POETAS DE PARABÉNS
JÚLIO DANTAS
A
LUPA
Quatro meses depois dessa
hora dolorida
voltei, já resignado e quase
sem rancor,
ao ninho onde viveu aquele
imenso amor
que foi o grande amor de toda
a minha vida.
Compreendi, então - quanta
imagem querida!-
que pode haver encanto e
doçura na dor:
um perfume - era o teu -
palpitava em redor;
dormia num sofá uma luva
esquecida.
Uma luva e um perfume: é o
que resta de ti,
dos beijos que te dei, do
inferno que sofri,
do teu mentido amor de juras
desleais.
Que fui eu, afinal, na tua
vida intensa?
O perfume que voa e em que
ninguém mais pensa,
a luva que se deixa e não se
calça mais…
Júlio Dantas
Júlio Dantas, algarvio natural de Lagos, nasceu a 19 de maio de 1876 e faleceu em Lísboa,
em 25 de maio de 1962.
Formou-se em Medicina e foi político e escritor. Nas letras espraiou o seu talento pela prosa, dramaturgia e poesia, área em que aqui é evocado.