Texto - A História Da Música
Texto - A História Da Música
Texto - A História Da Música
O Ser Humano possui em sua vida sete "dimensões": Física, Espiritual, Intelectual, Social,
Profissional, Afetiva e Familiar. De todas as realizações do Homem, a Arte é a que mais
intrinsecamente permeia todas essas dimensões da existência humana. E de todas as Artes,
a mais antiga é a Música.
A música é nossa mais antiga forma de expressão, possivelmente até mais antiga que a
linguagem. De fato, a música é o Homem, muito mais que as palavras, pois estas são
símbolos abstratos. A música toca nossos sentimentos mais profundamente que a maioria
das palavras e nos faz responder com todo nosso ser.
Muito antes de o ser humano aprender a pintar, esculpir, escrever ou projetar algo, já sabia a
produzir e apreciar os sons. Obviamente esses sons seriam hoje considerados apenas ruídos,
mas considerando que "música é a arte de manipular os sons", o que o Homem primitivo
produzia era música, ou um "embrião" musical.
O "instrumento" musical mais antigo que existe é a voz humana. Com ela, o homem
aprendeu a produzir os mais diversos sons, e a agrupar esses sons, formando as primeiras
linhas melódicas. Depois inventou os instrumentos musicais, que se multiplicaram e
evoluíram ao longo da História. Muitos destes desapareceram, e a Música mudou muito em
todo este tempo. Mas o gosto do ser humano pela música permanece intacto.
Para se estudar a Música, é preciso antes saber o que é música. A música não pode ter
nenhuma definição objetiva, pois ela conserva um caráter de abstração, o que a torna algo
sem uma definição fechada ou precisa. Ela é uma arte sem corpo físico, ao contrário do que
acontece com a pintura, escultura, literatura ou a arquitetura, daí sua abstração. Pode-se
dizer que ela não tem um significado, mas o produz em determinados contextos; ou seja, só
é possível entendê-la através do vínculo estabelecido entre a música e os contextos (sociais,
culturais, físicos) a ela ligados.
A música sempre foi uma parte importante da vida cotidiana e da cultura geral do homem.
Hoje vê-se a Música sendo transformada em mero produto pela "Indústria do
Entretenimento". Muitas vezes ela se torna um simples ornamento que permite preencher
noites vazias com idas a concertos ou shows, organizar festividades públicas, etc. Há um
paradoxo, então: as pessoas ouvem, atualmente, muito mais música do que antes, mas esta
representa, na prática, bem pouco, e possui, muitas vezes, não mais que uma mera função
decorativa.
Mas em todo o Mundo ela ainda mantém vivo seu caráter social, de transmitir sentimentos,
de servir de elo com a Divindade, de perpetuar a História, a língua, a cultura e as tradições
de cada povo.
A música é mais sublime das Artes, a arte que homens e Anjos compartilham.
Deve ser ensinada como uma língua, e não como mera técnica e prática, sem vida.
Ao longo da História, a Música esteve tão dependente da Arquitetura, que esta era
composta em função da edificação onde ela sempre era executada (a música sacra nas
catedrais, a música da corte nos salões dos castelos). Mesmo a música do povo, tocada nas
praças e nas ruas, carregavam em sua estrutura a "aura" do espaço adjacente, do estorno
construído. O vazio e seu entorno também é arquitetura, pois arquitetura é a "arte de
organizar o espaço".
Com a popularização da música, a partir do Século XIX, quando esta ficou cada vez mais
acessível a públicos cada vez maiores, é que começou a ocorrer o contrário: a Arquitetura
dependente da Música. Foram então projetadas as primeiras salas de concerto, com sua
concepção arquitetônica toda voltada para as questões acústicas.
Este é o tema deste presente estudo: pesquisar a História da Música, analisando em todos os
aspectos sua relação com a arquitetura, em como estas duas Artes evoluíram juntas, bem
como os aspectos sociais, culturais e ideológicos que determinaram cada uma destas duas
Artes.
Desde os imemoriais tempos primórdios da História (ou até incluindo o que chamamos de
"Pré História") o Homem cultiva a arte da Música. Podemos afirmar, sem sombra de
dúvida, que a mais antiga das Artes é a Música, pois antes que o ser humano pudesse pintar,
esculpir, escrever ou projetar algo, ele já podia produzir e apreciar os sons. O primeiro
instrumento musical foi a própria voz humana.
Sabemos, com base nas Sagradas Escrituras, que a música surgiu primeiramente nas Côrtes
Celestiais. Sua função era honrar e louvar a Deus.
Quando Deus criou Adão e Eva, os dotou de musicalidade inata. A primeira experiência
musical do casal foi a música dos Anjos. Com certeza essa foi a música mais pura e perfeita
já ouvida por nós humanos.
Após a Queda, o Homem já não tinha mais um contato direto com Deus e seus santos
Anjos. Mas a música se perpetuou na vida do Homem. Não sabemos exatamente como era
essa música, mas é possível que boa parte da pureza e perfeição inicial se perdeu, como
tudo neste mundo após o pecado.
Se a Humanidade ante-diluviana era mais o menos homogênea, após o Dilúvio tudo mudou.
A grande catástrofe enviado por Deus alterou completamente o relevo da Terra, separou os
continentes, mudou o clima, os hábitos alimentares de homens e animais.
Com a confusão das línguas na Torre de Babel, o Homem se espalha pela face da Terra.
Passa a habitar regiões desérticas, densas florestas, ilhas soladas no meio de oceanos, etc. E
passa a exercer uma grande habilidade natural: a adaptação ao meio ambiente. O
isolamento geográfico e a adaptação ao meio vão gerar grandes alterações no ser humano,
não apenas no seu estilo de vida, mas em sua biologia. Foi assim que surgiram e se
desenvolveram as etnias humanas, classificadas em caucasiana, negróide, australóide,
mongolóide, etc. Ou seja, os brancos, os negros, os amarelos (orientais), os vermelhos, etc.
Essa grande variedade de meios vai gerar uma grande variedade de estilos de vida, de etnias
e de graus de desenvolvimento. Enquanto alguns povos se desenvolvem enormemente,
chegando ao estágio de grandes civilizações, com grande desenvolvimento tecnológico,
com sistema político-social avançado, com o domínio da Arte (música, pintura, escultura,
literatura, arquitetura) e da Ciência (matemática, física, medicina); outros estacionam (ou
até regridem, no espaço de poucas gerações) num estágio de desenvolvimento bastante
primitivo.
Povos que um dia foram capazes de construir embarcações capazes de levar famílias
através de milhares de quilômetros mar adentro, séculos (ou até milênios) depois foram
encontradas isoladas em ilhas, incapazes de construir algo além de rudimentares canoas de
pesca. E foram encontrados por homens munidos de avançadas embarcações de metal,
movidos a propulsão mecânica (a vapor), nos séculos XIX; e a óleo combustível, no século
XX.
Em plena era moderna, ainda havia (e ainda há) seres humanos vivendo de um modo
primitivo; "como na pré-história", disseram alguns pesquisadores.
E antes desses existiram na Europa povos mais primitivos ainda, como evidenciam os
achados arqueológicos, como as pinturas rupestres nas cavernas, os artefatos de ossos,
pedra lascada, etc.
Se verificou que possuem uma relação de interdependência muito forte com a natureza, a
ponto desta ser deificada por eles. É observando os animais que eles aprendem muita coisa.
Em suas andanças pela Natureza, esse homem primitivo se deleitava com os melodiosos
gorjeios dos pássaros, com a variada gama de sons (grunhidos, relinches, urros, rugidos,
uivos, latidos, miados, mugidos...) produzidos pelos mais diversos animais. Podia apreciar
também o "assobio" do vento, o "tamborilar" da chuva, o "sussurro" do riacho, o "crepitar"
da fogueira, entre outros.
Nas práticas religiosas, a música era a linguagem mágica do Homem primitivo na sua
invocação aos deuses, aos espíritos e as forças da Natureza, através de uma melodia
cantada. Pode ser usada tanto para expressar gratidão como para acalmar uma divindade
enraivecida, até o ponto de exercer uma influência mágica e controladora sobre a mesma.
Servia para elevar a consciência humana ao místico, ao mítico, ao cósmico, ao sobrenatural.
(STEFANI, 2002)
Ao longo de suas atividades diárias, o Homem descobriu também que, ao bater paus, pedras
(e posteriormente metais) uns nos outros, podia produzir sons. Verificou que materiais
diferentes, de rigidez e tamanhos variados produziam sons variados na mesma medida,
muitas vezes nas mesmas tonalidades que ele produzia com sua voz. Sugiram assim os
instrumentos de percussão.
O Homem também percebeu que ao soprar em sua zarabatana de caça, se produzia um som
característico, como um assobio, e que zarabatanas de comprimentos e diâmetros diferentes
produziam sons de alturas diferentes. Ao puxar e fazer vibrar a corda de seu arco de flecha,
também se produzia um som. Da manipulação destas propriedades sugiram então os
primeiros instrumentos de sopro e os de cordas. Muitos outros instrumentos musicais
surgiram e evoluíram ao longo da História, outros desapareceram sem que hoje tenhamos
contato com eles. Mas o gosto do ser humano pela música permanece inalterado.
De toda essa riqueza musical da Antigüidade, apenas se tem uma vaga idéia, através da
música dos povos primitivos que ainda se encontram na Terra. Mas a noção exata de como
esta seria se baseia em pura especulação. Assim como a Pré História só passou a ser
chamada de História a partir da invenção da escrita, a música desse período se perdeu
devido à falta de uma escrita musical. A notação musical só foi desenvolvida no século IX,
por um monge, e se desenvolveu até a que se conhece e se usa hoje na escrita de músicas na
forma de partituras.
Obviamente, quando se fala sobre a música "pré-histórica", não se pode julgar a partir de
um conceito atual de música. Este conceito mudou bastante com o passar das eras. O
conceito clássico diz que "música é a arte de combinar os sons de maneira agradável aos
nossos ouvidos". O conceito Romântico diz que "música é a arte de manifestar os diversos
afetos de nossa alma mediante os sons".
Neste século, com o fim de um único estilo dominante, onde a cada dia nascem dezenas de
novos estilos musicais, dizemos apenas que "música é a arte de combinar sons e silêncio",
conceito que se aproxima muito do que era a música para o Homem primitivo. A música
mais moderna e tecnológica, a chamada música eletrônica, é predominantemente percutida
e dançante, tal qual uma música tribal.
A música tem o poder de despertar as mais variadas sensações em seus ouvintes. Pode
servir de estímulo; por isso muitas vezes uma pessoa ouve uma canção e se sente
sintonizada com ela e consigo mesma, e se sente melhor e consegue trabalhar melhor. Pode
servir como ativadora da memória, nos fazendo lembrar de eventos passados, tristes ou
felizes; pode nos associar a pessoas, eventos, lugares, datas especiais. Pode relaxar, excitar,
alegrar, deprimir.
Num filme, por exemplo, a música não é apenas um fundo; ela acompanha, comenta,
descreve e reforça as diferentes situações. É difícil de nos lembrarmos da trilha sonora de
um filme quando acabamos de assisti-lo, mas com certeza nos lembraremos das cenas mais
marcantes. E estas cenas são marcantes graças ao reforço da trilha sonora. Uma cena
romântica nunca desperta a mesma emoção sem uma linda melodia a acompanhá-la. Uma
cena de ação não produz a mesma adrenalina sem uma música poderosa de fundo. Uma
cena de suspense ou terror não provocará tanto medo sem uma lúgubre e aterradora trilha
sonora. Diversos estudos foram realizados neste sentido. Diversas pessoas assistiram cenas
de romance, ação, comédia, suspense e terror, primeiramente com as trilhas originais,
depois com as trilhas trocadas, e por último sem som algum. As sensações despertadas
foram as mais diversas possíveis.
Ao contrário, num concerto de música erudita, as pessoas assumem uma postura de escuta
direta e imediata, concentrada exclusivamente na música. A música não serve para algo, ela
é um fim em si mesma.
A música tem diversos níveis de sentido. Os sons são pensados pela mente como qualquer
outra realidade: simples ou complexa, contínua ou descontínua, repetida, variada, etc. Estes
são os primeiros significados. A música pode ser sentida em vários sentidos: códigos gerais
de percepção, práticas sociais, técnicas musicais, estilo, obra, etc. Mas isso não só quando
escutamos concentradamente, mas também quando cantamos, tocamos, jogamos,
dançamos, estudamos música. Somos capazes, com os sons, de produzir sensações em
diversos níveis.
Quando tentamos definir a música, podemos simplesmente dizer que é uma seqüência de
sons, de tons de altura definida, organizados melódica, harmônica e ritmicamente, e de
acordo com o timbre. Muitos dizem que música é uma ciência exata, definida pela
matemática e pela física.
Há música desde que o som se organize no tempo; mas que sons pode-se considerar
música? É aqui que começa o arbitrário. Todos que produzem som fazem música: pássaros,
animais, homens de todas as etnias, o vento, o mar. Mas não com os mesmos sons. Cada
povo possui uma maneira de fazer e escutar música. Isso acompanha a formação, a cultura
e a própria história de cada povo. Através da música uma sociedade expressa sentimentos
de maneiras características, por isso cada cultura possui uma forma de expressá-los. A arte
tem sido repetidamente definida por estudiosos do ocidente e do oriente como uma
expressão sensorial da cosmovisão de um povo ou de uma cultura.
Pessoas numa sociedade estruturada de maneira única desenvolvem uma música igualmente
única. Deve ser a estrutura social que forma o estilo musical. A música não é uma
linguagem que descreve como uma sociedade parece ser, mas uma expressão metafórica de
sentimentos associados com a maneira que a sociedade realmente é. Porque as pessoas
criam a música, elas reproduzem na estrutura básica de sua música a estrutura básica de
seus próprios processos de pensamento. (STEFANI, 2002)
Conclui-se com isso que em qualquer tempo ou lugar, a música será sempre uma arte
extremamente rica e difundida, apesar de carregar esse caráter de abstração em seu próprio
conceito. Entender o que a música é ou representa é tão importante quanto ouvi-la, e não
faz com que a escuta se torne insignificante, mas atenciosa, e ajuda a fazer a música passar
pelo exercício essencial de contextualização, o que distancia todo o mal gerado pela
ignorância.
Uma organização religiosa (ou mesmo política) incute uma ideologia, um conjunto de
valores e, talvez, cria uma ação ritual tal como uma liturgia ou uma atitude em relação a um
modo de vida como parte de sua filosofia. Embora nada específico seja dito ou escrito sobre
as artes, há um estímulo natural em descobrir a expressão artística implícita, adequada a
essa ideologia.
Mas os valores que os homens dos séculos passados respeitavam não parecem, hoje,
importantes. Essa modificação radical da significação da música se processou nos últimos
dois séculos com uma rapidez crescente. E ela se fez acompanhar de uma mudança de
atitude frente à música contemporânea, aliás, frente à arte em geral, porque, como a música
era parte essencial da vida, ela tinha que nascer necessariamente do presente. Ela era a
língua indizível do homem, e só os contemporâneos poderiam entendê-la. Devia ser sempre
criada com o novo, da mesma forma que os homens deviam construir para si novas
moradas que correspondessem a um novo modo de existência, a uma nova modalidade de
vida espiritual. Da mesma forma, já não era capaz de compreender, nem de utilizar a
música das gerações passadas.
Por que então buscar saber da música antiga? Porque a música sofreu milhares de
transformações que a distanciam de seu ouvinte contemporâneo. Por isso surgiu a canção,
que é uma tentativa de "humanizar" o som, tornando-o mais compreensível. A música tem
de ser antes de tudo bela. Muitos ainda não estão preparados para o experimentalismo da
música contemporânea. Por isso buscam na música antiga a beleza e a harmonia tão
almejadas.
Mas a música simplesmente bela jamais existiu; pois beleza é um conceito subjetivo e
abstrato; é um componente de toda e qualquer música, mas não pode ser o critério
determinante, pois isso significa ignorar os outros componentes. Se reduzirmos a música ao
belo, tornando -a apenas um componente agradável da vida cotidiana, fica impossível
compreender-mos a música em sua totalidade.
Quanto mais as pessoas se esforçarem para aprender a música antiga, mais perceberão que
ela ultrapassa a beleza e o quanto ela inquieta, pela diversidade e riqueza de linguagem; e
só assim reencontrarão a música contemporânea, aquela que constitui a cultura de hoje, e a
prolonga.
O estilo tem sido descrito de diversas formas: "um modo característico de fazer algo", uma
"generalização do particular", ou "um modo de vida". O estilo é usado como produto ou
método da ação e da escolha humana. É uma réplica do modelo, um conjunto particular de
características. (STEFANI, 2002)
Nenhuma civilização e nenhum país deu, todavia, a este conceito de clássico, uma
contribuição tão decisiva e essencial que aquela dada Grécia, num período relativamente
breve, que abarcou, mais ou menos, os séculos V e IV a.C.
O classicismo grego revela, pela primeira vez, uma manifestação artística que se afirma e se
difunde unicamente pelo efeito da sua qualidade intrínseca, ou seja, pela eficácia e
evidência de seus valores formais e expressivos. É uma arte de exaltação da importância do
homem como tal, considerado "a medida de todas as coisas". Essa arte exprime, portanto,
aqueles valores de equilíbrio, harmonia, ordem, proporção e medida, que pertencem à razão
humana. É uma arte que, em sua quase totalidade, tem uma destinação pública e religiosa.
Sendo assim, a maior parte das manifestações musicais se davam em lugares abertos, de
menores recursos acústicos, como o Agora, a praça do mercado e dos principais edifícios
públicos, e a Acropolis, a "cidade alta", o topo da colina onde ficavam os templos. Os
espaços onde a música era executada contando com mais recursos acústicos eram os
anfiteatros. Estes eram construídos em encostas, assim dispondo sua arquibancada em um
semicírculo íngreme, que amplificava as vozes dos atores, cantores e músicos.
A palavra música vem do grego "mousiki", que significa "a ciência de compor melodias".
Há uma lenda mitológica que diz que a música ocidental começou com a morte dos deuses
conhecidos como Titãs. Depois da derrota destes deuses, foi solicitado a Zeus que se criasse
divindades capazes de cantar as vitórias dos Olímpicos. Há também, na mitologia, outros
deuses ligados à história da música, como Museu, que quando tocava chegava a curar
doenças; Orfeu, que era cantor, músico e poeta; Anfião, que depois de ganhar uma lira de
Hermes, passou a se dedicar inteiramente à música.
Assim como da arquitetura grega clássica só nos restam ruínas, da produção musical grega
só nos restaram raros fragmentos, em alguns papiros e em capitéis de colunas de mármore.
Mas, se de músicas propriamente ditas não temos quase nada, o mesmo não se pode dizer
da teoria musical. Inúmeros tratados sobre música escritos em grego, e cópias em árabe e
latim, sobreviveram.
Uma das primeiras explicações formais sobre a natureza da arte musical reveste-se de
caráter fantástico: é a idéia pitagórica segundo a qual o universo se constituiria de sete
esferas cristalinas que emitem em seu movimento concêntrico as respectivas notas da escala
musical em perfeita harmonia.
Uns dos maiores legados da cultura grega é sua literatura. A literatura grega é a mais antiga
da Europa, e desde suas origens está associada à música, ao teatro e também à dança. Do
Período Helenístico em diante, entretanto, estabeleceu-se uma certa independência entre a
música e a literatura.
Poesia Épica: poesias que narravam feitos heróicos, geralmente se baseavam em fatos
históricos, misturados a lendas e personagens mitológicos. Composições deste tipo, em
versos, foram criadas antes da invenção da escrita e conservadas graças à memória de
incontáveis gerações de poetas-cantores, os aedos. É bom esclarecer que a poesia grega não
era parecida com o que hoje conhecemos por "poesia". Não havia rimas, e sim uma
estruturação do verso em sílabas longas e curtas, de tal modo que a declamação adquiria um
ritmo e uma musicalidade muito própria à língua grega. E os versos eram sempre
acompanhados de música.
Poesia Lírica: durante o período Arcaico, época de grande efervescência cultural, a poesia,
a música e a dança tornaram-se ainda mais estreitamente ligadas, mas a temática já era
outra. Os poetas praticamente abandonaram os longos temas épicos e heróicos, e preferiram
criar obras mais curtas, pessoais e emotivas. Era muito apreciada, também, poesias
compostas para ocasiões cívicas, como festivais religiosos e disputas esportivas. O
qualitativo lírica, usado até hoje, refere-se ao fato de estes poemas terem sidos usualmente
apresentados com o acompanhamento da lira. Usava-se muito também a palavra ode, que
significa simplesmente canto, em relação a qualquer forma de poesia lírica. Havia a "lírica
monódica", em que o poeta declamava sua poesia, e a "lírica coral", em que a composição
era apresentada por um coro.
Havia assim uma música cujo efeito era de tranqüilidade e elevação e a música que tinha
como objetivo produzir agitação e entusiasmo. A primeira estava associada com a adoração
de Apolo, celebrado em tranqüilidade e ordem; o instrumento usado era a lira e suas formas
poéticas a ode e o épico. A segunda estava associada com a adoração de Dionísio, celebrado
com vinho e embriaguez; o instrumento era o aulos e suas formas poéticas o dithyramb e o
drama. A música era usada para incitar paixões e até mesmo promover o hedonismo.
(STEFANI,2002)
O último momento da arte grega é o período helenístico. Inicia-se antes do fim do século
IV a.C., mas é difícil indicar o ponto final desse momento. Do ponto de vista artístico, o
período não se fecha com a conquista política da Grécia por Roma; aliás, essa conquista
conduz à admiração dos romanos para a cultura e arte grega, bem como a transferência,
para Roma, de mestres e artesãos gregos. Assim ocorrem as infiltrações helenísticas na arte
romana. (PISCHEL, 1966)
Não é paradoxo afirmar que a maior construção dos romanos foi seu Estado. Através dos
diversos regimes da monarquia, da república e do império, passa de modesta liga de povos
rurais, para a força que unificou toda a Itália, até tornar-se a potência que dominou todo o
Mediterrâneo, depois conquistando a Europa, a Ásia e a África. Nesse território Roma
instaurará – a todos fazendo cidadãos romanos – a sua civilização, fundada sobre o critério
do Direito e sobre singulares inter-relações da autoridade e democracia.
Não admira, pois, que tal mundo revela em todos os setores, e também na arte, um cunho
praticista. Estradas pavimentadas para o exército; pontes sólidas de alvenaria; aquedutos em
arcos, que de longe transporta água para as cidades. Tudo isso faz parte da precoce
arquitetura romana. Seu próprio teor monumental, procurando a grandiosidade como
símbolo de potência e se orientando mais pela solidez imponente do que para a elegância e
graça, será caracterizada pela preocupação relativa às exigências das grandes massas
populares: foros, termas, teatros, circos.
Quando no século VIII a.C., Roma inicia sua vida histórica, adota em sua forma urbana a
solução etrusca de cidade murada, com portas de acesso, ruas em retícula e casa de planta
elíptica. Num período republicano mais avançado, Roma passa, na construção de seus
templos, das receitas etruscas aos módulos gregos. A própria Roma se refaz, então, com
exemplos urbanos helênicos, abrindo pórticos nas alas laterais de suas praças, e edifícios
monumentais.
Musicalmente, ocorreu o mesmo que com as demais artes romanas. A música grega foi
incorporada, somada às influências de outros povos dominados pelo império romano.
Estava principalmente ligada aos eventos públicos, como reuniões e festividades religiosas;
eventos esportivos e lutas de gladiadores; eventos cívicos, militares e festividades dos
imperadores em seus palácios; acompanhamento para teatros, dança e poesia.
No século II, a arquitetura nos revela domínio do espaço real em construções isoladas, e
domínio da ficção espacial na relação entre forma arquitetônica e espaço urbano.
Por volta do século IX, livres da opressão do Império Romano, os povos europeus
começam a desenvolver suas próprias manifestações culturais, como língua, Música,
Arquitetura e outras Artes. Como período artístico que sucedeu o do Império Romano, foi
denominado de Românico, que marca o início da Idade Média, na Europa feudal.
Com sede em Roma, seus "tentáculos" nos demais países eram os Mosteiros e Conventos
das ordens monásticas. Essas construções se destacavam por sua monumentalidade, onde
predominava a horizontalidade, sólidas e pesadas paredes de pedra, com poucas aberturas
para a entrada de luz natural. Tanto seu interior quanto exterior estavam quase ou nada
dotados de ornamentos. Essa austeridade tinha a função social de pregar o desapego às
coisas materiais, e a busca das coisas espirituais. (RAMALHO, 1992)
As poucas aberturas dessas construções direcionavam a luz para o altar, onde se encontrava
o clero e os objetos litúrgicos, ficando a congregação na penumbra. Isso passava a idéia de
santidade dos representantes de Deus aqui na Terra, e a condição de trevas espirituais da
população leiga. O peso de sua massa construtiva ao mesmo tempo passava a sensação de
opressão e de proteção, como que dizendo que é a Igreja que domina, mas diferentemente
da dominação do senhor feudal, apenas ela pode salvar a alma.
As pessoas que entravam nas catedrais deixavam para trás sua vida de preocupações
materiais e pareciam adentrar em um mundo diferente. Mas era um mundo misterioso, que
inspirava temor, onde a esperança de salvação misturava-se ao medo da morte e do
julgamento; e nas comunidades simples o foco principal estava no medo.
Nestas "fortalezas" sagradas os religiosos se refugiavam dos males deste mundo. Suas
atividades diárias consistiam de orações, meditações, leituras da Bíblia (copiadas a mão por
eles mesmos) e de cânticos. A fonte musical destes cânticos era os cânticos judaicos
(Salmos) e a música grega, preservada pela Roma Antiga.
Inicialmente herdado da sinagoga judaica, o estilo de música sacra cristã primitiva foi
conscientemente cultivado durante séculos sucessivos para refinar essas características
próprias de uma orientação transcendente. Ambas músicas, da sinagoga judaica e a música
cristã primitiva, exibiram o mesmo canto bíblico intencionalmente restrito, mas certos
pontos secundários de diferença existiram, particularmente relativos à expressão do
sentimento humano. Enquanto o canto judaico era um canto humano, imperfeito, o louvor
cristão buscava aproximar-se da beleza pura e perfeita de um coro de anjos.
Após o Papa Gregório I ter unificado a liturgia do culto nas igrejas, no século VI, a música
passou a ter uma grande importância nos ritos sacros, denominada de Canto Gregoriano. A
música litúrgica foi o padrão para a cultura musical durante o período medieval. A música
da Igreja claramente liderou a hierarquia musical aceitável na sociedade, determinando a
direção do desenvolvimento artístico como um todo.
Em sua estrutura melódica se destaca o uso de uma determinada altura sonora, uma nota
dominante. Toda a trajetória da voz pela linha melódica parece estar vinculada a esta
dominante, com a qual mantém uma relação de íntima dependência, impregnando-a de um
caráter autoritário favorável ao desempenho social da Igreja.
O canto litúrgico era dividido em himnodias (cantos realizados sobre textos novos,
cantados numa única linha melódica, sem acompanhamento de neumas, que indicam a
movimentação melódica) e salmodias (canto de Salmos ou partes da Bíblia). A notação
musical ainda não era precisa. Eram utilizados signos fonéticos acompanhados de sinais
que indicavam a movimentação melódica. No âmbito da teoria musical, surgiram os oito
modos eclesiásticos, inspirados nos modos gregos.
A melodia era dividida em três partes, sendo a primeira ascendente, a segunda permanente e
a terceira descendente, com as mesmas notas que a primeira, formando uma estrutura
simétrica, fazendo alusão aos versos da liturgia "Sicut erat in principio, et nunc, et semper,
et im saecula saeculorum" (sempre foi, permanece e sempre será), que tanto se refere a uma
característica Divina, quanto à ideologia de imutabilidade social do feudalismo; bem como
imprimem à melodia e ao ouvinte as características de impessoalidade e de dependência de
uma instância superior.
Para reforçar ainda mais essa idéia de permanência, era comum o uso de acompanhamento
de um pequeno órgão de tubos ou de uma vièle de roda, que produzia um som único e
contínuo, do início ao fim, além da predominância constante de uma nota cantada
dominante, que com o eco se tornava mais contínua ainda.
São características desta natureza que sem dúvida eram relevantes para dotar a liturgia da
austeridade pesada e opressora, também presente nas formas arquitetônicas do estilo
românico. Todas as características da Arquitetura Românica estavam presentes na música
desta época: a horizontalidade, gerada pela pouca diferença de altura entre a nota mais
baixa e a mais alta da melodia; a falta de ornamentos, pela ausência de "voltas" em suas
escalas; a já citada simetria; a unidade, pela estrutura harmônica em uníssono.
Além disso, suas pesadas e sólidas paredes de pedra, sua forma retangular com um
comprimento da nave muito maior que sua altura, e um teto em forma côncava (abóbada),
proporcionava um tempo de reverberação altíssimo, causando muito eco. Se a melodia e a
harmonia fosse complexa, o som ficaria "embolado". Com uma melodia simples e em
uníssono, o eco acabava gerando uma "polifonia" e um "contracanto" natural, pela
superposição das notas cantadas e do eco, criando um clima misterioso e místico.
Todas essas mudanças nos âmbitos sociais, econômicos, políticos e artísticos, acabou
resultando em mudanças na ideologia da Igreja. O nascimento da arquitetura gótica foi
resultado da evolução das técnicas construtivas realizadas durante o período românico,
principalmente em conseqüência dessa mudança ideológica. O início dessa nova corrente
foi atribuído ao abade Suger, da abadia de Saint-Denis, na Île-de-France, santuário do
evangelizador da França (São Dionísio), panteão real e depositário das insígnias do poder.
Com a diminuição da função estrutural das paredes, estas ganham cada vez mais aberturas
para a entrada de luz, os vitrais. Como a luz emana dos elevados janelões, o sentido
ascencional converte-se em outro dos fatores substanciais da arquitetura das catedrais
góticas. Altíssimas torres pontiagudas riscam os céus, reforçando este sentido de ascensão e
se tornando ponto de referência visual em toda a cidade.
A "arte nova", que fortalecia o conceito tonal, fez com que a música adquirisse uma
complexidade até então incomum para a cultura do ocidente. A transição da nonofonia
tradicional românica para a polifonia gótica se deu de maneira gradual, iniciando com
ornamentações ou vocalizes a duas vozes, até chegar a quatro, então designadas de tenor,
duplum, triplum e quadruplum. Inicialmente, as vozes seguiam a linha melódica na
partitura paralelamente, sendo duas em oitavas e as outras em quartas e quintas.
(SCHURMANN, 1989)
Outra técnica comum era o contracanto ou contraponto, onde uma voz iniciava a melodia,
seguida poucos segundos depois pela outra, e assim por diante, cantando todas as vozes a
mesma melodia, em tempos desencontrados. Essas duas técnicas evoluíram para arranjos a
quatros vozes independentes, onde as linhas melódicas não seguiam mais trajetórias
paralelas; e o auge da polifonia gótica, quando se uniu esta técnica de harmonia com o
contraponto, passando as diferentes vozes a assumirem independências melódicas e
rítmicas, chegando ao extremo de cada voz entoar seu texto exclusivo.
A catedral, com sua proporções e sua própria estrutura amplificava o som, constituindo uma
fonte especial de inspiração para os compositores, que desenvolviam técnicas para
preencher este espaço com música gloriosa e que se elevasse a grandes alturas. (IAZZETA,
1993)
Vê-se aí mais uma nítida diferença entre a música monofônica e a polifônica, que vai além
da questão estética, presente igualmente na música e na arquitetura, e se dá no âmbito
ideológico da nova sociedade: o júbilo que sucede a opressão. Ao que tudo indica, tratava-
se de uma espécie de exultação que nada tinha a ver com a liturgia em si.
Uma possível resposta, embora um pouco romântica, é que os habitantes das cidades
francesas dessa época, imbuídos de forças sociais acumuladas em conseqüência dos êxitos
obtidos nos seus empreendimentos, ansiassem por um espaço no meio urbano que
resumisse seus esforços coletivos e expressasse o sucesso de suas realizações. A catedral
gótica seria a materialização desses anseios: a "casa comunal", o celeiro de abundância, a
bolsa de trabalho e o teatro do povo, o edifício sonoro e luminoso que sempre estaria aberto
ao povo, a grande nave capaz de conter a cidade inteira, a arca cheia de tumulto nos dias de
mercado, cheia de danças nos dias de festas, cheia e cânticos nos dias de culto, cheia da voz
do povo todos os dias. (SCHURMANN, 1985)
Sobre essa perspectiva deve ser compreendido também o fenômeno da polifonia, enquanto
a escolástica expressava a religiosidade medieval de acordo com a ideologia burguesa, se
utilizando da comunicação lingüística. Para procurar contemporizar os conflitos ideológicos
já deflagrados, a música polifônica não fazia uso dos procedimentos discursivos. Era assim
uma prática de efeitos muito mais imediatos capaz de expressar a animosidade da burguesia
perante a dominação cultural, aniquilando assim os meios musicais tradicionalmente usados
para esta dominação. (SCHURMANN, 1989)
Essa situação viria alterar-se totalmente com o surgimento da intelectualidade urbana, uma
vez que os funcionários e estadistas já não mais teriam que, forçosamente, ser recrutados
pelo clero tradicional. E ao mesmo tempo em que a monarquia assim acabaria por
distanciar-se do resto da nobreza, também no âmbito das cidades o patriciado começava a
afastar-se dos trabalhadores urbanos.
Assim gradativamente foi crescendo o número de trabalhadores que, tendo perdido sua
antiga condição de artesãos autônomos, passaram aos poucos a depender completamente de
uma classe de comerciantes, detentora do capital comercial. Configurava-se aí uma
contradição entre o trabalho e o capital, surgindo assim o capitalismo mercantil.
A burguesia, antes unida em seus esforços em uma luta de toda a comunidade urbana por
privilégios e franquias, uma vez atingidos esses objetivos, passara a distanciar-se cada vez
mais da população menos favorecida e voltar seus interesses para as perspectivas de
enriquecimento cada vez maior. Essa mudança de mentalidade trouxe conseqüências pra
todos os aspectos da sociedade, inclusive na música. (STANLEY, 1994)
A História nos mostra tratar-se de um processo cujos primeiros frutos tiveram origem na
região de Flandres, para daí se alastrar rapidamente por toda a Europa, resultando no que
viria a ser designado pelo termo polifonia renascentista. (SCHURMANN, 1985)
Coisa semelhante se daria com a música que, em lugar de continuar a servir como meio de
comunicação cotidiana, gradativamente se converteria em obra de arte para ser exposta
como forma de espetáculo. Os músicos passariam então a exercer uma nova função, que
consistia em dotar a classe aristocrática de uma forma de ostentação, pela qual esta pudesse
afirmar, para si e para os outros, a magnificência necessária para a legitimação do seu status
de detentora da riqueza e do poder. Chegara o tempo em que qualquer casa que se prezasse
haveria necessariamente de exercer o mecenato e, efetivamente, muitos foram os centros de
riqueza e poder espalhados pela Europa que, numa concorrência desenfreada, passaram a
disputar os músicos de maior fama. (SCHURMANN, 1985)
Virtuosismo no domínio das formas geométricas e puras, no novo arranjo das antigas
ordens clássicas, a monumentalidade, as proporções humanas. Tudo isso para enaltecer as
conquistas intelectuais e econômicas do Homem Moderno. No lugar das catedrais, o que
interessa agora são os palácios da corte e as mansões da burguesia capitalista. (PISCHEL,
1966)
Por seu passado de cultura clássica (greco-romana), a Itália vai ser o berço destas novas
manifestações artísticas, baseados nos ideais clássicos de antropocentrismo e humanismo.
As ciências se desenvolvem incrivelmente, e são escritos tratados e regras para reger todas
as Artes. A Música passa a ser considerada ciência, como a Matemática e a Astronomia,
entre outras.
A música polifônica, que já evoluíra com os mestres de Flandres, ganhou suas mais
requintadas e complexas estruturas na Renascença do século XV. A missa e o moteto,
gêneros predominantes do período, executados à capela, permitiram que se explorasse a
multiplicação de vozes independentes e, com ela, um maior domínio sobre o chamado
"estilo imitativo" (contraponto). Ao domínio do estilo imitativo esteve ligada a contínua
melhoria do sistema de notação musical. Paralelamente ao já citado experimentalismo e
busca de inovação, a música já não era mais expressão de sentimentalismo (o júbilo, por
exemplo), e sim do racionalismo.
No barroco, a inter-relação das artes, a busca de um caráter unitário, uma arte total,
englobando todas as manifestações artísticas, é uma característica marcante. A arquitetura
converte-se num marco idôneo, capaz de acolher as plásticas pictórica e escultórica,
integrada em um todo unitário. Nunca havia se tentado um tipo de integração que, fugindo
do meramente decorativo, isto é, acrescentando, se convertesse em algo orgânico, dentro de
um conjunto global. O espaço arquitetônico transforma-se em theatrum sacrum, em que a
pintura e escultura são elementos da representação. (TRIADÓ, 1991)
Em meados do século XVII, a música já era considerada como sendo não apenas uma
espécie de linguagem, mas sobretudo um modo de comunicação que obedecia certas
determinações, as quais acabaram por ser englobadas num sistema filosófico-musical sob a
denominação de teoria dos afetos. Segundo tais determinações, a música viera estabelecer-
se como a linguagem mais adequada sempre que se tratava de expressar ou provocar certos
sentimentos, emoções e paixões, ou seja, os afetos humanos. Durante esse período,
diferentes estereótipo de certos estados emocionais foram traduzidos em temas musicais
que um compositor poderia usar para compor uma música. (STEFANI, 2002)
Apesar disso, o sistema tonal surgiu num contexto do racionalismo. Nesta época,
importantes trabalhos científicos foram produzidos, como a criação da Geometria Analítica,
por René Descartes. Em Paris fundara-se a Academia das Ciências, e nesta, pela primeira
vez, se reconheceu a Acústica como uma ciência autônoma. E era da Acústica que se exigia
que desvendasse, por meio da razão científica, os mistérios ainda envolvidos no domínio da
música. Era a estreita vinculação de um trabalho prático de produção musical com
atividades teóricas de investigação científica que permitiria o surgimento do sistema tonal,
o qual acabaria por encontrar sua fundamentação numa estrutura de conceitos perfeitamente
racional, edificada sobre os acordes e suas associações. E foi com base nessa concepção
que se desenvolveu um Tratado de Harmonia.
Embora essa preocupação com os acordes tenha em seu início como conseqüência das
práticas homofônicas, isto é, de uma reação às práticas polifônicas, evoluiria para uma
polifonia tonal, em oposição à polifonia modal anterior. Agora todos os fenômenos
melódicos envolvidos na trama das diversas vozes simultâneas teriam que sujeitar-se ao
novo sistema. Assim, enquanto na polifonia modal qualquer acorde não podia surgir senão
como conseqüência quase passiva das trajetórias melódicas das diversas vozes, na polifonia
tonal essas trajetórias já são conscientemente programadas tendo em vista os acordes a
serem alcançados.
A idéia de unidade espacial, latente nas formulações barrocas, vai lograr um todo que não
seja a composição das partes. Isso dá início à especulação arquitetônica. Essa especulação
tem, norteando-a, a total integração espacial e a eliminação de zonas de conflito que
quebrem a idéia globalizadora do espaço. Reforça-se, desta forma, o sentido teatral do
espaço, que recolhe num só ponto, fazendo-as confluir, todas as partes do conjunto. Assim,
o espectador não está num lugar do espaço, mas dentro do próprio espaço, absorvido pelo
movimento e pela interpenetração das partes num todo. Assim, um conjunto de dimensões
reduzidas, por não poder ser medido e delimitado, cria uma espacialidade enigmática, que o
faz maior aos olhos do espectador. Propõe, ao mesmo tempo, um percurso visual que, por
falta de elementos diferenciados, leva-nos sem descanso ao longo de um contínuo sem fim.
(TRIADÓ, 1991)
Pressões da Igreja Romana, que exigia o claro entendimento das palavras litúrgicas
cantadas pelos coros, levaram a uma simplificação das vozes sobrepostas, e com isso,
inicialmente, o papel individual de cada melodia se tornava secundário, se adequando a
nova concepção harmônica da homofonia. Em contrapartida, uma melodia que se
destacasse como principal sobre o acompanhamento, era investida de uma importância
inexistente até então, o que redundou no surgimento da figura do solista.
A teoria musical, neste período, teve no estudo da harmonia sua linha de frente. Até o
Barroco, distinguia-se os semitons ascendentes dos descendentes. A partir do século XVII,
o tamanho do semitom foi matematicamente estabelecido e padronizado, numa evolução da
teoria de Pitágoras. O estabelecimento da atual sistema de afinação única para todos os
instrumentos, chamado de temperamento igual, possibilitou pela primeira vez a
transposição de uma peça para outra tonalidade, e abriu caminho para as composições
orquestrais do século XVIII em diante.
O estilo prevalecente nas artes era o Rococó, que os arquitetos franceses introduziram a fim
de suavizar a grandiosidade severa do Barroco. Suas marcas características eram a
graciosidade, a frivolidade e o prazer sensual. O equivalente musical ao rococó foi o estilo
galante, que estabeleceu-se com base semelhante de leveza e elegância, substituindo a
escrita complexa da música barroca por melodias de grande fluência e sentimentalidade.
À medida que o século XVIII se aproximava do fim, verifica-se uma reação quer contra os
exageros estilísticos do rococó quer contra a sociedade que os gerara. Este
descontentamento era mais óbvio na França, onde se estabelecia as bases para a Revolução
Francesa. Este movimento, o Iluminismo, pregava a substituição das superstições da
religião pelas virtudes humanas da razão, da tolerância e da justiça. Na América, a
Revolução Americana se formava. Os Estados Unidos declaram sua independência da
Coroa Inglesa. A França, encorajada por este acontecimento, derruba a monarquia. Ambos
países instauram a República.
O estímulo do revivalismo clássico proveio de duas fontes principais. Por uma lado,
desenvolveu-se como uma reação ao espalhafato do barroco e do rococó. Ao mesmo tempo,
tinha origem em novas descobertas arqueológicas surpreendentes. As maravilhas do mundo
antigo haviam mantido a sua atração desde a Renascença. Uma visita às ruínas de Roma
antiga continuavam a ser uma das paragens obrigatórias das viagens de qualquer jovem
abastado.
Essa diversidade das fontes ilustra até onde a música evoluíra. A maior parte das principais
cidades podia orgulhar-se de ter pelo menos um recinto público para concertos, as salas de
concertos. Isso indica uma mudança marcante na relação da música com a arquitetura. Até
então a música era composta de maneira a explorar as características acústicas do ambiente,
e torná-la condizente com os aspectos acústicos, plásticos e ideológicos do espaço, na
maioria das vezes uma igreja. Com a secularização e popularização da música, grandes
recintos são construídos para abrigar os concertos públicos. Além disso, com o crescente
domínio da Acústica, cujos estudos se desenvolveram bastante no século anterior, tais
recintos eram adequados a audição da música, num processo inverso ao vigente até então.
A publicação de música tornara-se uma indústria com bastante peso. As novas revistas que
surgiam incluíam críticas aos últimos concertos, juntamente com conselhos úteis para o
número crescente de músicos amadores que desejavam tocar em casa. Técnicas sofisticadas
de fabrico tinha feito descer o preço da maior parte dos instrumentos musicais, fato que
contribuiu para tornara-se moda adquirir um mínimo de dotes musicais como um
complemento social indispensável.
Se até 1750 a música era criada principalmente para benefício da Igreja, da Nobreza e da
Coroa, durante o período clássico passou a ser um prazer ao alcance de muitos outros
grupos da sociedade. O período seguinte, o Romântico, proporcionaria música para o
indivíduo. (STANLEY, 1994)
Como adjetivo, a palavra "romântico" tinha uma longa e nobre história. Deriva dos antigos
"romances" - as lendas de cavalaria popularizadas pelos trovadores na Idade Média - e foi
usada para expressar as qualidades evocativas e imaginativas típicas destas obras. Os
românticos opunham-se ao classicismo, proclamando a superioridade da emoção sobre a
razão. Exigiam o direito à livre expressão, em lugar da antiga ênfase na contenção;
elevaram o poder da imaginação a um estatuto quase divino.
Os artistas podiam fazer tais afirmações em grande parte devido ao fato dos seus patronos
não serem já as cortes aristocráticas, mas sim a classe média. Os compositores tinham um
maior controle sobre suas carreiras. De muitas formas, o movimento Romântico
proporcionou-lhes o equivalente artístico de uma declaração de independência.
Dada a natureza lúgubre dos temas, poderá parecer surpreendente que a outra preocupação
dos românticos fosse a natureza e suas belas e bucólicas paisagens. É claro que o gosto pela
natureza não era uma novidade, mas a versão romântica desenvolveu-se em resposta direta
a vários fatores contemporâneos.
O alastramento da Revolução Industrial e a crescente urbanização da sociedade fizeram
com que o campo parecesse idílico. Isso se refletiu nos projetos urbanísticos das "cidades
jardins"; e na arquitetura, no estilo Art Nouveau, com suas formas orgânicas, fazendo
referência a temas florais, e com uma certa influência gótica. Enquanto os artistas clássicos
procuravam dispor elementos naturais, de forma a criar um efeito harmonioso, os
românticos não tentavam modificar a natureza, registrando apenas suas impressões pessoais
sobre ela. Em vez de controlarem os elementos, sentiam-se a sua mercê.
De acordo com STANLEY (1994), a importância que os românticos atribuíam aos seus
sentimentos pessoais e ao individualismo em geral estendia-se a todos os aspectos da
sociedade.
Esse tipo de virtuosismo foi estimulado também pelos avanços técnicos na construção de
instrumentos musicais, em especial o piano. Isso encorajou os músicos a tornarem-se mais
ousados em suas composições. A dificuldade técnica de muitas peças transformou-as em
exclusivas dos executantes mais especializados, elitizando a música, fazendo distinção
entre os diferentes níveis de público ouvinte.
Surgiu uma divisão semelhante na escala da produção musical. Por um lado, obras mais
curtas, para serem tocadas por poucos músicos, para ouvintes seletos, no ambiente íntimo
dos salões: a música de câmara. Por outro lado, o tamanho da orquestra foi aumentando
gradualmente, a fim de satisfazer os efeitos opulentos da sinfonia romântica. (STANLEY,
1994)
Dois séculos de música tonal, numa sociedade cada vez mais dominada pelo poder
econômico e político do grande capital industrial, acabaram, no fim do século XIX, por
consolidar uma situação cultural, onde as manifestações musicais, agora definitivamente
sobre a forma de produção e consumo de uma mercadoria chamada arte, servia de alimento
ideológico indispensável à burguesia. Os músicos, produtores desta arte, assumiram o papel
de verdadeiros apóstolos, cuja função residia em fornecer a essa burguesia consumidora as
suas obras.
Foi extraordinária a riqueza desta produção musical que florescera nos séculos XVIII e
XIX e que abrange os áureos períodos do Barroco, Classicismo e Romantismo. No final do
século XIX, no entanto, deparamo-nos com uma época de crise: a produção musical
européia perde sua homogeneidade, o sistema tonal passa a ser questionado e surge uma
multiplicidade de direcionamentos novos e contraditórios entre si, que diversos grupos de
músicos procuram imprimir à sua produção. (SCHURMANN, 1989)
A música impressionista, assim como toda a música vanguardista, passa de arte do tempo a
arte do espaço, impressão esta que deriva justamente da dissolução da sintaxe (disposição
das partes no todo). O significado da música não interessa mais, ele nos indica o objeto
musical. O arabesco desta música tem uma sinuosidade que não é regulada pelo sistema
tonal, pelos esquemas simétricos das progressões, da rítmica simples, do andamento
discursivo e, definitivamente, por aquele caráter claramente culturalizado.
Além das escalas dodecafônica e atonal, outra importante inovação do período modernista é
o uso de intervalos microtonais (intervalos menores que meio-tom entre as notas da escala
cromática) e também os clusters ("cachos" de notas, que tendem ao ruído), tocados com as
palmas das mãos, ou mesmo com o antebraço, sobre as teclas do piano.
Tudo é abandonado ao curso fatal das coisas, e a especulação privada reinou soberana,
criando amontoados e adensamentos absurdos. A arquitetura lança-se à realização,
principalmente nas periferias industriais, de habitações tristes, estreitas e sujas, para as
massas trabalhadoras. Lançou-se, igualmente, à construção de edifícios de aluguel, para a
grande ou pequena burguesia, sendo as construções sem grandes exigências estéticas,
preocupadas apenas com o maior rendimento da exploração. (PISCHEL, 1966)
O século XIX foi marcado pelo que se chamou de Período Neocolonialista. As grandes
potências européias se lançam a colonizar todos os povos da África e Ásia, como Portugal e
Espanha fizeram com a América no século XVI.
Outros arquitetos foram mais além, misturando ao acaso elementos decorativos e ordens
arquitetônicas destes vários estilos e períodos em um único edifício, no que ficou
denominado "Ecletismo".
É importante notar que a produção musical, de maneira geral, seguiu direção oposta.
Enquanto a arquitetura buscava valorizar e incorporar elementos estrangeiros, os
compositores da época vão valorizar e divulgar cada vez mais os elementos nacionais, o
folclore. A cultura popular é incorporada à produção erudita.
Logo surgem movimentos contrários a toda essa, para muitos críticos, banalização dos
elementos históricos. Um dos primeiros foi e estilo Art Nouveau, que apesar de curta
duração, teve primordial papel nessa busca por, como diz seu nome, uma arte nova. Um
primeiro fator foi abolir os elementos arquitetônicos tradicionais, como frontões, colunas
clássicas, volutas barrocas, etc. Com suas formas assimétricas, irregulares, sinuosas, vai
contra o padrão vigente de belo. Outro fator foi a incorporação das novas tecnologias
construtivas frutos da Revolução Industrial, como o aço, de maneira aberta e definitiva.
Enquanto os edifícios ecléticos usavam o aço de maneira tímida em sua estrutura, e ainda
encobria essa estrutura com a alvenaria e todos os elementos meramente decorativos pré-
fabricados em concreto, a arquitetura Art Nouveau vai deixar a estrutura em aço aparente, e
vai usá-lo como um elemento decorativo, em varandas, corrimãos, parapeitos, maçanetas,
vitrais, marquises e cúpulas de ferro fundido, com seus temas florais.
Mas em meados do início deste século, a arte contemporânea sofreu graves ataques. No
período do Nazismo, Hitler censurou e proibiu a produção de tudo que fosse contra os
ideais conservadores de seu regime, denominadas de "artes degeneradas", incluídas aí todos
os estilos vanguardistas de pintura, escultura, design, arquitetura e música. Uma das
primeiras baixas no mundo artístico foi a Bauhaus, uma escola de arquitetura e artes
aplicadas. O seu corpo docente era constituído por um dos melhores conjuntos de talentos
artísticos alguma vez reunido num único local, e teve enorme influência no design e na
arquitetura contemporânea. (PISCHEL, 1966)
Após a derrocada do regime nazista, as ações para a reconstrução das economias da Europa
Ocidental tiveram elo no domínio cultural. No centro destas atividades, a Alemanha fez
esforços para derrubar a censura que prevalecera durante o regime Nazista, e os
compositores serialistas voltaram a ser ouvidos em concertos. Esta nova onda dodecafônica
foi peça chave no desenvolvimento do "serialismo total", que se expandiu para além da
altura para áreas como o ritmo e a dinâmica. (STANLEY, 1994)
O serialismo total, ou integral, consistiu num sistema em que são acrescentadas à série de
alturas uma série de durações, uma série de intensidades e uma série de timbres. A idéia do
serialismo serve também para a organização de séries de 23 notas (incluindo os micro-
tons), ou séries de sons sem alturas definidas.
Esse advento deve ser contemplado por diversos aspectos. O primeiro é a exigência de se
criar uma arquitetura adequada e aderente à nossa civilização tecnológica, às necessidades e
aos serviços que ela postula, ao modo de viver e trabalhar do homem moderno. "A forma
deve acompanhar a função", proclamou o norte-americano Sullivan com sua "escola de
Chicago". Mas a funcionalidade não tem o propósito de ser simples moda, e sim adequação
a um mundo novo de relações, a outra escala de valores.
Segundo IAZZETA (1993), essa problemática emerge de três modos distintos. Em primeiro
lugar, no âmbito das larguras sonoras, onde há um alargamento do espaço das freqüências,
tanto num plano bidimensional - dos sons mais graves aos mais agudos - quanto num plano
tridimensional com a incorporação dos aspectos de densidade e massa sonora. O segundo
modo de apreensão do espaço pela música é mais objetivo e representa, de certa forma, um
retorno à maneira de se fazer música na Antigüidade e, também, na Idade Média,
vinculando o acontecimento musical a um evento cênico. O terceiro ponto se relaciona
muito diretamente ao atual estágio de desenvolvimento tecnológico que tornou possível a
exploração de uma capacidade perceptiva peculiar: a de estabelecer, através do som,
relações espaciais (distâncias e direções) entre as fontes sonoras, bem como características
acústicas do ambiente.
Na música tal fenômeno fez surgir um estilo também denominado Minimalista. Neste
estilo, igualmente como na arquitetura, vão se utilizar as mais recentes tecnologias, e sua
estrutura melódica será composta de um mínimo de elementos. No lugar de instrumentos
tradicionais, os primeiros instrumentos eletrônicos, na época chamados de
"eletroacústicos". A partir desses instrumentos, a sua maioria de teclado (que seriam os
"avós" dos atuais sintetizadores) e da gravação em fita magnética de sons de outros
instrumentos e de sons do cotidiano, criavam-se pequenas "células" melódicas, que eram
repetidas ad infinitum, como num mantra indiano.
Os pioneiros da arquitetura Moderna tinham sonhado com casas que não só funcionassem
como máquinas mas que também fossem produzidas por estas. No entanto, quando as casas
passaram a ser realmente montadas com componentes pré-fabricados por máquinas,
verificou-se que isso conduzia não só a uma monotonia sem limites mas também a uma
produção e modelação de qualidade extremamente baixa.
Um certo medo do futuro e uma fuga da realidade juntou-se à essa situação. Surge o
Movimento Hippie, se popularisa o exoterismo e outras ideologias políticas não menos
irracionais. A moda "psicodélica" do "Flower Power" vai gerar uma preferência por cores
berrantes, em oposição ao branco do modernismo; na onda nostálgica e na redescoberta do
Art Nouveau. A cidade do século XIX foi reavaliada nesta época, e sua revalorização vai
eclodir no que se denominou Pós-Modernismo.
Mas o que se viu foram citações de edifícios históricos, de maneira cada vez mais aleatória.
Os arquitetos pós-modernistas pouco mais apresentaram que do que um anti-programa
pouco original contra o Movimento Moderno, em que invocavam os tempos pré-
modernistas, sem se lembrarem que os vanguardistas do século XIX, como Ledoux,
Boullée ou Gaudí, que se tornaram seus heróis, estavam voltados para o futuro, e não para o
passado. Tudo isso culminou na reconstrução de edifícios históricos inteiros há muito
desaparecidos e numa arquitetura que copiava diretamente o historicismo do século XIX.
(GYMPEL, 1996)
Neste período a música erudita também vai tomar uma direção de volta ao passado, no que
se denomina Música Neo-Clássica: uma busca aos modelos melódicos e harmônicos do
Classicismo, visto que o experimentalismo desenvolvido pelos modernistas na primeira
metade do século XX não arregimentou muitos apreciadores entre a massa burguesa.
Por volta de 1990, a arquitetura pós-modernista foi substituída nos meios de comunicação
pelo "desconstrutivismo". Com base nos conceitos filosóficos de Jacques Deridas, os seus
representantes desenvolveram uma sintaxe formal que ampliava ao extremo a abstração do
Movimento Moderno. Os estudiosos colocam esses arquitetos no contexto histórico do
modernismo e, por isso, designam-nos de "neo-modernistas".
Hoje, início de um novo século (e novo milênio), mais do que nunca a música tem o caráter
da mutabilidade. A cada dia novos estilos surgem, antigos são resgatados sob nova leitura,
reformulados, fundidos a outros estilos. Os instrumentos que sugiram a milhares de anos
convivem com o computador, instrumentos eletrônicos, samplers, sons digitais, etc. A
arquitetura atual também possui o mesmo aspecto de pluralidade. Em centros históricos
milenares são construídos edifícios com a mais alta tecnologia, seguindo as premissas
estéticas da última moda.
Durante o século XX, ocorreram mudanças tanto na sintaxe do discurso musical, quanto no
papel que ela desempenha dentro da sociedade. A separação entre música erudita e popular
nunca foi tão explícita. Isso criou uma certa distância entre a música produzida neste século
e seus ouvintes contemporâneos. Em todos os outros períodos históricos a música que se
ouvia era a música produzida naquela mesma época. Atualmente, com o surgimento dos
meios de gravação, as músicas antigas passaram a ser mais difundidas, e a música do
passado passou a ser a música do presente. Mas as pessoas vão muito menos a concertos, se
comparadas com as pessoas do século XIX. As pessoas não precisam ir até a música, pois
ela pode ir até seus ouvintes, seja através da mídia (rádio, TV) ou das gravações (CDs,
discos, fitas, DVDs) Mas isso faz com que o ouvinte se prive de ouvir a música no seu
ambiente natural (igrejas, teatros, salas de concerto). Além disso, deixa de fazer o exercício
essencial para a compreensão de qualquer produto cultural, o de contestualização.
Para onde a música tenderá neste novo milênio? Somente o tempo dirá. O jargão técnico
dos músicos é inadequado para explicar as novas criações. Ainda hoje existem, entre nós,
propostas criativas que podem revelar mundos novos.
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