Era uma vez um mês seis
De Yan Rego
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Era uma vez um mês seis - Yan Rego
No dos outros é refresco
No início da noite de 13 de junho de 2013, tomei um chute no cu. Não numa banda da bunda, no meio mesmo. Onde o sol não bate mas o pé do black block bateu. Eu disse: parou, porra, vai dispersar as pessoas
. Olhei altivo nos olhos dele, espremidos entre o capuz preto e o lenço palestino, e me abaixei pra pegar os sacos de lixo que ele queria queimar. O cara deu uma chapuletada de peito de pé no meu rego, me chamou de pelego e sumiu. Antes de sumir ele gargalhou — porque no dos outros é sempre refresco.
Pus a mão nos fundilhos e fiz força pra não vazar na cara dor ou vergonha. Mas que merda, vai ser duro de cagar, pensei. O camarada chefe da comissão de segurança me chamou de molengão, disse que eu devia ter deitado o cara na porrada. Mas não sou inconsequente, tinha uma coluna pra proteger. E partir pros finalmentes iria desmoralizar nossa organização com a vanguarda, daria pinta de reacionário.
Eu, depois de três escolas de quadros sobre Lênin, Trotsky e a agitação pré-revolucionária, não vou fazer trocadilhos cretinos com a palavra retaguarda: tomei um chute no cu de um black block, essa é a verdade. Quis evitar a interrupção do fluxo e o medo que a tática incendiária deles, explorada pela mídia vendida, provoca nas massas. Eu evitei que o imbecil assustasse os manifestantes e queimasse a unidade do ato. Eu pus o meu na reta pela causa.
E o chute vale a pena, principalmente se a rosca é pequena (nunca fui tão grato à genética que me desbundou). Passei o resto do ato andando como se não doesse, guiando nossa bateria e coordenando o cordão de isolamento — vinte pessoas de mãos dadas bem justas pra que nenhum aleatório se enfiasse nos instrumentos. As alunas do cursinho popular que tocavam os tamborins, as calouras da Letras que tocavam as caixas e os grandões da História que tocavam os surdos, todos disseram que eu toquei o meio da nossa coluna como um baita bolche. Até minha veterana, tesoureira do Diretório Central dos Estudantes que puxava as palavras de ordem no megafone, me elogiou.
Já os dirigentes cascudos da velha guarda, os quadros mais experientes na faixa dos trinta com diploma e carteira assinada de professor, esses tentaram me desmoralizar. Ficaram me chamando de Camarada Hemorroida por mais dois atos. Até que no terceiro o Choque apareceu em peso, sentou o sarrafo do gás mais maciço que eu já vi. Vinagre nenhum dava jeito e eu escorei uma secundarista que estava quase desmaiando, percebi que ia desmaiar também, chamei pelo meu anjo da guarda e consegui levar a menina pra um lugar seguro. Depois contei pros mais velhos, porque o militante corajoso sabe socializar seus medos. Eles passaram a me chamar de Camarada Anjinho.
Sim, eu cresci na Umbanda e tinha orgulho da minha origem religiosa decolonial. Sim, eu virei ateu quando me filiei ao partido e me envergonhei de qualquer crença que não a na força da classe trabalhadora. Mas quando a traseira tranca, companheiro, quem tem medo tem fé. Assim como eu tinha fé que aquele monte de inconsequentes que tapavam a cara, provocavam a polícia e jogavam coquetel molotov perto de manifestantes desavisados não ia ter força política pra durar muito tempo. Seriam varridos pro lixo da história junto com a direita puro-sangue e os social-democratas capachos do capital financeiro. Sentado no morrinho da Faculdade de Filosofia com meus companheiros, nós fazíamos planos dourados pro futuro vermelho do país.
Quando chegar a revolução, os anarcos vão pro paredão
, alguém dizia e olhava pro outro lado do morrinho, pros manos de moicano e as minas de side cut do centro acadêmico autogestionado da geografia.
Primeiro é paredão pra direita, depois pros petistas
, eu dizia. Não podemos esquecer a correlação de forças e os verdadeiros inimigos de classe
.
Você é um capitulador safado, Camarada Anjinho
, meus companheiros me diziam e davam risada.
Mas eu não ficava bravo. Tinha ódio dos anarcos, é claro. Esquerdismo é coisa de moleque, como disse o camarada careca. Ao mesmo tempo, revolução não se faz com o fígado. Eu respeitava os culhões dos blocks, que enfrentavam o aparato repressivo do Estado apenas com pedras e gasolina, mas sabia que a tática era um tiro no pé da massificação do movimento. Além do mais, a maior parte deles não tinha nenhuma formação, nenhum convencimento ideológico. Meia dúzia de velhos lambe-bolas de Bakunin se aproveitavam da falta de liderança pra cooptar uns pivetes mais novos que eu, vindos de toda a região metropolitana pra estraçalhar vidraças e extravasar a raiva.
De qualquer forma, era um baita de um fenômeno, a cada ato a falange preta aumentava. Não dava pra nossa organização dizer que estava cagando e andando. E quando eles provocavam a PM até não poder mais, fugiam pro meio das nossas colunas, tiravam as roupas pretas e gritavam sem violência. Amarelavam na maior, mas os covardes éramos nós, que escrevíamos notas de repúdio à