quarta-feira, 27 de abril de 2022

 POETAS DE PARABÉNS

ANA LUÍSA AMARAL




Criação Sonhada

Tanto
tempo a pensar
divino esforço
que adormecendo
deus sonhou consigo:

Sonhou braços e pernas
e cabeças,
sonhou paisagens
de mental pudor
conversas calmas
com o quase feito

E esforçado ficou
e exausto se quedou
ao ver-se assim traído
pela obra criada

Só em sonho
 

Ana Luísa Amaral






        Ana Luísa Amaral é uma poetisa portuguesa nascida em Lisboa, em 5 de abril de 1956.
        Vive desde criança em Leça da Palmeira.
        A sua obra, largamente premiada, para além da poesia espraia-se também pela prosa, nomeadamente no domínio da literatura infantil.

quarta-feira, 20 de abril de 2022

 POESIA BARROCA






O poeta na última hora da sua vida

Meu Deus, que estais pendente em um madeiro,
Em cuja lei protesto de viver,
Em cuja santa lei hei de morrer
Animoso, constante, firme e inteiro.

Neste lance, por ser o derradeiro,
Pois vejo a minha vida anoitecer,
É, meu Jesus, a hora de se ver
A brandura de um Pai manso Cordeiro.

Mui grande é vosso amor, e meu delito,
Porém, pode ter fim todo o pecar,
E não o vosso amor que é infinito.

Esta razão me obriga a confiar,
Que por mais que pequei, neste conflito
Espero em vosso amor de me salvar.

        Gregório de Matos






       

      


        Gregório de Matos nasceu em Salvador, em 23 de dezembro de 1636 e faleceu no Recife, 
em 26 de novembro de 1696, no Brasil.
        É considerado um dos maiores poetas do barroco em Portugal e no Brasil.
        Foi alcunhado de "boca do inferno", pelo destempero com que criticava a Igreja Católica,
incluindo padres e freiras.
        No poema apresentado revela, porém, a faceta religiosa em que foi educado.

 

domingo, 10 de abril de 2022

 CANTO DA PRIMAVERA


Canto da Primavera

Ao ouvir-se a melodia,
Logo ao romper da aurora,
Do canto da cotovia,
É porque chegou a hora,
Ao fim dum ano de espera
Do tempo da primavera.

Pelas quebradas dos montes,
Nos ermos andurriais,
Dançam as aves nas fontes
Em bailados nupciais.

Reverdecem arvoredos
Pelas bordas dos caminhos,
As aves contam segredos
No aconchego dos ninhos.

Em todo o tempo vernal,
Nos beirais em que se aninha,
Das aves a principal
Trissa alegre a andorinha.

O vento sopra rumores,
Leva segredos no ar,
Quer estremecer as flores
Sua corola beijar.

Flores de cor forte ou leve,
Cada qual com seu matiz,
Fazem a alegria breve
Da natureza feliz.

As aves nos seus trinados,
As flores no campo a abrir,
Festejam pelos valados
A natureza a sorrir.

Juvenal Nunes



domingo, 3 de abril de 2022

 POEMAS POR TEMAS





       Tema: Alegria

Alegria

Já ouço gritos ao longe
Já diz a voz do amor
A alegria do corpo
O esquecimento da dor

Já os ventos recolheram
Já o verão se nos oferece
Quantos frutos quantas fontes
Mais o sol que nos aquece

Já colho jasmins e nardos
Já tenho colares de rosas
E danço no meio da estrada
As danças prodigiosas

Já os sorrisos se dão
Já se dão as voltas todas
Ó certeza das certezas
Ó alegria das bodas

José Saramago








        José Saramago nasceu na Golegã (Portugal), em 16 de novembro de 1922 e faleceu 
em Lanzarote (Espanha), em 18 de junho de 2010.
        Ganhou o Prémio Camões em 1995 e obteve o reconhecimento internacional
da prosa em língua portuguesa vencendo o prémio Nobel, em 1998. 
        Como poeta deixou-nos um legado de três livros: Os poemas Possíveis (1996),
Provavelmente Alegria (1970) e O Ano de 1993 (1977).