Silvio Santos
Silvio Santos
Silvio Santos
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SÍLVIO SANTOS
Aos 14 anos, Silvio descobriu que podia ganhar dinheiro vendendo capas
de plástico para título de eleitor. Deu o pontapé inicial para construir o seu
império
A lição foi bem assimilada. Até a bancada para colocar o produto acabou
copiada de Seu Augusto. Mas Silvio Santos foi além do ‘mestre’. Usou até
manipulações de moedas e baralhos para atrair novos fregueses. Com
alguns dias de experiência, passou a vender mais que Seu Augusto.
Chegou a ganhar cinco salários mínimos por dia. E tudo isso no horário do
almoço dos fiscais.
Na emissora, Silvio disputou uma vaga com outros 300 candidatos. Entre
eles estavam nomes que despontariam na vida artística, como o dos
humoristas Chico Anysio e José Vasconcellos (o gago Ruy Barbosa, da
Escolinha do Barulho, na Rede Record). Acabou abocanhando o primeiro
lugar. Mas a carreira na Rádio Guanabara durou apenas um mês. Como
camelô, Silvio ganharia mais, trabalhando bem menos. Então, voltou às
ruas, para negociar e faturar.
O jovem locutor fazia anúncios nos intervalos das músicas. Mais tarde,
percebeu que, nas travessias para Paquetá, os passageiros costumavam
dançar quando ligava o equipamento de som. Cansados, formavam até fila
para beber água no bebedouro. Oportunista, Silvio fez acordo com a
Antarctica para vender cerveja e refrigerante na viagem. Quem comprasse
uma bebida, recebia uma cartela de bingo. Como prêmio, oferecia bolsa
de plástico, jarra e quadro da Última Ceia.
Mas, para Silvio Santos o céu sempre foi o limite. "Tinha dias que o via
com barraca montada em Niterói de manhã e depois, à tarde, no Centro
da cidade.
Silvio chegou ali como quem não quer nada. O primeiro programa, ainda
na TV Paulista, chamava-se Vamos Brincar de Forca e era baseado na
manjada brincadeira em que os concorrentes são vão sendo enforcados à
medida que erram a resposta. Era apresentado à noite, em 1961. Foi um
sucesso.
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Pelo contrato com a Globo, ele não poderia ser acionista de nenhuma
outra emissora de televisão. Por isso, a negociação foi mantida em sigilo,
e Silvio usou um testa-de-ferro: o empresário Joaquim Cintra Gordinho.
Por fora, o apresentador continuou buscando a concessão do canal 11, do
Rio. Escaldado por outras tentativas frustradas, no passado, Silvio agiu nos
bastidores. Valeu-se da influência de amigos no Governo para apresentar
seu projeto de um canal autofinanciável por suas empresas. Em seu
programa, passou a citar o nome de políticos que poderiam interceder a
seu favor.
"Sempre quis falar do fenômeno Silvio Santos. Ele poderia ter sido um
homem como milhões, mas resolveu construir seu futuro amparado numa
determinação e intuição incríveis. Quando ele decide apostar, pode ter
certeza: vai dar certo! Líder nato, mais fala do que ouve, mas consegue
captar o instante em que uma idéia deva ser colocada em prática. Outra
coisa: é difícil dizer não a ele. Por ser mais que um patrão, um vitorioso,
humilde apesar do seu poder, Silvio sempre acaba conseguindo fazer valer
sua opinião. E é mesmo complicado discordar da lógica de um homem que
vive televisão 24 horas por dia.
A urna da felicidade
O casal tem quatro filhas: Daniela, Patrícia, Rebeca e Renata. Certa vez,
durante um programa, ele falou emocionadamente sobre a paixão. "Me
satisfaço com ela, sou feliz com minha família. Não tenho necessidade de
mais nada", disse.
Silvio Santos não gosta de expor sua intimidade. Não é à toa que
raramente concede uma entrevista. Mas, no fim de 1992, um escândalo
fez sua vida pessoal extrapolar os muros da mansão do casal Abravanel,
no Morumbi, em São Paulo. Ele e Íris se desentenderam, e a briga foi parar
na delegacia. Íris registrou queixa, garantindo que o marido teria
aproveitado a ausência dela para retirar obras-de-arte, móveis, tapetes e
até um cofre. Para configurar abandono de lar, ela fez questão de que
constasse no boletim que o apresentador havia passado o fim de semana
fora de casa. Silvio Santos, por sua vez, também registrou queixa contra a
mulher, e o caso acabou na Justiça.
Arlindo contou que o real motivo da briga do casal foi o pouco tempo que
Silvio passava com a família. O apresentador se dedicava demais aos
negócios. "Íris reclamou que as filhas não tinham convivência com ele.
Não viam o pai nem nos fins de semana", afirmou.
A surra foi mais forte que um tapinha: o SBT obteve média de 47% de
audiência, contra 27% da concorrente. Para tentar reverter o quadro, a
Globo usou uma estratégia que não deu certo: esticou os capítulos da
novela o quanto pôde. Silvio não esquentou; mudou também o horário do
filme.
Mas, no fim dos anos 80, ele decidiu melhorar a qualidade dos programas.
Investiu o dinheiro que recebera com a venda da TV Record para a Igreja
Universal. Abandonou, por exemplo, atrações como O Povo na TV e o
Moacir Franco Show. A audiência era boa, mas o faturamento não
alcançava as cifras necessárias para manter uma empresa como o SBT.
O jornal do SBT, com Lilian Witte Fibe, o TJ Brasil, com Boris Casoy, e o Jô
Onze e Meia atenderam classes mais altas, que não costumavam apertar
no controle o canal do SBT. O apresentador Gugu foi substituindo o patrão,
aos poucos, aos domingos. O programa do Faustão passou a perder no
Ibope para o colega de horário. Virou uma gangorra de audiência. A cada
semana, um era o vencedor. A estratégia de Gugu foi concentrar suas
melhores atrações no momento em que Faustão está no ar. No resto do
dia, podia até perder para a Xuxa e o Tom Cavalcanti, mas nunca do
Faustão. Deu certo: ganhou a briga dos domingos.
Gugu já esteve com um pé na Globo, mas Silvio Santos abriu o baú para
mantê-lo na sua emissora. Quando Jô Soares assinou com o SBT, a Globo
contratou Gugu para competir com Silvio nas tardes de domingo. O dono
do canal 11 agiu rápido e jogou pesado: fez uma proposta irrecusável a
Gugu, que à época, comandava no SBT o Viva a Noite, e levou a mulher,
Íris, e as quatro filha à tiracolo para o encontro. A pressão deu certo. Silvio
Santos pegou um avião com Gugu, e os dois conversaram com Roberto
Marinho. Foi tudo resolvido. Menos a multa pela rescisão do contrato, que
não foi perdoada.
Não é fácil dobrar o homem do Baú. Silvio é autoritário e gosta das coisas
a seu modo. "Ele tem um temperamento danado. Cansei de bater de
frente com ele quando cheguei à emissora, em 1987", relembra Carlos
Alberto, filho de Manoel de Nóbrega, aquele que passou o Baú para Silvio.
Os dois ficaram sem se falar por 11 anos. Segundo Carlos Alberto, por
causa de um mal-entendido. Sem entrar em detalhes, disse que o
problema envolvia ações da TV. "Meu pai me contou uma coisa. Só depois,
o Silvio me explicou tudo. Meu pai (morto em 1976), que tinha Silvio como
um filho, estava enganado", conta.
Carlos Alberto é grato a Silvio por ter salvado o pai da falência, em 1975.
Manoel de Nóbrega se envolvera em um malfadado negócio. Silvio pagou
a dívida e, provisoriamente, ficou com os bens de Nóbrega. Um belo dia,
Nóbrega, que pensara que perdera tudo, recebeu todas as escrituras de
volta (dois ou três apartamentos, uma casa e dois terrenos). Silvio viajou
em seguida. "Ele não queria receber o telefonema de agradecimento do
meu pai", relembrou.
Não é à toa que ele é também conhecido como "o homem do sorriso".
Desde 1957, quando iniciou a saga com o Baú, Silvio construiu uma
carreira de conquistas. "Achava que ele subiria na vida por ter uma visão
comercial. Mas nunca poderia imaginar que chegaria tão longe", confessa
Carlos Alberto de Nóbrega, apresentador de A Praça É Nossa e amigo dos
tempos bicudos.
Não adianta. Ele quer mais. Já chegou a anunciar que se aposentaria dos
palcos aos 60 anos. Passados 10 anos, continua com todo o vigor. À frente
do Show do Milhão, respira mais um sucesso.
Ao que parece, Silvio sonha ir mais longe. E ele se prepara para tanto.
Hoje, o SBT já fatura um quarto do que a Rede Globo abocanha.
Silvio também está de olho no mercado lucrativo das TVs por assinatura.
Formou consórcio com a Bandeirantes, fundos de pensões norte-
americanos e o Grupo Associados (ex-Diários Associados) e criou a TV
Cidade. Tem autorização para operar em 16 municípios brasileiros, entre
eles, Niterói e São Gonçalo.
Hoje, ele vive com a mulher, Íris, e suas quatro filhas em uma mansão no
Morumbi. Contou com o conforto da família para enfrentar grandes
perdas. Seu pai, Alberto, morreu em 1976. Léo, o irmão mais chegado, foi
enterrado em 1982. E a mãe, Rebecca, sete anos depois. Durante a
campanha para prefeito de São Paulo, em 1992, um outro baque.
Sua irmã Sara, mais conhecida como Sarita, foi seqüestrada no Rio. Ela
saia de casa, na Tijuca, para o SBT, onde trabalhava como diretora
regional da emissora. Quatro bandidos inexperientes a obrigaram a entrar
no porta-malas de um Chevette, sob a mira de um revólver. Os
seqüestradores exigiram 500 mil dólares (quase R$ 1 milhão) e mais meio
quilo de ouro. A polícia foi logo mobilizada pelo governador Leonel Brizola
e, em 15 horas, os bandidos foram presos. O erro deles foi ligar para um
número com bina. Sarita ficou o tempo todo amarrada, no porta-malas.