Núcleos de Significação - Aguiar e Ozella
Núcleos de Significação - Aguiar e Ozella
Núcleos de Significação - Aguiar e Ozella
RBEP
Resumo
Pretende aprimorar uma proposta de anlise dos sentidos presentes
no discurso, j publicada em 2006 pelos mesmos autores. Na primeira
parte, destacada a importncia do referencial terico e metodolgico, no
caso o da Psicologia Scio-Histrica, e suas implicaes para a apreenso
dos sentidos. Para isso, discute algumas categorias, como mediao,
historicidade, sentido e significado. Na segunda parte, retomada a
proposta j feita dos ncleos de significao como meio de se apreender os
sentidos, mas luz de novas reflexes e teorizaes. Para ilustrar a forma
de proceder anlise, um novo exemplo apresentado, sendo que, nesse
processo, foi possvel avanar tanto no que se refere aos procedimentos
de anlise de material discursivo quanto na teorizao essencial a todo
o processo.
Palavras-chave: sentidos; ncleos de significao; Psicologia
Scio-Histrica.
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Abstract
The senses apprehension: improving the core of meaning proposal
This article aims to improve a proposal for analysis of senses present
in the speech, already published in 2006, by these same authors. In
the first part it has been highlighted the importance of theoretical and
methodological framework, in the case of Historical Social Psychology and
its implications for the apprehension of the senses. For this we discussed
some categories, for example, mediation, historicity, sense and meaning.
In the second part we take the proposal already made of the core of
meaning as a means of apprehending the senses, but in the light of
new reflections and theorizing. To illustrate the form of carrying out the
analysis, we bring a new example, being that, in this case, it was possible
to move forward, both as regards procedures for discursive material
analysis and in theorizing essential throughout the process.
Keywords: senses; core of meaning; Historical Social Psychology.
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1
Ver mais sobre esta questo em:
Vigotski (1991a).
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4
Smolka (2004) discute mais
profundamente a questo do
signo no captulo Sentido e
significao sobre significao
e sentido: uma contribuio
proposta de rede de significados.
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Os pr-indicadores
Consideramos que a palavra com significado a primeira unidade
que se destaca. Partimos dela sem a inteno de fazer uma mera anlise
das construes narrativas, mas com a inteno de fazer uma anlise do
sujeito. Assim, temos que partir das palavras inseridas no contexto que
lhe atribui significado, entendendo aqui como contexto desde a narrativa
do sujeito at as condies histrico-sociais que o constitui.
O esforo empreendido na direo de, num processo construtivointerpretativo, partir do emprico, mas, super-lo. Os ncleos de
significao expressam o movimento de abstrao que, sem dvida,
contm o emprico, mas pela sua negao, permitindo o caminho em
direo ao concreto. Buscamos, a partir do que foi dito pelo sujeito,
entender aquilo que no foi dito: apreender a fala interior do professor, o
seu pensamento, o processo (e as contradies presentes nesse processo)
de constituio dos sentidos que ele atribui atividade de docncia.
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Concluda a primeira fase, passou-se para a aglutinao dos prindicadores, ou seja, dos diversos temas revelados na fala de Raquel,
de acordo com os critrios de semelhana, complementaridade e
contraposio. Tal procedimento permitiu a inferncia e sistematizao
de alguns indicadores, como os que seguem no Quadro 1.
Este processo de aglutinao de pr-indicadores em indicadores
ocorreu com base nos critrios j apresentados. Cada indicador do
Quadro 1 traz consigo sentidos e significados que s podem ser
compreendidos a partir da leitura e interpretao das palavras de Raquel
em seu contexto scio-historicamente determinado.
Concluda a aglutinao dos pr-indicadores em indicadores,
passou-se para a terceira fase, que consistiu na inferncia e sistematizao
dos ncleos de significao, conforme Quadro 2. Para que Soares chegasse
a esta fase, procedeu articulao dos indicadores, considerando os
contedos temticos que apresentavam semelhana, tinham aspectos
complementares e/ou continham alguma contradio. Alm disso, como
um critrio central para organizao dos ncleos, esses indicadores devem,
alm de expor aspectos importantes e reveladores do sujeito, contribuir
para que se atinja o objetivo da pesquisa.
Quadro 1 Organizao dos Indicadores e Pr-Indicadores
(continua)
Pr-indicadores
Indicadores
1) Capacitao.
2) Formao superior.
3) Satisfao.
4) Pedagogia.
1) Necessidade e
oportunidade de
aperfeioamento.
5) Professora pesquisadora.
6) Professora reflexiva.
7) Convivncia com pessoas diferentes.
8) Conhecimentos prvios.
9) Realidade dos alunos.
10) Cidadania.
3) A construo de
uma nova concepo
pedaggica de aluno,
ensino e aprendizagem.
4) Prtica pedaggica e
motivao para aprender.
5) A construo de um novo
modo de ser professora.
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Pr-indicadores
Indicadores
8) Os conhecimentos
prvios no processo de
formao do professor.
33) Leitura.
34) Atividades de pesquisa.
35) Sala de aula.
36) Alunos com dificuldades.
9) A realidade
multifacetada da sala de
aula.
10) A construo da
autonomia pedaggica do
professor-cursista.
11) Apropriao/objetivao
do processo histrico do
ser professora.
53) Dificuldades.
54) Enfrentamento das dificuldades.
55) Estudo em grupo.
14) Estratgias de
enfrentamento
e superao das
dificuldades.
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Ncleos de significao
1) Necessidade e oportunidade de
aperfeioamento.
2) Uma nova concepo do papel de
professora e educadora.
3) A construo de uma nova concepo
pedaggica de aluno, ensino e
aprendizagem.
4) Prtica pedaggica e motivao para
aprender.
5) A construo de um novo modo de ser
professora.
7) A relao teoria e prtica.
13) A formao como processo de superao
da dicotomia pessoal/profissional.
1) A atuao pedaggica
docente como atividade
vital humana.
2) A postura pedaggica
dos professores
formadores.
4) A mediao afetiva
na constituio do ser
professora.
5) A superao das
dificuldades vividas na
formao acadmica.
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que a fala de Raquel revela algo mais do que compromisso com o curso,
revela compromisso com o seu modo de ser professora, com o seu modo
de atuar junto aos seus alunos e, dessa forma, contribuir para que estes
tenham uma formao mais eficaz.
Neste momento da anlise, evidencia-se a relevncia de se focar e
desvelar os processos afetivos envolvidos. Com essa inteno, Soares
destaca a importncia de compreendemos o compromisso de Raquel com
o curso e os alunos como algo atravessado profundamente pelo o que ela
sente em relao ao processo pedaggico do ensinar e aprender. A fala
de Raquel a revela de modo afetivamente implicada no/pelo processo de
sua formao e atuao profissional, ou seja, como aluna e professora.
Teorizando e iluminando a complexa questo da afetividade, o autor
traz relevante citao de Leite (2006):
A afetividade constitui-se como um fator de grande importncia na
determinao da natureza das relaes que se estabelecem entre
os sujeitos (alunos) e os demais objetos de conhecimento (reas e
contedos escolares), bem como na disposio dos alunos diante das
atividades propostas e desenvolvidas. possvel, assim, afirmar que a
afetividade est presente em todos os momentos ou etapas do trabalho
pedaggico desenvolvido pelo professor. (Leite, 2006, p. 24).
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