Cames
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Nessa poca, o computador pessoal ainda era um luxo para poucos e o CAD estava disponvel somente em algumas poucas grandes empresas. Tambm no existiam os atuadores lineares e os motores de passo comeavam a surgir no mercado. O acionamento de equipamentos era feito por sistemas hidrulicos, pneumticos e, por cames. Os cames eram muito utilizados, principalmente nos equipamentos de fabricao de produtos de consumo em grande escala. Versteis e confiveis, eles viabilizavam diversas operaes controladas ... se corretamente projetados. Antes da popularizao das calculadoras programveis, as curvas de atuao de cames eram aproximadas com a utilizao da jurssica curva francesa (para os menos antigos, nada a ver com as curvas das francesas). Hoje, com um notebook, um excel bsico e um programa simples de CAD possvel projetar um came com preciso. Mas, ateno. Como se dizia na poca de chegada do CAD nas reas de projeto: um bom projetista , utilizando o CAD, far um projeto com maior rapidez. E um mau projetista far rapidamente um mau projeto. Este texto no aborda os fundamentos matemticos e dinmicos dos movimentos. A ideia aqui fornecer um passo a passo prtico da determinao do diagrama de tempos e movimentos e da escolha da melhor curva (entre algumas opes) para o projeto do came. Para o aprofundamento terico sobre o assunto, h no final do artigo, uma bibliografia sugerida.
1. Introduo O came um dos elementos mais antigos e simples utilizados na automao de processos industriais. Sua simplicidade, preciso e baixo custo em relao a elementos pneumticos, hidrulicos ou eltricos, o torna uma boa alternativa para a obteno de movimentos na automatizao ou sincronismo de dispositivos.
Entretanto, um came incorretamente projetado, apesar de produzir o movimento desejado, pode gerar foras, aceleraes e velocidades descontroladas que, em pouco tempo, tendem a comprometer todo o equipamento, alm de provocar desgastes excessivos no prprio came e nos elementos acionados.
Milton Nielsen
O desenho das curvas de um came atravs de raios de concordncia, ou pela escolha de uma curva matemtica no apropriada para o movimento a ser executado, pode eliminar toda a vantagem da utilizao deste elemento. bvio que, alm do correto dimensionamento do came, a escolha dos materiais e tratamentos trmicos adequados de todos os componentes envolvidos ser um fator decisivo para o bom funcionamento e longevidade do equipamento.
2. Determinao dos parmetros O primeiro passo no dimensionamento do came a determinao de seus parmetros: cursos, ngulos de atuao e dimenses fsicas. Cursos e dimenses do came so parmetros estabelecidos no projeto do equipamento (atravs do posicionamento e dimensionamento de eixos, alavancas, elementos acionados, etc.). Os ngulos de atuao devem ser definidos de modo a se obter os movimentos nos espaos de tempo desejados. Uma ferramenta extremamente importante nesta fase do projeto o diagrama de tempos e movimentos. 2.1. Diagrama de tempos e movimentos Este diagrama determina a maneira como os vrios movimentos do equipamento, realizados por meio de cames ou no, devem ser sincronizados para se obter as operaes desejadas. Basicamente, o diagrama composto de 2 eixos: o horizontal, que conter o tempo total de um ciclo de operaes, e o vertical, onde sero especificados os deslocamentos. Tome-se, como exemplo, um equipamento que deve realizar o seguinte ciclo contnuo de operaes: a) b) c) d) Posicionar a primeira pea numa guia de alimentao; Transportar a pea para um dispositivo de furao; Fixar a pea no dispositivo; Executar uma furao na pea atravs de um cabeote rotativo (aproximao rpida e furao com avano mais lento); e) Liberar a pea do dispositivo. Considera-se que o equipamento realizar este ciclo n vezes por minuto. Deve existir no equipamento um eixo principal, para acionamento dos cames, que possua uma rotao de valor igual ao nmero de peas produzidas por minuto pela mquina, ou n rotao por minuto. Dessa forma, em 360 de giro desse eixo, toda a sequncia de operaes ser completada. Assim, o eixo de tempos do diagrama ter uma variao de 0 a 360 de giro, ou de 0 a 60/n segundos (n = rotao do eixo). A figura 1 demonstra o diagrama do exemplo. O prximo passo verificar se o diagrama est otimizado: se os movimentos esto coerentes entre si, se os intervalos de tempo devem ser diminudos ou aumentados, se h alguma interferncia entre movimentos, etc.
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Figura 1
A tabela abaixo detalha os parmetros para a fase de escolha e clculo das curvas. Os valores mdios das velocidades de avano e retorno so apenas uma referncia para uma verificao rpida de compatibilidade (se os valores esto dentro de limites aceitveis). As velocidades reais, assim como as aceleraes, sero obtidas aps a escolha das curvas de movimentao. Operao (a) (b) (c) (d) (d) (e) Curso h1 h2 h3 h4 h5-h4 h6 Tempos de atuao (avano, retorno) (t1-t0), (t2-t1) (t3-t1), (t7-t4) (t5-t4), (t10-t9) (t6-t5) (t8-t6), (t10-t8) (t11-t10), (t13-t12) Velocidade mdia avano h1/(t1-t0) h2/(t3-t1) h3/(t5-t4) h4/(t6-t5) (h5-h4)/(t8-t6) h6/(t11-t10) (h5)/(t10-t8) h6/(t13-t12) Velocidade mdia retorno h1/(t2-t1) h2/(t7-t4) h5/(t10-t9)
2.2. Determinao do movimento Existem vrios tipos de curvas de movimentao e a escolha de uma ou a combinao de vrias, depende das caractersticas que se pretenda impor ao movimento. A figura 2 contm alguns tipos de curvas mais utilizadas. A curva 1 (Uniforme) a mais simples. Apesar de sua acelerao ao longo do percurso ser zero, o incio e o fim do movimento produzem picos de acelerao. Consequentemente, h um pico de fora no incio e no fim da atuao do came sobre o elemento acionado. Essa caracterstica da curva uniforme pode provocar danos aos componentes do equipamento, ao longo do tempo.
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Figura 2
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Como pode ser observado na figura 2, as curvas mais indicadas para uma movimentao suave e baixo desgaste de componentes so as curvas cicloidal e senoidal modificada. A curva harmnica tambm uma boa opo, principalmente quando houver necessidade de um maior deslocamento inicial do componente acionado.
3. Clculo do came Aps a escolha da curva, tm-se os seguintes parmetros: - Curso (h); - Intervalo de atuao (T): ngulo inicial (ti) e ngulo final (tf); - Dimenses do came: raio inicial (ri) e raio final (rf); - Equao da curva adotada. A fase de clculo consiste em se determinar o valor do deslocamento s para cada instante do intervalo de atuao t. Retomando o exemplo anterior, para a operao (b) e considerando-se o movimento do tipo harmnico, tem-se: Avano: intervalo t1 a t3 Rt1 = R0 Rt1+1 = R0 + h2/2*(1- cos (180 * 1/( t3-t1))) Rt1+2 = R0 + h2/2*(1- cos (180 * 2/( t3-t1))) Rt1+3 = R0 + h2/2*(1- cos (180 * 3/( t3-t1))) : : : : : : Rt3-1 = R0 + h2/2*(1- cos (180 *( t3-t1-1)/( t3-t1))) Rt3 = R0 + h2/2*(1- cos (180 * ( t3-t1)/( t3-t1))) = R0 + h2 No clculo acima, assumiu-se um incremento de um grau para a determinao de Rt. Qualquer variao que no comprometa a suavidade do movimento pode ser adotada. Utilizando uma planilha, basta colocar a sequncia de ngulos numa coluna e a frmula da curva escolhida em outra. No tem muita graa. Com apenas as calculadoras programveis a disposio, era mais divertido. Retorno: intervalo t4 a t7 Idem ao procedimento anterior (considerando-se o raio inicial = R0 + h2 e o curso = -h2). Como pode ser observado na figura 3, a aproximao de uma curva que unisse os pontos calculados produziria a curva final do came.
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Figura 3
Uma outra observao se faz necessria: a influncia do elemento acionado pelo came, no ponto de contato entre ambos. 3.1. Curva de contato O clculo realizado forneceu a curva de contato entre o came e um elemento acionado do tipo pontual. No entanto, na maioria das aplicaes de cames, o elemento acionado um rolete (rolo de leva), cuja influncia na curva pode ser observada na figura 4. Figura 4
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Nota-se na figura, que existe um ngulo de defasagem () entre o ponto calculado e o ponto de contato real. Dessa forma, deve-se considerar o raio inicial para o clculo como sendo o raio inicial do came + raio do rolete acionado. Assim, a curva final do came ser produzida pelo rolete descrevendo a curva calculada (figura 5). Consequentemente, a ferramenta que produzir a curva de contato deve ter o mesmo dimetro do rolete utilizado como elemento acionado. Figura 5
4. Observaes finais 4.1. Tipos de cames Os exemplos utilizados aqui, mostraram o desenvolvimento de cames de pista externa. Os mesmos clculos so vlidos para cames de pista interna e cames do tipo caracol (cilndricos), com as seguintes consideraes: - Came de pista interna: especificar tolerncia de ajuste entre o canal do came e o rolete. - Came cilndrico: o curso ser realizado no sentido axial do eixo. Considerar o raio inicial como sendo o afastamento entre o o centro do rolete e uma das faces do came.
4.2. Utilizao de alavancas Quando o uso de alavancas entre o came e o dispositivo a ser acionado se fizer necessrio (devido especificao do projeto, cursos longos ou movimentos extremamente precisos), deve-se levar em conta a variao produzida por este contato entre o came e o rolete (figura 6).
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Figura 6
Bibliografia: M. Kloomok e R. V. Muffley: Plate Cam Design with Emphasis on Dynamic Effects
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