, Morgana, deixe que eles digam o quanto eu te desejo! Olha para mim, Olha para mim, enquanto te fao minha! ela prontamente obedece, encontrando naqueles lindos olhos sua alma, sua metade, a parte que lhe completa. E de repente quando tudo se encaixa, e esto no auge de suas emoes e sensaes, esquecem-se do mundo. Ela beija suavemente o canto de sua boca, depois o outro, ele fecha os olhos, esperando, ento o beija por completo, sua lngua encontrando suavemente a dele em um beijo sensual. Ele abre um sorriso contagiante. Voc insacivel, mulher! ele ica srio. Sua voz, dessa vez, sedosa: Eu te amo, Vida! ele diz. Ela sussurra comovida com a intensidade de suas palavras: Tambm te amo! responde. Charles no desvia o olhar dela, um minuto sequer, Morgana beija seu peito, roando o dente de leve, ele se contorce, gemendo. Ela desliza a mo em seu abdmen deinido, sua musculatura estremecendo sobre seu toque. Ele comea a se remexer, gemendo, mal conseguindo se controlar. Charles se vira bruscamente, seus olhos buscando os dela, cheios de um desejo obsceno, ele se ergue, e tudo o que sente a pele dele na sua.
Quando acorda, sente a cabea pesada, pelas grandes vidraas do quarto, brilha a luz alaranjada do pr do sol de Outono. Bom dia, amor da minha vida! Trouxe o caf da manh! Charles diz com vivacidade. Morgana d um imenso sorriso diante de sua atitude carinhosa. Bom dia, querido! olha radiante para ele, mal conseguindo conter suas emoes. Estava mesmo com fome, nos ltimos dias no havia conseguido se alimentar direito, mas agora seu organismo cobrava dela essa falta de energia. To bom ver novamente um sorriso em seu rosto, amor! diz ele, com os olhos clidos e afetuosos, erguendo seu queixo lhe dando um suave beijo. O caf est delicioso, rapidamente devora tudo. Charles a observa, ele sorri transmitindo tranquilidade, os olhos brilhando ao lhe fitar. Sonhei com voc novamente, Morgana. Te encontrar agora apenas questo de eu fechar meus olhos. sua voz falha de tanta emoo, ela tenta conter as lgrimas que teimam em surgir nos seus olhos, mas elas descem por sua face. Charles segura seu rosto entre as mos e enxuga suas lgrimas com os polegares. No Vida, no quis te fazer chorar, por favor, quero ver um sorriso nesse seu belo rosto! sua voz soa melanclica. Voc me faz to feliz Charles, Eu amo tanto voc! diz com um olhar intenso e ardente, sua expresso se suaviza, seus olhos agora brilhando. Charles subitamente a levanta da cama e vai em direo vitrola e uma linda msica comea a tocar, a letra dizia:
"Ento eu vi seu rosto Sei que finalmente sou seu Encontrei tudo Que pensei ter perdido antes Voc chamou meu nome Eu vim at voc em pedaos Ento voc pode me completar
Eu tenho estado incompleto Mas voc d sentido para minha vida Como pedaos de um quebra-cabea em suas mos." (Banda Red - Pieces)
Charles segura gentilmente em sua cintura, e danam. Ele se inclina para frente e beija languidamente sua testa, seu nariz e sua boca, se deliciando com cada parte do seu rosto. Era mesmo impressionante como foram feitos um para o outro. Seu amor por ele to forte, to intenso, que sente as lgrimas surgirem do fundo dos seus olhos e escorrerem por seu rosto. Charles beija suas plpebras, polidamente. O sol surge, entra pela janela e bate diretamente neles. Mais um dia est se iniciando. Sentia-se leve e sonolenta, foi uma noite e tanto! Charles entrelaa os dedos nos seus e a guia novamente at a cama. Ele se deita ao seu lado, e icam observando pela janela, o sol nascer lentamente no horizonte, lanando luzes alaranjadas e azuis sobre o quarto. Descansa sua mo sobre seu peito, ele a abraa e ela fecha os olhos, entrando no mundo dos sonhos que jamais sero melhores do que a realidade. 12 Almas Gmeas
Cidade de Atenas, 1218 A.C
Sculos antes da Dinastia Pendragon pensar em existir sob a face da terra, as almas de Morgana e Charles se encontram mais uma vez na Grcia Antiga, uma Era conhecida por seus Deuses Olimpianos e Criaturas Mitolgicas. Charles Theseus, um campons, ilho de pescadores, que vive numa aldeia com sua me e sua irm nas montanhas ao redor da Cidade de Atenas. Um homem humilde e trabalhador, mas de corao herico, generoso e altrusta. Todos os dias ele trabalhava duro para conseguir o sustento de sua famlia, velejava em alto mar pescando ou atravessava a perigosa loresta em busca de algo que pudesse caar e matar a fome de sua famlia. Morgana Helena, uma Sacerdotisa, adoradora da natureza e da Deusa da Terra, Nyx. Ela vive uma vida simples na loresta, juntamente com os demais de sua raa. Helena uma mulher reclusa e pura, vivia de sacricios e orao Me Nyx, para que ela sempre os abenoasse com a fertilidade da terra e izesse brotar ervas encantadas e medicinais. As sacerdotisas da loresta no eram bem vistas pelos cidados de Atenas, eles temiam seus poderes e acreditavam que elas tinham controle sobre a vida e a morte. Realmente elas possuam, mas era um feitio muito poderoso e Tnato, o Deus da Morte exigia um sacricio humano em troca ou isso poderia alterar o curso da vida de uma forma irreparvel, trazendo terra uma grande maldio. A loresta era o lar de todas as criaturas mitolgicas, alguns viviam em harmonia com as sacerdotisas, outras nem tanto. Mas seu maior inimigo era o Rei de Atenas, Egeu, que caava as sacerdotisas sem piedade. Ele no entendia e no aceitava sua magia e nem sua adorao Deusa, que era muito temida pelos humanos, e devido a isso, considerava-as uma ameaa constante. Muitas sacerdotisas foram mortas de forma cruel por ele com o passar dos anos, e esse era um dos motivos de elas viveram escondidas na floresta, l elas geralmente estavam protegidas de sua fria. Em um dia como outro qualquer, Morgana tem um sonho... um sonho onde tem a comprovao de que ela e Charles realmente j se encontraram em outras vidas:
"Em toda lua cheia, as sacerdotisas se colocavam em procisso e atravessavam a loresta meia-noite para chegarem at o Orculo que icava prximo cidade de Atenas. L faziam suas oferendas e pedidos Me Nyx, a Deusa da Noite. Era um caminho extremamente perigoso e devia ser feito em silncio absoluto e na escurido total, para que no despertassem a ateno das criaturas que l residiam: Centauros, Ciclopes, Ctnicos, Drages, Ernias, Gigantes, Grgonas, Harpias, Helades, Lmias, Ninfas, Frias, Nereidas, Stiros, Grifos e Musas. Alguns eram criaturas amistosas, defensores das rvores e da loresta, outros eram criaturas extremamente selvagens e hostis. Muitos j morreram nesse percurso, mas ele precisava ser feito. O simples pensamento causava arrepios em Helena. Olhou para o lado e s via escurido, de uma forma ou de outra era reconfortante. Olhou novamente para frente, deveria prestar ateno no caminho que vinha a seguir, e no se deixar levar por distraes, a vida de muitos dependia disso. As criaturas que viviam na loresta eram em sua maioria cegas noite e eram guiadas pelo barulho e pelo olfato. Um msero barulho poderia despertar a ateno de um bando, caso o mesmo estivesse nas proximidades. O dia j estava amanhecendo no horizonte, em breve alcanariam o seu destino. Seria um dia cinza, algumas nuvens escuras se insinuavam na direo leste. Um vento forte atravessou a loresta, fazendo com que algumas rvores se remexessem com fora e isso no era nada bom, ainda havia caminho a ser seguido adiante. Um galho enorme de uma rvore caiu bem na sua frente, a centmetros dela, fazendo um estrondo imenso e separando-lhe do grupo. Sente seu corpo ser atravessado pelo medo. Algo se move na loresta ao seu lado esquerdo, algo gigantesco, capaz de sentir seus passos vindo a sua direo. Colocou a mo na boca reprimindo o grito de pavor que se formava em sua garganta. Procurou um lugar para se esconder, mas j era tarde demais, a criatura j havia farejado seu cheiro. Ela avanou em sua direo a passos largos, ouviu galopes. Era um Centauro, uma das criaturas mais vorazes que habitavam a loresta. Seria seu fim. Estava em choque, paralisada no lugar. Fechou seus olhos, j podia sentir a criatura bem prxima de si. Sua boca ica seca, seu corao batendo forte no peito. A criatura anda vagarosamente, pairando bem na sua frente, agarra-a com seus braos humanos, prendendo-lhe e comea a cavalgar novamente, dessa vez, mais rpido. De repente, v a criatura arfar de dor e cair ao cho, por pouco a esmagando. Ela est morta. Tenta levantar, mas uma de suas pesadas patas traseiras caram sobre suas pernas. Ela gritou de dor, est ferida. Leva a mo aos lbios novamente, silenciando-se, algum se aproxima dela, ouve passos ao redor. Engole em seco. Sente que vai perder a conscincia, braos fortes e geis a tiram com cuidado de debaixo da criatura, carregando-lhe no colo e rapidamente levando-a por entre os caminhos desconhecidos da loresta. Impressionantemente no sente medo, sente-se segura, algo lhe diz que no corre perigo. Desmaia. No consegue ver mais nada. Theseus olhava ixamente para a mulher deitada na sua cama, desacordada j h dois dias e um sentimento profundo o invade, um sentimento de carinho e cuidado. Queria proteg-la de todos os males que podem existir nessa terra. Queria que ela fosse sua. Mas no queria penetrar somente teu corpo, queria ir dentro dela, onde nenhum homem jamais esteve: queria morar no seu corao e no seu pensamento. Nunca em toda sua vida conhecera uma mulher to bela quanto a que est sua frente. Seus longos cabelos eram cor de fogo, seus lbios sensuais e tentadores, sua pele alva e macia, seus olhos de um azul turquesa. Aproxima-se dela, querendo toc-la, querendo deslizar suas mos naquele corpo. Balana a cabea, como pde sentir tudo isso, se nem sequer conversara com ela? Percebe seu corpo ser atravessado pelo desejo. Senta- se na cama e as costas de suas mos deslizam sobre a pele sedosa de sua face. Ela ainda est com febre, olha para o ferimento em sua perna, ainda est um pouco infeccionado, mas bem melhor do que quando a encontrou na loresta. Lembrou-se da sensao que teve quando pensou que ela no fosse sobreviver, e um sentimento de angstia e medo toma conta de si. Ainda bem que chegou a tempo e atravessou sua lana naquela criatura maldita. Morreria mil vezes pensando no que poderia ter acontecido a ela. Providencialmente estava ali na floresta caando e pde salv-la. Deitou-se na cama ao seu lado, involuntariamente, ela se inclina sobre ele. O contorno de seu corpo o pressionando , todos os seus sentidos icam aguados. Sente-se o pior dos homens, como pde ter esse tipo de pensamento com ela to doente e fragilizada? Ele nem sequer sabia seu nome. Ela o abraa, puxando-o forte contra. Todas as vezes que se deitava ao seu lado, ela agia dessa forma, inconscientemente, parecia to perdida e vulnervel. Relaxa e aproveita o calor em volta do seu corpo. Adormece.
Helena sente um mal estar terrvel, sua perna direita di muito, ela no consegue se movimentar. Quer acordar, mas no consegue abrir os olhos, um simples feixe de luz faz sua cabea doer muito. Sente uma presena, o homem que lhe salvou. Todas as noites ele se deita ao seu lado, e to bom sentir seu calor. Onde est, no sabe dizer. Fora sua memria para se lembrar de algo, s se lembra de ter icado sozinha na loresta e ter sido atacada por um Centauro, o restante s escurido. Estremece de frio ou de desejo, no sabe especiicar. Theseus, esse seu nome, lembra-se de ouvir algum o chamando,, na verdade, discutindo com ele: "Theseus, como voc foi capaz de trazer uma bruxa para dentro de nossa casa ?" A voz de uma mulher de meia-idade ressoou na sua mente. Ela estava certa, todos corriam risco com sua presena ali, inclusive Helena. Estava muito perto da cidade, muito perto do perigo. Se eles fossem descobertos acolhendo uma "bruxa" eles seriam condenados junto com ela como cmplices. No podia permitir isso, ainal, deve sua vida a ele. Infelizmente no poderia icar, precisava melhorar logo e ir embora para junto dos seus. Theseus esfrega os lbios no seu rosto, na sua boca, na sua orelha e desce para seu pescoo. Desperte minha bela, quero ver novamente esses seus lindos olhos! Eu quero voc, estou louco por ti! sussurra ele, a respirao quente contra seu pescoo. E como se fosse um chamado, seus olhos se abrem e encontram os dele.. Ele abre um sorriso largo, revelando dentes perfeitos entre seus lbios macios. Ele o sinnimo da perfeio, sua pele azeitonada em contraste com seus belos olhos dourados, seu maxilar bem delineado, seus cabelos to negros como uma noite sem luar caem delicadamente por seus ombros, seu corpo musculoso pressionando o dela, uma vez, duas vezes, trs vezes Voc to linda! sua voz suave e sedutora, sua expresso apaixonada. Sente o arrepio que sua mo provoca por onde passa e sua boca se abre involuntariamente. Seus olhos brilham de forma selvagem. Ergue o rosto para ele, seus lbios encontram os seus novamente e se beijam. Quero voc, por favor, seja minha! murmura ele, passando a mo na sua coxa, seu tom de voz suave e enfeitiante. Sim... sou toda sua! O que sente to intenso que as lgrimas brotam em seus olhos. Estou apaixonado por voc! ele diz, sua voz transbordando sinceridade. Theseus lentamente senta-a na cama, enquanto traz algo que ela possa comer, realmente est com muita fome. Por favor diga-me seu nome, para que ele ique guardado na minha memria e possa ser a razo para que eu desperte todas as manhs, a razo para que eu possa viver. Helena. olha admirada para ele mal contendo as lgrimas. Se acalme, minha bela, voc est a salvo. sua voz suave. Respira profundamente tentando se acalmar, mas sabe que ser impossvel icarem juntos, so de mundos muito diferentes, alm de que, no quer lhe colocar em risco, no seria justo, no o homem que ama. Sim, o ama com todo seu corao. Theseus, eu no posso icar aqui, estou colocando voc e sua famlia em risco. sua voz falha na ltima palavra. Ele suspira, exasperado. Por favor, Helena, no me deixe... ele para, provavelmente perdido nas palavras. Ele a beija, e isso era tudo o que queria, sentir sua boca na dela e retribui apaixonadamente, enquanto ele a deita novamente na cama.
Amanheceu e Helena ainda est nos braos de seu amado. Sente-se bem melhor, quase que totalmente recuperada. Theseus dorme profundamente, provavelmente no deve ter dormido nada nesses ltimos dias cuidando dela, ento decide no acord-lo. Levanta-se a im de procurar algumas ervas para que possa fazer um ch. Anda a passos lentos, sua perna incomoda um pouco e ainda est mancando. Sai do quarto e depara-se com a rstica cozinha da casa, um fogo lenha no canto inferior direito, uma pequena mesa rodeando a lateral da parede e algumas cadeiras espalhadas. Dirige-se ao fogo, acende o fogo usando uma palha e ele crepita fraco, mas o suiciente para que possa ferver um pouco de gua. Algum entra na cozinha rapidamente e agarra seu cotovelo com fora, fazendo-a arquejar. a mulher de meia-idade, provavelmente deve ser a me de Theseus. O que voc quer aqui, bruxa? ela coloca nfase na ltima palavra, deixando bem claro sua repulsa. Eu.. eu.. arregala os olhos, no conseguindo dizer sequer uma palavra. Nesse momento uma jovem mulher adentra no recinto olhando toda a cena e coloca a mo na boca horrorizada, totalmente sem reao. Vejo que voc j pode andar, est recuperada... a mulher de meia- idade faz uma pausa, olhando-a com desdm de cima abaixo. Ela prossegue: Voc quer nos condenar morte, isso o que voc quer? Helena balana a cabea desesperada em sinal de negativo, ela continua: Ento ponha-se daqui para fora agora! sua voz eleva-se trs tons acima do normal, ela est furiosa, mas no consegue sentir dio ou rancor da mulher que est sua frente, ela s quer proteger sua famlia, nada mais. Theseus entra na cozinha gritando e sua voz ecoa alto nas paredes. Solte-a me, ela minha! a mulher olha incrdula para o ilho, coloca a mo no peito como se sentisse uma dor profunda. Essa bruxa te enfeitiou, Theseus, voc no consegue ver isso, meu ilho? sua voz soa baixa e sufocada. Theseus vem em sua direo, e solta a mo de sua me do seu brao que ica avermelhado e dolorido pela fora que ela exerceu nela. Respira fundo e aperta os olhos, tentando inutilmente reprimir algumas lgrimas que teimam em brotar. Theseus acaricia o local marcado e a abraa. Olha envergonhada para a mulher, seus olhos so suplicantes, desesperada ela se ajoelha no cho e comea a chorar. Sente pena dela. Theseus, sua me est certa, eu no posso icar, preciso partir... uma nica lgrima brilha sob seus lindos olhos cor de fogo, a splica velada em seu olhar. Sente-se pestanejar, derretendo-se por inteiro, mas no pode ficar, tem que ser firme, precisa proteg-lo. Eu vou com voc, Helena. ele disse receoso, numa ltima tentativa desesperada de no deixar-lhe ir. Olha para ele com ternura. Meu querido, sua famlia precisa de voc. Se for nosso destino icarmos juntos, nos reencontraremos novamente. sua feio atravessada pela dor, Helena se sente morrer por dentro. Vai at a porta de sada, olha para trs, Theseus d dois passos para frente, ela levanto a mo, parando-o, e sai para fora. Para na soleira da porta, hesitante, no quer partir, mas preciso. Quando se tem tanto medo de ir embora porque vale a pena icar. Na mesma hora v uma lecha passar a centmetros de seu rosto e atravessar a parede rochosa ao seu lado. Instintivamente, ela grita. Uma mo segura sua boca com fora e lhe arrasta para longe dali, aprisionando-a. Theseus aparece na porta, s a tempo de v-la sendo levada. Vrios soldados o rodeiam, ele no consegue fazer nada, somente lutar bravamente por sua prpria vida. Sente-se fraca e desmaia nos braos do seu algoz.
Os dias vo se passando lentamente, e Theseus no sabe o que fazer para salvar sua amada da morte. Ela foi aprisionada pelos homens do Rei Egeu, seu pai. Sim, ele era o ilho bastardo do grande Rei de Atenas. Egeu casou-se com duas mulheres, mas no teve ilhos com nenhuma delas. Doente, e temendo perder o trono para seus irmos, Egeu se hospedou nas montanhas e mandou que lhe enviassem a camponesa mais bela de todas: sua me. O rei ordenou mulher que, se caso ela tivesse um ilho homem, que s revelasse sua paternidade a ele quando atingisse a maioridade e tivesse foras suicientes para erguer a enorme pedra onde ele escondeu uma sandlia e uma espada que pertenciam sua famlia. Theseus ento deveria ir em segredo at Atenas, portando a espada e calando suas sandlias. E assim sua me o fez, quando ele tinha a idade de 18 anos, ela lhe contou suas verdadeiras origens, mas Theseus sentiu um dio tremendo e renegou o pai. Agora que seus homens haviam prendido sua amada, o dio inflamava mais ainda em suas veias. A luz do entendimento tomou conta de Theseus, essa era a soluo: ele teria que matar seu pai e tomar o trono para si, somente assim poderia ter a autoridade suiciente para salvar sua amada da priso e acabar com a guerra contra as sacerdotisas, somente assim poderiam icar juntos. Ento ele partiu, deixando seu lar e sua famlia. Theseus ergueu a enorme pedra antes movida por seu pai e recuperou a espada e as sandlias, agora elas pertenciam-no. Ele seguiu a estrada que levava Atenas. Em sua viagem, chegou a Epiadouro onde encontrou Perifetes, ilho de Hefesto e de Anticleia. Perifetes. Assim como seu pai, era manco e usava sua muleta como clava para matar os peregrinos que iam para Epiadouro. Theseus o matou com a sua prpria muleta/clava e guardou-a como lembrana de sua primeira vitria. Theseus passou por vrias outras batalhas, entre elas, lutou uma vez com Snis, gigante filho de Poseidon, que amarrava seus inimigos em um pinheiro e os arremessava contra as rochas, envergando os at o cho. Theseus fez o mesmo com Snis, matando-o e prosseguiu em sua viagem. Quando Theseus chegou a Atenas j era conhecido pelos seus feitos, mas o rei Egeu no sabia que ele era seu ilho. Medeia j estava instalada no palcio real depois de fugir de Corinto aps o assassinato de quatro pessoas, inclusive, seus dois ilhos. Medeia sabia da identidade do heri, mas no contou a Egeu e, sim, convenceu-o a matar o forasteiro, que poderia ser uma ameaa ao seu reinado. Colocou veneno no vinho e ofereceu ao visitante ilustre. Theseus tirou a espada para seu conforto mesa e Egeu a reconheceu, evitando assim a sua morte. Medeia mais uma vez foi expulsa de um reino e Theseus foi condecorado Rei de Atenas, imediatamente, devido ao fato de seu pai estar beira da morte, com sua doena se agravando cada vez mais com o passar dos anos. Ele morreu dez dias aps a coroao de Theseus. Agora seu caminho estava livre. Ele poderia enfim resgatar sua amada da priso e faz-la sua rainha.
Theseus sobe rapidamente as escadas da mais alta torre do Castelo de Atenas, onde icam os calabouos e aqueles que so prisioneiros. Entrou sem nenhum impedimento, agora era o rei. O lugar era horripilante, impossvel de escapar. A iluminao reduzida, o odor insuportvel, o cho e as paredes imundas, a atmosfera sufocante, cheia de medo e apreenso, o silncio infernal , nenhum ser humano deveria ter que viver numa situao dessas, principalmente, um inocente. Sente um aperto no peito, queria que Helena jamais tivesse que passar por isso, mas seu sofrimento estava chegando ao im e ele estava louco para reencontr-la, seu corao mal cabia no peito. Apressou-se, queria tir-la dali o mais rpido possvel, mesmo assim demorou a chegar. Ela estava no ltimo andar, na ltima cela, aquelas destinadas aos piores criminosos. Encolheu os ombros, sentindo vontade de chorar de repente, para que tanto dio? Comeou a correr, subindo rapidamente as escadas, a urgncia invadindo-o, at que enim chegou ao seu destino e estava a dois passos de sua cela. Deparou-se com uma cena horrvel. Estava em choque, pensou que no fosse suportar v-la jogada na cela daquela forma to miservel, to sub-humana, num canto qualquer, como se no valesse nada. Ela era tudo. Suas mos tremiam, tentou abrir a cela o mais rpido possvel, mas as chaves caram no cho, abaixou-se e tentou se concentrar, e enim conseguiu abrir a maldita da grade. Correu em sua direo, ela estava encostada na parede e parecia desacordada, havia grilhes prendendo seus ps e suas mos e com certeza ela estava desnutrida e desidratada. No estado em que se encontrava, ela no duraria muitos dias. Sentiu um arrepio percorrer sua espinha com o simples pensamento. Rapidamente, soltou-a das correntes e a carregou, aninhando Helena no seu colo. Ela gemeu, parecia estar sentindo muito dor. Seus pulsos e a parte superior de suas pernas estavam extremamente feridas devido aos grilhes. Se pudesse, ele tomaria toda sua dor para si. Ela faz um esforo hrculeo e seus lindos lbios sussurram seu nome. Andou o mais rpido que pde, levando-a aos seus aposentos reais para que pudesse cuidar de seus ferimentos. Sentada no trono do Castelo de Atenas, Helena gira metodicamente o anel real de casamento que est na sua mo esquerda. Um anel primoroso, quatro pedras formam uma rosa com um solitrio no meio, em uma garra inamente elaborada, com brilhantes de cada lado. Hoje uma rainha e seu povo est livre! Theseus considerado por todos, um verdadeiro heri, no somente por seus feitos, mas por seu corao bondoso e generoso. Theseus organizou um governo em bases democrticas, reunindo os habitantes da loresta, fazendo leis sbias e teis para o povo. Tudo corria bem e os Atenienses estavam felizes. Ela estava orgulhosa do homem que se casara, ele mudou e salvou no somente sua vida, mas milhares de vidas inocentes. Era um homem justo e honrado. Theseus est sentado no seu trono de rei ao seu lado, ele estende a mo na direo da dela, segurando-a fortemente. Voc est linda hoje! ele beija sua mo. Venha! diz ele, levantando-se e estendendo-lhe a mo, seus olhos so calorosos e convidativos, e leva-a para o quarto. Vida, voc minha Vida! sussurra ele contra sua pele. Helena tem uma sensao estranha, um sentimento intenso invade seu peito, como se fosse uma doce lembrana de tempos passados. Ela j ouviu algum lhe chamar assim antes, ser que j se reencontraram em outras vidas? Eu amo voc, Theseus! diz a ele que responde com um sorriso travesso. Ele a beija. Voc est em mim, Helena, nos meus sonhos, dormindo ou acordado. Eu vou te amar para sempre! agarra-o pela camisa, puxando-o para si e ele a beija como se sua vida dependesse disso. 13 Sempre ao seu lado
Os dias custavam a passar, o tempo corria lentamente, torturando-a sem piedade. Dois dias sem Charles. Morgana procurava se manter ocupada durante o dia todo, evitando o pensamento que lhe atormentava, tentando controlar o desejo que incendiava seu corpo. Por vrias vezes cedia ao inconsciente que martelava sua mente j frgil, quebrava suas barreiras e o nome de Charles tomava conta novamente do seu pensamento. Sentia que j no tinha mais controle de nada, seu corpo, seu corao e sua alma j no mais lhe pertenciam. Eram de Charles, para que izesse o que bem entendesse, ela j no era mais capaz de lutar contra esse amor trrido, delicioso e totalmente devastador, esse desejo incontrolavelmente tentador e dominante. Sentia-se tonta e suas pernas bambearam, segurou-se rapidamente na bancada da cozinha, o que no ajudou muito, pois trouxe somente mais lembranas dos dias que se passaram, ele havia lhe feito sua ali mesmo. Ela deslizou suas mos no mrmore frio e liso e as lembranas invadiram sua mente como uma forte tempestade de vero em um fim de tarde...
Charles estava na cozinha, sem camisa, preparando algo delicioso para eles. Ela estava deitada na cama, usando somente sua camisa de linho branca, o decote em V exibindo-a quase que totalmente, caindo delicadamente em seu ombro. Levantou-se, foi ao seu encontro, e o abraou por trs, sussurrando no seu ouvido esquerdo: Quero voc! Charles virou-se com um sorriso maldoso e sensual nos lbios. Ele a agarra pela cintura, sua boca beijando os seios dela por cima do linho delicado e macio da camisa, murmurando seu nome com venerao. Ele a joga na bancada, o tampo frio fazendo-a arrepiar por inteiro, segura-se irmemente nele. Inclinando-se ele beija seu ombro, desliza as mos por suas costas e retira a camisa, deixando-a totalmente nua, suas mos continuam descendo a linha da sua coluna, solta um gemido automaticamente e abre mais as pernas, arfando de tanto desejo e ansiedade. Quando d por si, ele est a preenchendo, completando-a.
No consegue mais se segurar, todas as suas foras se esvaem nesse momento. Olha para o relgio, j tarde da noite e nada de Charles chegar, mais um dia de espera, no havia nada que izesse que a distrasse agora. Ela precisava de um banho. Foi at o banheiro, retirou toda sua roupa e entrou no chuveiro, deixando que a gua morna casse nela, fecha os olhos e perde a noo do tempo. Mas no foi suiciente para acalmar seus pensamentos, seu corpo todo desejando Charles. Pisca para que seus olhos se ajustem a luz fraca, olha novamente para a imensido do quarto e nada mudou, continua sozinha, essa ser sua rotina a partir de agora. Longa espera. No podia mais se controlar, deitou-se na cama, olhando ixamente o teto, e comeou a chorar, liberando toda dor que estava dentro de si, Charles abre repentinamente a porta do quarto, entrando com um semblante confuso, provavelmente deve ter ouvido seu desespero. Vida o que aconteceu? Ah Charles, senti tanto sua falta... Quero tanto voc! ele entende e sua expresso muda de desesperada para sensual, seu corao quase sai pela boca. Ele vem sem pressa em sua direo, retira seu sapato, os ps descalos ressonando contra o piso de madeira, ele est sem armadura, muito sexy de camisa de linho vermelha e calca preta, ele abre seu sorriso mais presunoso. Pensando em mim Morgana? Charles diz. Olha-o com desejo e ele continua: Pois eu pensei em voc o tempo todo, nesse seu corpo... Sua boca... Quase no consigo trabalhar. ele percorre seu corpo com a ponta dos dedos e ela estremece da cabea aos ps, enquanto ica atenta a cada movimento seu. Charles segura fortemente seus pulsos, prendendo- os na cama. Voc tem ideia do quanto linda, Morgana? seu olhar sustenta o seu, sente seu corao acelerar, ele continua: Tem ideia do quanto eu desejo voc? seus olhos ardem em fogo, ele sorri maldosamente, segurando seu queixo, enquanto captura sua boca e ela se entrega ao seu beijo ardente. Ele prende seu lbio inferior com os dentes. Ele para, perguntando: isso que voc quer Morgana? sussurra. Eu quero voc! murmura para ele, abrindo o fecho de sua cala, ele se levanta e a faz deslizar suavemente sobre suas pernas musculosas, dizendo: Eu j sou seu, Morgana, sou seu desde o momento em que te vi pela primeira vez! sua voz transmite uma sinceridade apaixonada. Charles agarra seu ombro e a joga com fora na cama, fazendo-a sua, colocando im a sua espera, longa espera. No inal est enroscada nos seus braos, suas pernas entrelaadas nas dele.
Caminhar a acalmava! A brisa fria da manh sobre o rosto, o fraco calor do sol, a sensao de liberdade... Tudo era maravilhoso e a vista magnica. Cornualha era realmente um belo reino! Gael e Evanora governavam com amor e respeito ao seu povo e todos eram felizes aqui. Nimithiel andou por mais alguns minutos, parando bem no centro da loresta. A mata era extensa e bem verde, quase bloqueando os raios do sol. Aproximou-se do lago, bebendo um pouco de sua gua e ento pde ouvir passos em sua direo. Ps-se em posio de combate, pronta a lanar fogo no inimigo, quando escuta o bater palmas. Confusa, baixa um pouco a guarda. Impressionante como apesar de viver trancaiada naquele castelo, rodeada de melosidades, voc preservou seus instintos guerreiros. Ele sabia quem ela era! Lanou fogo quando ele ameaou se aproximar. Ele levantou as mos e deu um passo para trs. Deve ser uma situao muito triste. Crescer com essa aparncia, mas at que para uma mulher deformada, voc est muito bem! o desdm em sua voz se tornava cada vez mais audvel. A raiva tomou conta de si, queria gritar, queria lhe responder altura, queria dizer que estava errado, que no era nada do que ele acabara de dizer, mas para sua infelicidade, ele estava certo sobre tudo. Olhou ixamente para aqueles olhos frios, deu dois passos para trs e correu em direo ao castelo de sua me. A noite estava to quente quanto o dia, o ar estava denso ao redor. Horas depois, Gael e Evanora chegaram ao castelo para a pequena recepo que Morgana e Charles izeram para a visita deles, os cavaleiros j bebiam animados na mesa lateral da sala da estar, e apesar de serem da realeza, no havia entre eles qualquer tipo de hierarquia, todos eram tratados com igualdade. Gael chegou mesa e cumprimentou a todos, mas no se sentou junto a eles. Evanora trazia Thomas nos braos que infelizmente j havia dormido, devido ao adiantar da hora. Morgana pegou-o no colo e o levou ao quarto para que dormisse mais tranquilamente, diante daquela barulheira toda que estava na sala. Quando retornou, Gael a aguardava srio e cabisbaixo sentado no sof ao lado de Evanora. Ela afagava gentilmente suas costas, Gael icou segurando sua mo acariciando-a com o polegar. Aproxima-se deles, preocupada. Ele se vira na sua direo, solta relutante a mo de Evanora e segura as de Morgana, ele abre os olhos e a encara por um tempo que parece uma eternidade. Nosso pai est morrendo, Morgana, e ele clama por voc o tempo todo, implora que voc v v-lo. Parece que ele s est esperando isso para que possa descansar em paz. Eu sei que ele errou muito, minha irm, mas todos ns erramos. Por favor, v visit-lo. sua voz parece sem entonao. Prende a respirao, lembranas de um passado no to distante surgem em sua mente. Olha para Gael, v a inquietao estampada em seu rosto alito, e um sentimento dbeo lhe invade. Apesar de tudo que Gorlois a fez sofrer, ela deve isso ao seu irmo. Sim, meu irmo, irei visit-lo amanh mesmo. Morgana diz com o io de respirao que ainda lhe resta. Gael concorda com um gesto de cabea e agradece, levanta-se e vai em direo onde os cavaleiros conversam calorosamente. Thomas chora no quarto ao lado e Evanora vai ao seu encontro, deixando-lhe, enim, sozinha com seus pensamentos. Desde que havia retornado Cornualha e deixado escurido para trs, ela nunca tinha ido visitar Gorlois. J fazia alguns anos que ele jazia doente numa cama, e sabe que boa parte da culpa disso era dela, apesar de tudo, ele ainda a amava, e quando ela fugiu daquela maneira, sua sade nunca mais foi a mesma. Gorlois entrou em depresso profunda, e passava a maior parte do tempo deitado em uma cama. Seu estado s piorou com o passar dos anos, mas mesmo assim ele juntou todas as suas foras que tinha para liderar o seu exrcito na Guerra de Nortmbria, o que ocasionou em uma ferida de combate que no quer cicatrizar. Sente-se vazia e angustiada diante desse pensamento, mas ainda no estava preparada para enfrentar isso. Despertou de seus meneios ao ouvir uma conversa alta vindo da mesa, seus olhos encontraram os de Charles que percorriam seu corpo de uma forma intensa. Ele estava alheio a tudo ao seu redor, e a encarava com ardor. Sua mente se apaga, todo pensamento se esvai dela, e somente Charles a ocupa nesse momento. Um desejo lancinante lhe invade, como ele pode despertar tantas sensaes com um simples olhar? Fecha os olhos e suspira profundamente, imaginando sua boca na dela e a sensao de seus corpos colados. Ele se levanta e caminha a passos largos em sua direo, senta-se ao seu lado e sem dizer uma palavra a beija. O vu do tempo desaba, a luz na terra se esvai e s existem os dois. Vamos dar uma volta no jardim, Vida? fala ele, sem flego, em xtase. No vejo a hora de icar a ss com voc. diz tentando controlar sua respirao que se acelera quando o sente tocar sua pele. Ele se levanta, segura sua mo e sorrindo para os amigos, retiram-se da sala. O cavalo de Charles estava do lado de fora, os esperando. Morgana icou sem entender nada. O que aconteceu, Charles? Ela disse assustada. Estou te sequestrando! ele responde, rindo, claramente se divertindo com a situao inusitada. Fica hipnotizada com seu lindo sorriso, e o abraa carinhosamente. Sua mo desliza pela lateral do seu corpo e sua boca encontra a dela novamente, moldando os lbios junto aos seus. Preciso de ti para viver, Morgana, perteno a ti completamente. Seja minha e deixe que eu seja seu! Conia em mim? ele disse, segurando em sua cintura, colocando-a em cima do cavalo, e subindo logo em seguida, ficando atrs dela. Coniaria minha vida a ti Charles. responde e cavalgam em direo loresta, sem que ele dissesse o seu destino, ela no insistiu em saber, coniando nele plenamente. Ele tomou a estrada do chal que ganharam de presente de casamento. A noite estava clara e tranquila, mas icaram atentos a qualquer perigo. A adrenalina percorrendo seu corpo. O chal no icava distante, e na velocidade que estavam, logo o avistou ali perdido no meio da mata, enim chegaram. Ele a ajudou a descer e ela sentiu seu corpo delicioso percorrendo o seu, o desejo explodindo inesperadamente. Charles subitamente a pega no colo e entram no chal. O interior era simples, porm, agradvel e aconchegante, os mveis em tons marrons rsticos, algumas artes artesanais espelhadas pela pequena sala, uma lareira no canto superior e o cheiro da natureza. Charles toca em seu corpo, percorrendo todos os caminhos, preenchendo todos os espaos, deixando sua alma em tuas mos. Seus lbios a beijam voluptosamente, enquanto geme palavras incoerentes. Ele tira a camisa, oferecendo-lhe uma bela viso de seu corpo nu, ela o contempla, devorando-o com os olhos. Minha, s minha! ele diz, a voz parecendo um rugido, e deita-a na cama. Meu! ela diz, enquanto desenha o contorno de seus lbios com o dedo indicador. Ele se deteve apenas o suficiente para falar: Eu te amo, Vida, preciso de voc! Tambm preciso de ti, Charles, como o ar que eu respiro, mas se tivesse que escolher eu escolheria voc. Te amo tanto, te quero tanto! diz e aperta as pernas em volta dele e o empurra contra seu corpo. Ele a possui lentamente, e s nos braos dele que ela encontra o verdadeiro paraso.
Ainda estava escuro quando se lembra de que tinha que cumprir a promessa que havia feito ao seu irmo Gael, de que visitaria Gorlois em seu leito de morte. Seu corao se retorce devido ansiedade, no sabe como ir reagir perante essa situao. Ainda est deitada nos braos de Charles, seus dedos percorrem do seu peito, ele se retrai, mas ainda dorme profundamente. Fecha os olhos tentando reprimir o pavor que as lembranas lhe trazem. Novamente o destino vem lhe cobrar o perdo, e apesar de tudo, ela quer muito isso, quer se redimir por completo, no quer deixar mgoas e rancores, pois isso s lhe faz mal. Tenta reprimir um soluo, quem dera se fosse to fcil assim esquecer de tudo, mas ir tentar. O movimento respiratrio de Charles a acalma. Bom dia, amor! diz, e ergue o olhar para ele, piscando bastante para segurar as lgrimas, pois subitamente sente-se emocionada. Bom dia querido... diz com a voz embargada. Os olhos de Charles se anuviam e seu sorriso desaparece, sua isionomia demonstrando preocupao. Ei, tudo vai dar certo, Vida. ele afaga sua face com ternura. Irei com voc visitar Gorlois, se acalme. Obrigada, Charles. sua voz sai rouca e pesada devido s lgrimas. Ele se vira de lado e icam cara a cara, olhando-se diretamente nos olhos. Ele segura ambos os lados de sua cabea com delicadeza e limpa suas lgrimas com os polegares. O alvio a percorre. Suas bocas se encontram e seu corpo se mexe contra o dela, sente seu calor aquecendo o frio da sua alma e tem a certeza de que com ele ao seu lado tudo icar bem. Charles apaga a lamparina da cabeceira, fazendo-os mergulhar na escurido.
Morgana chega ao Castelo da Cornualha e anda resoluta pelos barulhentos corredores a caminho do quarto de Gorlois. Com Annabelle nos braos, ela olha para tudo com certa admirao, seus pequenos olhinhos percorrendo maravilhados todos os detalhes. Sente um frio na barriga. Infelizmente Charles no pde lhe acompanhar, ele acabou sendo convocado para uma diligncia na Cidade Baixa. Fica estagnada em frente porta do quarto de Gorlois, abaixa a cabea e tenta controlar o ritmo de sua respirao e seus batimentos cardacos. Annabelle a observa impassivelmente, e ela acaricia seu rosto com as pequeninas mozinhas, segura delicadamente uma mecha de seus cabelos e a enrola entre os dedinhos. Vov, vov. ela balbucia com a sua linda voz infantil, que lhe acalma instantaneamente. Ela aponta para a porta, encorajando-a a entrar, e assim o faz, depois de dar trs leves batidinhas. Entra e sente seu corao se enregelar, o quarto frio e austero, o cheiro da morte est em todo lugar. Arrepia-se por inteiro ao ver Gorlois naquela situao, ele sempre foi um homem to forte. Aperta sua ilha nos braos. V Evanora ao lado da cama. Que ironia! Uma das pessoas que ele mais rejeitou, agora era quem estava cuidando dele no im da sua vida. Ela o olha e sorri com candura. Muito nobre o seu gesto, mas no esperaria nada diferente vindo dela. Fica sem saber como agir e ela estende a mo em sua direo. Venha Morgana, ele est te esperando. ela diz e aproxima-se mais do leito. Morgana! Gorlois murmura seu nome com dificuldades. Estou aqui, Gorlois. tento manter a angstia em sua voz sob controle. Annabelle balbucia palavras desconexas. Gorlois abre os olhos e pisca vrias vezes. Ela se remexe no seu colo, querendo descer e a coloca sentada sobre a cama. Annabelle engatinha na direo dele, at alcanar o terrvel ferimento em seu peito, passa a mozinha no local e veem o ferimento se fechando rapidamente como se fosse um milagre. Arregala os olhos, incrdula, j havia visto isso acontecer muitas vezes nos seus sonhos, mas no assim, bem na sua frente. Ela se deita ao lado de Gorlois e v uma sombra de um sorriso cruzar seu rosto. Evanora observa a cena sem acreditar no que acabou de presenciar, suas sobrancelhas se enrugam de perplexidade. Gorlois a observa com admirao. Obrigado, minha pequenina, por tirar a minha dor. ele sussurra com a voz fraca. Annabelle est inerte situao brincando animadamente com um objeto que achou na cabeceira da cama. Infelizmente sente que o milagre que ela acabou de operar nele no ser suiciente, a ferida no foi a nica causadora de seu sofrimento, mas sim, a tristeza profunda e a falta de algo que o prenda vida. Annabelle pde curar seu corpo, mas no sua alma. Gorlois olha para Morgana, esttico, a dvida estampada em seu rosto, ergue a mo, preenchendo o espao entre eles, relutante a segura e ele se agarra ela como se fosse um bote salva-vidas. Gorlois est gelado, o calor e a vida esto esvaindo-se de seu corpo e ele comea a falar sem conseguir manter os olhos abertos por muito tempo. Faz um gesto pedindo a Evanora que leve Annabelle para fora, ela ainda muito pequena para encarar a face da morte. Morgana, minha ilha, eu fui um tolo, me perdoe, por muitos anos fui cego, te prejudiquei de formas que nem posso imaginar. Eu, num desespero louco coloquei tudo a perder. Se pudesse voltar no tempo.. ele faz uma pequena pausa para buscar as poucas foras que lhe restavam para falar. Mas eu no posso, sinto que meu tempo chegou ao im. Perdoe-me por nunca ter compreendido de verdade, por no ter te dado apoio quando precisou. No posso partir carregando a tristeza de no ter seu perdo, por favor, coloque fim ao meu desespero. Eu te perdoo Gorlois, v em paz. diz de forma sincera, o abrupto dio que ela sentia pelo homem que praticamente a criara j no existia e nem havia mais razo para existir. Ele sorri e abre os braos para ela. Relutante o abraa e descansa a cabea em seu peito. Sente subindo e descendo devagar e as batidas de seu corao cada vez mais fracas. No sei como te agradecer, ilha... sua voz vacila, repleta de gratido e adorao. No se esforce, descanse... pai, est tudo bem, est tudo bem.. responde, e sente seu corpo se retesar e endurecer-se, a mo que descansava em seu ombro se retrai e cai frouxamente ao seu lado, ele solta um profundo suspiro e sua alma deixa esse mundo. Rapidamente levanta- se, apertando a boca com a mo. Gael entra subitamente no quarto, e corre para lhe abraar. Comea a chorar. Magnus entra no quarto e Gael a leva para fora. Suas pernas perdem a fora e se senta lentamente no banco mais prximo. Gael se mantm forte e levanta-se para tomar as providncias necessrias para o velrio do pai, deixando-a sozinha. Lgrimas descem queimando por sua face. Pensou em todas as coisas que devia ter falado e no falou, mas agora tudo acabou. Lembrou-se de sua infncia, onde todos viviam felizes ali naquele castelo, e ela via Gorlois como muito mais do que um pai, mas como um protetor. Parecia inimaginvel que algum dia se encontraria perdida naquela escurido toda, no apenas perdendo a si mesma, mas o nico lar que conhecera. Balanou a cabea, tentando desanuviar os pensamentos de lembranas ruins, aliviada por pelo menos ter tido tempo de lhe dar o perdo, A partir de agora somente iro permanecer as boas lembranas. 14 Obsesso
Como que Morgana, o que o Charles fez contigo ontem noite?
Assustou-se com o tom de voz agudo de Elizabeth enquanto caminhavam pelas ruas lotadas da cidade. Annabelle soltou uma risadinha e bateu palmas no seu colo e ela beijou docemente sua bochecha. Olhou temerosa ao redor e as pessoas as encaravam com bastante interesse, um sbito silncio pairava no ar. Morgana abaixou a cabea e cobriu seu rosto com as mos, a vontade que tinha era de se eniar debaixo da terra ou sumir no ar. No quer falar mais alto, Elizabeth? Menos, mulher, bem menos... ela disse entre dentes, agarrando seu brao e saindo correndo dali. Assim que icaram sozinhas, olhou sria para ela, mas as duas caram na gargalhada. Essa era Elizabeth, sua extravagante, exagerada e muito divertida cunhada. Desde que ela chegou Cornualha h algumas semanas atrs, a identiicao foi imediata. Ela foi como um blsamo para Morgana aps o falecimento de seu pai, sempre a ajudando com as crianas e fazendo-lhe companhia quando Charles no voltava para casa. Acho que at as pessoas em Calendor te ouviram! disse enquanto seguiam na estrada que levava ao castelo. Ela a olhou e ri alto, sua risada nada discreta ecoando em todas as direes. Elizabeth era realmente uma mulher encantadora: Alta, curvilnea e sempre coniante. Era impossvel resistir sua beleza, carisma e vivacidade que conquistam imediatamente queles que esto ao seu redor, mesmo que s vezes ela consiga deix-los embaraados. No mandei voc contar suas intimidades com meu irmo. ela retrucou, lanando-lhe um olhar divertido. Ah ? Pensei que voc fosse minha amiga... diz e Elizabeth a olha sem acreditar. Claro que sou, cunhadinha! ela esbravejou com sua costumeira voz alta, cruzando os braos e fazendo um beicinho. Morgana aproximou- se dela. E isso inclui voc saber da minha vida sexual. diz baixinho. Mas ele meu irmo! ela disse com a voz mais alta ainda do que antes. Revira os olhos. Bom, ao menos preciso me lembrar de no fazer isso enquanto estivermos numa rua lotada. As duas riem novamente e seguem seu caminho. Era mesmo impossvel no se divertir ao lado dela.
Ricardo senta-se no cho batido de terra do lado de fora da cabana de Morgana, estava cansado de tanto espreitar o castelo dela e icar somente a observando, ele queria toc-la, queria t-la para si. Ela era sua obsesso e ultimamente sua nica razo de existir. Os lenis sujos da cama ainda guardavam o seu delicioso cheiro, e toda a noite dormia com a sensao de seu corpo sobre ele, nem que fosse s na sua imaginao, e ardia de desejo. Grossos pingos de chuva caram sobre o cho seco, um cheiro pungente de terra molhada invadiu suas narinas. Ah como adorava esse cheiro! Em poucos segundos estava completamente molhado, mas ele pouco se importava. Cada respirao que dava a dor em seu peito parecia aumentar, era uma dor fsica quase palpvel. As lembranas invadiram sua mente e ele retrocedeu no tempo at chegar sua infncia. Ele tinha sangue nobre, foi criado numa bela casa, que ficava aos ps de uma montanha toda rodeada por flores. Ricardo era o nico ilho, e quando ainda era apenas um beb, seu pai morreu em uma batalha. Sua me como era jovem e bonita, logo colocou outro homem dentro de casa. Um desordeiro que vivia na taverna e arrumava confuso com todos ao chegar bbado em casa. E claro, Ricardo se tornou sua vlvula de escape, perdeu a conta de quantas vezes foi surrado at quase no lhe sobrar mais nenhum resqucio de vida. E o principal: sua inocncia foi tirada, ele sofrera incontveis abusos. Anos depois o corao de sua me parou de bater e seu padrasto o expulsou de casa, abandonando-o numa estrada qualquer como se fosse um animal. De uma forma ou de outra isso se tornou um alvio e a sua salvao daquele inferno. Por meses e meses, ele vagou sozinho por aquela estrada, bebendo gua suja e comendo qualquer resto de comida que encontrasse, vivendo muitas vezes da bondade e da caridade de estranhos. At que foi encontrado por um soldado e levado a um acampamento. Ento ele foi treinado para se tornar um assassino e sua magia comeou a despertar. Ricardo foi treinado pelo homem que o salvou, para ser um oponente terrvel e mortal, e surpreendeu a si mesmo com a facilidade com que aprendia. Ele se tornou um guerreiro e um assassino temido e poderoso, e aquele soldado o nico exemplo de pai que ele conheceu.. Tudo caminhava muito bem, ele era uma arma de guerra, sua brutalidade e suas habilidades ganharam notoriedade e eram reconhecidas por seus oponentes. At que um dia sua magia foi descoberta e o comandante geral ordenou que ele fosse embora dali sob pena de morte. E novamente ele estava sozinho, mas j no era mais aquele garotinho fraco e choro de antes. A partir dali, ele comeou a matar por dinheiro e assim viveu at os dias de hoje. Abriu os olhos assustado, voltando ao presente, devido a um barulho de folhas secas sendo pisoteadas bem prximo a ele. Era Nimithiel. Seu plano estava caminhando muito bem, a menina deformada estava cada vez mais apegada a ele, em breve alcanaria seus objetivos. Ol, como vai pequena Nimithiel? ele disse a ela, que soltou um som inaudvel e se aproximou dele, aninhando-se em seu colo. Ele deslizou a mo por sua pele spera e pegajosa, sentindo seu estmago se contrair, enojado. Com certeza ela serviria para seu propsito, em breve Morgana sentir um pouco da dor que ela lhe causou. Em breve vai chorar sobre o cadver desse ser asqueroso.
O ar mido encheu seus pulmes, enquanto os grilos e cigarras cantavam e milhares de estrelas brilhavam. Nimithiel no gostava de cavalgar noite, conhecia muito bem os perigos, mas queria estar longe dali. Atravessou uma gigantesca serrao e pequenas gotculas de gua refrescaram seu corpo. Sabia que tinha agido errado, mas foi mais forte que ela. Tinha se apegado a Ricardo com todas as suas foras, queria sempre estar na sua presena, mas ela via o olhar de repulsa e nojo nele, s queria ser amada, s queria que ele fosse seu amigo de verdade. Mas como ele poderia amar um monstro, uma aberrao da natureza? Ela nunca seria digna do amor de Ricardo. Aqueles olhos cinza-claros que lembravam o mar antes de uma tempestade, preencheram sua mente. Uma nica lgrima brotou em seus olhos e se perdeu no horizonte. Ela nem sequer era capaz de falar, queria ser como Magnus, que era to sbio e sabia transmitir to bem suas palavras. Mas o que ela mais queria era que as pessoas no tivessem medo, que no se afastassem dela. Lembrou-se de sua me, talvez a nica pessoa que fosse capaz de am- la incondicionalmente, de am-la como ela realmente era. As lgrimas agora escorriam sem parar por sua face. Sabia que iria mago-la profundamente por ter ido embora dessa forma, mas era necessrio. Nem sequer se despediu, seno pestanejaria e no conseguiria partir. J no poderia mais viver consigo mesma. Talvez um dia elas se reencontrassem novamente...
Na noite quente de Agosto, Morgana estava deitada no sof, abraada com uma das almofadas, tentando conformar-se pelo fato de que Charles provavelmente no vai retornar para casa hoje, e estava preocupada com Nimithiel que no aparecia em casa j h 3 dias. Noite das garotas, baby! Elizabeth entrou na sala, entregando-lhe uma taa de vinho, pegando as almofadas do sof e espalhando-as no cho. Tentou sorrir disfaradamente para ela e pegou a taa de sua mo sem prestar muita ateno. Quando est longe de Charles, o tempo no passa, as horas so montonas, nada pode lhe consolar e poucas coisas a distraem. Sente tanto a sua falta. Elizabeth veio saltitante at ela, segurou em suas mos, forando-a a levantar, fazendo-lhe deitar no amontoado de almofadas no cho. Resmunga por dentro, frustrada. Sabia que no ia adiantar discutir com Elizabeth, ela tinha 'aquele olhar', e que nada a faria desistir at conseguir o que queria. Alm disso, que mal poderia haver? Ela comeou a cantarolar uma msica que no conhecia e a bater palmas. Vamos, Morgana, desamarra essa cara, vamos acabar com essa garrafa de vinho! ela diz lanando uma das almofadas que a atinge em cheio o rosto. Sua maluca, voc est bbada! Morgana diz revidando. S um pouquinho... ela responde. No resistiu e caiu na gargalhada. Elizabeth no existe! S ela mesmo para faz-la rir numa hora dessas. Uma parte dela se acalma, icando um pouco mais animada, mas ainda sente a angstia consumindo seu peito. De repente escutou um som dbil, algo se mexia nos arbustos do lado de fora da casa, um suave farfalhar de folhas. Todas as janelas e portas estavam fechadas, ento no se preocupou muito. Um arbusto se agitou como se houvesse algum atrs dele. A princpio no viu nada, mas ao chegar porta, sentiu uma estranha presena maligna e um calafrio que fez os pelos de seus braos e da sua nuca se arrepiarem. Algum as vigiava. D um passo para trs assustada, todos os seus sentidos icam alertas. Ricardo. Ouve um barulho na porta, algum est a destrancando. Oh no, de novo no. Charles entra pela porta e lhe d um beijo na tmpora. Ah no, Charles, voc estragou a Noite das Garotas! Elizabeth resmunga e se levanta, mas cai de novo nas almofadas, gargalhando. Charles, sua adorvel irm est bbada! diz e ele est sorrindo de orelha a orelha, claramente se divertindo custa de Elizabeth. Charles segura sua irm nos braos e sobem as escadas em direo aos quartos, com ela repetindo sem parar 'Eu amo vocs, eu amo vocs'. Ela como um raio de sol, iluminada, mesmo bbada. Charles vem calmamente at Morgana, os ps descalos, o boto da cala aberto, os olhos ardentes ixos nos seus, acelerando todos os hormnios com sua simples presena. Percorre com os olhos aquele corpo perfeito. Ele est muito gato! Suas mos percorrem seu corpo, enquanto ele se desfazia dos ltimos vestgios de tecido que lhe impediam de sentir sua pele na dela. Sua boca percorre o caminho do seu pescoo, enquanto ele a deita na cama e em um segundo, completamente sua. Depois est nos braos dele, e sente todo o seu amor, sente-se mais forte simplesmente pelo fato de ele estar ali. Sentindo-se segura, logo adormece.
Desperta no meio da noite, gritando, um grito assustador que ecoa em todo quarto. As indesejveis lgrimas descem por sua face. Charles acende a lamparina que ica ao lado da cama e segura em seus braos, na v tentativa de lhe acalmar. Ele est plido e assustado, seus olhos esto queimando de medo, a ansiedade devastadora estampada em seu rosto. Morgana, olha para mim, Morgana, o que houve? ele diz. Aperta a mo dele, sua voz baixa e fraca, tudo em volta est rodopiando. Charles, Ricardo est com Nimithiel. sussurra insegura quanto a sua prpria voz. Se acalme Morgana, foi s um pesadelo, Vida. No Charles. Eu tive uma viso, ele est com Nimithiel na antiga cabana de caa. Por favor, Charles... implora, lutando contra as lgrimas. Deixe-me ir resgat-la. conclui, levantando-se bruscamente da cama, e andando sem rumo pelo quarto. Charles vai atrs dela e a segura fortemente pelos ombros. De forma alguma voc ir sozinha Morgana, perigoso demais! De jeito nenhum voc lutar sozinha com aquele maldito, entendeu? a raiva que cruzou seu rosto foi to intensa que a assustou. Ele fechou os olhos e sua expresso se anuviou. Se acalme Vida, o sol j est quase nascendo, vou agora mesmo providenciar o resgate de Nimithiel, convocarei mais dois cavaleiros para nos acompanhar. Por favor, ique calma e espere meu retorno, eu te imploro. ele disse suavemente, aninhando-lhe em seus braos, afagando suas costas. Ela mal conseguia controlar sua respirao. Nimithiel, sua pequena Nimithiel corre perigo. Porm, Charles estava certo, ela no poderia lutar sozinha contra Ricardo, ele poderoso demais. S lhe resta esperar por ajuda. Senta-se na cama, pois de repente sente suas pernas amolecerem como se fossem gelatina. Respira lenta e profundamente, precisa se acalmar- e juntar todas as suas foras. O que est por vir no ser nada fcil...
Charles segura fortemente em sua mo, enquanto vo atravessando a forte neblina que envolve a loresta de Ascentir em direo antiga cabana de caa. Sir. Lionel e Sir. Garret os acompanha. Na medida em que se aproximam, o gosto amargo do medo preenche a sua boca. Ser que ao menos Nimithiel ainda estar viva? Seu corao bate forte, a dor aperta sua garganta. Sente-se sem ar, o sangue foge do seu rosto, quando avistam a cabana ao longe. Charles pra a sua frente, ele passa o dedo indicador por sua face e acaricia seu queixo. Vida, voc est tremendo, voc sabe muito bem que no precisa fazer isso, fique aqui e deixe-nos resgat-la. No, Charles, quero ficar aqui contigo, por favor. disse obstinada. s vezes esqueo que me casei com uma guerreira. ele diz, no escondendo sua total devoo. Seu corao se derrete e por um momento se permite pensar. J passaram por muitas coisas, mas apesar dos obstculos sempre permanecero juntos. Isso que lhe dava foras para lutar. Continuaram a breve caminhada at que enim chegaram cabana, procurando manter certa distncia, para que no icassem acuados. Charles fez um movimento com a mo para que Garret contornasse a casa e vigiasse a porta dos fundos. Charles aperta os braos em volta dela. Lionel est em posio de ataque a dois passos deles. O silncio perturbador paira sobre a casa, nenhum sinal de Nimithiel ou de Ricardo. No consegue se conter e grita com todas as foras que tinha nos seus pulmes: "Nimithiel!" Morgana, se acalme Charles fala baixinho, num tom rspido e severo, ela se debate em seus braos, desesperada. Segundos depois Ricardo sai pela porta da frente. Em que posso servi-la, minha Lady? diz ele num tom de deboche, fazendo uma falsa reverncia. Seu desgraado, onde est Nimithiel? cospe as palavras na direo dele, conseguindo se soltar dos braos fortes de Charles. Levanta sua mo, fazendo as partculas de ar se moverem ao redor e lana sua magia na direo de Ricardo. Ele simplesmente levanta a mo, e a magia some como se no tivesse existido, transformando-se em p. Uau, Morgana! ele diz, sarcstico, no escondendo o divertimento em sua voz, mas seus olhos destilam fria. Bom, como voc pode ver aquela aberrao no est aqui. ele continua, a voz destituda de qualquer emoo, abrindo os braos e apontando em todas as direes. Voc est mentindo, devolva minha ilha! diz dando trs passos em sua direo, apontando o dedo para ele. Charles segura irmemente em seu brao. Ricardo d de ombros, tentando parecer indiferente, mas ele sabe de alguma coisa. Nesse momento, Charles a abraa, tentando fazer com que ela no avanasse mais. Os olhos de Ricardo mudam, encaram-na semicerrados e frios, glidos at, e tudo que v seu dio e seu cimes, depois seus olhos cinzas sombrios brilham de raiva. Charles saca sua espada e se joga na sua frente. Garret sai correndo por detrs da casa e ataca Ricardo, mas lanado a alguns metros e cai ao cho, desacordado. Charles se separa de Morgana e corre para ajudar o amigo. Ricardo aproveita a chance, ergue a mo, juntando todas as suas foras e lanando um feitio na direo de Charles. Ele vai mat-lo. Morgana corre o mximo que pode e se joga na frente de Charles. O feitio acerta nela, lanada no ar a pelo menos 50 metros de distncia e bate a cabea com toda fora em uma rvore, esparramando-se no cho. Dor tudo o que sente e escuta ao longe, palavras sussurradas na penumbra, a escurido se apodera de si, a inconscincia invade-a tentando arrancar-lhe da dor. Perde as foras e desmaia.
No, no, Morgana! tudo o que Ricardo consegue dizer, deixando transparecer o terror em sua voz. Eu a matei, eu a matei... ica repetindo e torturando sua mente. Anda receoso em sua direo, temendo a constatao que est por vir. Empalidece e seu estmago se revira. Aproxima-se dela, abaixando-se e lentamente toca seu rosto glido e sem cor. Ela est morta... esse maldito a fez mat-la . Lgrimas de raiva descem queimando por sua face. Vira-se de frente para Charles, quando sente uma espada lhe transpassar o peito, atravessando as costelas at sair por suas costas. Uma dor terrvel lhe acomete, mas no pior do que a dor de ter perdido Morgana. Olha para cima e Charles o observa com um olhar hostil, segurando o punho de sua espada, cravando-a mais fundo em seu peito. Surpreendentemente, sente-se feliz, pois ir se juntar Morgana na morte. Quem sabe assim podero enim, icar juntos. Charles o deixa agonizando e encontra com o corpo de Morgana estirado ao cho. Uma sombra de um sorriso cruza seu rosto. Ele vencera! Arrasta seu corpo na direo dela, e num ltimo suspiro de vida, v Morgana abrir seus lindos olhos verdes e abraar Charles. E nos ltimos segundos seu pensamento ica claro, to claro como o sol batendo numa janela pela manh, e enim, o entendimento toma sua mente. Morgana jamais seria dele. Charles, sim, pode cham-la de sua. Uma lgrima solitria desce por seu rosto. Finalmente ele compreendera o que o amor. Fecha os olhos e se entrega nos braos da morte.
Vida, pensei que tivesse perdido voc... Charles inspira com fora e subitamente parece exausto, fechando os olhos por um instante, resignado. No se livrar de mim assim to facilmente, amor. sussurra em tom conspiratrio, tentando inutilmente sorrir, pois sente uma dor atravessar sua testa. Est aninhada em seu colo, e esto fazendo o caminho de volta para casa. Um estremecimento percorre seu corpo ao se lembrar de tudo que aconteceu. Foi tudo to rpido e agiu to inconsequentemente, mal teve tempo de pensar, colocando todos em risco. Teve sorte, muita sorte, somente saiu com um pequeno ferimento na cabea, pois se deparou com os olhos gelados da morte hoje. Tudo o que quer agora chegar em casa. Nimithiel ainda est desaparecida, se for preciso percorrer o mundo atrs dela, mas a encontrar. 15 Lua Negra
CHARLES! Morgana estava parada do lado de fora da casa com os braos cruzados, aps uma "grata surpresa". Catarina, ex-mulher de Charles, jogou os braos em volta do pescoo de seu marido, claramente ignorando sua presena ali, enquanto ele a olhava com uma expresso de desculpa no rosto. Pigarreou alto e bateu os ps forte no cho, tentando manter seus instintos assassinos sob controle, mas o cimes incendiava suas veias como o fogo incendeia a palha seca, isto , logo perderia o controle. Charles se desfaz do enlao de Catarina. Catarina, essa minha esposa Morgana. Sua amante, voc quis dizer no ? ela disse no tom mais pejorativo que conseguiu, olhando-a de cima baixo. Sim Catarina, minha amante, minha esposa, a me da minha ilha e o amor da minha vida. Charles respondeu altura, segurando em sua cintura e puxando-a para si, beijando-lhe. O sorriso cnico no rosto de Catarina desaparece. Charles, voc ainda casado comigo oicialmente. disse numa ltima tentativa de atingi-los. Isso s um papel, Catarina. Aqui isso no tem validade nenhuma. Charles disse e ela baixou o olhar, pensativa. Em alguns reinos s se consegue um divrcio ou a anulao de um casamento com a autorizao papal, mas ali na Cornualha o Cristianismo quase inexistente, ento so outras leis. Porm, ela est certa, eles ainda so casados e se Charles a quisesse de volta, bastava sua vontade, nada mais. Morgana sabe que ela est aqui no exatamente para visitar o ilho, mas para tentar conquistar Charles novamente. Bom, se guerra que ela quer, guerra que ela ter! Me! Henry irrompeu pela porta, correndo e pulando no colo da sirigaita. Meu ilho, que saudades... Seu tom era falso, ser que s Morgana que percebe isso? Ela at hoje nem sequer quis saber notcias do ilho, nem uma carta mandou para o pobrezinho. Ela prosseguiu: Voc est sendo bem tratado aqui nessa casa? Estou me, Morgana muito legal e agora eu tenho uma irmzinha! Henry disse empolgado, fazendo Catarina lhe lanar novamente uma expresso de desdm. Morgana comemorou por dentro. Venha me, venha conhec-la! Henry puxou a mo dela, levando- a para dentro de casa. Charles, essa mulher icar aqui na nossa casa? Morgana pergunta a ele, incrdula. Vida, eu no posso expulsar a me do Henry. ele respondeu com uma splica nos olhos. Suspirou exasperada. Dias turbulentos viro pela frente... Charles entrou atrs deles, e Elizabeth segurou em seu brao. Odeio essa mulher! Elizabeth disse fazendo uma careta. Ela sempre foi assim, Beth? Morgana pergunta indignada. No, era doce, angelical e agradvel, mas com tudo o que aconteceu entre ela e Charles acabou se tornando uma mulher amarga. Acho que ela no esperava que Charles fosse seguir com sua vida, acreditava que ele fosse se arrastar aos ps dela. Pois quebrou a cara! Elizabeth sorriu, dando-lhe uma piscadinha. Morgana sorri de volta.
J era tarde da noite e Morgana no conseguia dormir. Sua cabea parecia que ia explodir. A presena de Catarina em sua casa era muito desgastante. Ela no era uma pessoa de fcil convivncia, uma mulher amarga, que no perdia a oportunidade de tentar conquistar Charles novamente. Era uma pessoa muito inconveniente ou ento algum que no tinha muito a perder. Mas o que mais doa mesmo, era no saber notcias de Nimithiel. Por dias e dias, uma equipe de busca vasculhou por todos os cantos do Reino e nada foi encontrado, nenhum vestgio sequer. Em seu corao, sabia que se ela estivesse viva, acharia um jeito de voltar para casa. A no ser que estivesse presa em um cativeiro novamente... Seu corao apertou-se e chorou compulsivamente. Nimithiel j passou por tanta coisa nessa vida, no era justo. Mas quem poderia ter feito isso com ela? Se no fosse Ricardo querendo vingana, no tinha a mnima noo de quem poderia t-la aprisionado. No sabia o que fazer a seguir ou por onde procurar... Precisava ser forte e seguir em frente, pois agora tinha uma famlia para cuidar, que a Deusa lhe d foras. Seus olhos pesaram devido s lgrimas e enfim adormeceu.
Nimithiel caminhou por dias inteiros, sem olhar para trs, remoendo em sua mente como tudo poderia ser diferente se ela fosse diferente. A tristeza se apoderara do corao dela, no s porque era deformada, mas por sua sina de viver na solido por tal motivo. Como se relacionar com algum se o nico sentimento que consegue despertar medo? Lgrimas queimavam seu rosto, aumentando a dor que cativara seu corao; andava lentamente, quase parando, tentando retirar foras de dentro de si, que certamente ela no possua para se manter em p. Passava perto de um vilarejo, em uma placa pde ler seu nome: Camlann... Um destes pequenos, onde as pessoas vivem felizes com o pouco que tem. Mas a viso que teve em nada poderia traduzir felicidade. Uma jovem, com as mos atadas ao um enorme tronco, incado entre inmeros outros pedaos de caule, debatendo-se para ser livre; um homem alto de cabelos loiros erguendo com orgulho uma tocha lamejante, esbravejando palavras que ela no conseguia entender, sendo aclamado por muitos dos presentes. Aproximou-se mais e, entre as escuras e enormes rvores da loresta, escondeu-se, observando tal cena. As lgrimas nos olhos da garota caam grossas e ligeiras; ela pedia que no continuassem, implorava por sua vida. Voc uma aberrao, mulher! Voc merece ser queimada, exatamente como seus ancestrais. A magia s traz desgraa e todo o nosso infortnio culpa sua... MORTE BRUXA! ouviu o homem esbravejar, sendo ovacionado pelos habitantes que repetiam sua ltima frase como um mantra. A moa chorava, puxando suas mos amarradas, fazendo-as sangrar em contato com a corda. Observando aquela cena, ela entendeu como era sua vida; era assim que se sentia... Acorrentada a uma condio que no podia controlar, que no podia modiicar. Suspirou e ento se lembrou de Morgana; Ela era a nica que olhava para ela e no via a deformidade. Ela a enxergava por dentro, como realmente era. E ento entendeu porque estava ali, porque tal cena tomou sua ateno... Ela deveria ser a Morgana daquela garota. Assim como Morgana a salvou, ela deveria salv-la; e no pestanejou em faz-lo. Com rapidez entrou no vilarejo e lanou fogo o suiciente para assust- los e no machucar. No tinha inteno de ferir ningum, mas guardas vinham em sua direo e ela precisava se defender. O homem alto e loiro segurou fortemente em seu brao, e Nimithiel s teve tempo de puxar a espada dele que estava presa em seu cinturo de couro e atravessar seu abdmen com ela. Ele caiu, ferido ao cho. Prncipe Arthur! um guarda mais prximo veio correndo em seu socorro. Aproveitando a distrao, Nimithiel tirou a adaga que carregava e cortou as cordas que feriam os punhos da jovem que se soltou delas, massageando-os. Ela gritou no primeiro instante, achando talvez que ela tambm quisesse mat-la, mas assim que percebeu que estava livre, correu em direo loresta. Nimithiel foi atrs dela, correndo o mximo que pde at que estivessem bem distantes daquele local. Sua respirao era alta e ofegante. Ela a olhou num misto de confuso e medo, permanecendo imvel, de p, a sua frente. Nimithiel a encarava, tentando faz-la entender que no precisava ter medo, que no pretendia machuc-la. Como se pudesse ler o seu olhar e ouvir seus pensamentos, ela se aproximou e, ainda com receio, tocou o rosto da menina, sorrindo tmida. Seu cabelo loiro caia sobre os ombros e os olhos azuis como os cus brilhavam em xtase. Ela trajava um longo vestido azul e sobre seu pescoo, repousava uma pedra verde esmeralda, presa a um cordo escuro. Eu no sei como agradecer por ter me salvado. Se no fosse por voc, eu estaria morta agora. observou-a falar. No conseguia explicar como, mas perto dela se sentia bem... Era como se ela possusse o mesmo dom que Morgana, de lhe enxergar por dentro. Percebeu quando ela parou de passar as mos sobre seu rosto e as levou ao pescoo, retirando um colar e entregando-o para ela. Este colar de um valor inigualvel e raro, assim como voc... Fique com ele, como meu agradecimento! ela permanecia com o colar em frente a seu rosto. No sabia se era certo. Ele revela a beleza que temos dentro de ns, talvez um dia voc precise dele. terminou colocando o colar em uma de suas mos. Olhou fascinada para o colar, inebriando-se com o intenso verde de sua pedra. Voltou seu olhar para a moa a sua frente, mas, surpresa, constatou que ela havia sumido. Olhou para os lados a sua procura, mas no havia rastro de sua estada ali. Enrolou o cordo do colar em suas mos e ento seguiu sua jornada.
Elizabeth estava sozinha em seu quarto, encolhida sobre a cama. Charles no se lembrou, mas hoje era o aniversrio da morte de seus pais, William e Johanna. Mesmo j tendo passado dez anos de sua morte, ela ainda chorava por eles. A morte dos pais fez com que perdesse tudo o que tinha, ela era muito nova ainda. Perdeu o amor, a segurana e o apoio deles. Se no fosse por Charles, ela no saberia o que fazer, no estava preparada para icar desorientada e sem famlia. O irmo a acolheu e a ajudou, por isso que ela decidiu largar tudo que tinha em Tregor para vir atrs de Charles, quando ele decidiu que sua vida estava aqui na Cornualha. No havia nada pior no mundo do que perder as pessoas amadas e queridas. Ela ainda se lembrava da doura da Me e do jeito truculento do Pai, mas sempre fazia tudo o que podia pelos ilhos. Lembrava-se do amor que um sentia pelo outro e esperava que um dia pudesse encontrar um amor assim... Retirou o colar que icava dentro do vestido, sempre junto ao seu peito. O colar que pertenceu sua famlia por geraes e geraes. Deslizou os dedos pela meia-lua de prata do pingente. Sorriu, lembrando-se da lenda que o envolve. Nada mais que uma histria, porm interessante, com certeza fez parte dos sonhos de muitas mulheres com o passar dos anos:
"H muito tempo atrs, na era da Antiga Religio, uma feiticeira muito bonita de nome Brida, apaixonou-se por um belo cavaleiro, Darius de Astoria, mas o corao dele j pertencia outra. Revoltada com a rejeio dele, ela subiu no mais alto dos penhascos e se fez de sacricio para a Lua Negra, aquela lua que antecede a Lua Nova, o renascimento, o perodo de trs dias em que simplesmente no h nenhuma lua no cu, onde a terra ica na total escurido, emergida nas sombras. Era um feitio que deveria ser feito com muita cautela, pois assim como a terra est emergida nas sombras, ela tambm poderia icar aprisionada nas sombras para sempre. Mas o feitio deu certo, a lua atendeu seu chamado, e o cavaleiro icou para sempre aprisionado nas trevas. S poderia ser despertado caso fosse invocado por uma virgem na Lua Nova, usando esse pingente. Ela deveria banh-lo com a luar e repetir o nome do cavaleiro por trs vezes, e esse em troca se tornaria seu mais iel sdito, estaria ligado ela por um lao to forte que s poderia ser desfeito com a morte. Ele seria tudo o que ela precisasse: seu irmo, seu amigo, seu amante, seu protetor, at o im de seus dias, e mais uma vez ele fosse expulso desse mundo. A ento ele voltaria sua priso, num ciclo contnuo e interminvel, at que fosse invocado novamente."
Elizabeth sorriu, ao lembrar-se de sua me lhe contando essa histria quando era pequena. Nada mais do que uma fantasia que preenchia o corao de garotas sonhadoras que esperavam por um prncipe encantado. Ela sabia que isso no existia, todos tm os seus defeitos e suas limitaes. Com o passar dos sculos se tornou nada mais que uma lenda que virou histria de ninar. A lenda do Cavaleiro das Trevas. Meneou a cabea em desaprovao e se ps a dormir, Morgana havia prometido acompanh-la no treino dos cavaleiros amanh bem cedo e ela preferia sonhar com um de verdade do que com uma lenda.
Charles a observa da soleira da porta, enim parece que Morgana conseguira dormir, ela havia pedido licena da mesa de jantar dizendo que fora acometida por uma forte dor de cabea, e que iria se recolher mais cedo aos seus aposentos. Mas Charles a conhecia muito bem, sabia que a presena de Catarina ali a fazia sofrer. Destrua-se em saber que fora ele quem provocou suas lgrimas. Catarina no signiica nada. Morgana nunca entender o que fez por ele, como mudou sua vida, como o faz feliz. Mas se colocando em seu lugar, sabia que agiria da mesma forma, tinha cimes at de seus pensamentos, era egosta a ponto de quer-los s para si. Ele arquejou ao ver como os longos cabelos negros se espalhavam sobre o travesseiro, a pele alva se misturando ao branco do lenol. Seu corpo reagiu com tanta intensidade que ele se encolheu, sentia por ela um desejo to forte e to voraz que chegava a ameaar sua sanidade mental. Seu corpo gritava teu nome, sua boca implorava por ela, e seu corpo ardia em chamas que s ela conseguia provocar. Sentia-se absolutamente seu, entregue de uma forma que jamais imaginava ser possvel. O cheiro, o gosto, o toque de Morgana era como uma droga pelo qual ele era completamente viciado. Seu sabor estava marcado em sua mente, um sabor da qual ele nunca esqueceria. Boa noite, Vida. Boa noite, minha vida! ela suspirou de leve em seu ouvido, entregando-se novamente ao sono.
PELA DEUSA! Elizabeth falou de modo ofegante, enquanto observava atenta e admirada cada movimento dos cavaleiros de Camelot em seu treinamento. O grito agudo quase estourou o tmpano de Morgana. Pela Deusa! ela disse novamente. Elizabeth? estava comeando a icar preocupada, ela nem sequer piscava. Pela... Pare com isso Elizabeth! vociferou, se suas bochechas icassem mais vermelhas, explodiriam. Mas sorri, entregando-se. Imediatamente Charles a v, seus olhos observavam-na como os de um predador que acabara de encontrar sua presa. Ele sorriu e aquele sorriso deinitivamente era sua perdio, Charles veio lentamente at Morgana, abraou-a e deu-lhe um beijo ardente e sensual. HEY! Gritou Elizabeth com um tom de histeria na voz. Mas Charles no parou, tentando irrit-la, segurou a mo dela que o empurrava tentando em vo afast-los um do outro. Quando ele desfez o beijo, Elizabeth estava com os braos cruzados, mas ela no conseguiria icar sria por muito tempo e deu sua risada estridente. Charles sorriu para ela, deu um beijo casto nos lbios de Morgana e voltou ao seu treino.
Morgana abriu os olhos com diiculdades, ainda estava escuro. Sentia- se desgastada emocionalmente, ter que aceitar a presena de Catarina ali era extremamente dicil, mas Henry estava feliz e isso era o que importava, mesmo sua me no sendo merecedora sequer de um sorriso seu. Sentiu o frio caracterstico da ausncia de Charles na cama. Ele no estava no quarto. Sua cabea estava pesada, uma dor estava vindo e ela esfregou a testa, tentando em vo espant-la. Ouviu a voz exaltada de Charles vindo do escritrio e rapidamente levantou-se. Ainda vestindo seus trajes de dormir, aproximou-se lentamente da porta, quando sentiu um perfume agridoce enjoativo e uma voz feminina, era Catarina. Eles discutiam calorosamente, enquanto parecia que ela tentava em vo, de alguma forma persuadi-lo. Sabia que estava invadindo seu espao, mas foi mais forte do que ela e permaneceu na porta entreaberta, ouvindo tudo. Eu sei que voc se casou de novo, sei que nosso casamento no acabou da melhor forma, falhei com voc e fui fraca, sei que no te mereo, mas... desde que voc partiu, eu... sinto tanto a sua falta, eu precisava dizer isso, eu j no aguentava mais. Catarina disse com um desespero inacreditvel. Charles a olha de maneira neutra, mas seus olhos so frios e seu tom rspido, sabe que ele est zangado, pode sentir a tenso ao redor. Voc nunca soube o que o amor, Catarina. sua voz era ameaadoramente baixa. No momento em que mais precisei, no momento mais dicil da minha vida, voc simplesmente me abandonou. Que espcie de amor medocre esse? Charles, por favor, me perdoe! Eu fui fraca... no soube lidar com tudo aquilo que aconteceu... Sei que voc deve amar Morgana, pois voc largou tudo por ela, mas... No sente mais nada por mim? No sente minha falta? Voc dizia que me amava, que eu era sua alma gmea, eu no acredito que isso tenha acabado assim. - ela disse, aproximando- se dele e tocando carinhosamente em seu brao. Charles se retesou e afastou-se dela, segurando fortemente em seus pulsos. No sinto nada, Catarina, simplesmente nada por voc. ele lanou um olhar frio e aptico para ela. Nem dio, nem rancor, nem desgosto, nada. Em meu corao agora, s h lugar para o que sinto por Morgana. Eu no sabia o que era amor de verdade at conhec-la. No sabia o que era desejo de verdade at encontr-la. No sabia o verdadeiro sentido de uma alma gmea... e Catarina, voc tambm no sabe, no est aceitando que me perdeu deinitivamente, que eu segui com minha vida, isso no amor. Charles disse, e Morgana viu a expresso de escrnio no rosto dela, mas mesmo assim Catarina insistiu, determinada. Ele virou-se de costas, mas icou de frente para onde Morgana estava. A raiva tomou os olhos dele de modo to ameaador que deu um passo involuntrio para trs. Charles, hoje em dia, eu tenho certeza de meus sentimentos, eu amo voc de verdade! Por favor, volte para mim. Vamos esquecer tudo e recomear. diz ela, observando-o com certo temor. Charles manteve a expresso impassvel, ele comprimiu os lbios, com um olhar sombrio e cauteloso, parecia pensar bem antes de falar, e Morgana testemunhou sua luta interna. Com a garganta constringida pela dor, ela lutou contra as lgrimas que se formavam, os segundo se passando lentamente. Nesse momento, os olhos de Charles cruzaram com os seus, e viu emoes intensas naqueles olhos azuis. Viu o amor devotado que ele tem por ela. Com a raiva atenuada, ele suspirou. Morgana? pergunta ele intrigado por ela surgir to de repente. Constrangida, pede desculpas e sai correndo dali. Mesmo com todas as palavras que ouviu de Charles, no conseguia controlar a dor que lhe abafava, colocou a mo no peito tentando cont-la, no foi nada fcil ouvir o que Catarina disse, a intensidade das palavras dela. Saber que ela o quer de volta. Saber que um dia Charles a amou... Entrou no banheiro e apoiou- se no lavabo. Ficou imvel, chorando, enquanto segurava um leno branco sobre a boca, com um esforo para abafar o soluo contido. Morgana... Charles chamou-a, enquanto empurrava a porta com delicadeza. Ele entrou no aposento, e instantaneamente aconchegou-se a ela, passando seu brao musculoso por sua cintura enquanto Morgana enterrava o rosto em seu peito e chorava. Vida, no ique assim... Eu amo voc, eu quero s voc! Charles segurou seu queixo, fazendo-a olhar para o mar azul de seus olhos. Deus, esses belos olhos azuis! Perde-se naquela imensido por um momento, tentando absorver suas palavras, mas o cime falou por ela. Mas ela a me do seu ilho, voc j a amou um dia, e ela ainda te ama... Vida, eu no vou mentir para voc, eu j a amei um dia, cheguei a achar que Catarina poderia ser mesmo a minha alma gmea, tanto que a desposei quando ela tinha apenas dezesseis anos de idade. No comeo fui feliz sim, nosso ilho Henry nasceu... mas aconteceram tantas coisas, que bem... voc j sabe. ele faz uma pausa, abre os olhos e a encara por um tempo que parece uma eternidade. Isso no amor. Amor o que voc me d Morgana, o que eu sinto por voc. Eu jamais na minha vida senti um amor to grade quanto o que sinto por ti, jamais desejei algum como eu te desejo! ele inalizou beijando-a apaixonadamente, deixando seu corpo em chamas por causa da proximidade dele, gemeu enquanto a lngua de Charles fazia as coisas mais pecaminosas com a dela. Voc a nica, Morgana, e sempre ser! Ele afastou os lbios dos seus, e percorreu sua pele com a lngua, traando um caminho ardente no seu pescoo. Emitiu um rudo de prazer. Seu corpo um caminho que s ele sabe percorrer! Vida... seria bem melhor se estivssemos sem roupa e em nossa cama, voc no acha?. Ele sussurrou no seu ouvido. Sim, Charles! ofegou diante de suas palavras, no duvidando delas nem por um segundo. Charles deu-lhe um sorriso divertido, mas o sentimento no lhe reletiu nos olhos. Querendo confort-lo, tocou com gentileza em seu rosto. Me perdoe, Charles! suplicou. O olhar dele prendeu-se ao seu, mas o que a entristeceu foi a dor naqueles intensos olhos azuis. Vida, me destri saber que fui eu quem provocou essas lgrimas. Nunca, mas nunca mesmo, quis te magoar. Perdoe-me por te colocar nessa situao. Eu te amo tanto, Morgana. Charles, nunca duvidei de seu amor, fiquei cega, me perdoe. Catarina agiu muito errado, ela passou dos limites, ela no devia ter feito isso. Eu, em seu lugar, tambm no saberia o que fazer. Vou pedir que ela se retire de nossa casa imediatamente. No precisa, Charles querido, de verdade, eu vou icar bem, e Henry est to feliz... deixe que ela ique, no vou tirar isso dele, amor. Charles deu-lhe um sorriso admirado perante seu altrusmo. Eu no esperava nada diferente vindo de voc, Vida! Voc perfeita! e sem dizer mais absolutamente nada, carregou-a em seu colo, levando-a para a cama. 16 Dracopyre
Ellie uma Dracopyre. Pelo menos assim que os saxes a chamam. Na lngua deles signiica lobos e essa a sua verdadeira forma. Eles so seres mgicos que possuem o dom de se transformar em humanos, mas pertencem natureza. Tanto em uma forma como em outra mantm o olfato apurado, a viso noturna, os instintos, fora, agilidade e a mordida que quase mortal. So seres que necessitam da liberdade, precisam sentir o cheiro da loresta, o vento noturno refrescando-os, a terra macia debaixo de suas patas. No podem ser escravizados, pois quando isso acontece icam presos mente de um feiticeiro, so obrigados a agir de acordo com sua vontade, suprimindo a deles. Com isso, perdem a sanidade aos poucos, a vontade de viver, e com pouco tempo morrem. Seus pais morreram dessa forma h alguns meses atrs, quando uma feiticeira muito cruel, de nome Morgana Le Fay, escravizou vrios deles em uma estrada em Camelot. Mas sua crueldade no parou por a, ela prendeu sua irm Emily e a obrigou a seduzir um dos cavaleiros de Camelot para que o mesmo a levasse para dentro do castelo e ela pudesse passar informaes sigilosas para Morgana. Porm, o cavaleiro logo desconiou e sua irm foi condenada por traio, sendo enforcada em praa pblica. Resumindo tudo: Ela destruiu sua famlia. E agora Ellie est na Floresta de Ascentir, prxima ao castelo de Morgana, com seu bando, esperando o momento certo para sua vingana.
Charles estava concentrado no alvo sua frente, e Morgana observava sentada preguiosamente na espreguiadeira ao lado do seu campo de treinamento de arco e lecha, que icava atrs do castelo. Esse era um dos hobbys preferidos dele, por muitas vezes ele passava horas e horas treinando. Ficou admirando a curvatura de seu corpo hbil, seus braos fortes colocarem uma nova lecha no arco, estend-la ao mximo, atir-la e acertar exatamente o ponto vermelho central do alvo. Ele muito bom nisso! Charles se enrijeceu e sua posio mudou quanto ele notou o seu olhar faminto que percorria pelo corpo dele. Os celestiais olhos azuis brilharam quando ele sorriu. Quer tentar, amor? ele perguntou, e seu olhar desejoso lhe percorreu o corpo, quando ela levantou. Fez um sinal de airmativo com a cabea. Charles estendeu a mo e afastou os seus cabelos por trs dos ombros, deslizando suavemente os dedos pelos ios. Graciosamente, ele pegou o arco e se posicionou atrs dela. Mantenha sua respirao controlada, Morgana, e eleve o arco na altura de seu queixo, no exera fora sobre a corda. Erga ao mximo seu cotovelo, e deixe que o msculo das costas e dos ombros exera a fora necessria. Mire no alvo a sua frente e solte a lecha. Vamos l! ele explicou, sussurrando bem baixo em seu ouvido, provocando-lhe arrepios. Tomando suas mos entre as dele seguraram juntos o arco. Seguiu atentamente suas instrues, tendo plena conscincia de seu corpo junto ao dele, e soltou a lecha que zuniu ao redor e se dirigiu para o alvo frente, fincando-se nas listras laterais do ponto vermelho central. Para uma primeira vez foi muito bem! Voc um cupido, no , Morgana? Que acertou sua lecha bem no meu corao! ele murmurou em seu ouvido. Morgana inclinou-se para trs, acomodando-se no abrigo dos seus braos fortes. Aps vrias tentativas, soltou as mos das dele e deixou-o assumir o controle. Adorava o jeito como o corpo dele se movia junto ao seu. Fagulhas de prazer se espalhavam por todos os lugares de seu corpo. Mas at os Deuses invejam sua beleza! Inclusive Eros! ele prosseguiu, virando-a na sua direo, agora estavam frente a frente. Beija sua boca tentadora, enquanto suas mos vidas percorrem o seu corpo, precisa sentir sua pele, sua boca na dele, precisa saciar sua fome e essa loucura que a toma. De repente, o corpo de Charles se estirou sobre o dela, e ele ficou paralisado. Morgana no se mexa... ele disse no seu ouvido. No comeo achou que ele estivesse brincando, mas algo lhe disse que estava realmente acontecendo alguma coisa, havia um tom assombrado na voz dele, ento obedeceu prontamente. Vida, escute-me ele disse to baixo que teve que se concentrar para ouvi-lo, o medo em seu tom de voz fez um arrepio percorrer sua espinha. Tem lobos no nosso quintal, e eles no parecem nada amistosos, quando eu disser "corra", voc entra para casa e tranque a porta, tentarei afast-los com algumas lechas, sem que eles saiam feridos. ele disse e vendo que suas mos tremiam, cobriu-as com as suas e gentilmente acariciou os ns de seus dedos com os polegares, ele olhou para seu rosto e trocaram um olhar de entendimento. Pelo seu campo visual pde ver os lobos, enquanto Charles retirava as mos dela, fazendo- a dar um passo para trs. Agora Morgana, corra! ele gritou, encarou-o sentindo-se atordoada conforme suas palavras lhe atingiam, virou-se na direo da casa e correu o mximo que pde, mas um dos lobos veio em seu encalo, perseguindo-a. Ele deu um salto e por pouco a alcanou, era extremamente rpido, mas caiu ferido a alguns centmetros dela, Charles o atingiu certeiramente com uma lecha. No mesmo instante em que ele caiu inconsciente, viu o lobo branco se transformar em uma linda garota bem diante de seus olhos. Ela um Dracopyre, lobos mgicos que se transformam em humanos. Ela gemeu de dor, estava viva, mas a lecha atingiu o seu ombro direito e sangrava bastante. Charles veio correndo em sua direo, assustado. Vida, voc est bem? ele segurou em seu rosto, avaliando-a. Sim, Charles, estou bem. Mas veja, ela est ferida, vamos lev-la para casa. disse e viu o olhar de espanto dele em direo garota. No havia tempo para explicaes e ento o incentivou a ajud-la a lev-la para dentro. Ele gentilmente a carregou no colo, enquanto a garota gemia, incongruentemente, provavelmente sentindo bastante dor, a lecha cravou fundo em sua carne. Algo lhe intrigava, porque ser que ela a atacou daquela forma? Os Dracopyres geralmente so seres amistosos, e no costumam invadir casas... a no ser que ela tenha sido escravizada por Morgana, h tempos atrs... Contudo, em seu corao j sabia a resposta. Rapidamente a deitaram na cama do quarto de hspedes e comeou a tratar de seu ferimento. Charles no queria machuc-la, s fez isso para defende-los. De qualquer forma, sentia-se responsabilizada. Cuidar dela at que possa ter algumas respostas.
Sentada beira de um lindo lago, Nimithiel olhava ixamente para o colar que a feiticeira lhe entregara, enquanto suas palavras se repetiam em sua mente sem parar. Um medo do desconhecido se apoderou dela, quando se acostuma a ser algo por pior que seja, a mudana claramente assusta. Seu corao se apertou ao se lembrar de sua me, sentia tantas saudades dela, queria poder voltar para casa, mas est to distante... perdera a noo de quanto. A lua antes coberta reletiu sua luz prateada no lago e seu relexo surgiu entre as guas cristalinas, e por entre elas viu uma lgrima que j se formava em seus olhos. Um dos piores sentimentos que existem no aceitar a si mesmo. Como pode se permitir a amar, se no est satisfeita consigo mesma? Uma lgrima escorreu de seus olhos e pingou no lago, formando minsculas ondas, distorcendo sua imagem reletida. Antes que pudesse pensar, seno desistiria, colocou o colar em seu pescoo. Aguardou a imagem de uma mulher com a pele brilhante e corpo perfeito aparecer no lago, mas nada aconteceu, continuava sendo a mesma que sempre foi. Sentiu-se tola, o que mais poderia esperar vindo de uma estranha? Fora enganada. Inesperadamente foi envolvida por uma intensa aura radiante que envolveu todo seu corpo e pequenas partculas se entranharam nela, atravessarem-lhe diversas vezes e sarem novamente. Doa muito, era como se pequenos cacos de vidros estivessem rasgando sua pele. Deitou-se no cho, a dor era tamanha que pensou que fosse morrer, que seu im chegou. Ser essa a libertao que a bruxa lhe prometeu? Gritou alto, pois j no aguentava mais, seu corpo inteiro parecia estar ardendo entre chamas. E foi ento que desmaiou. No sabe calcular quanto tempo icara desacordada, presumiu que tenha sido bastante, mas ainda estava escuro. Engatinhou at a beira do lago, pois ainda se sentia bastante fraca. Fechou os olhos tentando buscar coragem para ver novamente seu relexo no espelho d'gua. Abriu-os de uma s vez, mas o que vi foi uma garota de uma beleza singular, assustando-se. Rapidamente virou-se para trs a im de ver quem era, mas no viu ningum. Muito estranho. Olhou novamente para o relexo do lago, a garota que reletia na imagem tinha os cabelos cor de mel, os olhos muito azuis, lbios carnudos e uma pele perfeita. Sua boca se entreabriu e a imagem no espelho d'gua fez o mesmo. Desviou os olhos para suas mos, mas no viu mais a deformao causada pela doena, e inalmente entendeu tudo, ela era aquela garota reletida na gua. O feitio dera certo, e a transformara em uma linda garota. Sentiu frio e ento notou que no podia mais continuar ali. Deu uma ltima olhada de relance na imagem reletida de si mesma no lago. Era simplesmente perfeita, agora ningum mais se afastar dela. Com relutncia retirou o colar do pescoo, comeou a tremer em espasmos intercalados e um formigamento tomou seu corpo, mas dessa vez no doeu tanto quanto a anterior, provavelmente porque estava voltando sua forma natural. Logo a couraa dura, reptiliana e deformada foi tomando o lugar da pele macia de sua nova forma, mas sentia-se feliz como nunca se sentira antes. Decidiu que voltaria para casa imediatamente. Logo que o sol nascesse, partiria em direo Cornualha!
Ellie desperta em meio escurido, ardendo em febre e se depara com os mesmos olhos verdes esmeraldas que teve que se submeter, aos mesmos olhos que izeram parte dos seus piores pesadelos e dos seus piores medos, olhos esses que destruram sua vida. Sorriu desdenhosamente, mas o simples movimento de sua face a fez contrair a clavcula e uma dor insuportvel a dominou. Mas procurou ser forte, sempre suportara todos os seus sofrimentos sozinha, como fora ensinada. Morgana olhava carinhosamente para ela e pela primeira vez identiicou solidariedade e preocupao em seu rosto. Ela parecia sentir toda sua dor como se fosse dela. Algo em seu olhar estava diferente, mas no sabia distinguir o que era. Morgana tocou em seu brao, um sorriso encorajador e lento no rosto, e vendo que tremia compulsivamente, ela puxou o cobertor e a cobriu. A gentileza daquela ao a desconcertou, mas precisava lutar e ser forte. Porm, o que mais a incomodava era ver a sinceridade nos olhos dela, o amor e a compaixo. No podia se deixar levar, provavelmente ela estaria tentando lhe enganar. Sente-se melhor, Ellie? ela inalmente disse aps um longo silncio. Sim. limitou-se a responder, com a voz desprovida de emoes. O que deu em voc para me atacar daquela maneira? Voc arriscou sua vida e quase morreu... ela disse, esfregando os olhos e inspirando profundamente, parecia cansada. Em seu inconsciente sabia muito bem o motivo: Perdera as contas de quantas noites Morgana passou cuidando dela. Um sentimento puro e bom tomou seu peito, mas logo a canalizou em raiva. Precisou lutar com todas as foras que tinha para no ceder. No se pode temer a morte se no tem motivos para viver... ela disse. Viu todas as emoes abandonarem Morgana. Com uma expresso torturada, Morgana desviou o olhar. Ellie nunca quis abraar tanto algum, como quis abra-la naquele instante. Sua mandbula se contraiu. Por que voc me odeia tanto, Dracopyre? ela sussurrou, o pesar e a dor no seu rosto eram tangveis. Voc me tirou tudo que tinha. Voc destruiu minha vida! encarou- a e viu como ela ia se sentindo atordoada conforme suas palavras atingiam-na. Morgana ficou imvel, enquanto tentava digerir tudo aquilo. Por favor, me perdoe, Ellie. Eu errei muito no passado, mas hoje em dia tudo mudou, eu mudei. Eu tenho uma linda ilha, um marido que eu amo com todo meu ser, mas... Por favor, no posso encontrar a verdadeira felicidade sem seu perdo. Eu sinto muito... Morgana suplicou, e voltou sua ateno toda para ela aps detectar tamanha sinceridade em sua voz. Suas palavras despertaram os sentimentos dbeos pelo qual tentava resistir com tanta fora. Sentiu uma lgrima surgir em seus olhos. No respondeu, e virou seu rosto para o lado, tentando ignor-la. Pensou consigo mesma no motivo de toda sua dor, na razo de estar aqui presa nessa cama. Morgana tirou tudo que tinha, tudo era culpa dela. Lembrou- se do que passara aps a morte das nicas pessoas que amou. Perdera seus pais, sua irm to querida, a segurana, a f, o senso de justia e principalmente o amor e o apoio emocional oferecido por eles. Uma ira mortal lhe atingiu, ignorando toda a dor em seu ombro, Ellie agarrou o pescoo de Morgana, juntando todas as foras que tinha e apertou forte. Ela arregalou aqueles olhos verdes que lhe assustavam tanto, e segurou suas mos em seu pescoo, tentando soltar-se, mas Ellie era muito mais forte. Pare, por favor... ela disse sufocando, mas no podia parar e apertou ainda mais suas mos. Por favor, eu estou grvida! ela continuou, com o rosto banhado por lgrimas. Automaticamente seus dedos se afrouxaram e Ellie a soltou, horrorizada com que acabara de fazer. Morgana lutava contra uma crise de tosse e viu que suas mos icaram marcadas profundamente em sua garganta. Grvida. Meu Deus, como pde ser capaz de fazer isso, o que havia se tornado? Morgana se levantou, afastando-se dela com medo nos olhos, tentou em vo segurar sua mo, a fim de lhe pedir desculpas, mas no conseguiu cont-la. E dando um ltimo olhar suplicante, ela saiu do quarto, deixando sua conscincia matando-a aos poucos. 17 Nas Sombras
Como est nosso Charlezinho? Charles perguntou enquanto abraava a cintura e beijava a barriga de Morgana. O sol fraco da manh batia neles enquanto estavam deitados na imensa grama do jardim, apreciando a vista e aproveitando um momento a ss com o novo beb, que ainda era to pequenino no seu ventre. Ele deslizou gentilmente as mos pela protuberncia que j se formava. Pelas suas contas j deveria estar com aproximadamente dois meses, mas acabara de dar a notcia para Charles e o resto da famlia ainda no sabia. Est perfeitamente bem, querido! respondeu e o amor e o orgulho na face dele eram indescritveis. Diferente da Annabelle, ela ainda no havia sonhado com o "Charlezinho", como Charles o havia apelidado carinhosamente, de certa forma isso a preocupava um pouco, mas ele tinha a certeza que dessa vez seria um menino e em seu corao ela tambm sentia isso. E a me deliciosa dele, como est? Charles perguntou, enquanto beijava sua clavcula. Arrepios a percorreram quando ele deslizou a lngua por sua pele. Completamente, absurdamente e totalmente louca pelo pai dele! disse sob gemidos, um pouco antes de Charles lhe beijar. Por instinto, envolveu-o a cintura com as pernas e ele pressionou seu quadril, aprofundando o beijo, explorando sua boca. Foram interrompidos por uma Elizabeth aparentemente brava. Ela chegou ao jardim j falando. Opa, opa, podem parar! ela disse se jogando encima deles. Sua Maluca! Morgana gritou, mas sorrindo perante sua atitude pueril. Ela uma eterna criana! Quer dizer ento que a senhora est grvida e nem contou pra mim. ela disse com uma expresso ofendida no rosto. Como ela sabia? Olhou para Charles, e ele deu de ombros, mas algo em sua expresso dizia que ele tinha contado para ela. Acho que o pai tem o direito de saber primeiro no Elizabeth? disse enfaticamente. Mas eu sou a cunhada, tenho direito de saber tambm! ela disse elevando sua voz no costumeiro tom estridente e agudo. Porm sua expresso se suavizou ao olhar para seu ventre. Estou to feliz por vocs meus queridos, parabns! ela disse com uma voz sobrecarregada de ternura. Eu vou ser tia de novo, Eu vou ser tia! ela repetia sem parar, enquanto se jogava novamente sobre eles, fazendo-os rolar pela grama macia do jardim. De repente ouviram um barulho vindo da loresta e seu corpo se retesou. Mas Ellie saiu por trs dos arbustos em sua forma de lobo, veio caminhando calmamente em sua direo e se juntou a eles na grama. Desde o ltimo episdio desastroso, a relao de Ellie e Morgana icou muito mais harmoniosa. No podia dizer que se tornaram amigas, mas estava bem prximo disso. Ellie passava boa parte do tempo em sua forma de loba, ela dizia que os seres humanos eram muito complicados. Notou que ela tinha vontade de icar perto, e dessa vez no era pelo fato de ser escravizada, mas pelo respeito, compreenso e admirao. Sentia-se feliz, nessas horas que acreditamos que o mundo perfeito.
Elizabeth estava sentada num dos bancos de madeira do jardim, enquanto observava o sol se pr e abraar a montanha que circundava Camelot. Mais um dia terminava. Ultimamente se sentia muito sozinha, mas no era qualquer tipo de solido, no saberia especiicar, era um vazio que rasgava sua alma. Poderia estar em volta de muitas pessoas, mas o sentimento persistia em seu peito. At a lua a tinha abandonado, pois no havia nenhum resqucio dela no horizonte. Automaticamente, ela retirou o colar da meia-lua de dentro de seu vestido e girou-o metodicamente em sua mo. Sem que percebesse a lenda que envolvia esse colar invadiu seu pensamento. Talvez essa seja a soluo... Sorriu estupidamente ante sua ingenuidade. Parabns, Elizabeth, esse bem o tipo de atitude de uma mulher desesperada! ela disse para si mesma. No estaria desesperada... estaria? No imagina... at com esse tal de Cavaleiro das Trevas voc j sonhou! disse. Realmente era uma maluca por conversar sozinha e mais maluca ainda por responder-se a si mesma. J que era uma pirada resolveu falar o nome do Cavaleiro trs vezes. Providencialmente, a lua surgiu no horizonte, e era nova. Caramba, isso coisa do destino! No resistiu e gargalhou alto perante sua falsa constatao. Vamos ver o que voc tem para mim, Senhor Cavaleiro das Trevas! Darius de Astoria. Darius de Astoria, Darius de Astoria... Falando sozinha, Elizabeth? Morgana chegou perguntando-lhe. Levou um susto dos diabos, por um momento achou que.... Eu conheo uma mulher que era assim e hoje est mofando no hospcio. Morgana continuou, provocando-a e Elizabeth fez uma cara feia para ela. Morgana viu o colar em sua mo e inesperadamente ela pareceu reconhec-lo. Esse o colar da lua negra! - ela exclamou. s uma lenda tola Morgana! respondeu. Notou nesse momento que o colar mudara de cor e parecia esquentar em sua mo, at que no conseguiu mais segur-lo, e ele caiu ao cho. Outch! gritou alto, assoprando a palma de sua mo, e viu que no local icou uma marca de meia-lua. Esperanosa, olhou por todos os lados, mas no viu nada de diferente. O que ela esperava? Um Cavaleiro Negro numa armadura reluzente montado em seu cavalo branco? Era mesmo uma boba. Levantou-se do banco sentindo uma raiva desnecessria e batendo o p entrou para dentro do castelo, com Morgana em seu encalo. Definitivamente seu humor no estava dos melhores. Elizabeth, voc no assim, cunhada o que aconteceu? Morgana disse preocupada, enquanto Elizabeth abria a porta do seu quarto, mas a fechou novamente, dando dois passos para trs. Tem... tem.. gaguejou. Morgana deu um leve tapa em suas costas, divertindo-se s suas custas. Cunhada, voc est bem? ela perguntou, e seu semblante mudou de divertido para preocupado em segundos. Elizabeth, voc est plida! Tem um homem no meu quarto! esbravejou e as palavras saram atropeladas de sua boca. O qu? Elizabeth seu estado de sade mental est pior do que imaginava. Morgana lhe disse, abrindo a porta de uma s vez antes que pudesse impedi-la. Mas ela fechou a porta atrs de si, bruscamente. Elizabeth voc invocou o Cavaleiro das Trevas? ela questionou com os olhos arregalados. No pode ser. Bem, eu s estava brincando. O que faremos, cunhada? murmurou baixinho com medo de que o homem as ouvisse. Respirou fundo. Vamos falar com ele! ela sussurra, os olhos brilhando feito uma criana numa casa cheia de doces. Ela est adorando isso! Subitamente Morgana abre a porta, e por detrs dela v um homem ajoelhado, com a cabea abaixada. Ele se vira em sua direo. Minha lady, voc me libertou de minha eterna priso. Minha alma e meu corao te pertencem! o homem diz suavemente. Pela Deusa! O que vou fazer com essa assombrao da meia-noite no meu quarto ? Ah se Charles descobre. No ter maldio que o impea de mat-lo. ... Seu Darius... O Senhor muito simptico, mas no pode invadir desse jeito o quarto de uma dama! disse segurando em seu brao e arrastando-o pelo corredor. Agradeceu silenciosamente por Charles ainda no ter chegado. Atrevidamente Darius envolveu-a pelos ombros enquanto caminhavam. Sem jeito, tirou os braos dele de cima dela, ignorando os msculos protuberantes que a izeram sentir coisas abaixo da cintura. Olhou suplicante para Morgana que tinha um sorriso maior que a prpria cara. Ele pode icar no alojamento das armas, Elizabeth, at que decidamos o que fazer com ele. Morgana sugeriu e sem ter opes, acabou concordando. Saram com Darius do Castelo e o deixaram no pequeno quartinho que icava ao lado do estbulo. No sabe se ele icou bem acomodado, mas esperava do fundo do meu corao que ele icasse quieto ali. O que faremos, Morgana? Elizabeth disse desesperada. Se deu bem, hein cunhadinha! ela continuou zombando de sua cara, empurrando-a pelo ombro. Mulher, por favor, me ajude! exclamou repreendendo-a. Porm precisava concordar com ela. Darius era um belo exemplar masculino. Seus cabelos assim como seus olhos penetrantes eram negros, seus lbios to sedutores assim como sua voz, e o corpo... Ah aquele corpo! Ele tinha msculos dos ps cabea. Imaginou-se sendo apertada por aquele belo par de braos. Ah! No tem o que se fazer, cunhada, o lao que os une agora forte demais. S a morte pode separ-los. Morgana explicou e ela mal ouvia sua voz, era apenas um murmrio distante perdido em sua mente. Elizabeth! Morgana despertou-lhe de seus pensamentos obscenos, estalando os dedos em frente ao seu rosto. Desculpou-se e a fez repetir sua ltima fala. Deu um longo suspiro, exasperada ao ouvi-la. Temo que esse lao seja desfeito em breve, pois Charles vai me matar! Deixa comigo, cunhadinha, que eu amanso a fera! Morgana disse convicta, colocando as mos na cintura. No havia o que discutir, j morava no castelo h tempo suiciente para saber de suas tticas de adestramento com seu irmo. E sempre, sempre funcionavam. Abraou-a, de repente se sentindo agradecida por ela estar ali contigo. Obrigada cunhada! disse enquanto voltavam para o castelo. No havia o que se fazer por enquanto.
Elizabeth de uma forma inesperada havia impressionado Darius. Todas as mulheres que o evocaram durante os sculos no tinham rejeitado-o. Isso o deixava intrigado. Ela foi a nica que agiu dessa maneira, todas se atiravam nele assim que chegava. Mas no Elizabeth. No foi s isso que o impressionou, sua beleza delicada e sua espiritualidade o deixaram sem cho assim que a viu. Ele se apaixonara, e no fora s devido a maldio que o obrigava a agradar quem o invocava, mas foi algo genuno e verdadeiro. Era dicil encontrar algum assim em um mundo dominado por maldades, nunca achou que fosse possvel. O aroma de sua pele macia invadiu seus sentidos. No se recordava de ter desejado algum assim com tanta intensidade. Se ela soubesse o tanto que a desejava icaria com ele por toda a eternidade. Sentia-se feliz por enim ter encontrado algum como ela, mas ao mesmo tempo sentia-se inseguro. No conseguia entender por que ela o mantinha prisioneiro ali naquele lugar escuro e apertado que o lembrava sua maldio, sendo que ele queria estar no quarto dela para poder despi-la, queria se perder no interior daquele corpo e faz-la sua para sempre. Queria entregar seu corao e sua vida em suas mos, para ela fazer o que bem entendesse. Nenhuma outra hora o momento certo para ser feliz seno agora! Esperara tempo demais.
Morgana desperta ao escutar um som dbil, olha para o lado e Charles no est ali. Sente seu corao apertar, mais uma noite em que ele no retorna para casa. Olha para o teto cor de creme do quarto, amanh ser um dia dicil, pois ter que suportar sua ausncia. Pisca por causa da luz forte que vem do corredor, algum foi dormir e esqueceu a lamparina acessa, ou ser que Charles chegou? Quando consegue irmar sua viso, v um vulto de algum que est parado de p na beira da cama. Desorientada, acende a luz da lamparina que ica na cabeceira, mas no v nada. Talvez sua mente tivesse lhe pregado uma pea. Ou talvez esteja sonhando. Levanta-se da cama, meio tonta, tentando ignorar a sensao ruim de mal-estar que invade seu corpo, e vai ao corredor para ver o motivo da luz ainda estar acesa to tarde da noite. Olha para o relgio e o ponteiro marca meia-noite, o silncio reina pela casa. Vai caminhando meio sonolenta pelo longo corredor dos quartos tentando encontrar a origem da luz e um frio intenso a invade. Repentinamente uma igura negra surge bem diante de seus olhos. Parece uma mulher, mas seu rosto est praticamente coberto por uma capa, at que ela a retira de forma dramtica. Catarina. Ela a encara com uma expresso impassvel e vazia no rosto. Posso ajud-la com algo, Catarina? pergunta. Ela vem em sua direo, andando a passos lentos, porm graciosos como os de uma pantera. O que voc tem de to especial? ela disse no tom malicioso que Morgana tanto odiava. Catarina d uma volta circular em torno dela, observando-a como se fosse uma esttua nua exposta num grande museu. Ela d um sorriso desptico que se relete em seu rosto. Presume que ela no consegue evitar o fato de ser to detestvel. Catarina, no estou entendo... O que houve? sua voz sai rouca e baixa, entregando-lhe apesar de tentar transparecer calma. Com os olhos desvairados, ela arranca uma adaga da cintura. Voc tirou de mim tudo o que eu mais amava! Voc tirou Charles de mim! ela grita com os olhos enlouquecidos. Sua aparncia est pssima, est toda suja, o cabelo desgrenhado, suas roupas encardidas. Com certeza no est nada bem. Catarina, voc est doente, voc precisa de ajuda, por favor... diz com gentileza, tentando lutar contra o medo paralisante que aperta sua garganta. Morgana poderia facilmente derrot-la, mas no queria ter que machucar a me do Henry. Inspira fundo tentando controlar sua respirao. Eu vou mat-la, bruxa! tudo culpa sua! Tudo! Voc enfeitiou Charles! Catarina.. diz mas interrompida por um novo grito dela. Quero voc morta, morta! ela disse partindo para cima de Morgana com tudo. Instintivamente ergue sua mo, as partculas de ar se movem em torno dela e Catarina arremessada na parede do corredor. Com um olhar assassino ela a encara e tenta se levantar, mas sua magia a prende no cho. Nesse momento, ouve passos vindos do incio do corredor, e Charles chega correndo, provavelmente ouvindo os gritos histricos de Catarina. Ele abraa Morgana, assustado e ica atordoado ao v-la, esparramada no cho. Dando-lhes um sorriso triste e com os olhos frios como gelo, Catarina crava a adaga na lateral do seu corpo, e o sangue escorre violentamente do corte feito, manchando o cho e suas roupas imundas. Charles corre para socorr-la, mas tarde demais. Muito, muito sangue ao redor. Ela est morta! Morgana ica paralisada diante da cena macabra sua frente, tentando ignorar a dor insuportvel que comea a se manifestar no seu ventre. H algo de errado com seu beb. Henry sai do quarto, desesperado, gritando pela me. Sente pena do pobrezinho. Morgana apoia-se no vo do corredor, de repente sente-se fraca e indisposta. Charles desorientado vem em sua direo, com o semblante preocupado e a carrega no colo. Charles ela tentou me matar... Charles... diz com as ltimas foras que lhe restam, e antes de perder a conscincia, v novamente a cena que se desenrola ao seu redor: Henry agachado, deitado sobre o corpo da me, chorando e Charles dizendo: "Ela est sangrando, ela est sangrando !" No sabe dizer se ele estava se referindo a ela ou a Catarina, mas no consegue ver e nem ouvir mais nada. Desmaia em seus braos.
Morgana est no mais baixo nvel de sua conscincia, as luzes icam borradas na medida em que vai sendo levada s pressas pelas ruas nos braos de Charles. Vida, ica comigo, estou aqui, tudo vai icar bem, eu prometo. Charles sussurra em seu ouvido, e v que ele est assustado. H algo de errado. Oh no, o beb. O medo paralisa seus sentidos medida que uma nova dor excruciante invade seu ventre. Meu Deus, Charles, o que houve? ouve a voz de Magnus, e abrindo os olhos com diiculdades v que est em sua casa. Charles est desorientado, andando de um lado para o outro e Magnus pede para que ele espere do lado de fora. No Charles, no me deixe! chama-o, o pnico tomando conta dela. Ele beija sua testa e sai pela porta, v lgrimas em seus olhos. Tudo em volta est rodopiando, luta para que no perca a conscincia novamente. Magnus, por favor, salve meu beb. suplica. Minha querida, acalme-se, iremos cuidar de sua sade primeiro. Farei tudo o que puder. ele diz e a calma que transmite e a sua eicincia a tranquilizam um pouco. Mas sabe que algo de grave aconteceu, pois v Magnus chamar Charles e eles conversarem baixinho, consegue ouvi-lo dizer que no h esperanas para seu beb. Abaixa a cabea, a dor profunda da perda atormentando seu corao. Charles entra novamente na casa. Charles, me perdoe, sei que voc queria muito esse ilho. Morgana aperta a mo dele, mas sua voz sai baixa e fraca. No h o que perdoar, voc est viva e o que importa. Ainda iremos ter outros filhos, Vida! Charles, voc precisa sair, tenho que fazer um procedimento de curetagem, para que ela possa se recuperar completamente. Magnus diz, e Charles solta sua mo lentamente e sai pela porta. Perde as foras e no v mais nada. Acorda sentindo a cabea pesada, a dor e o esgotamento foram enormes. Sente um vazio em seu ventre extremo, uma dor indescritvel, que s o tempo poder curar, no h palavras que possam amenizar o sofrimento numa hora dessas. Que a Deusa lhe d foras! Charles est do seu lado, e ele a envolve em seus braos. Aninha-se nele tentando esquecer essa noite horrvel. Tanta coisa aconteceu, em to pouco tempo. Vida, eu tive tanto medo de te perder... Eu te amo tanto! Vou cuidar de voc! Eu tambm te amo Charles, juntos vamos superar tudo isso, ainda irei te dar muitos ilhos! diz tentando sorrir, e ele a beija docemente. Ele tem o dom de lhe acalmar e sente-se relaxar e icar sonolenta. E nos teus braos se perde. Henry entra no quarto com o semblante abatido e os olhos vermelhos e marejados. Morgana abre os braos e ele a abraa forte. Oh meu querido, sinto muito. Perdoe-me! No foi sua culpa, Morgana, minha me j no estava bem h muito tempo. Ele diz parecendo bem mais velho do que ele realmente era. Sei que voc no nasceu de mim, Henry, sei que no sou sua Me, e ningum vai substitu-la, mas... Claro que voc minha me, Morgana! ele exclamou, dando-lhe um meio sorriso encabulado, enterrou o rosto no seu ombro e choraram juntos. Ambos sofreram grandes perdas, mas apesar da dor que queimava em seu peito, ela sabia que tudo ficaria bem, pois estavam juntos. 18 Novas Esperanas
Como de rotina, Elizabeth foi ao quarto de armas levar algo para que Darius pudesse comer. No sabia o que faria, temia que Charles descobrisse a qualquer instante. Elizabeth riu com amargura. Esforou-se para respirar, tentando ignorar o sentimento que oprimia seu peito. No poderia permitir qualquer tipo de envolvimento com ele. Ela nem sequer o conhece. Abriu a porta do pequeno cmodo, e tudo o que viu foi escurido. Ela acende a vela que trouxera. Elizabeth, voc? Darius falou num tom to baixo que ela no teve certeza de ter escutado. Quando se encontraram, ele pressionou-a na parede e lhe deu um. Darius ergueu sua perna, levantando seu vestido, ia tom-la para si. Mas ela no poderia permitir-se ir to longe. Por favor, Darius, pare, eu no posso ela suplicou, mas o desejo em sua voz entregou-lhe. Por que me invocou, Elizabeth? Para me deixar aqui preso na escurido como em minha maldio? Para me deixar louco por voc? Darius disse, e os profundos olhos negros a encararam angustiados. Darius, me perdoe, eu no sabia o que estava fazendo. Esse o pior tipo de tortura que j fui submetido. Por favor, Elizabeth, voc nasceu para ser minha, deixe-me... No posso, Darius... Elizabeth desfez do seu enlao antes que no mais pudesse comandar suas aes. Ela saiu do cmodo fechando a porta atrs de si. Aquilo no podia acontecer. S precisava convencer a si mesma disso.
Morgana olhava ixamente a janela, perdida em seus pensamentos, no teve notcias de Nimithiel e temia que o pior tivesse acontecido. Era angustiante no saber o que realmente aconteceu, se ela estava viva ou se estava morta, se estava bem ou doente, se estaria sofrendo... Uma dor dilacerante invadiu seu peito, no tinha um fim. Charles abraou-a por trs, e acariciou distraidamente seus antebraos. O aroma de seu corpo dominou seus sentidos. Vida, j disse que te amo hoje? ele perguntou enquanto ia abrindo o fecho frontal de seu vestido. Disse sim, meu amor, mas pode dizer novamente, eu no me importaria... disse de forma maliciosa, virando-se de frente para ele. Charles Eu amo voc, Morgana, te amo, te amo, te amo! ele disse repetidas vezes. Ao solt-la de sua boca, tocou-lhe o pescoo com os lbios, disparando hormnios em todo seu organismo. Tambm te amo, Charles, mil vezes te amo! disse gemendo diante da intensidade do desejo que sentiu. Quero voc nua na minha cama, agora! ele ofegou em seu ouvido, carregando-a em seus braos. Sem desfazer o delicioso contato, ele habilmente tira toda sua roupa. Desejo-a tanto, Morgana, quero seu cheiro no meu corpo, sua respirao na minha pele. Ele disse, enquanto jogava-a na cama. Sua boca macia lhe percorreu os seios, e as unhas dela marcarem suas costas, enquanto ele arrancava-lhe murmrios de tanto prazer. Pressiona o seu quadril no dele, sentindo o toque de sua pele, fazendo-o se perder no interior do seu corpo...
Charles, tem uma encomenda aqui para voc!
Desperta assustado com a voz de Elizabeth, enquanto ela batia na porta do quarto. Encomenda a essa hora? O que ser? Charles levantou-se em um salto, e Morgana icou observando tristemente, enquanto vestia suas roupas com agilidade. Esperava que fosse mesmo algo importante, seno vai matar Elizabeth! Saiu do quarto relutante, enquanto olhava para aquele copo nu delicioso esparramado sobre sua cama. Argh! Arregalou os olhos, quando chegou sala e viu um menino parado com o olhar triste e perdido. Elizabeth segurava seu ombro. Pacote para voc, Charles! Ela disse, e seu queixo despencou no cho. O que significa isso, Elizabeth! No sei Charles, ele chegou aqui trazendo somente essa carta, destinada a voc. Anda leia, estou curiosa! ela respondeu com petulncia, enquanto entregava-lhe um delicado envelope que continha seu nome. Abriu-o e comeou a ler:
Caro Sir. Charles espero que estejas bem, melhor do que eu, no estado em que me encontro em meu leito de morte. Sinto ter que te dar essa noticia assim dessa forma, mas se voc est lendo essa carta, infelizmente o pior aconteceu. Tenho um ilho de cinco anos que se chama Jaime, e ele seu. Nossa historia foi to rpida e faz tanto tempo que nem sei se voc se lembra de mim, mas irei refrescar tua memria... Lembro de chegar Cornualha exatamente no Natal para as comemoraes do Rei Gorlois. Meu marido, o Conde Robert Durrell, fazia parte da corte, e fui convidada de honra. Quando cheguei voc logo chamou minha ateno, mas diferente de muitos, voc sequer notou minha presena. Voc j era Casado com Catarina e tinham um belo ilho, se me recordo bem, se chamava Henrique, mas seu casamento, assim como o meu, j no ia nada bem. Vou te contar um segredo que talvez voc no saiba: meu casamento foi nada mais nada menos que um contrato de negcios. Como todos sabem, meu marido um homem idoso e sempre foi muito doente, e eu uma mulher Jovem, vinda de uma famlia humilde, mas muito ambiciosa. Meu pai vendo o estado de sade do conde se agravar fez uma proposta para ele, eu seria sua esposa, cuidaria dele no im de sua vida e no o deixaria morrer solitrio. Eu aceitei, mas implorei a meu pai para que esse homem jamais me tocasse, ento isso fez parte do Contrato, dormamos em aposentos separados. Em troca eu herdaria toda sua Fortuna. Ele aceitou prontamente, ele nunca teve um Herdeiro mesmo. E ele cumpriu com essa promessa, jamais exigiu a consumao do casamento. Voc foi o nico homem que tive na vida, Sir. Charles, por isso tenho tanta certeza que Jaime seu Filho. Perdoe-me, por nunca te procurar, no foi falta de vontade de minha parte, mas meu marido fez vista grossa com minha gravidez, acabou aceitando, com a condio de que eu nunca mais te procurasse e que Jaime jamais soubesse que seu pai no era ele. Robert faleceu logo aps seu nascimento, mas eu precisava manter minha promessa, pois Jaime herdaria seu ttulo se ele fosse declarado como seu ilho legtimo. E foi o que aconteceu, hoje ele o segundo Conde de Witshire, e dono de uma fortuna inimaginvel. H aproximadamente um ano atrs, uma doena muito grave me acometeu, a tuberculose. Enviei um emissrio ao Rei Gael, implorando que ele me desse notcias suas. Ele me informou que voc havia se casado com sua irm. Eu ento contei toda a verdade ao meu ilho, ele aceitou muito bem, pois nunca teve um pai de verdade. Charles, eu no queria ter te causado tudo isso, mas estou morrendo e te imploro para que cuides de nosso menino, no o deixes icar abandonado nesse mundo e muito menos permitas que ele ique com minha famlia. Eu no tenho mais a quem recorrer e vi que voc um pai amoroso e atencioso com seu Filho Henrique. Sei que o lugar de Jaime ao seu lado, estou o enviando a ti juntamente com essa carta, com o desejo de que o ame imensamente e o trate como ilho que . Espero que me perdoe para que eu tenha uma morte calma e tranquila, e que Jaime te traga tantas coisas boas assim como me trouxe. Com carinho Margareth Durrell
Charles amassou a carta nas mos. Olhou para o pobre garoto, ele no tinha culpa de nada. Meu Deus o que Morgana vai pensar disso tudo? Vamos Charles, conte-me logo! Elizabeth exigiu. Ele meu filho, Elizabeth! Pela Deusa, Charles, quantos ilhos voc ainda tem espalhados pelo mundo?
Charles no respondeu, muito surpreso e um tanto confuso... nesse momento no sabe o que pensar e nem o que fazer, pediu a deusa que orientasse seus passos, o passado mais uma vez vem ao seu encontro e tem que arcar com as consequncias de seus atos. Espera sinceramente que Morgana entenda.
Charles demora a retornar e Morgana vai ao seu encontro na sala. Depara-se com um lindo menino, muito parecido com ele. A cor abandona seu rosto. Charles, o que signiica isso? pergunta, e ele lhe entrega uma longa carta. Ele est cabisbaixo e seus olhos no encontram os dela como de costume. L a carta rapidamente e lgrimas surgem em seus olhos. Uma expresso desolada toma o rosto de Charles. Morgana, esse meu ilho Jaime. ele faz uma pausa, respirando fundo. Estou to surpreso quanto voc, Vida, me perdoe, meu passado me cobrando o que iz. Foi antes de te conhecer, e no posso deix-lo, ele s tem a mim agora.. ele se explica. Ergue o olhar para Charles e o lindo menino ao seu lado. Jaime... bonito nome. Ele tem a expresso to triste, parece to perdido, to confuso, pois acabara de perder a me. Fica com pena do pobrezinho e uma chama se acende em seu corao. Precisa estar ao lado de Charles nesse momento, capaz de compreender muito bem essa questo do passado retornar para cobrar as dvidas. Ela tambm j fora cobrada e ele no a abandonou. Vai direo de Charles, acaricia seu rosto e o abraa. Sorri para o garotinho que retribui meio tmido. Elizabeth d um abrao coletivo. No gosto nem de lembrar dessa sua fase negra, meu irmo, mas Jaime a parte boa disso. Agora ele tem uma famlia e isso que importa. E Morgana sinto que voc perdeu um ilho, mas ganhou outro, cunhada! Elizabeth exclamou. Ela estava certa, no adiantava remoer o passado. 19 Jamais me deixe!
MAGNUS!
Magnus estava distrado preparando uma poo em seu laboratrio nos aposentos do castelo, quando um servo entrou rapidamente, assustando-o. Olhou de relance para ele, sabia muito bem que no gostava de ser incomodado quando estava trabalhando. Magnus, me perdoe, mas tem uma mulher na entrada do castelo te procurando e dizendo que uma emergncia! o servo disse e Magnus o seguiu pelos longos corredores at que chegou onde a mulher estava. De costas para ele, Magnus no a reconheceu de imediato, mas aqueles longos cabelos cor de cobre invocaram uma lembrana que durante muito tempo ele lutara para manter afastada de sua mente. A mulher virou-se e ela tinha sangue nas mos: era Lucy, a mulher que um dia ele amou e me de sua ilha Evanora. Sem pensar muito, Magnus correu em sua direo, pensando que ela poderia estar gravemente ferida. Lucy, o que aconteceu? Magnus, meu pai est gravemente ferido, cado na estrada bem perto daqui, por favor, nos ajude. Uma cobra assustou o cavalo e ele foi jogado no cho. Est inconsciente e sua cabea est sangrando muito. Por favor... ela disse desesperada. Tinha mais de 20 anos que Magnus no a via. Da ltima vez ele fora exilado do Reino de Astolat por t-la amado. Seu pai, o Rei Dolorous Stroke jamais aceitara, porque Magnus no era um homem nobre, ele viera de uma famlia de camponeses. Ento fora obrigado a deixar seu lar, juntamente com sua ilha para que ambos no fossem mortos. Lucy teve que se casar com o Prncipe Ivain do Reino de Lyonesse, com o qual era prometida desde que tinha a idade de 9 anos. Ivain morrera h alguns anos atrs e Lucy no tivera nenhum ilho dele, deixando Dolorous sem herdeiros legtimos, pois a irm de Lucy, Alana, fugira para Camelot para se casar com um homem sem nobreza. Ironicamente, agora o destino de Dolorous estava nas mos de Magnus. Ele despertara de seus pensamentos, enquanto acompanhava Lucy para fora do Castelo, seguindo para a estrada que levava Camelot. Porm, infelizmente ele pouco pde fazer, pois Dolorous j estava morto quando chegaram. Ele bateu forte com a cabea e infelizmente no resistira aos ferimentos. Sinto muito Lucy! Magnus disse, enquanto ela, inconscientemente o abraava. Ele ento pode sentir o calor de seu corpo e o perfume de seus cabelos e notou desde ento que sentira falta disso. Mas tudo j fazia parte de um passado distante pelo qual ele no tinha inteno nenhuma de resgatar. Pensou em Evanora, todos esses anos mentira para ela dizendo que sua me havia morrido. Fizera isso com o intuito de proteg-la para que ela nunca tivesse a inteno de ir atrs da me em Astolat e acabasse morta. Essa foi a nica soluo que Magnus encontrou e agora teria que dizer a verdade, s esperava que ela entendesse. Lucy j est tarde, fique em minha casa por hoje, amanh te ajudarei a tomar as providncias necessrias. Magnus disse vendo que no tinha outra soluo. Ela concordou com o rosto tomado pelas lgrimas. Sabia que a noite seria dicil, tendo-a to perto assim e to fragilizada, tinha medo de que fraquejasse. Lutava bravamente contra os sentimentos que queimavam em seu peito desde que ela chegara. Tinha conscincia que desde que fugiu do Reino de Astolat com sua ilha, nunca mais fora capaz de amar ningum. No queria assumir, mas Lucy era o grande amor de sua vida. Mesmo com toda mgoa que guardava de Dolorous, Lucy no poderia jamais ser culpada pelos erros do pai, mesmo que ela tenha sido fraca e no aceitado fugir juntamente com ele. Mas ele podia compreend- la, a vida fora de Astolat foi extremamente dicil. Ele no tinha parentes e nem amigos a quem recorrer. Com uma ilha recm-nascida nos braos, ele vagou de cidade em cidade, s vezes, mendigando qualquer tipo de servio ou vendendo suas poes curativas at ser encontrado por Gorlois, e num momento de solidariedade, ele o trouxera para ser seu "curandeiro" no Castelo da Cornualha. E assim sobreviveu at hoje. No comeo foi dicil suportar sua ausncia e Evanora sentia muito a falta de uma me, mas ele nunca foi capaz de abrir seu corao novamente ao amor. Com o passar do tempo, foi se habituando a sua nova condio, o amor que sentia por Lucy se tornou nada mais que uma doce lembrana de tempos distantes e adormecera em seu peito. E agora, Lucy com sua presena havia feito esse sentimento despertar do sono eterno. Porm, sabia que depois que um corao sofre demais ele se torna um guerreiro ou um covarde. Enfrentar a batalha ou fugir. Mas no h guerras sem perdas. De certa forma ou de outra o corao aprender e mudar para sempre.
Lucy no conseguia acreditar em para onde o destino a havia levado. Sara s pressas de seu reino com seu pai, para visitar sua irm Alana em Camelot. Ela icara extremamente doente aps dar a luz a um menino, e estava morrendo. Agora seu pai estava morto e ela estava na casa do homem que amava e que jamais conseguira esquecer, mesmo com todos esses anos. A noite tinha sido dicil, no conseguira dormir, muitos pensamentos invadiam sua mente ao mesmo tempo. Muita coisa aconteceu em menos de dois dias. No sabia o que fazer, agradecia imensamente por tudo ter acontecido to perto de onde Magnus vivia. Pensou na menina que havia abandonado, onde ser que ela estava? No sabia se seria melhor procur- la ou simplesmente deix-la viver sua vida. No tinha coragem de tocar nesse assunto com Magnus, sentia-se muito envergonhada por ter sido to fraca. Mas Lucy pagou o preo por sua fraqueza, durante mais de vinte anos sofrera a lembrana daqueles tempos felizes sempre teimava em lhe atormentar a mente, a lembrana daquele lindo beb que carregou no colo por to pouco tempo. Por muitos anos procurara por Magnus e por sua ilha, mas s h pouco tempo atrs conseguiu descobrir seu paradeiro. Ele foi trazido para Cornualha. Prontamente, estava disposta a largar tudo e vir ao seu encontro, mas no ltimo segundo descobriu que ele estava recluso em uma Abadia com a ilha do Rei Gorlois. No im das contas, foi melhor assim, no sabia se seria aceita e j era tarde demais. Assim que chegara a casa de Magnus mandou um servo casa de sua irm Alana para saber notcias dela e de seu ilho. Logo pela manh, ele deve retornar. No restava mais nada a fazer a no ser esperar.
Lucy despertara de seu breve sono, ao ouvir batidas na porta da casa de Magnus. O sol j havia nascido h algum tempo e entrava fraco pela janela. Uma nova batida insistente na porta a fez levantar-se relutante, no estava preparada para enfrentar os diversos problemas que o nascer do sol traria para ela. Saiu do quarto e no viu Magnus. Anda em direo porta e ao abri-la se depara com o servo que enviou sua irm na noite anterior, trazendo consigo uma cesta com um pequeno beb ruivinho que dormia tranquilamente. Notou que em seu pulso ele trazia um pergaminho amarrado a uma ita azul. Meio atnita pegou a cesta da mo do servo e agradeceu. Delicadamente aconchegou o pequenino em seus braos e ele se mexeu minimamente. Abriu o pergaminho e o leu: "Minha querida irm... Lucy! H quanto tempo no nos vemos. Queria muito poder ter estado contigo por mais tempo. Bem, este Heitor, seu sobrinho. Aps seu nascimento, adquiri uma doena muito severa que me impedia de amament-lo e cuidar dele. Passaram alguns dias e eu percebi que aquela doena tiraria a minha vida... ento decidi envi-lo a voc, minha irm mais velha, minha companheira querida, que mesmo no entendendo meus motivos, permaneceu ao meu lado. Voc seria a nica que poderia cuidar do meu pequeno Heitor, como se ele fosse seu. S voc pode am-lo como a um filho. Peo perdo por no ter sido uma irm digna de seu carinho e por lhe pedir algo to importante. Saiba que a amei todos os dias em que vivi. De sua irm, Alana!"
Lucy segura novamente o sobrinho em seus braos, os olhos marejando ao repetir mentalmente o contedo da carta. Agora tinha uma criana para cuidar. Pobre garotinho, to novinho e j passou por tanta coisa. Lucy disse, embalando-o. Heitor era um presente, mesmo vindo em uma circunstncia to triste, pelo menos agora no estaria mais sozinha. No mesmo dia perdera a irm e o pai. Alana sempre fora impulsiva, mas a admirava. Ela teve a coragem para fazer o que Lucy no fora capaz: fugir e se casar com o homem que ela amava. Magnus entra na casa com o semblante confuso ao ver um pequeno beb nos braos de Lucy. Uma sensao estranha toma conta de si, lembrou-se da vez em que ela lhe entregara sua ilha para que fugissem e nunca mais se viram. Fora oprimido pelo medo de nunca mais v-la, de perd-la novamente. Era mais do que poderia suportar... Sem dizer uma palavra foi em sua direo e a beijou. Lucy correspondeu avidamente. O pequeno beb abriu os olhos azuis e comeou a chorar. Por favor, Lucy eu lhe imploro, no me deixe novamente. Magnus suplicou, e Lucy no tinha foras para discutir. No, Magnus, dessa vez no serei fraca, jamais irei deix-lo. O destino nos deu uma segunda chance e no irei desperdi-la. Eu te amo, sempre te amei! Eu amo voc, Lucy! ele disse apertando-a mais contra seu corpo, como se quisesse mant-la presa a si para sempre. 20 As Amazonas
Lisandre saiu da cidade de Catha juntamente com sua irm Keena e sua amiga Maya em direo Cornualha, para o cumprimento do dever a qual foram treinadas: proteger a criana que nasceria com o dom do quinto elemento. H alguns meses atrs, a vidente pde sentir que ela estava nascendo, ento ela se preparou para que chegasse o dia de sua partida. Ela fazia parte do cl das Amazonas, mulheres guerreiras que haviam construdo uma cidade independente, onde nenhum homem poderia viver ou se relacionar com elas. Porm, a cada Beltane, uma Amazona era convocada para ir cidade vizinha, escolher um guerreiro e ter relaes com ele. As crianas do sexo masculino que nasciam destas relaes eram mortas, enviadas de volta para os seus pais ou expostas natureza; j as crianas do sexo feminino eram mantidas e criadas por suas mes, treinadas em prticas agrcolas, na caa e nas artes da guerra. Lisandre jamais seria capaz de tal atitude, ento agradecia todos os dias Deusa por permitir que ela se tornasse uma Guardi. O treinamento era duro. Quando as meninas completavam sete anos de idade eram retiradas de sua famlia e entregues a professoras especializadas de acordo com a funo que exerceriam no cl. As guardis eram as que mais sofriam. As crianas eram levadas para campo de treinamentos austeros com armas, principalmente o arco e lecha para aprenderem disciplina. Eram constantemente espancadas para suportarem a dor, seno morreriam. Tinham que andar descalas para aumentarem a resistncia dos ps, e usavam um pedao de pano o ano inteiro para aprenderem a suportar o frio. No inverno carregavam os corpos das meninas que morriam durante noite, e eram muitas. A comida era escassa e as meninas eram incentivadas a furtarem para aprender a conseguir sua prpria comida e serem espertas. Tudo isso para que se tornassem guerreiras perfeitas. Quando atingiam a adolescncia, as garotas eram encarregadas da segurana da cidade e qualquer mulher adulta podia vigi-las e puni-las. O respeito as mais velhas era primordial. Nas refeies, por exemplo, as jovens deveriam permaneciam caladas, s respondiam quando eram questionadas. Ao atingirem a idade de vinte e um anos, as que eram convocadas para serem guardis prestavam um juramento. Elas no podiam se envolver com nenhum homem, no se casariam e no teriam ilhos, enim, nada que desviasse a ateno de seu protegido. A vida em Catha nunca fora fcil, mas o corao de Lisandre, com o passar do tempo, endureceu- se. Ela era a mais forte entre as guardis, nunca perdera uma batalha e era a lder de seu grupo no acampamento. Aprendera a gostar do que a desaiava, o fcil nunca lhe interessou. J o obviamente impossvel sempre lhe atraiu e muito. Lisandre olhou para sua irm Keena que cavalgava ao seu lado, sempre fora muito frgil, se no fosse por ela, no teria resistido ao treinamento. Uma vez Keena ia ser punida por ser pega tentando furtar uma maa, mas Lisandre levou a culpa e foi chicoteada em seu lugar. Keena era muito fraca e no sobreviveria ao espancamento. J Maya sempre fora mais forte e nunca precisou de proteo, porm se tornara uma mulher amarga, sempre usando de articios para esconder seus sentimentos, a ironia era sua arma preferida. Apesar do jeito impetuoso, ela tinha um grande senso de humor negro e era extremamente leal. Foram se aproximando do Castelo da Cornualha, a simples presena delas ali j despertava a curiosidade, principalmente dos homens. As Amazonas eram reconhecidas onde quer que fossem. Mas o respeito e o reconhecimento era outra histria. Em um mundo dominado por homens, elas precisariam conquistar o seu lugar e sabiam que no seria nada fcil. Mas eles precisavam lutar lado a lado, para o bem de Annabelle. Ela era muito importante e se casse em mos erradas, seria uma grande tragdia. Precisariam superar suas diferenas pelo bem de todos. Rei Gael as recebeu e no precisou de muitas explicaes, pois j foi avisado da chegada delas. Por sorte, a pequena Annabelle e sua me estavam no castelo e logo foram apresentadas. Era uma criana adorvel e ela iria proteg-la at o fim de sua vida. Esse era seu dever e sua honra! Ao meio-dia da manh seguinte, Lisandre estava sentada em um enorme pedregulho, descascando calmamente uma maa com sua adaga. Um grupo de cavaleiros se aproximou e ela tentou sem sucesso ignor-los. Gawain, o mais arrogante e detestvel ser que ela j viu na vida, deu dois passos frente. Voc consegue segurar essa espada, docinho? ele disse deixando claro, seu desprezo na voz, apontando para sua espada que estava presa em seu cinturo. Lisandre se levantou sem que ele percebesse e pressionou a lmina aiada em seu pescoo. Gawain no teve sequer tempo de pensar em reagir e arregalou os olhos. Ela no pde icar alheia muito tempo a forma como seus corpos se juntaram em um encaixe perfeito, enquanto seu quadril pressionava o dele mantendo-o preso. Olharam-se nos olhos por um longo momento, a boca dele se entreabriu, estava bem prxima da sua. Ele segurou em sua cintura, colando mais seu corpo ao dele, o toque era gentil, sensual e sublime. Lisandre tremeu com a intensidade do desejo que sentiu. E ento ela o soltou. Seu corao estava acelerado. Mas que diabos? Gawain soltou uma gargalhada. Cuidado para no quebrar a unha ou atrapalhar o cabelo, boneca! ele disse ironicamente, afastando-se dela. Nunca tinha se importado com esse tipo de abordagem, mas aquela atitude a irritou imensamente. Que cara idiota! Lisandre disse, virando-se para Maya. Apesar de tentar parecer indiferente, havia um tom em sua voz que a contradizia. Maya a conhecia muito bem. Bem demais. Voc est apaixonada? Maya perguntou. Que pergunta mais sem sentido, Maya, voc sabe que no posso... Lisandre disse, mas foi menos convincente do que da vez anterior. No a atormente Maya, ela j tem problemas suicientes! Keena disse. Estar apaixonada sendo uma guardi? Oh, que trgico! Maya disse em seu costumeiro tom irnico. Lisandre no respondeu, mas no podia negar que um sentimento brotava em seu peito, um sentimento que ela nem sequer conhecia. Desde que chegara a Cornualha, Gawain despertara sua ateno. E por mais que tentasse sentir dio de sua petulncia, ela no podia negar o que sentia. Droga! Sua vida nunca fora fcil, mas era confortvel e segura, agora ela tinha de lutar contra esse sentimento. No poderia se permitir a amar, seno ela no protegeria Annabelle, mas protegeria Gawain. No se jogaria na frente de Annabelle em uma batalha, mas se jogaria na frente de Gawain. Isso no poderia acontecer. Ela precisava lutar, estava ali para o cumprimento de seu dever. Jamais colocaria Annabelle em risco. Nunca travara uma batalha to dicil, uma batalha consigo mesma. 21 No Oceano de seus Olhos
Morgana estava distrada na cozinha com o pensamento distante. Hoje pensou em Charles o tempo todo. Nessa vida maravilhosa que ele lhe proporciona e em como feliz ao seu lado. H pouco tempo atrs, jamais imaginou que seria digna de tal felicidade, mas a existncia lhe concedeu um sonho pelo qual jamais quer acordar. No viu Charles chegar, simplesmente sentiu o abrao dele por trs e disse bem prximo ao seu ouvido: Hoje voc ser minha a noite toda! Seu corao parou por um momento, o desejo atravessando seu corpo. Segurou-se na bancada seno teria desabado ao cho. Charles lhe solta e se dirigi ao banheiro, certamente iria tomar seu banho aps um longo dia de trabalho. Mas no sozinho. Rapidamente ela soltou os seus longos cabelos negros que estavam presos em um coque. Determinada tira toda sua roupa. Totalmente nua, abre a porta do banheiro, como de costume, estava somente encostada. Seu corao acelera cada vez mais, a expectativa aumentando seu desejo. Charles d um sobressalto com o barulho, ele no esperava sua invaso. Ele se vira graciosamente sentindo sua presena, e para tudo que estava fazendo, seus lindos olhos azuis profundos arderam no mais puro desejo. Seu cabelo estava um pouco mais comprido caindo sobre a testa, todo molhado. Seu corpo estava mais bronzeado. Ele exalava a mais pura luxria. Ficou observando aquele corpo perfeito: seus ombros fortes, bceps enormes, peitoral e barriga totalmente deinidos. E seu msculo abdominal se movimentando medida que ele se movia em sua direo com movimentos seguros e elegantes. Ele presenteou-a com aquele seu sorriso deslumbrante e suas pernas bambearam com aquela viso espetacular! Morgana foi se aproximando lentamente de onde ele estava. Charles estendeu a mo para ela, tremulamente ps a mo sobre a dele. Sem dizer absolutamente nada, ele a ajudou a entrar, j lhe pressionando contra a parede. Tremeu com as sensaes dos corpos molhados se misturando um ao outro. A gua morna caa relaxando e excitando ainda mais. Ofegou com o indescritvel prazer que a percorreu. Seu corpo to lindo, Morgana, voc foi feita na medida para mim! Charles voc tudo o que preciso! Quero voc! disse, todos os nervos do seu corpo clamavam por ele. Aconchega-se nos seus braos, sentindo o corpo reagir de imediato ao seu calor, aquecendo sua alma. Ele a agarra e lhe d um beijo ardente que a deixa bamba. Aquele oceano azul olhava-a ixamente. Devagar e sedutoramente, ele a ergue posicionando-se sobre sua cintura, levantando sua perna direita e a segurando. Febrilmente, pressiona seu quadril de encontro ao corpo dele. Gemeu ante a sensao de completude que a fez sentir-se amada plenamente. Vou te amar para sempre! ele disse, enquanto sua boca traava um caminho de fogo por onde conseguia alcanar. Amo voc Charles, te amo com todo meu ser! disse mal acreditando que o corao desse homem lhe pertencia. Mas agradeceu a Deusa por isso. Se seu corao pudesse falar, com certeza ele gritaria o nome de Charles a cada batida. 22 De Volta para Casa
O vento frio e cortante rebatia em sua face, secando os lbios e fazendo arder os olhos. Quanto mais Nimithiel se aproximavam da Cornualha, mais o tempo fechava. Mas estava feliz, aps uma longa viagem, ela enfim, estava em casa novamente. Ao longe na estrada, ela avistou uma comitiva que vinha em sua direo. Com o intuito de sair do caminho, Nimithiel icou nas margens da estrada com seu cavalo. Um forte relmpago caiu numa rvore prxima, fazendo seu cavalo empinar e ela caiu na grama fofa que circundava a estrada. Por sorte, amaciou sua queda que seria bem feia se casse no cho duro de terra. Um homem muito bonito vinha a sua direo. Nimithiel se virou de lado e rapidamente colocou o colar, mudando de forma, no queria ser vista por ele estando toda deformada. Minha lady, voc se machucou? o homem disse. Notou que ele vestia um manto vermelho de veludo e que ostentava uma bela coroa na cabea. Com certeza era um prncipe ou at mesmo um rei. Quando o viu, ela literalmente perdeu a fala, mesmo podendo falar, devido ao feitio do colar. Nimithiel somente conseguiu balanar a cabea negativamente em resposta sua pergunta. Ele sorriu, tinha um sorriso charmosamente desalinhado, e a afetuosa preocupao em seus olhos, enterneceu-a. O homem estendeu a mo para que ela se apoiasse ao levantar. Sou Rei Francis, do Reino de Tregor! Diga-me seu nome! ele disse, mas no era um pedido. Ele dissera aquilo num tom de voz que ela teve certeza que ele j usara para ordenar suas tropas a se prepararem para uma batalha. Nimithiel, meu senhor. ela disse com as palavras presas em sua garganta e no teve certeza se ele havia entendido. Onde a senhorita mora? Sou daqui mesmo da Cornualha. para l que estou indo, por favor, deixe-me lev-la para casa. Fao questo, depois do incidente que lhe causei. ele disse e aceitou sua oferta. A bondade dele tocou seu corao.
Francis impressionara-se com tamanha beleza e perfeio. Esperara por uma mulher como Nimithiel toda sua vida. Apaixonara-se. Pela primeira vez ansiou por um futuro, um futuro de felicidade.
Minutos depois, Nimithiel estava inalmente parada na porta do castelo de sua me, e no via a hora de encontr-la. A saudade machucava seu peito. Morgana surgiu na porta. Primeiramente ela pareceu no reconhecer Nimithiel, mas alguns segundos depois de olhar ixamente em seus olhos, ela a abraou. Filha, voc voltou! ela disse com os olhos tomados por lgrimas, deslizando as mos pela pele perfeita de seu rosto. Me me perdoe, eu no queria preocupar voc, mas eu precisei partir. Nimithiel, voc est curada, voc pode falar. Isso um milagre! Sim, me, enim posso falar. Eu salvei uma feiticeira que me presenteou com esse colar mgico, agora sou normal! Filha, ico to feliz por voc Morgana disse segurando o colar entre as mos, e examinando-o mais de perto. Por favor, filha, jamais me deixe, eu no posso suportar... Nunca mais a deixarei, me. Eu amo voc, senti tanto sua falta, tanto. Nimithiel disse se sentindo culpada pela dor que viu no rosto de sua adorada me. Jamais a faria sofrer novamente. Tambm te amo, ilha! ela disse, abraando-a, e Nimithiel no pode mais conter as lgrimas que desceram por seu rosto. Morgana notou a presena de um homem acompanhado de alguns soldados atrs de Nimithiel. Senhora, sua ilha teve um pequeno acidente na estrada, causado pela passagem de minha comitiva. Perdoe-me, qualquer coisa que precisarem basta me avisar. Sou Rei Francis e estarei hospedado no castelo. disse fazendo uma leve reverncia. Ele segurou a mo de Nimithiel e depositou um suave beijo, fazendo-a sorrir. Obrigada Majestade! O senhor o Rei do Reino de Charles! Sim, minha lady, eu e Charles somos amigos de infncia! ele assentiu. Sempre ser bem-vindo nessa casa, Majestade! Morgana disse. Francis se despediu e tomou a estrada novamente. Em breve voltaria, no via a hora de rever a doce Nimithiel novamente.
No dia seguinte Nimithiel descansava em seu quarto. Com o tempo foi descobrindo que o efeito do colar no era deinitivo. Ele somente surtia efeito durante, aproximadamente, 6 horas por dia, portanto, ela precisava tomar o mximo de cuidado. Rei Francis acabara de sair daqui, passara a manh com ela e a levou para cavalgar no bosque. Francis a beijara delicadamente e ela permitiu, pois isso era o que mais queria. Ele no podia descobrir sua verdadeira face, provavelmente ele se assustaria e nunca mais iria querer v-la. Daqui a alguns minutos o efeito passar. Pensou em Francis, to lindo e to perfeito, e surpreendentemente ele parecia gostar dela. Ela se apaixonou profundamente. Ele era tudo o que ela almejara ter, mas no podia se permitir ter esperanas. Ele um rei e logo se cansar dela. O simples pensamento faz seu sangue gelar. Quando pensou em sua vida como era antes, teve uma nica certeza: No poderia mais viver sem ele.
Uma batida forte na porta fez Morgana dar um sobressalto. Mais uma batida. Apressou-se. Algum disse do lado de fora: Abram! Viemos em nome do Prncipe Arthur! A simples meno desse nome fez seu corao bater forte de ansiedade, apertando o estmago e dificultando sua respirao. O que ser que queriam aqui? Abriu a porta, e viu cinco cavaleiros fortemente armados, trajando longas capas vermelhas com o smbolo de Camelot impresso neles. O que estava frente fez uma leve reverncia, provavelmente deveria ser o lder. Ele apresentou-se como Sir. Lucan. Estamos procurando uma feiticeira do fogo que tem o corpo coberto por escamas. Informaes de camponeses nos trouxeram sua casa. Por favor, entregue-nos a mulher. O homem diz efusivamente. Coloca a mo no peito sem entender nada. Eles esto atrs de Nimithiel. Tentando manter a calma e pensar com clareza, lembrou-se do feitio do colar. No existe nenhuma pessoa com essas descries aqui nessa casa! Morgana responde. Teremos que revistar sua casa, minha lady parecendo ctico, ele retrucou. Rezando para que Nimithiel estive usando o colar, ela deu passagem para que eles entrassem. Inesperadamente, Nimithiel surgiu na escada, o olhar amedrontado. O homem no deu nenhuma importncia para ela e continuou revistando a casa. Viu Nimithiel se contorcer, logo o colar perderia o efeito, ela passara a manh inteira com ele. Ficou paralisada no lugar, seu medo tomando propores gigantescas. Silenciosamente orou para que logo fossem embora. O cavaleiro lder surgiu no seu campo de viso. Minha lady, me desculpe. Se tiver informaes sobre essa feiticeira, por favor, nos comunique imediatamente. Ela cometeu um crime e muito perigosa. Qual a acusao? perguntou, sem acreditar que ele estava se referindo sua filha. Ela libertou uma feiticeira muito perigosa e atacou o Prncipe Arthur, que est extremamente ferido entre a vida e a morte. Ele meu primo, por favor, mande minhas condolncias minha tia Igraine. disse. Nimithiel feriu seu prprio pai. Nunca teve coragem suiciente para contar suas verdadeiras origens. Ela desconiava devido a sua doena, sabia que tinha sido concebida de uma relao incestuosa, mas sabia somente parte da histria. Achou melhor que se mantivesse assim, ainda mais depois do ocorrido, no queria que ela vivesse com essa peso em sua conscincia, ela j sofre demais. Obrigado, Senhora! O Cavaleiro disse, e se retirou da casa. Enim, pde voltar a respirar. Viu Charles chegar no exato momento em que os cavaleiros saam. Inesperadamente, ele abraou Sir. Lucan e eles conversaram por minutos que pareciam no ter im. Como ser que eles se conheciam? Lembrou-se que Charles j esteve em Camelot, provavelmente deve t-lo conhecido a partir da. No se preocupou muito com isso. Queria que fosse logo embora. Por via das dvidas entrou e fechou a porta, antes que Lucan visse Nimithiel se transformar. O que eles queriam, me? Nimithiel perguntou. Estavam procurando um ladro. mentiu. No mesmo instante notou que o efeito do colar se dissipou totalmente, e Nimithiel voltou a sua verdadeira face. Essa foi por pouco. Mas precisavam ter cuidado, ningum poderia descobrir. Agora ela era uma fugitiva procurada. 23 Brida
Sentada na velha cadeira da antiga casa que ela ocupara na cidade de Cornualha, Brida pensava o que faria dessa vez. Darius foi invocado novamente. O seu Darius. H exatamente quatro sculos atrs Brida o amaldioara. Em um momento de raiva por mais uma vez ter sido desprezada, ela o aprisionara nas trevas da lua negra. Mas Brida tambm icara aprisionada. Fora amaldioada, tornara-se uma imortal, jamais seria liberta do desprezo de Darius. Por sculos e sculos, ela foi obrigada a v-lo ser invocado e apaixonar-se. Esse era o preo a se pagar e sua maldio. Alguns podiam achar que ser uma imortal uma vantagem, mas no quando no se tem motivos para viver. Brida jamais permitiu que Darius fosse feliz, assim que os laos comeavam a se formar, ela matava a mulher que libertava Darius. Se ele no fosse seu, no seria de mais ningum. Brida estava presa ao colar de meia-lua, ela podia sentir sua presena e localiz-lo. Todas as vezes que ele se deslocava de lugar, Brida o acompanhava, vendo o colar sendo passado de gerao para gerao. Na ltima lua negra, ela pode sentir que fora feita uma invocao, enim Elizabeth havia usado o colar e libertara seu amado mais uma vez. Agora ela morreria. Todas, todas morreram cedo. No permitiria que Darius amasse outra mulher. A Maldio era uma enganao. Essas mulheres tolas pensavam que poderiam t-lo, mas era s uma desculpa que Brida criou para castig-lo por seu desprezo e depois traz-lo de volta. Uma hora ou outra Darius entender que ele a pertence. E quando ele inalmente for seu, a maldio poder ser desfeita. Darius estar livre para ela. Coincidentemente, Brida tinha exatamente o que precisava, a garotinha com o poder do quinto elemento tinha nascido h alguns meses. Somente ela poderia fechar o vu entre os mundos que abriu quando amaldioou Darius. Quando ele estava preso, icava vagando pelo limbo, na escurido. Sentia que a hora enim, chegou. A criana era sobrinha de Elizabeth. Tudo parecia estar dando certo. No sabia descrever o qu, mas dessa vez sentia que algo estava diferente, algo que transcendia a maldio. Parece que Darius estava envolvido de verdade. Uma fria infernal cruzou o rosto dela. No permitir, precisa agir rpido. O que nasceu para ser seu, nada toma, nem o tempo, nem ningum. Enfrentar o destino se preciso for. Decidiu sair da casa, o colar estava se movimentando pela cidade. Caminhou entre as pessoas, despercebida. Era mais uma pedestre caminhando pela cidade, apenas uma pessoa a mais num oceano de humanos. Odiava estar entre as pessoas, a solido lhe agradava. O nico ser humano que lhe interessava era Darius. Abanou o rosto tentando combater o calor opressivo. A cabea doa. Enim, Brida a viu, a pessoa pelo qual ela procurava: Elizabeth com a pequena Annabelle no colo. Ela caminhava tranquilamente alguns metros a sua frente. Brida estava coberta por uma longa capa preta toda desbotada. Exalava hostilidade por todos os poros. Iria perseguir Elizabeth esperando pela oportunidade de entrar em ao. A dor de cabea martelava seu crnio. Deteve-se alguns metros antes com os olhos ixos naquele rosto plido. A meio caminho da rua, Elizabeth abriu a porta de uma casa e entrou disfaradamente. Ento era aqui que Elizabeth estava mantendo Darius agora. Pensamentos agressivos invadiram sua mente, sentiu a palma das mos suarem, e no tinha nada a ver com o calor. No havia mais o que fazer, no poderia icar se arriscando no meio da multido. Convocaria alguns vassalos. Os Vassalos so humanos que vivem apenas para servir aquele que o enfeitiou e se tornam criaturas sem sentimentos que no tem nenhum receio de matar e nem medo da dor. Vivem em total degradao e em estado de mendicncia. Mas eram muito teis em situaes como essas. O melhor lugar para se obter vassalos nas cidades eram as tavernas, onde as pessoas dominadas pelo lcool se entregavam facilmente ela. Muitas delas j no tinham mais nada a perder. Brida entrou na taverna e logo avistou um grupo de quatro homens sentados a uma mesa afastada de todos. Puxou uma cadeira e sem pedir permisso, sentou-se juntamente com eles. Os homens certamente eram cavaleiros da Cornualha, pois trajavam um manto negro com o smbolo do Reino. O cheiro de lcool era insuportvel, muitas garrafas estavam espalhadas pela mesa. Um dos homens sorriu maliciosamente para ela, deslizando a mo por debaixo de seu vestido. Vem aqui, gracinha! o homem disse com a voz embargada. V com calma a, Sir. Owain. um dos cavaleiros disse, fazendo todos rirem alto. S quero me divertir um pouco, Sir. Gawain. ele respondeu. Brida sentiu-se enojada, agiu rpido, precisava sair dali o mais rpido possvel. Retirou do bolso um vidro dourado que continha a poo que precisava. Despejou uma pequena quantidade no copo de cada um deles. Da mihi liberum, sit servus me! Brida recitou o feitio. Agora s precisava aguardar. Retirou-se do local imundo e esperou do lado de fora, j no suportava mais icar dentro daquele antro. Um a um, os homens foram saindo e se ajoelhando a sua frente. Matem Elizabeth e me tragam a menina que tem o dom do quinto elemento! ela ordenou e os viu sarem do beco onde estavam em direo rua principal.
Lisandre saltava graciosamente de telhado em telhado, circundando as ruas por onde Elizabeth e Annabelle trafegavam. Ela se agachou na margem do telhado de uma casa e observou o emaranhado de pessoas que andavam freneticamente de um lado para o outro. Elizabeth j havia alcanado seu destino e entrara na casa de Darius com a pequenina. Sua irm Keena estava logo adiante no telhado que dava para os fundos da casa e Lisandre fez um gesto indicando para que ela ficasse atenta. Keena nunca gostara de matar, mas Lisandre no se importava. Agia sempre com frieza emocional, algo que aprendera depois de anos de treinamento. Gostava de ver o gemido agonizante do inimigo embaixo do io de sua espada. Era muito diferente de sua irm. Eram com o sol e a lua ou como a luz e a escurido. Mas sempre se completavam. Saltou para o telhado da casa mais prxima, assim poderia ter uma viso melhor. O olhar de Lisandre pairou sobre um homem muito estranho que andava com a cabea abaixada, trajando uma roupa escura e mal cuidada. Claramente tentava passar despercebido pela multido. Sentiu a rajada fria e o odor da maldade emanando em sua direo atravs da distncia que a separava dele. O homem entrou na rua lateral da casa de Darius e forou a janela, tentando invadir o local. Maldio! Lisandre esbravejou irritada. Ela pulou no parapeito, e em um salto pousou suavemente no cho. Desembainhou a espada do cinturo de couro. Cravou a espada nele, partindo a garganta do desgraado ao meio, ignorando o sangue que jorrava dele, se derramando em sua mo. O homem se debateu e ofegou enquanto a morte se apoderava dele. Caiu sem vida no cho. No mesmo instante, Keena se posicionou ao seu lado. Quem esse homem? Keena perguntou. Lisandre levantou os olhos e ergueu os ombros magros. A resposta pareceu demorar uma eternidade. No sei, mas me pareceu que ele estava enfeitiado, e com certeza um cavaleiro da Cornualha, veja os trajes Lisandre fez uma pausa. Como temamos a fora do mal j est atrs de Annabelle. Lisandre respondeu. Keena sempre se surpreendia ao ver a irm em ao. Com certeza era uma guerreira letal, provavelmente a mais letal de todas. Era uma mquina de matar. Quando Lisandre deu por si, uma mulher trajando uma capa preta, saiu da casa carregando Annabelle no colo. Seu olhar cruel a sondou desinteressantemente. Lisandre d um passo para frente, seu corao acelerando-se ao ver sua protegida nos braos daquela mulher. Fica paralisada no lugar, ao ver em seguida Sir. Gawain sair da casa, puxando Elizabeth com violncia pelo brao. Sua respirao parou, forou seu corpo a se movimentar, mas estava presa no lugar. Notou que a feiticeira a prendia com magia. Um segundo depois, todos desapareceram no ar, deixando s um rastro negro para trs. Lisandre caiu ao cho na mesma hora e comeou a chorar. Havia falhado em sua misso, mal conseguia acreditar nisso. Darius, imediatamente saiu da casa, e com um semblante confuso, olhou para Lisandre cada ao cho. Voc deve ser a protetora de Annabelle. Ele disse com angstia transparecendo em sua voz. A feiticeira que me amaldioou a levou juntamente com minha Elizabeth. Venha, eu sei para onde ela as levou e sei exatamente o que preciso fazer para salv-las. Sim, Darius, vamos imediatamente. Keena volte para o castelo e traga reforos. Lisandre disse, andando com Darius pelas ruas, apressadamente. Saram pela loresta de Ascentir at chegarem ao moro mais alto do reino. Olhou para cima e viu que ele quase tocava o cu. Subiram o morro at que avistaram a feiticeira, juntamente com seus refns. Sentiu um aperto no peito ao ver Gawain, sentado numa rocha afastado de todos, balanando o corpo para frente e para trs. Era terrvel ver um homem to lindo e to forte naquelas condies. Quando olhou para o lado, Darius caminhava na direo da feiticeira. Ela fez meno de acompanh-lo, mas ele ergueu a mo pedindo para que ela aguardasse. Ele parecia saber o que estava fazendo, ento Lisandre procurou manter-se calma e observar. Viu, chocada, Darius se aproximar da feiticeira e beij-la. A mulher correspondeu avidamente, envolvendo os braos no corpo musculoso de Darius. A dor atravessou o rosto de Elizabeth que estava amarrada num tronco de rvore a alguns metros adiante. Lisandre aproveitou a distrao da feiticeira e correu para soltar Elizabeth, escondendo-se atrs da rvore. Gawain pareceu despertar do encanto e veio atrs dela. Ela sacou a espada do cinturo, se preciso fosse, iria mat- lo. Gawain veio correndo em sua direo e sua aparncia parecia a de um morto-vivo. Ela buscou todas as foras que tinha, mas no teve coragem suiciente para mat-lo e quando ele agarrou seu brao, Lisandre desferiu um soco forte em seu rosto, fazendo-o cair desmaiado ao cho. Com a ajuda de Elizabeth, ela conseguiu com certa diiculdade arrast-lo e traz-lo para seu esconderijo anterior. A cena se desenrolava a sua frente, viu abismada a feiticeira abrir um vu negro no cu, que se estendeu at o cho. Gritos sinistros ecoaram em toda campina, os pelos de seus braos se eriaram imediatamente, nunca em toda sua vida ouvira algo to sinistro, um vento gelado percorria todo o local. Annabelle agitou-se no colo da feiticeira e esticando os pequenos brainhos, ela tocou o vu que se fechou imediatamente. Voc est livre da maldio, meu amado, agora inalmente voc meu! Brida disse, soltando uma gargalhada sinistra. Elizabeth resmungou baixinho ao lado de Lisandre e lgrimas verteram sem parar por seu rosto. Ela tocou gentilmente em seu ombro, tentando consol-la. Darius se afastou abruptamente da feiticeira e Lisandre se lembrou das palavras dele, um pouco antes de partirem de sua casa. Elizabeth, ele est ingindo. Darius me disse que sabia o que teria que fazer. D um voto de coniana a ele! Lisandre disse e Elizabeth balanou a cabea, airmando. Darius apontou a sua espada na direo de Brida e a raiva se apoderou do rosto dela. Voc me enganou, Darius, mas isso no icar assim, eu matarei todos que esto aqui! Brida disse, lanando Darius a metros de distncia. Ele caiu inconsciente no cho. Elizabeth saiu do esconderijo e antes que Lisandre pudesse impedi-la, viu ela correr na direo de Darius, gritando seu nome. Ela foi lanada no ar da mesma forma que Darius, caindo ao cho ao lado dele. Mas o que se seguiu adiante, Lisandre jamais ir esquecer. Annabelle gritou: "Tia!" um grito agonizado de dor que tocou profundamente sua alma. Na mesma hora a viu tocar na face de Brida, um toque gentil, porm mortal. A feiticeira arregalou os olhos e se desfez em cinzas que voaram ao cu com a fora do vento e desapareceu. Lisandre em toda sua vida nunca viu algo to magnico e to assustador. No meio das cinzas, Annabelle surgiu sentada no cho, brincando com a terra. Lisandre inspirou profundamente aliviada e foi ao seu encontro, pegando-a no colo. Guardaria as lembranas desse dia para sempre.
Dois dias depois, Lisandre caminhava tranquilamente pela parte de trs do castelo, fazendo sua vigia diria com os olhos atentos loresta. Sem que notasse, algum a puxou pelo brao, pressionando-a na parede. Seu corpo assumiu posio de ataque, uma sensao de alerta tomou conta de seus sentidos, mas logo relaxou ao ver que era Gawain. O corpo todo de Lisandre foi envolvido pelo desejo. Ela remexeu-se tentando em vo se libertar, mas Gawain pressionou-a ainda mais sobre a parede, seus olhos emanando uma determinao inabalvel. Voc salvou minha vida, guerreira, e ainda no pude te agradecer adequadamente por isso. ele diz e seu beijo delicioso molha sua boca. Todo seu ser clama por seu toque, saboreia a sensao de seus corpos entrelaados. No devemos fazer isso, Gawain, eu sou uma Amazona. Lisandre disse numa v tentativa de afast-lo de si. Voc ocupa meu corao e meus pensamentos, desde a primeira vez que te vi. ele disse olhando ixamente em seus olhos. Seu olhar diz mais do que mil palavras. Gawain eu no posso, eu iz um juramento, isso errado... ela fala sobre sussurros. s vezes das atitudes mais erradas surgem as melhores consequncias. ele retruca assertivamente. Lisandre percorre seu peito com a mo, sentindo a rigidez de sua massa corporal. O que voc quer de mim, Gawain? ela pergunta, enquanto ele pressiona seus quadris com deliciosos movimentos. Quero voc! Ele disse, e Lisandre sentiu que no mais podia resistir. Saltou em sua cintura e entrelaou as pernas nele, tomando a iniciativa. No nascera para icar imaginando como seria, fora feita para mostrar como deve ser. Est certo Gawain, que se dane! Gawain abriu o fecho da parte de baixo de sua armadura. Voc uma mulher que qualquer homem mataria para ter! Quero voc! ele disse abrindo o fecho de seu vestido. Ia tomar-lhe para si e ela esperava sinceramente que fosse para sempre. 24 Isabel
Depois de longos meses em uma busca incessante, enim Isabel conseguiu encontr-lo. Charles. Parada, no mais alto morro, teve uma bela viso da cidade de Cornualha, e mais adiante avistou um grande castelo que deveria ser o da famlia de Charles. Seu cavalo relinchou alto, como se at ele estivesse ansioso para cumprir sua misso aqui. Acalme-se, companheiro, acalme-se, logo nossa hora chegar. Isabel disse carinhosamente tentando acalm-lo, enquanto deslizava as mos por seus pelos negros brilhantes, por meses ele foi a nica companhia que teve. Mas tudo acontece no seu devido tempo. Tudo acontece exatamente quando deve acontecer. H muitos anos atrs, Charles destruiu sua famlia. Era uma das mais tradicionais da Cornualha, antes de Uther e Gorlois tomarem o trono que pertenciam a seu pai Isaac. Muito tempo se passou, mas as lembranas daqueles dias ainda estavam cravadas na sua memria. Charles destruiu sua honra, ela foi s um objeto em sua mo que ele usou e depois simplesmente jogou fora, humilhando-a na frente do seu pai. No satisfeito com a afronta, Charles acabou com os planos de sua famlia para conquistar o trono da Cornualha que pertencia a eles por direito e que estava nas mos de um Usurpador: Rei Gorlois. A nica coisa que ele prestava era para fazer festas regadas a orgia e bebedeiras, e para colocar a primeira vagabunda que encontrasse no trono. Ela tinha apenas 15 anos, era s uma criana quando Charles seduziu-a com a inteno de descobrir os planos de seu pai e foi fcil para ele us-la. No demorou muito para que Charles descobrisse e fosse delatar tudo para o Rei Gorlois. Por conseguinte, seu pai foi humilhado e decapitado em praa pblica por traio. Sabia que ele no era o melhor pai do mundo, sempre vivia obcecado por conquistar o trono, mas ele era tudo o que tinha. Ele praticamente a criou sozinha, pois sua me morreu aps o parto da doena puerperal. E desde a morte de seu pai, segue por esse mundo, sozinha, sem ter um lar. Todos os bens foram tirados de sua famlia e jamais conseguiu se casar. Quem iria querer se casar com a ilha de um traidor que cuja honra foi arrancada dela? Esse estigma carregou por anos e anos. No obstante, dois anos depois sua magia demonstrou seus primeiros sinais, ela possua os poderes para manipular o elemento Terra e novamente teve que encarar seu sofrimento, sozinha, sempre fugindo de cidade em cidade, trabalhando de taverna em taverna por um prato de comida ou por um lugar onde pudesse dormir. At que sua magia fosse descoberta e tivesse que sair s pressas do lugar. Da ltima vez que tentou se estabelecer no pequeno vilarejo de Camlann, quase foi morta na fogueira, sendo salva nos ltimos segundos por uma garota toda deformada que surgiu do nada. Estremeceu com a lembrana. A garota teve sua recompensa, no deve nada a ela. Essa era sua Vida. Essa era sua rotina. Com o passar dos anos foi aprimorando cada vez mais os seus poderes, sempre praticando e buscando novos conhecimentos, esperando e esperando at o momento certo chegar. E na sua ltima tentativa falha de invadir a Cornualha, levando o que restou dos navios de sua famlia para uma batalha sangrenta comandada por Charles, ela descobriu que ele abandonou tudo o que tinha para se casar com uma mulher e vive feliz com ela num imenso castelo, e desde ento vem se preparando para se vingar. Seu corao acelerou e a profunda tristeza que lhe acompanhava onde quer que fosse, ardeu novamente em seu peito. Mesmo que lutasse bravamente, dia aps dia contra esse sentimento, no podia neg-lo: ela amava Charles. Lgrimas desceram queimando por sua face. Sentia por ele um misto de amor e dio, mas sabia que esses sentimentos andavam juntos, um no poderia existir sem o outro, assim como a luz no pode existir sem a escurido. Voc s pode odiar quem um dia amou ou quem voc deveria amar. O oposto do amor no o dio. O oposto do amor a falta de sentimentos. E esses sentimentos batalham entre si diariamente em seu peito. Porm decidiu que, assim como ele lhe negou o amor, tambm iria tirar isso dele. Far com que ele a ame, e aps isso, destruir tudo de bom que h dentro dele e tudo o que conquistou, e assim como ele fez, ir desprez-lo. Retirou de seu bolso esquerdo dois pequenos vidros esverdeados. Um deles continha a poo do esquecimento, e o outro, a poo do amor, cuidadosamente preparados por ela e que nunca falham. Em breve Charles ir sentir um pouco de sua dor...
Aps alguns dias de descanso, devido ao longo feriado das comemoraes do Equincio de Outono, o qual Charles icou com Morgana 24 horas por dia, chegou ao im em uma segunda-feira como outra qualquer. Ela estava triste porque ele icaria vrios dias fora desta vez, ele foi convocado a fazer uma ronda em outra cidade, no teria dia e nem hora certa de retornar e a necessidade dele aumentava cada vez mais. Necessidade que ele estivesse ao seu lado, de seu amor, de seu corpo quente em sua cama a qualquer momento. Sabia que isso poderia ser um exagero de sua parte, mas no podia negar o que seu corao dizia. Charles se levantou bem cedinho, aprontou-se rapidamente, enquanto Morgana observava cada passo seu deitada na cama. A noite foi intensa, izeram amor continuadamente, incontveis vezes, mas seu corpo ainda clamava por ele. Que diabos estava acontecendo com ela? Seu corao se acelerou e ela soube a resposta: amor verdadeiro, desejo genuno e puro, impossvel de se controlar. No adiantava lutar, mas s vezes isso lhe deixava aterrorizada, tinha medo de se tornar cada vez mais dependente dele, isso no era nada bom, ela sempre foi uma mulher to independente. Esforou-se ao mximo para no deixar transparecer, sabia que ele tambm deveria estar sofrendo. Charles vestiu sua armadura e, antes de sair, sentou-se na cama ao seu lado, ela ainda estava totalmente nua e por mais que segurasse sentiu lgrimas umedecerem seus olhos. Ele a olhou com cumplicidade e ternura, tirou o lenol que cobria seu corpo e olhou intensamente cada pedacinho dele, como que se quisesse gravar na memria cada detalhe para se lembrar com preciso durante os longos dias que viriam pela frente. Ele tocou gentilmente em cada parte descoberta, fazendo a arquejar e gemer alto. Nada mais importa Morgana, somente voc, deixe-me levar comigo seu gosto, o sabor de seu beijo, por favor... ele suplicou, ela fechou os olhos e acenou positivamente em resposta, fazendo as lgrimas rolarem por seu rosto, enquanto a boca vida de Charles deslizava por seu corpo todo, sem pudores e sem limites. Ela se levantou, sentou-se em seu colo de forma que icasse de frente para ele, sentindo o frio da armadura sobre sua pele, enquanto suas lnguas se juntavam em uma dana lenta e sensual e ela sentia o couro spero de suas luvas em seus quadris. Ele parou de repente, seus olhos mostrando um misto de diverso e desejo, seu nariz tocando o dela, a boca deliciosa bem prxima da sua. Desse jeito eu vou pedir demisso para o Gael, Vida! sorriram um pouco, mas logo icaram srios, a hora chegou e ele teria que ir. Com delicadeza, ele a carregou no colo e deitou-a na cama novamente, cobrindo- a, o lenol frio a fazia estremecer, a cama ao seu lado j vazia sem sua presena. Ele se abaixa e beija languidamente os seus lbios, fecha os olhos como se sentisse dor e lhe deixa sozinha no quarto que ica imenso sem ele ali. Morgana olhava ixamente o teto cor de creme, tentando segurar as lgrimas que faziam arder seus olhos e tentando conter a dor que queimava seu peito. Adormeceu e sonhou com ele.
Isabel se acomodou numa antiga caverna bem prxima estrada, mas que icava escondida por uma cachoeira. S quem conhecia muito bem a regio seria capaz de encontr-la. A qualquer momento, Charles passar na estrada para poder fazer sua ronda diria. Ficara sabendo que dessa vez ele iria para uma cidade distante e que levaria dias para retornar. Essa era a oportunidade perfeita para colocar seu plano em ao. Ouviu um trotar distante de cavalos, os cavaleiros estavam passando pela estrada. Enfim a hora chegou. Esperara tempo demais. Ela se escondeu detrs de uma grande rvore, esperando o momento exato chegar. Quando os cavaleiros estavam prximos o suiciente, ela saiu de seu esconderijo, ergueu a mo em direo ao cho batido da estrada e a terra comeou a tremer. O terremoto foi to forte que fez todos os cavaleiros carem dos cavalos, baterem no cho com toda fora e perderem a conscincia. Isabel agiu rpido, pegou Charles pelos braos e o arrastou para a caverna. Charles ainda no havia acordado. Isabel tirou de seu bolso a poo do esquecimento. Abriu a boca dele e despejou uma dose considervel. Morgana obliviscamur, quae oblitus illius, de ominus memorian uestram. ela recitou o feitio e na mesma hora, viu Charles se debater como se estivesse sendo torturado. No podia ser. Algo estava dando errado. Ele estava lutando contra os efeitos da poo. Nunca em toda sua vida viu isso acontecer. Mas ele vai ceder, a poo forte demais, a noite ele receber uma nova dose. No importa quanto tempo leve. Suportaria qualquer adversidade, tudo que fosse necessrio para ter justia, enquanto seu corao ainda ardesse por vingana.
Quando a noite chegou, Isabel fez Charles tomar uma nova dose da poo. Viu-o contorcer-se como se algo invisvel o estivesse torturando. Nunca em toda sua vida viu uma pessoa lutar com tanta intensidade. Ele delirava e convulsionava em absoluto sofrimento. Mas Isabel ignorou, procurou se concentrar apenas no grito em sua alma que exigia vingana. Jamais desistiria, estava muito prxima do xito agora. Por favor.. Charles murmurou, abrindo os olhos em sua direo. Faa o que quero e acabarei com sua dor. Isabel disse, a fria contraindo seu rosto. Fez Charles tomar mais uma dose da poo. Viu o mesmo de sempre acontecer, presenciou sua luta. Voc forte, admiro sua coragem, se fosse outro qualquer, j teria desistido. Vale a pena morrer por Morgana? Isabel falou. Seu olhar cruel o sondou com interesse. Ele invocou o que restava de suas foras para falar. Por ela morreria mil vezes. Ela minha vida, sem ela no existe razo para viver. Charles disse com a voz muito baixa. Experimentou uma dor dilacerante no peito ao imaginar o que poderia acontecer com suas lembranas de Morgana. No permitiria, iria proteg-las a qualquer preo. Eu vou mat-lo! Isabel esbravejou. Por que voc est fazendo isso, Isabel? Por sua culpa, Charles! ela gritou mais alto ainda. - Tudo o que voc fez foi me quebrar. Sim, voc me destruiu, agora eu vou acabar com tudo o que voc mais ama. Vou tirar Morgana de voc! Voc no nada, s um pontinho negro. Um obstculo perante algo muito maior que foge ao seu vo entendimento. Voc jamais ser capaz de entender o sentimento que temos um pelo outro. Nossas almas j izeram uma longa caminhada atravs dos sculos. Sempre iremos nos reencontrar. Faa o que achar melhor, mas no espere que eu a esquea, pois Morgana est impregnada em cada molcula do meu ser. Charles disse. Com os olhos torcendo de raiva, ela encarou-o. Isabel viu ele se deitar de lado com os olhos fechados. Parecia esgotado. Ser que enim, a poo surtira efeito? Estava to distrada que no viu um cavaleiro entrar na caverna. Ele sacou sua espada e Isabel sentiu o io de ao e titnio atravessar sua garganta. Incrdula, colocou a mo no pescoo e o sangue vermelho preencheu sua palma. Desmaiou ante a terrvel viso. Sentiu a morte se aproximando dela. Entregou-se.
Morgana no acordou muito bem hoje. No sabia explicar, o dia estava estranho. Aquele pressentimento ruim no abandonava seu peito desde que Charles partiu. A enxaqueca veio rpida. Gemeu diante da terrvel dor que pressionava a parte de trs dos seus olhos, o estmago se contorcia de dor. Foi para a sacada a im de poder tomar um ar puro. Suspirou profundamente o ar glido da manh, inalmente o calor estava abandonando o reino. Sentia-se um pouco melhor. Avistou ao longe uma comitiva, parecia ser a de Charles. Algo aconteceu, pois ele retornou muito antes do previsto. Saiu do quarto aos trpegos e foi at o jardim receb-los com o corao na mo. Chegou bem antes da comitiva, a longa espera lhe corroa por dentro. Eles foram se aproximando e no avistou Charles frente dos cavaleiros. Pde notar que havia um deles sendo levado ferido pelo cavalo de Sir. Lionel. Reconheceu Charles, deitado, inconsciente numa espcie de maca. Sentiu sua cabea rodar e as pernas bambearem, caiu ajoelhada no cho. Viu um abismo se abrindo sua volta e tudo o que queria era lanar-se nele. Sir. Lionel veio lhe dar um pouco de apoio. Minha lady, fomos atacados por uma feiticeira na estrada e ela levou Sir. Charles como seu prisioneiro. Por longos dois dias, eu o procurei desesperadamente. Encontrei-o j inconsciente numa caverna muito escondida. Lutei contra a feiticeira e consegui resgat-lo. No sabemos o que aconteceu com ele, pois no tem nenhuma leso ou ferimento. Obrigada, Sir. Lionel, no tenho palavras para lhe agradecer. Por favor, ajude-me a traz-lo para dentro, vou correndo chamar Magnus, ele deve saber explicar o que houve com Charles. disse um pouco mais tranquila por saber que ao menos ele estava vivo.
Minutos depois, Magnus chegou sua casa. Ele o examinou rapidamente. O que aconteceu com Charles, Magnus? Morgana, ele foi submetido ao feitio do esquecimento, um feitio extremamente poderoso da Era Antiga que geralmente irreversvel. Os feiticeiros o utilizavam quando precisavam esquecer uma lembrana que geralmente lhes era muito dolorosa. Mas muitas vezes, esse feitio era usado para o mal ou caa em mos erradas. Porm, minha querida, Charles lutou. Lutou to bravamente que ele preferiu perder a si mesmo do que perder voc. O amor que ele sente por ti to forte e to grande que conseguiu derrotar os efeitos da poo em seu corpo. Mas por consequncia, ele sentiu uma dor imensurvel, seu crebro simplesmente se desligou e Charles entrou em coma profundo. Ele se encontra no mais baixo nvel de conscincia, e para se proteger de tamanha dor sua mente se fragmentou. Charles est deriva, perdido nas profundezas de sua mente. E para se proteger, ele se escondeu no nvel mais profundo de seu inconsciente e criou uma barreira impenetrvel. S assim ele foi capaz de derrotar o feitio, s assim ele conseguiu proteger o amor que sente por ti e as suas lembranas. O que faremos, Magnus? perguntou emocionada perante a atitude de Charles. S voc poder quebrar essa barreira, Morgana. No h nada que impea Charles de despertar, ele est em perfeito estado de sade, no h nenhum ferimento e nenhuma doena, s esse bloqueio. Diga-me, Magnus, por favor... diga-me o que preciso fazer, que eu farei. Voc ter que entrar na mente de Charles. Mas para isso tambm ter que estar em estado de coma profundo e atingir o mesmo nvel de inconscincia. Ento eu farei um feitio que ir conectar sua mente a dele e sua misso ser encontr-lo. Magnus explicou. Estou pronta, Magnus. disse encorajadamente. Ela faria qualquer coisa para trazer Charles de volta. Deite-se aqui, minha querida, daremos incio imediatamente! Magnus falou enquanto vasculhava seus armrios. Ele prosseguiu com as explicaes: A mente humana um territrio fascinante, mas o inconsciente sombrio. No consciente onde guardamos nossas memrias felizes. Com certeza voc se ver muito nele. J no subconsciente esto as memrias, algumas felizes outras dolorosas, mas que j no tem tanta importncia mais em nossas vidas. Se forem invocadas j no nos causam tantos danos. Mas no inconsciente esto guardadas as memrias que so to dolorosas que no podemos suportar e nossa mente as reprime, protegendo-nos do sofrimento e nos fazendo seguir em frente. Por muitas vezes sequer conseguimos evocar essas lembranas naturalmente. Elas icam presas ali por uma barreira e como se no tivessem existido. E a que voc vai encontrar Charles. Morgana assentiu, concordando com tudo, enquanto Magnus a fazia tomar uma poo viscosa e amarga que desceu com diiculdades por sua garganta dolorida. Em questo de segundos, sentiu seus olhos pesados e um sono incontrolvel a dominou. Caiu nas profundezas.
Quando acordou estava caminhando por um ambiente to claro e to austero, que teve que fechar os olhos devido a fotossensibilidade. O lugar parecia inspito e inabitado, mas um pequeno ilme comeou a se reproduzir bem sua a frente. Ela estava na mente de Charles. Eram suas lembranas e eram to lindas que a emocionaram: a primeira vez que seus olhos se encontraram, o primeiro beijo quando ela estava fugindo, a primeira vez em Nortmbria, o beijo do reencontro, o casamento, a lua de mel em Loire, o nascimento de Henrique e Annabelle, o amor deles se concretizando quando se unem em um s. A intensidade das emoes dele lhe atingiu como um raio numa tempestade de vero e se chocaram com suas prprias lembranas to vivas em sua mente. No pde controlar e chorou copiosamente, emocionada. Recomps-se e continuou caminhando, no poderia perder tempo e de repente vi uma espcie de tnel que estava envolto em uma penumbra com uma luz mais baixa e muito mais confortvel, sups que deveria ser seu subconsciente. Rapidamente entrou no tnel, o que viu foi a morte dos pais de Charles que aconteceu h dez anos atrs e a forma como ele lidou com dois irmos adolescentes. Elizabeth foi a que mais sofreu com a perda. O sentimento que teve foi exatamente como Magnus explicara, Charles sentia dor com a lembrana, mas com o passar do tempo foi se transformando em saudade. Continuou seu caminho, cada vez mais fascinada com a mente de Charles, mas o que viu adiante, assustou-a. Uma passagem totalmente escura e envolta em brumas. Extremamente sombria. Na medida em que foi se aproximando um vento frio lhe atravessou e tentou em vo esfregar os braos para se aquecer. Entrou temerosa pelo que poderia ver ali, mas ansiosa para encontrar Charles. O que viu lembrou uma velha casa h muito abandonada e como temia, a lembrana que foi mostrada era o Massacre do Norte. Pde perceber a extenso de sua dor perante essa lembrana, mas no se apegou a ela desta vez, pois precisava encontrar logo Charles. Ao prosseguir, viu fantasmas, rostos mutilados, gritos, muitos corpos espalhados ao cho. Era como andar no vale da morte. Realmente era uma lembrana aterrorizante e sentiu seu corao se apertando. Ignorando o sbito silncio repentino de gelar a alma, ela gritou o nome de Charles e viu que algo fez um barulho vindo debaixo de uma mesa ao fundo. Foi quando viu um garotinho que tremia e chorava, claramente aterrorizado com tanto terror. Aproximou-se dele, os grandes olhos azuis a olharam e o reconheceu imediatamente: o garotinho era a representao sica de Charles em sua mente. Apressou-se em sua direo, quando se deparou com uma barreira invisvel feita de um material que parecia vidro. Notou imediatamente que no havia como quebr-la, atravess-la ou contorn-la. A barreira estava separando-a de Charles, prendendo-o. Esticou a mo em direo ao vidro e sentiu um campo de energia que quando era tocado, ardia como alinetadas quentes. Chamou novamente o garotinho e pediu gentilmente que viesse at ela, mas ele s balanou a cabea negativamente. E foi ento que entendeu que ela teria que arrumar um jeito de atravessar a barreira e chegar at ele. Fechou os olhos e inspirou profundamente ao perceber que para salvar Charles de sua priso, talvez tivesse que morrer, mas Morgana se sacriicaria de bom grado, se fosse preciso. Determinada, lanou-se novamente na barreira. Parecia que estava sendo jogada no arame farpado e foi arremessada de volta para trs, caindo ao cho.
O garotinho saiu de debaixo da mesa com o olhar extremamente preocupado. Nesse momento, sentiu o campo da barreira piscar, estava perdendo suas foras, Charles estava afrouxando-o. Aproveitando a chance, levantou-se e correu em direo barreira. Dessa vez conseguiu atravess-la, mas sentiu o vidro lhe perfurar como fagulhas. Antes que perdesse a conscincia, ergueu a mo na direo do garotinho que a segurou fortemente. Foi ento que desmaiou.
Charles no se recordava muito dos ltimos dias, mas se lembrava claramente do som da voz de Morgana acalmando-o meio escurido de seu inconsciente. Ela fora sua salvao. Amava-a de uma forma que era incapaz de definir. Ele desejava seu corpo e sua alma, desejava seu amor. Morgana dormia profundamente descansando a cabea em seu peito. Adorava senti-la assim com aquele vu negro esparramado sobre seus braos. Tocou-a no rosto enquanto a observava. Ela se remexeu perante seu toque. Sua blusa abriu-se exibindo o seio direito, pelo qual ele pde deliciar-se com a viso. Afagou os cabelos escuros dela, embevecido com a forma como ele deslizava em sua mo. Poderia passar a eternidade, observando-a. Morgana abriu os profundos olhos verdes, enim estava despertando. Ela abraou-o fortemente. Ah Charles pensei que tivesse perdido voc para sempre! disse e ele pode sentir suas lgrimas umedecendo sua camisa. Nunca, Vida, voc jamais vai me perder. Voc me salvou novamente! Charles falou, emocionado. Esse foi um ano dicil para eles, apesar de ter sido o ano mais feliz de toda sua vida. O passado teimava em persegui- los. Agradeceu silenciosamente por poder estar vivo e poder voltar para os braos de sua amada. Sente suas mos percorrem seu corpo e o desejo pulsa, seu contato fez seu corpo inteiro ser invadido por uma onda de calor despertando uma luxria furiosa. Percorreu seu corpo com as mos como se fosse enlouquecer se no o izesse. Um segundo depois, ela estava em seu colo e sua boca macia estava grudada na dele. Sugou sua lngua acompanhando o mesmo movimento de seus quadris. Arrancou sua roupa, no poderia esperar mais nenhum segundo. Seus dedos a tocam com malcia e ela se rende, sua.
Nimithiel estava passeando de mos dadas com Francis pelo jardim do castelo. Estava preocupada, pois desde ontem o efeito do feitio do colar durava cada vez menos, supunha-se que agora duraria menos de uma hora. J estava comeando a sentir os tremores em seu corpo, precisava voltar para casa imediatamente. Preciso ir Francis, prometi a minha me que no iria demorar. ela disse apressadamente. Mas acabamos de chegar, minha amada, por favor ique comigo um pouco mais, sinto tanto a sua falta. Francis disse. Ele a beijou efervescido pelo desejo. O tempo parecia parar e Nimithiel se deixou levar. Precisou se afastar, pois sentiu uma forte contrao na pele do seu rosto e seu brao j havia voltado a sua forma deformada. Nesse momento, notou que o relacionamento com Francis no seria possvel. Francis, infelizmente no poderemos mais icar juntos. Nimithiel disse com o rosto coberto por lgrimas, tentando em vo cobrir a deformao que j devia estar bem aparente nesse momento. Ela virou as costas e correu em direo porta da casa com Francis em seu encalo. Ele era mais rpido que ela e conseguiu alcan-la. Ele segurou seu brao e eles icaram frente a frente. Nimithiel tentou em vo cobrir o rosto com uma mecha de cabelo, mas Francis imediatamente retirou-a. Essa sua verdadeira forma, Nimithiel? ele perguntou em um tom que poderia ser autopiedoso, mas parecia mais uma sombria compreenso. Sim, estava sob o efeito do feitio desse colar. Eu sou um monstro, Francis, voc um homem honrado e um rei respeitado, voc merece coisa melhor do que eu. Realmente Nimithiel, sou muito exigente com a beleza... ele disse, e ela abaixou a cabea concordando. No havia o que discutir, ele estava certo, um rei como ele, era digno de uma verdadeira princesa, no uma aberrao como ela. Francis levantou seu queixo lentamente e continuou: Mas ela tem que vir principalmente de dentro, bem daqui... Francis colocou a mo em seu corao, que batia acelerado. Inesperadamente, ele se ajoelhou no cho. Nimithiel, eu amo voc, no posso te dar tudo o que voc merece, mas prometo te dar tudo o que puder. Quero que ique comigo por toda vida, case-se comigo. Seja minha rainha. Nimithiel icou sem reao, ela esperava por tudo menos isso. Apressou-se em responder. Sim Francis, claro que eu aceito. Te amo! Ela exclamou e chorou ainda mais do que antes, mas dessa vez foi de felicidade. Nunca mais se permitiria se sentir rejeitada. Arrebentou o cordo do colar e jogou-o longe. No precisava mais se esconder. No precisava mais dele.
Tarde de um domingo quente de primavera, o doce aroma das lores silvestres paira no ar, a brisa suave acaricia a pele, Charles e Morgana esto descendo a alameda rodeada de rvores sob uma cobertura de lores amarelas e ips roxos. O dia est bonito, o sol brilha alto no cu. Annabelle est inquieta no colo de Charles, querendo descer e conquistar o mundo, mas ela ainda no pode. Jaime est de mos dadas com Morgana. Henrique est frente, equilibrando habilmente uma bola de futebol nos ps, jogando-a para cima e para baixo, ordenadamente. Morgana est sentada ao lado de Charles, estirada na grama alta e verde da loresta prximo a casa, em uma campina aberta. Annabelle est no colo dele, parece tranquila e concentrada brincando com sua bonequinha, girando-a de um lado para o outro e levando-a diretamente a boca. No pode, Bebelle, sujo! Charles a repreende com uma voz infantilizada, mas no consegue esconder o divertimento. Ela concorda, abrindo seu lindo sorriso infantil, esticando os bracinhos querendo que o pai a carregue. So apegados um ao outro de uma forma nunca vista. Enly, Enly Annabelle balbucia na direo do Henry, se remexendo no colo de Charles, claramente querendo brincar com ele. Charles se levanta e comea a balan-la e gir-la, fazendo-a dar um gritinho de alegria. um som mgico, contagiante, fazendo seu corao se enternecer e Morgana sorri feito uma boba diante da cena. Vamos voar, Bebelle! Charles a lana alto e a agarra no ar, beija sua bochecha, e comea a fazer ccegas nela, que gargalha alto, contorcendo- se nos braos do pai tentando em vo se soltar, mas Charles persiste na brincadeira. Quando enim ele para, ela est completamente ofegante. Morgana tem lgrimas nos olhos de tanto rir, uma onda de entusiasmo se forma dentro dela. Annabelle desliza as mos no rosto dele, Charles leva-as nos lbios e deposita um suave beijo. Te amo tanto, meu solzinho! ela olha ixamente para ele, como que se entendesse tudo e abre seu sorriso contagiante. Ele esfrega o nariz no dela e a leva para brincar com Henrique e Jaime, ela d saltos de alegria no colo de Charles. Ele a senta gentilmente na grama em frente ao Henry e ele joga a bola pra ela, que tenta sem sucesso mand-la de volta. Olhos azuis e ardentes encontram os de Morgana e Charles a abraa, fecha os olhos e saboreia o prazer de ter seus braos ao redor do seu corpo. Ele lhe d mais um morango na boca, e ela morde com prazer, mirando-o nos olhos. Tenho uma surpresa para voc hoje, Vida! Charles esfrega as costas dos dedos em sua face, ele com certeza est tentando lhe distrair. Conte-me, amor! diz e seus olhos ardem em fogo, ele sorri maldosamente. Sem dizer uma palavra sequer, ele desliza as mos para dentro do seu vestido, discretamente. Isso no se faz, Charles, isso jogo sujo! faz beicinho e seus dentes arranham seu maxilar. Eu nunca prometi que jogaria limpo, Morgana. O queixo dela. Tambm sabe jogar sujo, ele que aguarde! Charles coloca a mo no bolso dianteiro de sua cala e retira um lindo estojo de veludo vermelho. Ele o abre e dentro contm um lindo anel, um solitrio de diamante. Morgana olha para ele sem entender. Feliz Aniversrio de um ano de casamento, meu amor! Charles diz empolgado, retirando o anel do estojo e colocando suavemente em um dos seus dedos. Obrigada meu amor, feliz aniversrio de casamento! Morgana disse, ainda sem graa por ter esquecido uma data to importante, mas foram tantos acontecimentos. Olha a sua volta, Elizabeth est deitada ao lado de Darius na rede. Nimithiel est em um canto afastado abraada com Francis. At mesmo Henry j tem uma namoradinha, ele no desgruda de Meredith, irm de Margareth, dama de companhia de Morgana. Acho que enim podemos dizer que todos tiveram um inal feliz! - Morgana disse. Voc meu final feliz, Morgana. Voc minha redeno. Nossa histria jamais ter um inal feliz, pois um amor assim como o que sentimos um pelo outro jamais ter um im. Morgana inalizou, e o sorriso mais lindo do mundo brotou no rosto dele. Seu olhar disse tudo o que ela precisava ouvir. Seus dedos passeiam por seus lbios, seu toque mgico. Seu corao tem urgncia dele. Sabe onde sua roupa cairia bem? ele perguntou. No querido. ela disse. No cho do nosso quarto! Charles diz enquanto mordisca suavemente a parte superior de sua orelha. Ento vamos logo, amor, pois estou louca para que isso acontea! Morgana murmurou, gemendo de prazer. a hora do entardecer, e decidem voltar para casa. Sobem novamente a alameda. Eplogo
Annabelle estava sentada no canto mais afastado do jardim, totalmente coberta pela grama alta, onde ningum pudesse v-la. Esse era seu lugar favorito. Quando era s uma criana era fcil controlar suas emoes, mas quando se tornou uma adolescente, ela tinha que lutar diariamente contra seus sentimentos e suas frustraes, pois hoje, com dezesseis anos de idade, os hormnios no lhe davam um segundo sequer de descanso. Acabara de discutir com sua me por um motivo ftil, pelo qual ela nem se lembra mais. Com a cabea abaixada entre os joelhos, ela tocou na pequena plantinha sua frente, ela murchou, tornou- se totalmente cinza e desfaleceu, virando p. Antes a planta do que um ser humano. S matou uma vez para proteger sua tia Elizabeth, quando ainda era um beb e esperava que isso nunca precisasse se repetir, portanto ela preferia se afastar das pessoas o mximo que pudesse. Sabia que isso preocupava seus pais, mas era melhor assim, no queria ter que colocar ningum em risco. Com o passar do tempo suas habilidades foram se aprimorando, ela conseguia ouvir claramente os ecos dos mortos e podia saber quando uma pessoa morreu ou quando uma pessoa estava prestes a morrer, atravs da cor de sua aura, que se torna um roxo fosco. Sem contar que em todo Shamain os espritos atormentados no lhe deixam em paz. As vtimas de assassinato eram as que mais lhe assustavam, pois eram obcecadas por justia e vingana. Ela pouco podia ajudar, pois s uma menina como outra qualquer. Essa sua maldio. O mais complicado era ouvir as vozes dos mortos, isso sempre a assustou, era aterrorizante demais. Perdeu as contas de quantas vezes correu para o quarto dos pais no meio da noite. Frequentar a escola era complicado, os outros alunos tinham medo dela e era constantemente excluda do restante. Eles a chamavam pelo "carinhoso" apelido de senhora da Morte. S Heitor era seu amigo de verdade, ele nunca a deixou sozinha, mas ela sabia dos sentimentos que nutriam um pelo outro desde que eram crianas. Tinha muito medo de se envolver com ele e machuc-lo, pois sabia o quo forte era o amor que sentiam, e sabia o quo instvel esse sentimento podia ser. No, no poderia arriscar, poderia mat-lo a qualquer momento simplesmente pelo fato de estar chateada com ele. Uma lgrima desceu por sua face. Ela trocaria sem pestanejar, seu dom por um beijo seu, trocaria seu destino para viver o dele. Na vida a pessoa que te faz forte sempre sua maior fraqueza. Seu pai vendo que no daria certo mant-la numa escola comum, decidiu que ele mesmo cuidaria de sua educao. Isso a entristecia profundamente. Era uma garota solitria. Sua me dizia que ela era especial, mas no era assim que se sentia. Queria ser popular como sua prima Violet, ilha de sua tia Elizabeth. Ela era morena, alta, bonita, a pele sempre corada, andava com vestidos esvoaantes feitos com as mais inas sedas e todos a adoravam. Annabelle no, tinha o cabelo muito negro como o de sua me, a pele plida como de um fantasma e o preto era sua cor favorita, pois ele demonstrava muito bem seu estado de esprito. O dom da cura era o mais til, porque ela poderia ajudar as pessoas. Seria o dom que mais gostava, se no fosse pelo fato de que tudo tem um preo. Sempre que curava uma pessoa, Annabelle icava doente na cama por dias e tossia constantemente por pelo menos um ms. Era como se parte do mal da pessoa curada passasse para ela de alguma forma. Algum a chamou, era Lisandre, uma de suas guardis. Ela no respondeu, gostava muito dela, mas no queria companhia agora e permaneceu quieta, abaixada sobre a grama. Ouviu um som fraco de folhas secas sendo amassadas por passos e seus sentidos icaram em alerta imediatamente. Sabia dos perigos que corria em icar sozinha assim, afastada da casa, Lisandre sempre lhe explicara muito bem. Mas era Heitor, s ele sabia onde icava seu lugar favorito. Seu corao acelerou-se quando o viu. Ele se sentou ao seu lado, aps lhe dar um suave beijo no rosto. Ela fechou os olhos ao sentir seus lbios to prximos dela, e uma eletricidade conhecida percorreu todo seu corpo. Abaixou o olhar, envergonhada. Heitor levantou o seu queixo. Deixe-me olhar em seus olhos, por favor. e aquele olhar encontrou-se com o dela, olhando-a ixamente, se aproximando... se aproximando. Ela sabia muito bem o que ele ia tentar fazer, ento colocou dois dedos em seus lbios, parando-o. Por favor, Heitor, no! No quero mat-lo! ela exclamou, o simples fato de falar isso, fez seu medo tomar propores titnicas. No tenho medo Annabelle, pelo que vale a pena morrer seno for por amor? No diga isso Heitor, no posso perd-lo! Mesmo que no seja eterno... se for com voc ser suiciente! ele diz, todas as suas defesas sucumbem nesse momento, e ela se entrega. Heitor a beija. O primeiro beijo! Um beijo delicado, carinhoso, simplesmente perfeito! Eu amo voc, Anna, quer ser minha namorada? Heitor no podemos... respondeu e ele segurou em seu rosto, com os olhos tomados pela splica. As lgrimas rolaram em seu rosto, era mais do que ela podia suportar. Levantou-se e correu o mximo que pde entre os corredores do jardim, deixando Heitor para trs, sozinho. Mas sabia que no adiantava fugir, pois esse sentimento a acompanhava onde quer que fosse. Tomada pela raiva, ergueu os braos, deslizando a mo pela folhagem que envolvia o caminho, e tudo que ela tocou se tornou apenas cinzas e morreu, se misturando as lgrimas que caiam do seu rosto.
Chegou em casa e foi correndo procurar sua me para se desculpar, mas ela estava trancada no quarto com o seu pai. Sempre admirou o amor que eles sentem um pelo outro. Eles so a prova cabal de que felizes para sempre realmente existe. O amor deles inspirador. Queria ela, um dia poder viver um amor assim com Heitor. Precisava conversar com sua me, pois a culpa a assolava, no queria t-la chateado, pois ela est com suspeita de gravidez. Desde a ltima vez que ela abortou h aproximadamente quinze anos atrs, ela nunca mais conseguiu engravidar, nunca conseguiu realizar seu sonho de ter um menino, mas agora parece que ela conseguir, pois dessa vez ela sonhou com um lindo menino de olhos azuis. Saiu para fora, e se sentou nas escadas da entrada do castelo. Pequenos locos de neve caem em volta dela, cobrindo todo o horizonte. Inspira fundo e inala o ar glido do comeo da noite. Escuta novamente Lisandre, chamando-a. Estou aqui, Lisandre! ela gritou para que fosse encontrada. Pelos Deuses, Annabelle onde voc estava? Lisandre disse com a voz grave e angustiada. S estava pensando, Lisandre, eu precisava disso. Annabelle disse, segurando suas mos. Onde esto seus pais? Provavelmente esto fazendo sexo! ela disse e o queixo de Lisandre caiu na mesma hora. Ela olhou abismada para Annabelle e soltou uma gargalhada, abraando-a. Voc terrvel, menina! Lisandre exclamou e elas riram juntas. Era bom por um momento se esquecer dos problemas. No mesmo instante, Annabelle icou triste e cabisbaixa. Lisandre levantou seu queixo e olhou em seus olhos. Oh querida, o que aconteceu? Heitor novamente? Sim, dessa vez ele me pediu em namoro. E voc no aceitou? Voc esperou tanto por isso... No posso me permitir machuc-lo. Minha menina, voc est se machucando para no machuc-lo e tenho certeza que ele j est sofrendo. No faa isso com vocs. s vezes a vida s nos d uma oportunidade, querida, no a desperdice, tenho certeza que tudo dar certo. Lisandre beijou sua tmpora. Ela estava certa, o fato de ter deixado Heitor sozinho e sem uma resposta deve ter magoado- lhe bastante. Amanh mesmo ir procur-lo e que a Deusa lhe d coragem, pois dessa vez ela dir sim a felicidade. FIM ndice dos Personagens
Ambrosius: Antigo Rei da Cornualha, aps sua morte, seu irmo Uther assumiu o Trono. Av de Isabel. Annabelle: Filha de Morgana e Charles. Possui o poder Quinto Elemento, o poder dos espritos e pode curar ou matar com somente um toque. Anne: Segunda Esposa de Gorlois e me de Gael. Princesa do Reino de Tintagel. No possua poderes. Morreu ao tentar dar a luz ao segundo filho. Arthur: Prncipe de Camelot. Filho do Rei Uther e da Rainha Igraine. Primo de Morgana. Breunor: Rei de Astolat. Brida: Uma feiticeira muito poderosa, com grande conhecimento da magia antiga e que aprisiona Darius nas trevas da lua negra. Catarina: Ex-esposa de Charles. Me de Henrique Charles: Comandante Geral do Exrcito da Cornualha. Duque da Cornualha e Lder dos Cavaleiros. Governante de Nortmbria. Darius de Astoria: Um Cavaleiro que foi amaldioado e aprisionado pela feiticeira Brida nas trevas na lua negra. invocado por Elizabeth. Elaine de Crbenic: Terceira Esposa de Gorlois. Do Reino de Crbenic, filha do Rei Breunor. Divorciou-se de Gorlois. Ellie: uma Dracopyre, lobos mgicos que tem o poder de se transformarem em humanos. Elizabeth: Irm de Charles. Emily: Dracopyre que foi escravizada por Morgana e obrigada a entrar em Camelot e fornecer informaes a ela. Foi descoberta e morta, enforcada em praa pblica. Irm de Ellie Ethan: Cavaleiro da Cornualha. Evanora: Filha de Magnus e melhor amiga de Morgana. No possui poderes. Francis: Rei de Tregor, cidade de natal de Charles e Elizabeth. Gael: Prncipe e Futuro Herdeiro da Cornualha. Irmo de Morgana. Filho de Gorlois com a Princesa Anne. Garret: Cavaleiro da Cornualha. Gawain: Cavaleiro da Cornualha. Filho de Morgause e do Rei Marcus, do Reino de Lot. Primo da Morgana e seu primeiro amor, quando ainda era criana. Gorlois: Pai de Morgana, Rei da Cornualha. Guinevere: Princesa do Reino de Logres. Casada com Arthur. Catlica Fervorosa. Henrique: Filho de Charles e de sua ex-esposa Catarina. Igraine: Rainha de Camelot. Casada com Uther e Me do Arthur. Irm de Vivienne e Tia da Morgana. No possui poderes, a magia elemental pulou sua gerao. Isaac: Pai de Isabel e um dos Herdeiros legtimos do Trono da Cornualha. Foi morto por traio. Isabel: Neta do Rei Ambrosius. Possui o poder de comandar o elemento terra. Charles a seduziu com a inteno de descobrir os planos de seu pai Isaac para tomar o Trono da Cornualha de Gorlois. Jaime: Filho de Charles com sua ex-amante Margareth. Conde de Witshire. Keena: Amazona, Guardi de Annabelle. Irm de Lisandre Lionel: Cavaleiro da Cornualha. Lisandre: Amazona, Guardi de Annabelle Lucan: Lder dos Cavaleiros de Camelot. Tornou-se amigo pessoal de Charles, quando ele esteve em Camelot em uma misso. Lucy: Princesa do Reino de Astolat, Filha do Rei Dolorous Stroke. Me de Evanora e grande amor de Magnus. Torna-se me do seu sobrinho Heitor, aps a morte de sua irm Alana. Margareth: Me de Jaime e ex-amante de Charles. Condessa de Witshire. . Maya: Amazona, Guardi de Annabelle. Magnus: Tutor de Morgana. Curandeiro e mdico da Corte da Cornualha. Possui o poder de manipular a Terra e podia utilizar a natureza para fazer qualquer poo, algumas delas curativas. Pai de Evanora. Merlin: Soberano desaparecido h mais de dez anos. A Lenda diz que ele foi aprisionado pela Dama do Lago em Avalon Morgana: Possui o poder de manipular o ar e o vento. Ela pode lanar uma pessoa a metros de distncia e pode alterar o clima. Filha de Gorlois e Vivienne. Irm de Gael. Morgause: Irm de Vivienne e Tia da Morgana. casada com o Rei Marcus do Reino de Lot e me de Gawain. No possui poderes, a magia elemental pulou sua gerao. Nimithiel: Filha de Morgana e Arthur, concebida atravs de uma relao incestuosa e amaldioada. Nasceu com a doena Reptiliose, que fez com que metade de seu rosto, parte de seus braos, o lado inferior direito do abdmen e metade da perna esquerda serem cobertos por escamas, lembrando a couraa de um rptil. Ela possui o dom de manipular o elemento fogo e possuam um incrvel poder destrutivo. Owain: Cavaleiro da Cornualha. Percival: Cavaleiro da Cornualha Ricardo: Soberano que possui o poder de manipular todos os elementos. Um Feiticeiro extremamente poderoso. Assassino de Aluguel, cruel e perigoso. Thomas: Filho de Evanora e Gael. Sobrinho e afilhado de Morgana. Atual Prncipe da Cornualha. .Uther: Rei de Camelot. Casado com Igraine, irm da Vivienne e Tia da Morgana. Pai de Arthur Vivienne: Era casada com Gorlois, mas devido a uma suposta traio foi exilada do Reino e desapareceu. Me biolgica da Morgana. Possui o poder de manipular o Elemento gua. Ela pode sobreviver tanto em terra quanto em mar e tem o poder de inundar cidades inteiras. Dama do Lago de Avalon.