26 maio 2004


 Posted by Hello

Luz do meu ser infinito


Estamos não sei em que tempo no futuro. Não interessa. Apesar de todo o progresso ainda somos humanos. Continuamos a ter as nossas fragilidades e os nosso medos. Mas mais ainda o pesar. A dor de perder para sempre. Mesmo quando se perde tarde.
Eu perdi. E como dói perder!
Esta dor aguda feita toda ela de ausência, uma ausência que nada enche ou preenche. Esta dor que nos apanha inesperadamente nos pequenos gestos quotidianos, ou aparece vinda de lugar nenhum, trazida da memória por coisas fugazes e banais.
Fiquei sem ela, aquela a quem eu amava, a quem mais queria. Um dia, de repente, num dia lindo de Sol, tudo ficou negro. Mais negro ainda do que o vazio do Cosmos.
O tempo passou e aprendi a suportar a dor de a lembrar...
Dizem que há uma coisa que é infinita enquanto houver Universo: a luz!
Por isso, tive de a transformar em infinito, em luz. Há em minha casa uma luz que me recebe e onde mergulho de olhos fechados. Há um som suave, um murmúrio do amor que saía dos seus lábios.
Quando chego a casa sou recebido pelo holograma dela que me recebe e me sorri: a luz do meu ser infinito...

21 maio 2004


freeimages.co.uk Posted by Hello

Silêncio Frio


-- Estás aí? Sei que estás aí... Vens perseguir-me, vingar-te dos dias anteriores. Mas és cruel... Eu amei-te, lembras-te? Para que me vens ensombrar os dias e as noites? São bem piores as noites... Ao menos se me deixasses sossegada durante as noites... Estou cansada! Não compreendes que estou cansada? Não podias morrer de vês? Não? Havia ternura no teu olhar, agora é só vazio, um ódio infinito. Mas morto que mal me podes fazer? Hein? Não falas? Não dizes nada? Ah Ah Ah! Estás morto... Não podes dizer nada. Apenas podes ficar a olhar para mim com esses olhos infinitos de um ódio que nunca sentiste... Talvez não seja ódio, talvez seja frustração, um profundo desespero. Mas não... Se há alguém que desespere sou eu! Se há alguém para quem a morte pode ser um alívio sou eu! Estás a chamar-me? Sim? Querido... Querido amor, para sempre nesse silêncio frio...

20 maio 2004


 Posted by Hello

Solidão Madrasta


Estava á espera... Tinham prometido voltar mas o tempo passava e ninguém voltara. Teriams esquecido? Ele ainda os lembrava a todos: a Dina, a Sofia, o Ricardo, o João.
Eram a equipa que descera ao planeta. Depois as coisas complicaram-se, a nave não aguentava o excesso de peso, ele ficou. Voluntariou-se para ficar. Ficaram também todos os equipamentos. Partiram só eles. Teriam morrido?
Se eles tivessem morrido, então ele estaria condenado a ficar ali para sempre, sem que ninguém o viesse buscar. O sistema de comunicações da nave tinhas sido arrancado. Fora mais uma coisa para aligeirar o peso da nave. Apenas tinham levado um radio de emergência, daqueles que emite um SOS continuo.
Será que... Tinham sido salvos e não voltaram inventando uma desculpa quanto a ele? Ele era o membro mais recente da tripulação, e pensando bem... Havia uma grande intimidade entre os quatro, intimidade que ele nunca partilhou. E lembrando bem, era capaz de lembrar-se deumas quantas vezes em que chegara e as conversas deles tinham parado. Nunca pusera grande significado nisso, as pessoas tem direito á sua privacidade, mas agora...
Também quando se ofereceu para ficar eles sorriram-lhe, mal se despediram dele. Era verdade que estavam todos nervosos, o importante era alguém sair dali para ir buscar ajuda. Mas podia ter ido só um, em vez de ficar só um. Se calhar facilitara-lhes os planos! Que idiota!

O vento do planeta soprou na sua direcção e despenteou-lhe os cabelos compridos. Estava há 2 meses no planeta, sem contacto com ninguém. Era um planeta periférico e nem eles sabiam muito bem a localização. Quando a nave avariara, andaram á deriva, e os instrumentos haviam deixado de funcionar. Cairam ali.

Comera dos frutos das árvores do planeta. Frutos que nunca vira, nem nunca saboreara. As rações de emergencia tinham acabado, e tinha de arriscar. Tratava-se de sobreviver.

A solidão madrasta punha-lhe ideias na cabeça...