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As coisas
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E-book113 páginas1 hora

As coisas

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Sobre este e-book

 Sensível e implacável por trás de uma escrita limpa e simples, As coisas traz uma costura de vivências humanas sob a ótica de um jovem homossexual. O personagem constante dessas histórias trabalha, viaja, estuda, cruza ruas de metrópoles agitadas, passa horas em aplicativos de encontros sexuais. Não há maquiagens para a solidão, nem disfarce para o sexo. Ele sente, ele quer, ele ganha e perde, transformando-se de história em história e construindo um arco narrativo que alicerça todo o livro.  
IdiomaPortuguês
EditoraRecord
Data de lançamento15 de out. de 2018
ISBN9788501403735
As coisas

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    Pré-visualização do livro

    As coisas - Tobias Carvalho

    1ª edição

    2018

    CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO

    SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

    Carvalho, Tobias

    C329c

    As coisas [recurso eletrônico] / Tobias Carvalho. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Record, 2018.

    recurso digital

    Formato: epub

    Requisitos do sistema: adobe digital editions

    Modo de acesso: world wide web

    ISBN 978-85-01-40373-5 (recurso eletrônico)

    1. Contos brasileiros. 2. Livros eletrônicos. I. Título.

    18-51971

    CDD: 869.3

    CDU: 82-34(81)

    Vanessa Mafra Xavier Salgado - Bibliotecária - CRB-7/6644

    Copyright © Tobias Carvalho, 2018

    Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, armazenamento ou transmissão de partes deste livro, através de quaisquer meios, sem prévia autorização por escrito.

    Texto revisado segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

    Direitos exclusivos desta edição reservados pela

    EDITORA RECORD LTDA.

    Rua Argentina, 171 – Rio de Janeiro, RJ – 20921-380 – Tel.: (21) 2585-2000.

    Produzido no Brasil

    ISBN 978-85-01-40373-5

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    [email protected] ou (21) 2585-2002.

    "Eu não sei dizer

    nada por dizer

    então eu escuto."

    Fala, Secos & Molhados

    coi·sa

    s.f. (latim causa, -ae, causa, razão)

    1. Objeto ou ser inanimado.

    2. O que existe ou pode existir.

    3. Negócio, fato.

    4. Acontecimento.

    5. Mistério.

    6. Causa.

    7. Espécie.

    8. Qualquer objeto que não se quer ou não se consegue nomear.

    9. Órgão sexual masculino.

    Dicionário Priberam da Língua Portuguesa

    Sumário

    Como bons amigos

    Arrebol

    24

    Alguma coisa tem que clicar

    Se me coubesse ficaria

    Rodrigo no terraço

    Maldito

    O pai

    Cantiga de roda

    As coisas que a gente faz pra gozar

    Fogo

    Unfucktheworld

    Água

    Um não esquece o outro

    Sauna nº3

    Jung

    99

    Cassino Royale

    O breu

    Guion

    Elza

    The Biggest Lie

    A razão pela qual eu nasci

    Como bons amigos

    Perguntei se ele queria uma bermuda emprestada e, quando fui buscar, ele já tinha se atirado na piscina pelado.

    Me senti estranho, mas pulei na piscina mesmo assim, usando um calção. Enquanto ele flutuava no mesmo lugar e falava sobre algo que não conseguia prender minha atenção, eu via seu corpo balançar dentro d’água.

    Estávamos tremendo de frio mergulhados no calor da noite de verão.

    Logo que me acostumei à água, ele propôs que buscássemos mais cerveja. Foi andando nu pela casa. Eu estava de toalha. Quis sentar-se na sala com as luzes apagadas, mas achei melhor deixar ao menos um abajur aceso.

    Ele disse que se sentia bem de estar assim, pelado e com alguém em quem confiava, e eu disse que o pudor era uma mentira inventada, que eu já havia corrido sem roupa com amigos na praia, que pra mim não tinha problema.

    E comecei a imaginar.

    Porque sim, ele era meu amigo, e um dos melhores desde sempre. Mas já havia muito namorava, não ia querer nada comigo. Amigos, amigos mesmo.

    Eu não desejava desejar o corpo dele.

    Éramos só nós dois em casa tomando cerveja, meus pais viajando, Arnaldo Baptista tocando.

    Ele sugeriu um banho quente.

    Fomos ao meu quarto, ele pelado e eu com vergonha. Levei ele pro banheiro e liguei o chuveiro. Saí do banheiro, sentei na minha cama e esperei. Vi meu amigo me olhando pelo vidro do box. Pouco tempo depois, me chamou. Disse Vem, tem que ser juntos, e fui.

    Ele tinha pelos por todo o peito.

    Nos ensaboamos, cada um em um canto do box, até que ele me abraçou, dizendo que era em nome da nossa amizade. Senti nossos corpos colados, o mais caloroso dos verões.

    Saí do abraço e perguntei se ele queria xampu.

    Ele perguntou se aquilo ficava entre nós.

    Eu disse que sim. Era um banho, afinal.

    Ele me abraçou de novo.

    Dessa vez esfregou o corpo no meu. O sexo no meu.

    Ele disse Vamos transar que nem bons amigos?, e eu pedi pra ele repetir e pedi de novo.

    Perguntei se ele estava louco.

    Ele disse Não tem problema, eu já traí antes.

    Mas e nós dois?, eu disse. Imaginava que numa situação dessas eu prezaria pela amizade.

    A amizade.

    Beijei ele e vi indecisão no seu rosto. Deixei a água escorrer.

    Ele, cada vez mais excitado, passou a língua pelo meu corpo. Eu, já não mais fingindo que me importava, lambi de volta. Ficamos nisso por algum tempo, até que ele pediu pra parar.

    Não sei se quero fazer isso, ele disse. Não me sinto bem fazendo isso.

    E paramos.

    Arrebol

    Não havia tanta louça. Tinha sujado duas panelas pra fazer massa com molho branco, mais os pratos, talheres e copos. O molho havia endurecido de um dia pro outro, um pouco estava grudado no fogão. Resolveu passar os dedos no fundo da panela debaixo da torneira pra não sujar a esponja. Odiava que a esponja ficasse gosmenta na hora de lavar os pratos quase limpos; odiava também o resto de massa que ficava presa no protetor do ralo, mole, aguada. Seu desgosto era acentuado pela dor de cabeça, que diminuía sua vontade de lavar a louça, de ouvir a água correndo e os pratos batendo dentro da pia.

    Estava sozinho em casa. O outro menino havia ido embora pelo meio-dia, e ele só se levantou às duas. Durante boa parte da manhã, se revirou na cama, com frio, tentando reunir partes do lençol pra se tapar mais. O controle do ar-condicionado não estava à vista. Suspeitava que estivesse programado pra chegar a dezessete graus. Não viu quando o guri foi embora, e portanto não pôde pedir que ele desligasse o ar. Se revirou na cama e sentiu as amígdalas incharem aos poucos, mas só teve forças pra levantar duas horas depois.

    Abriu as persianas, tomou uma Neosaldina com água, lavou toda a louça, e se deitou de novo. Tentou ouvir música, mas ficou tonto. Viu na mesa de cabeceira o calhamaço que há semanas tentava ler, mas não conseguia vencer mais que quinze páginas por vez. Sua pilha de livros só aumentava, e ele nunca conseguia achar o tempo. Seria mais um ano assim.

    Tomou um banho frio. O chuveiro estava queimado.

    Dentro de casa, não sabia pra onde ir. Havia só o quarto, a cama, os armários e uma escrivaninha; a cozinha e o banheiro. Mal chegava em casa, tinha vontade de sair. A vista o havia seduzido na hora de alugar o apartamento; era uma parte da Tomaz Flores densamente arborizada, e, do segundo andar, as árvores cobriam a vista, batendo no vidro gentilmente quando ventava. Depois de tanto tempo morando naquele lugar, tinha saudade da iluminação do sol. Não parecia importante, frente à calma que aquelas árvores traziam. Mas valorizava já outras coisas que não a calma.

    De não querer ficar sozinho, poucas horas depois de estar com alguém, ligou pra avó.

    "Pode vir sim, querido. Só não vou ter o que te dar de comer. Não tive tempo de ir à feira hoje.

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