"Vencido pela aridez da matéria que estou a estudar sinto que a realidade se começa a esfumaçar... Oiço ao longe a televisão, que dá um daqueles talk shows enfadonhos. De repente, vejo o meu tio Adolfo. Pensava que ele já tinha falecido, mas parece-me tão real... Debita-me um daqueles sermões, que faziam as delícias dos sobrinhos e primos, que fugiam a sete pés sempre que o viam... De repente, começam a surgir, de cada um dos lados do pescoço, mais duas cabeças. Uma delas chama-se Júlio César e tem uma coroa na cabeça... No entanto, é bastante parecido com aquele actor que faz umas peças no Casino do Estoril... No entanto, o meu tio Adolfo chama-lhe "primo Zé"... A outra cabeça é vagamente parecida com o um professor de história da minha escola secundária. Olha-me, do alto dos seus quase setenta anos, com aquele ar quase inquisitorial, por cima dos óculos, e com a voz entre o grave e o agudo: "O menino não sabe, hein? Estudasse!" No entanto, o meu tio Adolfo chama-lhe Pompeu... Pompeu para aqui, Pompeu para ali... como se isso fosse nome de gente... Viro as costas e dou comigo em Paris, em frente à Catedral de Notre-Dame. Curioso, pensei que já lá tinha estado, mas se calhar não... sinto-me como se fosse a primeira vez!
Entretanto, o monstro tricéfalo liderado pelo meu tio Adolfo persegue-me. Quer, à viva força que eu lhe preste atenção, mas eu fujo pela margem do rio. Tento deixá-lo para trás, mas a cada passo que dou, o monstro dá dois.
Está quase a alcançar-me quando sinto que alguém me puxa pelo braço.
Acordo esbaforido. A minha mãe apercebeu-se que adormeci, vencido pelo cansaço, ao estudar para o teste de história de amanhã, sobre o primeiro triunvirato romano, entre outras matérias e deu-me um delicado safanao no braço. Acordo estremunhado, com a sensaçao de quem nao sabe muito bem de que terra é... mas com o alívio de me ter safado de um sermão "Adolfiano"..."
O que dizer sobre os sonhos?
Será que têm o significado premonitório bíblico?
Em primeiro lugar, há que dizer que, se para Freud eles eram a "expressao de um desejo suprimido ou alcançado", me parecem ser muito mais do que isso. Sao o reflexo de um conjunto de estímulos externos e internos que ocorrem durante um estado de semi-consciencia, em interligaçao com os dados que ja se encontram na memória, consciente ou inconsciente, com o humor, com os pensamentos que afloraram à nossa mente durante o dia.
Um exemplo disto, é a distençao do músculo liso da bexiga, com a consequente erecçao reflexa nos homens, que coincidem justamente com os sonhos com a Laetitia Casta ou, mais lusitanamente, com a Soraia Chaves, a menina do gás, ou qualquer outra ninfa com um busto acima de um determinado patamar...
Dizem também alguns autores que é um processo que permite ao nosso sistema de memória, que faz parte, pensa-se, de uma estrutura chamada sistema límbico, apagar os dados que se tornam obsoletos, e permitir assim o armazenamento de novos dados através do estabelecimento de novas conexoes entre neurónios.
Por isso, duas coisas a reter:
- Se estao com uma depressao, com o humor em baixo, nao esperem ter sonhos muito agradáveis...
- A Soraia Chaves faz com que muitos homens se esqueçam das coisas.