Aborto - Interrupção Voluntária Da Gravidez
Aborto - Interrupção Voluntária Da Gravidez
Aborto - Interrupção Voluntária Da Gravidez
Toda mulher em idade reprodutiva sabe o que significa a angstia do atraso da menstruao quando no se pretende engravidar. Por mais segura que esteja quanto aos mtodos anticoncepcionais adotados, impossvel no ficar temerosa, pois nenhum mtodo contraceptivo pode ser considerado 100% seguro. Apesar dessa realidade, irrefutvel que o uso de mtodos de planejamento familiar reduz a possibilidade de gravidez indesejada. No entanto, quando a gravidez acontece s existem dois caminhos: o parto ou o aborto. Dados encontrados na Internet1 informam que seis em dez mulheres americanas que fizeram aborto experimentaram uma falha de contraceptivos. Cerca de 58% das que abortaram em 1990 usavam um mtodo de contracepo durante o ms em que engravidaram. Somente 11% nunca tinham usado um mtodo de controle de natalidade. Essa taxa se refere principalmente a mulheres jovens, solteiras, pobres, negras ou hispnicas, o que significa, naquele pas, com um nvel menor de informao. O aborto classificado como a interrupo de uma gravidez. Alguns obstetras, para defini-lo, delimitam o tempo de gestao at a 22 semana de gravidez. Aps esse perodo, a interrupo considerada parto prematuro e, se houver bito do feto, este considerado natimorto. Ou seja, at os cinco meses e meio de gravidez a expulso do feto considerada aborto pela medicina; dos cinco meses e meio em diante, parto prematuro. Verificamos, no entanto, que a grande maioria dos abortamentos obedece a um prazo bem menor que as 22 semanas delimitadas pelos obstetras. Os abortos podem ser espontneos ou provocados. Espon-tneos, se a interrupo ocorrer em conseqncia de vrios fatores de ordem natural, isto , se a expulso do feto for realizada pelo prprio organismo sem interferncia externa. Provocados, quando sofrem a interferncia de agentes mecnicos (cureta, aspirao etc.) ou qumicos (remdios abortivos). Os abortos provocados podem ainda ser classificados como teraputicos (para salvar a vida da me) ou eugnicos (quando o feto contrai doenas graves) e possuem carter legal em diversos pases. Quando ocorrem sim-plesmente por desejo da mulher, geralmente possuem carter ilegal por serem considerados criminosos, como no Brasil, por exemplo.
interna e morte da gestante em vrios casos. Tratando-se de cncer de colo uterino existem duas possibilidades de tratamento, dependendo do estgio da doena: radioterapia intra-uterina ou histerectomia radical, isto , retirada do rgo canceroso. Ambos os tratamentos adotados implicam bito fetal inevitvel. Classificadas ainda no campo do aborto teraputico, temos as indicaes de carter psiquitrico. A medida recomendada em casos de graves psicoses e debilidade mental. Um ltimo tipo que se enquadra na categoria de aborto teraputico e tambm na de aborto eugnico o caso de gravidez resultante de estupro. Costuma-se classific-lo na categoria de aborto teraputico uma vez que, como decorrncia de forte abalo psquico produzido pelo estupro, a gestante tem sua sade mental abalada. Enquadra-se tambm na categoria de aborto eugnico, porque quando no se conhece a sade mental e fsica do estuprador, pode haver possibilidade dele ser portador de fatores hereditrios patgenos ou doenas adquiridas que podem ser transmitidas ao feto. Legalmente, este tipo de aborto recebe tratamento diferenciado em diversos pases. No Brasil ele permitido qualquer que seja a idade da vtima. Uma preocupao muito grande para todos aqueles que lidam com a temtica do aborto, sejam as feministas ou os profissionais de sade, o alto ndice de gravidez na adolescncia. No Brasil, as pesquisas recentes indicam que este ndice tem aumentado nos ltimos anos. Dados levantados no SUS (Sistema nico de Sade) indicam um aumento de 20% do nmero de partos em 1998 entre jovens de dez a dezenove anos em relao a 1997. Em todo o mundo, 10% dos nascimentos cerca de quatorze milhes so atribudos a adolescentes. Cerca de 50% das nigerianas tm pelo menos um filho antes de completar 20 anos. Somente o Japo consegue ter um ndice abaixo de 1% de gravidez na adolescncia2. Nesta faixa etria a possibilidade de complicaes muito maior do que em mulheres adultas, o que classifica esta gravidez como de risco. Em 1990, o risco de morte de meninas de dez a quatorze anos foi cinco vezes maior do que o de meninas de quinze a dezenove anos que, por sua vez, foi duas vezes maior que de mulheres adultas. A doena mais comum na gravidez adolescente a toxemia gravdica. H um grande aumento da presso arterial e inchao nos ps, mos e rosto, que podem provocar uma eclmpsia caracterizada por convulses. Esse quadro pode resultar em coma, morte da gestante e at do beb, se no houver atendimento rpido e competente. Alm deste sintoma realmente grave, outras conseqncias podem advir da gravidez na adolescncia, principalmente se a menina tiver menos de dezesseis anos. Seu corpo ainda est em fase de crescimento e as formas fsicas ainda em desenvolvimento. O dimetro da bacia ainda no se formou completamente e esse estreitamento pode impedir o desenvolvimento do beb ou ocasionar partos prematuros. Por estar em crescimento e portar outro ser em desenvolvimento em seu corpo, a possibilidade de anemia torna-se grande, se sua alimentao no for equilibrada. Tudo isto faz com que o pr-natal bem feito e com acompanhamento mdico cuidadoso torne-se ainda mais indispensvel. No entanto, se os problemas fsicos podem ser evitados com um bom acompanhamento mdico, os problemas sociais so mais difceis de serem evitados. 70% das adolescentes grvidas aban-donam a escola at um ano depois de terem dado luz. A possibilidade de conseguir um emprego diminui bastante para esta garota. O risco de ser abandonada pelo namorado ou pelos pais muito grande, ou seja, a excluso social constitui um dos graves problemas da gravidez precoce3. Uma parcela considervel destes casos acaba em abortamento. Muitos deles so efetuados clandestinamente e com problemas ou seqelas. Pesquisa realizada pela Prof. Lucila Amaral Vianna e publicada pela Folha de So Paulo, mostrava que
20% das mulheres que tiveram complicaes com aborto clandestino e foram internadas em hospitais pblicos da cidade de So Paulo tinham dezenove anos ou menos. Outras 53% tinham entre vinte e 39 anos. Entre as oito que morreram de aborto em 1994 em So Paulo, trs tinham dezessete anos ou menos e estavam na 7 srie. Todas eram catlicas, moravam na periferia e suas famlias no sabiam que estavam grvidas4.
Art. 126 - Provocar o aborto com o consentimento da gestante. Pena: recluso de 1 a 4 anos. Pargrafo nico: Aplica-se a pena do artigo anterior se a gestante no maior de quatorze anos, ou alienada ou dbil mental, ou se o consentimento obtido mediante fraude, grave ameaa ou violncia. Forma qualificada: Art. 127 As penas cominadas nos dois artigos anteriores so aumentadas de um tero, se, em conseqncia do aborto, ou dos meios empre-gados para provoc-lo, a gestante sofre leso corporal de natureza grave; e so duplicadas se, por qualquer destas causas, lhe sobrevem a morte. Art. 128 No se pune o aborto praticado por mdico: I. Se no h outro meio de salvar a vida da gestante. II. Se a gravidez resulta de estupro e o aborto precedido do consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal. Apesar de constar no Cdigo Penal a legalidade do aborta-mento quando a gravidez conseqncia de estupro ou risco de vida da me, nenhum mdico de hospital pblico se dispunha a atender esses casos sem a autorizao de um juiz. O que significava peregrinao da gestante por meses a fio, at que a gravidez estivesse num momento em que j no era mais possvel o abortamento. Esta era a tcnica do mdico para esquivar-se de atender. Dessa forma, uma lei que existia h mais de cinqenta anos no era aplicada. Em 20 de agosto de 1997, em uma sesso tumultuada realizada na Cmara dos Deputados pela Comisso de Constituio e Justia, foi aprovado por 24 votos contra 23 o projeto que obriga os hos-pitais da rede pblica a cumprirem a lei de efetuarem o abortamento nos casos de estupro e risco de vida da me. O debate torna-se pblico e extremamente acirrado com vrias faces protestando contra a deciso na Cmara. Outra parte da sociedade aproveita a discusso para se manifestar contra o aborto at mesmo nos casos j previstos em lei, como se ali estivesse sendo aprovada sua legalizao e no o simples cumprimento de uma lei j existente. Este Cdigo e o Cdigo de tica Mdica do ao mdico o direito de no praticar um aborto quando sentir que isso ofende seus princpios morais. Sua recusa absolutamente justa e adequada a uma democracia. O problema que as mulheres no so regidas por esta mesma democracia e no tm o direito de decidir o que consideram melhor para si mesmas. interessante notar que todos parecem ter direitos numa democracia, menos as mulheres. Os homens decidem o que melhor ou no para elas e quando essas decises so contestadas eles se espantam, como se as mulheres no tivessem capacidade de deciso. Depois de muita luta, em 1989, graas insero de feministas no aparelho de Estado, algumas leis passaram a ser cumpridas e hospitais pblicos implantaram o abortamento nos casos previstos por lei. Foi na gesto da prefeita Luiza Erundina5 que vrias feministas ocuparam cargos de poder na Prefeitura de So Paulo. Na Secretaria de Sade, a presena de Maria Jos de Oliveira Arajo na direo do Programa de Sade da Mulher e a sensibilidade da direo e de profissionais do Hospital do Jabaquara permitiram que o aborto nos casos previstos por lei fosse implantado nesse hospital. A burocracia antes existente nesses casos foi substituda pela confiana na palavra da mulher e esse exemplo foi seguido por outros estados do pas6. Alm desse passo decisivo na insero das mulheres numa sociedade democrtica, esse processo foi consolidado pela insta-lao de postos de sade com condies de atendimento das queixas de sade feminina, informao e possibilidade de aquisio dos mtodos anticoncepcionais e orientao sobre autoexame de mama.
No entanto, alguns mdicos e mulheres defendem este tipo de aborto por ser causa de muito sofrimento para a gestante que espera nove meses por uma criana que vai viver algumas horas ou dias, ou que no tem perspectiva de cura para seu mal. Aqueles que se manifestam contra o aborto eugnico no pensam em nenhum momento nesta mulher e em seu sofrimento. Fato concreto que o aborto existe e preciso fazer algo com relao a isso. O mesmo site www.aborto.com informa que sua maior ocorrncia na Amrica Latina no Peru e Chile cerca de um para vinte mulheres com idade entre quinze e 49 anos. Em seguida vm Brasil, Colmbia e Repblica Dominicana, onde uma mulher em cada trinta faz aborto induzido. O ndice mais baixo encontrado no Mxico, uma em cada quarenta mulheres. Vejamos no quadro abaixo:
Incidncia de Abortos
Pas e ano Brasil, 1991 Chile, 1990 Colmbia, 1989 Rep.Dominicana8 Mxico, 1990 Peru, 1989 Amrica Latina Nmero anual de abortos 1.433.350 159.650 288.400 82.500 533.100 271.150 4.000.000 Percentual por mil mulheres 36.5 45.4 33.7 43.7 23.2 51.8 33.9 Mdia por mulheres 1.3 1.6 1.2 1.5 0.8 1.8 1.2
Estes seis pases representam cerca de 70% da populao da Amrica Latina e sabe-se que a maioria das que procuram aborto so casadas e tm filhos. Ou seja, os nmeros falam mais do que muitos argumentos. Se esta a realidade, com ela que temos de lidar. O aborto existe, milhares de mulheres esto morrendo por faz-lo de forma clandestina. Essas vidas podem ser poupadas quando deixarmos de ser hipcritas e passarmos a adotar medidas efetivas para salvar-lhes a vida. Talvez a forma mais contundente de demonstrarmos que lutar pela legalidade do aborto lutar pela vida, seja atravs dos nmeros. Em pases onde a prtica legalizada, seu nmero diminuiu o mesmo site9 na Internet informa que eles esto entre os que possuem taxa mais baixa no mundo assim como o nmero de mortes de mulheres. Vejamos este quadro:
Pas onde o aborto % de aborto por mil Mortes Maternais legal mulheres em idade por cem mil entre 15 e 44 anos nascidos vivos Estados Unidos 26 Inglaterra/Wales 15 Holanda 6 12 Finlndia 10 11 Japo 14 Austrlia 17 9 Pases onde o aborto ilegal Brasil Colmbia Chile Repblica Dominicana Mxico Peru
12 9
18
38 34 45 44 23 52 100
Ou seja, os argumentos que enfatizam que a legalizao do aborto significaria um aumento do nmero de abortamentos se tornam completamente falaciosos diante dos fatos concretos, assim como aqueles que apontam que lutar pela vida lutar pela legalidade encontram ressonncia diante dos nmeros acima. Para essas pessoas, a vida da mulher muito mais significativa do que a vida de um ovo fecundado. Se estes dados no forem convincentes, talvez a reportagem intitulada Aborto mata 275 vezes mais onde proibido10 seja mais contundente. Foi publicada num jornal que no identificado como simpatizante da legalizao do aborto e baseia-se em uma pesquisa realizada pelo Instituto Alan Guttemacher, organizao apartidria que financia pesquisas sobre reproduo humana e anlises polticas em todo o planeta. Segundo a reportagem:
Vinte e seis milhes de mulheres praticam aborto, todo ano, em pases onde ele permitido, 312 morrem em decorrncia de complicaes do ato. Por outro lado, 20 milhes de mulheres praticam aborto em lugares onde ele ilegal. Desse nmero, 66 mil morrem por complicaes. (...) Em pases em desenvolvimento [com exceo da China] acontecem
330 mortes a cada 100 mil abortos. Em pases desenvolvidos o ndice de mortalidade de 1,2 para cada 100 mil abortos. O maior risco se encontra na frica: a cada 100 mil abortos, 680 acabam matando a parturiente.
Nmeros como esses devem ser suficientes para que as pes-soas se dem conta de que preciso fazer algo mais do que fingir que no vem a grave realidade. Lutar pela legalizao do aborto tentar salvar milhares de vidas de mulheres jovens com grande capacidade produtiva e com famlia, o que significa outros filhos para criar, com desejos e sonhos. Ao mesmo tempo interessante notar que o Brasil sempre quis se igualar aos pases desenvolvidos. No entanto, nesses pases o aborto legalizado e feito em hospitais pblicos com todas as condies higinicas e de segurana. Porque nesse aspecto tambm no tentamos nos igualar a tais pases? A mesma reportagem denuncia que no Brasil h trs grupos distintos de mulheres que fazem aborto:
As pobres rurais, as mulheres pobres urbanas e as mulheres urbanas com renda superior. Entre as pobres rurais, 73% dos abortos so cometidos por elas mesmas [com prticas como a introduo de agulhas de croch no tero]. Entre as mulheres pobres urbanas, 57% dos abortos so cometidos por elas mesmas ou por curiosas [parteiras sem habilitao legal] sem treinamento. Os mdicos so responsveis por 79% dos abortos de mulheres urbanas com renda superior. O dia seguinte previsvel: 54% das mulheres pobres rurais apresentam problemas decorrentes do aborto. O ndice de complicaes menor [44%] entre as mulheres pobres urbanas e menor ainda [13%] entre as urbanas com renda superior.
Este relato parece ser ilustrativo da discriminao que se estabelece com a ilegalidade do aborto: so as mulheres mais pobres as que mais caro pagam com essa situao, porque pagam com suas prprias vidas ou com a mutilao de seus corpos.
aborto como ato, mas apenas a possibilidade de humanizar e dar condies de decncia a uma prtica que j est sendo feita12.
A verdade, como ressaltam estas vozes, que o aborto acontece, independentemente da legalizao. Com ele a discri-minao torna-se ainda mais visvel, pois s as mulheres ricas, ou pelo menos de boa situao financeira, podem pagar um aborto numa clnica decente com condies de higiene e acompanhamento mdico. As mulheres mais pobres sujeitam-se a qualquer condio, porque no tm o direito de escolha. A Igreja, que diz fazer opo pela pobreza, no enxerga isso. No entanto, uma coisa no pode ser negada: talvez as restries da Igreja Catlica sejam vlidas para seus fiis. Todos aqueles que no pertencem a esta Igreja - hoje parece ser a maioria da populao - no tm nenhuma obrigao de seguir seus preceitos. Ou seja, mais uma vez perguntamos onde est a liberdade do cidado e da cidad de optar pelo que deseja para a prpria vida?
mudanas so no cotidiano, no contato individual, naquilo que considerado mnimo, mas que faz tanta diferena.
Incio
Local
Mtodo usado
Interrupes realizadas
9 Fone (091)210.2295 14
at
Braslia
1996
AMIU e curetagem
Campinas
Anos 80
Porto Alegre
1998
AMIU e curetagem
Recife
1996
AMIU e curetagem
15
AMIU e curetagem
AMIU e curetagem
So Paulo
1989
1994
1998