A MUSA SEM MÁSCARA
Muitas das "cantoras do rádio" e algumas da atualidade - sem qualquer consciência crítica - emprestaram ou emprestam seus talentos vocais à difusão de canções que depoem contra a imagem da mulher com letras totalmente depreciativas. Evidentemente, isso tudo é porque são, invariavelmente, impulsionadas pelo sucesso alcançado por tais letras e a extensa repercussão alcançada por temáticas desse tipo, perante o grande público a que sempre a música se destinara e que não se tocava ao ouvir mulheres, principalmente, reproduzir ponto de vista, representação, pensamento, idéias, situações ou questões, propositadamente, bruscas, machistas, racistas e misóginas contidas nos versos da narrativa musical .
Vejamos , por exemplo - no período de ouro do rádio - a que ponto chegava a alienação das nossas intérpretes. Basta fazer uma leitura mas acurada das inúmeras letras de músicas gravadas por mulheres - do cast radiofônico - nas décadas de 30 a 50. Veremos, com bastante clareza, que a maioria delas, não tinham critério algum na escolha dos seus repertórios. Principalmente, quando o motivo inspirador dos autores centrava na pessoa da mulher.
Para se ter uma idéia do que estou falando, escolho aqui, uma música de 1950, intitulada "Nega Maluca", autoria de Evaldo Rui e Fernando Lobo. Renato Vivaccqua revela no seu livro Música Popular Brasileira (história da sua gente) que os autores da música e letra fizeram na intenção de entregar para ser gravada por um intérprete homem. Tanto é que, ela foi oferecida a dois cantores, inicialmente. Mas, os dois recusaram-se terminantemente a gravá-la alegando o caráter extremamente depreciativo da personagem mulher. Enfim, terminou sendo lançada na voz de uma cantora.
Agora, prestem toda atenção possível na temática da música, trancrita ipse litere:
Tava jogando sinuca
E uma nega maluca
Me apareceu.
Vinha com o filho no colo
E dizia pro povo
Que o filho era meu:
Meu senhor,
Toma que o filho é seu!
Meu senhor,
Guarda o que Deus lhe deu!
Há tanta gente no mundo
Mas, meu azar é profundo.
Veja você meu irmão,
A bomba estouro na minha mão.
Tudo acontece comigo,
Eu que nem sou do amor.
Até parece castigo,
Ou então, influência da cor.
Facilmente, pode-se detectar que o teor dessa música evidencia um preconceito duplo contra o gênero feminino: primeiramente, o racial discriminador da mulher negra, que a detratava em função da cor da pele(não sei se posso afirmar aqui com tanta certeza que a mulher negra naquelas décadas era mais discriminada e se hoje é menos. Aí fica a duvida cruel: SERÁ!?!?!). O outro preconceito que recaia sobre a mulher em geral e é mais evidente quando se referia a mulher negra, era o preconceito moral, o qual, penalizava a mulher mãe solteira - sem dó nem piedade. Sem contar que, a letra na sua essência, era uma exortação à paternidade irresponsável, tão comum , ainda hoje, ao homem brasileiro.
Continuo em breve