
A cidade da Beira nasceu em 1897, no então chamado posto do Aruângua e recebeu a categoria de cidade com a visita de D. Luiz Filipe (o Príncipe da Beira) em 1907.
A localização talvez não seja das melhores dado que a cidade está em grande parte abaixo do nível do mar, e por isso sujeita a cheias periódicas, e numa zona pantanosa.

Cheias nos anos 60
A guerra civil que durou entre 1976 e 1992 mais do que quadruplicou a população da Beira surgindo inúmeros bairros de construção precária e desordenada e ocupando áreas sistematicamente sujeitas a alagamento (o ano passado em Fevereiro, sem grandes chuvas, estavam bastante alagadas).

Zonas alagadas em 2018
Sempre que por lá passo vou assistindo a uma lenta mas convicta recuperação: as avenidas esburacadas foram pavimentadas com materiais mais resistentes à combinação chuva-calor; a marginal sempre ameaçada pela erosão costeira (ver aqui) foi recuperada e as praias carregadas com areia; surgiram edifícios novos que revelam um dinamismo económico crescente em muito associado ao porto e ao escoamento do carvão de Tete; o número de universidades tem vindo a aumentar; foram construídas ETAR; o sistema de drenagem foi recuperado, como até já tínhamos mostrado aqui, dando lugar a corredores verdes e conjuntos de canais que se vêm na fotos aéreas abaixo.


Outro problema da Beira é estar no caminho das depressões meteorológicas que por vezes se transformam em ciclones, como também já uma vez relatámos aqui.
Agora foi mais um, o Idaí, o ciclone mais devastador que aconteceu no hemisfério sul. E a Beira sofreu bastante, em especial as inúmeras zonas de construção desordenada. E não sofreu mais porque o novo sistema de drenagem apesar de ainda não está completo já deu resultados.
Depois da catástrofe, lembrei-me de uma apresentação que vi feita por um holandês, Henk Ovink, sobre os projectos para a recuperação feita na sequência do furacão Sandy. E achei que era bom se ele pudesse intervir na Beira. E não é que já interveio? A Beira tem um plano para 2035 (ver aqui o vídeo de apresentação) feito por holandeses (Witteveen+Bos, NIRAS, Deltares) incluindo esse e envolvendo a participação da população.
O plano, para além das questões da drenagem já em curso, prevê também utilizar as dragagens de acesso ao porto para reforçar as praias e ordenar toda a componente urbana, incluindo novos bairros e sobretudo muitas áreas verdes, construindo com a natureza.


Parece-me que esta é uma boa oportunidade para o pôr em prática e transformar a Beira numa cidade moderna, bonita e resiliente.