Contos de Natal
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Sobre este e-book
Ainda assim, Emilia Pardo Bazán foi uma autora prolífica, tendo escrito, ao longo da vida, trinta e seis romances, dezoito ensaios, dezoito livros de contos e mais de dois mil artigos de imprensa. Foi a primeira espanhola jornalista, correspondente internacional e precursora na defesa dos direitos das mulheres, com legado sendo relevante até nossos dias. Os contos escritos por Emilia são curtos, delimitados no tempo e no espaço, muitas vezes com final inesperado ou dramático, com temas rurais e urbanos. O interesse pelo aspecto psicológico aparece em histórias de amor materno, amor conjugal, como em Contos de Amor, ciúme e traições. Ainda há temática religiosa em Contos sacroprofanos e Contos de Natal, além de crime, terror e drama.
" Chegou o Natal, aniversário da sua profissão. Veio a véspera de Natal, acompanhada de muita neve; mas, quanto mais espesso era o sudário que cobria o jardim do convento, mais calor Lucía notava em sua cela solitária; uma ilusão singular lhe mostrava, através dos vidros chumbados, que, no lugar de flocos de neve, choviam sobre os ramos das árvores e sobre a terra dura milhares de nítidas açucenas, finas como plumas tiradas das asas dos anjos.
Estava tudo semeado de açucenas, e a brancura do jardim emitia uma claridade que iluminava a cela com raios da lua, mais vivos e brilhantes que a própria prata. De repente, envolto em delicadas ondas de luz, Lucía viu um precioso Menino; uma criatura que sorria, que estendia os bracinhos, e a quem a freira recebeu fascinada." – de Natal
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Contos de Natal - Emilia Bazán
A condessa rebelde
Por Bianca Ribeiro Magalhães
Se na minha certidão tivessem posto Emilio, em vez de Emilia, que diferente teria sido a minha vida
.
Ainda assim, Emilia Pardo Bazán foi uma autora prolífica, tendo escrito, ao longo da vida, trinta e seis romances, dezoito ensaios, dezoito livros de contos e mais de dois mil artigos de imprensa. Foi a primeira espanhola jornalista, correspondente internacional e precursora na defesa dos direitos das mulheres, com legado sendo relevante até nossos dias.
Nascida em 1851 na Corunha, região da Galícia (Espanha), Emilia Antonia Socorro Josefa Amalia Vicenta Eufemia Pardo Bazán y de la Rúa-Figueroa era a única filha de Don José Pardo Bazán y Mosquera Rivera, advogado, político liberal e Conde de Pardo Bazán, e de Doña Amalia Rúa-Figueroa y Somoza.
Ela teve o privilégio de crescer em uma família nobre, com acesso a uma ampla biblioteca e tendo incentivo de seu pai, um reconhecido intelectual e político liberal progressista. Foi instruída por tutores particulares e em um colégio francês em Madri, a típica educação para senhoritas
da época. Essa educação privilegiada lhe possibilitou desenvolver seu talento literário e pensamento crítico desde cedo. Escreveu seus primeiros versos aos nove anos e, aos quinze, publicou o primeiro conto dos cerca de seiscentos que escreveria ao longo da vida.
Aos dezesseis, casou-se com José Quiroga Pérez de Deza, aristocrata e estudante de direito. Pouco depois, os recém-casados, junto aos pais de Emilia, fizeram uma viagem pela Europa, a primeira de muitas, o que despertou o interesse da galega por idiomas. Estudou francês, inglês e alemão, além de história e filosofia, ainda que, por ser mulher, não pudesse frequentar uma universidade.
Emilia e José tiveram três filhos, Jaime (1876), Blanca (1879) e Carmen (1881), e nesse período a escritora trabalhou com mais empenho, alternando a produção de romances com a de artigos para a imprensa.
Chega-se mais rápido à celebridade com escândalo e talento do que apenas com talento; e às vezes o escândalo até substitui o talento.
(Un viaje de novios, 1881)
Seu estilo narrativo se caracterizava pelo realismo e crítica social, expondo o contraste entre as normas da sociedade e da natureza, os abusos e a hipocrisia da aristocracia.
Admiradora do naturalismo francês de Émile Zola, publicou em 1883 uma série de artigos em La cuestión palpitante, além do romance La Tribuna, considerados entre as principais obras impulsionadoras do naturalismo na Espanha. Controversa, ganhou atenção da mídia não tanto por seu estilo literário, mas pelo fato de ser uma mulher casada provocadora, em vez de submissa a seu papel tradicional.
Por conta da polêmica, José Quiroga pediu que parasse de escrever, mas Emilia recusou e viajou sozinha para a Itália. Pouco tempo depois, o casal passou a viver separado. Por volta de 1889, sua amizade com o autor Benito Pérez Galdós passou a ser uma relação íntima, tornando-se o primeiro de vários outros casos. Reconhecida pelo seu espírito livre e rebelde, o escândalo da sua vida amorosa impulsionou ainda mais a venda de seus livros.
Nas décadas seguintes, afastou-se do naturalismo e explorou novos caminhos literários e filosóficos como o idealismo, o modernismo e o simbolismo.
O romance deixou de ser uma obra de mero entretenimento, uma forma de passar agradavelmente algumas horas, ascendendo a estudo social, psicológico, histórico, mas, em suma, um estudo.
(Un viaje de novios, 1881)
A autora interessou-se por todos os gêneros literários: romance, conto, ensaio, crônica, biografia, relatos de viagem, teatro, poesia e jornalismo. Mas foi na ficção narrativa que deixou uma marca indelével, destacando-se de forma autêntica na produção de romances e contos. A maior parte dos contos foi publicada na imprensa e reunida pela própria galega em diferentes coleções, muitas vezes de acordo com o tema ou cronologia de publicação.
Os contos escritos por Emilia são curtos, delimitados no tempo e no espaço, muitas vezes com final inesperado ou dramático, com temas rurais e urbanos. O interesse pelo aspecto psicológico aparece em histórias de amor materno, amor conjugal, como em Contos de Amor, ciúme e traições. Ainda há temática religiosa em Contos sacroprofanos e Contos de Natal, além de crime, terror e drama.
Doña Emilia destacou-se como uma das primeiras a defender abertamente os direitos das mulheres na Espanha, antes mesmo de o termo feminismo existir. Incluía em suas obras temas revolucionários para a época, como a educação igualitária para as meninas, o acesso a oportunidades sociais e trabalhistas, e a sexualidade feminina. Com a herança do pai, em 1891 fundou a revista Nuevo Teatro Crítico, da qual era a única redatora e, em 1892, La Biblioteca de la Mujer, um projeto editorial que nasceu do seu desejo de instruir suas contemporâneas sobre os direitos femininos.
A região da Galícia aparece com frequência na obra da autora: muitas histórias são ambientadas nas cidades de Santiago de Compostela, Pontevedra ou Marineda
, nome que dava à cidade da Corunha.
Ainda que tenha publicado suas obras em castelhano para chegar a um público maior, sempre valorizou o galego, tendo inclusive fundado a Revista de Galicia em 1880. Também fundou e presidiu a Sociedad del Folk-Lore Gallego em 1884, encarregada de estudar, coletar e conservar costumes e tradições culturais daquela região. Participou, ainda, da organização dos primórdios da Real Academia Galega, fundada oficialmente em 1906.
A autora era uma figura reconhecida no meio literário, cultural e social, mas protagonizou enfrentamento com colegas escritores e críticos. Obstinada e de caráter combativo, foi desprezada e difamada de todas as formas. Foi o preço por ter sido pioneira, mesmo sendo de uma família aristocrata.
Ninguém duvidava de seu talento para escrever, mas demorou para que gozasse entre seus contemporâneos de um autêntico reconhecimento público. Sua candidatura para ingressar na Real Academia Española foi recusada três vezes.
Apesar disso, em 1906 foi nomeada presidente da Seção de Literatura do Ateneu de Madri e, em 1910, conselheira do Ministério de Instrução Pública. Em 1908, recebeu do rei o título de Condessa de Pardo Bazán, que seu pai havia ostentado, como reconhecimento à sua importância no meio literário. Foi ainda a primeira mulher nomeada catedrática de literatura na Universidade Central de Madri, em 1916.
Faleceu em 1921, aos 69 anos, devido a uma complicação de diabetes, fato noticiado amplamente na Espanha. A vasta obra de Emilia Pardo Bazán ocupará sempre um lugar de destaque na literatura dos séculos XIX e XX.
A noite da véspera de Natal do Papa
Traduzido por Aline Zardi
Sob o manto estrelado em uma noite esplêndida e glacial, Roma se estende, mostrando de tempos em tempos a mancha sombreada de seus misteriosos jardins de ciprestes e de louros seculares que tantas coisas viram e, em ilhotas mais amplas, a clara brancura de seus monumentos, envolvendo, como um sudário, o cadáver da História.
Gente alegre e animada passa pela rua. Poucos carros. A pé vão os ricos, misturados aos contadinos, lavradores do campo que se dirigiram à cidade magna trazendo cestas de mercadorias ou de presentes. Seus farrapos pitorescos e de cor viva os distinguem dos burgueses; seus sonoros gritos ressoam no ambiente claro e frio como o cristal. Movimentam-se, empurram-se, correm: mesmo que não voltem para suas casas até o amanhecer — o que é certeza —, querem presenciar, na Basílica de Trinitá dei Monti, a oração do Papa diante do berço de Gesú bambino.
Sim, o Papa em pessoa. Não como hoje, sua estátua, mas ele mesmo, em carne e osso, porque Roma ainda lhe pertence — é quem, na presença de uma multidão que vibra de entusiasmo, vai se ajoelhar ali, diante do berço onde, sobre palha macia, descansa e sorri o Menino. É a noite de 24 de dezembro: o grande sino de Sant’Angelo já se prepara para ferir o ar doze vezes, e a carruagem pontifícia, sem escolta, sem ostentação, para ao pé da escadaria da Trinitá.
O Papa desce, com auxílio de seus ajudantes, apoiando com calma o pé no estribo. Com tal primor se preparou a cerimônia que, assim que Pio IX pisa no primeiro degrau, soa, lenta e solene, a primeira badalada da meia-noite, em cada campanário, em cada relógio de Roma. O clamor dramático do momento sobe ao céu imponente como um hosana e envolve em suas ondas sonoras magníficas e trêmulas o Pontífice que, devagar, sobe a escadaria, abençoando, entre a multidão que se prostra e murmura preces de adoração. À luz das estrelas e à muito mais viva dos milhares de círios da Basílica iluminada de cima a baixo, como uma brasa, adornada como para uma festa e com as portas abertas de par em par, por onde desliza, apertando-se, a turba ansiosa para contemplar o Pontífice. É possível ver, destacando-se da mozeta vermelha, bordada, de arminho que paira sobre a túnica branca como neve, a cabeça belíssima do Papa, o contorno puro de efígie das suas feições, a forma artística de seu cabelo branco disposto como nos bustos de mármore antigo que povoam o Museu degli Anticchi.
Entra, finalmente, na Basílica. Cruza as naves, desce a escada dourada que conduz à cripta e, enquanto às suas costas a guarda luta para reprimir os empurrões da torrente humana que briga para se aproximar da balaustrada, no recinto descoberto, mais baixo que a multidão, o Papa fica só. Artista