Altura: 1,80 cm
Cabelos: negros
Olhos: negros
ANTONIO NAHUD entrevista OMAR SHARIF em
Madri, Espanha, 2003. Publicada no jornal “A Tarde” (BA) e no livro “ArtePalavra
– Conversas no Velho Mundo” (2003)
Nascido Michel Demetri Shalhoub em Alexandria, no Egito,
em 1932, o ator sempre teve uma vida confortável e privilegiada. O pai era um rico
comerciante do setor madeireiro e amigo do rei Farouk. Ele formou-se em
matemática e física na Universidade do Cairo e depois foi estudar arte
dramática na Royal Academy, em Londres. Mudou seu nome quando
iniciou a carreira artística ainda no Egito, há mais de meio século, e com ele
alcançou popularidade mundial interpretando títulos legendários como “Lawrence
da Arábia” (1962), “Doutor Jivago” (1965) ou “Funny Girl: a Garota Genial”
(1968).
Aos 72 anos, o eterno galã regressa ao cinema em
grande estilo no longa “Uma Amizade sem Fronteiras / Monsieur Ibrahim et les Fleurs du Coran”, do francês François Dupeyron, encarnando com rara
sensibilidade um pequeno comerciante muçulmano que se torna amigo de um menino
judeu pobre em um bairro de bordéis de Paris. “É um filme sensível e
inteligente”, disse OMAR SHARIF, falando perfeitamente espanhol, durante o
lançamento da produção na Espanha.
O ator egípcio partiu o coração de milhares de mulheres nas décadas de 60 e 70, e ainda
preserva o charme, o encanto e os olhos apaixonantes dos seus tempos de glória.
Nessa concorrida coletiva de imprensa, ele falou sobre sua vida pessoal e profissional, abordando aspectos polêmicos como seu vício em bridge.
Amante de mulheres fantásticas como Ingrid Bergman, Maria Callas, Olivia de Havilland, Julie Andrews e um largo etcétera, atualmente vive sozinho em
um quarto de hotel em Paris. Por que esta reclusão que contradiz seu poder de sedução?
Desde que me divorciei em 1968, não
voltei a amar, não tive mais vontade de casar. Sem amor, prefiro viver sozinho.
Claro que tenho pequenas aventuras, mas nada que me comprometa. Vou a uma discoteca e encontro uma garota
adorável, ficamos juntos uma noite e está ótimo. Nem ao menos convido para meu quarto
de hotel. Tenho medo que ponha os pés em minha moradia e não volte a sair.
Por que vive em um hotel?
Não há nada melhor para um solitário do que viver em
um hotel. Ganhei dinheiro, mas nunca liguei para essas coisas. Não tenho casas nem carros... não me interessam. As pessoas me interessam.
Como traduz sua paixão pelo luxo e pelo jogo, principalmente
o bridge?
Não são tão importantes em minha vida assim como
dizem. Como sou sozinho, chego a um lugar e não sei bem o que fazer, então vou
ao cassino. Tenho uma relação estranha com o dinheiro, porque ganhei muito sem
compreender bem o motivo, e para evitar problemas de consciência procuro gastá-lo. Nunca
entendi porque me pagam tão bem. Ninguém merece ganhar tanto. Por isso
me transformei em jogador, não para ganhar dinheiro, mas para perdê-lo.
Também vivo bem quando não tenho dinheiro. Compro um sanduíche e vou para
a cama. Tendo dinheiro me sinto na obrigação de gastá-lo.
É atraente e provoca paixões arrebatadoras.
Pauline Kael, a rígida crítica de cinema do “The New York Times”, tinha razão ao defini-lo como o “próprio amor andando”. Como traduziria esse simbolismo sexual que deu a
volta ao mundo?
É pura invenção do cinema. Sou apenas um sujeito que
nasceu no Egito e tem um caráter oriental. Sou melodramático, gosto de abraçar,
cantar, conversar, não tenho medo de chorar. Gosto de acordar ao meio-dia, ir a
ópera, teatro, corridas de cavalos, fazer palavras cruzadas. O resto é
mito.
Um mito surgido no clássico “Doutor Jivago”?
Fiz mais de 90 filmes e sou sempre lembrado por
“Doutor Jivago”. A verdade é que não
sou grande admirador desse drama muito sentimental. Está mais para o público
feminino. Um pouco como “...E o Vento Levou”, uma história romântica com o
drama de uma guerra civil como pano de fundo. É uma grande história de amor muito romântica para mim. A considero a música insuportável.
Prefere “Lawrence da Arábia”?
Grande filme, Merece estar em todas as listas
dos melhores filmes da história do cinema, mas tampouco suporto me ver nele.
Talvez uma ou outra cena, nada mais.
Como foi a experiência com David Lean e Julie Christie em “Doutor Zhivago”?
Não me recordo. Não pense que estou sendo grosseiro,
apenas não sou capaz de recordar-me nada que tenha a ver com o passado. Decidi
que o passado não existe. Apaguei tanto as coisas boas como as ruins. Vivo o
aqui e o agora. Recordações e sentimentalismo são emoções negativas, eu sou
uma pessoa positiva.
Não lembra dos altos e baixos da sua longa carreira como
ator?
O que posso dizer é que sempre fui um homem de
sorte. Nasci numa família com dinheiro, nunca tive enfermidades, fui nominado
ao Oscar, ganhei três Globos de Ouro, sempre
vivi de acordo com meus princípios e tive um filho adorável.
Fiz alemães, príncipe austríaco, russo e tudo mais
que se possa imaginar. O sotaque deu a
impressão de um ator sem nacionalidade definida. Ele é estranho, não revela de
onde venho. Quando era uma estrela, escreviam papéis para mim. Agora sou
um ancião, é bem diferente.
Depois de cinco anos sem filmar voltou com
“Uma Amizade sem Fronteiras”, ganhando o César de Melhor Ator.
Como explica esse regresso?
Nos últimos vinte anos fiz muitos filmes ruins e
queria resgatar a dignidade, ganhar o respeito dos netos. Decidi que
não voltaria a trabalhar, exceto se me oferecessem um bom roteiro. Chegou o deste filme e eu chorei ao lê-lo. Fala de solidão, tolerância, amor ao próximo independente de religião ou crença. O senhor Ibrahim está próximo do meu coração. Eu sou assim: minha religião é amar ao próximo.
Cada manhã levanto disposto a querer o bem. Nunca fiz mal a ninguém.
Posso odiar quem me trata mal, mas jamais odiaria alguém por ser
negro, muçulmano ou judeu.
São tempos duros, um filme sobre o
diálogo entre culturas diferentes é bem vindo.
Infelizmente, na vida real ultrapassamos o limite e
já não há possibilidade de diálogo. A democracia não mais existe. Os lobbies mais poderosos empurram seus
representantes para o poder e estes garantem os interesses de quem os
colocou lá. Onde está a democracia? Tudo me parece corrupto.
Quais os seus planos para o futuro?
Não sei se vou viver muito tempo, portanto vivo cada
momento como se fosse o último. Nos próximos meses pretendo rodar três filmes.
Um deles é uma versão de “O Velho e o Mar”, de Ernest Hemingway.
10 FILMES de OMAR SHARIF
(por orden de preferencia)
01
DOUTOR JIVAGO
direção de David Lean
elenco: Julie Christie, Geraldine Chaplin, Rod Steiger,
Alec Guinness, Tom Courtenay, Siobhan McKenna,
Ralph Richardson,
Rita Tushingham e Klaus Kinski
02
LAWRENCE da ARÁBIA
direção de David Lean
elenco: Peter O'Toole, Alec Guinness, Anthony Quinn,
Jack Hawkins, José Ferrer, Anthony Quayle,
Claude Rains e Arthur Kennedy
03
A QUEDA do IMPÉRIO ROMANO
direção de Anthony Mann
elenco: Sophia Loren, Stephen Boyd, Alec Guinness,
James
Mason, Christopher Plummer, Anthony Quayle,
John
Ireland e Mel Ferrer
04
A NOITE dos GENERAIS
direção de Anatole Litvak
elenco: Peter O'Toole, Tom Courtenay, Donald Pleasence,
Philippe Noiret, Christopher Plummer e Juliette
Gréco
05
A VOZ do SANGUE
direção de Fred Zinnemann
elenco: Gregory Peck, Anthony Quinn, Raymond Pellegrin,
Paolo Stoppa, Mildred Dunnock e Christian Marquand
06
FUNNY GIRL: a GAROTA GENIAL
direção de William Wyler
elenco: Barbra Streisand, Kay Medford, Anne Francis
e Walter Pidgeon
07
Os POSSESSOS
direção de Andrzej Wajda
elenco: Isabelle Huppert, Jutta Lampe, Bernard Blier,
Laurent Malet e Lambert Wilson
08
Uma AMIZADE sem FRONTEIRAS
direção de François Dupeyron
elenco: Pierre Boulanger e Isabelle Adjani
09
O ENCONTRO
direção de Sidney Lumet
elenco: Anouk Aimée e Lotte Lenya
10
FELIZES para SEMPRE
direção de Francesco Rosi
elenco: Sophia Loren, Georges Wilson e Dolores del Rio
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