Canavieiras 2

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PLANO DE AO PARA O CARANGUEJO-U EM CANAVIEIRAS

Dezembro de 2006

Projeto ALMA Ambientes Litorneos da Mata Atlntica


Instituto de Conservao de Ambientes Litorneos da Mata Atlntica - Ecotuba

COORDENADORES:
ANDERS JENSEN SCHMIDT Bilogo CRB.: 19.821/5-D MAURCIO ARANTES DE OLIVEIRA Bilogo CRB.: 23.618/01-D

Equipe tcnica responsvel pelo levantamento do estoque e produo de caranguejo- u :

ANDERS JENSEN SCHMIDT Bilogo MAURCIO ARANTES DE OLIVEIRA Bilogo MARION MAY- Biloga SARA MARIA BRITO ARAJO - Biloga HARILDON FERREIRA Estudante de Biologia

Tcnico responsvel pelo levantamento da rea e estado de conservao dos apicuns:


ELDER PEDREIRA DE SOUZA - Gegrafo

AGRADECIMENTOS

As comunidades de coletores de caranguejos de Campinhos, Poxim do Sul e da Sede do Municpio de Canavieiras, sem as quais todo este trabalho no teria sentido. A Ani Zamgochian, Ben Jollife, Daniela Lerda, Ivana Lamas e toda a equipe do CEPF, por ter acreditado e orientado o Ecotuba nesta empreitada. Ao Chefe da RESEX de Canavieiras, Geraldo Machado Pereira, do IBAMA, pela elaborao das estratgias para implementao deste Plano de Ao. Aos amigos e companheiros de trabalho que importantes contribuies prestaram para o aprimoramento deste Plano de Ao: Armando Magalhes (IBAMA Salvador), Cleide Guirro (Ncleo de Pesca do IBAMA Eunpolis), rika Guimares (Aliana para Conservao da Mata Atlntica), Guilherme Dutra (Conservao Internacional do Brasil), Joo Carlos de Pdua (IESB), Joo Lara Mesquita (Projeto Mar Sem Fim), Mrio Mantovani (SOS Mata Atlntica), Maurcio Cetra (UESC), Paulo Vilanova (IESB), Rodrigo Leo (Conservao Internacional do Brasil) e Ulisses Scofield (CEPENE/IBAMA). A Adriano Teles, pela coordenao financeira. A Cremildo Pereira da Cruz (Bigode), nosso marinheiro de planto. Aos Conselheiros do Instituto Ecotuba - Antnio Jorge Suzart Argolo, Augusto Minervino Neto, Maria Ceclia Guerrazzi e Paulo Csar Diniz da Cruz - pelas orientaes e confiana Ao Presidente do Conselho do Instituto Ecotuba Prof. Dr. Max de Menezes pelo apoio e ateno dedicados.

As seguintes instituies: # Hotel Transamrica Ilha de Comandatuba, pela infra-estrutura fornecida. # CEPENE/IBAMA, por proporcionar a apresentao do Plano de Ao em Caravelas # Ncleo de Unidades de Conservao/IBAMA, pelas diretrizes no incio da implementao do Projeto. # Colnia Z-20, Associao de Marisqueiros do Poxim do Sul e Associao de Moradores de Campinhos, por ceder o espao para realizao das oficinas e auxiliar na mobilizao das comunidades. # IESB e Conservao Internacional, pelo apoio tcnico # Projeto Mar Sem Fim, pela divulgao do trabalho # IBAMA, parceiro fundamental para a elaborao do Plano de Ao e, agora, mais ainda, para a sua implementao.

2 NDICE

1- INTRODUO................................................................................. pg. 3 1.1- Biologia do Caranguejo-u.................................................................pg. 3 1.2- Ecossistema de ocorrncia do Caranguejo-u.................................pg. 10 1.3- Descrio da Pescaria.........................................................................pg.14 1.4- Aspectos Scio-Econmicos...............................................................pg.16 1.5- Medidas de Ordenamento do Recurso................................................pg.19 1.6- Outras Presses de Mortalidade sobre o recurso...............................pg.21

2- A REGIO ESTUARINA DE CANAVIEIRAS...................................pg.26

3- PARMETROS POPULACIONAIS E ESTOQUE DO CARANGUEJO U EM CANAVIEIRAS..................................................................pg.29 3.1- Mtodos...............................................................................................pg.29 3.2- Resultados e Discusso......................................................................pg.30

4- PRODUO PESQUEIRA DE CARANGUEJO-U EM CANAVIEIRAS.................................................................................pg.44 4.1- Mtodos...............................................................................................pg.44 4.2-Resultados e Discusso.......................................................................pg.47

5- LEVANTAMENTO DA REA E ESTADO DE CONSERVAO DOS APICUNS DE CANAVIEIRAS.........................................................pg. 54 5.1- Mtodos .............................................................................................pg. 54 5.2- Resultados e Discusso ....................................................................pg. 55

6- ESTRATGIA DE AO PARA A EXPLOTAO SUSTENTVEL DO CARANGUEJO-U EM CANAVIEIRAS PROPOSTA PELAS COMUNIDADES E PELO RGO GESTOR DA RESEX DE CANAVIEIRAS ...............................................................................pg. 62 6.1- Mtodos .............................................................................................pg. 62 6.2- Resultados e Discusso.....................................................................pg. 63 7- BIBLIOGRAFIA ............................................................................. pg. 70 2

3 1- INTRODUO

1.1-

Biologia do Caranguejo-u

O caranguejo-u, Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) uma espcie de caranguejo (Decapoda : Brachyura) pertencente famlia Ocypodidae e subfamlia Ocypodinae (Melo, 1996) (Fig. 1). Alguns pesquisadores

reconhecem que a espcie Ucides cordatus engloba duas subespcies: Ucides cordatus cordatus, que ocorre na costa do Atlntico, e Ucides cordatus occidentalis, que ocorre na costa do Pacfico (Turkay, 1970 apud Diele, 2000). Para facilitar a nomenclatura, no presente trabalho no ser utilizada a classificao por subespcie. A fauna de caranguejos a mais conspcua em manguezais e a predominncia de espcies cavadoras proporciona a oxigenao e drenagem do sedimento (Jones, 1984). Segundo Aller & Aller (1998), a macrofauna bentnica, atravs da bioturbao causada por seus buracos, influencia fortemente o caminho, taxa e extenso da remineralizao da matria orgnica e reaes associadas nos sedimentos marinhos. Em seu estudo do fluxo trfico em manguezais, Wolff et al. (2000) cita Ucides cordatus como um dos principais consumidores de serrapilheira oriunda dos mangues. No Sul e Extremo-Sul da Bahia, assim como em vrias outras localidades do Brasil, o caranguejo-u um importante recurso pesqueiro, fornecendo sustento para muitas comunidades de baixa renda. O caranguejo-u um dos mais importantes componentes da fauna dos manguezais brasileiros, ocorrendo com maior ou menor abundncia em toda a vasta extenso ocupada pelos mesmos, desde o Amap at Santa Catarina (Costa, 1972). Manning & Provenzano Jr. (1961) confirmaram que o limite norte de ocorrncia desta espcie o sul da Flrida (EUA). Segundo Lutz (1912) os caranguejos-u habitam tocas profundas e tortuosas que ficam emersas apenas durante a baixamar. Costa (1972), atravs de moldes de gesso, estimou que as galerias desta espcie tm uma mdia de 84cm de comprimento, podendo atingir 115cm. Os indivduos de U. cordatus caminham por um mesmo trecho quando saem e entram das galerias, movimentando-se lateralmente e com os quelpodos (pus) curvados para 3

4 frente ao corpo (Costa, 1972). A abertura de uma galeria de caranguejo-u apresenta formato elptico (Luederwaldt, 1919; Holthuis, 1959; Costa, 1972; Alcntara-Filho, 1978; Geraldes & Calventi,1983; Alves et al., 2005 e Schmidt, 2006). Isso ocorre devido s dimenses corporais e ao comportamento de U. cordatus. A maior dimenso da abertura de galeria corresponde altura total do habitante (altura do cefalotrax mais a altura dos pereipodos flexionados), havendo tambm influncia do desgaste da lama devido ao ato de entrar e sair (Schmidt, 2006). Como U. cordatus entra sempre de lado em sua habitao (Holthuis, 1959; Costa, 1972 e Geraldes & Calventi, 1983), a menor dimenso da galeria corresponde necessariamente ao comprimento do cefalotrax do correspondente caranguejo (Schmidt, 2006). Os resultados de Schmidt (2006) confirmam que, no s existe uma forte correlao entre o menor dimetro de abertura de galeria e o comprimento do caranguejo habitante, como esta relao pode ser descrita por um modelo linear, com a seguinte equao de reta: Galeria = 0,36 + 1,04 * Comprimento (r2 = 72,1%; P<0,01; N=1873). O caranguejo-u se alimenta principalmente de folhas senescentes dos mangues que caem na lama. Nascimento (1993), afirma que o caranguejo-u se alimenta do produto da decomposio das folhas de mangues por fungos e bactrias, acumulado no interior das galerias. Nordhaus (2003) contesta esta afirmao, pois, em seu trabalho, constatou que U. cordatus no estoca folhas por muitas semanas, que seriam necessrias para a colonizao por fungos. Lima & Oshiro (2002) obtiveram sucesso em alimentar indivduos de U. cordatus em cativeiro com folhas de R. mangle e L. racemosa. Nordhaus (2003), atravs de observaes por binculos e filmagens com cmara infravermelha, constatou que U. cordatus, embora tambm seja ativo durante a noite, tem hbitos predominantemente diurnos pois dependem da viso para coleta de folhas. Como todos os crustceos, o caranguejo-u precisa trocar de exoesqueleto para crescer, em um fenmeno denominado muda ou ecdise. Segundo Ivo & Gesteira (1999), a classificao dos estdios de muda do caranguejo-u normalmente utilizada por pesquisadores brasileiros baseia-se no trabalho de Drach (1939). A maior importncia dos estudos de Drach (1939) terem enfatizado o aspecto biolgico: a muda no um ato restrito interrompendo a vida normal do caranguejo, mas todos aspectos da fisiologia 4

5 normal do caranguejo esto mudando continuamente, junto com os estgios do ciclo de muda (Nascimento, 1993). Basicamente, segundo Drach (1939), o ciclo de muda apresenta os seguintes perodos: A - o perodo que se d imediatamente aps a muda. O exoesqueleto ainda est muito mole e se deforma facilmente quando pressionado levemente. Tambm chamado de Ps-Muda. B Neste perodo o exoesqueleto j est mais rgido, porm ainda de deforma um pouco quando pressionado pelos dedos. Tambm chamado de Ps-Muda. C o perodo mais longo, que compreende a maior parte da vida do animal, e nele o exoesqueleto j est totalmente rgido. Tambm chamado de Inter-Muda. D o perodo preparatrio para a muda, em que o exoesqueleto antigo comea a se desprender do corpo, sendo facilmente quebrado com as mos. Segundo Pinheiro & Fiscarelli (2001), o corpo fica preenchido por uma substncia leitosa rica em clcio, magnsio e carbonatos e qualquer injria de apndices locomotores permite o extravasamento de hemolinfa. Por isso, caranguejos neste perodo so chamados popularmente de caranguejos-deleite. Este perodo tambm chamado de Pr-Muda. Os caranguejos-u costumam tapar as aberturas de suas galerias com lama durante o processo de ecdise (Oliveira,1946; Costa,1972; Alcntara-Filho, 1978; Castro, 1986; Nascimento,1993; Pinheiro & Fiscarelli, 2001 e Alves & Nishida, 2002). Os caranguejos apresentam dimorfismo sexual externo, sendo que o abdome do macho alongado, estreito e com formato prximo ao triangular; e o abdome da fmea largo e com formato semicircular (Fig. 2). Segundo Diele (2000), os caranguejos-u tm uma idade de 2,2-2,7 anos quando comeam a se reproduzir. Similarmente, Pinheiro et al. (2005) estimaram que a maturidade funcional de U. cordatus ocorre em mdia, com 2,9 anos de idade. Durante o perodo reprodutivo, machos e fmeas saem de suas galerias para o acasalamento em um fenmeno denominado pelas comunidades litorneas de andada, andana, corrida ou carnaval (Fig. 3). A andada ocorre nos meses de maior fotoperodo, temperatura e precipitao (Pinheiro & Fiscarelli, 2001). Existem relatos de ocorrncia de andadas tanto em luas 5

6 cheias (Ges et al.,2000 e Pinheiro & Fiscarelli, 2001) como em luas novas (Ges et al., 2000; Diele, 2000; Pinheiro & Fiscarelli, 2001 e Wunderlich et al. 2002). Segundo Ges et al. (2000), de 3 a 9 dias antes da andada os caranguejos-u machos liberam uma espuma branca, possivelmente para atrao sexual atravs de feromnios. A andada comea com um comportamento pr-copulatrio que envolve um grande deslocamento e troca de golpes com quelpodos entre indivduos (Luederwaldt, 1918; Ges, 2000 e Wunderlich et al. 2002). O acasalamento ocorre com a fmea em decbito dorsal, ocasio em que o macho a cobre e deposita o lquido seminal, sendo os espermatozides encapsulados transferidos para os receptculos seminais onde ficam armazenados (Mota-Alves, 1975). Ao contrrio de Mota-Alves (1975), que definiu a desova de U. cordatus como sendo total, Ges (2000) sugere que a desova desta espcie do tipo parcelada j que observou ovrios simultaneamente com caractersticas dos estdios maduro e em recuperao. Diele (2000) apresenta evidncias que algumas fmeas podem liberar larvas mais de uma vez dentro de um perodo reprodutivo. Segundo Dalabona & Silva (2005) a anlise histolgica das gnadas das fmeas de U. cordatus, por ela realizada, confirmou que no ocorrem desovas mltiplas em um mesmo ciclo reprodutivo anual, um vez que ovrios desovados no apresentaram ovcitos em maturao. Estudos realizados por Santarosa-Freire (1998) determinaram que, no Paran, ocorre uma maior atividade de reproduo e liberao de larvas zoea de U. cordatus durante perodos prximos a lua cheia. Diele (2000), por sua vez, constatou no Par um padro bem fixo de liberao de larvas zoea e reinvaso dos manguezais por larvas megalopa desta espcie durante perodos de luas nova. Segundo Diele (2000) a liberao de larvas, que ocorre preferencialmente em mars de sizgia de equincio, garante o rpido transporte das larvas para o oceano, reduzindo o stress fisiolgico das baixas salinidades do interior do esturio. Ainda segundo esta autora, as desovas ocorrem preferencialmente noite, o que presumivelmente reduz a mortalidade ligada a predao. Santarosa-Freire (1998) tambm conclui em seu trabalho que a estratgia da espcie U. cordatus de exportao de larvas para fora do esturio, tornando, portanto, vrias subpopulaes conectadas por intercmbio 6

7 de material gentico. J foram registradas migraes de fmeas ovgeras para as margens dos canais, indicando a existncia de desovas em massa nesta espcie (Ges et al., 2000 e Schmidt, 2006) (Fig. 4). Rodrigues & Hebling (1989) conseguiram acompanhar em laboratrio o desenvolvimento larval completo do caranguejo-u, determinando 5-6 estgios iniciais de zoea e 2 estgios finais de megalopa (Fig. 5). Em laboratrio, as larvas de U. cordatus apresentam maiores porcentagens de sobrevivncia em salinidades mais altas, entre 25 e 30 o/oo (Simith & Diele, 2003; Fernandes et al., 2003 e SantAnna et al. 2004). Experimentos de laboratrio realizados por Abrunhosa (2002) indicam que as larvas zoea de Ucides cordatus, embora lecitotrficas (tm reservas nutricionais), precisam capturar alimento para suprir todas suas necessidades e ter xito na realizao das mudas. Aps chegarem na costa, as larvas

megalopas assentam e se metamorfoseiam em pequenos caranguejos terrestres. Estes so raramente vistos e pouco se sabe sobre seu habitat e ecologia (Wolcot, 1988). Schmidt et al. (2005) encontraram caranguejos-u, com menos de 0,9cm de comprimento, habitando galerias de caranguejos adultos localizadas em reas pouco inundadas, principalmente no limite inferior das zonas de apicum, indicando ser este o habitat onde ocorre o recrutamento da espcie (Fig. 6). A comparao dos picos de recrutamento registrados por Schmidt (2006) em junho, julho, agosto; com os picos de fmeas ovgeras registrados em janeiro, fevereiro e maro leva a crer que os juvenis recm metamorfoseados demoram cerca de 3 meses para atingir 6-8mm de comprimento, aproximadamente a metade do tempo proposto por Diele (2000) em experimentos realizados em laboratrio. O caranguejo-u apresenta um crescimento lento, sendo variadas as estimativas de idade em que os caranguejos machos atingem o tamanho comercial (6cm de largura): 10 anos (Nascimento, 1993); 6,3-11 anos (Ostrensky et al. , 1995); 6,1-7,5 (Diele, 2000) e 3,8 anos (Pinheiro et al., 2005). Em relao longevidade do caranguejo-u, pesquisas indicam que o mesmo pode viver pouco mais de dez anos (Diele, 2000 & Pinheiro et al., 2005). Os machos atingem uma largura mxima de carapaa entre 8,3cm (Pinheiro et al., 2005) e 9,1cm (Diele, 2000). As fmeas, por sua vez, atingem um tamanho mximo entre 7,3cm (Diele, 2000) e 7,8cm (Pinheiro et al., 2005) 7

8 de largura de carapaa. Vrios autores determinaram uma correlao entre o comprimento e largura do cefalotrax do caranguejo-u, de modo que, um caranguejo com 6cm de largura, apresenta um comprimento de 4,6cm (Souza, 1999; Ivo et al, 1999; Vasconcelos et al, 1999; Dalabona et al.,2005; Schmidt et al., 2005 e Schmidt, 2006).

Figura 1 Caranguejo-U (Ucides cordatus) macho. Prancha: Frederico Lencioni Neto.

Figura 2 Coletor de caranguejos Valteir, o Cachimbo, mostrando o dimorfismo sexual externo do caranguejo-u. Foto: Anders Schmidt

Figura 3 Andada do caranguejo-u: perodo do acasalamento. Foto: Anders Schmidt

Figura 4 Lavagem das fmeas do caranguejo-u: perodo da emisso de larvas. Foto: Anders Schmidt

Figura 5 Desenvolvimento larval de Caranguejo-U (Ucides cordatus) segundo Rodrigues & Hebling (1989). esquerda, estgios de zoea I-VI. direita o estgio de megalopa.

Figura 6 Recruta de U. cordatus (0,4cm de comprimento) encontrado em apicum de Canavieiras, dentro de galeria de um espcime maior. Foto: Sara Arajo.

1.2-

Ecossistema de ocorrncia do Caranguejo-u 9

10

Os caranguejos-u (Ucides cordatus) habitam exclusivamente reas de manguezal. Manguezal um ecossistema costeiro, de transio entre os ambientes terrestre e marinho, caracterstico de regies tropicais e

subtropicais, sujeito ao regime das mars (Schaeffer-Novelli, 1995). constitudo de espcies vegetais lenhosas tpicas (angiospermas), alm de micro e macroalgas (criptgamas), adaptadas flutuao de salinidade e caracterizadas por colonizarem sedimentos predominantemente lodosos, com baixos teores de oxignio (Schaeffer-Novelli, 1995). O manguezal um ecossistema aberto no que diz respeito energia e matria, e o transporte de matria para dentro do ecossistema, sua reciclagem e conseqente exportao so controlados por fatores fsicos (mars, escoamento, chuvas) e biolgicos (queda de folhas, decomposio, atividade da fauna, etc.) (Nascimento, 1998). Do ponto de vista ecolgico, a vegetao de mangue prov alimentos e retm detritos sendo que, neste ambiente, os crustceos so abundantes refugiando-se em galerias escavadas no substrato, correndo sobre a superfcie do solo e, at mesmo, subindo nas rvores (Schaeffer-Novelli, 1989). As razes dos mangues servem de substrato a um grande nmero de bivalves (ostras, por exemplo) e seu intrincado sistema serve de proteo s larvas de muitos organismos que a desovam (Schaeffer-Novelli, 1989). muito comum em manguezais brasileiros uma densa cobertura de algas sobre troncos, rizforos e pneumatforos dos mangues (Oliveira, 1984). A associao de macroalgas epifticas denominadas por Post (1968) de Bostrichietum encontra nos troncos das rvores de mangue um substrato adequado sua ocupao (Cunha & Costa, 2002). Trata-se de uma associao de macroalgas tpica de manguezais, composta basicamente por rodfitas dos gneros Bostrychia, Caloglossa e Catenella (Eston et al. 1991 e Cutrim, 2003). Botnicos e ecologistas brasileiros utilizam o termo manguezal para o bosque, a floresta; e mangue para uma planta, uma espcie (Maciel et al. 1991). Dentre as principais espcies de mangues presentes nos manguezais do Sul e Extremo-Sul da Bahia, destaca-se o Mangue-Branco (Laguncularia racemosa (L.) Gaert) e o Mangue-Vermelho (Rhizophora mangle L.). O Mangue Branco uma das 450 espcies de plantas em 18 gneros da famlia 10

11 Combretaceae (sinnimo de Terminaliaceae) e o Mangue Vermelho uma das mais de 70 espcies em 17 gneros da famlia Rhizophoraceae (Odum et al., 1982). Lugo & Snedaker (1974) propuseram um sistema de classificao de tipos fisiogrficos de manguezais, entre os quais destacam-se os bosques de franja (franjas relativamente estreitas ao longo dos cursos de gua), bosques de bacia (localizados em depresses, mais internas, com fluxos laminares sobre grandes extenses planas) e bosques ribeirinhos (bosques altos, ao longo de rios e canais de drenagem com intenso fluxo de gua). A zonao das espcies do manguezal no parece ser controlada por fatores fsicos e qumicos diretamente, mas pela interao desses fatores com competio interespecfica e, possivelmente, atravs do fornecimento aleatrio de propgulos pelas mars (Odum et al. 1982). Segundo Schaeffer-Novelli et al. (1990), a particular mistura de energias de rios, mars e ondas atuando numa regio criam uma paisagem com uma geomorfologia especfica. Ainda segundo estes autores, a colonizao destas estruturas por diferentes espcies ocorre em um padro que depende da adaptao individual de cada espcie em crescer em diferentes inundaes e a diferenas do solo. Uma poro bem caracterstica do manguezal recebe a denominao de apicum, termo derivado da palavra apecu, originria da lngua indgena Tupi e que significa a lngua de terra (Silva, 1965; Bueno, 1983 e Cunha, 1999) (Figs. 7 e 8). O apicum tambm conhecido por salgado, areal ou, mais tecnicamente, plancie hipersalina. Ele ocorre na poro mais interna do

manguezal, na interface mdio/supra litoral, raramente em pleno interior do bosque (Maciel, 1991), sendo, portanto, um ectono. Segundo Holland (1988) apud. Henry (2003), um ectono pode ser descrito como uma zona de transio entre sistemas ecolgicos adjacentes com uma srie de

caractersticas definidas exclusivamente por escalas espaciais e temporais, e pela intensidade das interaes entre os sistemas. Os limites dos apicuns podem ser estabelecidos pelo nvel mdio das preamares de sizgia e o nvel das preamares de sizgia equinociais (Maciel, 1991). Nascimento (1999) prope um modelo de formao do apicum no qual um bosque de R. mangle com mnima zona de transio entre o manguezal e a restinga naturalmente assoreado pelo carreamento do sedimento fino e arenoso pelo vento. Ainda 11

12 segundo esta autora, as rvores de R. mangle, mortas pelo assoreamento, se decompem, deixando espao para L. racemosa, Avicennia spp. e para espcies tpicas do apicum. Bigarella (1947), por sua vez, coloca que o assoreamento e conseqente morte dos bosques de mangue para a formao dos apicuns ocorre principalmente por areia fina depositada por ocasio da preamar e que o transporte pelo vento tem importncia secundria. Ucha & Barreto (2003), por sua vez, colocam que os terrenos dos apicuns so provenientes da eroso das terras altas do entorno prximo. Contrariamente tendncia de gerao de apicuns pelo assoreamento natural de manguezais, existe uma tendncia de avano da colonizao dos apicuns por espcies de mangue como L. racemosa e A. schaueriana (Lebigre, 1999; Oliveira et al., 2000; Pellegrini et al., 2000; Portugal, 2002; Duque-Estrada et al., 2003; Soares et al., 2003). Segundo Meireles et al. (2001), enquanto o nvel do mar subia, durante a ltima transgresso, os apicuns foram deslocados continente adentro e a regio onde se encontravam foi ocupada por espcies de mangue. Segundo os mesmos autores, com a subseqente regresso do nvel do mar, o alcance das mars diminuiu e o solo dos apicuns, tendo seu excesso de sal lixiviado, voltou a ser ocupado por espcies terrestres. Portugal (2002) prope que a colonizao do apicum por espcies de mangue est ligada a alteraes fsicoqumicas do seu substrato devido ao aumento na freqncia de lavagem pelas mars, o que pode ser indcio de um aumento contemporneo do nvel mdio relativo do mar, o qual pode ter carter local ou estar relacionado s mudanas climticas globais. Portugal et al. (2003) alerta quanto importncia da conservao dos apicuns j que a migrao dos manguezais em direo a estas plancies hipersalinas pode compensar a elevao do nvel do mar. Nascimento (1999) coloca que a principal importncia do apicum est em ser um reservatrio de nutrientes (decomposio de material vegetal e sais acumulados pela evaporao) que, em certas pocas do ano, so removidos das camadas inferiores do solo pela ao escavadora de caranguejos como Uca spp. e, em seguida, lixiviados para o bosque do manguezal, mantendo seu equilbrio salino. Autores vm relatando a ocorrncia das seguintes espcies vegetais nos apicuns: Rhizophora mangle, Laguncularia racemosa, Avicennia spp, 12

13 Hibiscus pernambucensis, Acrostichum aureum, Dalbergia hecastophyllum, Conocarpus erecta, Sporobolus virginicus, Fimbristylis glomerata, Sesuvium portulacastrum, Badonea viscosa, Paspalum vaginatum, Salicornia

gaudichaudiana e Philoxerus portulacoides (Luederwaldt, 1919; Bigarella, 1946; Costa, 1972; Araujo & Maciel, 1979; Oliveira, 1984; Maciel,1991; Herz, 1991; Nascimento, 1999; Rtzler & Feller, 1999; Oliveira et al., 2000; Pellegrini et al. 2000; Secretaria Municipal do Meio Ambiente do Rio de Janeiro, 2000). O recrutamento de U. cordatus ocorre nas zonas menos inundadas do manguezal, principalmente nos limites inferiores dos apicuns. Assim, estes ambientes funcionam como verdadeiros berrios para os caranguejos-u, o que refora a importncia de preservao deste ambiente, um dos mais sujeitos a degradao ambiental do ecossistema manguezal (Schmidt, 2006).

Figura 7 Parte do apicum estudado em Canavieiras

Figura 8 Parte do Apicum estudado em Caravelas

13

14 1.3Descrio da pescaria

Segundo Figuti (1999), a ocupao da costa brasileira comeou a cerca de 8.000 anos atrs, porm, como a faixa costeira deste perodo est coberta pelos oceanos atualmente (devido ao aumento do nvel do mar), provvel que no se encontrem stios anteriores aos sambaquis1. Os primeiros ocupantes da costa devem ter sido caadores-coletores pressionados pelas mudanas climticas do comeo do Holoceno, de modo que os mesmos buscaram refgio e se adaptaram aos ambientes costeiros. Em torno de 5000 a 3800 anos atrs, o clima da regio era bem mais quente e com maior pluviosidade, aumentando o input de nutrientes inorgnicos e favorecendo a expanso de ambientes como manguezais (Figuti, 1999). Em poca holocnica, a paisagem era bastante diversificada, preferindo o homem instalar-se prximo a esturios cujos rios e canais desaguavam em praias de baa e regio de mangue (Kneip et al. 1981). Embora menos conspcuos nos sambaquis, crustceos como o caranguejo-u (Ucides cordatus) tambm eram explotados por estes povos e vestgios considerveis chegaram a ser encontrados em depsitos de Guaratiba-RJ (Corra et al., 1978), Santos-SP (Garcia, 1972) e Cubato-SP (Figuti, 1994). Segundo Garcia (1972), vestgios de caranguejo-u,

principalmente quelas, so comuns em sambaquis situados prximos s reas de mangue, geralmente desprezados pela indstria de calcreo. Considerando que muitos dos coletores de caranguejo atuais ainda utilizam a captura simples com o brao, tcnica provavelmente utilizada pelos povos dos sambaquis a at 7000 anos atrs, tal atividade pode ser considerada uma das mais antigas e tradicionais de todas do litoral brasileiro (Fig. 9). O dia de trabalho de um coletor de caranguejo-u comea com o transporte de canoa para manguezais de sua preferncia (todos possuem nomes definidos) durante a mar vazante. Assim, ao chegar no ponto de coleta, a mar j est baixa o suficiente para permitir a coleta. Quando a mar comea a alagar novamente o manguezal, encerra-se o trabalho. Segundo Nascimento (1984) o horrio de trabalho do caranguejeiro no se enquadra no ritmo convencional, ou pelo menos no tem o horrio de entrada e sada fixo, sendo a hora de levantar ou deitar estabelecida pelos fluxos da mar.
1 O sambaqui um tipo de stio arqueolgico muito comum ao longo da costa sul-sudeste brasileira, tendo sido formados entre 7000 e 1000 anos atrs por uma cultura nica de pescadores-coletores 14 associados a ricos ambientes costeiros tais como manguezais (Garcia, 1972).

15 Em Canavieiras, a tcnica de coleta tradicional de caranguejo-u o braeamento, com a ajuda do tapamento das galerias nos perodos de inverno, quando os caranguejos esto no fundo das galerias. O braeamento consiste na simples introduo do brao na galeria para remoo do caranguejo aps a sua imobilizao (Nordi, 1995) (Fig. 10). O tapamento consiste na obstruo da abertura da toca com razes e sedimentos para que o caranguejo suba superfcie para a sua reconstruo, facilitando a captura. Em outros locais da Bahia, como em Caravelas, a tcnica comumente utilizada para a captura do caranguejo-u o gancho. Este consiste em um vergalho com ponta curvada ou uma haste de madeira com uma ala de vergalho amarrada na ponta. Os coletores vo introduzindo verticalmente o gancho na lama sucessivamente at bater no caranguejo para depois remov-lo (Fig. 11).

Figura 9 Joo Gomes (Joo Siri), coletor de caranguejos da comunidade de Comandatuba, trabalhando em 2000.

Figura 10 Ivan Rodrigues dos Santos, coletando caranguejos por braeamento em Canavieiras em 2004.

Figura 11 Sebastio Lopes Ferreira coletando caranguejos com gancho em Caravelas em 2003.

15

16 1.4Aspectos Scio-Econmicos

Em

geral,

os

caranguejeiros

so

grupos

economicamente

marginalizados, extremamente pobres e pouco reconhecidos entre os outros pescadores artesanais (Nordi, 1995). Segundo Josu de Castro (1967), os mangues apenas atraram os homens famintos do Nordeste inteiro: os da zona da seca e os da zona da cana, todos atrados por esta terra de promisso, vindo se aninhar naquele ninho de lama, construdo pelos dois rios e onde brota o maravilhoso ciclo do caranguejo. Entrevistas realizadas pelo Instituto Ecotuba (2004) indicam que a maior parte das famlias de marisqueiros vieram para Canavieiras em busca de emprego e acabaram indo viver do manguezal. Sabe-se que, na falta de opes de trabalho nos centros urbanos, os recursos do manguezal so sempre uma alternativa, seja para subsistncia, seja para obteno de renda. Esses bens e recursos so produzidos gratuitamente dado que por eles nada se paga (Diegues, 2001). Essa noo de gratuidade reforada no Brasil pelo fato dos manguezais serem considerados reas pblicas, de acesso aberto para atividades como a pesca, a catao de caranguejos, etc. (Diegues, 2001) Uma detalhada pesquisa sobre a situao scio-econmica das comunidades de coletores de caranguejos de Canavieiras foi realizada pelo Instituto Ecotuba antes e depois da mortalidade em massa de caranguejo-u. Em Campinhos, uma das comunidades mais representativas de Canavieiras, registrou-se que, em 2002, a produo mensal mdia de um coletor era de 301 caranguejos no inverno e 801 no vero, e aps a mortandade, em 2004, a produo mensal caiu para 55 caranguejos no inverno e 73 no vero (Instituto Ecotuba, 2004) (Fig. 12). Glaser & Diele (2004) colocam muito bem que a sustentabilidade biolgica da coleta de caranguejo-u deve ser analisada em conjunto com sustentabilidade social e econmica desta atividade. Em Canavieiras, antes mesmo da chegada da mortalidade em massa, comunidades de coletores como a de Campinhos, j enfrentavam problemas scio-econmicos como a ausncia de eletrificao e saneamento bsico, sistemas de educao e sade deficientes, falta de planejamento familiar, uma mdia de 5 pessoas morando

16

17 em pequenas habitaes de madeira e uma mdia de 45% de taxa de analfabetismo (Instituto Ecotuba, 2004) (Figs. 13, 14 e 15).

Produo mensal de caranguejosu na comunidade de Campinhos em 2002 e 2004


36000 34000 32000 30000 28000 26000 24000 22000 20000 18000 16000 14000 12000 10000 8000 6000 4000 2000 0

Nmero de Caranguejos-U

Vero / Inverno / Vero / Inverno / 2002 2002 2004 2004

Figura 12 Produo mensal de caranguejo-u na comunidade de Campinhos, Canavieiras, em 2002 (antes da mortandade) e em 2004 (aps a mortandade) (Instituto Ecotuba, 2004)

Infraestrutura domiciliar em Campinhos


80 70 Porcentagem de 60 50 casas 40 30 20 10 0

GUA ENCANADA VASO SANITRIO FOSSA ELETRICIDADE TV RDIO

2002
Pesquisa

2004

Figura 13 Infra-estrutura domiciliar na comunidade de Campinhos, Canavieiras, em 2002 (antes da mortandade) e em 2004 (aps a mortandade) (Instituto Ecotuba, 2004)

17

18

Grau de alfabetizao da comunidade de Campinhos em 2002 (N=202) e 2004 (N=168)


% de moradores acima de 10 anos

60 50 40 30 20 10 0
analfabetos s assinam alfabetizados

2002 2004

Figura 14 Grau de alfabetizao da comunidade de Campinhos, Canavieiras, em 2002 (antes da mortandade) e em 2004 (aps a mortandade) (Instituto Ecotuba, 2004)

Porcentagem de tipos de habitao em Campinhos


80 70 60 50 40 30 20 10 0

Porcentagem

taipa palha alvenaria madeira

2002

2004

Pesquisas

Figura 15 Tipos de habitao da comunidade de Campinhos, Canavieiras, em 2002 (antes da mortandade) e em 2004 (aps a mortandade) (Instituto Ecotuba, 2004)

18

19 1.5Medidas de ordenamento do uso do recurso

a) Sobre a proibio da captura de fmeas.

Inicialmente, a captura de caranguejos-u fmeas de qualquer tamanho era proibida na Regio Nordeste pela Portaria do IBAMA No 1208/89, de 22 de Novembro de 1989. Em 24/06/2003, entrou em vigor a Portaria do IBAMA no 34 que instituiu a captura, manuteno em cativeiro, transporte, beneficiamento, industrializao e comercializao de caranguejo-u apenas 1 de dezembro a 31 de maio, no Norte e Nordeste Brasileiro. Apesar desta Portaria, os coletores de caranguejos continuaram a captura seletiva de machos, ou porque os mesmos so mais aceitos pelos consumidores, ou porque o incessante trabalho de educao ambiental realizado por instituies governamentais e no governamentais, na poca da antiga portaria, conseguiu enraizar esta cultura da captura seletiva. Particularmente, em Canavieiras, a Lei Municipal No 710/2005 no permite a captura de fmeas em seu territrio, em qualquer perodo do ano.

b) Sobre a proibio da captura no perodo de acasalamento (andada). A Portaria IBAMA No 034/03-N, de junho de 2003, delega competncia aos Gerentes Executivos do IBAMA dos estados do Nordeste e Norte para, em portaria especfica, estabelecer, em carter experimental, e segundo as peculiaridades locais, a suspenso da captura, manuteno em cativeiro, transporte, beneficiamento, industrializao e comercializao de caranguejou exclusivamente no perodo de andada (acasalamento). Como as andadas so regidas pela fase lunar, todo ano necessrio reformular as datas de suspenso. Por exemplo, a Portaria IBAMA No 53, de 21 de dezembro de 2005 instituiu suspenses de caranguejo-u em 2-1/jan/2006, 1-5/fev/2006 e 1-5/mar/2006, no Estado da Bahia. Estes perodos foram estabelecidos com base em informaes biolgicas e etnobiolgicas sobre a espcie,

apresentadas na Reunio Tcnica Sobre o Ordenamento da Cata do Caranguejo-u (Ucides cordatus) nas Regies Norte e Nordeste do Brasil, realizada no CEPENE/IBAMA (Tamandar/PE) nos dias 29 e 30 de agosto de 19

20 2005. Esta reunio contou com a participao de Gerentes Executivos das regies Nordeste e Norte e pesquisadores de vrias partes do Brasil, incluindo do Instituto Ecotuba.

c) Sobre o tamanho mnimo de captura. Segundo a Portaria IBAMA No 034/03-N de junho de 2003, proibida nos Estados do Nordeste e Norte a captura, manuteno em cativeiro, transporte, beneficiamento e industrializao de qualquer indivduo da espcie Ucides cordatus cuja largura de carapaa seja inferior a 6,0cm. O tamanho dado pela maior dimenso da carapaa (largura), sendo a medida tomada sobre o dorso do corpo, de uma margem lateral outra. A Instruo Normativa No 83 de 5 de janeiro de 2006 instituiu o Acordo de Pesca de Canavieiras, que refora o tamanho mnimo de largura de carapaa do caranguejo-u de 6,0cm.

d) Sobre a proibio da captura com retirada de partes isoladas. A Portaria IBAMA No 034/03-N de junho de 2003 probe nos Estados do Nordeste e Norte a captura de caranguejo-u com a retirada de partes isoladas (quelas, pinas, garras ou pus).

e) Sobre as tcnicas de captura proibidas. A Portaria IBAMA No 034/03-N de junho de 2003 permite nos Estados do Nordeste e Norte, a captura de caranguejo-u apenas atravs do mtodo de braeamento com o auxlio de gancho ou cambito com proteo na extremidade. Assim, com base nesta Portaria, a tcnica de captura atravs de redinhas (feixe de fibras plsticas preso com duas hastes de madeira sobre as aberturas das galerias) terminantemente proibida. O Acordo de Pesca de Canavieiras, institudo na Instruo Normativa No 83 de 5 de janeiro de 2006 ainda mais restritivo e limita a captura deste crustceo pelo mtodo de braeamento, no sendo permitido o uso do gancho.

20

21 f) Sobre a obrigatoriedade de um Plano de Gesto para a espcie.

O caranguejo-u (Ucides cordatus) consta na Lista Nacional das Espcies de Invertebrados Aquticos e Peixes Sobreexplotadas ou Ameaadas de Sobreexplotao (Anexo II da Instruo Normativa No 5 de 21 de Maio de 2004 do MMA). Segundo esta legislao: Art. 5 - Para as espcies sobreexplotadas ou ameaadas de sobreexplotao constantes do Anexo II a esta Instruo Normativa, devero ser desenvolvidos planos de gesto, sob a coordenao do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos recursos Renovveis IBAMA, com a participao dos rgos estaduais, da comunidade cientfica e da sociedade civil organizada, em prazo mximo de cinco anos, a contar da publicao desta Instruo Normativa. Pargrafo nico. Os planos de gesto visam a recuperao dos estoques e da sustentabilidade da pesca, sem prejuzo do aprimoramento das medidas de ordenamento existentes.

1.6-

Outras presses de mortalidade sobre o recurso

Segundo Harvell et al. (1999), crescentes mortalidades em massa de organismos marinhos devido a deflagraes de doenas vem sendo recentemente relatadas em todo o mundo e parecem estar ligadas a fatores climticos e antropognicos. Uma significante reduo de uma populao pode ser resultado de outros fatores alm da predao, e a natureza e a magnitude destes fatores (sejam doenas, poluio ou alteraes fsico-qumicas) ainda muito desconhecida, especialmente para crustceos de alta mobilidade (Stevens & Armstrong, 1981). No Brasil, uma mortalidade em massa de U. cordatus de origem ainda desconhecida iniciou-se em 1997 e tem afetado populaes naturais de caranguejo-u (Schaeffer-Novelli et al. 2004). Alves & Nishida (2002) relataram que, em 1998, na Paraba, a mortalidade em massa de caranguejou gerou uma reduo do seu estoque natural, criou problemas sociais e afetou seriamente a situao econmica da populao pobre que dependia

21

22 deste crustceo. Em 2001, este fenmeno comeou a ser detectado em manguezais de Una e do norte de Canavieiras (Sul da Bahia) e, em janeiro de 2003, j havia se alastrado para o sul de Canavieiras e Belmonte, causando grandes problemas scio-econmicos nas comunidades de coletores de caranguejos (Schmidt et al. 2004) (Fig. 16). Na varredura realizada por Schmidt et al. (2004) em julho de 2003, foram realizadas amostragens da densidade populacional de caranguejo-u durante uma mortalidade em massa em Cabrlia, identificando este local como limite sul da ocorrncia da doena em 2004. Schmidt (2006) estudou a chegada da mortalidade em massa de caranguejo-u em Caravelas, em janeiro de 2005, estimando que o fenmeno levou a uma reduo de 97,6% da sub-populao estudada que, projetada nos 11.000ha de manguezais do sistema estuarino de Caravelas-Nova Viosa, equivaleria a cerca 45.000.000 de caranguejos-u mortos e um prejuzo direto de aproximadamente R$18.000.000,00. Em maio de 2005, a doena chegou em Nova Viosa/Mucur (Vieira, 2005) e, em setembro deste mesmo ano, em manguezais de So Mateus (Esprito Santo) (Projeto Caranguejo, comunicao pessoal), consistindo, no presente momento, no limite sul da mortalidade em massa do caranguejo-u. fato que, no presente momento, a mortalidade em massa de Ucides cordatus est se alastrando no sentido Norte-Sul ao longo do litoral brasileiro, sentido predominante das correntes litorneas na Regio Nordeste (Fig. 16). Isso pode ser mais um indcio de que a doena est se disseminando atravs da gua (Schmidt, 2006). Parece claro tambm que a propagao da doena no contnua, alternando perodos de inatividade com perodos de rpida expanso (Schmidt, 2006). Schaeffer-Novelli et al. (2004) citam que, pelas coincidncias dos sintomas apresentados pelos caranguejos-u doentes (danos no aparelho digestivo, hepatopncreas, outros rgos internos, anorexia, letargia e alteraes na cor da carapaa) com os sintomas de vrias doenas tpicas de camares penaedeos marinhos, deve-se considerar a possibilidade da causa da mortalidade em massa estar ligada carcinicultura. Nascimento (2001 e 2002) cita que, dos sete tipos mais comuns de vrus que infectam camares marinhos, quatro j foram registrados em fazendas comerciais em operao no Nordeste e tambm levanta a hiptese das mortalidades em massa de U. 22

23 cordatus estarem ligadas aos impactos causados pelas atividades de carcinicultura. Segundo Boeger et al. (2005), caranguejos-u em reas de alta mortalidade compartilham de vrios sintomas em comum, como letargia, controle motor deficiente e a incapacidade de retornar a posio normal quando virado de cabea para baixo. Por isso, estes autores nomearam a doena de Doena do Caranguejo Letrgico (DCL). Anlises histolgicas realizadas por Boeger et al. (2005) demonstraram que a maioria dos caranguejos classificados como moribundos apresentavam uma profuso de hifas e conidisporos de fungos (Ascomiceto do Subfilo Pezizomicotina) em vrios rgos, especialmente o corao, gnglio torcico e hepatopncreas. No entanto, ainda no est comprovado se os fungos isolados por Boeger et al. so realmente os causadores da doena ou se so oportunistas que infectam caranguejos j debilitados por uma doena causada por outro agente. Segundo Boeger et al. (2006), anlises indicam que o fungo pertence ao gnero Exophiala, pertencente ao grupo das leveduras negras, que inclui espcies reconhecidamente patognicas. Ainda segundo estes autores, a

patogenicidade deste fungo foi confirmada atravs de experimentos de infeco experimental. Fungos so geralmente agentes patognicos

secundrios e infectam indivduos j debilitados por um agente patognico primrio ou por estresse. Boeger et al. (2006), no entanto, no conseguiram isolar nenhum outro agente patognico nos caranguejos, que pudesse ser o causador primrio da doena. Mesmo que, de fato, o fungo Exophiala seja o agente patognico responsvel pelas mortandades do caranguejo-u, ainda resta descobrir qual desequilbrio ambiental seria responsvel pela sua proliferao anormal e infeco exclusiva da espcie U. cordatus e, acima de tudo, descobrir se aes antrpicas esto por trs destes desequilbrios. Outros casos de mortalidade em massa de U. cordatus, distintos dos observados atualmente, foram registrados por Oliveira & Krau (1953) apud. Alcntara-Filho (1978) que relataram mortandades devido a um derramamento de petrleo na Baa de Guanabara em 1952, e por Branco (1993), que relatou, em Santa Catarina, caranguejos mortos e em estado de letargia nos invernos de 1987/88, quando a temperatura da gua atingiu 10oC.

23

24 Alm da problemtica da mortalidade em massa, o caranguejo-u tambm vem sofrendo com a degradao do seu habitat, j que manguezais vm sendo afetados pelo despejo de esgotos, aterros, depsito de lixo, aterros, desmatamento e atividades impactantes como a carcinicultura.

2000 Nascimento (2002) 1998 Alves & Nishida (2002) 1997 CEPENE/IBAMA (2004) 2000 Dra. Maria Elizabeth de Arajo - PET-PESCA 1 / 2001 Nascimento (2002)

12 / 2001 Municpio de Una 12 / 2001 Norte do Municpio de Canavieiras 01 / 2003Sul do Municpio de Canavieiras 01 / 2003 Municpio de Belmonte 07 / 2003 Municpio de Cabrlia 01 / 2005 Municpio de Caravelas Presente Schmidt et al. (2005)

1.7-

Parmetros trabalho populacionais

05 / 2005 Municpios de Nova Viosa e Mucur Vieira(2005) 09 / 2005 Municpio de So Mateus Projeto Caranguejo (2005)

Figura 16- Expanso da mortalidade em massa de caranguejo-u (Ucides cordatus cordatus) na costa brasileira de 1997 a 2005.

24

25 2- A REGIO ESTUARINA DE CANAVIEIRAS

O Municpio de Canavieiras situa-se no Sul do Estado da Bahia, na Regio Nordeste do Brasil, apresenta uma rea de 1390 km2 e 37.000 habitantes. Segundo Santos et al. (2002), Canavieiras localiza-se a 15 41` latitude sul e 38 57` longitude oeste e seu sistema estuarino apresenta 7.404ha de manguezais (Fig. 17). Na regio, o caranguejo-u faz parte da cultura local e muitas comunidades dependem deste recurso pesqueiro para seu sustento. O

Municpio de Canavieiras vivencia um aumento vertiginoso da carcinicultura, atividade altamente impactante de manguezais quando no implementada de maneira racional. Neste local, esto sendo tomadas as primeiras iniciativas para criao do Conselho Deliberativo da Reserva Extrativista decretada no dia 5 de junho de 2006 (Fig. 18). A Reserva Extrativista de Canavieiras engloba a maior parte da regio estuarina deste Municpio e apresenta 101.000ha (Fig. 19).

Figura 17 - Detalhe da cobertura vegetal litornea de Canavieiras. Extrado de Santos et al. (2002), baseado em imagens TM-Landsat de 1996.

25

26

Figura 18 Poligonal da Reserva Extrativista de Canavieiras (IESB, 2006).

26

27

Figura 19 Consulta Pblica para a Criao da Reserva Extrativista de Canavieiras, realizada em dezembro de 2005, na Ilha da Barra Velha, Canavieiras.

27

28 3- PARMETROS POPULACIONAIS E ESTOQUE DO CARANGUEJO-U EM CANAVIEIRAS

3.1-

Mtodos

Foram

realizadas

ao

longo

da

regio

estuarina

de

Canavieiras,

amostragens aleatrias estratificadas em 13 reas de manguezal com cerca de 1000m de extenso em frente ao respectivo canal. Dentro de cada rea, foram sorteados, com o auxlio de um GPS e uma tabela de nmeros aleatrios, 5 locais onde foram demarcados quadrados de 25m2 (quadrado padro sugerido pelo CEPENE/IBAMA) (Fig. 20). As 13 reas foram amostradas no vero (janeiro a fevereiro) e no inverno (julho a agosto), sendo que, cada campanha, envolveu 65 quadrados amostrados. Dentro de cada quadrado, foi contado o nmero de aberturas de galerias habitadas (Fig. 20) e o dimetro das mesmas foi medido com um paqumetro de ao com extenses de 10cm em forma de esptula (Fig. 22). Este mtodo permitiu uma estimativa fidedigna da distribuio de freqncias de classes de tamanho devido correlao positiva entre o comprimento do cefalotrax do caranguejo e o dimetro de sua galeria (Geraldes e Calventi, 1983; Silva, 1998; Schmidt et al., 2004 e 2005; Alves et al., 2005 e Schmidt, 2006). Os dados de dimetro de galeria foram transformados em comprimento de caranguejo com base no modelo linear determinado por Schmidt (2006), com a seguinte equao de reta: Abertura de Galeria = 0,36 + 1,04 * Comprimento do Caranguejo. Considerando o menor dimetro da abertura da galeria, que equivale ao comprimento do respectivo caranguejo. Tambm foi realizada, dentro de cada quadrado amostrado, uma estimativa da inundao local durante a preamar com base na altura de algas incrustadas nos mangues (Blankensteyn et al, 1979 e Schmidt, 2006) e uma breve descrio da vegetao presente (Fig. 23). Para as anlises estatsticas dos dados foram utilizados os programas de computador STATGRAPHICS PLUS para Windows Verso 3.1 (1994-1997) (Statistical Graphics Corp.) e Graph-Pad InStat verso 3.0 para Windows 95 (GraphPad Software, San Diego, California, USA). As mdias de comprimento, densidade e densidade comercial foram comparadas atravs de Anlises de 28

29 Varincia seguidas de Testes de Tukey (HSD) e de Testes t de Student. As distribuies das amostras foram comparadas e testadas quanto sua normalidade atravs do Teste de Kolmogorov & Smirnov e a homogeneidade das varincias testada atravs do Teste de Cochran. Mesmo quando as amostras no apresentaram distribuio normal e(ou) no apresentaram varincias homogneas, optou-se por efetuar testes paramtricos. Segundo vrios autores, a anlise de varincia robusta o suficiente para ser implementada mesmo quando no so cumpridos os pr-requisitos da normalidade (Zar, 1996; Underwood, 1997; e Callegari-Jacques, 2003) e da heterocedasticidade, especialmente se as amostras forem grandes e balanceadas (Zar, 1996 & Callegari-Jacques, 2003). As amostras de medidas de comprimento foram balanceadas em um nmero amostral igual.

Figura 20 Quadrado de 5x5m delimitado em zona de R. mangle.

Figura 21 Tpica abertura de galeria de caranguejo-u marcada.

Figura 22 Medio de abertura de galeria com paqumetro com esptulas adaptadas.

Figura 23 Medio de faixa de algas em rizforo, indicadora de inundao.

29

30 3.2Resultados e Discusso

a) Comprimento mdio

Foram observadas poucas diferenas significativas estatisticamente entre o comprimento mdio das 13 reas. Destacam-se apenas as reas 4 (Berindiba) e 6 (Hotel Catarina) que tenderam a apresentar comprimentos mdios significativamente menores, tanto no vero como no inverno (P<0,05) (Fig. 25). Analisando-se todas as reas juntas, o comprimento mdio de caranguejou em Canavieiras no vero (3,7cm) foi significativamente maior do que no inverno (3,3cm) (P<0,05) (Fig. 24). Excetuando as reas 4 (Berindiba), 7

(Maricanes) e 11 (Agrimarine), todas as reas apresentaram uma diminuio significativa (P<0,05) do comprimento mdio no inverno (Fig. 25). Esta tendncia tambm pode ser observada nos histogramas de freqncia de classes de comprimento (Figs. 26 e 27), nos quais, exceto nas reas 7, 11 e 12, houve diferenas significativas (P<0,05) entre as distribuies no vero e no inverno, havendo um deslocamento da moda para classes menores nesta ltima estao. Os histogramas elaborados com os dados de todas as reas em conjunto (Figs. 28 e 29) tambm apresentaram distribuies

significativamente diferentes (P<0,05): no vero, a moda situou-se na classe de 3,5-4,0cm e, no inverno, a mesma deslocou-se para a classe de 2,5-3,0cm. A diminuio do comprimento mdio e o deslocamento da moda para classes de tamanho menores no inverno pode ser explicada pela maior presso de coleta de caranguejos maiores no vero. Porm, no se pode descartar a hiptese de erro de amostragem. No vero, os caranguejos podem deixar suas tocas para reproduo (andada) e posteriormente cavar novas tocas, de modo que, galerias recm abandonadas, vazias, porm ainda com rastros, podem ter sido registradas como habitadas gerando uma

superestimativa. Contrariamente, no inverno, apesar de galerias tapadas de caranguejos grandes, serem facilmente detectadas na lama do manguezal, possvel que alguns indivduos permaneam com tocas tapadas por tempo suficiente para permitir que o fluxo das mars apague vestgios de sua presena, a ponto dos mesmos no serem contados nas amostragens, gerando uma subestimativa. 30

31
5 4,5 4 3,5 3 2,5 2 1,5 1 0,5 0

Comprimento (cm)

3,7 3,3

Vero

Inverno

______________________________________________________________________
Figura 24 - Mdia e erro padro de comprimento de caranguejo-u (Ucides cordatus) em Canavieiras/BA, no vero (N=2081) e inverno (N=1420) OBS. H diferena estatstica no teste "t" (t=10,55 ; P<0,05)

4,4 4,2 4 3,8 3,6 3,4 3,2 3 2,8 2,6 2,4 2,2 2 1,8 1,6 1,4 1,2 1 0,8 0,6 0,4 0,2 0

Comprimento (cm)

Vero Inverno

10

11

12

13

reas de am ostragem

Figura 25 - Mdia e erro padro de comprimento de caranguejo-u (Ucides cordatus), no vero e inverno, em reas de manguezal de Canavieiras/BA. OBS. Todas as reas, exceto a 7 e a 11, apresentaram o comprimento mdio no vero significativamente diferentes do inverno nos testes "t" (P<0,05).

reas de Amostragem: rea 1 Raposa rea 2 Laranjeiras rea 3 Peixe-boi rea 4 Berindiba rea 5 Burundanga rea 6 Hotel Catarina rea 7 Riacho da Vala (carcinicultura) rea 8 Balsa do Cotovelo rea 9 Lontras/Cedreiro (carcinicultura) rea 10 Barra Velha/Agrimarine montante rea 11 Agrimarine jusante (carcinicultura)

31

32
35 30 25 20 1 5 1 0 5 0 0,5
35 30 25 20 1 5 1 0 5 0 0,5 1 1 ,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 5,5 6 6,5 7 7,5 8 35

rea 12 Gringos rea 13 D. Vida (carcinicultura)

Raposa N = 272

30 25 20 1 5 1 0 5 0

Laranjeiras N = 130

1 ,5

2,5

3,5

4,5

5,5

6,5

7,5

8
35 30 25 20 1 5 1 0 5 0

0,5

1 ,5

2,5

3,5

4,5

5,5

6,5

7,5

Peixe-boi N = 210

Berindiba N = 276

0,5

1 ,5

2,5

3,5

4,5

5,5

6,5

7,5

35 30 25 20 1 5 1 0 5 0
35 30 25 20 1 5 1 0 5 0

35

Burundanga N = 105

30 25 20 1 5 1 0 5 0

Catarina N = 130

0,5

1 1 ,5

2,5

3 3,5

4,5

5 5,5

6,5

7 7,5

0,5

1 ,5

2,5

3,5

4,5

5,5

6,5

7,5

35 30 25 20 1 5 1 0 5 0

Riacho da Vala N = 255

Balsa N = 216

0,5
35 30 25 20 1 5 1 0 5 0

1 ,5

2,5

3,5

4,5

5,5

6,5

7,5

8 35 30 25 20 1 5 1 0 5 0

0,5

1,5

2,5

3,5

4,5

5,5

6,5

7,5

Lontras N = 103

Barra Velha N = 79

0,5
35 30 25 20 1 5 1 0 5 0

1 ,5

2,5

3,5

4,5

5,5

6,5

7,5

8 35 30 25 20 1 5 1 0 5 0

0,5

1 ,5

2,5

3,5

4,5

5,5

6,5

7,5

Agrimarine N = 129

Gringos N = 65

0,5 35 30 25 20 1 5 1 0 5 0 0,5

1 ,5

2,5

3,5

4,5

5,5

6,5

7,5

0,5

1 ,5

2,5

3,5

4,5

5,5

6,5

7,5

D. Vida N = 111

Figura 26 - Histogramas de distribuio de freqncia relativa de comprimento de cefalotrax de caranguejo-u em reas de manguezal de Canavieiras no VERO de 2006. Eixo x com limites superiores das classes, em centmetros.

1 ,5

2,5

3,5

4,5

5,5

6,5

7,5

32

35 30 25 20 1 5 1 0 5 0 0,5
35 30 25 20 1 5 1 0 5 0 0,5 35 30 25 20 1 5 1 0 5 0 0,5 35 30 25 20 1 5 1 0 5 0 0,5 35 30 25 20 1 5 1 0 5 0 0,5 35 30 25 20 1 5 1 0 5 0 0,5 35 30 25 20 1 5 1 0 5 0 0,5 1 1 ,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 5,5 6 6,5 7 7,5 8 1 ,0 1 ,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0 7,5 8,0 1 ,0 1 ,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0 7,5 8,0 1 1 ,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 5,5 6 6,5 7 7,5 8 1 1 ,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 5,5 6 6,5 7 7,5 8 1 1 ,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 5,5 6 6,5 7 7,5 8

35

33
Laranjeiras N = 66

Raposa N = 107

30 25 20 1 5 1 0 5 0

1 ,5

2,5

3,5

4,5

5,5

6,5

7,5

8,5

0,5

1 ,5

2,5

3,5

4,5

5,5

6,5

7,5

35

Peixe-boi N = 130

30 25 20 1 5 1 0 5 0 0,5 35 1 1 ,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 5,5 6

Birindiba N = 190

6,5

7,5

Burundanga N = 43

30 25 20 1 5 1 0 5 0 0,5
35

Catarina N = 93

1 ,5

2,5

3,5

4,5

5,5

6,5

7,5

Riacho da Vala N = 218

30 25 20 1 5 1 0 5 0 0,5 1 ,0 1 ,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0 6,5

Balsa N=106

7,0 7,5 8,0

35

Lontra N = 127

30 25 20 1 5 1 0 5 0 0,5 35 1 ,0 1 ,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0

Agri. Montante N = 26

4,5 5,0 5,5 6,0 6,5

7,0 7,5 8,0

Agri. Jusante N = 55

30 25 20 1 5 1 0 5 0 0,5 1 ,0 1 ,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0 6,5

Gringos N = 120

7,0 7,5 8,0

D. Vida n = 139

Figura 27 - Histogramas de distribuio de freqncia relativa de comprimento de cefalotrax de caranguejo-u em reas de manguezal de Canavieiras no INVERNO de 2006. Eixo x com limites superiores das classes, em centmetros.

33

34

35 30 25 20 1 5 1 0 5 0 0,5 1 1 ,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 5,5 6 6,5 7 7,5 8

Geral Vero N = 2081

Figura 28 - Histogramas de distribuio de freqncia relativa de comprimento de cefalotrax de caranguejo-u em Canavieiras no VERO de 2006. Eixo x com limites superiores das classes, em centmetros.

35 30 25 20 1 5 1 0 5 0 0,5 1 1 ,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 5,5 6 6,5 7 7,5 8

Geral Inverno N = 1420

Figura 29 - Histogramas de distribuio de freqncia relativa de comprimento de cefalotrax de caranguejo-u em Canavieiras no INVERNO de 2006. Eixo x com limites superiores das classes, em centmetros.

34

35 b) Densidade populacional

As anlises de varincia realizadas com as amostras do vero e do inverno no detectaram diferenas significativas entre a densidade comercial mdia de caranguejo-u das 13 reas estudadas (P>0,05) (Fig. 31). Em relao a flutuaes sazonais, apenas nas reas 8 (Balsa do Cotovelo) e 10 (Barra Velha) houve diferenas significativas (P<0,05) do vero para o inverno, na primeira ocorrendo uma reduo e na segunda ocorrendo um aumento da densidade populacional mdia (Fig. 31). Analisando-se todas as reas juntas (Fig. 30), houve uma pequena reduo da densidade populacional do vero (1,28 ind./m2) para o inverno (1,02 ind./m2), porm sem diferenas significativas no teste t aplicado (P>0,05). A mdia geral, do vero e inverno em conjunto foi de 1,15 ind./m2. As densidades populacionais de U. cordatus encontradas em Canavieiras neste trabalho foram relativamente baixas, quando comparadas com as densidades obtidas em trabalhos de outros autores, em outros locais (Tab. I). Este fato um indcio de que as subpopulaes de caranguejo-u de Canavieiras ainda no se recuperaram plenamente da mortalidade em massa. No se pode negligenciar tambm a sobre-pesca que h anos vem minando as populaes de caranguejo-u na costa brasileira, independentemente da mortalidade em massa. Como pode ser observado na Tabela I, esta reduo na densidade ntida no Nordeste, onde os trabalhos pioneiros realizados na dcada de 70 e 80 registraram valores de densidade no mais observados em pesquisas recentes. Na regio Sudeste, ainda encontram-se densidades maiores, porm no existem pesquisas mais antigas que possam servir de comparao. Como pode ser observado no final da Tabela I, a densidade populacional de caranguejo-u de Canavieiras estimada no presente trabalho, em 2006, foi menor do que a estimada em 2004. Esta comparao, no entanto, no representativa pois, em 2004, as amostragens foram realizadas apenas no manguezal do Peixe Boi e tiveram 1/3 de seus quadrados estratificados na zona de apicum que, por ter uma maior densidade de indivduos jovens, deve ter aumentado a densidade mdia geral.

35

36
Tabela I Comparao da densidade populacional mdia de caranguejo-u (U. cordatus) estimada por diversos pesquisadores ao longo dos anos.

Pesquisadores Costa (1972) Barros et al. (1976) apud. Ivo & Gesteira(1999) Alcntara-Filho (1978) Alcntara-Filho (1982) Nascimento et al. (1984) Castro (1986) Branco (1993) Vergara Filho (1994) Blankensteyn et al. (1997)

Estado Cear Maranho

rea Rio Cear Reentrncias maranhenses

Densidade 4,00 ind./m2 3,00 ind./m2 4,75 ind./m2 2,68 ind./m2 4,82 ind./m2 2,90 ind./m2 1,11 ind./m2 2,40 ind./m2 0,60 a 2,45 ind./m2

Cear Cear Sergipe Maranho Sta. Catarina R. de Janeiro Paran

Rio Cear Rio Cear Ilha do Paiva Rio dos cachorros Rio Itacorubi Baa de Guanabara Vrios locais

Souza (1999) Ivo et al. (2000) Ivo et al. (2000) Ivo et al. (2000) Diele (2000) Paiva-Sobrinho & Alves(2000)

R. de Janeiro Piau RN Pernambuco Par So Paulo

Baa de Sepetiba Rio Parnaba Rio Curimatu Formoso e Ilhetas Furo Grande Canania

2,60 ind./m2 0,63 ind./m2 1,26 ind./m2 0,73 ind./m2 1,65 ind./m2 0,58 a 4,50 ind./m2

Coelho-Jr et al. (2000)

Esprito Santo Vrios locais

1,08 a 2,85 ind./m2 1,70 ind./m2 0,31 ind./m2 0,12 ind./m2 0,08 ind./m2 1,78 ind./m2 2,92 a 3,42 ind./m2 1,28 ind./m2 1,31 ind./m2 1,15 ind./m2

Alves & Nishida (2004)

Paraba

Rio Mamanguape Canavieiras

Schmidt et al. (2004)

Bahia

Belmonte Cabrlia Caravelas

Almeida (2005)

So Paulo

Ilha do Cardoso

Schmidt (2006)

Bahia

Canavieiras Caravelas

Presente trabalho

Bahia

Canavieiras

36

37
Densidade populacional (ind./m 2) 1,6 1,5 1,4 1,3 1,2 1,1 1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0

1,28 1,02

Vero

Inverno

______________________________________________________________________
Figura 30 - Mdia e erro padro de densidade populacional de caranguejo-u (Ucides cordatus) em Canavieiras/BA, no vero e inverno (N=65). OBS. No h diferena estatstica no teste "t" (P>0,05 ; t=5,239 ; 102 GL - Correo de Welch aplicada).

3,2 3 2,8 2,6 2,4 2,2 2 1,8 1,6 1,4 1,2 1 0,8 0,6 0,4 0,2 0

Densidade populacional (ind./m )

Vero Inverno

10

11

12

13

___________________________________________________________________
Figura 31 - Mdia e erro padro da densidade populacional de caranguejo-u (Ucides cordatus), no vero e inverno, em reas de manguezal de Canavieiras/BA. OBS. Apenas as reas 8 e 10 apresentaram a densidade mdia no vero significativamente diferente do inverno no teste "t" (P<0,05).

reas de amostragem

reas de Amostragem: rea 1 Raposa rea 2 Laranjeiras rea 3 Peixe-boi rea 4 Berindiba rea 5 Burundanga rea 6 Hotel Catarina rea 7 Riacho da Vala (carcinicultura) rea 8 Balsa do Cotovelo rea 9 Lontras/Cedreiro (carcinicultura) rea 10 Barra Velha/Agrimarine montante rea 11 Agrimarine jusante (carcinicultura) rea 12 Gringos rea 13 D. Vida (carcinicultura)

37

38 c) Densidade comercial

Com base no trabalho de Schmidt et al. (2004), os dados de densidade comercial aqui apresentados correspondem ao nmero de caranguejos com comprimento maior ou igual a 4,6cm (equivalente a 6cm de largura = tamanho comercial) por metro quadrado. As anlises de varincia realizadas no detectaram diferenas significativas entre a densidade comercial mdia de caranguejo-u das 13 reas estudadas (P>0,05), tanto no vero, como no inverno (Fig. 33). Isso indica que a mdia da densidade comercial de todas as zonas juntas, pode ser extrapolada com segurana para toda a rea de manguezal da regio estuarina de Canavieiras, gerando uma estimativa fidedigna do estoque pesqueiro desta espcie. Em relao a flutuaes sazonais, as reas 2 (Laranjeiras), 3 (Peixe Boi), 8 (Balsa do Cotovelo) e 11 (Agrimarine Jusante) apresentaram redues significativas (P<0,05) da densidade comercial do vero para o inverno (Fig. 33). Analisando-se todas as reas juntas (Fig. 32), houve uma reduo significativa (P<0,05) da densidade comercial do vero (0,33 ind./m2) para o inverno (0,11 ind./m2). A mdia geral, do vero e inverno em conjunto foi de 0,22 ind./m2. Assim como a reduo do comprimento mdio, a reduo da densidade comercial do vero para o inverno pode estar relacionada maior presso de coleta de caranguejos maiores durante o vero, a erros de amostragem ou combinao destes fatores. Como no vero parece ocorrer uma

superestimativa devido contagem de galerias vazias recm abandonadas para reproduo (andada) e, no inverno, parece ocorrer uma subestimativa devido ao no registro de galerias tapadas por muito tempo, parece razovel aceitar que uma estimativa realista da densidade comercial mdia de caranguejo-u deva envolver, no mnimo, uma campanha de amostragem no vero e uma no inverno.

38

0,5 0,45 0,4 0,35 0,3 0,25 0,2 0,15 0,1 0,05 0

Densidade comercial (ind./m

39
0,33

0,11

____________________________________________________________________
Figura 32 - Mdia e erro padro da densidade comercial de caranguejo-u (Ucides cordatus) em Canavieiras/BA, no vero e inverno (N=65) OBS. H diferena estatstica no teste "t" (P<0,05 ; t=5,239 ; 102GL - Correo de Welch aplicada).

Vero

Inverno

0,9 0,85 0,8 0,75 0,7 0,65 0,6 0,55 0,5 0,45 0,4 0,35 0,3 0,25 0,2 0,15 0,1 0,05 0

Densidade comercial (ind./m )

Vero Inverno

10

11

12

13

______________________________________________________________________
Figura 33 - Mdia e erro padro da densidade comercial de caranguejo-u (Ucides cordatus), no vero e inverno, em reas de manguezal de Canavieiras/BA. OBS. As reas 2, 3, 8 e 11 apresentaram densidades comerciais mdias no vero significativamente diferentes do inverno no teste "t" (P<0,05).

reas de amostragem

reas de Amostragem: rea 1 Raposa rea 2 Laranjeiras rea 3 Peixe-boi rea 4 Berindiba rea 5 Burundanga rea 6 Hotel Catarina rea 7 Riacho da Vala (carcinicultura) rea 8 Balsa do Cotovelo rea 9 Lontras/Cedreiro (carcinicultura) rea 10 Barra Velha/Agrimarine montante rea 11 Agrimarine jusante (carcinicultura) rea 12 Gringos rea 13 D. Vida (carcinicultura)

39

40 d) Estoque pesqueiro de caranguejo-u

No presente trabalho, assim como no trabalho de Schmidt (2006), o estoque pesqueiro de caranguejo-u de Canavieiras foi estimado atravs da projeo da densidade comercial mdia (caranguejos em tamanho comercial / m2) nos 7.404ha de manguezais desta regio estuarina. Schmidt (2006) estimou valores de densidade comercial em Canavieiras atravs de amostragens realizadas de out/03 a out/04 (cerca de 1 ano aps a chegada da mortandade na regio), apenas no manguezal do Canal do Peixe Boi. No mesmo perodo, este autor realizou amostragens em um manguezal de Caravelas, local que, na poca, ainda no havia sido atingido pela mortalidade em massa. Apesar das amostragens de Schmidt (2006) terem sido concentradas apenas em uma rea, este autor realizou um simples exerccio para se ter uma idia da magnitude dos efeitos da mortalidade em massa de caranguejo-u. Partindo do pressuposto que a densidade comercial desta espcie em Canavieiras, antes da mortandade, era pelo menos igual de Caravelas, Schmidt (2006) projetou o valor de densidade comercial obtido em Caravelas nos 7.404ha de manguezais de Canavieiras, obtendo um estoque aproximado de 31.000.000 de caranguejos antes do fenmeno (Tab. II e Fig. 34). Com base na densidade comercial mdia registrada em Canavieiras, cerca de 1 ano aps a mortandade, Schmidt (2006) estimou um estoque de aproximadamente 6.000.000 de caranguejos em Canavieiras (Tab. II e Fig. 34). No presente trabalho, projetando-se a densidade comercial mdia das 13 reas estudadas, no vero e inverno, em conjunto (0,22ind./m2), nos 7.404ha de manguezais de Canavieiras, possvel propor com relativa segurana que o estoque desta regio estuarina no ano de 2006 de cerca de 16.000.000 (Tab. II e Fig. 34). Embora a estimativa de estoque realizada por Schmidt (2006), que envolveu apenas uma rea de amostragem, no seja to acurada quanto realizada no presente trabalho, que envolveu 13 reas, uma comparao dos resultados (Tab. II e Fig. 34) demonstra que, embora tenha havido uma considervel recuperao, o estoque atual ainda est aqum do que seria antes da mortalidade em massa. De 2004 para 2006, houve um aumento do estoque de cerca de 166%, porm o estoque atual ainda consiste em cerca de 52% do

40

41 estoque original, antes da mortalidade em massa que ocorreu no local em 2003 (Tab. II e Fig. 34). A anlise da flutuao sazonal do estoque de caranguejo-u em Canavieiras em 2006 (Tab. III e Fig. 35), demonstra uma drstica reduo do vero (24.000.000) para o inverno (8.000.000), reflexo da reduo da densidade comercial discutida anteriormente. Esta reduo de estoque de 16.000.000 de caranguejos no pode ser explicada somente pela presso de captura, visto que, a produo anual estimada em 2006 foi de cerca de 430.000 caranguejos. Mesmo que tenha havido uma subestimativa da produo devido ocorrncia de sadas clandestinas de caranguejos do Municpio, a discrepncia dos valores ainda grande demais para ser explicada somente pela presso de captura. Parece claro, portanto, que existe de fato uma superestimativa de estoque no vero devido contagem de galerias vazias recm abandonadas para reproduo (andada) e uma subestimativa de estoque no inverno, devido ao no registro de galerias tapadas por muito tempo. Como j foi dito anteriormente, estes resultados sugerem que uma estimativa realista do estoque de caranguejo-u deve envolver, no mnimo, uma campanha de amostragem no vero e uma no inverno, para se obter um valor mdio das duas estaes. Esta constatao refora a necessidade da implementao de projetos de longa durao, que permitam o monitoramento do estoque de caranguejo-u ao longo dos anos. Como no foram detectadas diferenas significativas (p>0,05) na Anlise de Varincia da densidade comercial das 13 reas estudadas, o valor mdio obtido 0,22 ind./m2 pode ser utilizado com relativa segurana para estimativa de estoque, permitindo afirmar que, em 2006, o estoque pesqueiro de caranguejo-u nos 7.404ha de manguezais da regio estuarina de Canavieiras de cerca de 16.000.000 de caranguejos.

41

42
Tabela II Estimativa do estoque de caranguejo-u dos 7.404ha de manguezal de Canavieiras (Santos et al., 2002) antes da mortandade (clculo baseado na densidade comercial mdia do manguezal do Cupido, Caravelas, de out/3 a out/4, segundo Schmidt, 2006); 1 ano aps a mortandade (clculo baseado na densidade comercial mdia do manguezal do Peixe-boi, Canavieiras, de out/3 a out/4, segundo Schmidt, 2006); 3 anos aps a mortandade (clculo baseado na densidade comercial mdia de 13 reas de Canavieiras, em jan-fev/6 e jul/ago/6).
Densidade Comercial 2002 Antes da mortandade 0,42 ind. /m2 (clculo com a densidade comercial mdia de Caravelas) 2004 1 ano aps a mortandade 0,08 ind. /m2 (clculo com densidade comercial mdia da rea do Peixe Boi, em Canavieiras) 2006 3 anos aps a mortandade 0,22 ind. /m2 (clculo com densidade comercial mdia de 13 reas de Canavieiras) Caranguejos/hectare Estoque pesqueiro de Em Canavierias Canavieiras (7.404 ha)

4200

31.000.000

800

6.000.000

2200

16.000.000

Tabela III Estimativa do estoque de caranguejo-u dos 7.404ha de manguezal de Canavieiras (Santos et al., 2002) no vero e no inverno de 2006.

Densidade Comercial 2006 (Vero) 3 anos aps a mortandade (clculo com densidade comercial mdia de 13 reas de Canavieiras) 2006 (Inverno) 3 anos aps a mortandade (clculo com densidade comercial mdia de 13 reas de Canavieiras)

Caranguejos/hectare Estoque pesqueiro de Em Canavierias Canavieiras (7.404 ha)

0,33 ind. /m2

3300

24.000.000

0,11 ind. /m2

1100

8.000.000

42

43

Estoque (milhes de caranguejos)

35 30 25 20 15 10 5 0

31

16

06

2002

2004

2006

Figura 34 - Estimativa do estoque de caranguejo-u dos 7.404ha de manguezal de Canavieiras (Santos et al., 2002) antes da mortandade (clculo baseado na densidade comercial mdia do manguezal do Cupido, Caravelas, de out/3 a out/4, segundo Schmidt, 2006); 1 ano aps a mortandade (clculo baseado na densidade comercial mdia do manguezal do Peixe-boi, Canavieiras, de out/3 a out/4, segundo Schmidt, 2006); 3 anos aps a mortandade (clculo baseado na densidade comercial mdia das 13 reas de Canavieiras amostradas no presente trabalho no vero e inverno, em conjunto.

Estoque (milhes de caranguejos)

35 30 25 20 15

24

08
10 5 0

2006 Vero

2006 Inverno

Figura 35 - Estimativa do estoque de caranguejo-u nos 7.404ha de manguezais de Canavieiras (Santos et al., 2002) no Vero e no Inverno de 2006.

43

44 4- PRODUO PESQUEIRA DE CARANGUEJO-U EM CANAVIEIRAS

4.1-

Mtodos

Para estimativa da produo pesqueira de caranguejo-u em Canavieiras foram realizadas entrevistas estruturadas com coletores, atravessadores e proprietrios de cabanas de praia (Tab. IV). As entrevistas ocorreram no porto da cidade de Canavieiras (Fig. 36), peixarias da cidade (Figs. 37 e 38), Cabanas de Praia (Fig. 39) e no Povoado do Poxim do Sul, distante cerca de 25Km da cidade, na margem da rodovia BA- 001 e importante ponto de comercializao de caranguejos no municpio. Foram realizadas entrevistas especficas para coletores e para

atravessadores/peixarias/cabanas de praia, coletando-se informaes bsicas que podem ser observadas na Tabela IV. Nos dois casos, o entrevistador registrava a produo relatada pelo entrevistado, e a produo estimada visualmente pelo entrevistador, para observar possveis casos de informaes incorretas passadas propositalmente. Registrando-se para quem o coletor venderia a sua produo e registrando-se de quem o atravessador, peixaria ou cabana comprara seus caranguejos (Tab. IV), foi possvel evitar a duplicidade de registros de caranguejos coletados, evitando superestimativas de produo. Em 4 semanas no vero, e em 4 semanas no inverno, foram realizadas entrevistas na 4 feira, 5 feira, 6 feira e sbado. Os horrios dos plantes nos entrepostos foram estabelecidos de acordo com a tbua de mars (horrios de mar alta) e atravs de contato prvio com atravessadores, responsveis por cabanas de praia e por peixarias. No total, foram 32 dias de entrevistas, sendo 16 dias no vero e 16 dias no inverno. As datas das amostragens constam na Tabela V. A captura por unidade de esforo (CPUE) foi calculada como caranguejos / homem / hora, ou seja, nmero de caranguejos que um coletor de caranguejos consegue coletar em uma hora de trabalho, estando embutido neste valor a frao de tempo gasto para transporte at o local de coleta. Foram efetuadas Anlises de Varincia Unifatoriais para comparar as mdias de produo pesqueira e de CPUE.

44

45

Tabela IV Entrevista estruturada, realizada com coletores de caranguejo e atravessadores, para estimativa da produo pesqueira de caranguejo-u (Ucides cordatus) em Canavieiras/BA, no vero e inverno de 2006.

Nome do entrevistador: ________ Local:_________ Data:______ Horrio:____

Coletor
Nome: De onde ? Onde pegou? Quanto tempo para coletar? Em quais dias coleta? Em quais dias comercializa? Onde ir vender? Ir vender para quem?
Produo estimada
Tipo/unidade Corda Caixa Saco Catad

Atravessador
Nome: De onde ? Onde compra? Em quais dias compra? Onde ir vender? Comprou de quem?
Nome: Local: Quantidade:

Quant

Produo relatada

TOTAL

Observaes: ____________________________________________________

45

46

Figura 36 Porto de Canavieiras, s margens do Rio Pardo.

Figura 37 Peixaria no Sitio Histrico de Canavieiras

Figura 38 Canavieiras.

Tarifa

no

Centro

de

Figura 39 Cabanas de praia na Ilha de Atalaia / Canavieiras.

46

47 4.2Resultados e Discusso

Ao longo da pesquisa, foram realizadas 133 entrevistas no vero e 76 entrevistas no inverno, envolvendo um total de 72 coletores de caranguejos, todos do sexo masculino. A maior parte dos entrevistados eram residentes na comunidade do Poxim do Sul (42%), Antnio Osrio (26%) e Campinhos (13%) (Fig. 40). Os coletores de caranguejos de Canavieiras trabalham em mdia 6 dias por semana, se dedicando coleta principalmente de 2 a 6 e comercializao, principalmente de 3 sbado. Um total de 10 atravessadores foram entrevistados ao longo do trabalho, sendo 3 residentes no Bairro Berindiba, 2 no Centro de Canavieiras, 2 no Bairro Tancredo, 2 no Poxim do Sul e 1 em Ilhus. Adicionalmente, foram identificadas 4 peixarias (incluindo a Tarifa, pertencente colnia Z-20) do Centro de Canavieiras e 15 cabanas de praia que tambm comercializam caranguejos e, portanto, tiveram um de seus representantes entrevistados. Nos 16 dias de amostragem do vero, e nos 16 dias de amostragem do inverno, foram registrados, respectivamente, 40.566 e 17.930 caranguejos (Fig. 41). A produo diria de Canavieiras apresentou uma mdia de 2.457 caranguejos/dia no vero e 1.128 caranguejos/dia no inverno, tendo sido detectada diferena estatstica no Teste t realizado (p<0,005) (Fig. 42 e Tab. V). Na Anlise de Varincia realizada, no foram detectadas diferenas estatsticas entre os dias da semana amostrados (p>0,05) (Fig. 43), de modo que os valores calculados de produo diria mdia podem ser considerados bem representativos. Os valores de produo diria mdia do vero e do inverno foram utilizados para o clculo da produo mensal mdia, considerando-se 20 dias teis no ms. Assim, estimou-se uma produo mdia de 49.139 caranguejos/ms, em um ms tpico do vero, e 22.550 caranguejos/ms, em um ms tpico de inverno (Tab. V e Fig. 44). Multiplicando os valores supracitados por 6 e

somando-os, foi estimada uma produo pesqueira anual mdia de 430.134 caranguejos/ano em Canavieiras (Tab. V). importante lembrar que podem ter ocorrido desembarques de caranguejos negligenciados nas amostragens devido inviabilidade da 47

48 realizao de plantes em todos os pequenos portos presentes ao longo da rea da RESEX de Canavieiras. Assim, os valores de produo aqui apresentados devem ser encarados como valores mnimos. O Instituto Ecotuba realizou em 2002, antes da chegada da mortalidade em massa de caranguejo-u, um diagnstico scio-econmico da

comunidade de marisqueiros de Campinhos, em Canavieiras. Entrevistando coletores em suas residncias, esta pesquisa estimou uma produo mensal mdia de caranguejo-u, nesta comunidade, de cerca de 40.095

caranguejos/ms no vero e 11.438 caranguejos/ms no inverno. Aps a mortalidade em massa de caranguejo-u, ocorrida em 2003, um novo diagnstico foi realizado pelo Instituto Ecotuba em 2004. Com o mesmo mtodo utilizado em 2002, estimou-se que a produo de caranguejo-u de Campinhos cara para 1.314 caranguejos/ms, no vero, e 880

caranguejos/ms no inverno.

Embora o mtodo utilizado em 2002 e 2004

tenha sido diferente do utilizado no presente trabalho, realizado em 2006, uma simples comparao pode ser realizada para analisar os efeitos da mortalidade em massa. Partindo de uma premissa que 13% da produo mensal de caranguejo-u de Canavieiras oriunda de coletores de Campinhos (Fig. 40), podemos estimar que, em 2006, a produo desta comunidade situa-se em torno de 6.388 caranguejos/ms no vero e 2.931 caranguejos/ms no inverno. Como pode ser observado na Tabela VI, a produo pesqueira de caranguejou em Canavieiras parece ter se recuperado consideravelmente da mortalidade em massa, porm ainda est muito distante do que seria antes da chegada do fenmeno, em 2003.
1% 1% 42% 13%

Campinhos
6% 1% 10%

Berindiba Burundanga Socrates Antnio Osrio

26%

Poxim Ilha do Gado

_____________________________________________________________________
Figura 40 - Local de moradia dos coletores de caranguejos entrevistados em entrepostos no vero e inverno de 2006 (N = 72)

Tancredo

48

49
Tabela V Dias de amostragem e seus respectivos registros de produo pesqueira de caranguejo-u (nmero de caranguejos) em Canavieiras/BA, no vero e no inverno de 2006.

VERO 4 feira 11/jan 18/jan 25/jan 22/fev Mdia 2.145 2.775 4.490 3.370 3.195 12/jan 19/jan 26/jan 23/fev Mdia 5 feira 860 2.498 1.215 1.610 1.546 = = 13/jan 20/jan 27/jan 24/fev Mdia 6 feira 1.785 4.053 3.015 3.785 3.160 14/jan 21/jan 28/jan 25/fev Mdia Sbado 1.105 640 4.145 1.820 1.928

Mdia geral da produo diria

2.457 caranguejos / dia til 49.139 caranguejos / ms 294.834 caranguejos / 6 meses

Mdia de produo mensal (20 dias teis) Mdia de produo em seis meses =

INVERNO 4 feira 31/mai 07/jun 14/jun 21/jun Mdia 575 770 1.935 1.230 1.128 01/jun 08/jun 15/jun 22/jun Mdia 5 feira 1.820 70 1.315 110 829 = = 02/jun 09/jun 16/jun 23/jun Mdia 6 feira 865 1405 650 1880 1.200 03/jun 10/jun 17/jun 24/jun Mdia Sbado 2.730 1.330 985 370 1.354

Mdia geral da produo diria

1.128 caranguejos / dia til 22.550 caranguejos / ms 135.300 caranguejos / 6 meses

Mdia de produo mensal (20 dias teis) Mdia de produo em seis meses =

PRODUO TOTAL ANUAL ESTIMADA DE CARANGUEJO-U 430.134 caranguejos / ano

Tabela VI Produo de caranguejo-u estimada em Campinhos (no de caranguejos) Ano Produo no vero 2002 2004 2006 40.095 1.314 6.388 Produo no inverno 11.438 880 2.931 Entrevistas nas residncias dos coletores Entrevistas nas residncias dos coletores Entrevistas nos entrepostos Mtodo utilizado

49

50
Caranguejos registrados
45000 40000 35000 30000 25000 20000 15000 10000 5000 0

40.566

17.930

Vero

Inverno

____________________________________________________________________
Figura 41 - Total de desembarque de caranguejo-u registrado em 16 dias de amostragem no vero e 16 dias de amostragem no inverno de 2006 em Canavieiras/BA.

Caranguejos-u produzidos / dia

3000 2500 2000 1500 1000 500 0

2457

1128

Vero

Inverno

_____________________________________________________________________
Figura 42 - Mdia e erro padro da produo pesqueira diria de caranguejo-u em Canavieiras/BA, no vero e no inverno (N=16). OBS. H diferena estatstica no teste "t" com aplicao de Correo de Welch (P<0,01; t=3,68 ; 24gl ).
Caranguejos-u produzidos / dia 4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 0

4a

5a
Vero

6a

Sb
Inverno

______________________________________________________________________
Figura 43 - Mdia e erro padro da produo de caranguejo-u em Canavieiras/BA, no vero e no inverno. OBS: No h diferena estatstica entre os dias de semana na ANOVA(P>0,05).

50

51

Caranguejos-u produzidos / ms

60000

49.139
50000 40000 30000

22.550
20000 10000 0

Vero

Inverno

______________________________________________________________________
Figura 44 - Estimativa da produo mensal de caranguejo-u de Canavieiras/BA, no vero e inverno de 2006.

A captura por unidade de esforo (CPUE) mdia dos 72 coletores de caranguejo-u entrevistados de Canavieiras, no ano de 2006, foi de 12 caranguejos/homem/hora, no vero, e de 8 caranguejos/homem/hora, no inverno, tendo sido identificadas diferenas significativas no teste t implementado (P<0,0001) (Fig. 45). Esta reduo da captura de caranguejou no inverno est ligada principalmente ao comportamento dos indivduos desta espcie que, em perodos mais frios, localizam-se em partes mais profundas das galerias, dificultando o trabalho do coletor. Para a captura no inverno, o coletor precisa previamente obstruir a parte superior da galeria para que os caranguejos subam para reconstruir o trecho danificado e sair para se alimentar. Tal procedimento demanda muito tempo, pois, aps o tapamento, o coletor precisa esperar cerca de 30 minutos para que os caranguejos subam e possam ser capturados por braceamento. Soma-se a este fator, as condies meteorolgicas ruins do inverno, quando chuva e frio diminuem o desempenho do coletor em sua atividade de coleta. A dificuldade de coleta no inverno tambm se reflete no esforo de pesca que, em 2006, foi de 5,5 horas de trabalho dirio no vero e 6,2 horas de trabalho dirio no inverno, havendo diferena significativa no teste t realizado (P<0,05) (Fig. 46). Ou seja: no inverno, a dificuldade de coleta faz com que o coletor de caranguejos precise permanecer mais tempo no manguezal para tentar aumentar a produo.

51

52
CPUE (caranguejos/homem/hora) 15 14 13 12 11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0

12 08

Vero

Inverno

______________________________________________________________________
Figura 45 - Mdia e erro padro de Captura por Unidade de Esforo (CPUE) de caranguejo-u em Canavieiras/BA, no vero (N=76) e no inverno (N=133). OBS. H diferena estatstica no teste "t" com aplicao de Correo de Welch (P<0,0001; t=5,12 ; 119gl ).

8 Esforo de pesca (horas) 7 6 5 4 3 2 1 0

6,2 5,5

Vero

Inverno

______________________________________________________________________
Figura 46 - Mdia e erro padro de esforo de pesca de caranguejo-u em Canavieiras/BA, no vero (N=133) e no inverno (N=76). OBS. H diferena estatstica no teste "t" (P<0,05; t=2,20 ; 150gl )

Em Canavieiras, o caranguejo-u comercializado em cordas, que consistem em 5 caranguejos amarrados, normalmente com fibras de guaxuma (Hibiscus pernambucensis). No ano de 2006, o preo da corda de caranguejo vendida pelos coletores situou-se entre R$ 2,50 e R$ 3,50. Considerando a produo mensal estimada no presente trabalho, podese afirmar que a movimentao financeira gerada pela venda direta de caranguejos em Canavieiras situa-se entre R$15.785,00 e R$34.397,00, no vero; e entre R$11.275,00 e R$24.569,00, no inverno (Fig. 47). Estas cifras ainda aumentam bastante considerando os valores agregados e toda a cadeia produtiva deste recurso pesqueiro at chegar ao consumidor final.

52

53 Com base na captura por unidade de esforo (CPUE) mdia (Fig. 45) e no esforo de pesca dirio mdio (Fig. 46), no vero e no inverno, foi possvel estimar a renda mdia de um coletor de caranguejos, considerando 20 dias por ms dedicados atividade de coleta. No vero, a renda mensal mdia de um coletor de caranguejos situa-se entre R$650,00 (considerando a corda a R$2,50) e R$910,00 (corda a R$3,50) (Fig. 48). No inverno, a renda mensal mdia de um coletor de caranguejos reduzida e passa a se situar entre R$500,00 (considerando a corda a R$2,50) e R$700,00 (corda a R$3,50) (Fig. 48). A renda mdia dos coletores de caranguejos relativamente baixa, considerando que suas famlias apresentam uma mdia de 5 membros, o que, aliado ao descaso do poder pblico em relao s comunidades onde os mesmos esto inseridos, reverbera-se em srios desafios scio-econmicos.
Movimentao financeira (R$) 40000 35000 30000 25000 20000 15000 10000 5000 0 R$24.569 R$11.275 R$15.785 R$34.397

Corda a R$3,50 Corda a R$2,50

Vero

Inverno

______________________________________________________________________
Figura 47 - Estimativa da movimentao financeira mensal com venda de caranguejou pelos coletores de Canavieiras/BA, no vero e inverno de 2006, considerando a corda(5 caranguejos) a R$3,50 e R$2,50
1000 900 800 700 600 500 400 300 200 100 0 Renda mensal estimada (R$) R$910 R$650 R$700 R$500

Corda a R$3,50 Corda a R$2,50

Vero

Inverno

_____________________________________________________________________
Figura 48 - Renda mensal estimada de um coletor de caranguejo-u de Canavieiras, no vero e no inverno de 2006, considerando a corda (5 caranguejos) a R$3,50 e a R$2,50 (N=72).

53

54 5- LEVANTAMENTO DA REA E ESTADO DE CONSERVAO DOS APICUNS DE CANAVIEIRAS

5.1-

Mtodos

Maciel (1991) props que os limites dos apicuns podem ser estabelecidos pelo nvel mdio das preamares de sizgia (limite inferior) e o nvel das preamares de sizgia equinociais (limite superior). Este critrio, no entanto de pouca valia em termos prticos, j que nem sempre possvel estar em campo nestas condies de mar, especialmente em locais de difcil acesso como os stios amostrados no presente trabalho. Assim, neste trabalho, a definio de apicum teve que ser baseada no bom senso, considerando seu limite inferior como o limiar entre um terreno mais arenoso, firme ao caminhar, e um terreno predominantemente lamoso, quando nitidamente se comea a afundar ao caminhar. A definio do limite superior foi estimada com base nas marcas deixadas no terreno pela gua, na preamar de sizgia de equincio. Deste modo, neste estudo, consideramos apicum a zona do manguezal que inundada apenas nas mars de sizgia, que no solo apresenta sedimento arenoso ou areno-lamoso, com vegetao ausente ou constituda por espcies tpicas do manguezal e(ou) plantas herbceas halfilas da restinga. Foram gastos 19 dias de amostragem no perodo de fevereiro a agosto de 2006. Para se encontrar os pontos de amostragem foi realizado um mapeamento das possveis bordas do manguezal utilizando as imagens disponibilizadas na internet pelo Google Earth, software de uso livre que nos possibilitou estimar cerca 137 Km de provveis zonas de apicum. Os apicuns identificados foram visitados em campo, sendo registradas suas coordenadas geogrficas (Fig. 52). A cada dia de amostragem percorreu-se uma mdia de 2300m de apicum, amostrando-se uma mdia de 14 transectos, o que totalizou 258 transectos ao trmino do trabalho. As amostragens foram aleatrias estratificadas, sendo que em cada rea escolhida pelo Google Earth, as posies dos transectos foram sorteadas com o auxlio do odmetro de um GPS. Os transectos apresentavam 1m de largura e foram estendidos perpendicularmente costa (Fig. 53), do limite inferior ao limite superior do apicum. Ao longo dos transectos foram registradas as ocorrncias de espcies 54

55 vegetais e de antropizaes. Adicionalmente, no incio de cada transecto, no limite superior do apicum, era realizada uma breve descrio dos elementos de paisagem presentes em terra-firme, em um raio de 100m. A rea mdia de apicum de cada manguezal amostrado foi estimada a partir da extenso da linha de interface entre manguezal e terra firme, multiplicada pela largura mdia dos apicuns. A extenso foi estimada no software Google Earth e corrigida com base nas distncias percorridas em campo que sempre foram maiores. A largura foi estimada atravs da mdia do comprimento dos transectos amostrados.

5.2-

Resultados e Discusso

Nos apicuns amostrados foram registradas as seguintes espcies: Rhizophora Acrostichum mangle, aureum, Avicennia Dalbergia schaueriana, Laguncularia racemosa, erecta,

hecastophyllum,

Conocarpus

Sporobolus virginicus, Fimbristylis glomerata, Sesuvium portulacastrum, Hibiscus pernambuscensis, Paspalum vaginatum, e Achmaea blanchetiana. Foi constatado que, 36% dos transectos amostrados na RESEX de Canavieiras apresentavam pelo menos algum tipo de antropizao (Fig. 49). A grande extenso de manguezal em Canavieiras e municpios vizinhos, com uma populao rural considervel, faz com que a agricultura seja de longe a maior causadora de impacto sobre o apicum, sendo que em 27% dos transectos amostrados ocorre alguma antropizao deste tipo, principalmente resduos de cultivo de coco (Fig. 50). A seguir temos a presena de aterro e lixo, ambos com a presena registrada em 7% dos transectos amostrados (Fig. 50). Estes aterros aparecem de diferentes formas, desde os prximos zona urbana, outros feitos para a construo de pequenos portos, alguns para passagem de estradas, trechos de diversos comprimentos para passagem de canais de Fazendas de Camaro e outras ocorrncias pontuais. O lixo registrado consistiu principalmente de plsticos que, sendo leves, so dispersados pela mar e alcanam todo o municpio. Nota-se, entretanto, que a sua presena predomina nas proximidades de desembocaduras de rios, prximo s residncias rurais e, com muita freqncia, perto da cidade de Canavieiras. 55

56 Em 6% dos transectos amostrados havia alguma forma de impacto por desmatamento de apicum (Fig. 50), principalmente perto da zona urbana, para expanso das reas de construo de baixa renda. Tambm foram registradas ocorrncias de reas desflorestadas para a implantao de projetos de carcinicultura. A ocorrncia de apicuns impactados por vias de acesso (trilhas, estradas vicinais, etc.) deu-se em 4% dos transectos amostrados, pois os caminhos so feitos em locais em que a vegetao menos densa e prximos aos portos, normalmente apicuns (Fig. 50). Encontramos ainda a presena de pastos (1%), entulho (1%), queimadas (0,4 %) e outras formas de impacto (4%), o que demonstra o desconhecimento da importncia desse ambiente que sempre o primeiro a ser atingido quando se avana sobre o manguezal (Fig. 50). Em relao paisagem terrestre no entorno dos transectos amostrados, foi observado a presena de coqueiral em 61% dos transectos, apenas um pouco menos que a vegetao nativa, a Restinga, que ocorreu em 70% dos transectos. Esta situao alarmante, visto que os apicuns so diretamente influenciados pelo ambiente terrestre e as restingas apresentam grande importncia ecolgica para vrias espcies. Outras ocorrncias como pastos e fazendas de camaro tambm foram registradas (Fig. 51). A ocorrncia relativamente baixa de antropizaes e de elementos de paisagem ligados a carcinicultura (Figs. 50 e 51) ocorreu devido a uma subestimativa decorrente da dificuldade em se amostrar os seus manguezais, j que o acesso a tais fazendas em geral limitado e, muitas vezes, envolve riscos para equipe executora das amostragens. Apesar desta limitao de amostragem, foi possvel registrar uma srie de degradaes ambientais como o desmatamento e aterros de reas de manguezal e apicum (Figs. 54 a 63). A largura mdia da zona de apicum encontrada foi de 27,4 m e a

extenso da interface manguezal-terra estimada foi de 158,6 Km. A superfcie de apicum da rea pesquisada de aproximadamente 4.344.202 m2 o que equivale a 434,4 ha.

56

57
36%
N = 258 Transectos

64%

ANTROPIZADOS NO ANTROPIZADOS

_____________________________________________________________________
Figura 49 Porcentagem de transectos com presena de antropizaes, amostrados em apicuns da RESEX de Canavieiras em 2006 (N = 258).
100%

% de transectos antropizados

90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 7 1 6 7 1 0,4 4 4 27

N = 258 transectos amostrados

Sem ocorrncia Com ocorrncia

to

En tu lh o

ue im ad a

Pa st o

Ag ri c ul tu ra

es m at am en

ac es so

At er ro

Tipos de antropizao registrados

__________________________________________________________________
Figura 50 Porcentagem de transectos que apresentaram registro de ocorrncia dos diferentes tipos de antropizao, em apicuns da RESEX de Canavieiras, em 2006 (N = 258 transectos amostrados).

100%

Vi as

de

ut ro s

Li xo

Porcentagem de transectos

90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% COQUEIRAL PASTO RESTINGA FAZENDA DE CAMARO OUTROS 17 9 2 61 70

N = 258 transectos amostrados

Sem ocorrncia Com ocorrncia

___________________________________________________________________
Figura 51 Porcentagem de transectos que apresentaram registro de ocorrncia dos diferentes elementos de paisagem, em apicuns da RESEX de Canavieiras, em 2006 (registros feitos no incio de cada transecto, em terra firme, em um raio de 100m).

Elementos de paisagem registrados

57

58

Figura 52 Leitura de coordenadas geogrficas com GPS em apicum de Canavieiras em fevereiro de 2006.

Figura 53 Amostragem de transecto em zona de apicum de Canavieiras em abril de 2006.

Figura 54 Impactos causados por captao de gua de fazenda de carcinicultura em manguezal prximo Barra Velha, Canavieiras, 2006.

58

59

Figura 55 Acmulo de areia em zona de apicum devido a escavaes em fazenda de Carcinicultura prxima a Ilha de Barra Velha, Canavieiras, em 2006.

Figura 56 Acmulo de areia em zona de apicum devido a escavaes em fazenda de Carcinicultura prxima a Ilha de Barra Velha, Canavieiras, em 2006.

Figura 57 Vala escavada prximo zona de apicum em fazenda de Carcinicultura prxima a Ilha de Barra Velha, Canavieiras, em 2006.

59

60

Figura 58 Apicum impactado por captao de gua para fazenda de carcinicultura em Canavieiras, em 2006.

Figura 59 Manguezal impactado por vala de efluentes de fazenda de carcinicultura em Canavieiras, em 2006.

Figura 60 Manguezal impactado por vala de efluentes de fazenda de carcinicultura em Canavieiras, em 2006.

60

61

Figura 61 Apicum impactado por vala de efluentes de fazenda de carcinicultura no Rio Cedreiro, em Canavieiras, 2006.

Figura 62 Apicum impactado por vala de efluentes de fazenda de carcinicultura no Rio Cedreiro, em Canavieiras, 2006.

Figura 63 Apicum impactado por captao de gua de fazenda de carcinicultura no Rio Parco, em Canavieiras, 2006.

61

62 6- ESTRATGIA DE AO PARA A EXPLOTAO SUSTENTVEL DO CARANGUEJO-U COMUNIDADES CANAVIEIRAS. E EM PELO CANAVIEIRAS RGO PROPOSTA DA PELAS DE

GESTOR

RESEX

6.1 - Mtodos Considerando que os coletores de caranguejos so os principais atores para o delineamento das estratgias para a explotao sustentvel do caranguejo-u na RESEX de Canavieiras, foram realizadas 3 oficinas, sendo uma na comunidade de Campinhos (Fig. 65), uma na comunidade do Poxim do Sul (Fig. 66) e uma na Colnia Z-20 (Fig. 64), no Centro de Canavieiras, direcionadas s comunidades da sede do Municpio (Berindiba, Burundanga, Scrates Resende, Antnio Osrio, Ilha do Gado e Tancredo Melo). Para conduzir as oficinas apenas no mbito da explotao do caranguejo-u, um cuidado especial foi tomado para convidar exclusivamente profissionais ligados coleta desta espcie. A primeira etapa da oficina consistiu em uma apresentao dos resultados dos levantamentos de estoque e produo de caranguejo-u, bem como do diagnstico da rea e estado de conservao dos apicuns da RESEX de Canavieiras. Os grficos foram apresentados de maneira simplificada, sendo colhidas opinies dos coletores de caranguejo sobre todos os resultados. Em seguida, utilizando-se um mapa da regio estuarina de Canavieiras, em escala aproximada de 1:50.000, foi realizada uma atividade ldica na qual cada participante marcava os locais utilizados para coleta de caranguejo-u. Na terceira etapa da oficina, os participantes foram divididos em grupos, nos quais levantaram as dificuladades relativas aos seguintes temas: 1Manguezal (considerando o ecossistema como um todo), 2- Caranguejo-u e 3- Infraestrutura para trabalhar (comrcio e transporte). Cada grupo contou com um relator da equipe do Ecotuba que, sem manifestar opinies que pudessem influenciar os participantes, anotou os apontamentos feitos pelos participantes em uma folha de papel pardo, posteriormente afixada em local visvel para todos. A quarta etapa da oficina envolveu todos os participantes da oficina, em conjunto, e consistiu numa anlise crtica dos apontamentos realizados pelos 62

63 grupos, sendo propostas aes para solucionar ou minimizar os problemas levantados. Ao longo da discusso, um dos membros do Ecotuba concentrouse exclusivamente no registro de manifestaes, opinies e informaes fornecidas pelos participantes. Na quinta e ltima etapa da oficina cada um dos participantes foi questionados sobre o que eles entendiam por Reserva Extrativista e qual era a opinio dos mesmos sobre esta Unidade de Conservao. Por fim, a equipe tcnica do Ecotuba, explicou de maneira clara e acessvel o conceito e o funcionamento de uma Reserva Extrativista, esclarecendo eventuais dvidas. O Plano de Ao preliminar foi apresentado em Caravelas, na Base Avanada do CEPENE/IBAMA em dezembro de 2006. Estiveram presentes o Chefe da RESEX de Canavieiras, representantes do Ncleo de Pesca do IBAMA, CEPENE/IBAMA e membros da Conservao Internacional do Brasil. Foram colhidas sugestes, todas as demandas foram analisadas pelo Chefe da RESEX de Canavieiras, Sr. Geraldo Machado, e foram traadas estratgias de como viabilizar as aes necessrias.

6.2-

Resultados e Discusso

Dentre as principais demandas levantadas pelas comunidades em relao ao tema manguezal (Tabela VII), destaca-se a necessidade de intensificao da fiscalizao do IBAMA em relao ao desmatamento de mangues e a utilizao de madeiras apreendidas; a necessidade de fiscalizao dos coletores de lambreta (moluscos) que utilizam enxadas e a fiscalizao das atividades de carcinicultura, que vm impactando os manguezais. Em relao ao tema caranguejo-u (Tabela VIII), foi levantada a necessidade de intensificao da fiscalizao do IBAMA durante o perodo de andada; a proibio da comercializao do catado (carne separada) durante o perodo da andada e a necessidade de um seguro-desemprego durante o defeso. Sobre o tema estrutura para trabalhar (Tabela IX), sugeriu-se a obteno de linhas de crdito para embarcaes de pequeno porte; elaborao de critrios para estabelecimento de preos e a obteno da permisso de transporte rodovirio de pescado para coletores cadastrados. 63

TABELA VII- Dificuldades encontradas, aes sugeridas pelos coletores de caranguejos de Canavieiras e estratgias para a viabilizao das aes propostas pelo Gestor da RESEX de Canavieiras, referentes ao tema Manguezal. TEMA: MANGUEZAL LOCAL DA OFICINA COLNIA Z-20 2. Mars que atrapalham 3. Distncia para o trabalho (cada vez maior) 4. Lambreteiros destruindo a rea. 5. Pouco caranguejo no inverno 6. Falta de fiscalizao (lambreteiros) 7. Poluio 8. Barcos de Lagosta jogam manguezal (canais) e no mar. leo no Dificuldades encontradas pelos coletores 1. Insetos Aes sugeridas pelos coletores 1. 2. 3. Diminuio da captura na andada. 4. Proibir a enxada e permitir somente o uso do faco. 5. Proibio da captura na andada. 6. Fiscalizao do Ibama com lancha. 7. Conscientizao dos moradores ribeirinhos, Fiscalizao sobre a EMBASA; Anlise da gua das fazendas de camaro;Permitir acampamentos em terra firme para evitar acampamentos no apicun. 8. Fiscalizao efetiva da Marinha. Estratgia para viabilizao 1.Levantar opo de manipulao de citronela. 2. 3. Fiscalizao envolvendo Agentes Ambientais Voluntrios 4. idem ao item 3 5. idem ao item 3 6. idem ao item 3 7. idem ao item 3 / educao ambiental / acampamento - conselho 8- Operao conjunta com a Capitania na polcia martima (vistorias)/notificao das embarcaes sobre a RESEX.

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CAMPINHOS

1. Dificuldade de pegar caranguejo no inverno 2. Corte de mangues que elimina os mariscos que ali vivem.

1. 2. Proibio, Fiscalizao do IBAMA, Marinha, Manejo da Vegetao, Utilizao de madeira apreendida.

POXIM

1. Perodo de chuva e frio atrapalham 2. Trabalho solitrio 3. Problemas de sade , reumatismo,querosene e diesel na pele prejudica viso, Cortes de ostras e moria Tim, escorreges nas gaiteiras 4. Fazendas de camaro acabando tudo, gua escura e doce correndo para dentro dos mangues.

1. 2. 3. Provocar acesso Assistncia Social para acidentados. 4. Apoio do IBAMA para fiscalizar e em seguida a Colnia Z-20 tambm. Abaixo assinado para ser levado ao IBAMA e rgos competentes. 5.

1. 2. Necessidade de formalizao de pedido de madeira apreendida pela comunidade / Manejo: com o Conselho formado, obter uma concesso de uso de pequena quantidade. 1. 2. 3. Levantamento dos direitos trabalhistas dos coletores / fomentar a colonizao. 4. Operao de fiscalizao das fazendas de carcinicultura. Encaminhar abaixo assinado solicitando a fiscalizao das fazendas 5.

5. Peixe escasso e fugindo.

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TABELA VIII - Dificuldades encontradas, aes sugeridas pelos coletores de caranguejos de Canavieiras e estratgias para a viabilizao das aes propostas pelo Gestor da RESEX de Canavieiras, referentes ao tema Caranguejo.

TEMA: CARANGUEJO LOCAL DA OFICINA Dificuldades encontradas pelos coletores Aes sugeridas pelos coletores 1. Fiscalizao do Ibama com lancha. 2. Fiscalizao no perodo da andada e reunio entre coletores e atravessadores previamente ao perodo da andada. 3. Fiscalizao. 4. Fiscalizao. Apoio concreto do IBAMA. 5. Proibio da comercializao do catado no perodo da reproduo (de Dezembro a Abril). 6. Mesma soluo do catado. Estratgia para viabilizao 1.Fiscalizao com os agentes ambientais voluntrios para evitar desgaste do gestor (realizar reciclagem dos agentes) 2. Reunio prvia dos atravessadores com o gestor e com os Agentes voluntrios / palestra sobre a biologia dos caranguejos. 3. Idem ao item 1 4. Idem ao item 1 5.Pesquisa da demanda por catado de caranguejo-u / possvel suspenso partindo de deciso do Conselho. 6. Idem ao item 5

COLNIA Z-20

1. Redinha 2. Coleta na andada.

3. Muita Redinha 4. Captura na andada 5. Falta de Fiscalizao

6. Coleta de Fmea (catado) 7. Venda da pu separada

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CAMPINHOS

1. Parasita baratinha anterior mortandade. 2. No tem mais caranguejo pra pegar (pouca quantidade).

3. Redinha est acabando com tudo.

4. Quando chove no pode capturar. 5. No tem mais andada 6. No tem mais a passagem (MaioJun) (Set-Out) para os locais mais secos.

1. Pesquisa. 2. Proibir a captura de caranguejos por estrangeiros aos Campinhos, Diversificao dos itens de captura, Seguro desemprego para a poca do defeso. 3. Proibir a captura de caranguejos por estrangeiros aos Campinhos, pois quem usa redinha quem vem de fora. 4. 5. Proibio geral da captura na andada. 6. Proibir a captura de caranguejos por estrangeiros aos Campinhos, Diversificao dos itens de captura, Seguro desemprego para a poca do defeso. 7. Proibir a captura de caranguejos por estrangeiros

1. 2. Deciso do Conselho sobre gesto do espao / Levantamento do nmero de coletores e espcies com que trabalham / buscar experincias de outras RESEXs

3. Deciso do Conselho sobre gesto do espao

4. Fiscalizao com Agentes Voluntrios 5. Idem ao item 4 6. Deciso do Conselho sobre gesto do espao / Levantamento do nmero de coletores e espcies com que trabalham / buscar experincias de outras RESEXs.

7. Captura de fmeas ovadas.

7. Idem ao item 6

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1. Pouca quantidade POXIM

2. No pode ser congelado 3. Tamanho pequeno 4. Restos jogados nas ruas e nos rios(catado).

5. Preo baixo

6. Vero o preo cai 7. No recebe dinheiro direito (agora menos).

1- Preservar e proporcionar ajuda de custo para o caranguejeiro em um perodo de defeso de Setembro a Novembro (remunerado). Defeso do caranguejo com a colonizao dos coletores e sua ajuda na fiscalizao denunciando quem pega. Regulamentar a colonizao na colnia Z-20 pois profissionais que no so pescadores esto recebendo seguro 23- Respeitar o tamanho mnimo permitido. 4- Administrao local do Poxim tem que tomar providncias.Conscienti zao da comunidade. 5- Aumentar o preo do caranguejo medida que o vero chegar. 6- Colonizao mais o aumento do preo do caranguejo no mercado. 7- Compradores fixos.

1-pesquisar os impactos negativos da captura durante a ecdise / Levantamento dos direitos trabalhistas dos coletores / fomentar a colonizao / sondar a viabilidade do defeso nas andadas na DIJUR em Salvador.

2. 3. Fiscalizao com Agentes Voluntrios 4. Armazenamento em lixeiras para posterior descarte em canais mais profundos do esturio, com uso do barco comunitrio. 5.Conselho pode estabelecer uma tabela, porm no pode obrigar a venda por preo fixo (lei de livre mercado). 6. Idem ao item 5 7. Idem ao item 5

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TABELA IX - Dificuldades encontradas, aes sugeridas pelos coletores de caranguejos de Canavieiras e estratgias para a viabilizao das aes propostas pelo Gestor da RESEX de Canavieiras, referentes a estrutura para trabalhar. TEMA: ESTRUTURA PARA TRABALHAR LOCAL DA OFICINA Dificuldades encontradas pelos coletores 1. Ter que alugar canoa (os que no tem). COLNIA Z-20 2. Dificuldades de acesso ao local de coleta. 3. As cabanas querem pagar pouco. Aes sugeridas pelos coletores 1. Linhas de crdito, projeto para embarcaes de pequeno porte. 2. Corredores de acesso ao manguezal 3. Unio dos coletores para estipular preos mais justos. Elaborao de critrios para estabelecimento dos preos. 4. Corredores de acesso ao manguezal. 5. Permitir transporte do caranguejo s com coletores cadastrados. Padronizao de embalagens para transporte de caranguejos. 6. Unio dos coletores para estipular preos mais justos. Estratgia para viabilizao 1-Sondar linha de crdito para pequenos investimentos no Banco do Brasil. 2-Provocar formalmente o Ministrio Pblico munido de abaixo assinado elaborado pela comunidade. 3Conselho pode estabelecer uma tabela, porm no pode obrigar a venda por preo fixo (lei de livre mercado) 4-Provocar formalmente o Ministrio Pblico munido de abaixo assinado 5- Reunio do gestor com a empresa de nibus solicitando as regras para transporte de produtos agropecurios e pescado no nibus. 6Conselho pode estabelecer uma tabela, porm no pode obrigar a venda por preo fixo (lei de livre mercado)

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4. Bloqueio de acesso ao norte e e ao sul do Atalaia , em Fazendas de Camaro e na Barra de Albino. 5. Dificuldade de Transporte do caranguejo ao ponto de venda.

6. Compra do atravessador mas no compra do coletor.

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CAMPINHOS

1. Manuteno da canoa, Buzano ataca a canoa, falta de manuteno.

2. IBAMA proibir o uso de madeira nativa.

3. Atravessador ganha mais.

POXIM

1. nibus no leva caranguejo, s carro pequeno. 2. Falta canoa. 3. Concorrncia com o produto de Ilhus no vero. 4. Preo baixo (pescador desvalorizado). 5. No pode levar para Salvador onde o preo melhor no vero. 6. Vero o preo menor. 7. Tem que ter continuidade nas vendas seno perde o cliente (tanto o atravessador quanto o coletor).

1. Utilizao do barco comunitrio para rebocar canoas at o local de conserto. Capacitao de pessoas para conserto de canoas 2. Utilizao de madeira apreendida pelo IBAMA, Viabilidade de canoas de fibra de vidro. 3. Venda direta ao consumidor (ponto de vista de um coletor). 1. Operao de outra empresa de nibus na regio.Embalagem adequada para transporte caranguejos no nibus. 2. Conseguir canoas menores c/ Bahia Pesca. 3. 4. 5. Necessita de outra empresa que autorizasse o transporte de caranguejos. 6. 7.

1-Promover curso de capacitao para recuperao de canoas. Sondar CEPENE e SEBRAE. 2- Oficializar pedido ao IBAMA com o tipo e madeira adequada para as canoas. 3- Elaborar projeto da Feira de Produtos da RESEX de Canavieiras que incluir caranguejos. 1- Reunio do gestor com a empresa de nibus solicitando as regras para transporte de produtos. 2- Promover curso de capacitao para construo de canoas. Sondar CEPENE e SEBRAE / Oficializar pedido ao IBAMA com o tipo e madeira adequada. 3. 4. 5. Invivel economicamente e logisticamente 6. 7.

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Figura 64 Registros da Oficina para Elaborao do Plano de Ao do Caranguejou na RESEX de Canavieiras, realizada na Colnia Z-20, no dia 5 de outubro de 2006.

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Figura 65 Registros da Oficina para Elaborao do Plano de Ao do Caranguejou na RESEX de Canavieiras, realizada na comunidade de Campinhos, no dia 9 de outubro de 2006.

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Figura 66 Registros da Oficina para Elaborao do Plano de Ao do Caranguejou na RESEX de Canavieiras, realizada na comunidade do Poxim do Sul, no dia 23 de outubro de 2006.

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