Geomorfologia Fluvial e Hidrografia Aula 6
Geomorfologia Fluvial e Hidrografia Aula 6
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LEQUES ALUVIAIS
META
Apresentar as principais caractersticas, processos deposicionais, morfologia e classicao dos leques ou cones aluviais.
OBJETIVOS
Ao nal desta aula, o aluno dever: reconhecer os processos de formao dos leques aluviais; entender a classicao dos leques aluviais; entender a importncia do clima e da rea da bacia hidrogrca na formao dos leques aluviais.
INTRODUO
Os leques aluviais so depsitos sedimentares em forma de leque (ou cone) encontrados comumente em reas de sop de regies montanhosas, especialmente sob condies de clima semi-rido ou rido (SUGUIO, 2003). O leque aluvial (alluvial fan) considerado sinnimo de cone aluvial (alluvial cone) por muitos estudiosos. J outros como Rapp e Fairbridge, 1968, citados por Suguio (2003), atribuem a primeira designao aos depsitos com declive mais suave (desde menos de 1 at cerca de 5 graus) e a segunda aos que exibem declives mais acentuados (5 a 10 e eventualmente 25 graus). So tambm conhecidos como depsitos angomerticos. Embora a freqncia dessa forma de relevo seja mais comum nas regies de climas ridos e semi-ridos, podem ocorrer, tambm, em climas midos.
Rhodes W. Fairbridge, foi um gelogo australiano e especialista em alteraes climticas. (Fontes: http://www.mitosyfraudes.org)
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Figura 6.1 O megaleque do rio Taquari, no Pantanal Mato-grossense, provavelmente o mais extenso do mundo, apresenta vrios lobos deposicionais arenosos construdos por rios meandrantes de baixa sinuosidade, tendo como nvel de base o rio Paraguai. (Fonte: Teixeira, et al., 2009).
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As torrentes, segundo Guerra e Guerra (1997) so cursos dgua peridicos produzidos por enxurradas, algumas vezes de grande violncia. O regime hidrogrco desses rios temporrio e espasmdico, realizandose apenas por ocasio das chuvas. Nas torrentes encontramos por algumas horas ou por alguns dias a concentrao temporria da gua de escoamento supercial, por isso so denominados de rios frustros temporrios, de pequeno percurso e de um declive longitudinal forte. A pequena depresso onde se concentram as guas de escoamento supercial a bacia de recepo (Figura 6.2). Essas guas, por efeito da gravidade, comeam a descer por uma calha de seco transversal pequena e profunda, ou seja, o canal de escoamento. Carregam grande quantidade de detritos que se acumulam na base do canal de escoamento, constituindo os cones aluviais.
Bacia de recepo
Canal de escoamento
Figura 6.2 Esboo esquemtico de uma torrente. (Fonte: Guerra e Guerra, 1997).
No sop das montanhas os rios saem dos vales estreitos montanos e entram em vales abertos, relativamente planos, nas altitudes mais baixas, onde depositam grande quantidade de sedimentos na forma de cones ou de leques aluviais. Essa deposio de sedimentos de diversas granulometrias resulta: a) sbita diminuio da velocidade que ocorre quando o canal alarga-se abruptamente; b) quando uindo sobre camadas superciais permeveis, ocorre inltrao da gua e aumento gradual na concentrao dos sedimentos provocando a deposio; c) em regies tectonicamente mais ativas durante a sedimentao; d) de acordo com Bull (1964) a litologia da rocha matriz o fator prin98
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cipal que controla a forma e o tamanho dos leques aluviais. Assim, se as rochas que do origem aos leques aluviais forem compostas por folhelhos e argilitos tero declives fortes e o dobro da largura dos leques de rochas matrizes arenosos; e e) clima em regies de aridez climtica o declive dos depsitos mais abrupto. Uma caracterstica comum aos leques, independentemente das condies climticas, a existncia de um desnvel topogrco, comumente de origem tectnica no local onde o rio deixa de ser connado (pice) e passa a construir o leque (Figuras 6.3 e 6.4).
Figura 6.4 Leque aluvial no Vale da Morte, Califrnia(EUA). (Fonte: Press, et al., 2006).
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A rea relativamente plana, situada no sop de uma escarpa ou frente montanhosa denominada piemonte. Em virtude desse contraste topogrco, h condies favorveis para o aparecimento de formas de relevo de origem deposicional e de eroso. Na primeira categoria esto os leques aluviais, cones aluviais ou fans aluviais e os taludes de vertentes, e na segunda as mais tpicas so os pedimentos. Taludes de vertente so deposies detrticas no sop da vertente, resultantes de deslizamentos gravitacionais dos materiais de regolito, no possuindo relao com a rede hidrogrca. Pedimentos formao que aparece nos pases de clima rido quente ou semi-rido, cujo material trazido pelos rios que fazem um lenol semelhana de um grande leque, logo sada da montanha.
PROCESSOS DEPOSICIONAIS
Os depsitos detrticos que compem o cone aluvial apresentam grandes variaes na granulometria e os sedimentos so transportados de trs formas: a) uxos de enxurradas (stream ow) em regies ridas e semi-ridas o tipo de uxo mais comum so as enxurradas, originadas por fortes chuvas torrenciais, com elevado poder erosivo. medida que a enxurrada diminui, os blocos, seixos e cascalhos vo sendo depositados, a partir do pice. Por receber pouca areia, silte e argila, os seus depsitos so formados por elementos grosseiros, que apresentam muitos espaos vazios entre os fragmentos. A elevada permeabilidade permite a inltrao rpida da gua na parte superior do cone, originando depsitos de peneiramento. b) uxos de lama (mudows) so constitudos, sobretudo, por areias, siltes e argilas e formam camadas relativamente delgadas que, quando dissecadas, apresentam as tpicas placas de dissecao. Por serem mais uidos movem-se em velocidade na ordem de 10 km/h. c) uxo de detritos medida que o uxo de gua vai relativamente depositando parte de sua carga sedimentar, em conseqncia da diminuio do dbito, velocidade ou profundidade do uxo, ele pode aumentar a concentrao de sedimentos, comportando-se mais como massa plstica do que como uido. Esse uxo viscoso de detritos mais comum na parte superior dos cones, abrangendo sedimentos de granulometria variada e de fraco selecionamento. Nas fcies proximais (cabeceiras do leque) so encontrados os sedimentos desses depsitos de movimentos de massa (uxos gravitacionais), como os uxos de detritos e corridas de lama de natureza mais subarea, embora possam exibir intercalaes de sistemas uviais entrelaados.
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Numa viso planimtrica geral de cone aluvial, os pers radicais longitudinais so cncavos enquanto os transversais so concntricos e convexos (Figura 6.5).
Figura 6.5 Morfologia do cone aluvial, observando o perl longitudinal e transversal. (Fonte: Nowatzki, 2005).
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Figura 6.6 Classicao de leques aluviais em trs tipos: leque dominado por uxo de detritos, leque uvial entrelaado e leque uvial meandrante de baixa sinuosidade. (Fonte: Suguio, 2003).
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Correntes de turbidez podem resultar pela enchente de um rio altamente carregado com sedimentos, excessiva inclinao de um talude deposicional causada por sedimentao ou eventualmente por movimento tectnico.
Figura 6.7 Desenvolvimento dos cones aluviais, na borda de frente montanhosa, conforme o esquema elaborado por Denny (1967). (Fonte: Christofoletti, 1981).
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O mapa A mostra o aparecimento de cones na base de uma escarpa de falha. O mapa B mostra os cones provenientes dos detritos carregados atravs do segmento 1 e pela ravina, dando origem a formao do segmento 2. Pequenas ravinas podero dissecar o cone, promovendo a formao do segmento 3, enquanto os pavimentos pedregosos desenvolvem-se nos intervios. Durante as cheias pode ocorrer uma captura por transbordamento, que leva ao abandono do segmento 2 e ao crescimento do segmento 3. Assim, os cones vo se expandindo, ocorrendo o interdigitamento entre eles e o espraiamento generalizado do manto detrtico. Todavia, nas reas de clima rido ou semi-rido esta zona de lenol de detritos ser aplainada e constituda o glacis derosion. Esse material ser transportado mais para baixo, dando origem a uma plancie de aluvies chamada de bajada ou de glacis de sedimention. Nessas plancies de bajadas, podemos encontrar depresses onde se acumulam guas de carter permanente ou temporrio, denominadas playas.
Ravinas sulcos produzidos nos terrenos devido ao trabalho erosivo das guas de escoamento. Fcies conjunto de caractersticas descritivas de um corpo sedimentar que permitem interpret-lo como o produto de um determinado tipo de processo deposicional. O corpo rochoso caracterizado por uma combinao particular de litologia, estruturas fsica e biolgica, as quais lhe conferem aspecto diferente dos corpos de rochas adjacentes.
Existem megaleques, ou seja, leques aluviais de grande extenso, desenvolvidos em climas midos, como o do rio Taquari, no Pantanal Matogrossense e o do rio Kosi, na ndia. O leque do rio Taquari trata-se de um sistema multilobado, (oito lobos de leques aluviais arenosos) de forma aproximadamente circular medindo 250 km de dimetro e provavelmente constitudos durante o Quaternrio. As suas altitudes variam de 180 m no pice do leque at 100 m nas pores distais, com um gradiente de 36 cm/km. Est constitudo, sobretudo, por sedimentos arenosos, devido a natureza psamtica das rochas-fonte, com idades entre o Ordoviciano (era Paleozica) e o Cretceo (era Mesozica). As suas dimenses so maiores que as de leque aluvial do rio Kosi (ndia), que tem seu ponto de origem (pice) no Himalaia, na regio fronteiria entre a ndia e o Nepal. Os sedimentos desse leque gradam de cascalhos (at blocos e mataes), nas pores proximais, a lamas nas pores distais. A sedimentao ocorre em canais uviais entrelaados, sobretudo nas pores proximais. Os leques deltaicos so casos particulares de leques aluviais que
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progradam diretamente para o interior de um corpo de gua lago ou mar. No devem ser confundidos com os verdadeiros deltas, que so protuberncias formadas nos locais onde os rios adentram os oceanos, mares interiores ou lagos.
CONCLUSO
Como vimos os modelos deposicionais para os leques aluviais foram elaborados considerando estas feies como distributrios do sistema uvial, praticamente restritos s regies de clima rido, com forte escoamento supercial e transporte de clastos grosseiros, resultantes da degradao mecnica das rochas. A alternncia de depsitos originados por uxos de detritos e corridas de lama, decorrente da variao da descarga uma caracterstica dos leques aluviais em sees transversais, a partir do seu ponto de sada (pice). Em direo de jusante, no sop da montanha, a coalescncia dos cones aluviais promove extensa cobertura detrtica que denominada de bajada, nas reas de clima rido e semi-rido.
RESUMO
O leque aluvial constitui um corpo de sedimentos uviais detrticos grosseiros, mal selecionados, cuja forma aproxima-se de um segmento de cone, com pice. A disposio ocorre no ponto onde o gradiente uvial diminui abruptamente no limite do relevo acidentado. A tectnica e as condies climticas tm sido apontadas como os principais fatores envolvidos na sedimentao dos leques aluviais, que so mais comuns nas regies ridas e semi-ridas, embora possam ser encontradas em regies midas. Ao coalescerem originam, extensos planos inclinados, denominados de piemontes aluviais.
AUTOAVALIAO
1. Que bibliograa pode ser consultada para aprofundar seus conhecimentos sobre os cones aluviais? 2. Quais mecanismos condicionam a formao dos cones aluviais? 3. Explique os termos a seguir: enxurradas, seixos, dbito, canais entrelaados e glacis derosion. 4. A seu ver, por que importante estudar cones aluviais? Cite um caso que sirva para exemplicar a sua resposta. 5. Faa um comentrio sobre o leque aluvial do rio Taquari.
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PRXIMA AULA
Na prxima aula voc vai estudar o ambiente deltaico.
REFERNCIAS
CHRISTOFOLETTI, Antonio. Geomorfologia Fluvial. So Paulo: Edgard Blucher, 1981. GUERRA, Antonio Teixeira; GUERRA, Jos Antonio Teixeira. Novo dicionrio geolgico-geomorfolgico . Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997. RICCOMINI, Cludio; ALMEIDA, Renato Paes; GIANNINI, Paulo Cesar Fonseca; MANCINI, Fernando. Processos uviais e lacustres e seus registros. In: TEIXEIRA et al., Decifrando a Terra. 2.ed. So Paulo: Companhia Editora Nacional, 2009. SUGUIO, Kenitiro. Geologia sedimentar. So Paulo: Edgard Blucher, 2003.
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