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sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Eu sobrevivi...

... à vacina da gripe A!

E confesso que, aparte umas amigdalas hiperemiadas [vermelhas] e alguma odinofagia [dor de garganta], e as mazelas decorrentes de uma técnica de injecção com ligeiras semelhanças com as formas de tortura nos campos de concentração do regime de Pol Pot, nem sequer uma interrupção de gravidez tive...

Mas também só passaram 24 horas... Ainda vou a tempo de ter uma intoxicação por mercúrio, dada a quantidade cataclísmica de timerosal existente na vacina, de acordo com algumas fontes (as mesmas que dizem que a microsoft doa 5 cêntimos por cada e-mail que reencaminhemos...)

Se eu por acaso começar com um mutismo grande, daqueles que parecem mesmo um coma, eu coloco aqui só para terem um update da situação...

(Ah, isto não é o twitter? Então esqueçam...)

sexta-feira, 20 de março de 2009

A próstata

Estava eu, outro dia, em casa da minha mãe quando tocou o telefone. Atendi-o.

(E o diálogo que se segue tem o seu quê de insólito...)

- Estou?
-Boa noite, primo.

-Olá, boa noite, prima. - tentei parecer o mais cordial possível, apesar de não reconhecer a voz. É que para quem não sabe, na terra da minha mãe, não chamar primo a uma pessoa que não se conhece de lado nenhum e que a única coisa que nos une é o facto de o trisa-tetra-avô ser primo em 5º grau, por afinidade do avô congénere dele, é considerado deselegante, quase sinal de má-educação...

-A sua mãe está, não está?(...) Não sabe quem é que fala?

- Pois, de facto não...

- É a prima Otília, mulher do falecido primo António Alberto...

- Ah, como está?! - tentei novamente parecer o mais cordial possível, disfarçando o facto de não fazer a mais pálida ideia de quem se tratava... - vou já passar à minha mãe.

- Mas escute - atacou a interlocutora - diga-me uma coisa: o meu Zé Manel fez um exame à prostata e diz que a próstata pesa 32 gramas... Acha que ele a deve tirar ou não?

- Pois, eu não tenho dados suficientes para responder a isso... - disse eu, mal disfarçando a surpresa - que idade tem o seu filho?

- Tem 53 anos.

- De facto não tenho dados suficientes nem sou especialista. Mas a prostata aumentada é normal em todos os homens a partir de uma certa idade... é melhor consultar um especialista... [ainda pensei em dizer o clássico "eu não sou de cá, eu só vim ver a bola. Sei onde é a cabana dos coiratos e a casa de banho...", mas contive-me...]

-Mas sabe onde há bons especialistas na próstata? Ouvi falar no Hospital da Luz, que é onde estão todos os especialistas bons em Portugal! É que se ele tiver que ser operado, quero que seja no Hospital da Luz, porque houve uma moça da minha terra que teve lá um filho e foi muito bem atendida!

- Especialistas bons há em muitos sítios... (...) Mas eu vou passar à minha mãe, está bem?

Depois do adeus da praxe, a minha mãe lá lhe explicou, pacientemente, durante cerca de 1 hora, que os hospitais privados normalmente fazem-se pagar bem, e que não era por a prostata pesar uns gramas a mais que seria logo operado.

Deste episódio tenho dois ou três pedidos de desculpa a fazer à minha família:

  1. Desculpem-me o facto de eu, talvez, numa atitude de indisciplina inconsequente, ter faltado à aula em que falavam sobre o peso do órgão, e não saber de cor o peso das próstatas alheias.
  2. Desculpem-me o facto de, só com esse dado, não ter conseguido dizer qual a manobra terapêutica necessária - uma prostatectomia radical, uma castração química, ou um tratamento psiquiátrico à mãe do futuro (ou ex-futuro, se o conseguirmos salvar a tempo) prostatectomizado...
  3. Desculpem-me o facto de não conseguir tomar essas decisões de ânimo leve. Tivesse eu coragem e a primeira coisa que faria depois do pequeno almoço seria prostatectomizar alguém... Mas não tenho. A única coisa do género que tenho umas luzes, não tão ténues quanto isso, de como se faz (mas que, aliás, é tremendamente eficaz...) é electroconvulsivoterapia... E essa não é uma decisão que se tome de ânimo leve, apesar de os riscos serem pequenos face ao benefício...


sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Os profissionais de saúde e a hipocondríase (ou a falta dela)

Serve esta conversa para, a pedido de uma ou duas famílias, falar sobre a mania das doenças.

Contra alguns ensinamentos sabiamente veiculados por certas correntes da psiquiatria/psicologia, vou fazer um self-disclosure. Preparados? Aqui vai: tal como há pessoas que têm um cão, um gato, um canário, um peixe ou um ácaro em casa, real ou imaginário, eu tenho uma asma de estimação, que de vez em quando passeio por onde quer que vá.
O problema destas asmas de estimação além de não poderem ser compradas nem vendidas em lojas de animais, é que, tal como os cãezinhos que insistem em fazer as suas necessidades em sítios impróprios, às vezes dão problemas chatos: a falta de ar, a "gataria no peito" que insiste em miar desmesuradamente, a tosse, as exclamações animadoras dos colegas "Tu estás tuberculoso!" e outras chatices que tais... E isto repete-se, na sequência de qualquer resfriado, constipação ou gripe, por mais pequeno que seja, tal como se repetem as promessas, feitas ao jeito de qualquer político que se preze, à família próxima: "Sim, eu vou ao médico. Eu ligo já amanhã para o dr. X (e aqui vai o nome do meu médico de sempre) para ele me ver!"

A minha atitude consubstancia uma de duas possíveis nos profissionais de saúde. Todos nós, desde o admministrativo até à senhora (ou senhor) que, felizmente, limpa o chão da enfermaria, nos classificamos em dois tipos, face à nossa própria saúde:
  1. Ou somos completamente hipocondríacos
  2. Ou nos estamos completamente a borrifar para todo e qualquer sinal ou sintoma que cheire,saiba, soe ou aparente ser relacionado com uma doença.

A maior parte das vezes, (mas nem sempre) temos a posição exactamente inversa em relação àqueles que nos rodeiam:

  1. Ou somos completamente obsessivos em relação ao mais pequeno sinal de que o outro possa estar com uma nódoa negra
  2. Ou dizemos "isso é cancro da próstata" sempre que a nossa tia de 85 anos nos relata, pela trigésima terceira vez na última hora, toda a vivência fenomenológica das suas artroses.

Por falar em nisso, confesso que é difícil lidar com a situação de os nossos parentes nos caçarem em reuniões de família, aproveitando sagazmente o intervalo entre dois croquetes para nos relatar as novidades mais recentes sobre o seu corrimento nasal. Curiosamente, um não pequeno número de vezes, começam a sua interpelação pela frase "Desculpe lá estar a dizer-lhe isto agora, mas fui ao médico das varizes e ele disse-me que..." E depois, invariavelmente, terminam com a sua pergunta sacramental: "O que é que acha?" ou "Que medicamento posso tomar para isto?"

A minha estratégia em relação a isso é, ou colocar o resto do croquete à boca, fingir um engasgo e tentar ir buscar um qualquer líquido, de preferência bebível, que possa deglutir, ou então responder com evasivas do género "Pois, o ... ( e aqui ponho o nome de um medicamento qualquer, de preferência de venda livre) é muito bom para isso, mas é melhor ir ao seu médico..."

Mas não me interpretem mal. Eu até simpatizo com os hipocondríacos.

Primeiro, porque admiro a arte de transformar uma inocente dor de cabeça num glioblastoma da pior espécie.

Depois porque acredito que a hipocondríase se pode tratar. Basta assumir-se que, em vez das trinta mil doenças, que curiosamente, se assemelham todas com cancro, se tem uma perturbação de ansiedade, aguda ou crónica, que associada à mania de ter o controlo sobre as coisas (e ao medo de o perder), tem o condão de ser dirigida ao corpo. (Vendo pela positiva, há quem a dirija em relação ao Benfica, aos filhos ou à economia...) Só que isso, o desmontar desses esquemas, demora tempo, e implica um trabalho psicoterapêutico e muitas vezes psicofarmacológico. E implica informação. Adequada, simples e racional, com dados probabilísticos claros (ao contrário do que aparece em certas bulas de medicamentos)... Por exemplo, qual é a probabilidade de uma dor de barriga ser o reflexo de uma carcinomatose peritoneal?

E depois, porque, qual lobisomem em noite de lua cheia, me transformo num hipocondríaco, quando por acaso sofro de coisas que não percebo muito bem a fisiopatologia... Mas aí, arranjo forma de controlar a ansiedade (que é adaptada à situação, entenda-se) e tento não perguntar aos médicos da minha lista de contactos se vou desta para melhor. Até porque não quero aumentar de forma demasiado indiscreta os lucros da minha operadora de telemóvel...