Antígona

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Catarina Eufémia1

(copiado de Sophia)

O primeiro tema da reflexão grega é a justiça Antígona


E eu penso nesse instante em que ficaste exposta não aprendeu
Estavas grávida porém não recuaste a ceder
Porque a tua lição é esta: fazer frente aos desastres

Pois não deste homem por ti Adília Lopes


E não ficaste em casa a cozinhar intrigas
Segundo o antiquíssimo método obíquo das
mulheres Antígona e a lei dos homens
Nem usaste de manobra ou de calúnia
E não serviste apenas para chorar os mortos Estava tão quieta que podia
reconstruir o tempo instante a instante
Tinha chegado o tempo a história desse sofrimento
Em que era preciso que alguém não recuasse as confidências da casa grande
E a terra bebeu um sangue duas vezes puro - onde se via já velha e sozinha -
Porque eras a mulher e não somente a fêmea o sobressalto das ameaças
Eras a inocência frontal que não recua
Antígona poisou a sua mão sobre o teu ombro O mundo girava muito mais leve
no instante em que morreste ou teria ela aprendido
E a busca da justiça continua como se ultrapassa o medo
sentia-se arrastada
Sophia de Mello Breyner Andersen não por palavras duras
antes uma espécie de alegria
em alguma parte
1
Catarina Eufémia personifica o exemplo de coragem e quando se perguntava:
tenacidade na luta pela liberdade. Trabalhadora rural, «que foi que perdi?»
Catarina Eufémia reivindicava pão e melhores salários
quando foi assassinada em terras de Baleizão pelas forças Com os olhos fechados, calmos
do regime salazarista. Viviam-se tempos difíceis no porque não saberia mais a que ligá-los
Alentejo. Com condições de vida precárias, os camponeses sentava-se na penumbra
saíram à rua para protestar. Catarina Eufémia - que se
e esta estranha paz
supõe ter sido militante comunista - liderava o movimento.
Era o símbolo da dedicação aos ideais, como a justiça e a
era diante dos infortúnios
igualdade. A sua trágica história tornou-se numa lenda e o seu único poder
inspirou vários poetas ao longo de décadas.
José Tolentino Mendonça
Em 19 de Maio de 1954, a situação agravou-se. Os
camponeses abordaram abertamente um grupo de
trabalhadores recém-chegados para que, também eles,
reivindicassem melhores condições de trabalho. Os ânimos
aqueceram. Catarina Eufémia, uma ceifeira analfabeta,
estava à frente do movimento. Mulher de coragem e
determinação, defendia o direito à liberdade de expressão.
Lutava por uma sociedade mais justa e, como a própria
afirmava, por “pão e trabalho”. Ao ser abordada pelo
tenente Carrajola, da GNR, Catarina respondeu com
autoridade. No mesmo momento levou vários tiros e
morreu. Tinha 26 anos e três filhos. Crê-se que estava
grávida. A notícia chocou o País. Catarina Eufémia
morreu como uma resistente, exigindo mais dignidade
para os trabalhadores agrícolas. A sua acção foi
imortalizada. Jovem assalariada rural, ficou na memória de
todos como um símbolo da luta pela liberdade. Tem sido,
ao longo das décadas, fonte de inspiração de poetas
portugueses. Sophia de Mello Breyner escreveu num
poema: “Tinha chegado o tempo / Em que era preciso que
alguém não recuasse / E a terra bebeu um sangue duas
vezes puro / Porque eras a mulher e não somente a fêmea /
Eras a inocência frontal que não recua / Antígona poisou a
sua mão sobre o teu ombro no instante em que morreste /
E a busca da justiça continua.”

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