Princesa Isabel

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Isabel Cristina - a Redentora

Princesa Imperial - Isabel Cristina Leopoldina ____________________________________________________________


3 Princesa do Brasil Princesa D. Isabel, Regente do Imprio do Brasil (1846-1921). Nome completo: Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragana e Bourbon

Infncia e Adolescncia

s 6:26 horas da tarde do dia 29 de julho de 1846 nascia a Princesa Isabel. segunda filha do Imperador D. Pedro II, assistida pelo Dr. Cndido Borges Monteiro, no Pao de So Cristvo, Rio de Janeiro. Batizada na capela Imperial no dia 15 de novembro daquele ano pelo Bispo Capelo-Mor. Conde de Iraj. Recebeu o pomposo nome Isabel Cristina Leopoldina Augusta. Isabel, por causa da av materna, Rainha de Npoles; Cristina, que lembraria sua me, a Imperatriz Dona Tereza Cristina; Leopoldina em homenagem a sua av paterna, a primeira Imperatriz do Brasil e Augusta como premonio do futuro que a aguardava. A esses nomes acrescentaram-lhe os tradicionais dos prncipes de Bragana: Micaela, Gabriela, Rafaela Gonsaga de Bragana e Bourbon. O Imperador D. Pedro II teve quatro filhos: D. Afonso (1845-1847), D. Isabel Cristina (1846-1921), D. Leopoldina Teresa (1847-1871) e D. Pedro Afonso (1848-1850). Com as mortes prematuras dos dois vares, Isabel tornou-se a herdeira oficial do trono ao completar 14 anos. Com a morte de seu irmo mais velho, o Prncipe Dom Afonso, tornavase, aos onze meses de idade, herdeira do trono e sucessora de seu pai. Neste mesmo ano de 1847 nasceria a 13 de julho a sua companheira de toda a mocidade, a Princesa Leopoldina, sua irm.

A 29 de julho de 1860 completava D. Isabel seus 14 anos e, de acordo com o Artigo 106 da Constituio, deveria prestar o juramento por esta determinado de "manter a religio catlica apostlica a romana, observar a Constituio poltica da nao brasileira e ser obediente s leis e ao imperador. A fim de prepar-la para o papel que lhe estava reservado, comeou Dom Pedro II a preocupar-se com a formao da futura Imperatriz. Desde cedo, porm, o Imperador iniciou entendimentos para dar s filhas uma preceptora. Por indicao da Princesa de Joinville (Dona Francisca de Bragana (1824-1898), irm de D. Pedro II - foto ao lado ) a escolhida foi D. Luisa Margarida Portugal de Barros, filha do diplomata Domingo Borges de Barros. Visconde de Pedra Branca. casada com o fidalgo francs Visconde de Barral. A futura Condessa de Barral iniciou suas funes em setembro de 1865.

Para a instruo da Princesa Isabel e da sua irm diversos mestres foram ento designados. Lendo seus programas de estudo, to repletos de aulas e obrigaes, pode-se imaginar que a Princesa Isabel teve uma infncia diferente das crianas de seu tempo. Contudo, teve certamente suas horas de brincadeiras, principalmente em Petrpolis. onde em seu dirio ela diz: "Petrpolis, residncia de vero, residncia deliciosa: jardins floridos canais cortando a cidade... "ou ainda mais adiante "Eu fui de Petrpolis a p at a cascata de Tamarati. A mana andou to pouco a cavalo. " Em So Cristvo, para amenizar o ambiente to carregado de estudos e deveres, pequenas peas teatrais eram levadas cena e as princesas desempenhavam os principais papis na companhia dos amigos de infncia.

O regime de estudos das princesas era de uma severidade impressionante. Elas tinham aulas 6 dias por semana, das 7 h da manh s 21h30m, com pouqussimos intervalos para recreao. O prprio Imperador determinou: as visitas que procurarem as Princesas sero recebidas unicamente aos domingos, nas festas de guarda e nacionais, nos dias de seus anos, nos dos nossos, nos de seus nomes e nossos, e em qualquer outra ocasio que eu determinar exceo dos criados de honra e de servio. S haver frias em Petrpolis, onde talvez seja alterada a distribuio do tempo16. O currculo compreendia cerca de duas dezenas de matrias, entre as quais portugus e sua literatura, francs, ingls, italiano, alemo, latim (cujo professor era s vezes o prprio imperador), grego, lgebra, geometria, qumica, fsica, botnica, vrias disciplinas de histria, divididas por pas e por poca, cosmografia, desenho e pintura, piano, filosofia, geografia, economia poltica, retrica, zoologia, mineralogia, geologia, etc. Boa parte das aulas era dada em francs, assim como esta era a lngua em que eram redigidos os horrios das aulas e os boletins escolares. A princesa Isabel cresceu em um lar muito saudvel, onde imperava o respeito mtuo entre os pais.

As diverses das princesas ficavam por conta de jogos de salo e representaes teatrais no prprio palcio. Eram as festas das meninas, de que estavam excludos polticos e meninos. As Princesas viam transcorrer sua juventude, entre aulas de latim, alemo, botnica, mitologia, histria sagrada, matemtica alm de leitura dos evangelhos aos sbados.

Princesa Isabel adolescente

Princesa Leopoldina adolescente

A educao dada a Isabel e a sua irm Leopoldina reflete fielmente a personalidade de D. Pedro II, persuadido da importncia suprema de uma educao universal e ampla, com um forte teor cientfico. Um governante, na viso do monarca, deveria estar preparado para entender, mesmo que como observador fora do palco dos acontecimentos, o desenrolar do progresso das cincias e de suas aplicaes. Isso era considerado essencial no processo de tomada de decises. Todavia, Pedro II no se restringia a este aspecto. Ele tinha um gosto especial pelo mundo dos estudos, sobretudo os estudos cientficos, chegando a realizar experimentos cientficos, escrever trabalhos, tomar parte em reunies acadmicas, sendo scio, por exemplo, da Academia das Cincias de Paris, e corresponder-se extensamente com pessoas ligadas cincia e tecnologia, como j se mostrou vrias vezes11. O que mais surpreende no caso analisado aqui no o fato de as princesas terem tido a educao que lhes foi proporcionada, mas sim o contraste entre esta e a educao da imensa maioria das mulheres brasileiras da poca, mesmo aquelas de origem abastada.

Retrato de D. Pedro II, por Delfim da Cmara (1875). O imperador est cercado de cones da cincia: sua mo direita segura um livro onde se v a representao de um telescpio; frente do que parece ser um globo celeste esto trs livros, perfeitamente visveis no original a leo, com os nomes, Arago, Kepler e Halley escritos nas lombadas. Ao fundo, v-se a cpula de um telescpio do Imperial Observatrio do Morro do Castelo. Museu Histrico Nacional. ( foto e texto extrado do trabalho - "A qumica na educao da Princesa Isabel" de Carlos A. L. Filgueiras).

A educao feminina em carter mais universal e amplo s se logrou efetivamente no Brasil a partir do final do sculo 19, sobretudo aps a implantao da Repblica, com a vinda de inmeras congregaes religiosas para o pas, com a finalidade especfica de criar um grande nmero de colgios espalhados de norte a sul do imenso territrio. falta de um ensino pblico universal que atendesse eficazmente s necessidades da populao, foi principalmente essa rede de instituies de ensino que supriu as deficincias herdadas do regime anterior.

Mais tarde, em sua primeira visita Europa, j casada, Isabel Cristina escrevia ao pai para agradecer a educao recebida. Oh! Quanto lhe agradeci no meu interior de me ter ensinado e de me ter dado mestres de modo que agora compreendo a maior parte das coisas que vejo, ainda que ignore muito. Entre seus mestres estavam a Condessa do Barral, por quem manteria afinidade e admirao por toda vida.

Casamento

Em todos os tempos e lugares os casamentos de prncipes so motivo para as mais desencontradas opinies e comentrios. Era natural que o governo e o povo dessem a maior importncia ao casamento da Princesa Isabel, dedicando-lhe toda a ateno. Cabia ao ministrio movimentar a mquina diplomtica para localizar um Principe Consorte. Depois de enorme correspondncia trocada com a nobreza europia a prpria Princesa quem escolhe o seu Prncipe, Lus Gasto de Orlans, o Conde dEu. Em 18 de setembro de 1864 o prncipe francs pede a mo da herdeira do Imprio do Brasil. O casamento teve lugar na Capela Imperial, no Rio de Janeiro, a 15 de outubro daquele ano. No mesmo dia os noivos partem para a lua de mel em Petrpolis, e em 10 de janeiro de 1865 seguem viagem para a Europa onde a Princesa conheceu ento os pais de seu marido. A inteno do Imperador era casar Isabel com Augusto e Leopoldina com Gasto. No entanto, contrariando um costume da poca, as princesas puderam escolher seus noivos. Chegaram o Conde dEu e o Duque de Saxe. Meu pai pensava no conde dEu para minha irm e no Duque de Saxe para mim. Deus e os nossos coraes decidiram diferente, escrevia Isabel. Em um ms resolveram-se todas as formalidades a princesa unira-se a seu prncipe que estaria a seu lado por toda a vida. O casal passou a residir no bairro carioca das Laranjeiras, no atual palcio Guanabara, e em Petrpolis. Desde ento esses palcios passaram a ser refgio de escravos fugidos. O Imperador concedeu as honras de marechal do Exrcito ao genro, que, pelo contrato antenupcial, receberia o ttulo de imperador desde que tivesse com a princesa filho chamado ao trono, mas no tomaria parte no governo. Com o fim da Guerra do Paraguai o casal faz nova viagem Europa. desta vez para visitar a Princesa Leopoldina que se encontrava doente. Sofrendo de tifo, a nica irm da Princesa Isabel veio a falecer em 7 de fevereiro de 1871. Neste mesmo ano. D. Pedro II faz sua primeira viagem Europa. Deixando, pela primeira vez, a

Princesa Isabel como Regente do Imprio. Neste interim, assinada a 28 de setembro a Lei do Ventre Livre. A ausncia de filhos do casal preocupava a todos. Engravidara a Princesa durante a sua terceira viagem Europa. mas somente no 6 ms de gravidez ponderou sobre a dificuldade de retornar ao Brasil para que aqui nascesse o seu herdeiro. como regia o Contrato Matrimonial. Embarcando dois meses depois, aps uma viagem penosa, nascia-lhe morta uma menina aos 28 de julho de 1874, no Pao Isabel. Finalmente em 15 de outubro de 1875, quando comemoravam onze anos de casados, nascia no Palcio Princesa Isabel, em Petrpolis, o herdeiro, recebendo o nome de Pedro de Alcntara, e o ttulo de Gro-Par, que competia ao primognito do Prncipe Imperial. No Palcio Imperial de Petrpolis, em 26 de janeiro de 1878, nascia o segundo filho da Princesa, Dom Lus Maria e a 9 de agosto de 1881, em funo de uma demorada viagem Europa, nascia o terceiro filho, Dom Antnio, no Palcio alugado da Rua de La Faisanderie, 27, Passy, Paris, morto solteiro pilotando um avio na Primeira Guerra Mundial. A princesa procurou dar uma formao democrtica aos filhos, matriculando-os no colgio do Padre Moreira*, freqentado pelas crianas mais simples de Petrpolis.

Colgio Padre Moreira*


Em 1870, chega ao Brasil o Padre Jos Benedito Moreira, portugus de nascimento, hospedando-se no Mosteiro de So Bento, no Rio de Janeiro, sendo autorizado a lecionar latim, filosofia e ingls, por um aviso do Ministrio do Imprio. Vem para Petrpolis, onde funda um educandrio, citado pela primeira vez no Almanaque Laemmert, em 1879, funcionando o citado colgio, que recebeu o nome de So Jos, na Rua dos Artistas, prxima ao Asilo do Amparo. Em 1881, vendeu o Colgio So Jos ao Dr. Achiles Biolchini e, em 1886, adquiriu a propriedade em que funcionava o Colgio Kopke, ali instalando o Colgio Padre Moreira. Sobre suas atividades nesse perodo, informa Cardoso Fontes: Foi ento legendria sua ao. Mestre antiga, rspido nas ordens, implacvel na exao dos deveres e na disciplina moral, tolerante nas fraquezas humanas, cujo remdio encontrava no reerguimento da personalidade de quem fraquejava, pelo conselho e pelo seu exemplo, a todos indicava a prtica da virtude. (43) Foram alunos de seu afamado educandrio o Prncipe do Gro Par, Dom Pedro de Orleans e Bragana. Aristides Werneck, Henrique Viard, Afonso d'Escragnole Taunay, Lus de Souza Dantas e muitas outras personalidades. (43) LACOMBE, Loureno Lus. Velhos Colgios de Petrpolis. Tribuna de Petrpolis, junho de 1950. Fonte: Curso de Histria de Petrpolis

Regncias de Isabel Princesa Imperial Regente do Brasil 1 Regncia - 25 de maio de 1871 a 31 de maro de 1872 2 Regncia - 26 de maro de 1876 a 25 de setembro de 1877 3 Regncia - 30 de junho de 1887 a 22 de agosto de 1888

1 Regncia: Em fevereiro de 1871, faleceu, em Viena, a Princesa D. Leopoldina com apenas 24 anos. Abalados com a dor pela perda da filha, os Imperadores viajaram para a Europa por uma longa temporada. A Regncia passou a ser exercida pela Princesa D. Isabel, herdeira do trono, cujo juramento foi prestado, em 20 de maio do mesmo ano, na Sala de Sesses do Senado. A Cerimnia do Juramento

foi presidida pelas mais importantes figuras do Governo, representando os Trs Poderes. Todo o Corpo Diplomtico testemunhou o evento, cuja memria foi encomendada pelo Visconde de Abaet ao pintor Vtor Meireles de Lima. No perodo em que exerceu o poder, no ministrio do visconde do Rio Branco, entre 7 de maio de 1871 e 31 de maro de 1873, sancionou a Lei do Ventre Livre, que libertava os filhos que nascessem de me escrava.

Juramento da Princesa Isabel em 20 de maio de 1871.

2 Regncia: Voltou a assumir o cargo de regente em 26 de maro de 1876, quando da viagem de Pedro II aos Estados Unidos, e nele permaneceu at 27 de setembro do ano seguinte.

3 Regncia: Em 30 de junho de 1887, com a partida do Imperador para a Europa, em tratamento de sade comeava a 3 Regncia e a 3 fase poltica da vida da Princesa. A escravido estava de tal maneira presente na vida do Imprio que vrias tentativas visando aboli-la acabavam esbarrando no conservadorismo dos fazendeiros e proprietrios, mesmo entre os liberais. As relaes entre a Regente e o Ministrio de Cotegipe eram tensas, embora aparentassem ser cordiais, Enquanto a Princesa aliava-se ao movimento popular, o Ministrio de Cotegipe defendia a manuteno da escravido. Aproveitando-se da oportunidade oferecida por um incidente de rua, a Princesa substitui o Gabinete. O novo ministrio conhecido como o Gabinete da Abolio, tinha a frente o Conselheiro Joo Alfredo, a quem a Princesa sugeriu na Fala do Trono que se fizesse o quanto antes a abolio da escravatura.

No dia 13 de maio de 1888, uma senhora de 41 anos, portando uma caneta banhada a ouro (foto ao lado) assinava um dos documentos mais importantes da Histria do Brasil - a Lei urea, que dava liberdade a todos os escravos. Por detrs de sua assinatura havia o clamor de diversas pessoas, que lutaram junto com ela para que tal lei fosse implantada. Atravs deste ato, seu nome ficaria definitivamente na Histria. Na euforia e no entusiasmo pelo seu dia de glria, s ouvia a Princesa os louvores e os aplausos - Viva Isabel I. Coroando a atitude da "Redentora" faltava a beno da Igreja, com a Rosa de Ouro, concedida Princesa pelo Papa Leo XIII, em 28 de setembro de 1888. Mas a elite cafeeira no aceitava a Abolio. Cotegipe, ao cumprimentar a Princesa, vaticinou: "Vossa Alteza libertou uma raa, mas perdeu o trono". certo que o mrito no foi apenas dela, mas seu interesse pela causa foi de fundamental importncia. Os fazendeiros escravocratas, sustentculos da poltica imperial, abandonaram o Imperador aps a abolio. E disso j sabia muito bem Isabel antes de assinar a Lei urea. Em outras palavras, optando pela Abolio, D. Isabel talvez tenha optado tambm, involuntariamente, pelo avano do republicanismo e o agravamento das relaes entre a elite dirigente brasileira, mormente a aristocracia rural, e a Realeza. Contudo, ela prpria quem nos d a resposta a isso: "Se mil outros tronos eu tivesse, mil eu perderia para por fim escravido!"

Postura poltica

Liberal, a Princesa uniu-se aos partidrios da abolio da escravido. Apoiou jovens polticos e artistas, embora muitos dos chamados abolicionistas estivessem aliados ao incipiente movimento republicano. Financiava a alforria de ex-escravos com seu prprio dinheiro e apoiava a comunidade do Quilombo do Leblon, que cultivava camlias brancas, smbolo do abolicionismo. A Princesa ousou, algumas vezes, aparecer em pblico com uma dessas flores a adornar-lhe a roupa, fato sempre notado pelos jornais. Foram-lhe oferecidos, inclusive, quando da

assinatura da Lei urea, bouquets de camlias pelo presidente da Confederao Abolicionista, Joo Clapp, e pelo Seixas.

A flor servia como uma espcie de cdigo de identificao entre os abolicionistas, principalmente quando empenhados em aes mais perigosas, ou ilegais, como auxiliando fugas ou conseguindo esconderijo para os fugitivos. Um escravo podia identificar imediatamente possveis aliados pelo uso de uma dessas flores no peito, do lado do corao. Naqueles tempos, usar uma camlia na lapela ou t-la em seu jardim em casa, era uma quase acintosa confisso de f abolicionista. Alguns ps de camlias remanescentes desse tempo simblico ainda podem ser encontrados nos jardins, como os da Casa de Rui Barbosa, atuante membro do movimento abolicionista. Estes ps de camlia so documentos vivos e, em algumas pocas do ano, floridos, da histria do Brasil.

A Princesa Isabel tambm protegia escravos fugidos em Petrpolis. Temos sobre isso o testemunho insuspeito do grande abolicionista Andr Rebouas, que tudo registrava em sua caderneta implacvel. S assim podemos saber hoje, com dados precisos, que no dia 4 de maio de 1888, "almoaram no Palcio Imperial 14 africanos fugidos das fazendas circunvizinhas de Petrpolis". E mais: todo o esquema de promoo de fugas e alojamento de escravos parecia ter sido montado pela prpria Princesa. Andr Rebouas sabia de tudo porque estava comprometido com o esquema.

No faltava a esse esquema nem mesmo o apoio de importantes damas da corte, como Madame Avelar e Ceclia, Condessa da Estrela, companheiras fiis de Isabel e tambm abolicionistas da gema. s vsperas da Abolio final, conforme anotou Rebouas, j subiam a mais de mil os fugitivos "acolhidos" e "hospedados" sob os auspcios de Dona Isabel. Andr Rebouas, o intelectual negro de maior prestgio da poca, fazia uma ponte entre o esquema de fugas montado pela Princesa, em Petrpolis, e o alto comando do movimento abolicionista, no Rio de Janeiro: o pessoal da Confederao Abolicionista, Joaquim Nabuco, de quem era amigo fraterno, Joaquim Serra, Joo Clapp, Jos Carlos do Patrocnio.

A princesa Isabel possua pensamento arrojado para sua poca, era partidria de idias modernas, como o sufrgio feminino e a reforma agrria. Documentos recentemente descobertos revelam que a Princesa estudou indenizar os ex-escravos com recursos do Banco Mau. A carta escrita pela princesa em 11 de agosto de 1889 revelada pela revista Nossa Histria em 2006 endereada a um amigo, o Visconde de Santa Vitria (primo e scio do Visconde de Mau, um dos homens mais ricos do Brasil), deixa claro que ela tinha planos para os escravos recm-libertos. Isabel e o pai, o imperador Pedro II, chegaram a articular com empresrios a compra de terras para ex-escravos. A mensagem dirigida por Isabel ao empresrio clara: Com os fundos doados pelo senhor, teremos oportunidade de colocar estes ex-escravos, agora livres, Afro-descendentes em terras prprias trabalhando na agricultura e na pecuria e delas tirando seus prprios proventos.

Nessa carta da princesa d para ver que ela pensava nisso, em uma reforma agrria aps a abolio, apontou o historiador Eduardo Silva. Para o diretor executivo do Educafro (Educao e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes), frei David Santos, preciso rever o papel da princesa. Somos obrigados a perceber o quanto ela tinha a inteno de redeno e o quanto a classe poltica daquele tempo no permitiu esse sonho de redeno ser realizado, acredita. O documento, que ficou guardado por mais de um sculo traz ainda outra revelao: a princesa Isabel estava engajada numa outra campanha, pelo voto feminino. Quero agora dedicar-me a libertar as mulheres dos grilhes do cativeiro domstico, e isto ser possvel atravs do sufrgio feminino. Se a mulher pode reinar, tambm pode votar, escreveu a princesa.

Com a Lei urea, caiu o apoio poltico ao Imprio, que seria derrubado trs meses depois com a proclamao da Repblica. A princesa e a famlia real tiveram ento que se exilar em Paris. As conseqncias foram que as garantias pedidas por Isabel jamais tornaram-se reais. Nenhum ex-escravo foi indenizado, dando origem a um ciclo de desigualdade contnuo cujas conseqncias permanecem no Brasil atual.

Exlio

Com a Proclamao da Repblica em novembro de 1889, embarca a Famlia Imperial para o exlio na Europa. com o corao partido de dor que me afasto de meus amigos, de todos os brasileiros e do pas que tanto amei e amo, para cuja felicidade esforcei-me por contribuir e pela qual continuarei a fazer os mais ardentes votos. Rio de Janeiro, 16 de novembro de 1889. Isabel, Condessa dEu.

A velhice transcorreu tranquila e calma para a Princesa Isabel. Rodeada do marido - que amava e que a amava - e dos filhos (dois dos quais levados pelas conseqncias da Primeira Guerra Mundial) e por seus netos, que passaram a constituir o seu encantamento. Fez de sua casa uma embaixada informal do Brasil. Recebia brasileiros de passagem, ajudou o jovem Alberto Santos-Dmont quando desenvolvia suas invenes. Em 1920 teve a felicidade de saber que a lei que bania a Famlia Imperial do Brasil havia sido revogada pelo Presidente Epitcio Pessoa.

Princesa Isabel com um dos seus netos no exlio

Princesa Isabel em um momento de descanso.

Sucessora de D. Pedro II como D. ISABEL I, Chefe da Casa Imperial e Imperatriz de direito do Brasil, em 5 de dezembro de 1891, em Paris, Frana, reconhecida pela representao dos estadistas e nobres brasileiros que a acompanhavam no amargo momento da morte do Imperador. Nos ltimos anos, com dificuldade para se locomover, era empurrada numa grande cadeira de rodas pelos corredores e sales do castelo dEu. Ela morreria em 14 de novembro de 1921, no Castelo dEu na Normandia - Frana, aos setenta e cinco anos. Com saudades de Petrpolis, de minha casa, do meu jardim e de minhas amigas... Mas seria sempre lembrada, Isabel, a redentora dos escravos. Ainda no navio que a levava para o exlio, teria dito a Rebouas: Senhor Rebouas, se houvesse ainda escravos no Brasil, ns voltaramos para libert-los. Velada na Igreja Colegial de Eu, at 18 de novembro de 1921 e, depois, enterrada no Mausolu da Casa de Orleans, na Capela Real de Dreux (Frana). Restos mortais trasladados para o Brasil, em 1953, juntamente com os de D. Gasto, e depositados na Catedral Metropolitana do Rio de

Janeiro at 9 de maio de 1971, quando foram levados para a Igreja da Irmandade de Nossa Senhora do Rosrio e So Benedito dos Homens Pretos. Dali partindo, a 12 de maio de 1971, para Petrpolis, a fim de serem condignamente dispostos no Mausolu Imperial da Catedral de So Pedro de Alcantara, ao lado de D. Pedro II e D. Thereza Christina.

Finalmente inumada em 13 de Maio de 1971 na Catedral, aps Missa Solene celebrada pelo Senhor Bispo de Petrpolis, D. Manuel Pedro da Cunha Cintra, com a presena de D. Pedro Henrique (*1909 1981), neto e sucessor de D. Isabel na Chefia da Casa Imperial, de vrios Prncipes do Brasil e Prncipes de Orleans-e-Bragana, e do ento Prncipe da Beira, D. Duarte Pio, herdeiro do trono portugus, todos netos e bisnetos da Redentora, alm das mais altas autoridades da Repblica brasileira.
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Fonte texto: Viva Brasil | Instituto D Isabel | A qumica na educao da


Princesa Isabel | Casa Imperial do Brasil | Rui Barbosa e o quilombo do Leblon |

Fonte imagens: Famlia Imperial | Museu Nacional

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