A AIDS, muito mais do que o câncer, ainda é um grande alvo de preconceito. A ignorância é tanta, que muita gente "acha" que é uma resposta de Deus às vidas "desregradas" de algumas pessoas. Como se a contaminação pelo HIV estivesse restrita a determinados grupos, os famosos grupos de risco, tão divulgados e delimitados nos anos 1980 e 1990. Estudos recentes mostram que há um grande número de mulheres certinhas, daquelas que vivem apenas para suas famílias, que foram infectadas dentro de casa, por seus próprios maridos. Afinal, essa sociedade machista e arcaica em que o homem pode tudo ainda não deixou de existir. Não estou a fim de procurar esses dados e copiá-los aqui, portanto, este é um post-desabafo, raso, mas sem nenhuma informação errada.
Levanto aqui a bandeira da educação, do combate à ignorância e à intolerância. Precisamos unir forças em todos os lugares, em favor de nós mesmos. Sim, uso "NÓS", pois essa é uma realidade de nosso tempo, não podemos fingir que estamos isentos dela. Mais cedo ou mais tarde encontraremos pessoas portadoras do HIV em nosso caminho. Eu já encontrei algumas, e cada uma me ensina algo primoroso com o seu exemplo, com o seu modo de viver ou de morrer, com o seu modo de encarar ou de fugir da realidade. Não entrarei em detalhes, mas logo que a humanidade descobriu essa doença, conheci alguém contaminado. Depois, vieram as pessoas públicas (Cazuza, Freddie Mercury, Lauro Corona, Sandra Bréa, Renato Russo, Magic Johnson, Caio Fernando Abreu, entre muitos outros) que também foram contaminadas por N circunstâncias, crianças de uma instituição beneficente que visitávamos, adultos de outra instituição, até amigos e familiares.
Quando se tem alguém na família ou um amigo próximo contaminado, a pergunta que quase todos se fazem é o famoso "SERÁ QUE EU TAMBÉM TENHO?"
Comigo não foi diferente. Mas ao mesmo tempo, a certeza de que não tinha era real, pois eu era apenas uma criança quando isso ocorreu pela primeira vez. Mas a gente sempre cisma e chega até a perceber o que não existe, sinais/sintomas que qualquer gripe ou alergia provocam são logo supervalorizados pelo medo que nos assola impiedosamente. Aos poucos isso passa, e conseguimos lidar de outra maneira com essa realidade.
Há pessoas que preferem se isolar, se preservar do resto do mundo, que escondem de todos a realidade, tentam negá-la pelo próprio preconceito, pela própria falta de força para enfrentar os desafios da vida. E se não fosse a AIDS, outro motivo faria com que sucumbissem, afinal, fraqueza e força não são transmitidas pelo vírus, mas compõem o próprio indivíduo, que nos mais diversos âmbitos de sua vida tem oportunidades de triunfar ou fraquejar conforme seus esforços ou negligência, com a doença e seu enfrentamento não é diferente.
E é pela união de forças de várias pessoas que lutam por ideais comuns, pelo bem comum que as conquistas chegam.
Assim como muitas pessoas têm diagnósticos de diabetes, hipertensão, reumatismo, e tantas outras patologias, aprendemos que alguém ser portador do HIV ou mesmo desenvolver a AIDS, não é uma sentença de morte. Muito menos uma sentença de sofrimento atroz ou infelicidade permanente. NÃO!
A vida sempre segue. E no correr da vida, tudo pode acontecer. Tudo pode se transformar em dias bons ou ruins, em paisagens belas ou feias, momentos alegres ou tristes. E esse "tudo", depende principalmente das escolhas individuais, da vontade ou não de viver bem.
Há pessoas, como o saudoso sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, contaminado com o HIV durante seu tratamento para hemofilia (doença hereditária que seus irmãos Chico Mario e Henfil também herdaram), mesmo tendo esse diagnóstico devastador nos anos 1980, ainda pensa em fazer o bem a pessoas que sequer conhece. Lembram-se da Ação da Cidadania Contra a Fome, a Miséria e Pela Vida?
Há pessoas como a também saudosa princesa Diana, que abriu o primeiro hospital inglês para o tratamento de aidéticos, em cuja inauguração, apertou as mãos dos pacientes sem usar luvas, ajudando a quebrar o preconceito.
Nos últimos tempos, tem-se verificado no Brasil um fato muito preocupante: o aumento do número de bebês infectados pelo HIV. Isso se deve ao crack. Muitas meninas que fumam crack têm engravidado, não fazem qualquer acompanhamento médico durante a gestação, e seus filhos são vítimas da contaminação vertical durante o parto ou amamentação. É mais do que triste saber disso numa época em que muitas mães, portadoras do vírus, conseguem gerar seus filhos totalmente saudáveis. Não que seja recomendável ter um filho biológico sendo portador do HIV, mas no acompanhamento pré-natal já se é capaz de orientar e prevenir a contaminação do feto. E, depois do nascimento, há também uma medicação anti-retroviral, em xarope, capaz de tratar muito bem os bebês, e fazê-los eliminar os anticorpos dessa doença.
A AIDS foi uma importante alavanca para a conscientização e a adoção de medidas preventivas de contágio na manipulação do sangue, como o uso de luvas, os testes sorológicos obrigatórios, a esterilização constante e eficaz de equipamentos, o uso obrigatório de materiais descartáveis, o destino correto de materiais perfuro-cortantes... Enfim, apesar de ainda ser um grande desafio à saúde, por não haver cura, a AIDS trouxe também progresso, crescimento profissional, melhoria no controle de infecções hospitalares, levantamento de questões éticas, quebra de patentes de medicamentos de alto custo para seu tratamento pelo governo brasileiro, estabelecimento de uma política pública de saúde mais responsável e humanizada. Devo ressaltar que a saúde brasileira ainda está muito longe do que ideal que deveria atingir, principalmente de sua presteza em atender quem precisa de cuidados, mas não podemos negar os seus avanços.
Abraços,
C@rin