Vivemos num mundo de conflitos. A nossa sociedade está fundada sobre uma cisão básica entre o sentir e o pensar, entre a razão e as emoções. A primazia da razão apresenta-se ainda nos nossos dias com feições diversas, mas de forma evidente na educação que privilegia o saber científico e a preparação profissional como meio de alcançar somente as vantagens económicas, o poder, o “status”, cultivando o individualismo.
De acordo com Mesquita (2003) o momento conturbado que presenciamos é sintoma de uma sociedade que não criou apreço pelos valores e acabou por formar adultos sem referenciais de cidadania e de respeito pelo próximo. Educar para valores, segundo o autor, é mais do que simplesmente falar e conceituar os valores de forma expositiva. A verdadeira educação para valores é aquela que cria espaços e condições para que o educando possa experimentar, identificar e incorporar os valores positivos ao seu modo de ver, viver e conviver.
Neste sentido, faz-se necessário repensar a maneira de educar as crianças e os jovens, modificando a educação pautada na transmissão de conhecimentos apenas racionais, na obtenção de notas e diplomas para a formação de pessoas conscientes da realidade em que vivem sendo críticas e comprometidas com uma acção transformadora visando uma humanidade melhor.
Mesmo vivendo numa época de mudanças aceleradas em todos os campos, tecnológico, moral e político, os jovens estão à procura de elementos e experiências que os ajudem a encontrar o sentido da própria existência e a construir um projecto de vida. A arte (artes visuais e plásticas, a música, o teatro, a dança, entre outros) surge na formação de crianças e jovens como um instrumento de desenvolvimento de suas habilidades intelectuais, criativas e sociais e como forma de expressão e ressignificação (dar novo significado a) de sentimentos e emoções.
A Arte é uma manifestação humana ancestral, um modo singular de conhecimento, de interpretação e intervenção, na realidade, que não se deixa substituir por nenhum outro (Barbosa e Sales, 1990). Experiência fundamental de liberdade de expressão, de memória e desenvolvimento da cultura, a produção artística tem a peculiaridade de transcender o tempo histórico, por meio de transgressões e rupturas, de projecções e criações imaginárias. Assim, a Arte é profundamente humanizadora, até mesmo quando devolve ao ser humano imagens de sua própria desumanização.
Para Duarte (2003) a finalidade da Arte-Educação é o de desenvolver uma atitude mais harmoniosa e equilibrada perante o mundo em que os sentimentos, a imaginação e a razão se integrem de forma a que o educando, através do contacto, da análise e da experiência com as diversas modalidades de expressão artística, elabore seus próprios sentidos em relação ao mundo à sua volta.
Segundo Torres, Coelho e Silva (2003), no processo de ensino-aprendizagem de Arte, o jovem deverá ter a oportunidade de:
■conviver com as diversas formas de Arte e com as diversas linguagens artísticas (música, artes plásticas e visuais, artes cênicas, dança…);
■experimentar a expressão de emoções, sentimentos e ideias pessoais por meio das diversas linguagens oferecidas pela arte;
■ampliar a percepção, a imaginação e a capacidade de expressão criativa;
■descobrir e aprimorar suas potencialidades em Arte;
■valorizar a Arte como forma de crescimento pessoal, como experiência lúdica e humanizadora;
■resgatar o saber artístico acumulado pela humanidade e expresso na produção artística dos diversos estilos e períodos da história da Arte;
■valorizar a Arte como forma de conhecimento, interpretação e transformação da realidade e reconhecer a transcendência da Arte como linguagem universal.
A expressão artística é um canal para confrontar e organizar concretamente as emoções e o pensamento. O pensar é um processo múltiplo e alternante e não é constituído exclusivamente pela palavra. Os procedimentos cognitivos inerentes a uma actividade artística não são, nem mais nem menos, importantes do que aqueles desenvolvidos numa actividade científica. Só é possível ao ser humano acumular conhecimentos graças à sua faculdade de simbolizar e a actividade artística é importante por estar directamente ligada à função simbólica.
O cultivo da criatividade é outro benefício da arte. Entende-se por criatividade “o processo de identificar a dificuldade, buscar soluções, formulando hipóteses a respeito das deficiências; testar e retestar estas hipóteses; e, finalmente, comunicar os resultados.” O jovem criativo reflecte sobre si mesmo e sobre o mundo e age de forma a encontrar novas soluções para os desafios tornando-se protagonista de sua própria história.
Os educadores, pais e terapeutas devem ter o compromisso de mediar as experiências dos adolescentes nas actividades artísticas, para que eles possam vivenciar, eleger e incorporar valores positivos e éticos ao seu modo de viver e conviver.
Deste modo, poderemos acreditar na educação como fonte de transformações positivas para as futuras gerações. Depende de mim, de si e de todos nós!
Fonte:
BARBOSA, A.M, SALES, H.M. (org). (1990) O ensino da Arte e sua História. São Paulo: MAC/USP.
DUARTE, J. F.(2003). Porque Arte-Educação. São Paulo, Campinas: Editora Papirus.
MESQUITA, M.F.N.(2003). Valores Humanos na Educação: uma nova prática na sala de aula. São Paulo: Editora Gente.
TORRES, C. C, COELHO, M. M. I, SILVA, S. E.M.(2003) Manual do Professor- Arte. Rede Pitágoras: Belo Horizonte: Editora Universidade.