Cábulas História Da Música Portuguesa
Cábulas História Da Música Portuguesa
Cábulas História Da Música Portuguesa
Maria I
5.2.1 - A ópera na corte e nos teatros públicos
- em 1750 com a subida de D. José ao trono inicia-se uma nova fase da história operática com a
organização de um verdadeiro estabelecimento operático de corte e contratando cantores italianos
como Gizziello ou Anton Raaff, uo arquitecti Giovanni Carlo Sicini Bibiena e o director musical David
Perez
- Biniena era um cenógrafo e um maquinista teatral e construíram um teatro provisório no Paço da
Ribeira – Teatro do Forte, outros dois permanentes em Salvaterra de Magos e na Quinta de Cima da
Ajuda e a grande Ópera do Tejo no local do Arsenal da Marinha
- o terramoto de 1755 destruiu a Casa da Ópera e a Capela Real e Patriarcal que não foram
reconstruídos e também proporcionou uma interrupção de 8 anos nos espetáculos de ópera que seriam
retomados numa escala mais pequena e novamente com carácter privado em especial no Teatro da
Ajuda e ocasionalmente no Verão no Palácio de Queluz e nas temporadas de Carnaval no Teatro de
Salvaterra
- foram contratados cantores italianos com os papéis femininos cantados por castrados na sequência da
tradição da tradição romana e puritana
- na Biblioteca da Ajuda conservam-se mais de 700 partituras de ópera italiana da 2ª metade do século
XVIII
- a influência italiana fazia-se sentir na corte
- a Capela Real, a orquestra da corte, começou a ser conhecida por Real Câmara na 2ª metade do século
XVIII
- quanto ao corpo de baile, a utilização exclusiva de homens terá afastado de Lisboa os melhores
bailarinos que não dançavam papéis de travesti e impediu o desenvolvimento do bailado feminino
- até ao terramoto o repertório dos teatros de corte foi essencialmente constituído por óperas sérias de
David Perez mas a partir de 1763 a ópera cómica ou buffa tornou-se mais popular - eram ainda
representadas as operas sérias de Niccoló Jommelli que influenciaram os compositores portugueses dos
quais sobraram 9 obras durante os dois reinados - a atividade dos portugueses foi mais produtiva no
campo da serenata e da oratória que substituíram por razões económicas a ópera na corte uma vez que
dispensavam os cenários e o guarda-roupa
- os principais autores portugueses do período foram: João Cordeiro da Silva, Pedro António Avondano e
João de Sousa Carvalho
- todos estes compositores exceto Avondano foram mestres no Seminário da Patriarcal - ao longo do
reinado de D. Maria I foi-se acentuando a decadência dos teatros e estabelecimentos musicais
- com a inauguração do Teatro de S. Carlos em 1793 termina o ciclo da ópera de corte que durou 60
anos
- o Teatro do Bairro Alto e da Rua dos Condes recomeçaram a partir de 1761 a alternar teatro
declamado português com óperas italianas e bailados
- algumas atrizes e cantoras se destacaram como Cecília Rosa, Isabel Ifigénia e Luísa Rosa de Aguiar ou
Luísa Todi que chegou a ter uma carreira internacional
- em 1771 surgiu a Sociedade para a subsistência dos Teatros Públicos numa tentativa de gestão
operática e teatral à imagem das società di cavalieri italianas
- era uma sociedade monopolista sob a proteção da corte e que estabeleciam o exclusivo do teatro
declamado em português no Teatro do Bairro Alto e da ópera italiana no Teatro da Rua dos Condes
- entre 1790 e 1792 surge de novo a ópera italiana no Teatro da Rua dos Condes dirigida por António
Leal Moreira que viria no ano seguinte a assumir a direção musical do Teatro S. Carlos
- no Porto realizaram-se irregularmente espetáculos de ópera no Teatro Público ou do Corpo da Guarda
coma proteção do Governador Almada e Melo
- a popularidade dos espetáculos de ópera levou à produção de adaptações declamadas em português
de libretos de ópera em numerosas edições dedicadas à burguesia e que ficaram conhecidos como
teatro de cordel
- a burguesia nacional sentia-se atraída pela ficção literária de uma ideologia e de um modelo político
racionalista
5.2.2 - A música religiosa
- a influência operática italiana determinou o estilo da música religiosa do século XVIII e os principais
modelos de referência são David Perez (Mattuti dei Morti de 1774) e Niccolò
Jommelli (Missa de Requiem)
- os principais compositores religiosos portugueses foram: Luciano Xavier dos Santos, organista e mestre
da Real Capela da Bemposta e António da Silva Gomes e Oliveira, organista da Real Capela da Ajuda
- representam diferentes aspetos do estilo pré-clássico de raiz italiana, em especial napolitana
- algumas obras apresentam a leveza e simplicidade do style galant enquanto outras apresentam solos
vocais muito ornamentados
- a quantidade de música instrumental da 2ª metade do século XVIII que chegou até nós é relativamente
pequena, o que se terá devido a essas músicas terem ficado na posse dos instrumentistas
- o principal compositor orquestral deste período foi Pedro António Avondano autor de 2 sinfonias para
orquestra de cordas, 3 concertos para violoncelo e orquestra e diversas sonatas para cravo, violoncelo e
baixo contínuo
- Avondano escreveu ainda vários minuetes para dois violinos e baixo contínuo destinado a bailes na sua
casa onde funcionava a Assembleia das Nações Estrangeiras
- os concertos começam a aparecer nos intervalos das representações nos Teatros da Rua dos Condes e
do Salitre
- os programas desses concertos incluíam árias e duetos alternando com sinfonias e concertos para um
instrumento solista e orquestra
- os compositores desses concertos eram raramente referidos mas encontramos italianos como
Cimarosa e Paisiello, alguns portugueses e sinfonias de Haydn
- para além dos concertos públicos existiam ainda concertos privados nas casas da nobreza e da
burguesia de Lisboa
- quanto à música para conjuntos de câmara, foram adquiridas para uso da corte coleções de trios,
quartetos, quintetos e serenatas instrumentais de Haydn mas o único autor português de quartetos de
cordas deste período foi João Pedro de Almeida Mota
- a partir de 1770 surge um género de canção sentimental designado modinha e que parece ter sido
importado do Brasil por Domingos Caldas Barbosa. Esta, está associada um outro tipo de canção de
origem afro-brasileira, o lundum caracterizado por ritmos sincopados e pela sua voluptuosidade
- na primeira metade do século XIX o estilo musical da modinha será cada vez mais influenciada pela
ópera italiana com o surgimento de modinhas que são evidentes paráfrases de óperas de Bellini,
Donizetti e Verdi
- a partir de finais do século XVIII a modinha passou a difundir-se em edições impressas como o Jornal
das Modinhas e entre os seus compositores contam-se Marcos Portugal, António Leal Moreira, António
da Silva Leite e Manuel José Vidigal
- António da Silva Leite publicou seis sonatas de guitarra tocadas num instrumento semelhante ao
cittern inglês e protótipo da atual guitarra portuguesa
- a modinha também se tem atribuído o papel de antecessora do fado, género que só aparece
claramente definido no segundo terço do século XIX
- outro instrumento muito popular na altura era ainda a viola de 5 ordens
- guitarrista e compositor, outra figura portuguesa de destaque deste período foi o Abade António da
Costa
- destaca-se ainda a produção para instrumentos de tecla entre os quais o pianoforte que já começa a
competir com o cravo
- o mais notável compositor de música para tecla da segunda metade do século XVIII foi João de Sousa
Carvalho
- manuais para instrumentos de tecla neste período surgem dois, um de Alberto José Gomes da Silva e
outro de Francisco Inácio Solano
5.2.4 - O fabrico de instrumentos de tecla. A edição musical
- a construção de instrumentos tem maior destaque neste período com os cravos, clavicórdios e
pianofortes construídos por Manuel e Joaquim Antunes, Matias Bostem, Henrique van
Casteel e Manuel do Carmo ou os órgãos de António Machado e Cerveira
- a edição e comércio musical conhecem também um grande incremento neste período devido
essencialmente à ação de estrangeiros
- em Lisboa existiam 4 lojas de música: a Real Fábrica e Armazém de Música, que se dividiu na real
Fábrica e Impressão de Música de Milcent e na Real Impressão de Música de Marechal, e as lojas de
João Baptista Waltmann e de João Baptista Weltin
- cada loja especializava-se num tipo de música
- Milcent a promover essencialmente a música ligeira
- Waltmann vendia árias italianas, missas de Haydn e sinfonias de Mozart
- Weltin vendia sobretudo instrumentos incluindo flautas, clarinetes, harpas e pianos
6 - O Século XIX
6.1 - A ópera e o teatro musicado
6.1.1 - A hegemonia da ópera italiana. Os Teatros de S. Carlos e de S. João
- a partir da última década do século XVIII a vida musical portuguesa é dominada pelos teatros de ópera
que surgem nas duas maiores cidades do país, colocando a música instrumental num papel de satélite
da cultura operática italiana
- a abertura do S. Carlos em Lisboa (1793) e do S. João no Porto (1798) marca o aparecimento de casas
de espetáculo públicas seguindo o modelo arquitetónico italiano
- construídos com sociedades de capitalistas ou subscrições públicas de ações, os teatros eram alugados
a empresários que montavam toda a temporada
- em 1846 surge ainda o Teatro D. Maria II tornando-se 3 as casas de ópera nacionais - menos
importantes do que a ópera, existiam também o teatro declamado, o teatro musicado e outros tipos de
espetáculos
- dentro da ópera italiana o género sério denominado melodrama era o mais importante seguido dos
géneros semisério e cómico ou buffo
- em Portugal não existia esta hierarquia de géneros mas assistia-se ao predomínio da ópera séria
- até 1798 o repertório do Teatro S. Carlos era constituído unicamente por operas cómicas ou drammi
giocosi e a seguir a essa data incluía também óperas sérias sob influência do cantor castrado Girolamo
Crescentini
- o único compositor português apresentado nos primeiros 5 anos do teatro foi António Leal Moreira,
seu diretor musical
- A vingança da cigana tinha libreto de Domingos Caldas Barbosa e incluía árias, duetos, recitativos e
conjuntos vocais em estilo italiano complementados com modinhas ou canções populares como a do
negro Cazumba
- no Teatro S. Carlos eram ainda apresentados bailados nos intervalos das óperas e também por vezes
espetáculos de teatro declamado
- no primeiro andar foi criado o Salão Nobre onde se apresentavam oratórias e outras peças de música
sacra durante a Quaresma
- em 1799 o S. Carlos apresenta uma ópera de Marcos Portugal compositor cujas obras já se tinham
celebrizado na Europa
- ao estabelecer-se em Portugal em 1800 Marcos Portugal assumiu a direção musical do Teatro de S.
Carlos e da Capela Real
- o compositor segue a família real para o Brasil onde permanece depois da independência ocupando o
cargo de compositor de música do imperador dedicando-se na última fase da sua vida à música
religiosa
- o repertório de óperas de S. Carlos na primeira metade do século XIX é dominado pelas produções
italianas e algumas óperas francesas
- na temporada de 1806 é apresentada uma opera seria de Mozart, La clemenza di Tito - fechado depois
da expulsão dos franceses, o Teatro S. Carlos reabre em 1815-16 com as primeiras óperas de Rossini que
vão dominar o repertório até 1824, data em que surgem compositores como Giacomo Meyerbeer e
Saverio Mercandante
- encerrado durante a guerra civil, o S. Carlos volta a reabrir com uma programação centrada em
Rossini, Donizetti e Bellini
- o Conde de Farrobo torna-se empresário do S. Carlos em 1838 conduzindo o teatro a uma das suas
melhores épocas – contratação do compositor italiano Pietro António Coppola - em 1843 com a estreia
de Nabucco de Verdi dá-se uma nova viragem com o predomínio das composições verdianas
- o panorama português era semelhante ao de Itália onde até 1871 nunca se ouviu nenhuma produção
wagneriana
- em 1798 é inaugurado o Teatro S. João no Porto em homenagem ao príncipe e futuro rei D. João VI
tendo as suas primeiras temporadas espelhado a situação em Lisboa
- o S. João debatia-se no entanto com uma grande falta de meios incluindo um subsídio inferior do
Estado que não lhe permitiu contratar cantores de nome
- durante o século XIX o S. João foi a principal casa de espetáculos do Porto com funções de teatro lírico
e de teatro declamado, já que nunca se construiu uma casa de espetáculos específica para esses
espetáculos no Porto ao contrário do que tinha acontecido em Lisboa - o Palácio de Cristal assumiu-se
como alternativa em 1869-70 com a apresentação de Don Carlos de Verdi
- o mais importante teatro privado português foi construído no 1º quartel do século XIX por uma família
burguesa nobilitada que pretendia copiar o fausto das grandes casas senhoriais - Joaquim Pedro
Quintela, conde de Farrobo mandou construir um teatro na sua Quinta das Laranjeiras inaugurado em
1825 e destruído por um incêndio em 1862
- o teatro das Laranjeiras recebeu ópera italiana cantada por profissionais e amadores e o seu repertório
incluía obras de Rossini, Mercandante, Donizetti e dos portugueses António luís Miró e João Guilherme
Daddi
6.1.4 - A reação ao italianismo nos finais do século XIX: o wagnerismo e a influência alemã e francesa
- a partir dos anos 80 do século XIX o Teatro S. Carlos entra numa nova fase com o surgimento das
óperas francesas de Massenet, Gounod ou Delibes cantadas em italiano e com o surgimento das
primeiras óperas de Wagner
- a transformação do repertório vai ser no entanto contrariada com uma nova corrente operática
italiana, o verismo com obras de Giacomo Puccini, Ruggiero Leoncavallo e Pietro Mascagini – com a
abertura do Coliseu dos Recreios em 1890 surgia uma alternativa a S. Carlos que era vocacionada para
espetáculos de massas (incluindo o circo) e que permitia fazer preços muito mais acessíveis
- na temporada de 1908-09 termina o monopólio das companhias italianas que tinha marcados os
primeiros 120 anos da tradição da ópera em Portugal