Os Grandes Vultos Do Espiritismo (Paulo Alves Godoy)

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OS GRANDES VULTOS DO ESPIRITISMO


PAULO ALVES GODOY
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ÍNDICE
Algumas Palavras do Autor
Nota da Editora

CAPÍTULO 1 = ADÉLIA RUEFF


CAPÍTULO 2 = ADOLFO BEZERRA DE MENEZES
CAPÍTULO 3 = ALLAN KARDEC
CAPÍTULO 4 = AMÉRICO MONTAGNINI
CAPÍTULO 5 = ANÁLIA FRANCO
CAPÍTULO 6 = ANTÔNIO GONÇALVES DA SILVA BATUÍRA
CAPÍTULO 7 = ARTUR LINS DE VASCONCELOS LOPES
CAPÍTULO 8 = AUGUSTO MILITÃO PACHECO
CAPÍTULO 9 = AURORA A. DE LOS SANTOS DE SILVEIRA
CAPÍTULO 10 = BENEDITO GODOY PAIVA
CAPÍTULO 11 = CAÍRBAR SCHUTEL
CAPÍTULO 12 = CAMILLE FLAMMARION
CAPÍTULO 13 = CARLOS GOMES DE SOUZA SHALDERS
CAPÍTULO 14 = CLÉLIA SOARES DA ROCHA
CAPÍTULO 15 = CORINA NOVELINO
CAPÍTULO 16 = COSME MARIÑO
CAPÍTULO 17 = EMMA HARDINGE BRITTEN
CAPÍTULO 18 = EURÍPEDES BARSANULFO
CAPÍTULO 19 = FRANCISCO ANTÔNIO BASTOS
CAPÍTULO 20 = FREDRICH WILLIAN HENRY MYERS
CAPÍTULO 21 = GEORGE VALE OWEN
CAPÍTULO 22 = GUILHERME TAYLOR MARCH
CAPÍTULO 23 = INÁCIO BITTENCOURT
CAPÍTULO 24 = JOÃO BATISTA PEREIRA
CAPÍTULO 25 = JOÃO FUSCO (JOFUS)
CAPÍTULO 26 = JOÃO LEÃO PITTA
CAPÍTULO 27 = JOSÉ PETITINGA
CAPÍTULO 28 = JÚLIO ABREU FILHO
CAPÍTULO 29 = JUVÊNCIO DE ARAÚJO FIGUEIREDO
CAPÍTULO 30 = MIGUEL VIVES Y VIVES
CAPÍTULO 31 = PEDRO DE CAMARGO VINÍCIUS
CAPÍTULO 32 = PEDRO LAMEIRA DE ANDRADE
CAPÍTULO 33 = UMBERTO BRUSSOLO
CAPÍTULO 34 = VIANA DE CARVALHO
CAPÍTULO 35 = WILLIAM STAINTON MOSES
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Algumas palavras do autor


O meio espírita brasileiro, há largos anos vem-se ressentindo da falta de
informações biográficas de grandes vultos do Espiritismo.
Sentindo essa lacuna, iniciamos, há mais de vinte anos, a publicação, pelas
páginas dos jornais "O Semeador", órgão da Federação Espírita do Estado de
S. Paulo, e "Unificação", órgão da União das Sociedades Espíritas do Estado
de S. Paulo, subsídios biográficos de numerosos pioneiros e divulgadores do
Espiritismo, os quais exerceram suas tarefas no Brasil e em outros países.
Esse trabalho alcançou acentuada repercussão.
Atendendo a solicitações de numerosos núcleos espíritas do Brasil e,
particularmente, de muitos estudiosos do Espiritismo, os quais se interessam
pela vida e obra de grandes seareiros da Doutrina dos Espíritos, achamos de
bom alvitre publicar um livro de biografias, aproveitando o material já publicado
naqueles jornais.
Nesses vinte e poucos anos, grande número de trabalhos biográficos
foram divulgados. Entretanto, se eles fossem todos enfeixados numa só obra,
além de ela tornar-se muito volumosa, seria dispendiosa e inacessível ao bolso
de muitos, devido ao preço atual dos livros.
Levando em consideração esse e outros fatores, achamos conveniente
publicar volumes com cerca de trinta registros biográficos, eventualmente
dando à publicidade mais de um volume.
A escolha dos primeiros nomes foi feita de forma indiscriminada, pois é
tarefa sumamente difícil, entre tantos seareiros de renome, escolher apenas
um número limitado. Por isso, tomamos de forma aleatória, dentre os espíritas
brasileiros e estrangeiros, o número necessário para a formação do primeiro
volume, sem levar em conta a magnitude das tarefas por eles desempenhadas.
Estamos animados da esperança de que, dentro em breve, outros livros
serão dados à lume, quando então a vida e obra de outros grandes
batalhadores da causa espírita poderão ser legadas ao público ledor.

PAULO ALVES GODOY


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Nota da editora
É gritante a falta de informações biográficas de muitos seareiros que
desempenharam papel de relevância na Terra. Alguns livros surgiram
recentemente, os quais ensejaram a oportunidade de projetar na posteridade,
os nomes de alguns dos mais salientes militantes espíritas, no entanto, um
elevado número de outros obreiros permanece relegado ao esquecimento.
Embora reconhecendo que muitos Espíritos desencarnados não dão
qualquer apreço às homenagens terrenas, é óbvio que os nossos pósteros não
podem e não devem ignorar, ainda que de forma bastante resumida e
apagada, a obra por eles deixada na Terra, pois muitos deles por aqui
passaram como verdadeiros rasgos de luz a iluminar os horizontes do mundo.
Alguns órgãos da imprensa espírita, num trabalho hercúleo, têm procurado
pesquisar e difundir ligeiros dados biográficos de muitos espíritas que
desempenharam tarefas de projeção na Terra, o que tem contribuído, de algum
modo, para preencher essa lacuna.
As "Edições FEESP", da Federação Espírita do Estado de São Paulo,
sentindo a extensão desse problema, deliberou lançar um ou mais livros desse
gênero, tendo, para tanto, encarregado o jornalista Paulo Alves Godoy, de
prepará-los, uma vez que aquele companheiro tem desenvolvido uma tarefa,
que perdura há mais de 20 anos, no campo da pesquisa e publicação de
informes biográficos de grandes vultos do Espiritismo.
Neste livro houve a preocupação de circunscrever ao menor espaço
possível esses dados, para que maior número de personalidades espíritas
pudesse ser nele enfeixado, e o fato de não ter sido possível abranger a todos,
no que não vai nenhuma desconsideração pelas tarefas por eles
desempenhadas, esperamos que, futuramente, novos volumes sejam
lançados, nos quais mais alguns vultos espíritas tenham sua vida e obra
registradas.
A Federação Espírita do Estado de S. Paulo presta, assim, o seu tributo,
lançando a lume esta obra que, temos a certeza, virá satisfazer a aspiração de
elevado número de espíritas.

A EDITORA
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ADÉLIA RUEFF
Nascida em Pinhal, Estado de São Paulo, no dia 5 de Junho de 1868
e desencarnada na mesma cidade, no dia 2 de Fevereiro de 1953, com 84
anos de idade.

Desde o seu surgimento na Terra, no ano de 1857, o Espiritismo enfrentou


tenaz resistência por parte da religião majoritária do Brasil. Entretanto, na
década de 1930, essa pressão acentuou-se de maneira inusitada, fazendo-se
sentir em toda a sua intensidade.
Na cidade de Pinhal, o clima não era diferente. Entretanto, como Deus situa
em cada cidade um Espírito que desenvolve tarefas pioneiras e santificantes,
aquele núcleo populacional do Estado de São Paulo, não poderia constituir
exceção, por isso ali reencarnou o Espírito missionário de Adélia Rueff, mais
conhecida por "tia Adélia", que teve a oportunidade ímpar de desenvolver
santificante trabalho em favor do esclarecimento dos seus semelhantes,
alicerçada na recomendação de Jesus do "Amai-vos uns aos outros".
A fim de propiciar aos nossos leitores uma apagada súmula biográfica
dessa grande vida, passamos a transcrever um substancioso trabalho
elaborado pelo confrade João Batista Laurito, atual presidente da Federação
Espírita do Estado de São Paulo, que teve a oportunidade feliz de com ela
conviver, locupletando-se com os frutos sazonados que ela tão bem sabia doar
aos que usufruíram de sua benfazeja orientação espiritual.
"Foi exatamente em 1936 que tive os meus olhos abertos para as
claridades fulgurantes da Doutrina Consoladora. Embora nascido em berço
espírita, foi somente nesse ano que, indo residir em Pinhal, a fim de estudar na
"Escola Agrícola", conheci o "Centro Espírita Estrela da Caridade", brilhante
fanel de luzes na Região Mojiana, centro de irradiação de caridade e amor a
todos os que tinham a oportunidade de freqüentá-lo.
Essa Casa foi fundada em 11 de janeiro de 1911 e, desde o dia de sua
fundação até 1950, ininterruptamente, foi essa célula de fraternidade, sábia e
amorosamente presidida por sua fundadora ADÉLIA RUEFF (Tia Adélia), assim
chamada, porque solteira, abrigou em seu lar enorme contingente de sobrinhos
de outras cidades, que na idade própria buscavam
Pinhal, para aculturamento escolar, fato que durou muitos anos. E esses
sobrinhos eram tantos, que generalizaram entre outras pessoas, a alcunha "Tia
Adélia".
O Dr. Francisco Silviano de Almeida Brandão, por ocasião de sua colação
de grau como médico, houvera feito uma promessa no final do século 19 que
se tudo transcorresse bem por ocasião de sua formatura, abriria um Centro
Espírita, pois já nessa época professava a crença reencarnacionista. Mas como
as coisas na ocasião eram, além de difíceis, o espírito popular muito
antagônico, foi postergando a idéia até desencarnar. No mundo espiritual, viu a
necessidade do cumprimento da promessa, e surgindo a primeira
oportunidade, comunicou-se com Tia Adélia, pedindo- lhe que cumprisse por
ele a promessa. Assim nasceu o "Centro Espírita Estrela da Caridade".
Durante cinco anos, moramos com ela. E às terças e sábados, às 19:30
horas, lá estávamos no "Estrela da Caridade", e a sua voz, firme, inflexível,
embora mansa e doce, ainda ecoa em nossos ouvidos, quando iniciava a
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sessão declamando: "Deus nosso Pai, que sois todo poder e bondade... e ao
encerrar: Sublime estrela, farol das imortais falanges...
Nasceu no dia 5 de junho de 1868, ali mesmo em Pinhal, predestinada a
somente servir, não casou. Durante toda a sua fértil existência, amou e deu
tanto de si aos outros, que formou em seu derredor uma auréola de inenarrável
admiração. Médium de exuberantes proporções bastava a imposição de suas
compassivas mãos, para aliviar instantaneamente as pessoas, que a
procuravam com tanta avidez, sem lhe permitir sossego ou descanso.
Certa feita ela viajou. E nós, que aos domingos aproveitávamos para dormir
até bem mais tarde, sem nenhuma alegria ou boa vontade, atendemos 17
pessoas que a procuraram para tomar passes, das 8 às 12 horas. Uma
ocasião, um confrade de Jacutinga - Minas Gerais -, viajou, a pé, 26
quilômetros para presenteá-la com um saquinho de feijão verde, numa atitude
de comovedora gratidão.
A mesa diretora dos trabalhos era formada. Na cabeceira principal sentava
Tia Adélia, sob uma iluminada Estrela de lâmpadas coloridas, símbolo do
Centro. Na outra cabeceira, o Vice-Presidente, Zé Café. As laterais para os
médiuns, Dona Ordalha, Tereza, Idalina, Dona Eugênia, e a extraordinária
Dona Adélia Neto, que quando recebia o Guia Espiritual do
Centro "Irmão Silviano", se colocava de pé, abria os olhos, e de uma
criatura tímida e simples, embora bela, se transformava num tribuno imponente
e erudito. Pudera, médium inconsciente dando passividade ao Espírito Dr.
Francisco Silviano de Almeida Brandão, médico, Presidente do
Estado de Minas Gerais. Na porta de entrada, controlando com vigilância e
severidade a admissão dos freqüentadores, a Mariana e a Rosa Domiciano,
zeladoras do grupo.
Viajando em charretes, excepcionalmente em automóveis e quase sempre
a pé, lá ia Tia Adélia, à periferia Pinhalense e aos sítios vizinhos, cumprindo a
predestinação de sua encarnação como lídima missionária do Cristo:
atendendo aos aflitos, curando os obsediados, levantando os caídos, vestindo
as viúvas, alimentando as crianças e amparando os velhos.
Que criatura extraordinária! Doce, mansa, boa. Jamais a vimos
encolerizada, jamais a vimos levantar a voz. À medida que envelhecia, fruto de
dois acidentes graves, se curvava, se encarquilhava, tornando-se menor. Fatos
que nunca a fizeram perder a paciência. Olhos vivos, argutos, mente clara,
pensamento limpo, conselheira oficial de quase toda a população pinhalense.
Fato que lhe proporcionou tributo de grande admiração, respeito e afeição por
seus contemporâneos.
Descrever fatos do desenvolvimento espírita de "Tia Adélia" no campo da
benemerência, seria tarefa que preencheria um enorme livro.
Médium de determinação na crença do trabalho doutrinário, deixava
sempre para segundo plano a necessidade de repouso físico, aproveitando
todo tempo disponível no atendimento dos mais necessitados do caminho.
Por ocasião das festividades comemorativas no "Estrela da Caridade", Tia
Adélia, com muito carinho e inteligência, preparava seus discursos e em pé,
inflamada, erecta, impressionava os presentes ao transmitir seus inequívocos
conhecimentos a respeito da Doutrina. Empolgava tanto as suas palestras, que
os menos avisados, desconhecedores das virtudes mediúnicas, não
conseguiam reconhecê- la na oradora.
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Os frequentadores do "Centro Espírita Estrela da Caridade", chegavam a


venerar a tal ponto o Guia Espiritual do Grupo, Irmão Silviano, que narraremos
um acontecimento inusitado para o conhecimento dos leitores:
Em determinada ocasião, brincávamos com um grupo de crianças, quando
uma garota nos contou algo muito sério. Exigimos dela que jurasse se aquilo
era verdade. E ela, jurou por Deus que tudo quanto dissera representava a
expressão da verdade. Não aceitamos o juramento e retrucamos: jurar por
Deus não interessa; você jura pelo "Irmão Silviano"? - Era exigir demais dela,
que não teve coragem de ratificar o juramento, pois para jurar em nome do
"Irmão Silviano" só se fosse inabalável verdade.
A residência de Tia Adélia era mais freqüentada que o Centro Espírita. Era
gente que entrava, era gente que saía, uns tomando passes, outros recebendo
conselhos e orientações. Aos domingos verdadeiras filas se formavam, alguém
querendo ser grato empunhava uma cesta de laranjas, um feixe de verduras;
outro, uma braçada de flores, pacotes de cereais, frangos, ovos, lenha
rachada, frutas, etc... Guardávamos tudo. Na segunda-feira, iniciávamos a
caminhada inversa dos presentes. Eram necessitados de toda sorte que iam
visitá-la, e após o passe reparador, a palavra conselheira e amiga, e um
agradozinho representado por ovos, frutas, legumes, flores. Tudo que vinha no
domingo saía na segunda-feira, numa vivência "Dai de graça o que de graça
receberdes".
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ADOLFO BEZERRA DE MENEZES
Nascido na antiga Freguesia do Riacho do Sangue, hoje
Solonópole, no Ceará, aos 29 dias do mês de agosto de 1831, e
desencarnado no Rio de Janeiro, a 11 de abril de 1900.

Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti, no ano de 1838, entrou para a


escola pública da Vila do Frade, onde em dez meses apenas, preparou-se
suficientemente até onde dava o saber do mestre que lhe dirigia a primeira fase
de educação. Bem cedo revelou sua fulgurante inteligência, pois, aos onze
anos de idade, iniciava o curso de Humanidades e, aos treze anos, conhecia
tão bem o latim que ministrava, a seus companheiros, aulas dessa matéria,
substituindo o professor da classe em seus impedimentos.
Seu pai, o capitão das antigas milícias e tenente-coronel da Guarda
Nacional, Antônio Bezerra de Menezes, homem severo, de honestidade a toda
prova e de ilibado caráter, tinha bens de fortuna em fazendas de criação.
Com a política, e por efeito do seu bom coração, que o levou a dar abonos
de favor a parentes e amigos, que o procuravam para explorar-lhe os
sentimentos de caridade, comprometeu aquela fortuna. Percebendo, porém,
que seus débitos igualavam seus haveres, procurou os credores e lhes propôs
entregar tudo o que possuía, o que era suficiente para integralizar a dívida. Os
credores, todos seus amigos, recusaram a proposta, dizendo-lhe que pagasse
como e quando quisesse.
O velho honrado insistiu; porém, não conseguiu demover os credores sobre
essa resolução, por isso deliberou tornar-se mero administrador do que fora
sua fortuna, não retirando dela senão o que fosse estritamente necessário para
a manutenção da sua família, que assim passou da abastança às privações.
Animado do firme propósito de orientar-se pelo caráter íntegro de seu pai,
Bezerra de Menezes, com minguada quantia que seus parentes lhe deram, e
animado do propósito de sobrepujar todos os óbices, partiu para o Rio de
Janeiro a fim de seguir a carreira que sua vocação lhe inspirava: a Medicina.
Em novembro de 1852, ingressou como praticante interno no Hospital da
Santa Casa de Misericórdia. Doutorou-se em 1856 pela Faculdade de Medicina
do Rio de Janeiro, defendendo a tese "Diagnóstico do Cancro".
Nessa altura abandonou o último patronímico, passando a assinar apenas
Adolfo Bezerra de Menezes. A 27 de abril de 1857, candidatou-se ao quadro de
membros titulares da Academia Imperial de Medicina, com a memória
"Algumas Considerações sobre o Cancro encarado pelo lado do Tratamento".
O parecer foi lido pelo relator designado, Acadêmico José Pereira Rego, a 11
de maio de 1857, tendo a eleição se efetuado a 18 de maio do mesmo ano e a
posse a 1º de junho. Em 1858 candidatou-se a uma vaga de lente substituto da
Secção de Cirurgia da Faculdade de Medicina. Por intercessão do mestre
Manoel Feliciano Pereira de Carvalho, então Cirurgião-Mor do Exército,
Bezerra de Menezes foi nomeado seu assistente, no posto de Cirurgião-
Tenente.
Eleito vereador municipal pelo Partido Liberal, em 1861, teve sua eleição
impugnada pelo chefe conservador, Haddock Lobo, sob a alegação de ser
médico militar. Objetivando servir o seu Partido, que necessitava dele a fim de
obter maioria na Câmara, resolveu Bezerra de Menezes afastar-se do Exército.
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Em 1867 foi eleito Deputado Geral, tendo ainda figurado em lista tríplice para
uma cadeira no Senado.
Quando político, levantou-se contra ele, a exemplo do que ocorre com
todos os políticos honestos, uma torrente de injúrias que cobriu o seu nome de
impropérios. Entretanto, a prova da pureza da sua alma deu-se quando,
abandonando a vida pública, foi viver para os pobres, repartindo com os
necessitados o pouco que possuía.
Corria sempre ao tugúrio do pobre, onde houvesse um mal a combater,
levando ao aflito o conforto de sua palavra de bondade, o recurso da ciência de
médico e o auxílio da sua bolsa minguada e generosa.
Desviado interinamente da atividade política e dedicando-se a
empreendimentos empresariais, criou a Companhia de Estrada de Ferro
Macaé, a Campos, na então província do Rio de Janeiro. Depois, empenhou-se
na construção da via férrea de S. Antônio de Pádua, etapa necessária ao seu
desejo, não concretizado, de levá-la até o Rio Doce. Era um dos diretores da
Companhia Arquitetônica que, em 1872, abriu o "Boulevard 28 de Setembro",
no então bairro de Vila Isabel, cujo topônimo prestava homenagem à Princesa
Isabel. Em 1875, era presidente da Companhia Carril de S. Cristóvão.
Retornando à política, foi eleito vereador em 1876, exercendo o mandato
até 1880. Foi ainda presidente da Câmara e Deputado Geral pela Província do
Rio de Janeiro, no ano de 1880.
O Dr. Carlos Travassos havia empreendido a primeira tradução das obras
de Allan Kardec e levara a bom termo a versão portuguesa de "O Livro dos
Espíritos". Logo que esse livro saiu do prelo levou um exemplar ao deputado
Bezerra de Menezes, entregando-o com dedicatória. O episódio foi descrito do
seguinte modo pelo futuro Médico dos Pobres: "Deu-mo na cidade e eu morava
na Tijuca, a uma hora de viagem de bonde. Embarquei com o livro e, como não
tinha distração para a longa viagem, disse comigo: ora, adeus! Não hei de ir
para o inferno por ler isto... Depois, é ridículo confessar-me ignorante desta
filosofia, quando tenho estudado todas as escolas filosóficas. Pensando assim,
abri o livro e prendi-me a ele, como acontecera com a Bíblia. Lia. Mas não
encontrava nada que fosse novo para meu Espírito. Entretanto, tudo aquilo era
novo para mim!... Eu já tinha lido ou ouvido tudo o que se achava no "O Livro
dos Espíritos".
Preocupei-me seriamente com este fato maravilhoso e a mim mesmo dizia:
parece que eu era espírita inconsciente, ou, mesmo como se diz vulgarmente,
de nascença".
No dia 16 de agosto de 1886, um auditório de cerca de duas mil pessoas
da melhor sociedade enchia a sala de honra da Guarda Velha, na rua da
Guarda Velha, atual Avenida 13 de Maio, no Rio de Janeiro, para ouvir em
silêncio, emocionado, atônito, a palavra sábia do eminente político, do
eminente médico, do eminente cidadão, do eminente católico, Dr. Bezerra de
Menezes, que proclamava a sua decidida conversão ao Espiritismo.
Bezerra era um religioso no mais elevado sentido. Sua pena, por isso,
desde o primeiro artigo assinado, em janeiro de 1887, foi posta a serviço do
aspecto religioso do Espiritismo.
Demonstrada a sua capacidade literária no terreno filosófico e religioso,
quer pelas réplicas, quer pelos estudos doutrinários, a Comissão de
Propaganda da União Espírita do Brasil, incumbiu-o de escrever, aos
domingos, no "O País" tradicional órgão da imprensa brasileira, a série de
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"Estudos Filosóficos", sob o título "O Espiritismo". O Senador Quintino


Bocaiúva, diretor daquele jornal de grande penetração e circulação, "o mais lido
do Brasil", tornou-se mesmo simpatizante da Doutrina Espírita.
Os artigos de Max, pseudônimo de Bezerra de Menezes, marcaram a
época de ouro da propaganda espírita no Brasil. De novembro de 1886 a
dezembro de 1893, escreveu ininterruptamente, ardentemente.
Da bibliografia de Bezerra de Menezes, antes e após a sua conversão do
Espiritismo, constam os seguintes trabalhos: "A Escravidão no Brasil e as
medidas que convém tomar para extingui-la sem dano para a Nação", "Breves
considerações sobre as secas do Norte", "A Casa Assombrada", "A Loucura
sob Novo Prisma", "A Doutrina Espírita como Filosofia Teogônica", "Casamento
e Mortalha", "Pérola Negra", "Lázaro - o Leproso", "História de um Sonho",
"Evangelho do Futuro". Escreveu ainda várias biografias de homens célebres,
como o Visconde do Uruguai, o Visconde de Carvalás, etc.
Foi um dos redatores de "A Reforma", órgão liberal da Corte, e redator do
jornal "Sentinela da Liberdade".
Bezerra de Menezes tinha a função de médico no mais elevado conceito,
por isso, dizia ele: "Um médico não tem o direito de terminar uma refeição, nem
de perguntar se é longe ou perto, quando um aflito qualquer lhe bate à porta. O
que não acode por estar com visitas, por ter trabalhado muito e achar-se
fatigado, ou por ser alta hora da noite, mau o caminho ou o tempo, ficar longe
ou no morro, o que sobretudo pede um carro a quem não tem com que pagar a
receita, ou diz a quem lhe chora à porta que procure outro - esse não é médico,
é negociante de medicina, que trabalha para recolher capital e juros dos gastos
de formatura. Esse é um desgraçado, que manda para outro o anjo da caridade
que lhe veio fazer uma visita e lhe trazia a única espórtula que podia saciar a
sede de riqueza do seu Espírito, a única que jamais se perderá nos vaivéns da
vida."

***

Em 1883, reinava um ambiente francamente dispersivo no seio do


Espiritismo brasileiro e os que dirigiam os núcleos espíritas do Rio de Janeiro
sentiam a necessidade de uma união mais bem estruturada e que, por isso
mesmo, se tornasse mais indestrutível.
Os Centros, onde se ministrava a Doutrina, trabalhavam de forma
autônoma.
Cada um deles exercia a sua atividade em um determinado setor, sem
conhecimento das atividades dos demais. Esse sentimento levou-os à
fundação da Federação Espírita Brasileira.
Nessa época já existiam muitas sociedades espíritas, porém, as únicas que
mantinham a hegemonia de mando eram quatro: a "Acadêmica", a
"Fraternidade", a "União Espírita do Brasil" e a "Federação Espírita Brasileira",
entretanto, logo surgiram entre elas vivas discórdias.
Sob os auspícios de Bezerra de Menezes, e acatando prescrições das
importantes "Instruções" recebidas do plano espiritual pelo médium Frederico
Júnior, foi fundado o famoso "Centro Espírita", o que, entretanto, não impediu
que Bezerra desse a sua colaboração a todas as outras instituições. O
entusiasmo dos espíritas logo se arrefeceu, e o velho seareiro se viu
desamparado dos seus companheiros, chegando a ser o único freqüentador do
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Centro. A cisão era profunda entre os chamados "místicos" e "científicos", ou


seja, espíritas que aceitavam o Espiritismo em seu aspecto religioso, e os que
o aceitavam simplesmente pelo lado científico e filosófico.
Em 1893, a convulsão provocada no Brasil pela Revolta da Armada,
ocasionou o fechamento de todas as sociedades espíritas ou não. No Natal do
mesmo ano Bezerra encerrou a série de "Estudos Filosóficos" que vinha
publicando no "O País".
Em 1894, o ambiente mostrou tendências para melhora e o nome de
Bezerra de Menezes foi lembrado como o único capaz de unificar o movimento
espírita.
O infatigável batalhador, com 63 anos de idade, assumiu a presidência da
Federação Espírita Brasileira, cargo que ocupou até a sua desencarnação.
Iniciava-se o ano de 1900, e Bezerra de Menezes foi acometido de violento
ataque de congestão cerebral, que o prostrou no leito, de onde não mais se
levantaria.
Verdadeira romaria de visitantes acorria à sua casa. Ora o rico, ora o pobre,
ora o opulento, ora o que nada possuía.
Ninguém desconhecia a luta tremenda em que se debatia a família do
grande apóstolo do Espiritismo. Todos conheciam suas dificuldades
financeiras, mas ninguém teria a coragem de oferecer fosse o que fosse, de
forma direta. Por isso, os visitantes depositavam suas espórtulas,
delicadamente, debaixo do seu travesseiro. No dia seguinte, a pessoa que lhe
foi mudar as fronhas, surpreendeu-se por ver ali desde o tostão do pobre até a
nota de duzentos mil reis do abastado!...

***

Ocorrida a sua desencarnação, verdadeira peregrinação demandou sua


residência a fim de prestar-lhe a última visita.
No dia 17 de abril, promovido por Leopoldo Cirne, reuniram-se alguns
amigos de Bezerra, a fim de chegarem a um acordo sobre a melhor maneira de
amparar a sua família, tendo então sido formada uma comissão que funcionou
sob a presidência de Quintino Bocaiúva, senador da República, para se
promover espetáculos e concertos, em benefício da família daquele que
mereceu o cognome de "Kardec Brasileiro".

***

Digno de registro foi um caso sucedido com o Dr. Bezerra de Menezes,


quando ainda era estudante de Medicina. Ele estava em sérias dificuldades
financeiras, precisando da quantia de cinqüenta mil réis (antiga moeda
brasileira), para pagamento das taxas da Faculdade e para outros gastos
indispensáveis em sua habitação, pois o senhorio, sem qualquer
contemplação, ameaçava despejá-lo.
Desesperado - uma das raras vezes em que Bezerra se desesperou na
vida - e como não fosse incrédulo, ergueu os olhos ao Alto e apelou a Deus.
Poucos dias após bateram-lhe à porta. Era um moço simpático e de
atitudes polidas que pretendia tratar algumas aulas de Matemática.
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Bezerra recusou, a princípio, alegando ser essa matéria a que mais


detestava, entretanto, o visitante insistiu e por fim, lembrando-se de sua
situação desesperadora, resolveu aceitar.
O moço pretextou então que poderia esbanjar a mesada recebida do pai,
pediu licença para efetuar o pagamento de todas as aulas adiantadamente.
Após alguma relutância, convencido, acedeu. O moço entregou-lhe então a
quantia de cinqüenta mil réis. Combinado o dia e a hora para o início das aulas,
o visitante despediu-se, deixando Bezerra muito feliz, pois conseguiu assim
pagar o aluguel e as taxas da Faculdade. Procurou livros na biblioteca pública
para se preparar na matéria, mas o rapaz nunca mais apareceu.
No ano de 1894, em face das dissensões reinantes no seio do Espiritismo
brasileiro, alguns confrades, tendo à frente o Dr. Bittencourt Sampaio,
resolveram convidar Bezerra a fim de assumir a presidência da Federação
Espírita Brasileira.
Em vista da relutância dele em assumir aquele espinhoso encargo, travou-
se a seguinte conversação:
Querem que eu volte para a Federação. Como vocês sabem aquela velha
sociedade está sem presidente e desorientada. Em vez de trabalhos metódicos
sobre Espiritismo ou sobre o Evangelho, vive a discutir teses bizantinas e a
alimentar o espírito de hegemonia.
O trabalhador da vinha, disse Bittencourt Sampaio, é sempre amparado. A
Federação pode estar errada na sua propaganda doutrinária, mas possui a
Assistência aos Necessitados, que basta por si só para atrair sobre ela as
simpatias dos servos do Senhor.
De acordo. Mas a Assistência aos Necessitados está adotando
exclusivamente a Homeopatia no tratamento dos enfermos, terapêutica que eu
adoto em meu tratamento pessoal, no de minha família e recomendo aos meus
amigos, sem ser, entretanto, médico homeopata. Isto aliás me tem criado
sérias dificuldades, tornando-me um médico inútil e deslocado que não crê na
medicina oficial e aconselha a dos Espíritos, não tendo assim o direito de
exercer a profissão.
E por que não te tornas médico homeopata? disse Bittencourt.
Não entendo patavinas de Homeopatia. Uso a dos Espíritos e não a dos
médicos.
Nessa altura, o médium Frederico Júnior, incorporando o Espírito de S.
Agostinho, deu um aparte:
Tanto melhor. Ajudar-te-emos com maior facilidade no tratamento dos
nossos irmãos.
Como, bondoso Espírito? Tu me sugeres viver do Espiritismo?
Não, por certo! Viverás de tua profissão, dando ao teu cliente o fruto do teu
saber humano, para isso estudando Homeopatia como te aconselhou nosso
companheiro Bittencourt. Nós te ajudaremos de outro modo: Trazendo-te,
quando precisares, novos discípulos de Matemática...
13

3
ALLAN KARDEC
Nascido em Lyon, França, no dia 3 de outubro de 1804 e
desencarnado em Paris, no dia 31 de março de 1869.

Muito se tem escrito sobre a personalidade de Allan Kardec, existindo


mesmo várias e extensas biografias sobre a sua obra missionária.
É sobejamente conhecida a sua vida anteriormente ao dia 18 de abril de
1857, quando publicou a magistral obra "O Livro dos Espíritos", que deu início
ao processo de codificação do Espiritismo.
Nesta súmula biográfica, procuraremos esboçar alguns informes sobre a
sua inconfundível personalidade, alguns deles já do conhecimento geral.
O seu verdadeiro nome era Hippolyte-Léon-Denizard Rivail. "Hippolite" em
família; "Professor Rivail" na sociedade e "H-L-D. Rivail" na literatura era,
desde os 18 anos mestre colegial de Ciências e Letras, e, desde os 20 anos
renomado autor de livros didáticos. Suas obras espíritas foram escritas com o
pseudônimo de Allan Kardec.
Destacou-se na profissão para a qual fora aprimoradamente educado na
Suíça, na escola do maior pedagogo do primeiro quartel do século 19, de fama
mundial e até hoje paradigma dos mestres: João Henrique Pestalozzi.
E, em Paris, sucedeu ao próprio mestre.
Allan Kardec contava 51 anos quando se dedicou à observação e estudo
dos fenômenos espíritas, sem os entusiasmos naturais das criaturas ainda não
amadurecidas e sem experiência. A sua própria reputação de homem probo e
culto constituiu o obstáculo em que esbarraram certas afirmações levianas dos
detratores do Espiritismo. Dois anos depois, em 1857, divulgava "O Livro dos
Espíritos". Em 1858, iniciava a publicação da famosa "Revue Spirite". Em 1861,
dava a lume "O Livro dos Médiuns". Em 1864, aparecia "O Evangelho segundo
o Espiritismo"; seguido de "O Céu e o Inferno" em 1865. Finalmente, em 1868
"A Gênesis”, completava o pentateuco do Espiritismo.
Na ingente tarefa de codificação do Espiritismo, Allan Kardec contou com o
valioso concurso de três meninas que se tornaram as médiuns principais no
trabalho de compilação de "O Livro dos Espíritos": Caroline Baudin, Julie
Baudin e Ruth Celine Japhet. As duas primeiras foram utilizadas para a
concatenação da essência dos ensinos espíritas e a última para os
esclarecimentos complementares. Ultimada a obra e ratificados todos os
ensinamentos ali contidos, por sugestão dos Espíritos, Allan Kardec recorreu a
outros médiuns, estranhos ao primeiro grupo, dentre eles Japhet e Roustan,
médiuns intuitivos; a senhora Canu, sonâmbula inconsciente; Canu, médium de
incorporação; a sra. Leclerc, médium psicógrafa; a sra. Clement, médium
psicógrafa e de incorporação; a sra. De Pleinemaison, auditiva e inspirada; sra.
Roger, clarividente; e srta. Aline Carlotti, médium psicógrafa e de incorporação.
Escrevendo sobre a personalidade do ínclito mestre, o emérito Dr. Silvino
Canuto Abreu afirmou o seguinte: "De cultura acima do normal nos homens
ilustres de sua idade e do seu tempo, impôs-se ao geral respeito desde moço.
Temperamento infenso à fantasia, sem instinto poético nem romanesco, todo
inclinado ao método, à ordem, à disciplina mental, praticava, na palavra escrita
ou falada, a precisão, a nitidez, a simplicidade, dentro dum vernáculo perfeito,
escoimado de redundâncias.
14

De estatura meã, apenas 165 centímetros, e constituição delicada, embora


saudável e resistente, o professor Rivail tinha o rosto sempre pálido, chupado,
de zigomas salientes e pele sardenta, castigado de rugas e verrugas. Fronte
vertical comprida e larga, arredondada ao alto, erguida sobre arcadas orbitárias
proeminentes, com sobrancelhas abundantes e castanhas. Cabelos lisos e
grisalhos, ralos por toda a parte, falhos atrás (onde alguns fios mal encobriam a
larga coroa calva da madureza), repartidos, na frente, da esquerda para a
direita, sem topetes, confundidos, nos temporais, com as barbas grisalhas e
aparadas que lhe desciam até o lóbulo das orelhas e cobriam, na nuca, o
colarinho duro, de pontas coladas ao queixo. Olhos pequenos e afundados,
com olheiras e pápulas. Nariz grande, ligeiramente acavaletado perto dos
olhos, com largas narinas entre rictos arqueados e auteros. Bigodes rarefeitos,
aparados à borda do lábio, quase todo branco. Pera triangular sob o beiço,
disfarçando uma pinta cabeluda. Semblante severo quando estudava ou
magnetizava, mas cheio de vivacidade amena e sedutora quando ensinava ou
palestrava. O que nele mais impressionava era o olhar estranho e misteriosos,
cativante pela brandura das pupilas pardas, autoritário pela penetração a fundo
na alma do interlocutor. Pousava sobre o ouvinte como suave farol e não se
desviava abstrato para o vago senão quando meditava, a sós. E o que mais
personalidade lhe dava era a voz, clara e firme, de tonalidade agradável e
oracional, que podia mesclar agradavelmente desde o murmúrio acariciante até
as explosões de eloqüência parlamentar. Sua gesticulação era sóbria,
educada. Quando distraído, a ler ou a pensar, confiava os "favoris". Quando
ouvia uma pessoa, enfiava o polegar direito no espaço entre dois botões do
colete, a fim de não aparentar impaciência e, ao contrário, convencer de sua
tolerância e atenção. Conversando com discípulos ou amigos íntimos, apunha
algumas vezes a destra no ombro do ouvinte, num gesto de familiaridade.
Mantinha rigorosa etiqueta social diante das damas."
Pelo seu profundo e inexcedível amor ao bem e à verdade, Allan Kardec
edificou para todo o sempre o maior monumento de sabedoria que a
Humanidade poderia ambicionar, desvendando os grandes mistérios da vida,
do destino e da dor, pela compreensão racional e positiva das múltiplas
existências, tudo à luz meridiana dos postulados do ninfo Cristianismo.
Filho de pais católicos, Allan Kardec foi criado no Protestantismo, mas não
abraçou nenhuma dessas religiões, preferindo situar-se na posição de livre
pensador e homem de análise. Compungia-lhe a rigidez do dogma que o
afastava das concepções religiosas. O excessivo simbolismo das teologias e
ortodoxias, tornava-o incompatível com os princípios da fé cega.
Situado nessa posição, em face de uma vida intelectual absorvente, foi o
homem de ponderação, de caráter ilibado e de saber profundo, despertado
para o exame das manifestações das chamadas mesas girantes. A esse tempo
o mundo estava voltado, em sua curiosidade, para os inúmeros fatos psíquicos
que, por toda a parte, se registravam e que, pouco depois, culminaram no
advento da altamente consoladora doutrina que recebeu o nome de
Espiritismo, tendo como seu codificados, o educador emérito e imortal de Lyon.
O Espiritismo não era, entretanto, criação do homem e sim uma revelação
divina à Humanidade para a defesa dos postulados legados pelo Meigo Rabi
da Galiléia, numa quadra em que o materialismo avassalador conquistava as
mais pujantes inteligências e os cérebros proeminentes da Europa e das
Américas.
15

A primeira sociedade espírita regularmente constituída foi fundada por Allan


Kardec, em Paris, no dia 1º de abril de 1858. Seu nome era "Sociedade
Parisiense de Estudos Espíritas". A ela o codificador emprestou o seu valioso
concurso, propugnando para que atingisse os nobilitantes objetivos para os
quais foi criada.
Allan Kardec é invulnerável à increpação de haver escrito sob a influência
de idéias preconcebidas ou de espírito de sistema. Homem de caráter frio e
severo, observava os fatos e dessas observações deduzia as leis que os
regem.
A codificação da Doutrina Espírita colocou Kardec na galeria dos grandes
missionários e benfeitores da Humanidade. A sua obra é um acontecimento tão
extraordinário como a Revolução Francesa. Esta estabeleceu os direitos do
homem dentro da sociedade, aquela instituiu os liames do homem com o
universo, deu-lhe as chaves dos mistérios que assoberbavam os homens,
dentre eles o problema da chamada morte, os quais até então não haviam sido
equacionados pelas religiões. A missão do ínclito mestre, como havia sido
prognosticada pelo Espírito de Verdade, era de escolhos e perigos, pois ela
não seria apenas de codificar, mas principalmente de abalar e transformar a
Humanidade. A missão foi-lhe tão árdua que, em nota de 1º de janeiro de 1867,
Kardec referia-se as ingratidões de amigos, a ódios de inimigos, a injúrias e a
calúnias de elementos fanatizados. Entretanto, ele jamais esmoreceu diante da
tarefa.
16

4
AMÉRICO MONTAGNINI
PROF. AMÉRICO MONTAGNINI Nascido na cidade de São João da
Boa Vista, Estado de S. Paulo, no dia 1º de maio de 1897, e desencarnado
em S. Paulo, no dia 29 de novembro de 1966.

Na história do Espiritismo paulista um lugar de destaque é reservado ao


Prof. Américo Montagnini, quer seja pela sua atuação incessante, quer pelo
seu grande esforço em favor do engrandecimento da causa comum que
esposamos.
Montagnini foi presidente da tradicional Associação Espírita São Pedro e
São Paulo, uma instituição que prestou inestimáveis serviços ao Espiritismo,
numa época quando ele era mal compreendido e olhado por muitos com
reservas. Essa associação teve a sua sede na rua Barão de Paranapiacaba nº
7, na capital do Estado de S. Paulo, tendo passado por ela grandes vultos
espíritas, dentre eles os Drs. Augusto Militão Pacheco e Pedro Lameira de
Andrade.
Pertencendo ao quadro diretivo dessa famosa entidade espírita, o Prof.
Montagnini foi um dos elementos que mais propugnaram para que tanto a
Associação Espírita S. Pedro e S. Paulo como a Sociedade Metapsíquica de S.
Paulo se extinguissem, fundindo-se numa nova instituição: a Federação
Espírita do Estado de S. Paulo, com um programa muito mais vasto e arrojado.
Desta forma, no dia 12 de julho de 1936, com a fundação da Federação,
Montagnini passou a lhe dar todo o concurso possível. Com a renúncia, em 10
de dezembro de 1939, do então presidente da instituição, Dr. João Batista
Pereira, Américo Montagnini assumiu a sua presidência, cargo que exerceu
com raro descortino até a data da sua desencarnação.
O trabalho do Prof. Montagnini no campo da divulgação do Espiritismo foi
dos mais salientes, entretanto, ele trabalhava em silêncio, sem alardes.
Médium de apreciáveis recursos foi companheiro do Dr. Augusto Militão
Pacheco nas tarefas de esclarecimento daqueles que necessitavam tomar
conhecimento dos consoladores ensinamentos dessa Doutrina. Desta forma,
além de propiciar novas luzes àqueles que dela necessitavam ele procurava
minorar os sofrimentos daqueles que buscavam lenitivo para o corpo
alquebrantado.
Homem dotado de notável senso de responsabilidade, comedido em suas
atitudes, leal, de invejável integridade moral, o Prof. Montagnini tornou-se de
direito e de fato um dos baluartes no campo da divulgação do Espiritismo no
Estado de São Paulo.
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5
ANÁLIA FRANCO
Nascida na cidade de Resende, Estado do Rio de Janeiro, no dia 1º
de fevereiro de 1856, e desencarnada em S. Paulo, no dia 13 de janeiro de
1919.

Seu nome de solteira era Anália Emília Franco. Após consorciar-se em


matrimônio com Francisco Antônio Bastos, seu nome passou a ser Anália
Franco Bastos, entretanto, é mais conhecida por Anália Franco.
Com 16 anos de idade entrou num Concurso de Câmara dessa cidade e
logrou aprovação para exercer o cargo de professora primária. Trabalhou como
assistente de sua própria mãe durante algum tempo. Anteriormente a 1875
diplomou-se Normalista, em S. Paulo.
Foi após a Lei do Ventre Livre que sua verdadeira vocação se exteriorizou:
a vocação literária. Já era por esse tempo notável como literata, jornalista e
poetisa, entretanto, chegou ao seu conhecimento que os nascituros de
escravas estavam previamente destinados à "Roda" da Santa Casa de
Misericórdia. Já perambulavam, mendicantes, pelas estradas e pelas ruas, os
negrinhos expulsos das fazendas por impróprios para o trabalho.
Não eram, como até então "negociáveis", com seus pais e os adquirentes
de cativos davam preferência às escravas que não tinham filhos no ventre.
Anália escreveu, apelando para as mulheres fazendeiras. Trocou seu cargo
na Capital de São Paulo por outro no Interior, a fim de socorrer as criancinhas
necessitadas. Num bairro duma cidade do norte do Estado de S. Paulo
conseguiu uma casa para instalar uma escola primária. Uma fazendeira rica lhe
cedeu a casa escolar com uma condição, que foi frontalmente repelida por
Anália: não deveria haver promiscuidade de crianças brancas e negras. Diante
dessa condição humilhante foi recusada a gratuidade do uso da casa,
passando a pagar um aluguel. A fazendeira guardou ressentimento à altivez da
professora, porém, naquele local Anália inaugurou a sua primeira e original
"Casa Maternal". Começou a receber todas as crianças que lhe batiam à porta,
levadas por parentes ou apanhadas nas moitas e desvios dos caminhos. A
fazendeira, abusando do prestígio político do marido, vendo que a sua casa,
embora alugada, se transformara num albergue de negrinhos, resolveu acabar
com aquele "escândalo" em sua fazenda.
Promoveu diligências junto ao coronel e este conseguiu facilmente a
remoção da professora. Anália foi para a cidade e alugou uma casa velha,
pagando de seu bolso o aluguel correspondente à metade do seu ordenado.
Como o restante era insuficiente para a alimentação das crianças, não
trepidou em ir, pessoalmente, pedir esmolas para a meninada. Partiu de
manhã, à pé, levando consigo o grupinho escuro que ela chamava, em seus
escritos, de "meus alunos sem mães". Numa folha local anunciou que, ao lado
da escola pública, havia um pequeno "abrigo" para as crianças desamparadas.
A fama, nem sempre favorável da novel professora, encheu a cidade. A
curiosidade popular tomou-se de espanto, num domingo de festa religiosa. Ela
apareceu nas ruas com seus "alunos sem mães", em bando precatório. Moça e
magra, modesta e altiva, aquela impressionante figura de mulher, que
mendigava para filhos de escravas, tornou-se o escândalo do dia. Era uma
mulher perigosa, na opinião de muitos. Seu afastamento da cidade principiou a
18

ser objeto de consideração em rodas políticas, nas farmácias. Mas rugiu a seu
favor um grupo de abolicionistas e republicanos, contra o grande grupo de
católicos, escravocratas e monarquistas.
Com o decorrer do tempo, deixando algumas escolas maternais no Interior,
veio para S. Paulo. Aqui entrou brilhantemente para o grupo abolicionista e
republicano. Sua missão, porém, não era política. Sua preocupação maior era
com as crianças desamparadas, o que a levou a fundar uma revista própria,
intitulada "Álbum das Meninas", cujo primeiro número veio a lume a 30 de abril
de 1898. O artigo de fundo tinha o título "Às mães e educadoras". Seu prestígio
no seio do professorado já era grande quando surgiram a abolição da
escravatura e a República. O advento dessa nova era encontrou Anália com
dois grandes colégios gratuitos para meninas e meninos. E logo que as leis o
permitiram, ela, secundada por vinte senhoras amigas, fundou o instituto
educacional que se denominou "Associação Feminina Beneficente e Instrutiva",
no dia 17 de novembro de 1901, com sede no Largo do Arouche, em S. Paulo.
Em seguida criou várias "Escolas Maternais" e "Escolas Elementares",
instalando, com inauguração solene a 25 de janeiro de 1902, o "Liceu
Feminino", que tinha por finalidade instruir e preparar professoras para a
direção daquelas escolas, com o curso de dois anos para as professoras de
"Escolas Maternais" e de três anos para as "Escolas Elementares".
Anália Franco publicou numerosos folhetos e opúsculos referentes aos
cursos ministrados em suas escolas, tratados especiais sobre a infância, nos
quais as professoras encontraram meios de desenvolver as faculdades afetivas
e morais das crianças, instruindo-as ao mesmo tempo. O seu opúsculo "O
Novo Manual Educativo", era dividido em três partes: Infância, Adolescência e
Juventude.
Em 1º de dezembro de 1903, passou a publicar "A Voz Maternal", revista
mensal com a apreciável tiragem de 6.000 exemplares, impressos em oficinas
próprias.
A Associação Feminina mantinha um Bazar na rua do Rosário nº 18, em S.
Paulo, para a venda dos artefatos das suas oficinas, e uma sucursal desse
estabelecimento na Ladeira do Piques nº 23.
Anália Franco mantinha Escolas Reunidas na Capital e Escolas Isoladas no
Interior, Escolas Maternais, Creches na Capital e no Interior do Estado,
Bibliotecas anexas às escolas, Escolas Profissionais, Arte Tipográfica, Curso
de Escrituração Mercantil, Prática de Enfermagem e Arte Dentária, Línguas
(francês, italiano, inglês e alemão); Música, Desenho, Pintura, Pedagogia,
Costura, Bordados, Flores artificiais e Chapéus, num total de 37 instituições.
Era romancista, escritora, teatróloga e poetisa. Escreveu uma infinidade de
livretos para a educação das crianças e para as Escolas, os quais são dignos
de serem adotados nas Escolas públicas.
Era espírita fervorosa, revelando sempre inusitado interesse pelas coisas
atinentes à Doutrina Espírita.
Produziu a sua vasta cultura três ótimos romances: "A Égide Materna", "A
Filha do Artista", e "A Filha Adotiva". Foi autora de numerosas peças teatrais,
de diálogos e de várias estrofes, destacando-se "Hino a Deus", "Hino a Ana
Nery", "Minha Terra", "Hino a Jesus" e outros.
Em 1911 conseguiu, sem qualquer recurso financeiro, adquirir a "Chácara
Paraíso". Eram 75 alqueires de terra, parte em matas e capoeiras e o restante
ocupado com benfeitorias diversas, entre as quais um velho solar, ocupado
19

durante longos anos por uma das mais notáveis figuras da História do Brasil:
Diogo Antônio Feijó.
Nessa chácara fundou Anália Franco a "Colônia Regeneradora D.
Romualdo", aproveitando o casarão, a estrebaria e a antiga senzala, internando
ali sob direção feminina, os garotos mais aptos para a Lavoura, a horticultura e
outras atividades agropastoris, recolhendo ainda moças desviadas,
conseguindo assim regenerar centenas de mulheres.
A vasta sementeira de Anália Franco consistiu em setenta e uma Escolas, 2
albergues, 1 colônia regeneradora para mulheres, 23 asilos para crianças
órfãs, uma Banda Musical Feminina, 1 orquestra, 1 Grupo Dramático, além de
oficinas para manufatura de chapéus, flores artificiais, etc., em 24 cidades do
Interior e da Capital.
Sua desencarnação ocorreu precisamente quando havia tomado a
deliberação de ir ao Rio de Janeiro fundar mais uma instituição, idéia essa
concretizada posteriormente pelo seu esposo, que ali fundou o "Asilo Anália
Franco".
A obra de Anália Franco foi, incontestavelmente, uma das mais salientes e
meritórias da História do Espiritismo.
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ANTÔNIO GONÇALVES DA SILVA BATUÍRA
Nascido a 19 de março de 1839, em Portugal, na Freguesia de
Águas Santas, hoje integrada no Conselho da Maia, e desencarnado em
São Paulo, no dia 22 de janeiro de 1909.

Completada a sua instrução primária, veio para o Brasil, com apenas onze
anos de idade, aportando no Rio de Janeiro, a 3 de janeiro de 1850.
Seu nome de origem era Antônio Gonçalves da Silva, entretanto, devido a
ser um moço muito ativo, correndo daqui para acolá, a gente da rua o apelidara
"o batuíra", o nome que se dava à narceja, ave pernalta, muito ligeira, de vôo
rápido, que frequentava os charcos na várzea formada, no atual Parque D.
Pedro 2º, em S. Paulo, pelos transbordamentos do rio Tamanduateí. Desde
então o cognome "Batuíra" foi incorporado ao seu nome.
Batuíra desempenhou uma série de atividades que não cabe registrar nesta
concisa biografia, entretanto, podemos afirmar que defendeu calorosamente a
idéia da abolição da escravatura no Brasil, quer seja abrigando escravos em
sua casa e conseguindo-lhes a carta de alforria, ou fundando um jornalzinho a
fim de colaborar na campanha encetada pelos grandes abolicionistas Luiz
Gama, José do Patrocínio, Raul Pompéia, Paulo Ney, Antônio Bento, Rui
Barbosa e tantos outros grandes paladinos das idéias liberais.
Homem de costumes simples, alimentando-se apenas de hortaliças,
legumes e frutas, plantava no quintal de sua casa tudo aquilo de que
necessitava para o seu sustento. Com as economias, adquiriu os então
desvalorizados terrenos do Lavapés, em S. Paulo, edificando ali boa casa de
residência e, ao lado dela, uma rua particular com pequenas casas que
alugava a pessoas necessitadas. O tempo contribuiu para que tudo ali se
valorizasse, propiciando a Batuíra apreciáveis recursos financeiros. A rua
particular deveria ser mais tarde a Rua Espírita, que ainda lá está.
Tomando conhecimento das altamente consoladoras verdades do
Espiritismo, integrou-se resolutamente nessa causa, procurando pautar seus
atos nos moldes dos preceitos evangélicos. Identificou-se de tal maneira com
os postulados espíritas e evangélicos que, ao contrário do "moço rico" da
narrativa evangélica, como que procurando dar uma demonstração eloqüente
da sua comunhão com os preceitos legados por Jesus Cristo, desprendeu-se
de tudo quanto tinha e pôs-se a seguir as suas pegadas. Distribuiu o seu
tesouro na Terra, para entrar de posse daquele outro tesouro do Céu.
Tornou-se um dos pioneiros do Espiritismo no Brasil. Fundou o "Grupo
Espírita Verdade e Luz", onde, no dia 6 de abril de 1890, diante de enorme
assembléia, dava início a uma série de explanações sobre "O Evangelho
Segundo o Espiritismo".
Nessa oportunidade deixara de circular a única publicação espírita da
época, intitulada "Espiritualismo Experimental" redigida desde setembro de
1886, por Santos Cruz Junior. Sentindo a lacuna deixada por essa interrupção,
Batuíra adquiriu uma pequena tipografia, a que denominou
"Tipografia Espírita", iniciando a 20 de maio de 1890, a publicação de um
quinzenário de quatro páginas com o nome "Verdade e Luz", posteriormente
transformado em revista e do qual foi o diretor- responsável até a data de sua
desencarnação. A tiragem desse periódico era das mais elevadas, pois de 2 ou
21

3 mil exemplares, conseguiu chegar até 15 mil, quantidade fabulosa naquela


época, quando nem os jornais diários ultrapassavam a casa dos 3 mil
exemplares. Nessa tarefa gloriosa e ingente Batuíra despendeu sua velhice.
Era de vê-lo, trôpego, de grandes óculos, debruçado nos cavaletes da pequena
tipografia, catando, com os dedos trêmulos, letras no fundo dos caixotins.
Para a manutenção dessa publicação, Batuíra despendeu somas
respeitáveis, já que as assinaturas somavam quantia irrisória. Por volta de
1902 foi levado a vender uma série de casas situadas na Rua Espírita e na Rua
dos Lavapés, a fim de equilibrar suas finanças.
Não era apenas esse periódico que pesava nas finanças de Batuíra.
Espírito animado de grande bondade, coração aberto a todas as desventuras,
dividia também com os necessitados o fruto de suas economias. Na sua casa a
caridade se manifestava em tudo: jamais o socorro foi negado a alguém, jamais
uma pessoa saiu dali sem ser devidamente amparada, havendo mesmo muitas
afirmativas de que "um bando de aleijados vivia com ele". Quem ali chegasse,
tinha cama, mesa e um cobertor.
Certa vez um desses homens que viviam sob o seu amparo, furtou-lhe um
relógio de ouro e corrente do mesmo metal. Houve uma denúncia e ameaças
de prisão. A esposa de Batuíra lamentou-se, dizendo: "é o único objeto bom
que lhe resta". Batuíra, porém, impediu que se tomasse qualquer medida,
afirmando: "Deixai-o, quem sabe precisa mais do que eu".
Batuíra casou-se em primeiras núpcias com D. Brandina Maria de Jesus,
de quem teve um filho, Joaquim Gonçalves Batuíra, que veio a desencarnar
depois de homem feito e casado. Em segundas núpcias, casou-se com D.
Maria das Dores Coutinho e Silva; desse casamento teve um filho, que
desencarnou repentinamente com doze anos de idade. Posteriormente adotou
uma criança retardada mental e paralítica, a qual conviveu em sua companhia
desde 1888.
Figura bastante popular em S. Paulo, Batuíra tornou-se querido de todos,
tendo vários órgãos da imprensa leiga registrado a sua desencarnação e
apologiado a sua figura exponencial de homem caridoso e dedicado aos
sofredores.
22

7
ARTUR LINS DE VASCONCELOS LOPES
Nascido a 27 de março de 1891 na cidade de Teixeira, Estado da
Paraíba, e desencarnado em São Paulo, no dia 21 de março de 1952.
Seu sepultamento ocorreu na cidade de Curitiba, capital do Estado
do Paraná.

O Dr. Artur Lins de Vasconcelos Lopes foi expressiva figura do Espiritismo


brasileiro.
Franco e combativo, jovial e sereno, sincero e leal, bom e caridoso, fazia
dessas virtudes uma coisa rotineira em sua vida de relação, sem jamais
ostentá-la no convívio com seus companheiros de ideal.
Foi presidente da "Coligação Nacional Pró-Estado Leigo", instituição
republicana fundada em 17 de maio de 1931, a qual desenvolveu ingente
trabalho em favor da separação entre a Igreja e o Estado, principalmente por
ocasião dos trabalhos constituintes que culminaram com a promulgação da
nova Constituição Brasileira, no ano de 1946, tendo enviado numerosas ações
cívicas de grande profundidade nos anos subseqüentes.
O esforço de Lins de Vasconcelos em favor do congraçamento dos
espíritas do Brasil foi dos mais salientes, contribuindo de forma decisiva para o
advento do Pacto Áureo de unificação dos espíritas do Brasil, no dia 5 de
outubro de 1949. A ele se deve apreciável parcela dos trabalhos encetados nos
anos de 1947 a 1952, em favor de um maior entrelaçamento entre os espíritas
em nosso país.
Do jornal "Mundo Espírita", que se edita em Curitiba, extraímos os
seguintes dados biográficos desse grande vulto do Espiritismo brasileiro:
"A batalha travada por Lins de Vasconcelos foi ingente, árdua e heróica.
Nascido numa região áspera, princípio geográfico da caatinga, entre
Paraíba e Pernambuco, era natural que Artur Lins trouxesse no Espírito a
agressividade do berço agreste. Lutando, todavia, contra o meio, aprimorando
qualidades, resistindo aos meios desonestos de ganho, foi abrindo um caminho
limpo para a vida. Ainda na adolescência, Lins deixou a Paraíba para residir no
Rio de Janeiro. Na antiga Capital Federal a demora foi curta.
Imaturo, com aquela ânsia de aventuras próprias da idade, e também ávido
de conhecimento, Lins partiu para o sul do país, fixando-se em Curitiba.
Constituiu família; formou-se em agronomia; fez concurso para cartorário.
Sua vida seguiu firme. Tornou-se espírita, integrando-se totalmente na
doutrina. Em 1926 houve grave incidente entre o governo do Estado e
elementos liberais, por questões religiosas. É que o governo estadual, sem
autorização da Assembléia, presenteara terrenos e dinheiro do patrimônio
público ao clero. Pequeno número de cidadãos protestou contra o ato indébito
do governo. Entre eles estava Lins de Vasconcelos. Este defendeu, de forma
corajosa, perante o governo, que os princípios tutelares da democracia são
inderrogáveis ainda ao arbítrio dos governadores. Aquela posição destemida
de Lins na questão dos bispados acarretou-lhe demissão do cargo. Vencera o
fanatismo religioso; sobrepunha-se a intolerância ao direito intangível de um
democrata. E sobrava razão a Lins: o governo não podia dar ao clero, de
mão beijada, terrenos e dinheiro do Estado.
Uma vez demitido, Lins não se deixou abater pela sanha intolerante.
23

Colocou suas energias na indústria. Venceu. Tornou-se milionário. Mas o


dinheiro que amealhava facilmente como ele próprio dizia - era um depósito
que lhe fazia Deus para o distribuir aos pobres, através do Espiritismo. Fez-se
banqueiro dos desafortunados!
Era simples e sem vaidades. O que mais se admirava em Artur era o triunfo
do seu Espírito sobre uma das mais terríveis provas a que uma criatura pode
submeter-se: a riqueza! Rico, mais do que rico, opulento, Lins de Vasconcelos
venceu galhardamente o fascínio do ouro, esmagou o poderio que a fortuna
traz, afogou no nascedouro os gozos efêmeros que o dinheiro carreia. A moeda
que lhe vinha dos negócios era destinada às creches, a orfanatos, a albergues,
a sanatórios, a escolas, a revistas e a jornais doutrinários.
Há lindos lances, de puro Cristianismo, na vida de Artur Lins de
Vasconcelos, mas relatá-los seria, por certo ferir a humildade do nosso querido
irmão desencarnado. Basta chamar-lhe: Banqueiro dos Pobres! É um título
magnificente que milhões e milhões de desencarnados gostariam de possuir.
Arthur Lins de Vasconcelos obteve esse título em vida, abençoado por milhares
de bocas!
Lins de Vasconcelos não se empolgou com seus sucessos mundanos. Fez,
isso sim, da riqueza material, instrumento para a realização do Bem. Foi bom,
vestindo os desnudos, dando de comer aos esfomeados, instrução e educação
aos que dessa assistência precisavam.
Tendo desencarnado em S. Paulo, seu corpo foi para Curitiba “cidade que
tanto amou” e em cujo solo desejava que sua matéria repousasse no dia que o
Pai o chamasse. Seu pedido foi satisfeito. Assim, no Jardim em frente ao
Pavilhão Administrativo do Sanatório Bom Retiro, no bairro do Pilarzinho, em
Curitiba, encimado por uma pedra simples, mas que revela bom gosto, na qual
há uma placa de bronze com expressiva inscrição, foi inumado o corpo do
querido companheiro de ideal espírita, aquele que tantas lutas sustentou ante a
incompreensão dos homens, para que a Doutrina dos Espíritos demonstrasse
ser capaz de transformar as criaturas desajustadas em seres com capacidade
para amar o próximo, assim como Jesus nos amou.
A Federação Espírita do Paraná, que tantos benefícios recebeu de Lins de
Vasconcelos, prestou-lhe ultimamente significativa homenagem, dando seu
respeitável e inesquecível nome ao educandário que naquele bairro mantém,
no momento, funcionando com o curso ginasial, o Instituto "Lins de
Vasconcelos".
24

8
AUGUSTO MILITÃO PACHECO
Nascido no dia 13 de junho de 1866 e desencarnado em São Paulo,
a 7 de julho de 1954.

Muito deve o Espiritismo ao Dr. Augusto Militão Pacheco, pelo testemunho


que deu da Doutrina dos Espíritos. Animado de uma fé imorredoura na vida
espiritual conseguiu prelibar, através da existência transitória do corpo, a vida
imortal do Espírito imperecível.
Formado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, no ano de 1904,
Militão Pacheco foi nesse mesmo ano convidado a ir ao Estado do Maranhão a
fim de ajudar a debelar um surto de peste bubônica que grassava naquela
região do norte do Brasil. Apesar de não contar com qualquer espécie de
hospital de isolamento nem com condições adequadas para o combate àquela
enfermidade contagiosa, dirigiu-se para lá em companhia do diretor do Hospital
de Isolamento de S. Paulo, dois médicos mineiros e mais um outro,
conseguindo marcante sucesso na tarefa. Nessa altura foi convidado para ser
diretor do Serviço Sanitário do Estado do Maranhão pelo período de dois anos.
Para lá transferiu-se com sua esposa e três filhos, porém, renunciou após oito
meses de atividades intensas, por não ver atendidas as suas reivindicações,
imprescindíveis para o bom andamento dos serviços.
Nos primeiros anos do presente século (não nos foi possível comprovar se
em 1901 ou 1902), comparecendo a uma sessão espírita, ali lembrou-se de
sua filhinha desencarnada com apenas cinqüenta e dois dias de vida e
formulou ardente solicitação mental para que ela viesse beijá-lo. Sem que
tivesse qualquer conhecimento do desejo que alimentava, os médiuns videntes
que ali estavam presentes, decorridos alguns minutos descreveram que o
Espírito da menina havia se dirigido ao pai e ali estava cobrindo-o de beijos.
Esse testemunho foi o suficiente para que Militão Pacheco se convertesse ao
Espiritismo.
Um outro fato veio mudar o rumo de sua vida, Sua esposa sofria, há alguns
anos, de pertinaz enfermidade e, para curá-la havia ele esgotado todos os
recursos que a medicina alopática lhe havia proporcionado. Visitando a família
do Juiz de Direito, de Campinas, ela teve ali uma das suas crises.
A esposa do juiz pediu permissão para recomendar-lhe um remédio
homeopático. O remédio foi comprado e o tratamento iniciado. Após essa
ocorrência ela teve apenas duas ameaças de crise e o mal desapareceu por
completo. O Dr. Pacheco, que vinha exercendo a medicina alopática há cinco
anos, procurou o único médico homeopata existente em Campinas, iniciando
assim um estudo profundo sobre a homeopatia, para o que conseguiu alguns
livros a título de empréstimo. Dali por diante deixou por completo de praticar a
medicina alopática.
No dia 23 de julho de 1896, através de decreto assinado pelo então
presidente do Estado de S. Paulo, Jorge Tibiriçá e por Gustavo de Oliveira
Godoy, Militão Pacheco foi nomeado, em comissão, para exercer o cargo de
inspetor sanitário do Estado, cargo no qual foi efetivado a 26 de setembro do
mesmo ano, exercendo-o até 1920, quando se aposentou.
Durante mais de meio século, o Dr. Pacheco exerceu na capital paulista o
apostolado da Medicina. E dizemos apostolado porque foi notável médico no
25

sentido cordial, humanitário, prestativo, dedicando-se inteiramente à tarefa de


auxiliar o seu próximo, conseguindo desta forma realizar gigantesco trabalho
de assistência individual e coletiva como poucos conseguiram realizar na Terra.
O prestigioso jornal "Diário de S. Paulo", em sua edição de 27 de junho de
1944, publicou extensa reportagem sobre as festividades comemorativas do
cinqüentenário de formatura e de exercício de profissão do Dr. Augusto Militão
Pacheco. Através de numerosos discursos proferidos na oportunidade,
pudemos conhecer verdadeiros rasgos de generosidade e de amor, partidos da
figura inconfundível daquele que tinha em alta conta a dignidade humana e o
sacerdócio da Medicina.
Foi sempre de incomparável bondade no tratamento de todos os seus
incontáveis clientes, retornando ao mundo espiritual abençoado por milhares
de corações, legando aos homens uma vida que se constituiu em verdadeiro
modelo de virtude, um exemplo incomparável de beleza moral, emanada de um
caráter reto e de uma decisão inquebrantável. Muitas pessoas que não podiam
pagar consultas, eram atendidas com igual dedicação e não raras voltavam
com o auxílio financeiro para a aquisição dos remédios prescritos por aquelas
mãos abençoadas. No terreno filosófico, conquanto fosse grande admirador de
geniais pensadores de várias escolas, pois era um cidadão independente e
portador de invejável cultura intelectual e científica, nunca negou a sua
incondicional dedicação à Doutrina Espírita, tornando-se um dos espíritas mais
respeitáveis e dignos em nosso Estado e mesmo no Brasil. Médico
essencialmente homeopata, honrou e dignificou a medicina hahnemaniana,
tendo consagrado ao Espiritismo o melhor de sua nobilitante e proveitosa
existência. Era na realidade autêntica fonte inexgotável destinada a suavizar as
dores do corpo e minorar os sofrimentos da alma.
Em julho de 1936, quando se cogitou da fundação da Federação Espírita
do Estado de S. Paulo, foi um dos elementos que mais propugnaram para essa
realização. A reunião convocada para apreciar a redação final dos estatutos
sociais e proceder à eleição da primeira diretoria, foi por ele presidida,
passando a figurar como um dos seus sócios fundadores e sido eleito vice-
presidente da primeira diretoria constituída. Durante muitos anos foi presidente
da Associação Espírita São Pedro e São Paulo, uma das mais prestigiosas
instituições espíritas de seu tempo, a qual posteriormente veio a se integrar na
Federação.
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AURORA A. DE LOS SANTOS DE SILVEIRA
Aurora A. de los Santos de Silveira, pioneira espírita uruguaia,
nasceu no dia 28 de agosto de 1890 e desencarnou no dia 10 de agosto de
1969, em Montevidéu.

O Espiritismo uruguaio muito deve a essa mulher idealista, que através do


seu exemplo e dedicação contribuiu para fazer germinar, naquela nação, a
semente generosa da Doutrina dos Espíritos.
Sofrendo as agruras de prisões e da separação dos filhos revelou a sua
fibra de missionária, não deixando jamais o desempenho de uma tarefa
apostólica que a impulsionava, e que culminou com a fundação de uma
instituição espírita que também se tornou a pioneira naquela pátria irmã.
Filha de José Fabrício dos Santos, brasileiro, e Petrona Tejera, espanhola,
Aurora morava no Departamento da Rivera, na República Oriental do Uruguai,
motivo que a levou a cursar apenas um ano da escola primária.
Sua vida foi repleta de dificuldades e sacrifícios junto a seus familiares, nos
afazeres da agricultura. Desde pequena se revelaram nela fenômenos
mediúnicos de vidência, que seus pais procuravam reprimir, por desconhecer
sua verdadeira causa e por temerem que ela enveredasse pelo caminho da
loucura.
Foi mãe extremosa de 7 filhos, em dois matrimônios. Em 1933
desencarnou o seu segundo esposo, Gervásio Silveira, deixando-a na maior
penúria com absoluta falta de recursos, o que a levou, juntamente com seus
filhos, a passar por angustiosa fase.
Nesses momentos de grandes aflições, conheceu uma senhora de nome
Valentina, que lhe deu alguns folhetos e revistas espíritas. A leitura dessas
publicações atuou como verdadeiro bálsamo, preenchendo uma grande lacuna
naquele Espírito bondoso e abnegado.
Cheia de fé e esperança, Aurora começou a levar os seus filhos a
pequenos Centros Espíritas que existiam nas cidades de Rivera e Livramento,
na fronteira entre o Brasil e Uruguai, sentindo-se daí por diante bastante
aliviada em suas angústias, dedicando-se à leitura de "O Evangelho Segundo o
Espiritismo", de Allan Kardec.
No dia 5 de julho de 1935, transferiu seu domicílio para a capital uruguaia,
em busca de melhores condições econômicas, passando a trabalhar como
costureira.
Em Montevidéu, certo dia, estando muito cansada e aflita, pediu a seu filho
Baltazar que lesse o único livro espírita que possuía, "O Evangelho Segundo o
Espiritismo", ocasião em que se manifestou um espírito que, diante do
assombro do moço, apenas disse: "Não temais, venho para ajudar-vos",
solicitando que procurassem reunir três ou quatro pessoas, quando então
voltaria.
Ao despertar, Aurora inteirou-se daquela solicitação e, no dia seguinte
promoveu a reunião, segundo a vontade expressa pelo espírito comunicante,
que deu o nome de "Bon Ajou".
Após a realização dessa sessão, Aurora teve desabrochada a sua
mediunidade, passando a fazer curas assombrosas de cegos, paralíticos,
cancerosos e de uma série de pessoas desenganadas pela medicina oficial.
27

Sua fama se expargiu e doentes vinham de todos os lugares em busca da


cura.
Nessa época o Espiritismo no Uruguai era praticamente desconhecido e
Aurora foi acusada de exercício ilegal da Medicina, sendo presa e recolhida a
uma prisão de mulheres, onde permaneceu durante 6 meses. Seus filhos foram
parar nos mais diversos lugares, inclusive em orfanatos.
Terminada a sentença, abandonou a prisão, debilitada e abatida, porém
isso não impediu que dentro de poucos dias voltasse ao mesmo lugar,
reiniciando o seu trabalho apostólico, ajudando os seus irmãos mais
necessitados e lutando pela divulgação dos ideais espíritas.
Após grandes lutas conseguiu ver realizado o seu sonho, obtendo
personalidade jurídica para uma instituição que fundou, o "Centro Evangélico
Espiritual Hacia la Verdad", sociedade beneficente cuja inauguração ocorreu
em 31 de maio de 1944, e cuja sede própria foi levantada em 1950, na Avenida
General Flores, 4.689, em Montevidéu. Tudo isso através do seu esforço,
coadjuvado por um livro e um Espírito amigo.
Os dados acima foram obtidos por intermédio de Baltazar Silveira, filho da
grande pioneira, entretanto, a título de subsídios biográficos, transcreveremos
abaixo o que o erudito escritor e orador brasileiro, Newton Boechat, escreveu
sobre essa notável batalhadora, em outubro de
1966, quando ela ainda estava entre nós:
"D. Aurora de los Santos de Silveira, pioneira no Movimento Espírita
Uruguaio, médium notável e destemida, hoje repousando das lutas de antanho,
quando era vigoroso seu organismo físico. Enfrentou, vezes inúmeras, o
cárcere, a perseguição, os ataques de adversários terríveis, para evidenciar a
Mensagem Espírita: o "Hacia la Verdad", é o fruto de seus labores em função
do Bem, obtendo, finalmente, personalidade jurídica desde 1944.
A venerada sra., junto à lareira da residência de Canellones, muito nos
contou das lutas de outrora, com seus ardís e embargos, mas que não lhe
puderam frustrar a perseverança.
Hoje, o "Hacia la Verdad" é organização respeitável, com centenas de
sócios, em sede confortável de 200 butacas (poltronas) e preciosa biblioteca.
Seu auditorium lembra o da "Confederação Espírita João Evangelista" da
Penha, no Rio de Janeiro.
D. Aurora, quando mais tarde for escrita a Historia do Espiritismo Uruguaio,
em seus pródromos, aparecerá como inesquecível criatura que, quase só, não
poupou esforços na hora do testemunho.
Ela é lá o que o Dr. Bezerra, Sayão, Bittencourt, Caírbar, Eurípedes, Lins,
Olímpio Teles, Petitinga, Batuíra e tantos outros que já desencarnaram, foram
aqui.
Nós, espiritistas brasileiros, devemos envolver o nome de d. Aurora de los
Santos Silveira, em nosso carinhoso respeito. Que no silêncio de sua
residência em Canellones, meditando nas lutas sublimes de outros tempos,
junto à lareira amiga e ao chimarrão de que tanto gosta, receba o rocio de
nossas irradiações".
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10
BENEDITO GODOY PAIVA
Nascido em S. Paulo no dia 19 de abril de 1885, e desencarnado na
mesma cidade, aos 17 de maio de 1962.

Durante mais de vinte e cinco anos, um orador era invariavelmente


requisitado para a maior parte das festividades de cunho espírita realizadas em
São Paulo.
Sua palavra tinha o mérito de atrair numerosa assistência, pois, além de
abalizado conferencista, possuía um estilo todo peculiar de proferir suas
locuções, iniciando-as com um conto, um apólogo ou uma anedota de cunho
singelo, que preparava os espíritos dos presentes, predispondo-os à
assimilação dos ensinamentos contidos no tema que iria ser abordado.
Por isso dizia ele: "Em nossa longa peregrinação pelas tribunas espíritas,
pelas estações de rádio e pela imprensa espírita, a falar sobre o Evangelho de
Jesus, sempre fizemos o possível para não enfastiar os ouvintes ou os leitores
com longas e pesadas dissertações sobre a Doutrina espírita, achando
preferível prender-lhes a atenção por meio de outro processo, qual o de buscar
na vida prática fatos ou exemplos elucidativos dos temas abordados, ainda que
por vezes pecando contra a sisudez de alguns confrades pouco amantes de
literatura desse gênero. Para se trazer uma assistência atenta, nada melhor do
que entremear a palestra com a narração de fatos interessantes e por vezes
cônscio da vida de sociedade, elucidativos do tema a ser abordado.
Nenhum mal há nisso, para a propaganda e compreensão da Doutrina
Espírita.
O espírita deve ser alegre e nunca um indivíduo avesso ao riso, às alegrias
sãs, aos divertimentos inofensivos, nunca devendo imitar aqueles frades da
Ordem do Silêncio que, proibidos de falar, só podiam dizer ao se encontrarem:
"Irmão! Lembra-te da morte!"

***

Esse emérito espírita chamava-se Benedito Godoy Paiva. Foi um homem


de ilibado caráter, franco e leal, dotado de invejável operosidade.
Anteriormente ao ano de 1941, pertenceu ao quadro diretivo da União
Federativa Espírita Paulista, ali desenvolvendo intenso trabalho de divulgação
da Doutrina Espírita, fazendo-o através da imprensa e do rádio.
Nesse mesmo ano passou a prestar serviços no corpo de colaboradores da
Federação Espírita do Estado de São Paulo, onde teve grande destaque e
exerceu numerosas atividades, pois, além de orador oficial, foi diretor do
Departamento Cultural e Social e membro do Conselho Deliberativo, ajudando
Pedro de Camargo Vinícius, a instituir as Tertúlias Evangélicas substituindo-o
em seus impedimentos todos os domingos de manhã. Colaborou
decididamente na fundação da Escola de Aprendizes do Evangelho e de outros
cursos ministrados por aquela instituição, assessorando os trabalhos de
preparação de apostilas e livros para os aludidos cursos.
Em 1947 tomou parte saliente na fundação da União das Sociedades
Espíritas do Estado de S. Paulo, formando a Comissão da Redação Final das
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deliberações do 1º Congresso Espírita do Estado de São Paulo e integrando o


primeiro Conselho Deliberativo daquela entidade.
Os dados biográficos que se seguem foram obtidos da Professora Zilda de
Paiva Barbosa, uma das filhas daquele grande seareiro.
Benedito Godoy Paiva enviuvou duas vezes, deixando sete filhos, netos e
bisnetos. Aos 16 anos de idade, após ter feito o Curso Ginasial no Externato
Molina, estudou e completou os cursos de geometria, matemática e de língua
inglesa, ingressando então como funcionário da Estrada de Ferro Sorocabana,
em 1901. Entretanto, fez ainda o curso de Contador na Academia de Comércio
do Brasil, a qual freqüentou à noite, passando depois a trabalhar em horas
extras como guarda-livros, a fim de equilibrar a economia do lar.
Aposentou-se após 46 anos de serviço naquela ferrovia, deixando uma
grande folha de inestimáveis serviços a ela prestados, com toda dedicação e
eficiência.
Fez carreira brilhante de praticante a assessor administrativo, chegando a
Chefe do Escritório do Tráfego e Chefe Geral do Expediente do Departamento
dos Transportes, onde recebeu elogios em sua folha corrida.
Tomou parte em inquéritos administrativos e em outras comissões que lhe
foram confiadas, por conhecer profundamente todos os regulamentos e ordens
expedidas pelas administrações anteriores.
Foi jornalista, colaborando na imprensa religiosa e profana, sendo redator
de uma das colunas do "Diário de São Paulo".
Como poeta e charadista colaborou em "Nossa Estrada", revista cujo nome
foi sugerido por ele e aceito por votação por todo o pessoal da Sorocabana.
Era músico. Executava cerca de seis instrumentos, porém, a sua predileção
era pela flauta. Compôs diversas músicas e foi seresteiro. Fazia serenatas sob
as janelas, nos tempos da velha São Paulo.
Freqüentou a Igreja Evangélica, onde era organista e regente do coro.
Na ata de fundação da 3ª Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo
o seu nome consta, em primeiro lugar, como fundador.
Conhecia profundamente as Escrituras e dos Evangelhos tirou
ensinamentos sublimes que o nortearam em toda a sua vida, tão útil à família e
à Humanidade.
Convertendo-se ao Espiritismo, tomou parte inicialmente na União
Federativa e posteriormente na Federação Espírita do Estado de São Paulo,
deixando a Igreja Presbiteriana de onde solicitou afastamento, escrevendo uma
carta ao seu grande amigo, Rev. Dr. Seth Ferraz, pastor da 3a. Igreja, expondo
os motivos que o levavam a se afastar do seio daquela comunidade, uma vez
que os ensinamentos da Igreja condenam o Espiritismo, doutrina baseada na
reencarnação e na evolução dos Espíritos.
Foi uma nova fase em sua vida. Dedicou-se inteiramente à Doutrina
Espírita.
Fez inúmeras conferências, cujos auditórios eram repletos quando ele
ocupava a tribuna.
Baseado nessas conferências editou o livro "Quando o Evangelho diz Não!"
Publicou diversos folhetos, entre eles "Quais os que entrarão no céu" e "A
Verdade vos Libertará".
Escreveu poesias diversas: "A Reencarnação", "Saudades do Marido", "As
Três Cruzes", "A Mulher Pecadora", "O Juízo Final", "O Bom Samaritano",
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"Salvação pela Fé", "O Sonho da Princesa" e, com Cid Franco, escreveu o
poema "Avatar".
Revisou "A Grande Síntese", livro mediúnico de Pietro Ubaldi e, em
parceria com Emílio Manso Vieira, escreveu o "Manual do Dirigente de
Sessões Espíritas".
No dia de sua desencarnação, à sua cabeceira estiveram presentes três
representantes de correntes religiosas: um pastor evangélico, um bispo da
Igreja Católica Brasileira e um membro da Federação Espírita do Estado de
São Paulo. Todos lhe tributaram adeus com o mesmo carinho.
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11
CAÍRBAR SCHUTEL
Nascido na cidade do Rio de Janeiro, a 22 de setembro de 1868 e
desencarnado em Matão, Estado de S. Paulo, no dia 30 de janeiro de 1938.

No dealbar do século 20, quando eram ensaiados os primeiros passos no


grandioso programa de divulgação do Espiritismo, e quando a Doutrina dos
Espíritos era vista como uma novidade que vinha abalar os conceitos até então
prevalecentes sobre a imortalidade da alma e a comunicabilidade dos Espíritos,
dentre os pioneiros da época, surgiu um vulto que se destacou de forma
inusitada, fazendo com que a difusão da nova Doutrina tivesse uma penetração
até então desconhecida.
O nome desse seareiro era Caírbar de Souza Schutel, nome esse que se
impôs, em pouco tempo, ao respeito e consideração de todos. Ele jamais
esmoreceu no propósito de fazer com que a nova revelação, que vinha fazer o
mundo descortinar novos horizontes e prometia restaurar, na Terra, as
primícias dos ensinamentos legados por Jesus Cristo quase vinte séculos
antes, pudesse conquistar os corações dos homens, implantando-se na face do
nosso planeta como uma nova força cujo objetivo básico era de extirpar o
fantasma do materialismo avassalador.
Biografar um vulto dessa estirpe não é fácil tarefa, uma vez que as suas
atividades não conheciam limitações nem eram bitoladas por conveniências de
grupos ou de pessoas. Conseqüentemente, tudo aquilo que se disser sobre
Caírbar Schutel não passa de uma súmula muito apagada de uma vida cheia
de lutas, de percalços e sobretudo de ardente idealismo.
Registraremos, entretanto, alguns dados biográficos desse insigne
batalhador espírita:
Caírbar de Souza Schutel, aos nove anos de idade, ficava órfão de pai e,
seis meses após, de mãe. Seu avô, Dr. Henrique Schutel, interessou-se pela
sua educação, matriculando-o no Colégio Nacional, depois Colégio D. Pedro
2º, onde estudou durante dois anos.
Animado de novos propósitos, abandonou os estudos e a casa do avô,
passando a trabalhar como prático em farmácia, o que fez com que, aos 17
anos de idade já se tornasse respeitável profissional desse ramo. Nessa época
abandonou a antiga Capital Federal e rumou para o Estado de S. Paulo, onde
se localizou primeiramente em Piracicaba e logo após em Araraqüara e Matão.
Esta última cidade era então um lugarejo muito singelo, com poucas casas e
dependendo quase que exclusivamente do comércio de Araraqüara, a cujo
município pertencia.
Nessa humilde cidade, Caírbar Schutel acalentou o propósito de servir à
coletividade, o que fez com que batalhasse arduamente para que Matão
subisse à categoria de Município. Conseguindo colimar esse desiderato, foi
eleito seu primeiro Prefeito.
Homem dotado de ilibado caráter, de ampla visão e de grande humildade,
conseguiu conquistar os corações de todos. Na política não enfrentava
obstáculos. Deve-se a ele a edificação do prédio da Câmara Municipal, o que
fez com seus próprios recursos financeiros.
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A política, no entanto, não era o seu objetivo, por isso, tão logo ele teve a
sua Estrada de Damasco, representada pela sua conversão ao Espiritismo,
abandonou esse campo, passando a dedicar-se inteiramente à nova Doutrina.
Conheceu o Espiritismo através de Manoel Pereira do Prado, mais
conhecido por Manoel Calixto, que na época era um dos poucos e o mais
destacado espírita do lugar. Embora não sendo profundo conhecedor dos
princípios básicos da Codificação Kardequiana, Manoel Calixto conseguiu
impressionar o futuro apóstolo, com uma mensagem mediúnica de elevado
cunho espiritual, recebida por seu intermédio.
Em seguida a esse episódio, Caírbar integrou-se no conhecimento das
obras fundamentais da Doutrina Espírita e, tão logo se sentiu compenetrado
daquilo que ela ensina, fundou, no dia 15 de julho de 1904, o primeiro núcleo
espírita da cidade e da zona, denominando-o "Centro Espírita Amantes da
Pobreza".
Não satisfeito com essa arrojada realização, no mês de agosto de 1905,
lançou a primeira edição do jornal "O Clarim", órgão esse que vem circulando
desde então e que se constituiu, de direito e de fato, num dos mais tradicionais
e respeitáveis veículos da imprensa espírita.
Numa época quando pontificava verdadeira intolerância religiosa e quando
o Espiritismo e outras religiões sofriam o impacto da ação exercida pela religião
majoritária, Caírbar Schutel também teve o seu Calvário: um sacerdote
reacionário e profundamente intolerante, resolveu promover gestões no sentido
de fechar as portas do Centro Espírita, usando como arma ardilosa uma
campanha persistente no sentido de fazer com que a farmácia de Caírbar fosse
boicotada pelo povo.
Com o apoio do delegado de polícia, conseguiu deste a ordem para o
fechamento do Centro onde se difundia o Espiritismo. Caírbar Schutel, no
entanto, não era dos que se intimidam e, contra o padre e o delegado,
levantou a barreira da sua autoridade moral e da sua coragem. A ordem do
delegado não foi respeitada por atentar contra a letra da Constituição Federal
de 1891, e o valoroso espírita foi à praça pública protestar contra tamanho
desrespeito. O padre, não tolerando aquela manifestação promovida por
Caírbar, também promoveu uma passeata de desagravo. Outros sacerdotes,
nessa época, já estavam em Matão, apregoando a necessidade de se manter o
"herético" circunscrito, de nada se adquirirem sua farmácia, e, sobretudo
proibindo a todos a freqüência ao Centro Espírita.
Em face da tremenda pressão exercida, Caírbar anunciou que falaria ao
povo em praça pública, refutando ponto por ponto todas as acusações gratuitas
que lhe eram atribuídas pelos sacerdotes. O delegado proibiu-o de falar.
Caírbar não acatou a proibição do delegado e, estribando-se na
Constituição, dirigiu-se para a praça pública, falando aos poucos que, não
temendo as represálias do padre, tiveram a coragem de lá comparecer.
Este, por sua vez, expressou a idéia de que, se a liberalíssima Constituição
brasileira permitia esse direito a Caírbar, a Igreja de forma alguma consentiria
e, aliciando um grupo de homens fanatizados, marchou para a praça pública,
cantando hinos e cantorias fúnebres, portando, além disso, vários tipos de
armas. O objetivo da procissão noturna era de abafar a voz do orador e
atemorizar o povo.
Essa barulhenta manifestação provocou a repulsa de algumas pessoas
cultas da cidade, as quais, dirigindo-se à praça, pediram a aquiescência do
33

orador para, de público, manifestarem a desaprovação àquelas manifestações


e responsabilizando o padre pelas conseqüências danosas daquele
desrespeito à Carta Magna, afirmando que o orador tinha todo o direito de falar
e de se defender. Diante dessa reação, o padre ficou assombrado e decidiu
dispersar os acompanhantes, o que possibilitou a Caírbar prosseguir na defesa
dos seus direitos e dos seus ideais.
Caírbar sabia ser amigo até dos seus próprios inimigos. Sempre inspirava
simpatia e respeito. Sempre feliz no seu receituário, tornou-se, dentro em
pouco, o Médico dos Pobres e o Pai da Pobreza, de Matão. Além de prescrever
o medicamento, ele o dava gratuitamente aos necessitados. Sua residência
tornou-se um refúgio para os pobres da cidade. Muitas pessoas eram
socorridas pela sua generosidade. Muitos recebiam socorros da mais variada
espécie, em víveres, em roupas e sobretudo assistência espiritual.
O sentimento de amor ao próximo teve nele incomparável paradigma.
Estava sempre solícito e pronto para socorrer um enfermo ou um obsediado.
Atos de renúncia e de desapego eram comuns em sua vida. Sua residência
chegou a ser transformada em hospital de emergência para doentes mentais e
obsediados. Em vista do crescente número de enfermos, em 1912 alugou uma
casa mais ampla, na qual tratava com maiores recursos e com mais liberdade
todos aqueles que apelavam para a sua ajuda fraternal.
No dia 15 de fevereiro de 1925, lançou o primeiro número da "Revista
Internacional de Espiritismo", órgão que desde então vem circulando sem
solução de continuidade.
Quando foi rasgada a Constituição ultra- liberal de 1891, Caírbar Schutel foi
à praça pública apoiando a Coligação Nacional Pró- Estado Leigo, entidade
fundada no Rio de Janeiro pelo Dr. Artur Lins de Vasconcelos Lopes. Nesse
propósito combateu sistematicamente a pretensão, esposada por alguns
grupos, de se introduzir o ensino religioso obrigatório nas escolas. Certa vez
programou uma reunião num cinema de cidade vizinha para abordar esse
tema. Na hora aprazada ali estavam apenas alguns dos seus amigos, dentre
eles José da Costa Filho e João Leão Pitta. Caírbar não se perturbou. Mandou
comprar meia dúzia de foguetes e soltou-os à porta do cinema. Daí a 20
minutos o recinto estava repleto.
Foi pioneiro no lançamento de programa espírita pelo rádio, pois em 1936
inaugurou, pela PRD- 4 - Rádio Cultura de Araraqüara, uma série de palestras
que mais tarde publicou num volume de 206 páginas.
Como jornalista escreveu muito. Durante muito tempo manteve uma secção
de crônicas e reportagens no "Correio Paulistano" e na "Platéia", antigos
órgãos da imprensa leiga.
Sua bibliografia é bastante vasta, dela destacamos as seguintes obras:
"Espiritismo e Protestantismo", "Histeria e Fenômenos Psíquicos", "O Diabo
e a Igreja", "Médiuns e Mediunidade", "Gênese da Alma", "Materialismo e
Espiritismo", "Fatos Espíritas e as Forças X", "Parábolas e Ensinos de Jesus",
"O Espírito do Cristianismo", "A Vida no Outro Mundo", "Vida e Atos dos
Apóstolos", "Conferências Radiofônicas", "Cartas a Esmo" e "Interpretação
Sintética do Apocalipse".
Fundou também a Empresa Editora "O Clarim", que passou a editar livros
de outros autores.
34

Caírbar Schutel foi um homem de fé, orador convincente, trabalhador


infatigável, dinâmico, realizador e portador dos mais vivificantes exemplos de
virtude cristã.
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12
CAMILLE FLAMMARION
Nascido em Montigny-Le-Roy, França, no dia 26 de fevereiro de
1842, e desencarnado em Juvissy no mesmo país, a 4 de junho de 1925.

Flammarion foi um homem cujas obras encheram de luzes o século 19. Ele
era o mais velho de uma família de quatro filhos, entretanto, desde muito jovem
se revelaram nele qualidades excepcionais. Queixava-se constantemente que
o tempo não lhe deixava fazer um décimo daquilo que planejava. Aos quatro
anos de idade já sabia ler, aos quatro e meio sabia escrever e aos cinco já
dominava rudimentos de gramática e aritmética.
Tornou-se o primeiro aluno da escola onde freqüentava.
Para que ele seguisse a carreira eclesiástica, puseram-no a aprender latim
com o vigário Lassalle. Aí Flammarion conheceu o Novo Testamento e a
Oratória. Em pouco tempo estava lendo os discursos de Massilon e Bonsuet.
O padre Mirbel falou da beleza da ciência e da grandeza da Astronomia e
mal sabia que um de seus auxiliares lhe bebia as palavras. Esse auxiliar era
Camille Flammarion, aquele que iria ilustrar a letra e a significação ítalo-romana
do seu nome - Flammarion: "Aquele que leva a luz".
Nas aulas de religião era ensinado que uma só coisa é necessária: "a
salvação da alma", e os mestres falavam: "De que serve ao homem conquistar
o Universo se acaba perdendo a alma?".
Foi dura a vida dos Flammarions, e Camille compreendeu o mérito de seu
pai entregando tudo aos credores. Reconhecia nele o mais belo exemplo de
energia e trabalho, entretanto, essa situação levou-o a viver com poucos
recursos.
Camille, depois de muito procurar, encontrou serviço de aprendiz de
gravador, recebendo como parte do pagamento casa e comida. Comia pouco e
mal, dormia numa cama dura, sem o menor conforto; era áspero o trabalho e o
patrão exigia que tudo fosse feito com rapidez. Pretendia completar seus
estudos, principalmente a matemática, a língua inglesa e o latim. Queria obter o
bacharelado e por isso estudava sozinho à noite. Deitava-se tarde e nem
sempre tinha vela. Escrevia ao clarão da lua e considerava-se feliz. Apesar de
estudar à noite, trabalhava de 15 a 16 horas por dia.
Ingressou na Escola de desenho dos frades da Igreja de São Roque, a qual
freqüentava todas as quintas-feiras. Naturalmente tinha os domingos livres e
tratou de ocupá-los. Nesse dia assistia as conferências feitas pelo abade sobre
Astronomia. Em seguida tratou de difundir as associações dos alunos de
desenho dos frades de São Roque, todos eles aprendizes residentes nas
vizinhanças. Seu objetivo era tratar de ciências, literatura e desenho, o que era
um programa um tanto ambicioso.
Aos 16 anos de idade, Camille Flammarion foi presidente da Academia, a
qual, ao ser inaugurada, teve como discurso de abertura o tema "As Maravilhas
da Natureza". Nessa mesma época escreveu "Cosmogonia Universal", um livro
de quinhentas páginas; o irmão, também muito seu amigo, tornou-se livreiro e
publicava-lhe os livros. A primeira obra que escreveu foi "O Mundo antes da
Aparição dos Homens", o que fez quando tinha apenas 16 anos de idade.
Gostava mais da Astronomia do que da Geologia. Assim era sua vida: passar
mal, estudar demais, trabalhar em exagero.
36

Um domingo desmaiou no decorrer da missa, por sinal, um desmaio muito


providencial. O doutor Edouvard Fornié foi ver o doente. Em cima da sua
cabeceira estava um manuscrito do livro "Cosmologia Universal". Após ver a
obra, achou que Camille merecia posição melhor. Prometeu-lhe, então, colocá-
lo no Observatório, como aluno de Astronomia. Entrando para o Observatório
de Paris, do qual era diretor Levèrrier, muito sofreu com as impertinências e
perseguições desse diretor, que não podia conceber a idéia de um rapazola
acompanhá-lo em estudos de ordem tão transcendental.
Retirando-se em 1862 do Observatório de Paris, continuou com mais
liberdade os seus estudos, no sentido de legar à Humanidade os mais belos
ensinamentos sobre as regiões silenciosas do Infinito. Livre da atmosfera
sufocante do Observatório, publicou no mesmo ano a sua obra "Pluralidade dos
Mundos Habitados", atraindo a atenção de todo o mundo estudioso. Para
conhecer a direção das correntes aéreas, realizou, no ano de 1868, algumas
ascensões aerostáticas.
Pela publicação de sua "Astronomia Popular", recebeu da Academia
Francesa, no ano de 1880, o prêmio Montyon. Em 1870 escreveu e publicou
um tratado sobre a rotação dos corpos celestes, através do qual demonstrou
que o movimento de rotação dos planetas é uma aplicação da gravidade às
suas densidades respectivas. Tornando-se espírita convicto, foi amigo pessoal
e dedicado de Allan Kardec, tendo sido o orador designado para proferir as
últimas palavras à beira do túmulo do Codificador do Espiritismo, a quem
denominou "o bom senso encarnado".
Suas obras, de uma forma geral, giram em torno do postulado espírita da
pluralidade dos mundos habitados e são as seguintes: "Os Mundos Imaginários
e os Mundos Reais", "As Maravilhas Celestes", "Deus na Natureza",
"Contemplações Científicas", "Estudos e Leitura sobre
Astronomia", "Atmosfera", "Astronomia Popular", "Descrição Geral do Céu",
"O Mundo antes da Criação do Homem", "Os Cometas", "As Casas Mal-
Assombradas", "Narrações do Infinito", "Sonhos Estelares", "Urânia", "Estela",
"O Desconhecido", "A Morte e seus Mistérios", "Problemas Psíquicos", "O Fim
do Mundo" e outras.
Camille Flammarion, segundo Gabriel Delanne, foi um filósofo enxertado
em sábio, possuindo a arte da ciência e a ciência da arte. Flammarion -"poeta
dos Céus", como o denominava Michelet - tornou-se baluarte do Espiritismo,
pois, sempre coerente com suas convicções inabaláveis, foi um verdadeiro
idealista e inovador.
37

13
CARLOS GOMES DE SOUZA SHALDERS
Nascido no dia 3 de outubro de 1863, e desencarnado em S. Paulo,
no dia 10 de dezembro de 1963, com 100 anos de idade.

O professor Shalders fez seus estudos preliminares na Inglaterra,


estudando mais tarde na Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Formado, veio
para S. Paulo, ingressando na Companhia Mojiana de Estradas de Ferro, da
qual foi um dos pioneiros, dirigindo a construção do ramal de Moji-Mirim a
Sapucaia.
Contribuiu para a fundação da Escola Politécnica da Universidade de São
Paulo, da qual foi catedrático de Complementos de Matemática e Álgebra
Superior, lecionando nessa cadeira desde a fundação da Escola, a 15 de
fevereiro de 1894, até a sua aposentadoria, em 1934. Foi também diretor dessa
mesma Escola, nos anos de 1931 e 1932, num período bastante difícil.
Pelos seus eminentes serviços, o prof. Shalders foi distinguido com o título
de doutor "Honoris Causa" e de "Professor Emérito", no dia 13 de maio de
1949, pela Universidade de S. Paulo.
Durante muitos anos foi vice-presidente e membro do Conselho
Deliberativo da Federação Espírita do Estado de S. Paulo, dirigindo
concomitantemente o seu departamento de pesquisas psíquicas. Foi o primeiro
presidente da Associação Cristã de Moços, de S. Paulo.
Foi um dos mais autênticos espíritas dos nossos dias. Em matéria de fé
racional e tranqüilidade de espírito, assemelhava-se a Caírbar Schutel e Militão
Pacheco. Encarava o Espiritismo como doutrina para ser vivida e não apenas
difundida. Foi um verdadeiro exemplificador dos deveres de cristão, encarando-
os com absoluta seriedade. No tocante ao cumprimento das obrigações do
homem, afirmava sempre: "Não há deveres pequenos, todos são iguais".
Apesar de plenamente convicto, não se apaixonava pelos fenômenos e nem
pelos Espíritos a ponto de lhes devotar fé cega; colocava-os na ordem das
coisas naturais e sérias.
Grande conhecedor dos assuntos bíblicos, porém desde a sua militância no
Protestantismo divergia de muitos deles. Procurando estudar esses problemas
à luz do Espiritismo, nele encontrou soluções para velhas indagações.
Até aos 95 anos de idade, era sistemática a presença do prof. Shalders,
aos domingos, na Federação Espírita do Estado de S. Paulo, onde ia ouvir as
palestras evangélicas, tendo ele próprio proferido diversas. Como era de uma
pontualidade impecável, preocupava-se muito com as pessoas que entravam
após o início da conferência. Algumas vezes, no instante de ser iniciada a
palestra, subia à tribuna e fazia observações severas ao público com referência
à observância do horário. Dedicava a máxima atenção às palestras e, quando o
tema era controvertido, não muito do seu agrado, por encontrar nelas
divergências doutrinárias, no dia seguinte estava ele na casa do conferencista
com uma série de argumentos, mostrando incoerências e protestando
evangelicamente contra aquilo que não aceitava.
Por mais respeitável que fosse o expositor, por mais autoridade que
desfrutasse na matéria, não escapava ao interrogatório, às deduções e ao crivo
da razão, sempre clara, apresentadas de maneira evangélica e da mais
apurada ética de educação.
38

Já ultrapassava a casa dos 90 anos de idade, quando ainda trabalhava na


São Paulo Light. Nessa época publicou um livro intitulado "Uma Análise Crítica
da Bíblia", no qual expôs com uma lucidez extraordinária, as suas idéias e o
seu raciocínio tratando de um assunto tão árido. Com 96 anos de idade, para
não ficar sem fazer nada, realizando o seu desejo de fazer o bem, empreendia,
uma vez por semana, uma peregrinação juntamente com um grupo de
confrades, visitando doentes, ministrando-lhes passes e proferindo palavras de
conforto espiritual.
Era profundo respeitador de Jesus Cristo e não permitia que sua
personalidade fosse mal entendida ou que alguém achasse nele motivos de
piedade. Certa vez a Federação Espírita do Estado de S. Paulo recebeu, de
presente, um enorme e artístico quadro do Mestre, com as chagas abertas nas
mãos e nos pés. O quadro foi colocado no salão de conferências daquela
instituição. Porém, dentro de poucos dias foi dali retirado devido aos insistentes
protestos do Prof. Shalders, nessa época vice- presidente da Casa. O fato
causou estranheza a muitos freqüentadores, os quais não concordaram com a
retirada do quadro. Mas prevaleceu o bom-senso.
O transcurso do seu centenário de existência (estando ele ainda entre nós),
foi comemorado pela Escola Politécnica de S. Paulo, pela Associação dos
Antigos Alunos da Escola Politécnica e pelo Instituto de Engenharia de S.
Paulo, tendo havido uma sessão solene da congregação, com a instalação do
retrato do prof. Shalders, procedendo também a uma cerimônia de inauguração
do medalhão de bronze, com placa alusiva à data, no Departamento de
Matemática da Escola Politécnica, na cidade Universitária, em S. Paulo, placa
essa ofertada pelos ex-alunos da primeira escola superior criada pelo governo
do Estado de S. Paulo, logo após a proclamação da Republica.
A passagem do prof. Shalders, pela Terra, foi um centenário de exemplos
vivos num preparo eficiente para o reencontro com os amigos do Plano Maior.
A demonstração da sua humildade e submissão aos desígnios de Deus, eram
fatores predominantes em sua inconfundível personalidade.
No Departamento de Metapsíquica da Federação Espírita do Estado de S.
Paulo, exerceu atividades incomparáveis, interessando-se profundamente
pelos fenômenos, sem contudo ficar a eles escravizado, porque sabia dar-lhes
o valor e o apreço que mereciam, compreendendo que o aspecto mais
importante da Doutrina Espírita é o de evangelizar o homem, conduzindo-o no
roteiro da reforma interior.
39

14
CLÉLIA SOARES DA ROCHA
Mais conhecida por Clélia Rocha, nasceu na cidade de Barra
Mansa, Estado do Rio de Janeiro, no dia 18 de outubro de 1886 e
desencarnou, com 50 anos de idade, no dia 16 de fevereiro de 1936.

Foi educada como interna do Colégio Bom Conselho, na cidade de


Taubaté, completando sua educação na cidade de Piracicaba, onde recebeu o
diploma de professora primária. Lecionou durante vários anos no Colégio das
Freiras, da cidade de São Carlos. De família tradicionalmente católica, Clélia
Rocha logo demonstrou repugnância pelos dogmas da religião de seus pais, o
que aconteceu logo em sua primeira infância, originando-lhe sérios castigos no
Colégio interno, onde passou a ser considerada criança rebelde.
Em Piracicaba ainda quando estudante, conheceu um jovem médico, com
quem acertou casamento. Entretanto, o rapaz desencarnou repentinamente,
frustrando todo o seu sonho de menina moça, que nunca mais pensou no
casamento, dedicando toda sua vida ao magistério e ao amparo da criança órfã
e desvalida. Um dia deliberou abrir um estabelecimento de ensino na cidade de
Dourados, para a alfabetização de adultos que não tivessem condições de
freqüentar aulas no período diurno, mantendo-o por algum tempo e fornecendo
gratuitamente o material de ensino para todos aqueles que não o pudessem
adquirir.
Nessa época a grande missionária Anália Franco fez uma visita à cidade e,
vendo o sacrifício inenarrável pelo qual passava a jovem professora, convidou-
a a fazer parte da sua equipe de trabalho, prontificando-se a ajudá-la no que
lhe fosse possível. Dessa época em diante, tornaram-se grandes amigas e
mútuas colaboradoras. Fundaram uma Creche para as mães pobres daquela
redondeza e um abrigo para órfãos.
Anália Franco depositava irrestrita confiança no trabalho de Clélia Rocha.
Numa das suas cartas chegou mesmo a afirmar: "Você é a diretora que
mais assimilou os nossos ideais e muito tem produzido. Se todas as demais
cooperadoras fizessem como você, muito realizaríamos".
Em fins de 1918, Anália Franco fundou um Asilo na cidade de Uberaba, em
Minas Gerais, e convidou Clélia Rocha para ser sua diretora. Logo após, no dia
13 de janeiro de 1919, Anália desencarnou em S. Paulo, não podendo
concretizar a obra. Clélia, fiel à sua memória, respeitando a sua última vontade,
deliberou transferir-se para Uberaba, com todas as suas pupilas, fundando
mais tarde naquela cidade um Colégio com 18 pensionistas, para manter as
suas 72 alunas internas. Diante de sua obra assistencial pleiteou por várias
vezes subvenções municipais, estaduais e federais, nunca conseguindo
ressonância para as suas petições, pois, pelo fato de ser espírita, intensa
perseguição lhe foi movida pelos sacerdotes locais.
Como Anália Franco, organizou um Conjunto Lítero-Artístico e Musical, com
as próprias pupilas e demandou as cidades do interior dos Estados de São
Paulo e Minas Gerais, conseguindo meios de subsistência para manter o seu
estabelecimento, tendo para tanto alcançado algum êxito.
Fiel à memória de Anália Franco, tudo fez para que os ideais por ela
esposados fossem mantidos em toda a sua plenitude, conduzindo-se sempre
40

com verdadeiro espírito de abnegação e sacrifício, atestando sempre a sua


grandeza espiritual.
Fundou com suas pupilas maiores de 16 anos a Liga Feminina Operárias
do Bem, objetivando a formação de novas equipes de cooperadoras que
pudessem mais tarde dar continuidade ao seu grandioso trabalho assistencial.
Em 1924 transferiu-se para a cidade de São Manoel, no Estado de S. Paulo,
onde conheceu Amando Simões, rico fazendeiro da região, espírito bem
formado e coração generoso que, conhecendo as suas grandes dificuldades e
estóica coragem, resolveu ajudá-la, fazendo a doação de um prédio e parte de
seu terreno para que ali Clélia pudesse instalar o seu estabelecimento
educacional. Graças ao prestígio desse abnegado confrade, contou logo com o
concurso de parte da população e a simpatia da Câmara Municipal, podendo
desta forma ampliar a sua obra beneficente. Acolheu no "Lar de Anália Franco"
dezenas de crianças órfãs e ali realizou numerosos casamentos de suas ex-
educandas, entregando-as ao mister de donas de casas, reintegradas na
sociedade, para servirem como esposas e como mães.
Em 1930, na época do Natal, fundou a "Creche Berço de Ouro", destinada
a receber as criancinhas, mantendo-a com todo o carinho de sua alma.
Era espírita fervorosa e muito se interessava pelos assuntos doutrinários.
Como Anália foi literata, jornalista, poetisa, escritora, teatróloga, musicista e
professora de línguas. Escreveu várias peças para teatro; dramas, comédias e
enquetes de sua autoria foram encenadas com muito êxito no Grupo Teatral.
Apresentou ainda muitas poesias e composições musicais.
Exímia professora de trabalhos manuais, ministrava aulas de flores
artificiais, pinturas, bordados, arte culinária e música, preparando suas filhas
adotivas para tornar-se prendadas donas de casa do futuro.
Na intimidade era chamada "Mãe Lili", por todas as suas filhas adotivas.
Deu o seu próprio nome a muitas delas, quando enjeitadas na "Creche
Berço de Ouro" e não apareciam os parentes. Tendo que regularizar os seus
registros civis, não hesitava jamais, registrava-as com o seu próprio nome.
Fundou o jornal literário "Lírio Branco" e o "Mensageiro do Órfão" hoje
"Mensageiro do Lar", órgão de divulgação do Espiritismo, que continua a ser
editado nas oficinas gráficas do Lar Anália Franco, na cidade de S. Manoel.
Clélia Rocha foi, portanto, uma missionária na verdadeira acepção da
palavra, pertencendo à plêiade de valorosas mulheres espíritas do mesmo
nível de Anália Franco, Olímpia Belém, Aura Celeste, Eurídice Panar, Abigair
Lima e tantas outras.
(Subsídios fornecidos por Antônio de Souza Lucena)
41

15
CORINA NOVELINO
Nascida na cidade de Delfinópolis Estado de Minas Gerais, no dia
12 de agosto de 1912, e desencarnada em Sacramento, naquele mesmo
Estado, no dia 10 de fevereiro de 1980.

Filha do casal José Gonçalves Novelino e Josefina de Melo Novelino,


nasceu na pequena cidade de Delfinópolis, onde passou muito pouco de sua
infância, pois ainda jovem ficou órfã de pai e mãe, passando a residir com um
casal que lhe dispensou todo o amor e carinho.
A tarefa desenvolvida por Corina Novelino, na cidade de Sacramento, foi
das mais relevantes, o que fez com que se tornasse uma das figuras mais
estimadas na cidade.
Desde muito jovem revelou-se um Espírito caritativo, com profundos rasgos
de desprendimento, disposto a dar tudo de si em favor dos seus emelhantes.
Com apenas vinte anos de idade, foi convidada por uma denodata seareira
chamada Maria Modesto Cravo, para ajudá-la a administrar um Lar de
Crianças, na cidade mineira de Uberaba. Indecisa sobre o convite procurou
orientação do médium Francisco Cândido Xavier, então residente em Pedro
Leopoldo. Devido ao elevado número de pessoas que procurava o médium,
não conseguiu entrevistar-se com ele. Porém, grande foi a sua surpresa
quando foi por ele chamada, recebendo de suas mãos bela mensagem
assinada pelo Espírito de Eurípedes Barsanulfo, na qual, entre outras coisas,
ele dizia:
"Corina, você é minha última esperança em Sacramento".
Diante do imperativo da mensagem, declinou do convite de Maria Modesta
e decidiu-se pela permanência em Sacramento, onde fundou o Clube das
Maezinhas, composto de mães caridosas que se dispunham a fazer roupinhas
para crianças necessitadas, as quais eram distribuídas semanalmente.
No limiar do ano de 1950, deliberou fundar um Lar para crianças
abandonadas. Porém, além de faltar-lhe os meios necessários, não sabia onde
nem como implantar essa instituição. A maior rifa realizada em Sacramento
propiciou-lhe os meios necessários para adquirir uma casa e ali inaugurar o
"Lar de Eurípedesb".
Aplicava o seu ordenado na manutenção do Lar. Entretanto, o número de
crianças aumentava e os recursos tornavam-se assim cada vez mais escassos.
A casa havia também se tornado pequena.
Animada de decisão inquebrantável, e contando com a ajuda do Alto,
decidiu-se a edificar um novo "Lar de Eurípedes". O povo de Sacramento e de
regiões vizinhas cooperou no empreendimento e, dentro em pouco, surgia o
novo prédio, onde foram amparadas mais de 100 crianças e onde a seareira
abnegada passou a ser a "mãe Corina". Devido à insuficiência de recursos
para a sua manutenção, pois o estabelecimento era mantido quase
completamente com o salário de Corina Novelino, houve apelos e o Lar foi
reconhecido como órgão de utilidade pública, passando então de internato para
semi-internato. Ali as crianças passam o dia, recebendo alimentação, vestuário
e educação intelectual e religiosa.
Escritora de grandes recursos que era, Corina escreveu os livros "Escuta,
meu filho", cuja renda foi revertida inteiramente à manutenção do Lar.
42

Mais recentemente, em 1979, escreveu a obra "Eurípedes, o homem e a


missão", dando início aos atos comemorativos do centenário de nascimento
daquele grande vulto do Espiritismo.
Criatura infatigável, sempre disposta a cooperar, tomou parte saliente na
vida sócio-econômica, religiosa e cultural de Sacramento. Colaborou em todos
os jornais da cidade, desde a "Tribuna", editada por Hamilton Wilson, até os
jornais atuais: "Estado do Triângulo" e "Jornal de Sacramento".
Prestou colaboração em outros órgãos de divulgação do Espiritismo,
notadamente no "Anuário Espírita", editado em Araras, e uma revista editada
em Portugald.
Foi na realidade uma vida bem vivida, repleta de rasgos de generosidade,
de amor e de dedicação aos seus semelhantes. A sua desencarnação
representou irreparável perda para a comunidade sacramentana, um grande
vazio se fez na cidade, tão grande quanto a tristeza dos que perderam o calor,
a ternura e a dedicação de uma amiga.
Foram as seguintes as palavras do Presidente da Câmara Municipal de
Sacramento, por ocasião do sepultamento do seu corpo físico: "Que o pavilhão
de Sacramento cubra o seu ataúde numa demonstração de homenagem maior
que o Poder Público presta aos seus grandes filhos. Aqui a gratidão de todo um
povo que reconheceu no seu labor humilde e silencioso a "Mãe
Corina" de todos. Com o auxílio de suas mãos não foram poucas as vezes
que testemunhamos o seu amor, no próprio esquecimento de si mesma,
chamando para si a responsabilidade dessa enorme tarefa de promoção do
próximo. Foi a Mãe Corina dos pobres, dos sofredores, dos órfãos, dos loucos,
dos necessitados, dos abandonados, dos miseráveis... Mãe Corina de todos
nós, nosso eterno e imorredouro Muito Obrigado".

***

Nota do GEAE: a querida irmã Alba das Graças Pereira enviou-nos


mais informações sobre a vida de Corina. Alba conviveu com D. Corina
por ocasião da feitura de seu livro sobre Eurípedes Barsanulpho. Para
não alterar o formato original do livro, as novas informações serão
colocadas como notas de rodapé.
a) - O casal com quem ela passa a residir chamava-se José e Edalides
Rezende (era, irmã consanguínea de Eurípedes Barsanulpho).
b) - O Lar de Eurípedes, fundado por D. Corina passou de internato
para semi-internato apenas depois de seu desencarne em 10/02/1980.
c) - Dentre as obras de sua lavra, acrescenta-se: "A Grande Espera",
romance mediúnico datado sobre a era de Jesus e ditado à ela por
Eurípedes Barsanulpho, ed. I.D.E, Araras, S.P.;
d) - Sobre as revistas onde escreveu: "Fon Fon" do Rio de Janeiro
(1939),"Jornal das Moças", Rio de Janeiro e "Revista de Estudos
Psíquicos", editada em Portugal.
43

16
COSME MARIÑO
Nascido em Buenos Aires, República Argentina, no dia 27 de
setembro de 1847, e desencarnado no dia 18 de agosto de 1927, tendo
sido um dos mais destacados propagadores espíritas naquela nação.

Seus pais foram comerciantes modestos e honrados, foi educado dentro


dos princípios da igreja católica e se sentiu atraído para o sacerdócio, no qual
vislumbrou a possibilidade de exercer a sua propensão inata de servidor da
Humanidade.
Fez o curso superior de teologia, convencendo-se logo após de que a sua
vocação não estava circunscrita aos estreitos dogmas da religião dominante.
Abandonou, portanto, a carreira iniciada e ingressou na Faculdade de Direito,
tendo em seguida interrompido também esse curso para entrar na carreira
jornalística, onde junto com José C. Paz fundou o grande diário portenho: "La
Prensa", do qual foi diretor em 1896. Em 1871, tomou parte ativa na heróica
"Comissão Popular", constituída com o objetivo nobilitante de combater a
epidemia de febre amarela que flagelava os seus concidadãos, e embora
tivesse sido contaminado pelo mal, conseguiu restabelecer-se, tendo
posteriormente merecido do povo de Buenos Aires a condecoração da Cruz de
Ferro e a impressão de 5.000 retratos com a inscrição: "O povo a Cosme
Mariño - Epidemia de 1871". No evento a Municipalidade de Buenos Aires
também lhe outorgou oficialmente a medalha de ouro, como prêmio aos seus
nobres serviços.
Em 1872, Mariño dedicou-se de corpo e alma no afã de promover o Comitê
de Ajuda ao Chile, durante a epidemia de varíola. Na qualidade de secretário
desse comitê teve o ensejo de, juntamente com outros abnegados, enviar meio
milhão de pesos, arrecadados em subscrição pública. A Municipalidade de
Santiago do Chile também lhe conferiu uma medalha de ouro como gratidão
pela sua generosidade.
Foi Cosme Mariño fundador da Sociedade Protetora de Inválidos,
conseguindo, graças à sua incessante atividade, construir o Edifício dos
Inválidos. Transferindo sua residência para a cidade de Dolores, na província
de Buenos Aires, no ano de 1874 foi designado membro honorário da
Comissão de Justiça, membro titular do Conselho Escolar e Presidente da
Comissão do Hospital de Dolores.
Nessa cidade teve o apóstolo a oportunidade de assistir a algumas sessões
espíritas, convertendo-se a essa Doutrina. Daí por diante, revelou-se um
verdadeiro paladino da Terceira Revelação. Em 1879 ingressou nos quadros
da "Sociedad Constância", tendo em 1881 tomado parte em sua direção. Em
1882 tornou-se diretor da revista "Constância", pioneira dos periódicos espíritas
na Argentina. Em 1883 foi eleito presidente dessa instituição, desenvolvendo ali
vasto programa de atividade.
No desempenho de sua tarefa jornalística viu-se obrigado a sustentar
acirradas polêmicas com alguns clérigos que viam no Espiritismo um constante
obstáculo à manutenção do domínio da fé cega, e também com alguns
cientistas que viam no Espiritismo tão-somente loucura, fraude e sugestão.
44

Alguns jesuítas que publicaram artigos e opúsculos contrários ao


Espiritismo, mereceram de Mariño a mais ampla refutação, que pulverizou
todas as argumentações.
No dia 3 de abril de 1892, foi vítima de um atentado por parte de uma
fanática de nome Dolores González, que lhe disparou um tiro. Felizmente o fato
não teve maiores consequências.
A vida desse singular personagem foi toda ela entrecortada de gestos
nobres e altruísticos, e não cabe nesta ligeira súmula biográfica enumerar
todos os fatos ocorridos em sua existência, contudo, devemos acrescentar que
Cosme Mariño foi autor brilhante, tendo escrito vários livros; foi inspirador de
várias campanhas, destacando-se uma em favor da aquisição de livros
espíritas para serem revendidos a menor custo; outra em favor do
reconhecimento da Sociedade "Constância" como personalidade jurídica; e
mais as seguintes: formação de uma comissão permanente para auxílios
funerários a indigentes, preparação de enfermeiros através de cursos
adequados, fundação da Confederação Espiritista Argentina, para cuja
concretização colaborou intensamente Antônio Ugarte e outros, organização da
Sociedade Protetora da Criança Desvalida; ação em favor da abolição da pena
de morte na Argentina, campanha contra os falsos médiuns e exploradores do
Espiritismo, e finalmente, em 1925, a inauguração do "Asilo 1º Centenário".
Foi justamente cognominado "Kardec Argentino", pois ele representa para
os espíritas platinos o mesmo que Bezerra de Menezes representa para o
Brasil, e o mesmo que a tríade "Kardec-Denis-Delanne" representa para a
França.
Em outubro de 1947, escrevia Ismael Gomes Braga sobre Cosme Mariño:
"A luta contra os preconceitos materialistas e o fanatismo religioso somente
pode ser levada a bom término por Espíritos muito superiores à massa humana
que habita nosso planeta. O missionário que se encarna para defender uma
idéia nova contra erros arraigados durante milênios, para forçar a Humanidade
a dar um passo mais no caminho do progresso, não pode ser um espírito
comum, porque falharia antes do fim da jornada, espantado pelos ataques de
toda classe de adversários que surgem das trevas, furiosos, defendendo suas
tradições, que julgam sagradas e seus interesses, que consideram divinos.
A luta do missionário argentino foi mais prolongada e mais violenta que a
de Kardec, que trabalhou pelo Espiritismo durante 14 anos, mas Cosme Mariño
teve que lutar meio século para conquistar e consolidar as posições que nos
legou. Foi agredido não somente por palavra e por escrito, senão também por
arma de fogo: uma fanática religiosa tentou assassiná-lo a tiros; sem embargo,
nada o fez desanimar, nada o intimidou, porque foi um grande Missionário
consciente do seu poder, certo do valor imenso da idéia que defendia com risco
da própria vida. A superioridade de Cosme Mariño se revelava em toda sua
vida e lhe conferia um prestígio social que lhe dava autoridade para predicar
essa grande revolução espiritual que é o Espiritismo."
45

17
EMMA HARDINGE BRITTEN
Desencarnada em 1889.

Nenhuma história do Espiritismo seria completa sem referências a essa


notável escritora, que foi denominada Apóstolo Paulo feminino do movimento
espírita. Ela era uma mocinha inglesa que havia ido para Nova Iorque com uma
empresa de teatro e tinha permanecido nos Estados Unidos, onde viveu em
companhia de sua mãe. De educação protestante, repelia com energia
qualquer aproximação com os espíritas, entretanto, no ano de 1856, foi
novamente posta em contato com o Espiritismo, quando teve provas
irrefutáveis das verdades por ele apregoadas. Logo descobriu que era, também
ela, poderosa médium, podendo-se afirmar que um dos casos mais bem
documentados, e que alcançou notável sensacionalismo, foi a sua informação
de que o navio "Pacific" tinha naufragado no Atlântico médio, perecendo todos
os passageiros. Após essa revelação ela foi perseguida pela companhia
proprietária do navio, por haver repetido o que lhe havia dito o Espírito de uma
das vítimas da catástrofe. Verificou-se posteriormente que a sua informação
mediúnica era verdadeira, pois o navio havia realmente naufragado e nunca
mais apareceu.
Em 1866 voltou ela para a Inglaterra, onde desenvolveu intensas
atividades, produzindo duas grandes obras: "Moderno Espiritualismo
Americano" e "Milagres do Século Dezenove", livros esses que representaram
interessantes pesquisas, unidas a um raciocínio claro e lógico. No ano de 1870
casou-se com o Dr. Britten, espírita tão devotado quanto ela. Tudo indica que
foi uma união realmente feliz.
Em 1878 foram à Austrália e Nova Zelândia, na qualidade de missionários
do Espiritismo, ali demorando muitos anos e fundando numerosas sociedades.
Quando na Austrália, ela escreveu: "Fé, Fatos e Fraudes da História
Religiosa", livro que ainda hoje exerce relativa influência.
Entre outros monumentos de sua autoria, Emma Hardinge Britten fundou
"Os Dois Mundos", de Manchester, órgão que ainda atualmente desfruta de
grande circulação, representando um veículo publicitário de grande penetração
em todo o mundo.
Ernesto Bozzano, um dos maiores escritores espíritas, profundo
investigador, homem de ciência, polemista emérito, cuja obra honra e
engrandece a Doutrina Espírita, em notável depoimento escrito para a revista
"La Luz Del Porvenir", relatou que o livro "Moderno Espiritualismo Americano",
lhe foi muito proveitoso no período de sua conversão ao
Espiritismo.
A obra de Emma Harding Britten, nos primórdios do Espiritismo, foi das
mais relevantes, devendo-se a ela grande número de conversões, inclusive de
pessoas de grande projeção na época.
A sua desencarnação aconteceu no ano de 1889.
46

18
EURÍPEDES BARSANULFO
Nascido em 1º de maio de 1880, na pequena cidade de Sacramento,
Estado de Minas Gerais, e desencarnado na mesma cidade, aos 38 anos
de idade, em 1º de novembro de 1918.

Logo cedo manifestou-se nele profunda inteligência e senso de


responsabilidade, acervo conquistado naturalmente nas experiências de vidas
pretéritas.
Era ainda bem moço, porém muito estudioso e com tendências para o
ensino, por isso foi incumbido pelo seu mestre-escola de ensinar aos próprios
companheiros de aula. Respeitável representante político de sua comunidade,
tornou-se secretário da Irmandade de São Vicente de Paula, tendo participado
ativamente da fundação do jornal "Gazeta de Sacramento" e do "Liceu
Sacramentano". Logo viu-se guindado à posição natural de líder, por sua
segura orientação quanto aos verdadeiros valores da vida.
Através de informações prestadas por um dos seus tios, tomou
conhecimento da existência dos fenômenos espíritas e das obras da
Codificação Kardequiana. Diante dos fatos voltou totalmente suas atividades
para a nova Doutrina, pesquisando por todos os meios e maneiras, até
desfazer totalmente suas dúvidas.
Despertado e convicto, converteu-se sem delongas e sem esmorecimentos,
identificando-se plenamente com os novos ideais, numa atitude sincera e
própria de sua personalidade, procurou o vigário da Igreja matriz onde prestava
sua colaboração, colocando à disposição do mesmo o cargo de secretário da
Irmandade.
Repercutiu estrondosamente tal acontecimento entre os habitantes da
cidade e entre membros de sua própria família. Em poucos dias começou a
sofrer as conseqüências de sua atitude incompreendida.
Persistiu lecionando e entre as matérias incluiu o ensino do Espiritismo,
provocando reação em muitas pessoas da cidade, sendo procurado pelos pais
dos alunos, que chegaram a oferecer-lhe dinheiro para que voltasse atrás
quanto à nova matéria e, ante sua recusa, os alunos foram retirados um a um.
Sob pressões de toda ordem e impiedosas perseguições, Eurípedes sofreu
forte traumatismo, retirando-se para tratamento e recuperação em uma cidade
vizinha, época em que nele desabrocharam várias faculdades mediúnicas, em
especial a de cura, despertando-o para a vida missionária.
Um dos primeiros casos de cura ocorreu justamente com sua própria mãe
que, restabelecida, se tornou valiosa assessora em seus trabalhos.
A produção de vários fenômenos fez com que fossem atraídas para
Sacramento centenas de pessoas de outras paragens, abrigando-se nos hotéis
e pensões, e até mesmo em casas de famílias, pois a todos Barsanulfo atendia
e ninguém saía sem algum proveito, no mínimo o lenitivo da fé e a esperança
renovada e, quando merecido, o benefício da cura, através de bondosos
Benfeitores Espirituais.
Auxiliava a todos, sem distinção de classe, credo ou cor e, onde se fizesse
necessária a sua presença, lá estava ele, houvesse ou não condições
materiais.
47

Jamais esmorecia e, humildemente, seguia seu caminho cheio de


percalços, porém animado do mais vivo idealismo. Logo sentiu a necessidade
de divulgar o Espiritismo, aumentando o número dos seus seguidores. Para
isso fundou o "Grupo Espírita Esperança e Caridade", no ano de 1905, tarefa
na qual foi apoiado pelos seus irmãos e alguns amigos, passando a
desenvolver trabalhos interessantes, tanto no campo doutrinário, como nas
atividades de assistência social.
Certa ocasião caiu em transe em meio dos alunos, no decorrer de uma
aula.
Voltando a si, descreveu a reunião havida em Versailles, França, logo após
a 1ª Guerra Mundial, dando os nomes dos participantes e a hora exata da
reunião quando foi assinado o célebre tratado.
Em 1º de abril de 1907, fundou o Colégio Allan Kardec, que se tornou
verdadeiro marco no campo do ensino. Esse instituto de ensino passou a ser
conhecido em todo o Brasil, tendo funcionado ininterruptamente desde a sua
inauguração, com a média de 100 a 200 alunos, até o dia 18 de outubro,
quando foi obrigado a cerrar suas portas por algum tempo, devido à grande
epidemia de gripe espanhola que assolou nosso país.
Seu trabalho ficou tão conhecido que, ao abrirem-se as inscrições para
matrículas, as mesmas se encerravam no mesmo dia, tal a procura de alunos,
obrigando um colégio da mesma região, dirigido por freiras da Ordem de S.
Francisco, a encerrar suas atividades por falta de freqüentadores.
Liderado a pulso forte, com diretriz segura, robustecia-se o movimento
espírita na região e esse fato incomodava sobremaneira o clero católico,
passando este, inicialmente de forma velada e logo após, declaradamente, a
desenvolver uma campanha difamatória envolvendo o digno missionário e a
doutrina de libertação, que foi galhardamente defendida por Eurípedes, através
das colunas do jornal "Alavanca", discorrendo principalmente sobre o tema:
"Deus não é Jesus e Jesus não é Deus", com argumentação abalizada e
incontestável, determinando fragorosa derrota dos seus opositores que, diante
de um gigante que não conhecia esmorecimento na luta, mandaram vir de
Campinas, Estado de S. Paulo, o reverendo Feliciano Yague, famoso por suas
pregações e conhecimentos, convencidos de que com suas argumentações e
convicções infringiriam o golpe derradeiro no Espiritismo.
Foi assim que o referido padre desafiou Eurípedes para uma polêmica em
praça pública, aceita e combinada em termos que foi respeitada pelo conhecido
apóstolo do bem.
No dia marcado o padre iniciou suas observações, insultando o Espiritismo
e os espíritas, "doutrina do demônio e seus adeptos, loucos passíveis das
penas eternas", numa demonstração de falso zelo religioso, dando assim
testemunho público do ódio, mostrando sua alma repleta de intolerância e de
sectarismo.
A multidão que se mantinha respeitosa e confiante na réplica do defensor
do Espiritismo, antevia a derrota dos ofensores, pela própria fragilidade dos
seus argumentos vazios e inconsistentes.
O missionário sublime, aguardou serenamente sua oportunidade, iniciando
sua parte com uma prece sincera, humilde e bela, implorando paz e
tranqüilidade para uns e luz para outros, tornando o ambiente propício para
inspiração e assistência do plano maior e em seguida iniciou a defesa dos
princípios nos quais se alicerçavam seus ensinamentos.
48

Com delicadeza, com lógica, dando vazão à sua inteligência, descortinou


os desvirtuamentos doutrinários apregoados pelo Reverendo, reduzindo-o à
insignificância dos seus parcos conhecimentos, corroborado pela manifestação
alegre e ruidosa da multidão que desde o princípio confiou naquele que
facilmente demonstrava a lógica dos ensinos apregoados pelo Espiritismo.
Ao terminar a famosa polêmica e reconhecendo o estado de alma do
Reverendo, Eurípedes aproximou-se dele e abraçou-o fraterna e sinceramente,
como sinceros eram seus pensamentos e suas atitudes Barsanulfo seguiu com
dedicação as máximas de Jesus Cristo até o último instante de sua vida
terrena, por ocasião da pavorosa epidemia de gripe que assolou o mundo em
1918, ceifando vidas, espalhando lágrimas e aflição, redobrando o trabalho do
grande missionário, que a previra muito antes de invadir o continente
americano, sempre falando na gravidade da situação que ela acarretaria.
Manifestada em nosso continente, veio encontrá-lo à cabeceira de seus
enfermos, auxiliando centenas de famílias pobres. Havia chegado ao término
de sua missão terrena. Esgotado pelo esforço despendido, desencarnou no dia
1º de novembro de 1918, às 18 horas, rodeado de parentes, amigos e
discípulos.
Sacramento em peso, em verdadeira romaria, acompanhou-lhe o corpo
material até a sepultura, sentindo que ele ressurgia para uma vida mais
elevada e mais sublime.
49

19
FRANCISCO ANTÔNIO BASTOS
Nascido em São Paulo, no dia 6 de janeiro de 1850 e desencarnado
no dia 19 de agosto de 1929, com a idade de 79 anos.

Muito jovem dedicou-se aos trabalhos altruísticos ao lado da grande


missionária Anália Franco, fazendo as escritas fiscais de mais de 70 obras
assistenciais por ela fundadas no Estado de São Paulo, abrangendo Escolas
Maternais, Escolas Elementares, Albergues Noturnos, Colônia Regeneradora,
vinte e três lares para crianças abandonadas e um Patronato Agrícola.
A convivência de Anália Franco e Francisco Antônio Bastos no trabalho
cristão e espírita da assistência social era tão antigo que, no ano de 1906,
apesar de ambos terem mais de 50 anos de idade, resolveram casar-se,
unindo assim os seus esforços para que a obra não viesse a sofrer solução de
continuidade.
No decurso da 1ª Guerra Mundial profunda crise avassalou as instituições
mantidas pelo casal, devido aos cortes nas subvenções oficiais e outros
auxílios recebidos da população. Essa situação de emergência fez com que o
casal promovesse extensa excursão artística pelas cidades do interior do
Estado, levando a "Banda Musical Feminina Regente Feijó", composta por
suas educandas e por um Grupo Dramático formado pelas participantes da
"Colônia Regeneradora D. Romualdo". Deste modo foram conseguidos os
recursos necessários para a manutenção daquelas instituições: duzentos e
trinta contos de réis, pequena fortuna naquela época.
Anália Franco, que após o seu consórcio acrescentou ao seu nome o
sobrenome Bastos, imortalizou-se como figura máxima de mulher dedicada e
bondosa, conseguindo projetar seu nome em todo o Brasil, dado o seu trabalho
infatigável e entrecortado de idealismo. Francisco Antônio Bastos foi o seu
assessor mais dedicado, desde os primórdios do seu trabalho, apagando-se na
humildade e dando os mais vivos testemunhos na singular prova de amor
espiritual, que o ligava àquela renomada seareira.
Após a desencarnação de Anália, ocorrida no dia 13 de janeiro de 1919,
como prova de sua dedicação e afeto, fundou o "Asilo de Órfãos Anália
Franco", na cidade mineira de Juiz de Fora, fato ocorrido em junho desse
mesmo ano, tudo com o objetivo de perseverar na difusão dos benefícios que
sua esposa se acostumara a realizar e dos quais o seu magnânimo coração
era vasto celeiro.
Na cidade de Juiz de Fora sofreu a incompreensão da população.
Encontrou na cidade a mais tenaz resistência, pois dada a sua condição de
espírita, esbarrou com a intolerancia religiosa ali prevalecente. O povo somente
acatava solicitações feitas pela religião majoritária. Batalhador infatigável,
sofreu toda a sorte de perseguições, inspiradas pelo pároco da igreja local,
vendo-se finalmente na dura contingência de transferir a sede da instituição
para o Rio de Janeiro, onde se instalou em maio de 1922, no bairro do Méier.
Com a ajuda de um grupo dedicado de auxiliares, conseguiu receber o apoio
irrestrito de muitos, e sem qualquer espírito de hegemonia, elevou a simpática
instituição a uma situação bastante privilegiada.
50

Com o decorrer do tempo conseguiu adquirir bela e acolhedora casa na


Rua da Figueira, hoje Avenida Marechal Rondon, no bairro do Rocha, onde a
instituição se consolidou de forma definitiva.
É digno de registro que a fundação do Lar dos Órfãos em Juiz de Fora,
como salutar exemplo de desprendimento desse grande apóstolo da caridade,
deve-se inteiramente ao montepio legado por sua esposa, na importância de
dezesseis contos de réis que, num gesto liberal muito do seu feitio, doou à
instituição, fazendo questão que essa doação constasse de uma das atas de
sua diretoria, lavrada em fins de 1922.
Francisco Antônio Bastos era intimorato empreendedor de obras sociais,
deixando entrever o seu espírito sonhador, arguto e realizador, assessorando
Anália Franco na disseminação de numerosas obras assistenciais que
passaram a constituir uma das mais monumentais realizações da época.
Contagiado pelo espírito de luta de sua companheira desencarnada, ele
adquiriu a virtude de tudo vencer sem esmorecimento. Organizou numerosas
instituições espíritas onde atuou como dirigente; editou duas revistas:
"Nova Revelação" e "Natalício de Jesus", tornando-se o seu redator-chefe,
órgãos esses que pertenciam à Colônia Regeneradora D. Romualdo. Sua
incrível operosidade, espírito de sacrifício, energia e perseverança no bem,
traduziram-se em autênticas conquistas espirituais. Foi também dedicado
trabalhador no campo da difusão doutrinária do Espiritismo, proferindo
conferências e encetando tarefas de diversos matizes. Foi verdadeiro "pai"
para as crianças abrigadas no "Anália Franco", as quais o estimavam e
respeitavam sobremaneira, dispensando-lhe carinho e gratidão.
Seu regresso ao plano espiritual foi precedido de insidiosa enfermidade que
o prendeu ao leito por vários dias. O venerando velhinho de longas barbas e
grande coração foi autêntico seguidor de Jesus Cristo, pois tudo o que fez ele,
aprendeu a fazê-lo nas páginas dos Evangelhos, assim como os consoladores
ensinamentos que sabia espargir, ele os assimilou nas obras básicas da
Doutrina Espírita.
(Subsídios fornecidos por Antônio de Souza Lucena)
51

20
FREDRICH MYERS
Nascido em Keswick (Cumberland), Inglaterra, a 6 de fevereiro de
1843, e desencarnado em Roma, Itália, a 17 de janeiro de 1901.

Fredrich William Henry Myers, mais conhecido por Fredrich Myers, foi
erudito literato inglês, famoso pelos seus escritos notáveis e estudos sobre os
fenômenos espíritas.
Educou-se no Colégio da Trindade, de Cambridge, e, após ter colimado
uma série apreciável de triunfos, foi nomeado professor do mesmo instituto de
ensino e, em 1872, inspetor de todas as escolas do Distrito. Nessa época já
havia publicado um poema intitulado "São Paulo". Nos anos de 1870 e 1872
lançou mais dois volumes de poesias. Em 1883 publicou seus "Ensaios
Clássicos e Modernos" (Essays Classical and Modern), obra que alcançou
notável valor literário.
No ano de 1882, após vários ensaios, estudos e discussões, figurou, em
primeiro lugar, na lista dos fundadores da "Sociedade de Investigações
Psíquicas de Londres", tornando-se o porta-voz da mesma sociedade, dando
sua contribuição valiosa na revisão da magistral obra "Fantasma dos Vivos"
(1886), cuja introdução escreveu. De sua autoria é ainda a obra "A Ciência e a
Vida Futura".
Posteriormente à sua desencarnação foi publicado seu livro "Human
Personality and its Survival of Bodily Death", vertido para o português com o
título "A Personalidade Humana" obra que constituiu, de direito e de fato,
preciosa contribuição no campo das investigações psíquicas e que foi
qualificada pelo saábio William James como a primeira tentativa de se
considerar os fenômenos de alucinação, hipnotismo, automatismo e dupla
personalidade como partes de um só todo.
A sua obra "A Personalidade Humana" foi dedicada a Henry Sidgwick e a
Edmond Gurney, constituindo um repositório de fulgurantes ensinamentos.
Nessas Myers proclama que "assim como Sócrates fez descer a Filosofia
do Céu para a Terra, o médium Emmanuel Swedenborg foi quem levantou a
Filosofia da Terra para o Céu".
O Espiritismo muito deve a Fredrich Myers pelo interesse que sempre
demonstrou pelas pesquisas dos fenômenos psíquicos e pelo idealismo que o
norteou, procurando convencer muita gente mediante um trabalho metódico e
de divulgação das verdades espíritas, através de obras que tiveram o mérito de
sensibilizar muitas pessoas de notória influência, dentre elas Sir" Arthur Conan
Doyle, o genial criador de "Sherlock Holmes", que chegou a afirmar num dos
seus relatos que a obra de Fredrich Myers "A Personalidade Humana" foi
aquela que mais o impressionou, contribuindo decisivamente para a sua
conversão ao Espiritismo. Em sua obra "História do Espiritismo", Conan Doylc
presta testemunho sobre Myers, asseverando:
"A Fé que F. W. H. Myers havia perdido no Cristianismo foi restaurada pelo
Espiritismo". Em seu livro "A Fé Final", diz ele: "Não posso, num sentido
profundo, contrastar a minha crença atual com o Cristianismo. Considero-a
antes um desenvolvimento científico da atitude e do ensino do Cristo".
52

Fredrich Myers foi, como decorrência, um dos mais eruditos pesquisadores


do século passado e sua contribuição em favor da divulgação dos postulados
espíritas foi das mais apreciáveis.
53

21
REV. GEORGE VALE OWEN
Célebre médium inglês desencarnado a 9 de março de 1931.

Um periodista inglês que, na década de 1920, se atrevesse a tratar temas


espíritas devia possuir muita perspicácia e muita coragem, sustentados por
uma autoridade indiscutível.
Esse periodista foi Lord Northcliffe, que o fez publicando nada menos que
os escritos recebidos mediunicamente pelo famoso médium britânico Rev.
George Vale Owen. As publicações do "Correio Semanal", contendo tais
escritos despertaram inusitado interesse, tanto na Inglaterra como em outros
países, o que aliás redundou num ataque sistemático por parte das Igrejas, que
movimentaram todos os seus recursos materiais com o objetivo de minorar os
"catastróficos efeitos" que estavam produzindo em todas as camadas da
sociedade os escritos de Vale Owen.
Quem era George Vale Owen, que deste modo alterava a calma natural de
todos e produzia semelhante impacto nas arraigadas convicções religiosas do
conservador povo britânico?
Vale Owen era um sacerdote, membro de poderosa ramificação religiosa
que havia monopolizado o sentimento de religiosidade dos povos da Inglaterra
e de outras nações. Nessa altura dos acontecimentos ele já estava trabalhando
nas lides espíritas e havia-se integrado entre os homens de renome que deram
grandes passos no sentido de implantar as idéias espíritas naquele país.
Os problemas relacionados com o Espírito, despertaram em Owen a
intenção de fazer com que um novo conceito de Deus se tornasse acessível às
criaturas humanas, conceito esse despojado de dogmas, de ritos, de fanatismo
e de obscurantismo. Animado desse propósito foi buscar na carreira
eclesiástica um meio mais rápido e eficiente de colocar-se em contacto com as
almas daqueles que desejavam encaminhar-se para uma vida melhor e mais
segura, no além-túmulo.
Aconteceu a Vale Owen o que sucede geralmente com muitas pessoas
dotadas de poderosa vocação: distanciou-se do roteiro palmilhado por
sacerdotes sectaristas. O seu objetivo foi então o de procurar
desesperadamente a verdade, o único caminho que conduz a Deus.
Owen conseguiu chegar ao sacerdócio solidamente alicerçado nos
princípios filosóficos e científicos, os quais lhe propiciaram profunda
perspicácia no sentido de adentrar o âmago de todas as questões que
reclamam a atenção da mente humana.
Realizou seus primciros estudos no famoso "Colégio da Rainha", passando
em seguida ao Instituto Midland, onde atingiram os mais elevados graus os
seus conhecimentos científicos e religiosos.
Ordenou-se sacerdote em Liverpool, quando tinha apenas 24 anos de
idade, tendo sido designado para desempenhar o seu ministério no humilde
curato de Seaford. Ele era um homem humilde, embora atrás dessa humildade
cristã ocultasse uma fortaleza de ânimo e um Espírito sempre predisposto para
a luta. Devido a essa humildade e apesar de sua sólida formação espiritual,
jamais logrou alcançar um lugar proeminente no seio do clero ou qualquer
projeção dentro de sua Igreja.
54

Os desígnios de Deus, no entanto, eram outros, e nos humildes curatos de


Seaford, de Pairfields e de S. Mateus, bem como nos subúrbios de Liverpool e
mais tarde nas cercanias de Oxford, dedicou-se com verdadeiro devotamento
ao seu ministério, e quanto mais se sentia perto de Deus, mais ficava abalado
em sua situação de sacerdote.
No propósito de buscar um contacto mais íntimo com o mundo espiritual
lembrou-se do "Batei e abrir-se-vos-á" dos ensinamentos evangélicos e, com
isso viu desabrochar a sua mediunidade, graças à interferência de sua mãe,
desencarnada em 1909, e que começou a dar suas primeiras manifestações
em 1913.
A princípio ele relutou em aceitar a realidade dos fatos, dado o seu
excessivo apego à verdade. Não tardou muito em ter as provas mais
convincentes, o que fez com que se convertesse inteiramente ao espiritismo.
As mensagens recebidas foram condensadas em quatro livros. Nessa
época começou a receber mensagens de um Espírito que se intitulava "Astriel"
mensagens essas eivadas da mais profunda filosofia. Sua primeira obra, "Os
baixos Campos do Céu" e, logo a seguir, "Os Altos Campos do Céu", tiveram
notável repercussão. A fase seguinte foi a publicação do livro "Os Mistérios do
Céu", inspirada por um Espírito que se subscrevia "Leader".
Espírito esse que assumiu um controle único sobre todas as comunicações
dadas posteriormente e cujo nome ele próprio mudou para "Ariel", formando o
quarto e último livro "Os Batalhões do Céu".
Os prólogos das obras de Vale Owen foram elaborados por "Sir" Arthur
Conan Doyle, o genial criador de Sherlock Holmes, o que demonstra o elevado
sentido das comunicações recebidas do plano espiritual. Num desses prólogos
dizia o famoso escritor inglês: "Com que segurança se afirma que Deus fechou
as fontes da inspiração há 2000 anos. Não é infinitamente mais razoável dizer-
se que um Deus vivente continua demonstrando sua força vivente e que novas
ajudas e novos conhecimentos continuam a ser por ele derramados para
impulsionar a evolução dos homens?"
Lord Northcliffe tinha sérias e profundas inquietudes espiritualistas que em
nenhum momento foram sufocadas por sua imensa fortuna material. Ele
descobriu Vale Owen e por isso pôs sua fortuna e influência no afã de divulgar
as obras do famoso médium, não receando jamais colocar em jogo o seu
prestígio e a sua fortuna, na realização de uma obra que ele considerava
extraordinária e mesmo absurda e atrevida para a época. Ele era um periodista
de nervos fortes, de coração e de vocação, que jamais titubeou em publicar o
que era atualidade e realidade, mesmo que isso viesse a redundar num abalo
do seu prestígio de diretor de uma cadeia enorme de jornais diários.
Lord Northcliffe afirmou ainda, referindo-se a Owen: "Encontrei-me frente a
um homem dotado de grande sinceridade e de uma convicção inabalável; era
possuidor de grandes dotes espirituais e quando lhe ofereci grossa quantia em
dinheiro para a publicação de suas obras, ele a recusou, solicitando apenas o
suficiente para uma modesta publicação de seus livros.
Essas obras poderiam dar a Vale Owen imensa fortuna, dado o interesse
que elas despertaram; poderiam ter dado ao médium facilidades para deixar o
pobre quarto onde habitava em Oxford, podendo ainda, com esse dinheiro,
aspirar a uma paróquia mais respeitável, entretanto, tudo foi recusado por ele e
esse dinheiro foi investido por Lord Northcliffe em obras filantrópicas.
55

Os trabalhos do médium, publicados no "Correio Semanal", fizeram com


que esse periódico atingisse tiragens surpreendentes. Suas obras são
conhecidas na Inglaterra por "Escrituras de Owen". Sabe-se que a versão de
seus livros para o vernáculo seria sob o título "A Vida Além do Véu".
O êxito colimado por ele no campo espírita acarretou-lhe a perda da sua
paróquia, pois a ela teve que renunciar, perdendo a fonte de onde tirava o
necessário para o seu sustento. Nesse evento ele proclamou: "Muitos são os
que podem ser vigários de Oxford, porém não são muitos os que podem fazer
o meu trabalho de propaganda".
Aos 53 anos de idade George Vale Owen iniciou sua tarefa de divulgação
do Espiritismo. Dirigiu-se aos Estados Unidos da América onde ele já estava
bem difundido, fazendo ali muitas prédicas, grangeando grande número de
amigos e discípulos, tendo posteriormente regressado à Inglaterra, onde
proferiu mais de 150 conferências, esgotando todos os seus recursos materiais
e ficando quase na indigência.
"Sir" Arthur Conan Doyle, seu grande amigo, saiu em seu auxílio e
encabeçou uma coleta com o nome de "Caixa de Vale Owen", que se encheu
prontamente, porém o médium não fez dela qualquer uso.
Em 1931 foi acometido de grave enfermidade, porém, prosseguiu na tarefa
de propaganda sem dar demonstrações das horríveis dores que o acometiam.
No dia 9 de março desse mesmo ano veio a desencarnar.
56

22
GUILHERME TAYLOR MARCH
Nascido no planalto da Serra dos Órgãos, atualmente cidade de
Teresópolis, no Estado do Rio de Janeiro, no dia 21 de agosto de 1838, e
desencarnado na cidade de Niterói no mesmo Estado, no dia 21 de junho
de 1922.

Era filho de George March, cidadão nascido e criado em Portugal, mas


inglês por direito diplomático, e de D. Ignácia March, de nacionalidade
brasileira.
George March havia adquirido, antes de 1821, uma gleba de mais de 170
milhões de metros quadrados de terra, que destinou à agricultura e à criação
de cavalos de raça. Essa enorme Fazenda que primitivamente se chamava
Fazenda dos Órgãos, passou a ser denominada Fazenda do March. A atual
cidade de Teresópolis, no Estado do Rio de Janeiro, foi construída dentro de
seus limites.
Com a desencarnação de seu pai, Guilherme Taylor March, que nessa
época tinha apenas 12 anos de idade, foi confiado a um tutor nomeado pela
Justiça, o qual despendeu enormes quantias para que o jovem alcançasse
aprimorada cultura, matriculando-o em vários colégios e posteriormente na
Faculdade de Medicina da Corte, onde recebeu seu diploma de médico no dia
30 de novembro de 1859.
O seu tutor foi demasiadamente pródigo no trato de seus bens, não
administrou suas propriedades e depósitos bancários com a devida precaução,
fazendo com que Guilherme March ficasse arruinado de bens materiais.
Tendo sido acometido de varíola e, vivendo numa habitação coletiva, teria
que ser removido para um hospital, entretanto, uma senhora espírita tratou-o
com remédios homeopáticos, fazendo com que ele se restabelecesse, sem
sequer ficar marcado pelas cicatrizes deformantes que as pústulas produzem.
Esse fato fez com que Guilherme March se tornasse apologista da ciência de
Hahnemann, passando a praticar essa terapêutica até a data da sua
desencarnação.
Observando os exemplos vivos propiciados pela sua hospedeira e por um
velho espírita chamado Nascimento, que curava muita gente através da
homeopatia e da sua mediunidade, mudou de modo de pensar. Viu que o
verdadeiro Deus era diferente daquele que lhe mostraram no Colégio. Os
exemplos vividos por ambos fizeram com que se interessasse pelo estudo das
obras básicas de Allan Kardec, pois era muito culto, estudioso e poliglota.
Sua conversão foi comprovada pelo seu filho Edmundo March, em carta
datada de 22 de setembro de 1940, onde dizia: "Não fazendo alarde de sua
crença, não a negava em absoluto. Educado como geralmente todos os do seu
tempo, na religião católica, procurou, depois de emancipado, conhecer a
Doutrina de Kardec e, tendo encontrado nela a melhor forma de Cristianismo,
adotou-a".
O Dr. March manteve relações cordiais com muitos vultos conhecidos do
Espiritismo daquela época, dentre eles os Drs. Faria Júnior, Figueiras Lima, o
médium Nascimento e muitos outros.
Desprendendo-se de todo interesse material, passou a integrar-se
inteiramente, de dia e de noite, sem fadigas nem revoltas, à tarefa sublime de
57

suavizar os sofrimentos do próximo, tendo por isso merecido o cognome de


"Pai dos Pobres". Fez isso por mais de cinquenta anos, descuidando-se de si e
da própria saúde, numa afirmação patente de renúncia e de dedicação,
tornando-se, por isso mesmo, um homem que realmente viveu os
ensinamentos evangélicos, levando a paz e a saúde a milhares e milhares de
sofredores de todos os matizes. Chegava mesmo a rasgar as próprias vestes a
fim de enxugar lágrimas alheias.
Alcançando grande projeção na cidade, muitos sacerdotes católicos
tentaram atraí-lo, mesmo nos últimos momentos de sua vida, procurando fazê-
lo em confissão, sendo preciso que seu filho lhes dissesse, sem rebuços, que
não mais permitiria aquele assédio impertinente, porque seu pai desde muito
adotara o Espiritismo e não aceitava dogmas e sacramentos religiosos.
O Dr. March casou-se no Rio de Janeiro, em 1860, com D. Francisca de
Paula Correia March. Pouco depois transferiu sua residência para Niterói, no
Estado do Rio de Janeiro, onde começou a clinicar intensamente. Possuía
enorme clientela. A todos os pacientes que o procuravam ele passava a
considerar um membro da sua família e, portanto, com direito à sua assistência
material. Os pobres da cidade faziam verdadeiras romarias à sua casa,
modesta residência onde morava e onde vivia do modo mais humilde possível.
O nosso biografado ocupou um único emprego, o de clínico do consultório
homeopático criado na Santa Casa de Misericórdia de Niterói, inicialmente sem
remuneração e posteriormente recebendo o salário de cinquenta mil-réis
mensais.
Dada a sua dedicação extrema à pobreza, apesar de possuir uma das
clínicas mais vastas da capital fluminense a sua renda era por demais
reduzida. Sua situação econômica tornou-se muito crítica devido à enfermidade
que o atacara na mocidade e que começava a tolher-lhe os movimentos
locomotores.
Nessa altura dos acontecimentos, a massa anônima, percebendo a
situação precária em que vivia o grande missionário do bem, adquiriu e lhe fez
doação de uma casa para que ele pudesse nela residir. Uma comissão de
senhoras da melhor sociedade fluminense fez nova subscrição para adquirir os
móveis.
Tomando posse daquele imóvel, o Dr. March abriu-lhe as portas de par em
par, e nunca mais as fechou, para que por ela entrassem livremente todos os
infortunados e por isso exclamava: "Esta casa não é minha, mas de todos os
que não tem teto".
Durante cerca de 33 anos residiu o Dr. March na casa que lhe havia sido
doada pelo povo e para onde entrou já enfermo. Posteriormente esse imóvel foi
reformado a expensas do governo municipal.
No dia 21 de junho de 1922, com a avançada idade de 84 anos, dos quais
63 dedicados ao exercício de atividades profissionais, desencarnou o velho
apóstolo do bem. O sepultamento dos seus restos mortais foi uma apoteose.
O povo em massa acorreu e carregou-lhe o féretro nos braços, até o
cemitério, onde foi sepultado com flores e lágrimas. A Prefeitura Municipal de
Niterói custeou-lhe os funerais e mandou que fosse hasteado, por 48 horas, o
pavilhão municipal.
O seu nome foi dado a um logradouro público da cidade. A Federação
Espírita do Estado do Rio de Janeiro, denominou "Instituto Dr. March" a um
58

grande e modelar educandário por ela fundado, onde estão abrigadas mais de
100 meninas.
Esta é, portanto, a súmula muito apagada de sua grande vida. De um
homem que, imobilizado em seu leito de dor durante 20 anos, mesmo assim
socorria a todos aqueles que o procuravam. Trabalhou para minorar os
sofrimentos alheios, sem encontrar quem pudesse suavizar os seus próprios
sofrimentos.
Na sua vida profissional havia assumido consigo mesmo o compromisso
solene de cuidar dos aflitos e dos doentes, e assim a todos atendeu, não
apenas receitando, mas doando os próprios medicamentos, no que era
ajudado pela sua própria família que chegava muitas vezes a se privar de
muitas coisas.
Imobilizado sobre o leito, este virtuoso homem, cuja bondade o santificou
em vida, nunca esboçou um murmúrio contra a justiça do Criador, jamais teve
uma imprecação contra as provações que o acometiam.
(Subsídios fornecidos por Alfredo D'Alcântara)
23
INÁCIO BITTENCOURT
Nascido a 19 de abril de 1862, na Ilha Terceira, Arquipélago dos
Açores, Freguesia da Sé de Angra do Heroísmo (Portugal), e
desencarnado no Rio de Janeiro a 18 de fevereiro de 1943.

Em plena juventude, emigrou para o Brasil, sem alimentar idéia de


enriquecimento, mas buscando um ideal que sua intuição afirmava poder
encontrar em sua segunda pátria.
Sem qualquer proteção ou amparo, desembarcou no Rio de Janeiro,
sozinho e com irrisória quantia no bolso. Entretanto, já era um jovem de caráter
sério e de grandes dotes morais.
Inácio Bittencourt foi um desses abnegados, que só se alegravam com a
alegria do seu semelhante. Por isso foi aquinhoado com a mediunidade natural,
que geralmente depende da evolução espiritual do indivíduo. Ela surgiu
espontaneamente, sem qualquer esforço de planejamento, como um imperativo
da essência de sua alma boa e sempre disposta à prática do bem.
Aos vinte anos de idade inteirou-se da verdade espírita. Bastante enfermo e
desesperançado, foi levado à presença de um médium chamado Cordeiro,
residente na Rua da Misericórdia, no Rio de Janeiro, e, graças ao auxílio
espiritual recebido, teve a sua saúde completamente restabelecida.
Inconformado com a rapidez da cura, voltou e indagou do médium: "Não
sendo o senhor médico, não indagando quais eram os meus padecimentos e
não me tendo auscultado ou apalpado qualquer um dos órgãos, como pôde
curar-me?"
E a resposta veio incontinenti: "Leia "O Evangelho Segundo o Espiritismo" e
"O Livro dos Espíritos". Medite bastante e neles encontrará a resposta para a
sua indagação".
Bittencourt seguiu o conselho e, desde logo, com grande surpresa e
naturalidade, se apresentaram nele algumas faculdades mediúnicas.
Descortinando novos horizontes, rompido o véu que impedia que
conhecesse novas verdades, integrou-se resolutamente na tarefa de
divulgação evangélica e de assistência espiritual aos mais necessitados.
59

Bem cedo, com trinta anos de idade, sua personalidade alcançou grande
destaque nos meios espíritas e mesmo fora deles. Poderia ter alcançado
culminância na política, desde que aceitasse a indicação de seu nome para
uma chapa de deputado, uma vez que era apoiado por vários senadores da
República. Sua vitória na eleição não sofreria dúvida. Porém, sempre humilde,
fugindo aos movimentos alheios à caridade, preferiu viver no seu mundo, no
qual reinava a figura exponencial e amorosa de Jesus Cristo.
Fundou a 1º de maio de 1912, e dirigiu-o durante mais de trinta anos, o
semanário "Aurora", que se tornou conhecido e apreciado veículo de
divulgação doutrinária. Sob sua presidência foi fundado em 1919 o "Abrigo
Tereza de Jesus", tradicional obra assistencial até hoje em pleno
funcionamento, com larga soma de benefícios a crianças desamparadas, de
ambos os sexos.
Fundou o Centro Cáritas, juntamente com Samuel Caldas e Viana de
Carvalho, presidindo-o até a data da sua desencarnação. Tomou parte ativa na
fundação da "União Espírita Suburbana" e do "Asilo Legião do Bem", que
acolhe vovozinhas desamparadas. Durante alguns anos exerceu também a
Vice-Presidência da Federação Espírita Brasileira, presidiu o "Centro
Humildade e Fé", onde nasceu a "Tribuna Espírita", por ele dirigida durante
alguns anos.
A mediunidade receitista e curadora de Inácio Bittencourt mereceu diversas
opiniões. Algumas vezes chegou a ser processado "por exercício ilegal da
medicina", mas sempre foi absolvido. Em 1923 houve um acordão importante
do Supremo Tribunal Federal, a respeito.
Certa vez, no Centro Cáritas, ao ensejo de uma prece, ouviram-se na sala,
de forma bastante nítida, acordes de um violino. O artista invisível executava
estranha e belíssima melodia, envolvendo a todos em profunda emoção.
Bittencourt, então, salientou que aquela audição representava magnânima
manifestação da graça de Jesus Cristo, permitindo que chegasse ao grupo o
de que mais ele necessitava, para compreender a ressonância de uma prece
sincera no plano divino.
Manifestações dessa natureza não eram raras no Centro Cáritas,
possibilitando sempre vibrações amorosas dos encarnados, protegidas pelos
Mentores Espirituais, de maneira que essas forças ali chegavam para as
sensibilizantes demonstrações de afeto e carinho.
Não foi somente como médium receitista e curador que Inácio Bittencourt
grangeou a notoriedade, a estima e a admiração de todos, mas igualmente
como médium apto a receber do Alto maravilhosa inspiração que, durante larga
fase do seu mediunato, se manifestou notória e admirável, sempre que ele
assomava às tribunas doutrinárias, principalmente à da Federação Espírita
Brasileira, a cujas sessões de estudos comparecia com bastante assiduidade.
Embora não fosse dotado de cultura acadêmica, escrevia artigos
doutrinários de forma surpreendente, e fazia uso da palavra em auditórios
espíritas de forma bastante eloqüente. O simples fato de dirigir um jornal de
grande penetração como o foi "Aurora", demonstra a fibra e o valor desse
seareiro incomparável e incansável.
Com 80 anos de idade, retornou à patria espiritual, após lenta agonia.
Dias antes da sua desencarnação, com a coragem e a serenidade de um
justo, ditara para os seus familiares os termos do convite para os seus funerais:
60

"A família Inácio Bittencourt comunica o seu falecimento. A pedido do


morto, dispensam-se flores". Dona Rosa, sua bondosa companheira, ponderou:
"Você amontoou flores na vida terrena, e essas flores virão agora engalanar a
sua vida espiritual". O velho seareiro, dando, mais uma vez, prova admirável da
capacidade de transigência do seu Espírito altamente evoluído, aquiesceu:
"Está bem. Concordo com você e aceito as flores. Elas significarão a simpatia e
o afeto de bondosos amigos para com o meu Espírito. Mas desejo que se
transformem na derradeira homenagem que presto a você, nesta encarnação,
ofertando-lhas logo após recebê-las.
Nosso filho Israel se encarregará de proceder à oferenda".
Inácio Bittencourt foi um exemplo vivo de virtudes santificantes. A todos os
golpes de malquerença e a todos os gestos de ofensa, sempre replicava com
sorriso e perdão. Soube sempre ser tolerante e compreensivo para com
aqueles que o criticavam. Levou sempre a assistência material e espiritual a
todos aqueles que dela necessitavam, fazendo com que sua ação fecunda e
benfazeja se baseasse sempre nos lídimos preceitos evangélicos, pois, como
poucos, ele soube viver e praticar os ensinamentos do Meigo Rabi da Galiléia.
Falando com clareza e simplicidade, esforçou-se sempre em desvendar,
para os seus semelhantes, o véu que oculta as verdades eternas que os
homens chamam de mistérios divinos. Caminhou sempre sem protestos ou
lamentações.
Que a vida bem vivida desse grande propagador do Espiritismo possa nos
servir de bússola a fim de nos orientar nos momentos de vacilações e de
tribulações.
As curas operadas através da mediunidade de Inácio Bittencourt foram das
mais marcantes. Inúmeros casos, que eram considerados perdidos pela
medicina oficial, foram resolvidos pela sua interferência, tornando-se assim um
ponto de convergência para os sofredores de todos os matizes.
(Subsídios fornecidos por Artur Silva Araújo)
61

24
JOÃO BATISTA PEREIRA
O Dr. João Batista Pereira foi notável advogado, nascido na cidade
de Cachoeiro do Itapemirim, Estado do Espírito Santo.

Exercendo a advocacia no foro de S. Paulo, ali desenvolveu intensa tarefa


em favor da divulgação do Espiritismo, principalmente nos idos de 1935 a
1940, quando se salientou como figura de projeção em quase todas as
realizações do movimento espírita.
Tribuno eloqüente e dotado de elevado conhecimento dos assuntos
doutrinários, conseguiu empolgar grandes auditórios, o que fez com que seu
nome se tornasse conhecido de todos os espíritas, principalmente no Estado
de São Paulo.
Foi presidente do Conselho Deliberativo da extinta Sociedade Metapsíquica
de S. Paulo (S.M.S.P.) e um dos mais assíduos colaboradores da famosa
revista "Metapsíquica", que durante muitos anos circulou no Brasil. Em março
de 1936, foi um dos animadores da realização da Semana Metapsíquica, que
culminou com a sessão solene de encerramento, no Teatro Municipal de S.
Paulo, com o comparecimento de representações dos Estados do Paraná,
Espírito Santo, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro e do antigo Distrito
Federal. O seu esforço não se limitou à tribuna e imprensa espíritas, fez
também publicar longos artigos de propaganda dos ideais espíritas na
imprensa leiga. Na edição de 3 de outubro de 1936, do tradicional órgão da
imprensa paulista "Correio Paulistano", fez publicar substancioso trabalho
sobre a personalidade de Allan Kardec, o qual ocupou duas páginas.
O trabalho de divulgação do Espiritismo, encetado por João Batista Pereira
foi dos mais relevantes. Várias cidades do Estado de S. Paulo e de outros
Estados do Brasil foram percorridas por ele, em autênticas tarefas doutrinárias.
No dia 30 de janeiro de 1937, inaugurou uma série de
conferências na sede da União Espírita Mineira, sediada em Belo
Horizonte.
Em 11 de dezembro de 1938, teve posição de destaque na realização da
Grande Concentração Espírita, levada a efeito no Teatro Municipal de
Araraqüara, Estado de S. Paulo, conclave inteiramente transmitido pela PRD-4-
Rádio Cultura de Araraqüara, emissora que até poucos meses antes vinha
sendo invariavelmente utilizada por Caírbar Schutel, na difusão de suas
memoráveis conferências.
Quando, na presidência do Conselho Deliberativo da Sociedade
Metapsíquica de S. Paulo, se concretizou a integração dessa sociedade e da
Associação Espírita S. Pedro e S. Paulo na Federação Espírita do Estado de S.
Paulo, extinguindo-se as duas primeiras e permanecendo somente a última.
No dia 20 de novembro de 1938, com a renúncia do então presidente e de
outros diretores dessa Federação, numa chapa da qual constava o nome do
Prof. Américo Montagnini, para vice-presidente, e Flávio Antônio Paciello, para
segundo tesoureiro, o Dr. João Batista Pereira foi eleito
presidente, cargo que desempenhou com apreciável descortino até o dia 10
de dezembro de 1939, quando resignou, passando a elevada investidura ao
seu substituto legal.
62

À frente da Federação Espírita do Estado de S. Paulo, desenvolveu ingente


tarefa, dinamizando seus trabalhos, devendo-se a ele a ampliação da sede
própria dessa instituição, na Rua Maria Paula, 158, cuja inauguração oficial
ocorreu no dia 31 de maio de 1939. Sob a sua presidência, a Federação
inaugurou nova fase de atividades, projetando-se como um dos mais laboriosos
núcleos de ação em favor do movimento espírita.
Pouco sabemos da vida pública do Dr. João Batista Pereira. Entretanto,
teve grande repercussão em S. Paulo, a sua nomeação, pelo governo federal,
em outubro de 1939, para o elevado cargo de membro do Conselho
Administrativo da Caixa Econômica Federal em S. Paulo, função que exerceu
com eficiência e dedicação.
63

25
JOÃO FUSCO (JOFUS)
João Fusco, mais conhecido por Jofus, nasceu na cidade de
Araraqüara, Estado de São Paulo, no dia 1º de junho de 1895, e
desencarnou em S. Paulo, com 50 anos de idade a 6 de julho de 1945.

Filho de pais humildes e católicos, viveu a maior parte de sua infância e


mocidade na cidade de Araraqüara, casando-se no ano de 1910, com D.
Regina Pavezi Fusco. Fez ainda nessa mesma cidade os cursos primário e de
Contabilidade e, mais tarde, em S. Paulo, estudou Ciências Econômicas. Era
profundo conhecedor de Direito e História. Possuía marcante inteligência e
uma personalidade moral que causava assombro a todos que com ele
conviviam.
João Fusco tornou-se espírita na cidade de Rio Preto, no longínquo ano de
1929, após ler alguns livros sobre Espiritismo. O que contribuiu decididamente
para a sua conversão foi a cura, por seu intermédio, de uma senhora doente,
após ter ela sido desenganada por médicos, padres, pastores e curandeiros.
A partir dessa época tornou-se profundo estudioso das obras da
Codificação Kardequiana. O Centro Espírita "Allan Kardec", da cidade de S.
José do Rio Preto, foi o marco inicial de uma nova era na vida de João Fusco,
pois os dirigentes daquela instituição, vendo nele um homem culto, estudioso,
enérgico e moralista, resolveram entregar-lhe a direção do Centro.
Jofus reorganizou vários Centros Espíritas do Estado de S. Paulo e do
Triângulo Mineiro, instituindo a escrituração, elaboração de estatutos, quadro
associativo, bibliotecas, venda e distribuição de livros, jornais e revistas
espíritas. Instalou cursos de Evangelização da Infância, de estudos de "O Livro
dos Espíritos", de alfabetização de adultos e crianças, de oratória e de
desenvolvimento mediúnico, tornando-se mesmo um pioneiro na implantação
das escolas espíritas.
Encetou numerosas viagens pelos Estados de S. Paulo e Minas Gerais,
proferindo palestras, distribuindo livros e folhetos de sua autoria, numa lídima
campanha contra os conspurcadores da Doutrina Espírita. Em 1931 travou
conhecimento pessoal com Caírbar Schutel, passando a manter estreito
contacto com o apóstolo de Matão, em tudo aquilo que dizia respeito à difusão
do Espiritismo, formando-se mesmo o eixo Matão-S. José do Rio Preto, na
obra de esclarecimento e de combate aos pseudos cristãos.
Entre os escritos de João Fusco podemos destacar os folhetos "O
Anticristo", "Os Violadores da Lei", "Desfazendo Calúnias do Clero Romano",
"Advertências", "Falsos Profetas", "Contrastes", "Aviso aos Incautos", "Deus",
"Os Centros e suas Denominações", "Escola Nova", "Os
Mortos Vivos", e outros.
Em 1933 transferiu sua residência para S. Paulo e, nessa cidade,
prosseguiu sua tarefa persistente em favor da disseminação do Espiritismo.
Recebia diariamente volumosa correspondência vinda de pessoas que
demandavam o consolo espiritual, conselhos e orientação para a cura do corpo
e da alma.
Jofus possuía várias faculdades mediúnicas, dentre as quais a vidência,
audição, curas e transporte. Há uma enorme bagagem de feitos benéficos
64

efetuados por intermédio desse saudoso companheiro, durante a sua


permanência entre nós, notadamente no período de 1929 a 1945.
Espírito varonil, comunicativo, afável para com todos, a sua palavra
consolava sobremaneira. Todos sentiam-se bem em sua presença. Situava a
Doutrina dos Espíritos acima de tudo e era intransigente no cumprimento dos
seus deveres cristãos.
Em 30 de janeiro de 1939 fundou no bairro do Itaim, na Capital do Estado
de S. Paulo, o primeiro Centro Espírita a prestar homenagem ao apóstolo de
Matão, dando-lhe o nome de Centro Espírita Caírbar Schutel. Foi ainda
fundador de outras sociedades espíritas, dentre elas o Centro Espírita Ismael,
em Vila Guarani, na mesma cidade, fato ocorrido no dia 30 de junho de 1940.
O efeito de sua obra ainda hoje se faz sentir e sua amplitude não pode ser
descrita numa pequena súmula biográfica.
65

26
JOÃO LEÃO PITTA
Nascido no dia 11 de abril de 1875, na Ilha da Madeira, Portugal e
desencarnado no dia 11 de fevereiro de 1957, no Brasil.

João Leão Pitta fez os seus primeiros estudos em sua terra natal, cursando
um colégio particular e alcançando um grau de instrução equivalente ao nosso
curso secundário. Terminados esses estudos deliberou ir para o continente a
fim de se aperfeiçoar e escolher uma carreira.
Nessa altura surgiu um imprevisto: seus pais alimentavam a idéia de fazer
com que ele seguisse a carreira eclesiástica e se ordenasse padre católico.
Entretanto, a sua propensão era norteada no sentido de ser admitido na
marinha portuguesa. Não conseguindo estudar o que aspirava, veio para o
Brasil sem o consentimento de seus pais, aportando no Rio de Janeiro com
apenas 16 anos de idade e com quatrocentos réis no bolso.
Não tendo conhecidos nem parentes, empregou-se numa padaria, onde,
pelo menos, tinha acomodação e alimentação. Não se sentindo bem na antiga
Capital Federal, deliberou transferir-se para a cidade de Piracicaba, no Estado
de S. Paulo, onde se casou com D. Maria Joaquina dos Reis, de cujo consórcio
teve 12 filhos. Posteriormente voltou para o Rio de Janeiro, onde se ocupou da
profissão de tecelão, chegando a ser contramestre da fábrica.
Um acontecimento, no entanto, mudou o rumo de sua vida. Uma de suas
filhas ficou bastante doente, e ele, sem recursos para sustentar sua numerosa
prole e atender à enfermidade da filha, resolveu procurar um Centro Espírita.
Não estava animado do propósito de haurir os benefícios doutrinários do
Espiritismo, mas sim, de obter a cura de sua filha. Foi ali que conheceu um
médium receitista.
Pitta tinha o hábito de discutir. Porém, o médium não admitia discussões
com referência à Doutrina Espírita e deu-lhe alguns livros para que os lesse.
Fez as primeiras leituras com manifesta má vontade, mas, aos poucos, foi
tomando interesse e estudou as obras básicas da codificação kardequiana.
Com a desencarnação de três de suas filhas, vítimas de uma epidemia, sua
esposa, cumulada de profundos desgostos, fez com que a família voltasse de
novo para Piracicaba. Conhecedor do Espiritismo, não perdeu tempo e logo
descobriu que, na cidade, as reuniões espíritas eram realizadas mais por
curiosidade de que por apego aos estudos. Tomou então a deliberação de
conclamar alguns amigos, demonstrando-lhes a responsabilidade moral de
cada um, após o que conseguiu, em companhia de outros confrades,
compenetrados do caráter sério e nobilitante da Doutrina dos Espíritos, fundar,
no ano de 1904, a "Igreja Espírita Fora da Caridade não há
Salvação", a pioneira das instituições espíritas da cidade.
Logo após a fundação do Centro Espírita, o clero católico moveu-lhe acerba
campanha e, como decorrência não conseguiu emprego na cidade e ficou sem
crédito por mais de um ano. Todos lhe negavam serviço, apesar de ser homem
honesto e trabalhador. Nesse período crítico de sua vida, sua esposa costurava
para ganhar algum dinheiro, conseguindo assim amparar a família e superar a
crise.
Logo após, conseguiu arranjar emprego numa loja de ferragens de
propriedade de Pedro de Camargo, que mais tarde se tornou o famoso
66

Vinícius. Nessa firma trabalhou durante 20 anos, chegando a ser sócio


interessado, tal a sua operosidade e honestidade à toda prova.
Nos idos de 1926 à 1929, como pretendesse melhorar sua situação
econômico-financeira, a fim de propiciar melhor educação para seus filhos,
instalou uma fábrica de bebidas. Tudo ia bem. Porém, como estivesse sempre
pronto a atender aos amigos e aos necessitados, impulsionado pelo seu bom
coração, acabou perdendo tudo, mais de duzentos contos de réis, verdadeira
fortuna
naquele tempo. Viu-se então face à dura contingência de hipotecar sua
própria moradia, perdendo-a por excesso de amor ao próximo.
Em 1930, resolveu trabalhar na divulgação do Espiritismo, fazendo
propaganda e angariando assinaturas para a "Revista Internacional de
Espiritismo" e para o jornal "O Clarim". Deixou o convívio sossegado de seu lar,
de seus filhos, para viajar pelo Brasil, percorrendo centenas de
cidades, pregando o Evangelho e disseminando aquelas publicações e as
obras espíritas do grande missionário que foi Caírbar Schutel.
Em todas as cidades por onde passava, fazia suas pregações doutrinárias.
Profundo conhecedor dos textos evangélicos, esmiuçava-os com
profundidade e com bastante clareza, tornando-os inteligíveis para todos.
Quando falava, suas palavras eram cadenciadas e precisas.
Nessa obra missionária viveu 21 anos ininterruptos, percorrendo vários
Estados do Brasil, notadamente Goiás, Mato Grosso, São Paulo, Minas Gerais,
Espírito Santo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Os transportes por ele utilizados eram dos mais precários. Muitas vezes
fazia longas caminhadas a pé, a cavalo, de trem, de caminhão e de ônibus,
alimentando-se e dormindo mal. Tinha imenso prazer em atender aos convites
que lhe eram formulados e, sentindo-se sempre inspirado pelo Alto, levava o
conhecimento de "O Evangelho Segundo o Espiritismo" a milhares de pessoas
e lares. Fez milhares de conferências em Centros Espíritas, praças públicas e
cinema.
Nessas extensas caminhadas, algumas de muitos quilômetros, auxiliava os
mais necessitados com os recursos que ia amealhando. Socorria muitas
pessoas, sem distinção de crença religiosa, dando-lhes dinheiro para consultar
médicos, comprar óculos, adquirir mantimentos e para outros
fins.
Era modesto no trajar. Possuía longas barbas brancas e a criançada o
chamava de Papai Noel, pois também sabia brincar com as crianças e orientá-
las. Sofria sempre calado, sem lamúrias, cônscio de que os sofrimentos na
Terra são oriundos de transgressões cometidas em vidas anteriores.
Com a idade de 75 anos, foi acometido de pertinaz enfermidade e
submetido a delicada intervenção cirúrgica, vindo a desencarnar 6 anos mais
tarde.
João Leão Pitta deixou várias monografias inéditas.
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27
JOSÉ PETITINGA
Nascido no dia 2 de dezembro de 1866 e desencarnado a 25 de
março de 1939.

Cabe a José Florentino de Sena, mais conhecido por José Petitinga, a


glória de fazer Espiritismo organizado no Estado da Bahia, tornando-se um dos
espíritas de maior projeção naquele Estado.
Consta que freqüentara e abandonara, em sua mocidade, por falta de
recursos econômicos, um curso acadêmico. Era, no entanto, um homem
dotado de sólida cultura geral, sendo notáveis suas lides jornalísticas, literárias
e espíritas. Na qualidade de poeta, jornalista, contabilista e lingüista, era
sobejamente estimado em sua época; como sertanista sabia recolher da
Natureza virgem os grandes ensinamentos da vida. Grande conhecedor da
nossa flora medicinal, jamais regateava a sua terapêutica de emergência a
quantos dele se socorriam nas muitas viagens que fazia ao longo do Rio São
Francisco.
Era zeloso cultor do vernáculo, ao ponto de merecer de César Zoma -
político, latinista e orador baiano, a seguinte afirmação: "Não Bahia, em
conhecimentos de latim, eu, e de português, o Petitinga".
Com 21 anos de idade leu "O Livro dos Espíritos", e ulteriores estudos e
perquirições levaram-no a fundar, na cidade de Juazeiro, o "Grupo Espírita
Caridade", onde foram recebidas, através do conceituado médium Floris de
Campos Neto, belas e incentivadoras mensagens da entidade espiritual que
assinava "Ignotus".
Indo, em 1912, para a adade do Salvador, Petitinga reviveu em sua
residência, o "Grupo Espírita Caridade", aí reunindo companheiros realmente
dedicados à Doutrina dos Espíritos e isentos do personalismo desagregador.
Convidado, logo após, a participar do "Centro Espírita
Religião e Ciência", que passava por uma fase de declínio, ele tudo fez
para restaurá-lo. Mesmo com os poderes extraordinários que a Assembléia
Geral lhe outorgou, tudo foi em vão.
Notando que a decadência daquela sociedade se devia em parte à falta de
unidade doutrinária, à ausência de uma direção geral, Petitinga pensou, então,
em fundar uma sociedade orientadora do movimento espírita no Estado, o que
conseguiu materializar no dia 25 de dezembro de 1915, quando, em histórica
reunião realizada na sede do "Grupo Espírita Fé, Esperança e Caridade",
instalou a UNIÃO ESPÍRITA BAIANA, hoje transformada em Federação
Espírita do Estado da Bahia.
No início a União Espírita Baiana não tinha sede em lugar definido,
transferindo-se várias vezes de local, até que nasceu, cresceu e vingou a idéia
da aquisição de sede própria, tão necessária à tranqüilidade dos dirigentes
daquele movimento divulgador do Espiritismo. Em 4 de julho de
1920, a Diretoria recebia plenos poderes para trabalhar naquela direção e,
em 3 de outubro do mesmo ano, foi solenemente inaugurada a sede própria
situada no histórico Terreiro de S. Francisco (hoje Praça Padre Anchieta nº 8),
onde funciona até o presente.
José Petitinga nasceu na fazenda denominada "Sítio da Pedra", margem
direita do Rio Paraguaçu, termo de Monte Cruzeiro, Comarca de Amargosa, no
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Estado da Bahia, e desencarnou na cidade de Salvador. Era filho de Manoel


Antônio de Sena e Maria Florentina de Sena.
Jornalista com brilhante atuação em diversas publicações da época, poeta
elogiado por Sílvio Romero, Múcio Teixeira, Teotônio Freire e outros literatos
de renome, orador fluente e ilustrado, José Petitinga se constituiu de direito e
de fato, o centro de convergência do movimento espírita naquele Estado, que
teve as primícias da propaganda doutrinária em nosso país. Sua figura, misto
de humildade e austeridade, tornou-se popular naquela velha capital,
infundindo respeito e consideração até aos próprios adversários da Doutrina
Espírita.
São de sua autoria os livros de poesias "Harpejos Vespertinos",
"Madressilvas" e "Tonadilhas", obras essas que mereceram grandes elogios de
vários jornais importantes da época, inclusive do "Jornal do Comércio", do Rio
de Janeiro. O nome Petitinga foi usado como pseudônimo, nos primeiros
artigos que escreveu, para fugir à censura paterna e de seus patrões, que não
admitiam que um rapazola se metesse em lutas políticas, desafiando com sua
preclara inteligência tradicionais políticos da época.
Colaborou assiduamente em vários jornais e publicações de Nazaré,
Amargosa, Juazeiro, Salvador e outras cidades.
Em face da popularidade do pseudônimo, pelo qual passou a ser conhecido
em todo o mundo, resolveu adotá-lo como sobrenome, em substituição ao
"Florentino de Sena", fazendo, para tanto, declaração pública através de
Cartório.
José Petitinga, exemplo fiel de perseverança e trabalho, presidiu a União
Espírita Baiana até a data da sua desencarnação, dando tudo de si - material e
espiritualmente - para o engrandecimento daquela tradicional instituição e para
a difusão do Espiritismo naquele grande Estado
brasileiro.
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JÚLIO ABREU FILHO
Nascido na cidade de Quixadá, Estado do Ceará, a 10 de dezembro
de 1893, e desencarnado em S. Paulo, no dia 28 de setembro de 1971.

Fez os cursos preparatórios no Estado do Ceará, no Colégio S. José (Serra


do Estêvão). Em 1911, ingressou na Escola Politécnica da Bahia, sediada em
Salvador, não chegando a completar o curso. Em seguida transferiu-se para a
cidade de Ilhéus, também no Estado da Bahia, onde passou a trabalhar na
Delegacia de Terras, da Secretaria da Agricultura. Foi funcionário da
Prefeitura Municipal e da Estrada de Ferro Inglesa, participando ativamente
da construção do trecho Ilhéus-Conquista, naquele mesmo
Estado.
No ano de 1921, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde passou a
trabalhar na companhia Light. Em 1929, ainda trabalhando nessa mesma
empresa, foi transferido para São Paulo, participando da construção da usina
hidroelétrica de Cubatão.
Nos idos de 1934 e 1935 dedicou-se ao magistério secundário, lecionando
em vários colégios da Capital paulista. Em 1936, como funcionário da
Secretaria da Agricultura do Estado de S. Paulo, secção de engenharia rural,
tomou parte saliente em vários e importantes projetos no interior do Estado.
No seio do Espiritismo exerceu numerosas atividades. Foi membro da
diretoria da União Federativa Espírita Paulista. Participou ativamente da
fundação da União das Sociedades Espíritas do Estado de S. Paulo, da qual foi
conselheiro durante muitos anos. Teve marcante atuação no 1º Congresso
Brasileiro de Unificação Espírita, realizado em S. Paulo.
No ano de 1949, deu início a gigantesca tarefa de verter para o vernáculo a
"Revue Spirite", revista espírita publicada por Allan Kardec durante doze anos
consecutivos. Com esse propósito fundou a "Édipo –Edições Populares",
lançando concomitantemente o jornal "Édipo" que teve vida efêmera. A
divulgação da tradução da "Revue Spirite" foi mais tarde encetada pela
"Edicel", de S. Paulo.
De sua bibliografia constam os livros "Erros Doutrinários", "Poeira da
Estrada". Efetuou também a tradução para o português das obras "O
Evangelho Segundo o Espiritismo" e "Profecias de Daniel e o Apocalipse".
Júlio Abreu Filho colaborou assiduamente em muitos jornais e publicações
espíritas. Era orador bastante requisitado, tendo ocupado a tribuna de
numerosas instituições espíritas. Foi ainda representante no Brasil, de vários
organismos espíritas do exterior.
Nos últimos anos de sua vida viveu paralítico, passando por sofrimentos
que lhe causaram muitos dissabores.
70

29
JUVÊNCIO DE ARAÚJO FIGUEIREDO
Nascido a 27 de setembro de 1865, em Coqueiros, Florianópolis,
Estado de Santa Catarina, e desencarnado a 6 de abril de 1927, na mesma
cidade.

Juvêncio de Araújo Figueiredo foi um infatigável servidor da Doutrina


Espírita, devendo-se a ele grande parte dos trabalhos de divulgação que foram
realizados no Estado de S. Catarina.
Iniciou sua vida como tipógrafo, passando posteriormente a colaborar em
vários jornais, tanto de sua terra como de outros pontos do país. Poeta
mavioso, teve a honra de fazer parte de um grupo de beletristas, do qual
faziam parte Cruz e Souza, Santos Lostada, Oscar Rosas, Virgílio Várzea,
Horácio de Carvalho e outros. Em 1904, escreveu "Ascetérios". Logo após
produziu alguns trabalhos inéditos, tais como "Praias" e "Novenas de Maio."
Foi companheiro e amigo predileto do genial Cruz e Souza, fazendo parte
da Academia Catarinense de Letras, onde ocupava o número 17. No exercício
de funções públicas, foi secretário da Municipalidade, em São José, naquele
Estado, galgando posteriormente o elevado cargo de secretário da Assembléia
Legislativa, em Florianópolis.
Araújo Figueiredo foi um dos mais notáveis médiuns espíritas, podendo-se
mesmo dizer que foi uma das raras jóias da mediunidade, pois, além das
incalculáveis possibilidades que os Espíritos do Senhor nele encontravam para
suavizar as dores dos alquebrantados da alma e do corpo, era dotado de
notável poder de análise e de discernimento. A sua mediunidade era das mais
seguras, pois, como médium meticuloso e amante da verdade, tudo submetia
ao crivo da razão e da lógica.
Correm por centenas os fatos produzidos por seu intermédio,
principalmente as extraordinárias curas que conseguia realizar. Era também de
se admirar as revelações que fazia a respeito daqueles que chegavam até a
sua casa, atraídos meramente por curiosidade sobre os fenômenos que se
produziam por seu intermédio.
Araújo Figueiredo viveu na Terra 62 anos, grande parte dos quais
destinados à difusão do Espiritismo. Os que tiveram a oportunidade de
conhecer ou conviver com esse grande seareiro, médium e conselheiro,
puderam sentir o quanto vale um homem que tem dons de Espírito e que os
coloca a serviço do seu próximo.
(Dados biográficos extraídos do "Boletim Espírita", de Florianópolis)
71

30
MIGUEL VIVES Y VIVES

Nascido na Espanha e ali desencarnado, na cidade de Tarrasa, no


dia 23 de janeiro de 1906.

A Espanha foi o berço dos grandes Congressos Espíritas, tendo os


espanhóis exercido verdadeiro pioneirismo nesse campo, bastando citar o
Congresso Espírita Internacional de 1888, levado a efeito em Barcelona. Em
congressos realizados posteriormente, principalmente no de 1934, a delegação
espanhola desenvolveu ingente tarefa em favor da tese reencarnacionista.
Anteriormente à guerra civil de 1936 à 1939, a Espanha se destacava, de
forma inusitada, na divulgação do Espiritismo, bastando dizer-se que já em
1873 havia sido proposto no Parlamento Espanhol o ensino da Doutrina
Espírita.
Miguel Vives y Vives foi um dos mais destacados vultos do Espiritismo
naquele país. Seu nome teve projeção mundial e sua ação foi das mais
notórias. Quando um homem consegue cumprir fecunda tarefa na defesa e
difusão do ideal que sustenta, fazendo dele um culto e predispondo-se a
lutar de forma ininterrupta em seu favor, podemos, na realidade, qualificá-lo
de apóstolo.
Vives y Vives foi o Apóstolo do Espiritismo na Espanha e, pela população
de Tarrasa, era denominado Apóstolo do Bem.
Foi um exemplo vivo de abnegação. Evangelizou pela palavra escrita e
falada - através da tribuna, do livro e da imprensa. Toda a sua obra se apoiou
sobre a força moral da exemplificação e vivência dos ideais espíritas e cristãos.
Fundou a "Federação Espírita de Vallés", da qual surgiu a "Federação
Espírita da Catalunha", entidade que teve vida efêmera. Em Tarrasa fundou o
"Centro Espírita Fraternidade Humana" e lançou a famosa obra "Guia Prático
do Espírita", há muitos anos vertida para o português, em edição da Federação
Espírita Brasileira. Mais recentemente, a "Edicel", de S. Paulo, lançou, no
vernáculo, a sua obra também famosa "O Tesouro dos Espíritas".
Foi também fundador da revista "União", órgão esse que se incorpou à
revista "La Luz del Porvenir", de marcante atividade na difusão dos ideais
reencarnacionistas. Foi presidente do "Centro Barcelonês de Estudos
Psicológicos".
Sua esplendorosa mediunidade fez com que se desenvolvesse, em
Tarrasa, verdadeira obra em favor dos necessitados do corpo e da alma,
socorrendo os desajustados, os enfermos e os humildes, ao ponto de, ao
desencarnar, causar profundo golpe à população daquela cidade espanhola.
As fábricas paralisaram suas atividades, o comércio cerrou suas portas à hora
do sepultamento do seu corpo, a fim de permitir aos seus empregados o
acompanhamento do esquife ao cemitério. Durante o trajeto, verdadeira
muralha humana se formou ao longo das ruas e na necrópole, no propósito de
atender aos pedidos de todos que desejavam vê-lo, o ataúde permaneceu
aberto durante uma hora e aproximadamente 5.000 pessoas desfilaram diante
dele.
Ele não era político, não cortejava a popularidade e, no entanto, graças ao
seu exemplo de abnegação, recebeu uma das maiores consagrações públicas
72

de sua terra, apesar de viver num país de profundas tradições católicas, onde
homens e livros foram queimados no decorrer de muitos séculos.
Miguel Vives foi notável espírita. Foi um homem que se dignificou pela
prática das boas obras e pelo desempenho de verdadeira missão de tolerância
e de amor.
Num dos seus escritos, publicados na revista "A Doutrina" órgão da
"Federação Espírita do Paraná", de cuja instituição era sócio honorário,
escreveu em 1906: "Os Centros Espíritas devem ser a catedra do Espírito de
Verdade, porque a não ter o Espírito de luz a sua cátedra, teria sua influência o
Espírito do erro e infelizes deses Espíritos que se acham sob a influência do
Espírito das trevas, porque pouco, muito pouco se adiantam na senda do
progresso.
73

31
PEDRO DE CAMARGO VINÍCIUS
Nascido no dia 7 de maio de 1878, na cidade de Piracicaba, Estado
de S. Paulo, e desencarnado no dia 11 de outubro de 1966, na cidade de
São Paulo.

Não se pode fazer o esboço histórico do Espiritismo no Estado de S. Paulo,


na primeira metade do presente século, sem levar em consideração a
personalidade inconfundível de Pedro de Camargo, mais conhecido pelo
pseudônimo de Vinícius.
Os seus primeiros anos de escolaridade foram feitos no Colégio
Piracicabano, educandário de orientação metodista, de fundação norte-
americana. A diretora do estabelecimento era então a missionária Martha H.
Watts, de quem Pedro de Camargo guardou sempre as mais caras
recordações e grande admiração. São dele as seguintes palavras extraídas de
um artigo que escreveu por ocasião da desencarnação daquela missionária,
ocorrida nos Estados Unidos: "Sempre que se oferecia ensejo de inocular
princípios de virtude e regras de moral, era quando se mostrava admirável,
comprovando a rara e excepcional competência de que fora dotada para
exercer tão sublime missão.
Eu bem me lembro que perto de Miss Watts ninguém era capaz de mentir
ou dissimular; as traquinadas e travessuras, escondidas cautelosamente, eram-
lhe fielmente narradas quando nos interpelava, tal o império que sobre nós
sabia exercer, sem jamais usar para isso de outro meio que não a força do bem
e o devotamento com que praticava seu sagrado sacerdócio.
Muito lhe deve a sociedade piracicabana; muito lhe devem seus ex-alunos;
muito lhe devo eu.
Os princípios salutares de moral que me ministrou, assim como os
conselhos elevados que me dispensou com tanto carinho e solicitude durante
minha infância, repercutem-me ainda na alma como uma voz amiga que me
dirige os passos, e por isso, ao saber que ela já não mais vive na Terra, rendo-
lhe este preito de homenagem, simples e singelo, porém sincero e verdadeiro,
como que desfolhando sobre a campa da querida mestra umas pétalas
humildes que em seguida o vento arrebatará, mas cujo tênue perfume chegará
até ela, levando-lhe o penhor de minha gratidão pelo muito que de suas
benfazejas mãos recebi."

***

Durante muitos anos, Pedro de Camargo presidiu a Sociedade de Cultura


Artística, de Piracicaba, tendo a oportunidade de levar para lá famosos artistas.
Jamais teve tendência para a política. Chegou a assumir uma cadeira de
Vereador, na Câmara Municipal de Piracicaba, eleito por indicação do extinto
Partido Republicano. Como não quisesse "seguir outra disciplina que não fosse
a do dever, e ouvir outra voz que não a da razão e da consciência", dizia ele
mais tarde --esse critério não serviu ao Partido, por isso não o quiseram mais.
Os estudos bíblicos eram metódicos no Colégio Piracicabano, de maneira
que Pedro de Camargo se tornou um dos maiores entusiastas dessa matéria,
74

tornando-se mais tarde uma das maiores autoridades no trato da exegese


evangélica.
No ano de 1904, foi fundada em Piracicaba a primeira instituição espírita da
cidade, com o nome de Igreja Espírita Fora da Caridade não há Salvação.
Dentre os seus fundadores salientava-se a figura veneranda de João Leão
Pitta. O funcionamento dessa tradicional instituição acarretou a esse pioneiro
uma série de perseguições movidas por inspiração de outras entidades
religiosas, chegando ao ponto de não conseguir nem mesmo um emprego, tão
necessário para o amparo de sua família, a qual ficou mais de um ano na
eminência de completo desamparo.
Um ano mais tarde, em 1905, Pedro de Camargo interessou-se pelo
Espiritismo, uma vez que nele encontrou a solução para tudo aquilo que
constituía incógnitas em seu Espírito. Tomando conhecimento do que sucedia
com Leão Pitta, prontamente o empregou em sua loja de ferragens e, como
segundo passo, desfez a secção de armas de fogo que representava
apreciável fonte de renda em seu estabelecimento comercial.
Durante cerca de trinta anos, Pedro de Camargo desenvolveu, em sua
cidade natal, profícuo e intenso trabalho de divulgação das verdades
evangélicas à luz da Doutrina Espírita. Nessa época passou a adotar o
pseudônimo de Vinícius; suas preleções eram estenografadas e logo em
seguida largamente difundidas, fazendo com que sua fama se propagasse por
toda a circunvizinhança.
No ano de 1938, transferiu seu domicílio para a cidade de S. Paulo. Ali
substituiu o confrade Moreira Machado na presidência da União Federativa
Espírita Paulista e, juntamente com Thietre Diniz Cintra, fundou uma escola
para evangelização da infância e juventude, tendo para tanto elaborado normas
e diretrizes para esse gênero de educação.
Em 1939 tornou-se um dos diretores do Programa Radiofônico Espírita
Evangélico do Brasil, levado ao ar, diariamente, através da Rádio Educadora
de S. Paulo. Em 31 de março de 1940, quando a União Federativa Espírita
Paulista fundou a Rádio Piratininga, emissora de cunho nitidamente espírita,
Vinícius foi eleito seu diretor-superintendente e, em companhia de outros
valores do Espiritismo paulista, orientou aquela emissora e seu programa
espírita diário até o ano de 1942.
Nessa época Vinícius já havia se integrado na Federação Espírita do
Estado de S. Paulo, tornando-se um dos seus conselheiros e ali introduzindo
as suas "Tertúlias Evangélicas", realizadas todos os domingos de manhã, com
apreciável assistência que invariavelmente superlotava o seu salão.
Durante muitos anos, foi delegado da Federação Espírita Brasileira, em S.
Paulo, representando-a em todas as solenidades onde a sua presença se fazia
necessária.
Quando a Federação Espírita do Estado de S. Paulo, em março de 1944,
lançou o seu órgão "O Semeador", Vinícius foi designado seu diretor-gerente,
cargo que desempenhou durante mais de uma década, emprestando àquele
jornal a sua costumada cooperação.
Em outubro de 1949, em companhia de Carlos Jordão da Silva, integrou a
representação do Estado de S. Paulo junto ao 2º Congresso Espírita Pan-
americano, conclave de grande repercussão que se realizou no Rio de Janeiro.
No ensejo desse acontecimento, reuniram-se na antiga Capital Federal várias
representações de entidades espíritas de âmbito estadual, as quais, numa feliz
75

gestão, conseguiram materializar o sonho de muitos seareiros espíritas,


criando o Conselho Federativo Nacional e assinando o célebre Pacto Áureo de
Unificação. Pedro de Camargo foi um dos signatários desse importante
instrumento de pacificação espírita nacional, no dia 5 de outubro de 1949.
Vinícius foi assíduo colaborador de numerosos órgãos espíritas. De sua
bibliografia destacamos os livros: "Em torno do Mestre", "Na Seara do Mestre",
"Nas Pegadas do Mestre", "Na Escola do Mestre, "O Mestre na Educação", e
"Em Busca do Mestre", obras de marcante relevância no campo da divulgação
evangélico-doutrinária.
A sua ação se fez sentir vigorosamente quando se cogitou da fundação de
uma instituição educacional espírita. Lutou durante muitos anos por esse ideal.
Exultou-se com a fundação do Educandário Pestalozzi, na cidade de Franca,
entretanto, o seu sonho concretizou-se quando da fundação do "Instituto
Espírita de Educação", do qual foi presidente. No âmbito desse instituto foi
fundado o "Externato Hilário Ribeiro", em cuja direção permaneceu até o ano
de 1962.
A par de todas essas atividades, Pedro de Camargo ocupava assiduamente
as tribunas das instituições espíritas, principalmente as da Capital do Estado,
tornando-se um dos oradores mais requisitados e o que sempre conseguia
atrair maior assistência. Homem dotado de ilibado caráter, comedido em suas
atitudes e de moral inatacável, tornou-se, de direito e de fato, verdadeira
bandeira do movimento espírita. Quando seu nome figurava à testa de
qualquer realização, esta infundia confiança e respeito, dada a indiscutível
projeção do seu nome e a sua qualidade de paladino das causas boas e
nobres.
Vinícius também teve notória atuação no campo da assistência social
espírita, situando, entretanto, em primeiro plano o trabalho em prol do
esclarecimento evangélico-doutrinário, imprescindível à iluminação interior dos
homens.
76

32
PEDRO LAMEIRA DE ANDRADE
Nascido na cidade do Rio de janeiro, em 16 de setembro de 1880, e
desencarnado em São Paulo, no dia 1º de março de 1938.

Numa época quando o Espiritismo era ainda muito mal compreendido, e


quando reinava verdadeira desunião entre os seus adeptos e até no seio de
suas instituições, um vulto notável e infatigável surgiu no cenário da divulgação
doutrinária, constituindo-se num dos mais salientes espíritas da época.
Nos anais da História do Espiritismo, os registros biográficos do Dr. Pedro
Lameira de Andrade são bastante escassos, em flagrante contraste com o vulto
da obra que tão bem soube desempenhar, e que projetou o seu nome na
posteridade. A exemplo do que sucedeu com outros grandes missionários,
cujas obras foram legadas aos homens das futuras gerações, através dos
informes de discípulos dedicados, a missão fulgurante de Lameira de Andrade
somente é suficientemente conhecida por aqueles que com ele conviveram, os
quais a ele se referem como um autêntico benfeitor da Humanidade, um
homem que procurou impulsionar seus companheiros de jornada terrena, na
senda do aprimoramento espiritual e do aculturamento, poderosas alavancas
que atuam no laborioso processo de reforma íntima das criaturas humanas.
Seus pais foram Boaventura Plácido Lameira de Andrade e Carolina
Levereuth de Andrade, tendo o seu nascimento corrido no bairro de Vila Isabel,
no antigo Distrito Federal. Aos 17 anos de idade, perdeu seu pai e, atendendo
a um convite de seu padrinho foi para São Paulo, ingressando no Colégio
Mackenzie, onde se formou em Teologia. Não chegou a ordenar-se pastor
protestante, em virtude de haverem surgido algumas divergências entre ele e o
reitor do Seminário.
Lameira era exímio tenor e, em 1904, casou-se com D. Elvira Silveira,
pianista e professora de Pedagogia e Psicologia da Escola Normal. Desse
consórcio teve seis filhas. Nessa época ele era também professor de
português, grego e latim, lecionando na escola da Força Pública, atual Polícia
Militar de S. Paulo. Ingressando na Facudade de Direito de S. Paulo, formou-se
em 1912. Dessa data em diante deixou de lecionar para consagrar-se à
profissão de advogado, tendo montado escritório em S. Paulo.
A desencarnação de sua filha mais idosa, deixou-o desolado e revoltado,
passando a descrer de tudo. Aconselhado por amigos procurou o Espiritismo,
doutrina que lhe trouxe o consolo e a certeza da imortalidade da alma.
Na década de 1920, Lameira de Andrade já antevia a necessidade da
instrução como fator decisivo para a libertação do Espírito, através do
conhecimento da verdade, por isso sonhava com a fundação de escolas
primárias e ginásios, que viessem a funcionar alicerçados nos postulados da
Doutrina Espírita. Nos idos de 1928 e 1929, com vistas ao desenvolvimento de
um programa nesse sentido, ao lado de outros companheiros que estavam
inspirados do mesmo ideal, lutou arduamente para a implantação de um
instituto de ensino que servisse de modelo para as futuras organizações do
gênero. Seu sonho concretizou-se quando viu funcionar o Liceu Espírita
Brasileiro, entidade que teve vida efêmera, durando pouco mais de um ano.
Entretanto, a semente ficou lançada.
77

Homem dotado de um dinamismo invulgar, arrojado em seus cometimentos


e animado de um idealismo inquebrantável, Lameira tornou-se figura bastante
conhecida em todo o Brasil e principalmente no Estado de S. Paulo e no Rio de
Janeiro, em cujo cenário, teve a oportunidade de desempenhar a sua
gigantesca tarefa.
A missão de Lameira de Andrade, no seio do Espiritismo, foi desenvolvida,
em grande parte, ao lado do Dr. Augusto Militão Pacheco, renomado médico e
um dos grandes baluartes espíritas da época. Através dos seus escritos, das
suas conferências, esse infatigável seareiro não media esforços em suas
peregrinações. Muitas cidades brasileiras foram por ele visitadas e seu nome
conseguiu empolgar grandes auditórios, pois sabia abordar, com raro
descortino, os ensinamentos evangélicos à luz da Doutrina Espírita.
Foi procurador do "Abrigo Batuíra", tendo sido um dos seus fundadores.
Durante 19 anos prestou inestimáveis serviços a "Instituição Verdade e
Luz". Embora não conhecesse pessoalmente o grande missionário que foi
Antônio Gonçalves da Silva Batuíra sucedeu-o na direção da revista "Verdade
e Luz", fundada no ano de 1890. Foi membro da diretoria da Associação
Espírita São Pedro e São Paulo, onde trabalhou intensamente e com raro
devotamento, ao lado de grandes seareiros. Teve também marcante atuação
no campo da assistência social, tendo nesse afã, chegado até o sacrifício.
Foi ainda sócio benemérito da Cruz Azul de S. Paulo, tendo prestado a
esse organismo o fruto de scu esforço, dando viva demonstração do scu
Espírito magnânimo, sempre pronto a servir e a cooperar na implantação e
desenvolvimento de obras altruísticas.
Em 12 de julho de 1936, ao ser fundada a Federação Espírita do Estado de
S. Paulo, Lameira de Andrade foi eleito seu orador oficial, em sua primeira
diretoria, passando a representar aquela egrégia instituição em quase todas as
solenidades promovidas pelas associações espíritas do Estado. Na própria
Federação, ele era invariavelmente requisitado pelos freqüentadores, para
proferir palestras, as quais eram bastante concorridas.
Certa ocasião, chegada a hora designada para a realização de uma
conferência sobre o tema "O Perdão", na Sede da Associação "Verdade e Luz"
choveu torrencialmente. Apenas estavam na sede da instituição o orador, Elói
Lacerda e outros dois companheiros. Lameira, vendo o salão vazio, aventou a
ideia de fazer uma prece e encerrar a reunião, sugestão prontamente repelida
pelos presentes. A palestra foi proferida, portanto, como se o salão estivesse
repleto. A determinada hora entrou no recinto uma pobre mulher, toda
molhada, esperando resguardar-se da chuva.
Assentando-se nas últimas cadeiras, passou a prestar inusitada atenção às
palavras do conferencista.
Ao finalizar a palestra, ela aproximou-se do orador e lhe disse: "Graças a
Deus entrei nesta casa e ouvi suas palavras. Eu estava decidida a cometer um
crime nesta noite. Entretanto, agora compreendo as razões de minha
desorientação e vou tomar rumo diferente, vou lutar contra as forças negativas
que quase me desviaram do caminho do bem." Lameira abraçou-a comovido,
alegrando-se intimamente pelo fato de ter servido de ponte para que aquela
criatura se reencontrasse e viesse a descortinar novos horizontes.
Lameira de Andrade viveu na Terra pouco menos de 58 anos,
desencarnando vítima de fulminante derrame cerebral que o prostrou em
poucas horas. Ele soube aproveitar bem esses curtos anos de trabalho,
78

desenvolvendo tarefa de gigante, no sentido de distribuir, em profusão, tudo


aquilo que era patrimônio de seu Espírito esclarecido e evangelizado. Ele
soube assimilar, em sua plenitude, os ensinamentos de Jesus Cristo, no
sentido de colocar a luz sobre o velador. Foi o bom obreiro que soube restituir
ao Senhor, em dobro, os talentos recebidos.
Sua desencarnação representou irreparável perda para os espíritas de São
Paulo e do Brasil, uma lacuna que dificilmente seria preenchida.
79

33
UMBERTO BRUSSOLO
Nascido em Veneza Itália, no dia 30 de junho de 1877, veio para o
Brasil em 1889. Sua desencarnação ocorreu em S. Paulo, no dia 8 de
setembro de 1938.

Numerosos seareiros espíritas das primeiras horas, embora tivessem


desempenhado tarefas relevantes, tiveram seus nomes esquecidos pelos
homens, entretanto, é indubitável que nos planos espirituais, as missões que
desenvolveram na Terra ficassem registradas de forma indelével.
Dentre esses missionários houve um que, durante mais de um quarto de
século, desenvolveu em São Paulo, missão de grande envergadura, fazendo
com que seu nome se projetasse e se impusesse ao respeito e à admiração de
todos. Ele foi amigo e companheiro de luta de velhos propagadores e
eminentes vultos do Espiritismo, dentre outros Caírbar Schutel, Militão
Pacheco, Lameira de Andrade, Jacques Motolá e Pedro de Camargo
(Vinícius).
Referimo-nos a Umberto Brussolo, um italiano que escolheu o Brasil como
sua segunda pátria e que aqui se integrou resolutamente, de corpo e alma,
dando o testemunho de sua fé inquebrantável na elevada destinação do nosso
país, como Coração do Mundo e Pátria do Evangelho.
Umberto Brussolo casou-se no ano de 1897 com D. Maria Peruchi, tendo
dessa união seis filhos. Ele encarava a arte como eficiente meio de divulgação
do Espiritismo e, por isso, tornou-se, artista teatral que era, um entusiasta do
Teatro Espírita, escrevendo peças, orientando e preparando atores e dirigindo
as apresentações. Ele próprio idealizava os cenários, levando avante as várias
peças teatrais, projetando seu nome nesse campo de atividade. Muitas
sociedades que realizavam festivais de fundo teatral, procuravam Brussolo
para que lhes recomendasse o gênero de peça mais adequado para a
finalidade.
Não satisfeito em militar nesse campo, também contribuiu para melhor
divulgação da imprensa espírita, principalmente através da difusão de "O
Clarim" e da "Revista Internacional de Espiritismo", ambos fundados por
Caírbar Schutel. Nesses órgãos, alem de ensaiar a publicação de vários artigos
doutrinários, promovia também a divulgação dos mesmos, levando-os a
numerosos lares da Capital paulista, os quais, devido à sua insistência e
idealismo, passavam a interessar-se pela Doutrina dos Espíritos.
Através do seu esforço inaudito, grande número de pessoas passou a
freqüentar Centros e Sociedades Espíritas.
Sua iniciação no Espiritismo remonta ao ano de 1910, quando iniciou os
estudos de várias obras doutrinárias existentes na época. A fim de poder
dedicar-se com mais eficiência à divulgação do Espiritismo e à sua própria
família, abandonou a carreira de artista teatral.
Em 1917 fundou o "Centro Espírita Luz e Caridade", instituição essa que
existe até os dias presentes, sendo sucessivamente dirigida pelos seus
descendentes. Trabalhou e lutou bastante, foi na realidade um grande e
dedicado servidor da Terceira Revelação, numa época quando ela era bastante
incompreendida e vista por muitos com grande reserva.
80

Como representante dos órgãos espíritas de Matão, enchia sua pasta de


jornais, revistas e livros doutrinários e percorria os bairros da Capital paulista e
cidades circunvizinhas, fazendo persistente campanha de difusão da doutrina
reencarnacionista.
Como dramaturgo, escreveu diversas peças de fundo nitidamente espírita,
muitas delas levadas à cena para fins beneficentes. Ele mesmo preparava os
personagens das peças. Destacaram-se, dentre outros, os seguintes dramas:
"Ressurgir de uma Alma", "Os Mortos Falam", "Maria das Dores" e "Quinze
Minutos de Prece". Uma quantidade apreciável de peças de sua autoria foi
encenada em S. Paulo e Moji das Cruzes.
Diligente, honesto e espírito dedicado, Umberto Brussolo conseguiu formar
vasto círculo de amizade sincera e de admiradores de sua obra. Possuindo
notável capacidade de comunicação, tornou-se amigo de todos e a sua
presença era requisitada em muitos Centros Espíritas, onde tinha a
oportunidade de difundir o Espiritismo, fazendo conferências e sobretudo
incentivando a arte, através de um sadio Teatro Espírita.
81

34
VIANA DE CARVALHO
Nascido na cidade de Icó, Estado do Ceará, aos 10 de dezembro de
1874, era filho do professor Tomás Antônio de Carvalho e de D. Josefa
Viana de Carvalho. Desencarnou a bordo do navio "Íris", sendo o seu
corpo sepultado na Bahia, aparentemente em Salvador. Era o dia 13 de
outubro de 1926.

Numa época quando a divulgação da Doutrina Espírita ensaiava os seus


primeiros passos e encontrava pela frente a mais obstinada oposição, o Major
Dr. Manuel Viana de Carvalho, com pulso firme e animado do mais vivo
idealismo, desbravava o terreno para nele lançar a semente generosa da
propaganda.
Como espírita foi dos mau animosos. O seu nome representou verdadeira
bandeira no campo da disseminação do Espiritismo. O que ele fez, em vários
anos de luta e de atividades intensíssimas, é algo que ainda não se pode
colocar em dados estatísticos, tal o gigantismo da tarefa por ele desenvolvida
em todo o país.
A sua palavra era atraente e arrebatadora, conseguindo, entre os espíritas
uma penetração inusitada e inconfundível. Como conferencista era dos mais
requisitados; como polemista, um dos mais salientes. Seu verbo inspirado, sua
voz harmoniosa, sua animação, assumiam, às vezes, tonalidades e aspectos
impressionantes. Foi na realidade um mágico da palavra, esteta do sentimento.
Viana de Carvalho fez os primeiros estudos de Humanidades no Liceu de
Fortaleza. Posteriormente, em 1891, matriculou-se na extinta Escola Militar do
Ceará, onde mereceu classificação de destaque pelo seu comportamento e
merecimentos intelectuais.
Embora desde 1891 tivesse dado início à sua gigantesca tarefa de
divulgação do Espiritismo, ela somente tomou vulto após ter-se matriculado no
curso superior da antiga Escola Militar da Praia Vermelha, em 11 de fevereiro
de 1895.
Nessa época funcionava no Rio de Janeiro o "Centro da União Espírita de
Propaganda no Brasil". Integrando-se nesse grupo, Viana de Carvalho passou
a proferir conferências que conseguiam atrair compactos auditórios de mais de
quinhentas pessoas. No ano de 1896 foi transferido para Porto Alegre, como
aluno da Escola Militar que ali funcionava.
Naquela capital sulina o Espiritismo já era difundido por alguns pioneiros,
dentre eles Joaquim Xavier Carneiro, dirigente do Grupo Espírita Allan Kardec,
que dada a sua austeridade de costumes e práticas humanitárias exercia
enorme influência. De posse de uma lista com nome e endereço de
simpatizantes do Espiritismo, Viana de Carvalho conseguiu reunir todos numa
casa abandonada, desprovida de mesas e cadeiras. De pé, os freqüentadores
das reuniões ouviam, com verdadeiro enlevo, o seu verbo inflamado.
Posteriormente conseguiu formar um núcleo de estudos que passou a
funcionar no andar térreo de uma casa no centro da cidade.
Em 1898 publicou a sua primeira produção literária "Facetas", contos e
fantasias. Em seguida publicou "Coloridos e Modulações". Nesse mesmo ano
foi transferido para o Rio de Janeiro, onde recomeçou as preleções no Centro
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da União Espírita e em outros grupos, participando de um congresso e


encetando numerosas viagens ao interior do Estado do Rio de Janeiro.
Transferido para Cuiabá, Mato Grosso, ali fundou o Centro Espírita
Cuiabano. Em 1907, regressou ao Rio de Janeiro a fim de matricular-se no
curso de engenharia da Escola do Realengo, tornando-se o orador oficial da
Federação Espírita Brasileira, realizando ainda viagens aos Estados do Rio de
Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo. Foi ainda colaborador
assíduo da revista "Reformador".
Após concluir o curso de engenharia militar, rumou para Fortaleza, Estado
do Ceará, em abril de 1910. Ali iniciou uma série de conferências espíritas na
Loja Maçônica e, no dia 10 de junho, fundou o Centro Espírita Cearense. Não
satisfeito com as atividades desenvolvidas, criou ainda os jornais "Combate" e
"Lábaro", o primeiro destinado a contestar os argumentos do clero católico, que
nessa época desencadeava uma campanha difamatória contra o Espiritismo,
através do órgão "Cruzeiro do Sul"; a segunda publicação destinada a difundir
o Espiritismo. Através dos jornais "O Unitário", "A República" e "Jornal do
Ceará", manteve vivas polêmicas, refutando argumentos infundados sobre o
Espiritismo. Suas atividades em Fortaleza perduraram até novembro de 1911,
quando, por imposição do serviço militar foi transferido para Curitiba, no
Paraná, onde sustentou o mesmo nível de atividades, publicando artigos
diários no "Diário da
Manhã".
De volta ao Rio de Janeiro, em 1912, deu início a um persistente trabalho
de unificação dos grupos espíritas, do qual resultou a fundação posterior da
"União Espírita Suburbana", sob a presidência de Manuel Fernandes Figueira.
Em princípios de 1913, foi servir em Maceió, onde proferiu numerosas
conferências e encetou verdadeira jornada no sentido de reorganizar os grupos
espíritas dispersos ou com falta de orientação.
Pouco depois era transferido para Recife, Pernambuco, onde deu
prosseguimento à sua tarefa de divulgação, publicando numerosos trabalhos,
fazendo conferências e mantendo polêmicas que abalaram os meios religiosos
da cidade. Regressando ao Rio de Janeiro, Viana de Carvalho retomou a
pregação da Doutrina Espírita nos subúrbios, o que fez de 1914 a 1916,
quando foi transferido para Santa Maria da Boca do Monte, no Estado do Rio
Grande do Sul. Ali também teve a oportunidade de reorganizar e fundar vários
grupos espíritas e de realizar conferências que foram publicadas no "Diário do
Interior", e posteriormente em outros órgãos da imprensa
gaúcha.
Em 1917, de novo no Rio de Janeiro, ali desenvolveu intensa campanha
contra as fraudes e trapaças dos pseudos-espíritas. No ano seguinte voltou
para Santa Maria da Boca do Monte, em comissão do Governo Federal, junto à
9ª Brigada de Infantaria, desenvolvendo durante quinze meses intensa difusão
do Espiritismo.
Em 1919, novamente em Maceió, foi surpreendido com as atividades dos
detratores do Espiritismo, os quais tentaram proibir-lhe as palestras e até
mesmo expulsá-lo. Sem esmorecimentos travou intensos debates pela
imprensa e pela tribuna, sustentando acirradas polêmicas, tendo, nessa altura,
os seus opositores pleiteado, no Rio de Janeiro, a sua transferência, tendo ele
sido removido para o Estado do Paraná, em meados desse mesmo ano.
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Em Curitiba realizou conferências no Teatro Alemão, na sede da Federação


Espírita do Paraná e em outras instituições. Através do "Diário da Tarde"
publicou uma série de artigos doutrinários que tiveram muita penetração.
Da capital paranaense veio para S. Paulo, onde proferiu várias palestras,
muitas delas com o comparecimento de mais de mil pessoas. Em 1920 voltou
novamente ao Rio de Janeiro, de onde partia para proferir conferências em
cidades vizinhas.
Em 1923, seguiu para Recife, reorganizando os Centros Espíritas ali
existentes, mantendo novas polêmicas com detratores do Espiritismo.
Posteriormente rumou para o Ceará e daí para Sergipe, onde fora
designado para o comando do 28º B.C., em 1924. Nesse Estado as suas
atividades também foram amplas.
Em 1926, adoeceu gravemente, ficando decidido o seu recolhimento ao
Hospital de S. Sebastião, em Salvador. Suas forças estavam periclitantes.
Conduzido ao navio "Íris", por colegas oficiais e soldados, não conseguiu
entretanto chegar ao destino, pois, na altura de Amaralina, desencarnou a
bordo, sendo seu corpo dado à sepultura na Bahia.
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WILLIAM STAINTON MOSES
Nascido a 5 de novembro de 1839, em Domington, Lincolnshire,
Inglaterra, e desencarnado a 5 de setembro de 1892.
William Stainton Moses

Seu pai, William Moses, era reitor da Escola de Gramática, e sua mãe era
filha de Thomas Stainton d'Alford. O jovem William Stainton Moses iniciou os
seus estudos sob a direção de seu pai e foi em seguida confiado a um
professor particular que, maravilhado pelas suas aptidões, se empenhou
fervorosamente com seu genitor para que enviasse o filho a uma escola
pública. Em 1855, ingressou na Escola de Gramática de Bedford, onde estudou
durante três anos, merecendo dos mestres os mais francos elogios, pois a par
da sua dedicação aos estudos revelava acendrado sentimento do dever. Após
receber numerosos prêmios deixou essa escola.
De Bedford, Stainton Moses entrou para o "Exeter College", de Oxford, no
ano de 1858. A sua vida de estudante foi digna dos maiores encômios, tendo
mesmo adoecido gravemente devido ao demasiado apego às matérias
escolares.
A fim de convalecer da enfermidade, viajou durante um ano pelo continente
europeu e, na volta, passou seis meses no velho mosteiro grego do Monte
Athos. A curiosidade e sobretudo uma grande necessidade de meditação e de
isolamento o obrigaram a permanecer todo esse tempo no convento. Alguns
anos após o seu mentor espiritual, conhecido por Imperator, explicou-lhe que
desde essa época ele vinha sendo influenciado por entidades espirituais,
interessadas em ajudar a sua educação espiritual ...
Com 23 anos de idade, Stainton Moses voltou para Oxford. Ali, recebendo
o diploma, deixou a Universidade em 1863. Embora estivesse desfrutando de
melhor saúde, a necessidade de viver uma vida no campo, levou-o a aceitar
um curato em Maughold, perto de Ramsay, Ilha de Man, permanecendo ali
durante cinco anos, substituindo o reitor que, devido à sua idade avançada,
não podia mais exercer essas funções. Isso levou Moses a exercer tarefa
dupla.
Uma epidemia de varíola, que se manifestou nessa região, pôs em relevo a
sua dedicação e intrepidez. Como não havia médico no lugar, o jovem, que
tinha alguns conhecimentos de medicina, tratou dos corpos e das almas dos
habitantes da região. Dia e noite ele se desdobrava, porém a epidemia
progredia lentamente, fazendo com que ele além de pastor religioso se
transformasse no médico e no coveiro daquele núcleo populacional. A sua
extrema dedicação fez com que se tornasse ainda mais querido por parte dos
seus paroquianos. Entretanto, a sua saúde, que não podia suportar as
obrigações impostas pela administração de duas paróquias, obrigou-o a
procurar uma nova residência. Apesar de uma petição que lhe foi dirigida pelos
habitantes do local, Stainton Moses retirou-se pesaroso, para ocupar em 1868,
o curato de Saint-Georges, Douglas, Ilha de Man, onde caiu gravemente
enfermo, sendo tratado pelo Dr. Stanhope Speers, que residia em Douglas com
sua esposa, e que já não exercia a sua profissão.
Em setembro de 1869, abandonou o curato, deixando ali profunda
impressão pela prédica e caridade praticadas. Decorridos alguns meses, nos
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quais exerceu funções eclesiásticas em Langton, e em um curato da diocese


de Salisbury, uma moléstia da garganta obrigou-o a renunciar ao ministério.
Ao findar-se o ano de 1870, Stainton obteve um lugar de professor de
inglês na University College School, cargo que ocupou até 1889. Em 1870 sua
atenção foi atraída para o Espiritismo durante o Tempo em que residiu na casa
do Dr. Speers em Londres. A esposa desse médico permaneceu enferma
durante três semanas e, para distrair-se, lia o livro "Debatable Land" (Região
em Litígio entre este mundo e o outro), de autoria de Dale Owen.
Interessando-se intensamente por esse livro, logo que ela conseguiu
reassumir o lugar na reunião de família, pediu a Stainton Moses para ler e
procurar descobrir o que poderia haver de verdadeiro nos fatos que o autor
narrava.
O Dr. Speers e Stainton Moses discutiam reiteradamente alguns pontos
doutrinários da religião que professava, e como não estivessem muito
satisfeitos com as doutrinas existentes, o Dr. Speers havia se tornado um
materialista intransigente.
Em 1872, Stainton Moses começou a estudar o Espiritismo, a fim de
cumprir a promessa formulada à Sra. Speers, tendo para tanto assistido a
algumas sessões espíritas, principalmente uma que tinha como médium Lottie
Towler.
Numa sessão realizada na residência do casal Speers, tendo Stainton
Moses como médium, todos se tornaram convictos da realidade da existência
de Espíritos comunicantes, consolidando assim a crença na imortalidade da
alma.
Nessa época começou a desabrochar a mediunidade de Moses, que era
dotado de um poder extraordinário. Nunca se produziram menos de dez
espécies diferentes de manifestações no decurso das sessões realizadas por
seu intermédio. Quando as condições eram favoráveis, as manifestações
multiplicavam-se, as pancadas tornavam-se mais freqüentes, as luzes mais
brilhantes e os sons musicais mais distintos. Fenômenos maravilhosos
produziram-se por seu intermédio: sons musicais, pancadas, clarões,
balsamização do ambiente com perfumes diversos, passos pesados
produzidos por um Espírito que se denominava "Rector", os quais estremeciam
o ambiente, tilintar de campainhas, levitação de corpos pesados: mesas,
cadeiras; transposição da matéria, fenômenos de voz-direta, além de uma
variedade indescritível de fenômenos dos mais variados matizes.
Durante o periodo ativo da sua mediunidade, Stainton Moses ocupou-se
assiduamente da formação de sociedades com o fim de estudar o Espiritismo.
Contribuiu para a fundação da Associação Nacional Britânica dos
Espiritualistas, em 1873, da Sociedade Psicológica da Grã-Bretanha, em abril
de 1875, da qual foi um dos primeiros membros do conselho; da Sociedade de
Pesquisas Psíquicas, em 1882 e finalmente da Aliança Espiritualista de
Londres, da qual foi o primeiro presidente, cargo que exerceu até a sua
desencarnação.
Além dessas atividades, dirigiu a revista Light, periódico de fundo espírita.
Embora a sua faculdade mediúnica decrescesse de intensidade, ele conservou
sempre a faculdade de psicografia.
Desde 1889, a sua saúde ficou bastante combalida, ataques sucessivos de
influenza, minaram-lhe a constituição, que nunca fora robusta, causando a sua
desencarnação.
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A sua obra "Ensinos Espiritualistas" foi vertida para o português por Oscar
D'Argonnel. Trata-se de uma obra que encerra uma série de ensinamentos
ministrados pelo Espírito Imperator, e que Stainton Moses, que também usava
o pseudônimo de A. Oxon, publicou, e que a Aliança Espiritualista de Londres,
através do seu Conselho, fez publicar em edição comemorativa, prestando
efusiva homenagem ao seu inolvidável fundador.
Em sua vida de relação, Stainton Moses era um homem cordato, justo, que
sempre exercia julgamentos retos, modesto, sem vaidade, que jamais dirigia
palavras ásperas aos seus detratores e que, em resumo, possuía um conjunto
de qualidades raras entre os homens.

Fim

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