A Educação Na Primeira Republica
A Educação Na Primeira Republica
A Educação Na Primeira Republica
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Na conjuntura de construo do Estado Republicano Nacional, a quem coube a tarefa de pensar, de forma sistematizada, a educao? Atualmente, que tipos de estudos do ateno organizao da educao naquele perodo? Esses campos de estudos tm passado por reviso conceitual? No atual estgio de desenvolvimento da pesquisa em Histria da Educao na Primeira Repblica no Brasil, h espao para o estudo do regional e do local? Frente s questes postas, vamos nos arriscar a apresentar um primeiro levantamento, precrio mesmo, da Histria da Educao na Primeira Repblica, tomando como base as perguntas acima colocadas, e na tentativa de uma breve caracterizao analtica dos estudos localizados. Antes, cabe revelar algumas dificuldades encontradas ao organizar o tema, uma vez que no somos, propriamente, estudiosos do perodo e destacando que, face ao curto espao de tempo destinado a esta tarefa, no tivemos condies de apresentar um estado do conhecimento, mais completo. Destarte, tomamos como base de argumentao as perguntas indicadas, embora tal procedimento no signifique considerar que os prprios estudos ora existentes nos indiquem as respostas. Diante do exposto, no de se estranhar a nossa forma de tratar o assunto. Outrossim, vale mencionar que deixamos de fora algumas obras importantes, principalmente ensaios clssicos sobre o Brasil e sobre a Educao, uma vez que tal encargo j foi suficientemente cumprido em comunicao anterior pelo Prof. Dr. Gilberto Luiz Alves na Videoconferncia intitulada As Reformas Pombalinas da Instruo Pblica no Brasil Colnia: mapeamento prvio para a produo do Estado da Arte em Histria da Educao, realizada no dia 17 de maro de 2005, dentro da Programao do HISTEDBR. Inicialmente, cabe lembrar que as condies econmicas, sociais e polticas em que, objetivamente, se instalou a Repblica nos estados e nos municpios, no mudaram de
2 uma hora para outra, apesar da mudana do regime poltico-administrativo em mbito nacional. Ao lado disso, cabe, ainda, relembrar a diversidade regional que interferia na composio poltica e administrava das unidades federativas. A ttulo sinttico, lembremo-nos que as vrias oligarquias regionais articuladas, de base socioeconmica, distintas e prximas: no Nordeste (mais predominantemente latifundiria-patrimonialista), e em So Paulo (mais agrria-mercantil), continuavam como o grupo social dominante. A maioria das provncias se encontrava, no inicio da Repblica, em uma situao econmica desfavorvel, o que no era o caso de So Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, cuja hegemonia econmica e poltica se alcunhou como a Poltica de Caf com Leite. O caso da Bahia, por exemplo, assim situado por Nunes (2003), baseando-se em Almeida (1952), para falar da situao de falncia que permeava o Estado: Em 1880 ocorreram muitas falncias, com muito desnimo dos produtores e comerciantes, e a economia s se reanimou no comeo dos anos 90 [...]. Nunes prossegue, com base na afirmao de Gomes (1958), enfatizando o quanto: A elite intelectual urbana da classe mdia necessitava do apoio dos coronis para a conquista dos postos de comando (p.65). Por sua vez, o processo de urbanizao se organizou, simultaneamente com o fortalecimento da economia agrrio-exportadora, que, em longo prazo, conformar o Estado Brasileiro sua prpria imagem [...] (PINHEIRO, 1985, p. 23), em um processo no interior do qual h uma perversa diferenciao social, matizada com negros e brancos, principalmente provenientes de campnios, sem condies de manuteno e, principalmente, depois da primeira guerra Mundial, completada por profissionais liberais, funcionrios, empregados e inclusive operrios urbanos. Se isso sabido, uma pergunta nos impe: a quem coube e como ocorreu o processo de reorganizao da educao durante o processo de instaurao, lenta e gradual da Repblica?
3 De uma maneira simplificada, poderamos dizer que a tarefa de pensar a Educao na Primeira Repblica, da mesma forma como ocorreu a respeito dos estudos da Histria do Estado Monrquico no Brasil, at pouco tempo atrs, coube s confrarias de elites ilustradas, formadas na tradio iluminista, reproduzindo o modelo europeu (NEVES, 2002 p. 8), naturalmente, observadas as devidas condies, inclusive intelectuais das, ento, unidades federadas. Ademais, as reformas nacionais de educao indicam que as idias e matizes ideolgicos correspondem imagem das idias prevalecentes no poder central. Durante todo o perodo da Primeira Repblica, parece terem sido os positivistas quem pensaram a Educao e efetivaram as reformas educacionais, em nvel nacional. Benjamin Constant, Ministro da Instruo Pblica, Correios e Telgrafos, entre 1890 e 1891, realiza a reforma do ensino primrio e secundrio. Em seguida, o gacho Rivadvia Corra, Ministro da Justia e Negcios Interiores realiza, durante sua gesto (1910-1914), segundo Cunha (1980) uma das mais ousadas e heterodoxas reformas da educao escolar no pas (p.139). Depois destas, aconteceram a reforma de Carlos Maximiliano (1915) e a reforma de ensino de Rocha Vaz em 1925. Ao lado disso, o iderio liberal que defendia o mesmo regime, no processo de conciliao que dominava a realidade poltica e econmica da Republica, em geral, foi quem preparou a organizao das leis educacionais nos estados, cuja representao mais forte, no inicio da Repblica, foi a de Francisco Campos, entre 1890 e 1896, em So Paulo. As demais, a partir dos anos 20, passam a hegemonizar os projetos de organizao da educao a ser construda e passam a referendar, inevitavelmente, os estudos localizados sobre a educao. Cabe lembrar que na Constituio de 1888: Cabia Unio legislar sobre o ensino superior na Capital da Repblica, cabendo-lhe, no privativamente, criar instituies de ensino secundrio nos estados e promover a instruo no Distrito Federal: Aos Estados se permitia organizar os sistemas escolares, complementares; [...]. Embora, seja sabido o quanto essa situao, de certa forma, se tenha mantido prxima das condies que se operavam durante o Imprio: autonomia sem condies operacionais e materiais pra tal.
Alis, uma situao que quase sempre aparece desprovida de um sentido verdadeiro em nossa histria, cabendo ressaltar a observao de Konder (1980) de que, quando as 13 colnias se tornaram independentes na Amrica do Norte, ocorreu a alternativa de confederao ou federao, e o debate tomou conta de todo o sculo XIX. Para o autor, no Brasil, ao contrrio, a federao surgiu com as idias de descentralizao, o que uma contradio nos termos, uma vez que Federatio, em latim, significa unio, conjuno. Aqui, a federao significou uma reao contra o centralismo monrquico que era, sobretudo, patente no campo administrativo (p.4). Sendo assim, no tratamento sobre a Educao na Primeira Repblica quase inevitvel que os estudos faam recorrncia aos materiais e testemunhos da Histria da Educao, cujas fontes escritas: relatrios, leis educacionais etc, nos levam a uma aproximao entre a anlise macro-estrutural e as suas snteses explicativas, e, de certa forma, aos processos individuais expressos nas reformas de Sampaio Dria (1920), em So Paulo; de Loureno Filho, em 1923, no Cear; de Ansio Teixeira, em 1925, na Bahia; de Francisco Campos, em 1927, em Minas Gerais; de Fernando de Azevedo, em 1929, no Distrito Federal; de Carneiro Leo, em 1929, em Pernambuco e a de Loureno Filho, em So Paulo, ocorrida em 1930. Dentro dessa perspectiva, o enfoque macro da educao, muitas vezes, tomado como uma categoria normativa que se situa quase no mesmo plano tanto da poltica, das idias, como da realidade concreta. No entanto, cabe observar que outras tantas idias tambm circulavam e estabeleciam o conflito com o regime, porm, com pouca visibilidade, quando se compara com aquelas que contam com o apoio da institucionalizao oficial: anarquistas; socialistas etc, sem se falar de uma maioria que era desprovida sequer dessas possibilidades. No incomum, portanto, dividir o estudo da Educao do perodo em questo, em dois momentos. Um primeiro momento, correspondente ao inicio da Primeira Repblica, quando os ideais estabelecidos para o novo regime e a autonomia constitucional adquirida
5 pelas unidades federadas no aconteceram de fato. Por exemplo, bastante reiterativa a recorrncia ao pensamento de Fernando de Azevedo (1964) quando considera que a Repblica: [...] do ponto de vista cultural e pedaggico, no vingou: foi uma revoluo que abortou e que, contentando-se com a mudana do regime no teve o pensamento ou a deciso de realizar uma renovao intelectual das elites culturais e polticas, necessrias s novas instituies democrticas (1953, p. 134). E, em seguida, depois de seu Relatrio em 1926, da efetivao do regime, em decorrncia de momento histrico quando vo acontecer as reformas educacionais estaduais, principalmente a partir dos anos 20. Sem dvida, a partir dos anos de 1960 em diante, coube s Universidades, principalmente aos cursos de Ps-Graduao e, mais recentemente, aos grupos de pesquisa, comearem a pesquisar essas propostas meta-histricas, e seus espaos de mediao com o particular: nos estados, nas regies, nos municpios, nas escolas etc. Esses processos passam, cada vez mais, a serem estudados em sua projeo particular, aonde vo explicitando-se, no s as categorias e representaes sociais, mas suas realizaes contextuais, em seus diferentes formatos, ao longo de um mesmo tempo, revelando que, dentro de uma historicidade mais ampla, h outras, em seu processo dialtico geral e singular. Diante do exposto, de uma maneira simplificada, podemos dizer que o estudo sobre a Histria da Educao na Primeira Republica: a) Do ponto de vista da periodizao, adota os marcos temporais, correspondendo ao perodo convencional, entre 1889 a 1930, havendo cortes, principalmente a partir de 1920. Dentro de um processo social, poltico e econmico, em sua composio hegemnica liberal e em movimento de disputa pelas condies urbano-industriais, dentro do mesmo regime; b) Os temais mais recorrentes dizem respeito descentralizao da educao, legislao educacional e s idias educacionais, seguidos do estudo da legislao, no mbito estadual, e aos estudos sobre a institucionalizao da escola;
6 c) Do ponto de vista da origem das fontes consultadas, embora tenhamos que ser cautelosos, dado o limite de nosso levantamento, parece que o recurso mais utilizado pelos textos produzidos entre 1970 e 1980 tem sido a Historia da Historia da Educao, quer dizer, a pesquisa e a anlise focando fontes escritas, secundrias publicadas com uma importante transio, nos anos seguintes, para o uso de fontes primrias, particularmente para o estudo do local, do regional, bem como para o alargamento da concepo e o uso das fontes escritas (documentos) e imagticas (fotografias).
A ttulo de uma primeira radiografia, situaremos, a) pelo menos, dois manuais de Histria da Educao; b) os estudos intermedirios que tratam da organizao, funcionamento e idias que do origem e sentido educao no perodo; c) depois, estudos que focam a descentralizao do ensino, principalmente nos estados; d) em seguida um dos estudos que parece ser uma matriz das novas formas de abordar a histria da educao; e) e, finalmente, mapearemos estudos mais recentes produzidos pelos cursos de ps-graduao a quem imputam, na rea, matrizes tericas distintas, provenientes da USP e da UNICAMP; f) para, finalmente, proceder a uma breve situao dos trabalhos dos grupos de pesquisa do HISTEDBR, por conta da finalidade que temos que alcanar em direo ao seu aniversrio de 20 anos. A modo de sntese, pretendemos agrupar esses estudos, segundo uma primeira observao, nos seguintes marcos conceituais: 1 - Primeiro, estudos que do especial ateno para a determinao do todo sobre as partes de modo recproco ou dialtico para as estruturas econmicas e as estruturas de poder correspondentes/predominantes e para a constituio poltico-administrativa de um Estado moderno, que conserva a sua origem cultural oligrquica educacional sob a capa de ideologias e de ideais correspondem com a realidade concreta ou pensada; e apresenta uma poltica novo que, na realidade, no
7 2 - Segundo, os estudos que do ateno para a organizao da educao no perodo em foco, para a sua constituio e para o entrelao entre as partes e o todo dos ideais, dos sistemas educativos e/ou dos nveis educacionais e para o seu estado na poltica nacional em curso, e vice versa ; 3 - Terceiro, a educao e a sua ao sobre os sujeitos ou a relao entre os chamados sujeitos e a estruturas ativas da educao, a constituio da escola e de seus sujeitos, representao, conscincia e subjetividade em sua relao, estabelecendo (ou no) uma inter-relao entre as partes e o todo. realidade
HISTRIA DA EDUCAO: OBRAS E ARTIGOS PUBLICADOS ENTRE OS ANOS DE 1970 A 1980. Tomando o fio condutor apontado acima e observando a impossibilidade de condicionar as obras e os estudos sobre o tema a uma absoluta fidelidade com a sntese que apresentamos, poderamos situar o seguinte quadro: Inicialmente, no quadro dos manuais de Histria Geral da Educao h uma recorrente considerao sobre a artificialidade da descentralizao administrativa da educao. A Histria da Educao de Otaza Romanelli, cuja primeira edio data de 1977, est em sua vigsima edio (ou mais), sendo, portanto, uma das publicaes, cujo nmero de edies, indica sua importncia e qual a literatura predominante na formao de vrias geraes dos cursos na rea de educao. Nesta obra, a Histria da Educao na Primeira Repblica apresentada como parte do perodo antecedente ao seu recorte de estudo (1930-1973), a partir do qual a autora estuda como evoluiu a economia, a cultura e a forma sob a qual se organizou a evoluo do sistema educacional no Pas. No livro, a Primeira Repblica apresentada como a continuidade de um sistema poltico-administrativo que no opera mudanas efetivas na educao, principalmente at 1920, persistindo [...] a descentralizao do ensino, ou melhor, a dualidade de sistemas [...] que se vinha mantendo desde o Imprio (p.41), e provocando [...] uma desorganizao completa na construo
8 do sistema educacional, ou melhor, dos sistemas educacionais brasileiros (p.42). Sendo que, para a autora, as reformas educacionais, todas elas: no passaram de tentativas frustradas [...]. Outro manual, de Maria Luisa Santos Ribeiro, cuja primeira publicao de 1978, passou a ser uma obra ampliada pela autora, a partir de nova edio, em 1993. Neste trabalho, a discusso em torno da hiptese, do marco terico e do mtodo no pode ser ignorada, uma vez que, derivada da matriz marxista, que refora a histria econmica, representa a primeira tentativa de cientificidade da historiografia da educao. A autora, em molde pioneiro na poca, recorre a dados quantitativos procedentes da estatstica oficial ou de fontes secundrias, reorganizados de acordo com os temas tratados. Contudo, faz acontecer uma subordinao quase absoluta da estrutura micro estrutura macro. Maria Luisa Santos Ribeiro retrata a organizao escolar a partir de uma classificao de modelos econmicos e retrata a Educao na Primeira Repblica no contexto de um modelo agrrio-comercial exportador dependente que se manifesta na formulao de leis educacionais improvisadas, com base em um transplante cultural de ideologias e idias educacionais. Na viso da autora, a descentralizao da educao e as reformas educacionais, no correspondem com a resoluo dos problemas da organizao escolar, o que demonstrado pelos dados estatsticos sobre o analfabetismo e os nveis de ensino: primrio, mdio e superior, dentro das possibilidades de acesso aos levantamentos. Alm disso, as idias no correspondem com a realidade, pois, segundo a autora, o seu desconhecimento sobre as causas dos problemas educacionais, bem como o puro consumo de idias comprometem basicamente a concretizao dos objetivos dos educadores novos (p.124). Porm, ressalta Ribeiro, O aspecto positivo resultante de males deste transplante cultural est no fato de ter levado os educadores a diagnosticar as deficincias da estrutura escolar brasileira e denunci-las categrica e permanentemente [...] (p.12). Em seguida, no segundo bloco, encontramo-nos com estudos analticos sobre a organizao da educao em sua formulao institucional e conjuntural. Jorge Nagle (1975) realizou um importante balano sobre a educao na Primeira Repblica que vem servindo de referncia
9 para quase todos os estudos do perodo. O autor anuncia que vai estudar a educao numa viso compreensiva, de determinadas caractersticas do perodo cronolgico situado entre 1889 e 1930. Apresenta um estudo sobre a organizao da educao, suas idias, legislao, nveis e as sua peculiaridades no decorrer do perodo, inclusive criando denominaes como Entusiasmo pela Educao e Otimismo Pedaggico que, da em diante, vo ganhar efetiva expressividade nos estudos sobre a educao, toda vez que se tratar do perodo. Primeiro, situa o fervor ideolgico que antecedeu proclamao da Repblica, cujo trip sustentado na idia da democracia, federao e educao e, depois, o seu arrefecimento. Em termos operacionais, considera que essas idias aparecem na reforma positivista, de Benjamim Constant (1890) e na reforma secundria paulista, sob a direo de Caetano de Campos (1892), que se pautava no princpio democrtico-liberal. Segue sua anlise, situada a partir de 1915, um novo momento significativo: o do entusiasmo pela educao. So planos, idias [...] trata-se (diz o autor) da republicanizao da Repblica, de um movimento tipicamente estadual, de matriz nacionalista e principalmente voltada para a escola primria, a escola popular, afirma. Em seguida, trata das chamadas ligas nacionalistas, cuja referncia a Olavo Bilac conhecida; depois, aos profissionais da educao; das Conferncias Nacionais de Educao, de iniciativa da ABE; do inqurito de Fernando Azevedo, em 1926; e do chamado otimismo pedaggico, orientado pelos defensores da Escola Nova. Tambm trata das reformas, principalmente na rea pedaggica; da continuidade do carter das escolas profissionais desde o Imprio e das reformas do ensino secundrio ante-sala do ensino superior. Vanilda Paiva, em Educao Popular e educao de adulto: contribuio histria da educao brasileira (1973), situa a educao popular na primeira metade da Repblica Velha (1888-1914) e atribu a luta pela difuso do ensino elementar, no final da Primeira Repblica, ao entusiasmo pela educao referido por Nagle. Em a Universidade Tempor, do Ensino Superior da Colnia Era de Vargas, cuja primeira verso foi publicada em 1980, Luiz Antnio Cunha trata, no terceiro captulo, do ensino superior na Primeira Repblica, ressalta que a importncia do positivismo e dos positivistas no desenvolvimento da educao escolar no Brasil difcil de se exagerar, e
10 prossegue, considerando de este ser um tema ainda no desbravado pela nossa historiografia. Em seguida, analisa cuidadosamente as reformas Benjamin Constant (1891); Rivadvia Correia (1911); Carlos Maximiliano (1915), e Rocha Vaz (1925), do ponto de vista do ensino superior, sem, entretanto, deixar de lado os demais nveis de ensino. Recorre, tambm, s categorias de nacionalismo e do entusiasmo pela educao, apresentadas pelo estudo anterior. O mesmo autor retoma o assunto em outros artigos, dentre eles, A Organizao do Campo Educacional: as conferncias de educao e publica na Revista Educao e Sociedade (1981) quando realiza uma discusso sobre a histria da educao e a participao de educadores na poltica educacional do estado, inclusive no Congresso de 1911, convocado pelo Estado de So Paulo, seguido de outros em Belo Horizonte e em Salvador (p.9). Ainda nesse bloco, abrem-se os estudos que buscam a Histria da Educao Regional e Local, principalmente por meio das suas principais fontes documentais, em um sistema de relaes entre o particular e o geral, em vrias perspectivas. Logo, tambm uma possvel historia social da educao local e regional, do poder e de sua sociedade, de suas elites econmicas e ilustradas e , em parte, no estudo desse perodo que se localiza um certo marco do giro conceptual da histria da educao. Em primeiro lugar, vamos tomar a ultima distino. Um dos estudos que considerado como o marco de um novo modo de fazer a Histria da Educao atribudo, por alguns conhecedores, aos estudos iniciados por Marta Maria Chagas de Carvalho, inicialmente em seu estudo A Escola e a Repblica (1989) no qual a autora considera que a escola foi, no imaginrio republicano, signo da instaurao da nova ordem para efetuar o progresso (bem como) a ao reformadora de Caetano de Campos em sua preocupao pblica com o nmero de beneficiados com a educao e, mais tarde, em ambicioso projeto moral e intelectual. E, mais precisamente, Carvalho tenta inaugurar uma nova forma em: Molde nacional e frma cvica: higiene moral e trabalho no projeto da Associao Brasileira de Educao (1924-1931), primeiro, porque, como pode ser visto na introduo de seu trabalho, anuncia
11 uma crtica historiografia da educao brasileira e se posiciona a partir de uma nova abordagem. Nas palavras introdutrias da prpria autora: Este trabalho no foi construdo a partir de um referencial terico rigidamente demarcado em que se enquadrasse os resultados da pesquisa empreendida. Seguindo, observa que no pretende avanar para interpretaes que no estejam respaldadas no limite da documentao, ou seja, na anlise do discurso.
O trabalho props-se a fazer do discurso vinculado nessa documentao o prprio objeto de anlise, que visa detectar o modo pelo qual uma realidade nele elaborada constituda como objeto de interveno, para um agente determinado. Isto significou valorizar o enunciado. Significou operar com formaes discursivas atentando para as operaes pelas quais o sujeito da enunciao se posiciona no discurso [...] Nas intersees dos dois tipos aludidos, possvel construir a situao de elocuo dos discursos examinados, desmontando as representaes que o agente faz de si mesmo no ato discurso, enquanto sujeito da enunciao. As representaes de sua prpria situao enquanto agente social, teatralizados na posio que assume no discurso, podem ser desmontadas, assim, exibindo-se com particularidade.
Em seguida a autora desconstri algumas anlises, problematizando a narrativa de Fernando de Azevedo, criticando a oposio tradicionalistas x renovadores e considerando que ambos tinham mais proximidades do que diferenas; Critica as afirmaes de CURY (1978) quando este afirma que o sentido modernizador dominante nas propostas dos renovadores sediado na ABE no foi como faz crer Azevedo e como alguns estudos repropem o da critica do carter excludente da escola quando fala do renovadores, sediados na ABE; Questiona, ainda, as nomenclaturas criadas por Nagle, apresentadas acima, considerando que, para o autor, h uma anterioridade temporal do entusiasmo pela educao em relao ao otimismo pedaggico. Entretanto, para ela, Nagle no parece considerar o importante critrio cronolgico na distino entre os dois movimentos (p. 32). Depois, Carvalho segue ressaltando que Vanilda Paiva trabalha com um limite temporal rgido, at 1925, para discutir a passagem entre o chamado entusiasmo e otimismo pedaggico e uma passagem entre educao e poltica para o enfoque tcnico da educao, afirmando: A documentao levantada neste trabalho no confirma o relato de Vanilda (p.35) Contesta ainda a afirmao dessa autora de que foi se tornando claro para o grupo
12 em luta pelo poder que, atravs da educao, a hegemonia poltica era problemtica e demandava muito tempo e volta a afirmar: A historia da fundao da Associao Brasileira de Educao no confirma essa interpretao.(p.36). Em seguida, apresenta dados com base na documentao, que segundo ela, contrariam muitas das afirmaes apresentadas no texto de Vanilda Paiva. A incurso sobre chamada nova histria, onde o tempo construdo conceitualmente e verificado empiricamente, fora de pressupostos especulativos (NEVES, 2002, p. 32), parece se evidenciar no trabalho da autora. A pergunta que se faz se a produo do saber histrico em educao, de fato, foi abrindo-se a partir da, deixando que penetrassem as novas abordagens da cincia da Histria, com seus novos campos, objetos analisados por procedimentos desiguais e suas tcnicas variadas. Somada a esta, outra pergunta quer saber se deve haver uma prioridade para o estudo do regional e do local e de quais abordagens metodolgicas estes se aproximam. Mais uma vez, apenas vamos situar os estudos, esperando que eles nos indiquem as respostas, considerando que no tivemos acesso aos contedos de todos eles. Nos estudos localizados, primeira vista, tudo indica que vai se tornando importante pensar a gnese de um estado que, a principio, no prescinde da organizao da escola, e isto se torna mais visvel na escala de observao da macro para a micro-histria, quando os fenmenos passam a ser tratados, no como algo distinto do contexto histrico que os unifica, mas, que formam entre si uma recproca ou dialtica. No entanto, parece que so estudos da mtua relao entre o particular e o geral, que mais enfatizam a sua integrao do que os seus conflitos. Porm, no h duvidas de que o seu apoio material, bem como sua contribuio para a cincia, est, predominantemente, no levantamento bastante considervel de materiais empricos, ou seja, de fontes, principalmente escritas e disponveis ou dispersas nos arquivos dos estados, dos municpios, das escolas etc. Se estas escolhas metodolgicas, efetivamente, preenchem as lacunas e a fontes sobre a nossa historia da educao, contudo, tambm correm riscos perigosos de perderem o campo
13 de seu conhecimento: a historia da educao, confiando apenas no conhecimento dado pelas fontes. Estas afirmaes, no entanto, no significa que no aconteam pesquisas de importncia e de reconhecido mrito cientfico. Na investigao da chamada efetivao da descentralizao do ensino, por exemplo, vai aparecendo o estudo sobre a histria institucional, em sua dependncia da documentao disponvel e dos seus princpios orientadores, tendendo a evidenciar seu acontecimento dentro do geral e ressaltar a sua importncia, seu crter singular e plural. Ou, vai aparecendo o estudo sobre o processo de organizao da educao em seu mbito concreto, particularmente estadual, sem perder de vista sua relao com o nacional, oferecendo, no mnimo, outra dinmica na compreenso ou explicao sobre a factibilidade da poltica educacional, contrapondo-se ao discurso generalizado sobre a repercusso negativa das polticas e idias educacionais e, at certo ponto, confirmando-a ou negando-a, observando a relao entre o uno e o diverso, que constituiu cada realidade federativa no Estado e na escola. Nessa perspectiva, se torna evidente um volume crescente de trabalhos de dissertao, teses e de livros, principalmente delas decorrentes, confirmando que, a cada vez mais, a pesquisa da histria da educao se localiza nos grupos de pesquisa e de Ps-Graduao das universidades. Apresentamos, a seguir de modo sinttico, alguns dos estudos, do total mencionado, localizados por Estados. Naturalmente, com muitas lacunas, que possivelmente podero ser preenchidas com as informaes de outros colegas: Em So Paulo, um estudo bastante conhecido o de Moacyr Primitivo (1942) que versa sobre a instruo pblica no Estado de So Paulo na primeira dcada republicana 1890/1893. Depois, Casemiro dos Reis Filho, em Educao e a Iluso Liberal de 1981, realizou um importante estudo sobre a reforma Republicana do ensino Pblico Paulista em seu processo de implantao entre 1890-1896. Segundo o mesmo autor, em So Paulo e por esforo do regime republicano liberal - democrtico foi realizado na criao de escolas
14 pblicas de todos os nveis e graus. Esforo que perdurou enquanto manteve a crena no papel da educao como instrumento de reforma poltica (p.4). Estado de So Paulo. Seguem a estes, os trabalhos realizados por Tanuri (1979): O ensino normal no Estado de So Paulo (1890-1930); por Infantosi da Costa (1983), A escola na Repblica Velha; por Souza (1998), em Tempos de Civilizao: a implantao da escola primria no Estado de So Paulo (1810-1910); Moraes (1990) Socializao da fora de trabalho: instruo e qualificao no Estado de So Paulo, 1873-1934; Oliveira (1992): Uma colmia gigantesca: escola profissional feminina de So Paulo -1920-1930; Ademais, Jardim (2003), estuda o ensino de msica nas escolas pblicas de So Paulo na Primeira Repblica 1189-1930, em uma dissertao de mestrado; Tavares (2004), apresentou uma tese de doutorado intitulada: Na marcha do ensino: a organizao burocrtica do ensino estadual no So Paulo Republicano - 1892/1910; e Cardoso (1989) pesquisou sobre a modernizao do aparelho de ensino em So Paulo; Na Bahia, um estudo antecedente a estes foi realizado por Luis Henrique Dias Tavares em 1968, onde o autor apresentou um estudo sobre as duas reformas da educao na Bahia: a de 1895 e a de 1925, reformas estas conhecidas sob o nome dos educadores que a lideraram: Stiro de Oliveira Dias e Ansio Spinola Teixeira. Segue a esse pesquisador, a tese de doutorado de Maria da Conceio da Costa e Silva (1999): o ensino primrio na Bahia: 1889-1930; e O primeiro Governador da Bahia republicana e seu projeto de reforma educacional; A trajetria de um poltico dedicado educao: Stiro de Oliveira Dantas de Maria Antonietta Nunes e, mais recentemente, a sua tese de doutorado, que apresenta um estudo sobre a Poltica Educacional no Incio da Repblica na Bahia: duas verses do Projeto liberal, onde a autora realiza um estudo sobre as medidas educacionais dos governos provisrios, do incio da Repblica na Bahia, apresentando uma verso da dinmica da instalao do sistema de governo e a organizao do poder republicano na Bahia e da educao, com a localizao de importante e exaustiva documentao primria. Como decorrncia, acontece, a partir da, uma espcie de formao da historiografia do ensino primrio no
15 No Cear, encontramos um estudo datado de 1923, que o de Craveiro, intitulado A evoluo do ensino no Cear e a Reforma de 1922. Em Minas Gerais, em Educao no Brasil nos anos vinte, Ana Maria C. Peixoto (1983) realiza um estudo sobre a Reforma Francisco Campos, em Minas Gerais afirmando que: Embora tenham sido intensos os trabalhos para a implementao da reforma, seus efeitos, do ponto de vista prtico foram limitados (p.165) e prossegue acrescentando que a melhoria do ensino restringiu-se [...] aos grandes centros, onde, atravs da Escola de aperfeioamento e das Escolas Normais, os novos mtodos realmente se incorporam rotina de alguma escola, (p; 165).Antes, Mouro (1962) escreve sobre o ensino em Minas Gerais no tempo da Repblica. No Distrito Federal, Andr Luiz Paulilo (2001) apresenta dissertao de mestrado sobre a Reforma educacional e sistema pblico de ensino no Distrito Federal na dcada de 1920, e mostra as condies em que a instruo pblica foi problematizada na dcada de 1920 e argumentada em favor do evidente interesse das polticas pblicas desenvolvidas por Antnio Carneiro Leo e Fernando de Azevedo, para reformar a instruo pblica na capital do pas, pela reforma social Em 2004, tambm Jos Cludio Sooma Silva retoma o tema, apresentando uma tese de doutorado sobre A reforma Fernando de Azevedo: tempos escolares e sociais (Rio de Janeiro, 1927-1930). O autor mostra os sucessivos planos de remodelao urbana - da Reforma Pereira Passos (1902-1906) at o Plano Agache (19271930) - no cotidiano da Capital.Antes, em 2003, Rachel Duarte Abdala, em sua dissertao de mestrado, analisa A fotografia alm da ilustrao: Malta e Nicolas construindo imagens da reforma educacional no Distrito Federal (1927-1930). So Paulo, 2003. Dissertao (Mestrado) que analisa as imagens fotogrficas geradas durante a reforma educacional realizada por Fernando de Azevedo, entre 1927 e 1930, no Distrito Federal, segundo a autora, procurando perceber o modo como a renovao escolar foi representada pela produo de dois fotgrafos - Augusto Malta e Nicolas Alagemovits bem como a alteridade de expresso entre esses dois olhares. Tambm Oliveira (1993) trabalhou sobre A modernizao oficial: a arquitetura das escolas pblicas do Distrito Federal.
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No Esprito Santo, localizamos o estudo de Isabel C.Novais, que em seu livro Repblica, escola e cidadania, realiza um estudo sobre trs reformas para a educao no Esprito Santo (1882-1908). Em Mato Grosso, Reis (2003) publica: Palcio da instruo. Institucionalizao dos grupos escolares em Mato Grosso (1910-1927), como dissertao de mestrado. Em Piau, Lopes (2001) apresenta: Superando a pedagogia sertaneja: Grupo escolar, escola normal e modernizao da escola primria pblica piauiense (1908-1930); Na Paraba: Pinheiro (2002) apresenta a pesquisa: Da era das cadeiras isoladas era dos grupos escolares na Paraba. No Rio Grande do Sul surge, com Corrati: Controle e Ufanismo: A escola pblica no Rio Grande do Sul (1989-1930) em 1998; No Esprito Santo, Novais (2001) publica: Republica: escola e cidadania: um estudo sobre trs reformas para a educao no Esprito Santo (1882-1908). Destarte, a reforma de ensino na dcada de 20 realizada nos Estados, esto sendo estudadas, contudo, ainda h lacunas a serem preenchidas. Ademais, ainda no localizamos todos os estudos sobre a Reforma de 1920 em So Paulo, na Bahia (1925), no Cear (1922/23), em Pernambuco (1929) e em outros estados. Qui outros colegas possam completar estas informaes. No Rio Grande do Sul, considerando a sua posio poltica durante a primeira Repblica ser necessrio, tambm, uma reviso do conhecimento levantado, de uma forma bastante acurada. . Em menor nmero, encontramos estudos sobre algumas das idias que perpassam o momento histrico da Repblica, entre aqueles a quem nos referamos acima, que aparece fora do processo do sistema educacional, como o de Jomine (1990) Educao anarquista na repblica velha: algumas idias e iniciativas pedaggicas; Luizetto (1986) O movimento anarquista em So Paulo; a experincia da escola moderna no. 1 1912-1919. Mazotti (1995) Educao popular segundo os sindicalista revolucionrios e os comunistas na Primeira Repblica.
17 interessante observar que quase todos esses trabalhos buscam, sobretudo na documentao, a resposta para as multiplicidades das particularidades que a generalidade nacional aponta, enfocando-as nos estudos em nvel estadual. Depois de realizadas essas primeiras anotaes, passamos a rastrear, na medida do possvel, algumas dissertaes e teses defendidas na USP, da dcada de 90 em diante, visando a observar o que os estudos nos ofereciam ,como amostra da centralidade de seu objeto e indicao conceitual, considerado o marco de discusso sobre as novas abordagens de que falvamos anteriormente, e que se situa a partir de uma das estudiosas de Histria da Educao da USP. Tomando como medida as dissertaes e teses defendidas na USP entre os anos de 1990 a 2004, das quais tivemos acesso ao resumo, no podemos localizar uma direo para a nova histria, propriamente dita, ressalvando, claro, que no tivemos acesso aos trabalhos completos e s suas metodologias. Nas teses de doutorado/ USP, alm daquelas sobre a reforma estadual citada acima encontramos, em Silva (1994): Da Maria fumaa fumaa das fbricas: a escola livre de sociologia e poltica de So Paulo (1922-1940). O perodo analisado no trabalho vai de 1922 a 1940, e inicia o estudo analisando o momento poltico, econmico, social e cultural que permite a criao da ELSP e trata, depois, da origem do projeto ligado pedagogia do industrialismo (ensino tcnico-industrial) e dos projetos da ELSP e da FFCL da USP. Em Oliveira, (1994) Ensino primrio e sociedade no Paran durante a primeira Repblica, A pesquisa objetivou investigar o andamento do ensino primrio no Paran durante a primeira repblica, em face das implicaes de ordem social, econmica, poltica e administrativa que se refletiram nas atividades governamentais em relao escola, professor e aluno [...] A pesquisa realizada seguiu a linha de estudo contextual de carter histrico-regional. Arajo (1995) reconstitui a trajetria de Jos Augusto Bezerra de Medeiros - vida, educao, poltica, em sua tese de doutorado uma das vanguardas do movimento de renovao educacional no Brasil [...] O estudo da reforma da instruo pblica no Rio Grande do Norte, realizada durante seu Governo (1924-1927), permite
18 flagrar as alteraes no campo educativo e no em torno. Sousa (1997) em Templos de civilizao: um estudo sobre a implantao dos grupos escolares no Estado de So Paulo (1890-1910) realiza uma investigao sobre histria institucional dos primeiros grupos escolares criados no Estado de So Paulo, abrangendo o perodo de 1890 a 1910. Busca, o autor, explicitar as mudanas que essa modalidade escolar ajudou a introduzir no ensino primrio e as suas implicaes socioculturais no meio urbano, tendo, como principal eixo de anlise, as representaes dos profissionais da educao e a cultura escolar. Biccas (2001) analisa O impresso como estratgia de formao de professores(as) e de conformao do campo pedaggico em Minas Gerais: o caso da Revista do Ensino (1925-1940), como estratgia de formao de professores(as) e de conformao do campo pedaggico em Minas Gerais, no perodo de 1925 a 1940. A autora buscou evidenciar as motivaes que levaram os responsveis pela educao naquele Estado a crila, destacando sua origem, interrupes e reativaes na sua circulao e diferentes propostas editoriais. Rocha (2002), em Matizes da modernidade republicana: cultura poltica e pensamento educacional no Brasil: da gerao da ilustrao aos pioneiros da educao resgata os sentidos diversos e contrapostos que assumem o iderio educacional, tomando como referncia os discursos polticos de figuras de destaque no pensamento social brasileiro, em que o tema educacional nem sempre o centro de preocupao dos autores, mas, nos quais a educao se encontra qualificada de alguma forma. Em Lima (2004), O espectro da irregularidade ronda o aluno: um estudo da literatura pedaggica e da legislao sobre a criana-problema a autora procura demonstrar que, mais do que apenas excluir parte da populao escolar, aquela considerada como "irregular", o uso da expresso "criana-problema" nos discursos educacionais teve como efeito ampliar o controle dos especialistas sobre todas as crianas [...]. Recorre-se, ainda, a textos de outros autores contemporneos que empregam o referencial terico de Foucault [...]. Tavares (1996), em sua dissertao de Mestrado, Ordem e a medida: escola e psicologia em So Paulo (1890-1930) faz a descrio dos principais eventos que marcaram as relaes entre o conhecimento psicolgico e a cultura escolar paulista, durante os anos de 1890 a 1930, vistos atravs da retomada do ensino escolar da psicologia, e de algumas
19 iniciativas escolares, protagonizadas pelos professores e autoridades escolares da poca; Moraes (1996), em Literatura, memria e ao poltica: uma analise de romances escritos por professores, para a dissertao de mestrado, efetua uma pesquisa para a anlise de quatro romances escritos por professores paulistas durante o perodo de 1920 e 1935, Com o objetivo de contribuir para uma Histria da Educao voltada para anlise das prticas escolares e das representaes que os professores constroem de sua histria e Vilas (2003), em Pensar e escrever a leitura na escola: Revista de Ensino da Associao Beneficente do Professorado Pblico de So Paulo. So Paulo, 2003. (Dissertao de Mestrado) discorre sobre o ensino e aprendizagem da leitura, veiculados pela Revista de Ensino, no perodo de 1902 a 1918. Dentre o material que localizamos e encontramos, somente um se volta especificamente para a chamada Histria das Mentalidades: o trabalho de Carlotta Botto (1990), intitulado Rascunhos de escola na encruzilhada dos tempos. Este um estudo que, segundo a autora, pretende tomar a educao como fonte para a historia das mentalidades, por ser este um campo de vastssimo potencial e ainda no desvendado pela pedagogia. Encontramos tambm a tese de doutorado de Luciano Mendes Faria Filho (1996) denominada Dos pardieiros aos palcios: forma e cultura escolares em Belo Horizonte 1906/1918 que se apia nos procedimentos metodolgicos da histria cultural. Encontramo-nos, portanto, estudos nos quais a localizao do objeto manifesta uma tenso entre o particular e o geral, mantendo uma dinmica dialtica entre observao e explicao e, portanto, no propriamente a individualidade do fenmeno, mas a sua interao com as estruturas sociais mais amplas. Isto notrio tanto tambm nos cursos de ps-graduao quanto nos grupos de pesquisa da UNICAMP, e/ou ligados Unicamp via HISTEDBR. No podemos, entretanto, no seria prudente, arbitrar agora sobre qual o tipo de olhar metodolgico que predomina, sem proceder a um levantamento mais exaustivo do que nos foi possvel neste momento.
20 Mas, o que nos parece que, aos poucos, a Histria da Educao vai respondendo, de maneira mais ou menos ajustada, em termos de marcos conceituais e quanto ao mtodo de questionar as suas fontes. Pelo menos, o que fica evidenciado nos anseios pressentidos nos debates da categoria, onde a disputa continua. De acordo com um primeiro levantamento realizado, junto ao banco digital da UNICAMP, registramos algumas teses, defendidas a partir do ano de 2000 como: A Escola Normal de Campinas no perodo 1920-1936: praticas e representaes de Maria de Lurdes Pinheiro (2003); A concepo de educao nas obras de Sud Mennucci de Isabel Cristina Rossi Mattos (2004); das cadeiras isoladas a cadeira dos grupos escolares na Paraba de Antonio Carlos F. Pinheiro (2001); o projeto de construo da nao na viso de Euclides da Cunha de Raquel Aparecida Bueno Silva (2004); A escola profissional para o sexo feminino atravs da imagem da fotografia, de Nailda M.da Costa Ronato (2003); Jos Verssimo (1857-1916) e a educao Republicana (2004). MORAES (1999) A trajetria educacional anarquista na Primeira Repblica: das escolas aos Centros de Cultura Social. Em uma perspectiva similar vamos encontrar a produo dos Grupos de Pesquisa do HISTDBR, por meio do levantamento preliminar realizado (e gentilmente cedido) pela Profa. Dra. Maria Isabel Moura Nascimento e pelo Doutorando Manoel Nelito Matheus Nascimento, situando-os conforme a classificao adotada: Trabalhos publicados; pesquisas em desenvolvimento e desenvolvidas (concludas). Conforme podemos observar pelo levantamento preliminar realizado, dentre as pesquisas desenvolvidas sobre o perodo, h referncias ao ensino secundrio no Brasil e legislao no Estado (GT Alagoas); sobre a escola como ilustrao e o otimismo pedaggico (GT Uberlndia); uma pesquisa do GT de Cuiab sobre a Histria Oral da Educao Matogrossense e uma dissertao de mestrado (1994) sobre a Proposta Educacional Metodista no Brasil: 1876-1914, registrada como pesquisa do GT de Piracicaba, conforme o grfico abaixo.
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Pesquisas em desenvolvimento 2,5 2 1,5 1 0,5 0 Uberlndia Paraba Rio de Janeiro Mato Grosso do Sergipe
Pesquisas em desenvolvimento
Fonte: Levantamento da produo dos GTs - 2004 Quanto s pesquisas consideradas em desenvolvimento, tratam sobre: a concretizao do iderio escolanovista no ensino pblico paulista nas dcadas de 1920 e 1930 (GT Alagoas); a organizao do ensino pblico, representaes de educao e civilizao - Uberabinha, Minas Gerais, 1888-1930 Anlise documental e interpretao (GT Uberlndia); os grupos escolares na Paraba (1917-1929); a histria do ensino superior da Paraba: da Repblica Velha aos anos de 1990 (GT Paraba); a histria das escolas anarquistas no Rio de Janeiro (GT Rio de Janeiro) e sobre os impasses do ensino secundrio em Sergipe: ensino humanstico ou ensino profissional (1889/1930) {GT Sergipe), conforme pode ser visualizado no grfico abaixo:
Pesquisas em desenvolvimento 2,5 2 1,5 1 0,5 0 Uberlndia Paraba Rio de Janeiro Mato Grosso do Sergipe
Pesquisas em desenvolvimento
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Sobre o perodo aqui discutido, encontramos na Revista On-line do HISTEDBR: O advento da Repblica e os grupos escolares no Paran, de NASCIMENTO; A trajetria pedaggica de Eurpides Barsanufo, de BIGHETO; A solicitao de objetos para o expediente escolar de Gois 1887/1930, de VALDEZ: As primeiras iniciativas do
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escolanovismo em mbito internacional e nacional: a transposio do carter pblico para o privado; O perfil do professor municipal de Uberaba no Imprio e Primeira Repblica; de VIEIRA; Educao e civismo: impasses e perspectivas na imprensa de Uberlndia MG 1920-1930; DE CARVALHO e CARVALHO; Mulher e Educao Catlica 18891930 de Silva e Geraldo Filho; Progresso, educao e histria social: uma longa durao, de.ARAJO; Historia e representaes escola estadual de Uberlndia 1929-1950; A formao de Bons Cristos e virtudes cidads na princesa do serto: o Colgio Marista de Uberaba (1903-1916) de SILVA E GATTI. Nos captulos de livros: CARVALH0 (2002) Educao, ordem e progresso: a imprensa como divulgadora de concepo educacionais (Uberabinha, 1908-1915) CARVALHO e MXIMO (2002).Da ordem educacional ao progresso social: a concepo de educao veiculada pela imprensa (Uberlndia 1920-1945) BORGES (2004); Subsdios pra a histria da formao docente no Brasil.Minas Gerais (1892-1930); CARVALHO e GONALVES NETO (2004): O nascimento da educao Republicana: princpios educacionais nos regulamentos de Minas Gerais e Uberabinha (MG) no final do sculo XXI. Embora as pesquisas desenvolvidas ou em desenvolvimento no sejam lideradas pelo GT de Uberlndia, interessante observar, do ponto de vista dos resultados da pesquisa, sobre o perodo, o avano da produo desse GT. Tanto do ponto de vista da publicao como da apresentao de trabalhos destaca-se, pois, o trabalho do GT Uberlndia. A princpio, poderamos dizer que as pesquisas desenvolvidas ou em desenvolvimento no GT parecem ter superado o estgio das demais, do ponto de vista da sua operacionalizao e resultados?
23 No entanto, sabemos que muitos outros grupos de pesquisa esto revistando a primeira Repblica, particularmente considerando as pesquisas e discusses tericas que vm sendo capitaneadas pelos grupos do HISTEDBR, sobre a educao pblica no Brasil. Por exemplo, na pesquisa sobre a educao no Centro-Sul da Bahia, realizada em Vitria da Conquista pelo GT-Bahia, o grupo de Estudos e Pesquisas dos Fundamentos da Educao da Regio (ligado ao Museu Pedaggico) vem realizando um mapeamento das escolas extintas na zona urbana de Vitria da Conquista, desde os primrdios (meados do sculo XVIII), a comear do ponto onde a cidade foi fundada e pretende irradiar a localizao na mesma medida do povoamento e expanso urbana da cidade, recuperando os nomes dos principais sujeitos da educao escolar: alunos e professores, bem como reconstituindo as circunstncias da organizao escolar e do cotidiano das escolas, em cada momento histrico. Para isto, considerando a falta de fontes escritas, precisou recorrer a depoimentos de testemunhas ainda vivas ou de herdeiros e guardies dos relatos comunitrios, a exemplo do que recomenda Neves (2002, p.101), ao afirmar a importncia da oralidade produzida com entrevistas de pessoas de longa vivncia ou fortes vnculos culturais na comunidade estudada, de notrio saber sobre ela ou que, com ela, estabeleceram relaes prolongadas, este foi um dos procedimentos metodolgicos utilizados pela equipe, nesta fase da coleta, que, de acordo com o projeto, em outra etapa vai ser enriquecido com coleta em jornais e arquivos pblicos e particulares. A partir das entrevistas realizadas com moradores que estudaram em escolas do Municpio entre 1910 e 1940, pde-se notar que tanto o Ato Adicional Constituio (1834), em que o ensino primrio ficou a cargo das provncias, bem como a instituio da Repblica Federativa, onde o ensino primrio passou, prioritariamente, para a responsabilidade das unidades federadas os estados (XAVIER, 1990; SAVIANI, 1998) e, ainda, devido s suas diferenciaes geogrficas e histricas, na maioria dos casos, a escola pblica pouco se efetivou, como o caso de Vitria da Conquista quando se estuda o perodo em foco. A nosso ver, os primeiros esboos sobre a instalao de escolas em Vitria da Conquista Bahia, constituem-se em registros importantes sobre os reflexos localizados dessa realidade, ou seja, se o Estado decretou, instituiu bases administrativas e legislativas para a educao,
24 necessrio investigar qual foi o seu alcance, como, tambm, na falta da presena deste, a quem restou o encargo com esse servio e a quem a ele pode ter acesso. Na nossa realidade, tudo indica, a maioria das escolas localizadas na Primeira Repblica, eram de pequeno porte, em sua maioria leigas e o seu atendimento dependia do poder aquisitivo do aluno famlias que podiam pagar. A maioria levava o nome dos seus donos e algumas delas dependiam da locao do imvel (geralmente uma casa, onde passava a residir tambm o professor, funcionando a escola, s vezes, em uma ou duas salas na frente da casa). Muitas vezes, o professor era parente ou aderente da famlia para a qual trabalhava, (principalmente na zona rural), e o mesmo constitua uma espcie de pequenos consrcios, que aliavam aspectos econmicos e sociais, tanto do ponto de vista dos mantenedores como dos beneficirios ou seja, consrcios para atender s necessidades de trabalho dos professores e as necessidades de instruo dos alunos, conforme as exigncias do momento e de suas classes sociais.(CASIMIRO e MAGALHES, 2005). Naturalmente haveria ainda de se perscrutar mais sobre todas as nossas e outras pesquisas, considerando-se a fundamentao terica e o seu significado para a prxis do presente, que o limite desse primeiro esboo no deixou ultrapassar.
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