Breve Parinirvana Sutra
Breve Parinirvana Sutra
Breve Parinirvana Sutra
Quando Xaquiamuni Buda girou pela primeira vez a Roda do Darma, Ajnatakaundinya despertou. Em seu ltimo discurso do Darma, Subhadra se iluminou.
Todos os que deveriam ser despertos assim o foram.
Entre duas rvores-sala, Xaquiamuni Buda estava quase entrando em
Parinirvana. Era o meio de uma noite calma, silenciosa, sem nenhum rudo.
Para o bem de todos os seus discpulos, Xaquiamuni Buda fez uma breve
explicao da essncia do Darma:
monges e monjas! Depois de minha morte, respeitem e
compartilhem os Preceitos. Manter os Preceitos como encontrar uma
luz na escurido; como uma pessoa pobre encontrando um grande
tesouro. Saibam que os Preceitos so, para vocs, o mestre. Manter os
Preceitos Me manter sempre vivo neste mundo. As pessoas que
mantm os Preceitos no devem se dedicar ao comrcio nem devem
possuir campos e moradias; no devem governar sobre outras pessoas
nem manter servos ou animais. Devem evitar possuir plantaes e
acumular bens, da mesma forma que evitariam uma fogueira. No
devem cortar grama nem rvores, arar o solo ou cavar a terra, misturar
remdios, ler a sorte, observar a posio das estrelas, predizer as fases
da Lua, calcular calendrios e dias auspiciosos.
Controlem seu corpo, comam nas horas certas, em pureza se
conduzam. No se envolvam nos afazeres mundanos nem ajam como
mensageiros. No faam mgicas, no misturem poes e no se
tornem ntimos com pessoas eminentes. Com a mente clara e correta
ateno, vocs devem procurar o despertar. Vocs no devem
esconder seus erros, no devem expressar pontos de vista errneos
nem liderar pessoas erroneamente. Ao receber as quatro espcies de
ofertas, saibam a quantia correta e fiquem satisfeitos. No acumulem
ofertas.
Agora vou falar brevemente em como proteger os Preceitos. Os
Preceitos so a base da verdadeira libertao, por isso so chamados
O termo snscrito pratimoksa pode ser traduzido como crescendo e aumentando e purificando e
erradicando. Possui ainda dois outros significados: libertao garantida (a algum que segue os
preceitos do Bodisatva, garantido que conseguir partir do nvel de uma pessoa comum e chegar ao
nvel de uma pessoa sbia) e libertao especial (para cada preceito que se segue, obtm-se uma
libertao particular).
O termo diana (do snscrito dhyna), equivalente ao termo japons zen, refere-se a um estado
meditativo ou a um estado absorto da mente trazido pela meditao. H quatro estados de absoro, ou
quatro dianas. No primeiro diana, ocorre a libertao de paixes, desejos e pensamentos prejudiciais, e
obtm-se um interesse jovial e uma sensao de bem-estar. No segundo diana, a atividade intelectual
cessa e substituda por tranquilidade e mente focada. O interesse jovial e a sensao de bem-estar
ainda esto presentes. No terceiro diana, a alegria cessa e substituda por equanimidade. No quarto
diana, todas as sensaes cessam e apenas a mente plena de equanimidade permanece.
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honrados por Indra 3 e por seres celestiais. Por isso, vocs devem
deixar tanto a sua como as outras vilas ou cidades e viver a ss em
locais remotos, com a inteno de extinguir a origem do sofrimento.
Os vidos por companhia sofrem dificuldades por excesso de
companhia, assim como a rvore corre o risco de murchar se muitos
pssaros viverem nela. Se estiverem apegados ao mundo, iro afundar
no sofrimento comum, assim como um velho elefante se afoga na
areia movedia e dali no consegue sair. Tal a prtica do isolamento.
monges e monjas! Se vocs diligentemente mantiverem o
esforo correto, nada ser difcil. Por isso, vocs devem manter o
esforo correto diligentemente, assim como o constante gotejar da
gua fura uma rocha. Se a mente do praticante for inclinada
indolncia, ser como esfregar a madeira para iniciar o fogo e
descansar antes que ela fique quente. Mesmo que essa pessoa queira o
fogo, a fasca no acontece. Tal a prtica do esforo correto.
monges e monjas! No percam a ateno correta ao procurar
por um mestre ou por um amigo. Se vocs perderem a ateno, as
paixes podero entrar. Por isso, monges, sempre mantenham a plena
ateno. Se perderem a ateno, perdero todo o mrito. Se o poder da
ateno for forte, vocs no podero ser feridos pelos desejos, assim
como no teriam o que temer se entrassem numa batalha usando uma
armadura. Esta a prtica de no perder a ateno.
monges e monjas! Se unificarem sua mente, sua mente
estar concentrada. Quando sua mente estiver concentrada, vocs
podero compreender as marcas do surgir e do extinguir de todas as
coisas no mundo. Por isso, vocs devem praticar a concentrao
sempre e diligentemente. Se obtiverem a concentrao, a mente no
ficar dispersa. Assim como as barragens so mantidas em bom estado
para conservar a gua, o praticante, para o bem da gua da sabedoria,
deve concentrar-se em meditao e no permitir que ela vaze. Tal a
prtica da concentrao.
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No hindusmo, Indra o soberano dos deuses, o lder dos devas, o deus da guerra, do trovo e das
tempestades, o maior de todos os guerreiros, o mais forte de todos os seres, o defensor dos deuses e da
bondade contra as foras do mal.
abandonar
pensamentos
confusos
conversas
futuros.
Sou
como
um
bom
mdico
que,
Por trs vezes, o Mais Honrado exortou os monges dessa forma, mas ningum
na assembleia falou, pois no havia dvidas. Nesse momento, Aniruddha, percebendo
a mente dos que estavam ali reunidos, disse a Buda:
Honrado do Mundo! Mesmo que a Lua fique quente e o Sol
torne-se frio, as Quatro Nobres Verdades ensinadas por Buda no
podem mudar. A verdade do sofrimento ensinada por Buda do
verdadeiro sofrimento que no vira felicidade. Apego a causa
verdadeira, e no h outra causa. O sofrimento destrudo quando sua
causa destruda. O caminho da destruio do sofrimento o
Caminho da Verdade, e no h outro caminho.
Honrado do Mundo! Todos estes monges e monjas tm certeza
e no tm dvidas em relao s Quatro Nobres Verdades. Se nesta
assembleia houver algum que ainda no completou sua compreenso,
ao ver a passagem de Buda se lamentar. Aqueles que apenas agora
penetraram o Darma obtero o despertar ao ouvir as palavras de Buda,
assim como na escurido da noite um raio ilumina a estrada. Se
houver algum que j tenha completado sua compreenso e cruzado o
mar de sofrimento, ter apenas este pensamento: quo rpida a
passagem do Mais Honrado do Mundo!
se
movem,
so
caracterizadas
por
instabilidade
desaparecimento.
Parem agora!
No falem!
O tempo passa.
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Kalpa uma palavra snscrita usada para descrever um longo perodo de tempo nas cosmologias
hindu e budista. O conceito primeiramente mencionado no Mahabharata. Em uma simples
explicao, h quatro diferentes comprimentos de kalpas: o kalpa regular dura aproximadamente 16
milhes de anos; o kalpa pequeno dura 16 bilhes de anos (ou mil kalpas regulares); o kalpa mdio
dura 320 bilhes de anos (o equivalente a 20 pequenos kalpas); o kalpa grande dura 1,28 trilhes de
anos (ou quatro kalpas mdios). Podemos tambm utilizar algumas metforas para explicar esse
conceito: se uma pessoa colhesse uma semente de papoula a cada trs anos, levaria 1 kalpa para retirar
todas as sementes numa cidade de 10 milhas quadradas; ou se uma mulher celestial tocasse uma pedra
de 10 milhas cbicas com suas vestes uma vez a cada trs anos, demoraria 1 kalpa para desgast-la.
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Tathagata um dos eptetos de Buda, usado nas escrituras quando Ele se refere a si mesmo. Costuma
ser traduzido como Aquele que vem e que vai do assim-como-. Aquele que transcendeu todo ir e
vir, todos os fenmenos transitrios; Aquele que encontrou a Verdade.
Atravesso.
Este o Meu Ensinamento final.
Traduo do japons para o ingls: Kazuaki Tanashi e Jonathan Condit (San Francisco, maio de 1980).
Traduo do ingls para o portugus: Monja Coen (So Paulo, fevereiro de 2002).
Reviso de texto: Monja Coen (So Paulo, fevereiro de 2003).
Reviso final: Andrea Caitano (So Paulo, fevereiro de 2015).