Nem luz, nem trevas
Era como se naquele
dia o sol tivesse saído mais cedo do que
de costume, atraído pelo cheiro do bolo de cenouras feito numa casa simples e
quase solitária.
Os amantes
revolviam-se nos lençóis, ainda era cedo para a despedida, o relógio parecia
conspirar contra aquela felicidade.
[É hora de partir!] disse
ela beijando o rosto que amou na tão esperada noite,[ alguém te espera para o
café da manhã, outro alguém te espera para dar beijos na testa e ser conduzido
para a escola.]
As lâminas do
amor sempre aparecem, retalhando sonhos,
não importa qual seja o tamanho desse sonho.
A vida tinha que
seguir o seu percurso, a realidade era auto-sugestionável.
Despedir-se –iam naquela manhã rubra, a carne ainda quente, o
gosto do outro na ponta da língua, no coração
um medo estranho, a imagem daquele abrigo, distanciando-se...
Jana Cruz