Está a fazer um ano que a Rita me entrou em casa, ao colo de uma amiga que a tinha trazido directa do Azeitão para este local do litoral nortenho, assustada, carente, maltratada.
Confesso, que me apaixonei de imediato por ela. Aliás, acho que nos apaixonámos uma pela outra. A Rita saltou-me para o colo e não deixou que mais ninguém lhe tocasse. Pouco mais de um quilo pesava e desaparecia completamente nos meus braços, apesar dos seus oito anos de idade.
Fiquei estarrecida ao perceber que fizera aquela viagem e que a tinham oferecido, por não a quererem mais. E lembro-me de ter pensado, "como é possível, alguém querer livrar-se de um animal que esteve consigo durante oito anos?"
Mas a Rita tinha sido oferecida à minha amiga e foi a custo que a tirei dos meus braços, para os braços dela. Não dormi a noite toda a pensar o que estaria ela a sentir (sim, porque os animais também sentem, apesar de muita gente pensar o contrário…) fora do local e das pessoas com quem tinha convivido durante tanto tempo.
Quis o destino que a minha amiga tivesse planeado uma viagem ao Algarve, aproveitando o feriado do 1º de Maio e perguntou-me se eu podia ficar com a Rita enquanto a viagem durasse. Exultei de alegria. Nos dias que se sucederam, a Rita foi a princesa aqui de casa e ela correspondeu com uma doçura tamanha, que até o Sting não se importou de me partilhar com ela. Obediente, dócil, fazia as delicias de quem a via. Até um novo corte de “cabelo” deixou que lhe fizessem, já que o seu aspecto descuidado me mereceu um tratamento super especial.
Quando o telefone tocou, a avisarem-me de que as mini-férias tinham terminado, o meu coração apertou-se. Não a deixei ir nesse dia. Não fui capaz. Mas quando a levei à sua nova casa, foi com lágrimas nos olhos que saí de lá. Acabei por não dormir outra noite. O Sting, com uma imensa tristeza, olhava para a camita da Rita vazia e, choramingava.
Também ele sentia saudades da miniatura, como carinhosamente lhe chamávamos.
Já tarde adormeci, por isso quando o telefone tocou, manhã cedo, dei um salto da cama e corri a atender com um ligeiro pressentimento, quando do outro lado, a voz preocupada da minha amiga, dizia-me que a Rita não estava bem, não tinha comido e tinha chorado a noite toda e perguntava-me o que lhe teria acontecido.
Num ápice, estava na estrada, a galgar os quilómetros que me levaram a um encontro que, ainda hoje, me comove a recordar. A Rita mal me viu, mudou por completo. E quando me baixei para lhe pegar, "lavou-me" literalmente o rosto, aninhando-se no meu colo e não deixou que mais ninguém lhe tocasse.
Bem… a resposta estava ali. A Rita tinha-me escolhido para ser a sua nova dona e assim o entendeu a minha amiga.
Hoje a Rita, tão diferente do dia que aqui chegou pela primeira vez, é uma menina cheia de mimo e que manda no Sting sem cerimónias.
Ele por sua vez, não se importa de partilhar o açafate dos brinquedos com ela, nem os mimos que vou distribuindo a ambos, com todo o carinho que eles merecem.
Esta é a história da Rita e do amor que me une a ela…