O fenómeno das audiências televisivas, paradigma da guerra sem quartel e da falta de escrúpulos, não pára de me surpreender. Mundo louco, onde os agricultores, outrora jovens, que se esgadanhavam por jipes de alta cilindrada e montes no Alentejo, e hoje, mais sofisticados, preocupados com remessas de tomate e de milho virtuais, que nunca por sombra entrarão no circuito da cadeia alimentar ou cócegas farão no PIB, conquista-se velhos, velhinhas e desempregados com migalhas.
Impera a lei do menor esforço criativo e da esperteza saloia. Do evidentemente. Do óbvio que não seria de outra forma. Enterrados em dívidas até ao pescoço, enforcados e sem meios, a oportunidade surge ao virar de um botão. Pagam tudo. É uma beleza. Esmurrem os carros, excedam o limite de velocidade, comprem casas de um milhão, vão à Zara e comprem a loja toda. O génio da lâmpada está aí para vos ajudar. Com as audiências em troca. Muitas, de preferência. É que o povo é sereno e não desperdiça uma maravilha destas. E acha piada, claro.
Propõe-se, criativamente, um formato semelhante para acamados. Jogue e participe. Resolva as suas enfermidades connosco. Atire-se de cabeça à sua operação mais delicada. Pagamos tudo. De doenças do coração aos bicos de papagaio. Mas passe a palavra. Aqui, na televisão, não se fala de hipocrisia. O país vai bem e isto é só entretenimento. Puro e duro.
4 comentários:
Eu estou farta dos programas de entretenimento que passam nos nossos canais. Aparece um ou outro formato nos canais de cabo que me entretêm…
Acho que o fenómeno de audiências desses programas é à custa das mesmas pessoas que costumam param a ver acidentes de trânsito…
Tulipa!
Eu acho que é malta que passa o tempo a ver passar os comboios:)
Cat!
Ai não é, não:)
Ainda não tive o desprazer de contemplar tamanha maravilha... e é que nem sequer me imagino em situação de alguma vez o fazer.
anouc!
É hilariante, acredita.
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