Clara dos Anjos
De Lima Barreto
()
Sobre este e-book
Leia mais títulos de Lima Barreto
Triste fim de Policarpo Quaresma: Em quadrinhos Nota: 5 de 5 estrelas5/5Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOs Melhores Contos Brasileiros - I Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTriste fim de Policarpo Quaresma: Versão adaptada para neoleitores Nota: 0 de 5 estrelas0 notasContos do mar sem fim Nota: 4 de 5 estrelas4/5Lima Barreto: Cronista do Rio Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Nova Califórnia Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOs bruzundangas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOs Melhores Contos de Lima Barreto Nota: 0 de 5 estrelas0 notasClássicos politicamente incorretos: Homenagem póstuma à cultura do cancelamento Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA fraude eleitoral e outros contos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOS MELHORES CONTOS BRASILEIROS II Nota: 0 de 5 estrelas0 notasClara dos Anjos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO subterrâneo do Morro do Castelo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO triste fim de Policarpo Quaresma Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTriste fim de Policarpo Quaresma (Coleção Biblioteca Luso-Brasileira) Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Homem que Sabia Javanês e Outros Contos Selecionados: Edição bilíngue português-inglês Nota: 5 de 5 estrelas5/5Crônicas da Bruzundanga: A literatura militante de Lima Barreto Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA barganha e Uma conversa vulgar: Dois contos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTriste fim de Policarpo Quaresma Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAntologia sino-brasileira de contos: edição bilíngue Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOs Bruzundangas Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Relacionado a Clara dos Anjos
Ebooks relacionados
Clara dos Anjos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Mulato Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Mulato Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Segredo da Fonte Queimada Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Guerra das Mulheres Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Príncipe e o Mendigo Nota: 4 de 5 estrelas4/5Os fidalgos da Casa Mourisca Chronica da aldeia Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOs Bravos do Mindello Romance Historico Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Casa dos Fantasmas - Volume II Episodio do Tempo dos Francezes Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAs Crônicas do Brasil: Brazilian Sketches: Edição bilíngue português - inglês Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOs trabalhadores do mar Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAgora serve o coração Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPetrópolis Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAs mulheres do soneto Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Estrella do Sul Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEntre a Serra e o Mar Nota: 0 de 5 estrelas0 notasNo Paiz dos Yankees Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Cortiço Nota: 0 de 5 estrelas0 notasViagem ao centro da Terra Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCrônicas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Caticeiro, O Cordoeiro E O Desertor Nota: 0 de 5 estrelas0 notasKéraban, o Cabeçudo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOs Fidalgos da Casa Mourisca Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Livro Do Império Nota: 0 de 5 estrelas0 notasRomancistas Essenciais - Aluísio Azevedo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAs extraordinárias viagens de Júlio Verne Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Último Dia Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Chamado da Floresta - Nova edição Nota: 0 de 5 estrelas0 notasRomancistas Essenciais - Pardal Mallet Nota: 0 de 5 estrelas0 notasRotação - Sem Retorno Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Clássicos para você
Livro do desassossego Nota: 4 de 5 estrelas4/5A voz do silêncio Nota: 5 de 5 estrelas5/5Crime e Castigo Nota: 5 de 5 estrelas5/5MEMÓRIAS DO SUBSOLO Nota: 5 de 5 estrelas5/5Dom Quixote de la Mancha Nota: 5 de 5 estrelas5/5Memórias Póstumas de Brás Cubas Nota: 4 de 5 estrelas4/5A Torá (os cinco primeiros livros da Bíblia hebraica) Nota: 4 de 5 estrelas4/5O Conde de Monte Cristo: Edição Completa Nota: 5 de 5 estrelas5/5Orgulho e preconceito Nota: 5 de 5 estrelas5/5A Montanha Mágica Nota: 4 de 5 estrelas4/5O Príncipe Nota: 4 de 5 estrelas4/5Arsène Lupin: O ladrão de Casaca Nota: 4 de 5 estrelas4/5A Divina Comédia [com notas e índice ativo] Nota: 5 de 5 estrelas5/5A Felicidade Conjugal Nota: 5 de 5 estrelas5/5Os Irmãos Karamazov Nota: 5 de 5 estrelas5/5A revolução dos bichos Nota: 4 de 5 estrelas4/5Dom Casmurro: Edição anotada, com biografia do autor e panorama da vida cotidiana da época Nota: 4 de 5 estrelas4/5A Metamorfose Nota: 5 de 5 estrelas5/51984 Nota: 5 de 5 estrelas5/5Emma Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDom Casmurro Nota: 4 de 5 estrelas4/5Mulherzinhas Nota: 4 de 5 estrelas4/5Campo Geral Nota: 4 de 5 estrelas4/5Quincas Borba Nota: 5 de 5 estrelas5/5O Morro dos Ventos Uivantes Nota: 0 de 5 estrelas0 notasRazão e Sensibilidade Nota: 5 de 5 estrelas5/5Decameron: Contos Selecionados Nota: 5 de 5 estrelas5/5Os MISERÁVEIS - Victor Hugo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasContos de Edgar Allan Poe Nota: 5 de 5 estrelas5/5
Categorias relacionadas
Avaliações de Clara dos Anjos
0 avaliação0 avaliação
Pré-visualização do livro
Clara dos Anjos - Lima Barreto
Capítulo 2
Quem seria esse Cassi? Quem era Cassi?
Cassi Jones de Azevedo era filho legítimo de Manuel Borges de Azevedo e Salustiana Baeta de Azevedo. O Jones é que ninguém sabia onde ele o fora buscar, mas usava-o desde os vinte e um anos, talvez, conforme explicavam alguns, por achar bonito o apelido inglês. O certo, porém, não era isso. A mãe, nas suas crises de vaidade, dizia-se descendente de um fantástico Lord Jones, que fora cônsul da Inglaterra, em Santa Catarina; e o filho julgou de bom gosto britanizar a firma com o nome do seu problemático e fidalgo avô.
Era Cassi um rapaz de pouco menos de trinta anos, branco, sardento, insignificante, de rosto e de corpo; e, conquanto fosse conhecido como consumado modinhoso
, além de o ser também por outras façanhas verdadeiramente ignóbeis, não tinha as melenas do virtuose do violão, nem outro qualquer traço de capadócio. Vestia-se seriamente, segundo as modas da Rua do Ouvidor; mas, pelo apuro forçado e o degagé suburbanos, as suas roupas chamavam a atenção dos outros, que teimavam em descobrir aquele aperfeiçoadíssimo Brandão
, das margens da Central, que lhe talhava as roupas. A única pelintragem, adequada ao seu mister, que apresentava, consistia em trazer o cabelo ensopado de óleo e repartido no alto da cabeça, dividido muito exatamente ao meio — a famosa pastinha
. Não usava topete, nem bigode. O calçado era conforme a moda, mas com os aperfeiçoamentos exigidos por um elegante dos subúrbios, que encanta e seduz as damas com o seu irresistível violão.
Era bem misterioso esse seu violão; era bem um elixir ou talismã de amor. Fosse ele ou fosse o violão, fossem ambos conjuntamente, o certo é que, no seu ativo, o Senhor Cassi Jones, de tão pouca idade, relativamente, contava perto de dez defloramentos e a sedução de muito maior número de senhoras casadas.
Todas essas proezas eram quase sempre seguidas de escândalo, nos jornais, nas delegacias, nas pretorias; mas ele, pela boca dos seus advogados, injuriando as suas vítimas, empregando os mais ignóbeis meios da prova de sua inocência, no ato incriminado, conseguia livrar-se do casamento forçado ou de alguns anos na correção.
Quando a polícia ou os responsáveis pelas vítimas, pais, irmãos, tutores, punham-se em campo para processá-lo convenientemente, ele corria à mãe, Dona Salustiana, chorando e jurando a sua inocência, asseverando que a tal fulana — qualquer das vítimas — já estava perdida, por esse ou por aquele; que fora uma cilada que lhe armaram, para encobrir um mal feito por outrem, e por o saberem de boa família, etc., etc.
Em geral, as moças que ele desonrava eram de humilde condição e de todas as cores. Não escolhia. A questão é que não houvesse ninguém, na parentela delas, capaz de vencer a influência do pai, mediante solicitações maternas.
A mãe recebia-lhe a confissão, mas não acreditava; entretanto, como tinha as suas presunções fidalgas, repugnava-lhe ver o filho casado com uma criada preta, ou com uma pobre mulata costureira, ou com uma moça branca lavadeira e analfabeta.
Graças a esses seus preconceitos de fidalguia e alta estirpe, não trepidava em ir empenhar-se com o marido, a fim de livrar o filho da cadeia ou do casamento pela polícia.
— Mas é a sexta moça, Salustiana!
— Qual o quê! Calunia-se muito...
— Qual calúnia, qual nada! Este rapaz é um perverso, é sem-vergonha. Eu sei o nome das outras. Olhe: a Inês, aquela crioulinha que foi nossa copeira e criada por nós; a Luísa, que era empregada do doutor Camacho; a Santinha, que ajudava a mãe a costurar para fora e morava na Rua Valentim; a Bernarda, que trabalhava no Joie de Vivre
...
— Mas tudo isto já passou, Maneco. Você quer que o seu filho vá para a cadeia? Porque, casar com essas biraias, ele não se casa. Eu não quero.
— Era preferível que ele fosse para a cadeia, ao menos não estava desmoralizando todo o dia a casa.
— Pois você faça o que quiser. Se você não der os passos, eu dou. Vou procurar o meu irmão, o doutor Baeta Picanço — rematava a mulher com orgulho.
O pai desse Cassi era verdadeiramente um homem sério. Estreito de ideias, familiarizado no emprego público, que há cerca de trinta anos exercia, ele tinha profundos sentimentos morais, que lhe guiavam a conduta no seu comércio com os filhos. Nunca fora afetuoso: evitava até todas as exibições e exageros sentimentais; era, porém, capaz de estimá-los profundamente, amá-los, sem abdicar, entretanto, do dever paterno de julgá-los lucidamente e puni-los consoante a natureza das suas respectivas faltas.
Era homem de pouca altura, trazia a cabeça sempre erguida, testa reta e alta, queixo forte e largo, olhar firme, debaixo do seu pince-nez de aros de ouro. Conquanto alguma coisa obeso, era deveras um velho simpático e respeitável; e, apesar da sua imponência de antigo burocrata, dos seus modos um tanto ríspidos e secos, todos o estimavam na proporção em que seu filho era desprezado e odiado. Tinham até pena dele, confrontando a severidade de sua vida com a crapulice de Cassi.
Sua mulher não era lá muito querida, nem prezada. Tinha fumaças de grande dama, de ser muito superior às pessoas de sua vizinhança e mesmo às dos seus conhecimentos. O seu orgulho provinha de duas fontes: a primeira, por ter um irmão médico do Exército, com o posto de capitão; e a segunda, por ter andado no Colégio das Irmãs de Caridade.
Quando se lhe perguntava — seu pai, o que era? — Dona Salustiana respondia: era do Exército; e torcia a conversa. Não era seu pai exatamente do Exército. Fora simplesmente escriturário do Arsenal de Guerra. Com muito sacrifício e graças a uma pequena fortuna que lhe viera ter por acaso às mãos, pudera educar melhorzinho os dois únicos filhos que