Quem é que se lembra destes fantásticos livros verdes, de capas e ilustrações aterradoras, histórias do mais agreste possível e uma capacidade de sugar horas superior a muita "literatura a sério" que já li?
As Aventuras Fantásticas eram espectaculares! A escrita não era particularmente extraordinária, e havia pedaços de história que davam vontade de chorar de tão maus que eram. Mas o conceito? Genial.
Para quem não conhece, estes livros são jogos. Não se lêem de uma ponta à outra, e raramente se percorre a mesma história duas vezes.
Primeiro há uma explicação de como tudo funciona, depois um quarto de marcações e depois começa a história, com uma ou duas páginas de "ambiente", normalmente. O livro dirige-se a nós, leitores, e diz-nos que somos um herói qualquer, ou o valente capitão de uma nave espacial qualquer, ou algo do género, sempre bastante heróico, e conta-nos o problema principal. Depois disso, atira-nos para o mundo!
É então que se lê o parágrafo marcado como 1. No fim temos escolhas, que levam a parágrafos diferentes, e conforme decidirmos, vamos afectar a história que vamos ler/viver.
Pelo meio há porrada, artefactos mágicos ou tecnologia fantástica, monstros aberrantes ou mutantes espaciais, um sem número de missões secundárias, enigmas, situações complicadas e mortes, muitas mortes. Ou escolhemos mal o parágrafo e caímos num poço, ou não conseguimos derrotar uma criatura qualquer, ou bebemos do frasco errado e somos transformados num sapo que é esmagado por uma rocha... Há mais formas de morrer do que outra coisa.
Mas isso adiciona um elemento de perigo, de suspense... Nunca se sabe muito bem o que é que vai acontecer depois de se virarem mais algumas páginas.
Já para não falar das ilustrações, invariavelmente fantásticas. Algumas são um bocado mórbidas. Um zombie com a cara meio derretida a cair não é das visões mais agradáveis de sempre, mas os desenhos são bons, dão mesmo uma sensação de repulsa e de medo.
Uma das coisas mais engraçadas era quando se começavam a fazer mapas. Volta e meia um tipo cansa-se de ser chacinado por abelhas gigantes, um unicórnio enfurecido, um calhau mal preso ou umas botas que dão ataques cardíacos. É nessa altura que ao jogar, se vai fazendo o mapa, indicando o que aparece em cada parágrafo.
O nível de cromice e de entrega é gigante. Quando eu decido pôr de parte algum do meu tempo para agarrar numa folha e ir fazendo o mapa dos caminhos que percorro num livro/jogo... Muito bom.
Mas sinceramente, já nem sei como é que o primeiro me chegou às mãos, nem qual foi. Só sei que sempre tive um certo fascínio por estes livros, de tal forma que ainda hoje pego neles com bastante regularidade. É óbvio que já raramente jogo a sério, com dados e tudo, mas ir avançando e ganhando sempre é bastante agradável.
E já mencionei que alguns eram de fantasia e outros de ficção científica, com todos a puxar para o terror? Ainda há pouco tempo estive a conversar com o pessoal da oficina de escrita, e não pareceram grandes fãs dos de FC, mas eu cá gostava. Os de fantasia eram melhores, provavelmente porque permitiam mais bodega, mas eu deliciava-me com todos.
Fico fascinado com o mecanismo de jogo, e bato palmas a quem inventou este sistema. Só me falta agora é ter a colecção toda!