A Sexualidade Humana
A Sexualidade Humana
A Sexualidade Humana
Rita Trevisan1
Resumo
A sexualidade é um fenômeno anterior ao aparecimento do homem, porém, vem sendo estudada objetivamente
há apenas algumas centenas de anos. Longe de ser somente um ato físico, de natureza imutável, adquiriu
significado simbólico bastante complexo e hoje funciona como uma estrutura social e cultural em si mesma,
situada dentro de um sistema de poder. Este estudo propõe uma revisão dos principais aspectos ligados à
sexualidade, particularmente no Ocidente e no Brasil, numa ótica que privilegia a visão histórico-social do
tema.
1. Introdução
A sexualidade pode ser abordada por diversos aspectos, dada sua complexidade e importância em todas
as dimensões da vida humana. No presente trabalho, pretende-se construir uma visão histórico-social do tema,
tendo como foco principal a experiência do Ocidente. Para tanto, a sexualidade será sempre vista em termos
de processo, em contínua transformação. O objetivo é observar como e porque mudaram, ao longo dos últimos
séculos, os códigos e valores ligados ao sexo, bem como indicar que certas mudanças no comportamento
sexual coincidem com transformações econômico-sociais e políticas, não por acaso.
Delimitado assim o campo em que a pesquisa se desenvolverá, começamos por observar que a
sexualidade humana e mesmo a anatomia sexual humana fazem parte da herança biológica do homem. Como
a própria teoria da evolução indica, o sexo é anterior ao aparecimento do homem e, portanto, não foi por ele
inventado. No entanto, entre os homens, o ato transformou-se num fenômeno singular, que só nas últimas
centenas de anos começou a ser estudado de modo mais objetivo, particularmente com o desenvolvimento das
ciências empíricas, como a Medicina e a Psicologia, e com o enfraquecimento da crença nas religiões e nos
códigos morais.
O ato físico, praticado para aliviar tensões corpóreas ou para reprodução, ao longo dos anos transformou-
se numa área básica para a moralidade e até mesmo para a forma de organização das sociedades. Como pontua
Edgar Gregersen (1983, p. 3): “Numa distância ainda maior da biologia, ele gerou temas que passam através
da religião e da arte, e assim participa de sistemas simbólicos excessivamente complexos.” De uma forma de
adaptação biológica, em todas as culturas humanas, o sexo evoluiu para se tornar um referencial de códigos
sociais e até mesmo morais.
Em sua complexidade, articula dois eixos completamente diferentes da vida humana: um individual e
outro coletivo. De um lado, é o elemento onde libido, pulsões, desejos, prazeres e desprazeres interagem, num
contexto de profunda intimidade. De outro lado, é elemento regulador da economia e da política, uma vez que
está inscrito na dimensão da sexualidade o aspecto da reprodução e do crescimento da população, cujos efeitos
atingem a sociedade de modo significativo (MURARO, 1983, p. 21).
E é justamente em sua dimensão social que a sexualidade adquire seu caráter de mais alto impacto.
[...] como a atmosfera difusa e profunda que envolve toda nossa vida (nossas relações com os
outros, com nosso corpo e o alheio, com objetos e situações que nos agradam ou desagradam,
nossas esperanças, nossos medos, sonhos, reais ou imaginários). Como dimensão simbólica
(individual e cultural) que articula nosso corpo e nossa psique, suas máscaras, disfarces,
astúcias e angústias.
Para Michel Foucault (1985, p. 98), compreender a sexualidade, em sua complexidade, prevê enxergá-
la também como um produto das densas relações de poder: entre homens e mulheres, pais e filhos, educadores
e alunos, padres e leigos e assim por diante. Nas relações de poder, a sexualidade é, segundo o autor, um
elemento dotado de instrumentalidade. Pode ser usado em inúmeras manobras, nas relações sociais, bem como
pode tornar-se útil na articulação das mais variadas estratégias. Para o autor (1985, p. 100):
A sexualidade é o nome que se pode dar a um dispositivo histórico: não à realidade subterrânea
que se apreende com dificuldade, mas à grande rede da superfície em que a estimulação dos
corpos, a intensificação dos prazeres, a incitação ao discurso, a formação dos conhecimentos,
o reforço dos controles e das resistências, encadeiam-se uns aos outros, segundo algumas
grandes estratégias de saber e de poder.
No mundo atual, somos continuamente assediados por um “ambiente sexual” que se manifesta nos
mecanismos de sustentação da sociedade.
2. A experiência do Ocidente
Datam do período paleolítico as primeiras expressões artísticas que refletem a exaltação dos povos
antigos à condição sagrada do corpo da mulher, do homem e, mais precisamente, ao encontro sexual capaz
de gerar vida. Junto aos primeiros utensílios, confeccionados em osso e pedra, foram encontradas extensas
produções de pinturas e esculturas que mostravam o corpo estilizado da mulher e, mais especificamente, a
vagina, os seios e o útero. Da mesma forma, apareciam nos registros pré-históricos simbolismos que remetiam
ao falo ou ao pênis ereto. Nossos ancestrais pareciam impressionados com a existência dos dois sexos e
chegavam a realizar ritos eróticos sagrados em ocasiões religiosas importantes, como o retorno anual da
primavera. Conforme pontua Riane Eisler, em sua obra O Prazer Sagrado (1996, p. 78): “[...] a união da fêmea
com o macho, ou da mulher com o homem, era celebrada como uma epifania ou manifestação sagrada dos
poderes misteriosos que concedem e mantêm a vida”. Esses rituais, assim como as imagens sexuais da arte
paleolítica ou mesmo do período neolítico, refletiam uma visão da vida e da religião na qual a celebração do
prazer era primordial. Segundo Eisler (1996, p. 81):
[...] nossos ancestrais exaltavam o sexo não apenas em relação ao nascimento e procriação,
mas como a fonte misteriosa – e, neste sentido, mágica – tanto do prazer quanto da vida. [...]
Os mitos e ritos eróticos pré-históricos não eram apenas expressões de alegria e gratidão pela
dádiva da vida [...] mas também expressões de alegria e gratidão pelas dádivas do amor e do
prazer – particularmente pelo mais intenso dos prazeres físicos, o prazer do sexo.
Essas noções mais primitivas relacionadas à sexualidade foram incorporadas e mantidas por diversas
civilizações do Oriente, que se caracterizaram pelo desenvolvimento de uma ars erotica, incluindo-se aí
civilizações como Índia, China e Japão. Essa “arte erótica” busca o prazer pelo prazer, encarado como prática
e símbolo de experiência, sem qualquer referência ao seu caráter lícito ou mesmo de utilidade (FOUCAULT,
1985, p. 56). Prevê domínio total do corpo, gozo excepcional, esquecimento do tempo e dos limites, entre
outros elementos de caracterização bem específicos.
A cultura sexual ocidental, por outro lado, não é detentora de uma ars erotica e sim de uma scientia
sexualis (FOUCAULT, 1985, p. 56). Essa maneira de ver o sexo e as práticas sexuais orientou-se muito mais
no sentido de organizar procedimentos e estabelecer critérios para separar o lícito do ilícito, o socialmente
aceito do que é visto com reservas pela sociedade, o que está de acordo com as normas médicas do que
caracteriza-se como anomalia.
No mundo ocidental, muitos dos ritos antigos foram completamente modificados e inseridos numa nova
lógica, preocupada em satisfazer as exigências da ordem social dominada pelo homem, altamente hierárquica
e violenta. As imagens características da nossa cultura passaram a ser as que exaltam a dor, o sofrimento e a
morte (Eisler, 1996, p. 96). A institucionalização desses conceitos – da violência e da dominação nas relações
entre pais e filhos, senhores e escravos, nações e nações, homens e mulheres – foi, em diversos níveis, o legado
cultural deixado às nações ocidentais.
[...] a quebra da tradicional divisão de trabalho, através da qual homens e mulheres realizavam
tarefas diferentes, mas complementares, e o casamento era visto como um arranjo financeiro.
Esta visão do casamento é agora menos real do que jamais foi. Cada vez mais, o sexo tornou-se
a frágil base do casamento, ou de se viver algum relacionamento menos ritualmente definido.
Vale, ainda, destacar o impacto do desenvolvimento da tecnologia, que se deu nos anos subsequentes
à Revolução Industrial, especialmente o desenvolvimento das tecnologias ligadas à reprodução humana, tais
como as que permitiram a inseminação artificial, a clonagem de células humanas, as cirurgias transexuais,
entre outras.
3. A sexualidade no Brasil
O primeiro passo para compreender a cultura da sexualidade no país é observar que, no Brasil e
entre os brasileiros, há uma certa ênfase na natureza sensual dos indivíduos. O conceito remete aos tempos
de civilização, quando os exploradores fizeram suas primeiras representações dos trópicos. Curioso notar,
no entanto, que aquilo que ficou marcado pelas descrições dos forasteiros e dos exploradores passou a ser
reproduzido, de maneiras diversas e em circunstâncias diferentes, pelos próprios brasileiros, pelo menos nos
dois últimos séculos de sua história (PARKER, 1991, p. 23).
Essa sexualidade exarcebada, depois da chegada do europeu, está relacionada, segundo Parker (1991,
p. 48): 1) Ao meio social e econômico da época, às relações de poder e dominação que trataram de separar
conquistadores de conquistados, senhores de escravos e 2) À própria escravidão, em sua forma de instituição
social, que ajudou a afrouxar códigos morais e a favorecer os excessos sexuais.
Além disso, quando se estuda a sexualidade brasileira, vale destacar o legado patriarcal a marcar
severamente as relações de gênero. Embora a clássica configuração patriarcal venha diminuindo visivelmente
nas famílias brasileiras, sua significação continua a afetar o pensamento da sociedade, a maneira como os
brasileiros vêem sua própria história e sua forma de atuação no meio social. (PARKER, 1991, p. 63)
Esse modo de ver, segundo Parker, sustenta uma moralidade sexual que oferece ao homem uma quase
completa liberdade sexual ao mesmo tempo em que limita drasticamente a vida sexual da mulher. Diz o autor
(1991, p. 104):
Esses mesmos entendimentos tanto postulam as forças potencialmente perigosas que poderiam
interpelar a estrutura hierárquica, como fornecem um conjunto de canais altamente específicos
(e muitas vezes bem concretos) para o controle de, virtualmente, qualquer coisa que ameace a
aceitação inconsciente da ordem estabelecida.
O entendimento da realidade sexual brasileira também não é possível à margem da referenciação dada
pelas religiões formais, mais especificamente o catolicismo. A divisão dos sexos, a estrutura da dominação
masculina e até mesmo a importância da virgindade são legitimados pela Igreja Católica. O sexo, em si
mesmo, adquire contornos mais complexos.
As noções de legitimidade e ilegitimidade da prática são organizadas em torno de três noções básicas:
o casamento, a monogamia e a procriação. E apenas as condutas sexuais adequadas a esses conceitos são
legítimas. O que está fora disso é taxado de “pecaminoso” e liga-se à noção de culpa. (PARKER, 1991, p.
116)
A única prática sexual socialmente reconhecida é a adotada pelo casal oficialmente unido perante a
sociedade, encumbido da função de reproduzir-se. Este é o modelo imposto e o que ocorre fora dessa realidade
passa a ser visto com desconfiança. “Ao que sobra só resta encobrir-se; o decoro das atitudes esconde os
corpos, a decência das palavras limpa os discursos. E se o estéril insiste, e se mostra demasiadamente, vira
anormal: receberá esse status e deverá pagar as sanções”. (FOUCAULT, 1985, p. 10)
Porém, se aceitamos que as religiões e, em especial, o catolicismo, tiveram papel importante na
organização e regulação do universo sexual, desde pelo menos a metade do século XIX, elas coexistiram
com outros discursos formais, tão socialmente legitimados quanto, reverberados pela comunidade científica.
Em meados do século XIX, a população urbana no Brasil começou a crescer significativamente e surgiu uma
preocupação acentuada com as questões de saúde, higiene e reprodução. A Medicina passou, então, a ter papel
de regulamentação na atividade sexual, classificando práticas sexuais e até desejos sexuais “em termos de uma
nova economia simbólica de doença e saúde”. (PARKER, 1991, p. 124)
Começa a disseminar-se, então, um discurso sobre sexualidade que visa analisar, contabilizar, classificar
a prática sexual, incluindo-a numa ordem não apenas moral, mas também racional. Segundo Foucault, é o
momento de se falar sobre sexo publicamente não apenas para distinguir lícito de ilícito, mas para inseri-lo em
sistemas de utilidade, regulando o bem de todos e fazendo-o funcionar num padrão. (1985, p. 27)
À insistência da igreja em intervir nas relações conjugais e em repelir compulsivamente o sexo fora do
casamento, seguiu-se numa época em que a Medicina se tornou o principal elemento de regulação, tratando
de gerir as práticas sexuais.
O sexo passou a ser visto, mais do que nunca, em sua perspectiva “utilitária”. O significado da expressão
é esclarecido por Parker (1991, p. 16):
[...] houve uma nova ênfase cultural na reprodução como finalidade apropriada dos encontros
sexuais [...] A energia sexual canalizada nessa direção legítima era assim contrastada com a
energia sexual gasta apenas na procura do prazer. [...] Sexo tornou-se sexualidade – um objeto
de estudo.
Na prática, essa nova realidade, em que o sexo foi altamente racionalizado, permitiu o estabelecimento de
critérios, construídos de acordo com a terminologia da ciência, para classificar a normalidade e a anormalidade.
A partir daí, a sexualidade tornou-se um tema de debate na sociedade, especialmente quando questões sobre
o aborto, o direito das minorias sexuais e a propagação de doenças sexualmente transmissíveis começaram a
chamar a atenção da opinião pública.
Para entender esses processos [...] e as profundas implicações que têm para a vida de alguns
seres humanos, precisamos olhar não apenas para as semelhanças, os padrões de coerência
cultural que existem entre essas configurações altamente diferentes, mas também para as
diferenças cruciais que as separam – as contradições lógicas e emocionais que fluem delas.
(PARKER, 1991, p. 19)
O autor se refere, neste trecho, às ambigüidades que marcam a vida moderna brasileira.
Na mesma linha de pensamento, observa Foucault que as sociedades industriais modernas não foram
capazes de reprimir intensamente e objetivamente as práticas sexuais periféricas. O que se deu, em decorrência
da aplicação de diversos mecanismos coercitivos, foi, ao contrário, uma “proliferação de prazeres específicos
e a multiplicação de sexualidades disparatadas” (FOUCAULT, 1985, p. 48).
A tão esperada libertação sexual, na sociedade atual, encontra-se travestida pela proliferação de
discursos sobre o sexo e atos sexuais, que incitam o consumismo, a pornografia e a relação objetual e superficial
com a própria sexualidade e a alheia. Para Anthony Giddens, o sexo, na cultura moderna, transformou-se
em mercadoria. Diz-nos o autor: “A sexualidade gera prazer; e o prazer, ou pelo menos a sua promessa,
proporciona um incentivo para os produtos comercializados em uma sociedade capitalista” (1993, p. 194).
Para ele, a sexualidade é o ponto central da nossa sociedade de consumo, caracterizada pelo hedonismo.
O fenômeno da exploração do sexo em seu aspecto objetual, no entanto, não foi acompanhada de uma
emancipação dos indivíduos com relação aos aspectos que dizem respeito ao próprio corpo e às experiências
de sexualidade. Para Nunes (1987, p. 11), é um mito dizer que “os jovens de hoje sabem mais”. O autor
afirma que esta é apenas uma estratégia que os pais e a sociedade, de forma geral, utilizam para justificar sua
omissão.
No contexto atual, o que se vê é que a família se prende a um discurso dogmático sobre sexualidade, a
religião assume discursos muitas vezes contraditórios no que diz respeito à questão, quando não defende um
conservadorismo anacrônico. Já o Estado, que controla as escolas, vê a questão menos pela ótica moralista e
mais pelo viés técnico, sob o ponto de vista demográfico, biológico, profissional e político (NUNES, 1987, p.
15).
De qualquer forma, o que se pode concluir é que ainda impera um quadro de ambigüidade em relação
à sexualidade: nunca se falou tanto de sexo. Mas, de certa forma, a desinformação e a falta de intimidade com
o assunto persistem.
4. Considerações
Mesmo neste breve apanhado da história da sexualidade - bastante superficial tendo em vista a grande
complexidade que envolve o tema - é possível perceber que se trata de um processo marcado por avanços e
retrocessos. Na atualidade, a sociedade, de modo geral, é menos pautada pela hierarquia e pelas relações de
dominação, seja entre pais e filhos, homens e mulheres, etc. Porém, a situação das mulheres permanece ainda
numa condição paradoxal. Embora elas tenham mais acesso ao mercado de trabalho, aos estudos ou mesmo
às situações que permitem vivenciar e experimentar sua própria sexualidade, permanecem no imaginário da
mulher e do homem as noções ligadas às normas sociais, à honra e à desonra, que freqüentemente punem mais
severamente as mulheres que os homens e ainda seguem fomentando padrões estereotipados, que pautam
as relações entre os sexos. Da mesma forma, boa parte das mulheres ainda cria uma imagem de si menos
orientada para seus desejos e necessidades autênticas e mais para se ajustar às exigências e gostos dos homens.
A imagem da mulher, e especificamente a imagem do corpo feminino, continua a ser explorada, muitas vezes
com propósitos mercantilistas, como já dissemos.
Embora cada vez mais pessoas se mobilizem pelo fim das idéias ligadas ao autoritarismo, sexismo e
outras formas de dominação política e econômica que, em muitos casos, se sustentam no discurso da repressão
– inclusive sexual – há ainda focos de resistência em toda a sociedade. Um dos mais comuns é o que aparece
travestido de “retorno aos valores tradicionais da família” e que, não raro, prega o retorno à organização
patriarcal e autoritária.
Existe mais informação sobre sexualidade e, inclusive, nos últimos anos proliferaram os livros sobre
como homens e mulheres podem obter satisfação sexual. Nas escolas, a educação sexual foi introduzida nos
currículos. E mesmo a imprensa – especialmente a feminina – viu-se obrigada a tocar nas questões relativas
à sexualidade. No entanto, pelo menos nas esferas institucionalizadas, trata-se de um discurso extremamente
orientado para as questões de saúde e reprodução e muito pouco preocupado com os impactos da atividade
sexual na vida humana em suas dimensões psíquica e mesmo afetiva.
Outras tendências apontam para uma direção diferente. Há grande quantidade de material pornográfico
no mercado, descrevendo e mesmo estimulando o sexo compulsivo, mecânico, completamente dissociado da
experiência afetiva. Nessa mesma linha, aparecem representações impessoais e objetuais da sexualidade em
grande número de propagandas e programas de TV.
Em relação à revolução sexual moderna, é importante dizer que permitiu às mulheres um resgate de sua
própria sexualidade. Porém, reprimida como foi durante tantos séculos, é claro que permanecem ainda, muitas
delas, incapazes de se expressarem sexualmente e de ter prazer no sexo. Da mesma forma, a sexualidade dos
homens também foi distorcida de modo que, com toda a obsessão pelo falo, vários homens se mostram, mesmo
atualmente, separados da essência do poder sexual: a capacidade de experimentar totalmente o prazer.
Nesse contexto, parece claro que ainda há muito o que se dizer sobre sexo e sexualidade. Este estudo
- que apenas propôs uma breve reflexão sobre as origens dos conceitos relacionados ao tema, na sociedade
ocidental - longe de esgotar as considerações possíveis, pretende ser um ponto de partida para muitos outros
trabalhos sobre o tema. Mesmo tendo despertado o interesse de um número cada vez maior de pessoas nas
últimas décadas, há ainda pouca intimidade, de modo geral, com as questões relacionadas à sexualidade, bem
como à sua vivência. Apresenta-se aí importante objeto de estudo para essa e, ao que tudo indica, para muitas
gerações futuras.
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