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segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Janaínas e Iemanjás Musicais II

Semana passada fiz uma postagem, de cunho bastante afetivo, onde contava um pouco a descoberta dos significado do meu nome e as melodias que deram mais sentido a ele, com o passar dos anos.

Ocorre que muitas canções sobre Janaínas ficaram de fora. Alguns amigos e amigas chamaram atenção para o fato e expliquei que não foi mero esquecimento. De fato escolhi algumas naquele momento e deixo, hoje, aqui outras tantas.

CAMINHOS DO MAR (Dorival Caymmi)
Yemanja Odoiá Odoiá
Rainha do mar
Yamanja Odoiá Odoiá
Rainha do mar

O canto vinha de longe
De la do meio do mar
Não era canto de gente
Bonito de admirar

O corpo todo estremece
Muda cor do céu do luar

Um dia ela ainda aparece
É a rainha do mar

Yemanja Odoiá Odoiá
Rainha do mar
Yemanja Odoiá Odoiá
Rainha do mar

Quem ouve desde menino
Aprende a acreditar
Que o vento sopra o destino
Pelos caminhos do mar

O pescador que conhece
as historias do lugar
morre de medo e vontade
de encontrar Yemanja

Yemanja Odoiá Odoiá
Rainha do mar
Yemanja Odoiá Odoiá
Rainha do mar



CANTO DE YEMANJÁ (Vinicius de Moraes/ Badem Powell)
Vem do luar no céu
vem do luar
no mar coberto de flor, meu bem
de Yemanjá
de Yemanjá a cantar o amor
e a se mirar
na lua triste no céu, meu bem
triste no mar

Se você quiser amar
se você quiser amor
vem comigo a Salvador
para ouvir Yemanjá
a cantar na maré que vai
e na maré que vem do fim
bem do fim do mar
bem mais além

Yemanjá, Yemanjá
Yemanjá é dona Janaína que vem
Yemanjá Yemanjá
Yemanjá é muita tristeza que vem



RAINHA DO MAR (Dorival Caymmi)
Minha sereia é rainha do mar
Minha sereia é rainha do mar
O canto dela faz admirar
O canto dela faz admirar

Minha sereia é moça bonita
Minha sereia é moça bonita
Nas ondas do mar
Aonde ela habita

Ai tem dó
De ver o meu penar
Ai tem dó
De ver o meu penar




CAMAFEU (Candeia)
Camafeu
Cadê Maria de São Pedro?
Foi passear
E os passeios de Maria fez a Bahia chorar
Maria foi lá pra longe
Maria não vai voltar
Mas deixou sua família
Pra seu nome cultuar

Lalá i lá, Lalá i lá
Lalá i lá, Lalá i lá
É Janaína
Janaína, Janaína
Janaína, Janaína

Camafeu cadê Mestre Pastinha?
Tá com oitenta pra lá
Ainda joga capoeira
Com quem tem vinte pra cá
E por onda de alaqueto
Não precisa perguntar
Encontrei com menininha
Perto do seu casuá
Lalá i lá, Lalá i lá
Lalá i lá, Lalá i lá
É Janaína
Janaína, Janaína
Janaína, Janaína

Camafeu, Camafeu cadê você?
Estou em todo lugar
Só vendendo bugigangas
No mercado popular
Se o mercado está fechado
Pego o barco e vou pescar
Samba no mar, Samba no mar
Samba no mar, Samba no mar

Samba no mar da Bahia
Samba no mar Engenho Velho
Samba no mar Manzurica
Samba no mar Edomarica
Samba no mar Mestre Branca
Samba no mar Corridó
Samba no mar Odilon
Samba no mar, Samba no mar
Samba no mar, Samba no mar

Samba no mar da Bahia...



JANAÍNA (Otto)
Disse um velho orixá pra Oxalá
Pra acreditar
Pra não temer, temer, temer
Desses tempos verdadeiros
Tempos maus

Dia 2 de fevereiro
Dia de Iemanjá
Vá pra perto do mar
Leve mimos pra sereira
Janaína Iemanjá
Pra perto do mar
Leve mimos pra sereia
Janaína Iemanjá

Havia rosas no mar
Havia ondas na areia

Lá em Rio Vermelho
Em Salvador
Vamos dançar
Dia 2 de fevereiro
Dia de Iemanjá
Leve mimos pra sereira
Janaína Iemanjá

Disse um velho orixá pra Oxalá
Pra não temer
Pra não temer
Dia 2 de fevereiro
Festa lá no Rio Vermelho
Em Salvador vamos dançar
Leve mimos pra sereia
Janaína Iemanjá

Havia rosas no mar
Havia ondas na areia
Vá brincar no Rio Vermelho
A festa de Iemanjá
Salvador está em festa
Vou cantar

Vou cantar, ah
Pra saudade sereia
Vai brincar na areia
Para acreditar

Pra saudade sereia
Vista de branco
Dia de lua cheia



JANAÍNA (Rubens Aredes)
Janaína da Barraginha é moça bonita
Morena dos Olhos claros levantava cedo todo dia
vinha trabalhar na feira voltava e se assentava
No sofá em frente à caixa, no sofá em frente à caixa

Queria conhecer seus ancestrais
Misturou guaraná
Com ayahuaska
Conheceu os segredos do pajé e do Babalaô

Janaína da barraginha é moça forte
Mulher da raça, da lata, do preto e da cachaça
Misturou catimbó com afoxé
E fez o Egum descer do Orum

Janaína fez descer Iaci
Índia do mato
Amante de brancos
Amar rada na castanheira
morta com frieza
Extinta por inocência
Janaína fez descer Ajê Xalugã
Cidadão livre do Quilombo dos Palmares
No sofá em frente à caixa


JANAÍNA(Biquine Cavadão)
Janaína acorda todo dia às quatro e meia
E já na hora de ir pra cama, janaina pensa
Que o dia não passou
Que nada aconteceu

Janaína é passageira
Passa as horas do seu dia em trens lotados
Filas de supermercados, bancos e repartições
Que repartem sua vida

Mas ela diz
Que apesar de tudo ela tem sonhos
Ela diz
Que um dia a gente há de ser feliz
Se deus quiser.....

Janaína é beleza de gestos, abraços,
Mãos, dedos, anéis e labios
Dentes e sorriso solto
Que escapam do seu rosto

Janaína é só lembrança de amores guardados
Hoje é apenas mais uma pessoa
Que tem medo do futuro- que aconteceu? -
Se alimenta do passado

Mas ela diz
Que apesar de tudo ela tem sonhos
Mas ela diz
Que um dia a gente há de ser feliz

Já não imagina
Quantos anos tem
Já na iminência
De outro aniversário
Janaína acorda todo dia às quatro e meia
Já na hora de ir pra cama, Janaína pensa
Que o dia não passou
Que nada aconteceu



Janaína Argentina (Jorge Ben Jor)
Lá vem Janaína argentina
Por isso quando ela passar
Ninguém mexe que tem dono
Está comigo
Pode olhar, mas sem tocar

Por isso quando ela passar
Ninguém mexe que tem dono
Está comigo
Pode olhar mas sem tocar

Janaína Argentina
Mulher, doce menina
Mimosa, cheirosa, bonita e gostosa,
O perigo a flor da pele
Um prazer constante,
uma aventura, uma aposta deliciante

Por isso quando ela passar
Ninguém mexe que tem dono
Está comigo
Pode olhar mas sem tocar

Janaína argentina
Mulher, doce menina
Deixa ela desfilar
Deixa ela jogar
Deixa ela se soltar
Deixa ela brincar
Deixa ela passear
Deixa ela viajar
Deixa ela ser feliz
Deixa ela dançar
Deixa ela me amar


Imagem disponível em: www.cozinhaafetiva.com.br

terça-feira, 29 de julho de 2014

Janaínas e Iemanjás Musicais

Costumo dizer que uma das vantagens de se chamar Janaína é a boa quantidade de música com essa referência. Refiro-me especificamente à MPB- Música Popular Brasileira e sua vizinhança.

Quando criança, Tio Negão nos encantava nas noites da roça. Em baixo da Pata-de-vaca (Bauhinia variegata), iluminada pela luz da lua ou da casa mais a frente, nosso tio avô nos contava seus causos para fazer rir ou sentir medo. E entre uma coisa e outra, as vezes me dizia assim: “_Sabia que Janaína é o nome de uma sereia negra?”

Sim, eu sabia porque ele já havia me falado outras tantas vezes. E nesta única frase cabia muita coisa. Cabia sereia, cabia negra, cabia saber. Não precisava prosseguir com mais detalhes. Nunca fez falta que não contasse mais sobre “minha sereia”. Tudo já estava lá para minha imaginação.

Quando cresci e meu repertório musical se ampliou para além das deliciosas cantigas infantis e modas de viola de casa, soube também que a tal sereia era Yemanjá, um importante Orixá das religiões de matrizes africanas no Brasil.

Já na faculdade, havia um professor, José Augusto Pontes, que anunciou na aula inaugural que dali pra frente, toda vez que chegasse a sala, contaria o significado do nome de dois alunos. "_Iemanjá: Rainha do mar, protetora das mães e das esposas". Foi assim que ele fez saber a mim e à turma sobre Janaína.
...
A vontade de escrever esta post foi conhecer Kirsten, uma querida-recém-apresentada-a-mim pelo amado Alê d'Ilê, durante nosso último passeio à Porecatu. Ela me disse que há anos atrás chamou sua filha por Janaína após ver este nome escrito em um ônibus no norte do país, lá pelas terras da Amazônia e suas águas. Penso que é um presente imaterial. Gosto assim.

Por aqui, deixo algumas letras, vozes e "vídeos para ouvir", já que alguns são mesmo compostos estritamente por áudios. Apenas? Não, Música nunca é "apenas".

Você pode ler e ouvir outras Janaínas em http://devaneiosecompanhia.blogspot.com.br/2014/08/janainas-e-iemanjas-musicais-ii.html

QUEM VEM PRA BEIRA DO MAR (Dorival Caymmi)
Quem vem pra beira do mar, ai
Nunca mais quer voltar, ai
Quem vem pra beira do mar, ai
Nunca mais quer voltar
Andei por andar, andei
E todo caminho deu no mar
Andei pelo mar, andei
Nas águas de Dona Janaína
A onda do mar leva
A onda do mar traz
Quem vem pra beira da praia, meu bem
Nunca mais quer voltar


BANZO (Itamar Assumpção)
Às margens do rio Sena
Me lembro do Amazonas
Da minha raça morena
Bordunas e pés de cana
Das procissões das novenas
Das praias com sua dunas
Penha, Vila Madalena
Dos Paiakans, dos Jurunas
Lembro Xangô, Janaína
Tupã, Roraima, Itabuna
Dos Brancos cá Caraíbas
Paris me lembra Criciúma
Porto Alegre, tri Curitiba
Gurias Loiras, morenas
Me lembra rio Paraíba
Pará,Paraná, Paranapanema
Aqui e lá há Lagunas
Mas não há lá Iracemas
Mas lembro que a cobra fuma
Na França ou Ipanema
Remember da minha tchurma
Piquet, Fittipaldi e Senna
São Paulo, usina de Furnas
Umãpe xe raperana*
*onde será o meu caminho? (tupi)



MINHA SEREIA (Joyce)
Ela vinha como um sol
Tão bonita de se olhar
Me pegava a mão
Dizia: Não tema não
Ela me ensinava a nadar
E eu ali naquele azul
Sem saber como explicar
Fui bem fundo lá
Que nem dá pra imaginar
Sempre me deixando levar
Me ensina a fazer renda, sereia
Me ensina a namorar
Me guarda em tua saia
Que eu quero na praia me molhar
Minha mãe falou pra mim
Meu menino, o que é que há
Que nem dorme mais
Que é que faz pra te agradar
Que você só fica a delirar
Ó mãe eu estou pensando na vida
Pensando em me casar
Casar com uma sereia
Iara, Janaína, Iemanjá
Só que quando dei por mim
Ela já não estava lá
Me acenou adeus, mergulhou, partiu com os seus
Foi morar no fundo do mar



LENDA DAS SEREIAS (Vicente / Dionel / Veloso)
Oguntê, Marabô
Caiala e Sobá
Oloxum, Ynaê
Janaina e Yemanjá
São rainhas do mar

Mar, misterioso mar
Que vem do horizonte
É o berço das sereias
Lendário e fascinante

Olha o canto da sereia
Ialaó, oquê, ialoá
Em noite de lua cheia
Ouço a sereia cantar
E o luar sorrindo
Então se encanta
Com as doces melodias
Os madrigais vão despertar

Ela mora no mar
Ela brinca na areia
No balanço das ondas
A paz, ela semeia
Ela mora no mar
Ela brinca na areia
No balanço das ondas
A paz, ela semeia

Toda a corte engalanada
Transformando o mar em flor
Vê o Império enamorado
Chegar à morada do amor

Oguntê, Marabô
Caiala e Sobá
Oloxum, Ynaê
Janaina e Yemanjá
São rainhas do mar



IEMANJÁ RAINHA DO MAR (Pedro Amorim)
Quanto nome tem a Rainha do Mar?
Quanto nome tem a Rainha do Mar?
Dandalunda, Janaína
Marabô, Princesa de Aiocá
Inaê, Sereia, Mucunã
Maria, Dona Iemanjá

Onde ela vive?
Onde ela mora?
Nas águas
Na loca de pedra
Num palácio encantado
No fundo do mar

O que ela gosta?
O que ela adora?
Perfume
Flor, espelho e pente
Toda sorte de presente
Pra ela se enfeitar

Como se saúda a Rainha do Mar?
Como se saúda a Rainha do Mar?
Alodê, Odofiaba
Minha-mãe, Mãe-d'água
Odoyá!

Qual é seu dia
Nossa Senhora?
É dia dois de fevereiro
Quando na beira da praia
Eu vou me abençoar

O que ela canta?
Por que ela chora?
Só canta cantiga bonita
Chora quando fica aflita
Se você chorar

Quem é que já viu a Rainha do Mar?
Quem é que já viu a Rainha do Mar?
Pescador e marinheiro
Que escuta a sereia cantar
É com o povo que é praieiro
Que dona Iemanjá quer se casar


sábado, 2 de fevereiro de 2013

Carta para Daniela Mercury

Resolvi escrever algo sobre esse lado musical de minha vida. Lado musical em que Daniela está, acompanhada de Gil, Chico, Caetano, Verônica, Joyce e Zélia... Amo música, embora não tenha nenhum talento musical. Concordo com Nietsche que disse que “Sem música a vida seria um erro”.

Sou psicóloga. Também feminista , ativista, e acredito em um mundo melhor para todas e todos. Com justiça social, menor desigualdade entre os povos... um mundo onde uma pessoa valha tanto quanto outra pessoa, independente de origem, raça, sexo, credo, classe social, deficiências, idade...

Se em minha vida de profissional/militante sou conhecida pelas minhas bandeiras, já o gosto pela música apenas os mais queridos compartilham...
O gosto por música seria o meu “lado B”, que pode ser o menos publico, mas me compõe e é tão importante quanto o lado que todos conhecem.

Janaína Leslão 
*************
"Meus olhos arregalados não piscam pra qualquer um, nem fecham pra qualquer medo (Marta Medeiros)

O (en)Canto da (C)idade

Não, não sou tiete... Mas sou fã, e há tempos perdi a vergonha de, entre tantas outras coisas, dizer que gosto de Daniela Mercury. O Brasil (ou o sul/sudeste?) é assim: o que tem de generosidade também tem de preconceito, e a música baiana, da baiana, causa nariz-torto a muitos que não encontram nela seu espelho, como Narciso, cantado por Caetano.

Aos 15, morava eu no “interior-do-interior” o Paraná. Uma vez a cada um ou dois anos, meus pais reuniam os 3 filhos em um fusca bordô e viajávamos 606km até a praia. Houve um verão que a trilha sonora da viagem foi ao timbre de Daniela. No rádio do fusca, tocando em fita K7, lá íamos nós, felizes,  embalados pelo Canto da Cidade. Foi a primeira trilha, entre tantas com essa voz.

Correu o tempo, e aos 18 morava longe de casa, para estudar psicologia. Mudei de estado, e em meio a tantas novas experiências, o primeiro grande show que assisti foi de Daniela. Despretensiosamente caminhava pela feira agropecuária de Assis com amigos recém-feitos, quando avistei o palco iluminando a noite. Como cantora, a baiana também surpreendia como bailarina. Somava-se perfeitamente aos demais profissionais em seu palco. Eram poesia para os olhos. Feijão com arroz, o negro e o branco, o nordeste no sudeste, o sorriso em minha boca e a luz nos olhos meus.

Seguindo os anos, aos 22, com os primeiro período de estudos cumpridos. E cantarolando “se oriente rapaz, onde vai ser seu curso de pós-graduação”, pensando em Gil, não dava pra suspender a viagem. Queria ainda dar a volta no mundo, para vê-lo girar... 
Profissionalmente, tudo daria certo, porque “tinha” que dar, custasse o que custasse.
Sentimentalmente, havia muitas dúvidas... o tal "certo" era absolutamente intangível...

Seguia, como mutante, no fundo sempre sozinha. Romântica me perguntava se conseguiria a alegria dar a mão a alguém (ao estilo Clarice). Para a composição de cores e sentimentos de meu coração miscigenado, o alívio era rascunhar versos, como estes:

Vi. Vejas!
Tens cabelos negros.

Negro óleo
Precioso
Negra noite
Sedutora
Negro gato
Traiçoeiro
Negra cor
Enigmática
Negro pássaro
Migrador
Negra magia
Feiticeira.

E também
Negros olhos
Que negam
Ver os meus
Verdes
De esperança.”
              (Toda Cor)

Voltando as (c)idades que se seguiram, um amor que “Pra toda vida” chegou à minha, na voz do Barão Vermelho, como o tal amor gostava. Manaus, foi o cenário desta chegada. Inicialmente resisti, porque meu plano era deixar ela pensar o que quisesse mas, engano meu pensar que fosse brincadeira,  aconteceu de ser assim dessa maneira.  E os planos do destino foram gravados em um CD que dei ao amor de presente, tempos depois, já estando em cidade e idade diferentes: São Paulo, aos 25 anos.

A vida seguiu seu curso. Não pulei do alto da torre por ninguém, mas fui ver uma espécie de balé mulato do outro lado do mundo. Moçambique nos esperava, e o som de Daniela que tocava em meu fone de ouvido dizia: “espere amor, que estou chegando, depois do inverno, a vida em cores”.

Nesta temporada em Moçambique pude conhecer outras cores, flores, sons, movimentos. Movimentos inclusive que reconheci no show teletransmitido, direto do Farol da Barra, no dia 01 de janeiro de 2013. O som e dança que (ou)vi em Maputo foi a marrabenta. Inspirações pra sua performance sempre na mistura desses continentes, pro índio-afro-brasileiro que é nosso país.

Hoje, enquanto escrevo para você, estou ouvindo “Cinco Meninos”, que muito me emociona. É madrugada e espero minha amada voltar, pois foi jogar flores no mar, na festa de Yemanjá.

Espero que um dia as mulheres deste país e, quiçá, de todo o mundo, possam ter sua força, independência, sua fome de vida e seu olhar para o outro, enxergando-se como gente que precisa ser cuidada e amada, independente de raça, sexo ou credo.

Muitas vidas se dão em 20 anos, e parte da minha se deu ao som desta arte que por esses dias aniversaria.


Abraços, com muita admiração, por tudo o que és e fazes.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Alê d'Ilê e a Música


Ouvindo Gil, tomei coragem para escrever sobre Alê d’Ilê. Compartilho a certeza de que o texto não será o suficiente para expressar tudo o que eu queria. Assumo o risco e, desde já, desculpo-me pelo pouco.

Diz a lenda que nosso personagem aprendeu a tocar violão por acaso. Menino franzino gostava mesmo era de jogar futebol. Mas um dia o tombo no campinho de terra fez seu peso cair sobre o magro braço. E o partiu. Tristeza para ele seu não correr atrás da bola. Restou o violão no período de recuperação. E o menino tomou gosto e cresceu na melodia e habilidade do instrumento. Sozinho se alegrou e aprendeu a arte que veio a dividir com tantos.

Alê d’Ilê hoje mora em Macapá- AP. Nascido em Porecatu- PR, fez o percurso inverso d’A Violeira, de Chico. A sina deste caprichoso e não nordestino, mais que ir pra um lugar, era fazer música e conviver com a língua francesa. Assim subiu o país, saindo de sua terra-sul, passando brevemente pelo centro-oeste, e finalmente se estabelecendo no norte. Mambembe, cigano...

 A cara amiga perdoou-lhe por não fazer uma visita quando veio ao sudeste. Nada de cartas ao portador. As notícias, no correio eletrônico chegaram, com canção anexada. Uma alegria foi sabê-lo musicando pelas bandas de lá. Outra alegria foi comprar seu CD em uma loja virtual e, ao visitar a terra-sul, receber uma versão autografada.

Faz tempo que não vejo Alê d’Ilê.  Mas o tempo em que estivemos na mesma cidade me acompanha, quer seja no sudeste daqui ou da África. Inclusive, uma peça de roupa que trouxe pra ele de Moçambique ainda está preguiçosamente guardada em meu armário. Talvez à espera de um endereço não eletrônico para ser enviada. Nem sei se o pedi. Aproveito e registro aqui a solicitação.

O que sei é que Alê vive vizinho de Dona Guiana, a francesa que o ajuda a treinar a língua que estudou em sua Faculdade de Letras. Francesa é caso antigo, que até já virou canção (1). Sei também que ele gravou em seu CD uma belíssima música instrumental chamada Justina (2), para uma outra Dona, essa muito mais importante do que a anteriormente citada. 

Às vezes, na viagem diária de volta pra casa, eu o ouço. Um dia, degustando o som me peguei chorando. Olhando pela janela do ônibus, a lua alta brilhava... Chorava porque  sabia que era a mesma que brilhava para as gentes lá de casa, as pessoas mais amadas, “a minha gente que me espera voltar” (3) com as notícias dessa “minha terra, mundo inteiro”.

No fim, a Estrada Companheira (4) contém um coração a mil que amadureceu, gestou e pariu letras e melodias que soam histórias tão pessoais e tão gerais. Contém um menino franzino e um músico; as escadarias de uma igreja e a fronteira de um país; as águas do rio Paranapanema e as do Araguari.

Gil, no aparelho de som, hoje cantava Palco, como em um show de 1997, em Bauru. E como os tempos são outros, escrevi este texto, que agora vira post para enviar Pela Internet.
  
Músicas de Alê d’Ilê citadas: (1) Voulez vous Dancer,  (2) Justina, (3) I’I Pororoca e (4) Estrada Companheira
Para ouvir: Myspace
Para Comprar o CD: Visite o site da Livraria Cultura. Clique AQUI
 
Músicas de referência: A Violeira, Caro Amigo e Mambembe (Chico Buarque)/ Palco, Corações a Mil e Pela Internet (Gilberto Gil)
Imagens: fotografia de Carllos Bozelli e ilustracao de Nicolas Simon

E.T: Desde aqui, mando-te “lembranças”, querido Preto, como diria o preto meu avô. Posso também parafrasear (?) Carl Sagan e dizer que: diante da vastidão do tempo e da imensidão do espaço, é uma honra dividir um planeta e uma época com você.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Delicadeza (Joyce)

Pra quem assistiu o debate "Eros e Psique", que compôs o ciclo de debates do Mês LGBT este ano, organizado pela APOGLBT-SP e CRP-SP, sabe um pouco mais sobre essa música.

Como eu disse, naquele momento, eu tenho um gosto meio antigo e a conversa desta noite me trouxe essa música na memória. A parte que eu não contei (nem cantei), foi que a música já "me disse" e que hoje guardo com carinho em meu baú de recordações.



Delicadeza (Joyce Moreno)

Discreta em companhia de gente esquisita
Maldita em ambiente de gente normal
Plantando coisas belas num circo de horrores
Com flores e bombons no juízo final

Pintando aquarelas em terra de cego
Com pregos, paus e pedras e más intenções
Se por delicadeza eu oculto o meu ego
Me nego a ser princesa num reino de anões

Bordando sutilezas e finas malícias
Delícias num país que não tem paladar
O coração partido de tanta falácia
Que passa e a gente nem pode se desviar

Sonhando ainda um tempo menos suicida
Que diga pra que veio e que possa provar
Se por delicadeza eu perder minha vida
Saí mesmo à francesa, queira desculpar
.

Pra saber mais de Joyce, acesse: http://www.joycemoreno.com/

domingo, 22 de maio de 2011

Oração e Margarida

Sobre a música "Oração", da Banda Mais Bonita da Cidade.

Orações não são coisas que costumo ler, ver, praticar. Geralmente estão ligadas a coisas religiosas, artigos que não tenho muito interesse.
Interesso-me por outro tipo de oração. Aquelas que em poesia, imagem ou som, falam ao meu coração. Essas orações, que geralmente não levam esse nome, são sempre bem-vindas.
Uma Oração, nome próprio, veio por uma amiga. Depois de uma semana de tristezas e decepções com o amor que chamam "divino".
Chorei horrores.
Veio assim, na forma de amor "terreno", desses que acreditam na comunicação entre as criaturas. Esse sentimento de fraternidade, sereno, confiável, é oração e abrigo em si.

Aqui, pras criaturas que amo.
Também para as que quero bem (mesmo aquelas com as quais não tenho - ainda?- muita "hora-atividade")
Afinal "coração não é tão simples quanto pensa, nele cabe o que não cabe na dispensa" (...)





Na delicada direção do clip (a poesia da imagem, se aliando a das palavras e som) reparei uma margarida no bolso do rapaz. Flor que logo depois ele dá pra uma moça, que joga pra cima e voltamos à bagunça da celebração conjunta...

Tem um conto de Caio Fernando Abreu, que ele fala das margaridas (enlatadas)... Uma referência à moda, coisas descartáveis, passageiras e da sociedade de consumo... Enfim, aquela margarida do vídeo é o avesso dessa do conto.

Para quem quiser ler o conto, clique AQUI.
Sigo, e o coração vai amando.
.

domingo, 27 de março de 2011

Assalto no Rio ao som de Fraterno

Nesta semana estive no Rio de Janeiro a trabalho.
A cidade maravilhosa cheia de encantos mil fez com que eu amanhecesse o dia 25 de março cantarolando a música "Fraterno" que conheci na voz de Ney Matogrosso.
Segundo a letra de Pedro Luiz, a data cujo dia amanheceu solar era 25 de maio, e não de março. Todavia, eu amanheço meu dia conforme quero e a minha rádio mental toca o sucesso musical segundo minhas próprias associações. Logo, 25 de março era o ideal pra música e não se fala mais nisso.
E como a letra também diz de saudade de casa e lembranças aos amigos, enviei um torpedo pr@s amad@s com essa partezinha. Confesso: sou romântica.

O dia transcorreu tranquilo, o evento em que eu estava terminou com o ótimo discurso da Ministra do Supremo Tribunal de Justiça Nancy Andrighi, defendendo a união civil das pessoas de mesmo sexo. Seu discurso, memorável.
Já na saída do evento, indo pro hotel, o dia anoiteceu polar. Isso porque fui abordada e assaltada por dois jovens, a mão armada. Assustada e desorientada, consegui ao menos voltar para o local do evento, onde obtive toda ajuda possível das organizadoras do evento.
Cessada as etapas que envolveram: me acalmar; circular na joaninha da polícia carioca; tentar reconhecer os assaltantes; registrar ocorrência na delegacia e; voltar pro hotel com um amigo-irmão, fiquei pensando no quanto naquela noite se referiram aos assaltantes como vagabundos.

Quer saber, pra mim vagabundo é quem tem casa, comida, oportunidade de estudar e trabalhar e, mesmo assim, cresce e vive às custas de familiares ou amig@s, sem se responsabilizar por nada que não seja seu bem-estar, vivendo uma vida umbigocêntrica.
Pra mim, os assaltantes são marginais, no sentido de pessoas que vivem à margem e não tem nada dessas coisas que falei acima. Não tem direitos mínimos garantidos. E quem não tem direito, não tem dever. Logo, não são vagabund@s.
Enfim, sofri uma violência, os prejuízos materiais foram muitos, mas não dá pra deixar de fazer uma leitura da realidade dos fatos.

Deixo aqui um beijo fraterno para @s querid@s que me acompanharam (pelo braço, telefone ou computador) do momento do assalto até minha chegada de volta à São Paulo.
Para você que lê essa postagem deixo ainda a letra e a música que me acompanharam do dia solar até a noite polar. Espero que gostem.
......



Fraterno (Pedro Luiz)

"Hoje o dia amanheceu solar
Vi pela janela um céu azul
Tinha aroma que soprou do mar
Foi trazido por um vento sul

Levantei pra te escrever
Carta no computador
Frases fiz pra descrever
O que o jornal falou

Fogos de artifício, vícios, suicídio
Belezas e dores no vídeo
Surfe, tsunami invade o litoral
Lá no paraíso

Tinha tédio, assédio, contágio
Febre, suborno, litígio
Pontes, asfalto, pedágio
E um sobressalto acorda os vizinhos

Misses, mísseis, meretrizes
Clones, ciclones, ogivas
Beijos e finais felizes
Fazem parte destas mal tecladas linhas

Amanhã te escrevo mais
Deste diário moderno
Junto as saudações finais
Mando um beijo fraterno

Rio, 25 de maio
Te envio um sorriso
Te desejo uma praia
Tá chovendo granizo
Deu saudade de casa
Dê lembrança aos amigos
No momento preciso
Tome um banho de rio".

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Benke

Pra começar 2011, compartilho uma música da qual me lembrei hoje.
Seu nome é "Benke", composição de Milton Nascimento e Márcio Borges.

Alguém sabe o ano da canção? Tentei achar (sem muito empenho, confesso) e não consegui.
Só sei que quando eu era adolescente, lá em Porecatu-PR, a música entrou pra trilha sonora de uma novela.
Era daquelas que só tocam de vez em quando e ninguém dá muita atenção...
Mas a tal música me encantou de um jeito que eu, atenta ouvinte da Rádio Brotense (1 210 KHz), ligava todos os dias pra fazer meu pedido.

Enfim, eu não sabia o que era Benke até agora, e descobri que é o nome de um curumim do povo Kampa e a canção foi dedicada a todos os curumins de todas as raças/etnias do mundo.

Vai ver que foi @ curumim que vive em mim que se encantou...




BENKE (Milton Nascimento e Márcio Borges)

Beija-flor me chamou: olha
Lua branca chegou na hora
O Beija-Mar me deu prova:
Uma estrela bem nova
Na luminária da mata
Força que vem e renova

Beija-Flor de amor me leva
Como o vento levou a folha

Minha Mamãe soberana
Minha Floresta de jóia
Tu que dás brilho na sombra
Brilhas também lá na praia

Beija-Flor me mandou embora
Trabalhar e abrir os olhos

Estrela d’Água me molha
Tudo que ama e chora
Some na curva do rio
Tudo é dentro e fora
Minha Floresta de jóia

Tem a água
tem a água
tem aquela imensidão
tem sombra da Floresta
tem a luz do coração

Bem-querer

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Chicas: as moças que (en)cantam


Ouvi falar. Escutei o primeiro CD. Nem me liguei.
As vi ao vivo. Show do segundo CD e me apaixonei.

Não sei se foi a companhia (Mr. Marcinho), mas a noite no Sesc Pompéia foi encantadora.
Dona Ferrus até fofocou pra moça Pêra, que eu tinha gostado. Só esqueceu de pegar autógrafo no disco que ganhou.

As Chicas começaram o grupo após uma experiência de trabalho conjunto no teatro. Quatro vozes, muito talento, animação contagiante, letras interessantes, uma boa pitada de humor e interação com o público.

O quarteto carioca é formado por Paula leal, Isadora Medella, Amora Pêra e Fernanda Gonzaga.
Pra essas meninas, tiro o chapéu que nem uso.

Segue abaixo, dois vídeos:

O primeiro, a gravação não é da melhores, mas foi do show que assisti. A letra de Kleiton e Kledir é ma-ra-vi-lho-sa.
.

"Quem é esse rapaz que tanto androginiza,
Que tanto me convida pra carnavalizar.
Que tanto se requebra no céu de um salto alto, que usa anéis e plumas a lantejoulizar?
Que acena e manda beijos pra todos seu amores, que vive sempre à cores a escandalizar?
A minha mãe falou que é um tipo perigoso que vive sorridente fazendo quá quá quá
O meu pai me contou que um dia viu um cara num cabaré da Zona dançando Cha Cha Cha

Quem é esse rapaz que tanto androginiza, que tudo anarquiza pra dissocializar?
Com mil e um viados puxando o seu foguete que lembra um sorvete pra refrescalizar
Cuidado aí vem ele, é um circo é um cometa
Abana, abana, abana que é papai noel
A minha mãe falou que é um tipo perigoso que vive sorridente fazendo quá quá quá
O meu pai me contou que um dia viu um cara num cabaré da Zona dançando Cha Cha Cha
Eu pensei que todo mundo fosse filho de papai noel"


Esse segundo, a gravação tá bacana. E a letra, do Mc Bob Rum, também é bem interessante.


"Era um domingo de sol Ele saiu de manhã
Pra jogar seu futebol Levou uma rosa pra irmã
Deu um beijo nas crianças Prometeu não demorar
Falou pra sua esposa que ia vir pra almoçar

Era trabalhador, pegava o trem lotado
E a boa vizinhança era considerado
E todo mundo dizia que era um cara maneiro
Outros o criticavam porque ele era funkeiro

O funk não é modismo É uma necessidade
É pra calar os gemidos que existem nessa cidade
E todo mundo devia nessa história se ligar
Porque tem muitos amigos que vão pro baile dançar
Esquecer os atritos, deixar a briga pra lá
E entender o sentido quando Dj detonar

Era só mais um Silva que a estrela não brilha
Ele era funkeiro mas era pai de família

E anoitecia ele se preparava
É pra curtir o seu baile Que em suas veias rolava
Foi com a melhor camisa Tênis que comprou suado
E bem antes da hora ele já estava arrumado
Se reuniu com a galera Pegou o bonde lotado
Os seus olhos brilhavam Ele estava animado
Sua alegria era tanta Ao ver que tinha chegado
Foi o primeiro a descer E por alguns foi saudado

Mas naquela triste esquina Um sujeito apareceu
Com a cara amarrada Sua mão estava um breu
Carregava um ferro Em uma de suas mãos
Apertou o gatilho Sem dar qualquer explicação
E o pobre do nosso amigo Que foi pro baile curtir
Hoje com sua familia Ele não irá dormir

Era só mais um Silva que a estrela não brilha
Ele era funkeiro mas era pai de família"



Fonte da Imagem: R7 Entretenimento

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Venta


Letra e música vão suavemente ventando meu ano.

Juntas dão nó. Beliscam, confundem, cutucam, mas também, abraçam.


Telhados de Paris (Nei Lisboa)

Venta, ali se vê
Aonde o arvoredo inventa um ballet
Enquanto invento aqui pra mim
Um silêncio sem fim
Deixando a rima assim
Sem mágoas, sem nada

Só uma janela em cruz
E uma paisagem tão comum
Telhados de Paris
Em casas velhas, mudas
Em blocos que o engano fez aqui
Mas tem no outono uma luz
Que acaricia essa dureza cor de giz
Que mora ao lado, mas parece outro país
Que me estranha, mas não sabe se é feliz
E não entende quando eu grito
Eu tenho os olhos doidos doidos doidos doidos, já vi
Meus olhos doidos doidos doidos são doidos por ti

O tempo se foi
Há tempos que eu já desisti
Dos planos daquele assalto
De versos retos, corretos
E o resto de paixão, reguei
Vai servir pra nós
E o doce da loucura é teu, é meu
Pra usar a sós
Eu tenho os olhos doidos doidos doidos ja vi
Meus olhos doidos doidos doidos são doidos por ti
Eu tenho os olhos doidos doidos doidos ja vi
Meus olhos doidos doidos doidos são doidos por ti
venta..
venta..
venta..





Fonte da imagem: "sick sad litlle world"
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sexta-feira, 30 de abril de 2010

Que sexo tem?

Gostei da campanha da Arezzo Outono/Inverno 2010.


A parte chata foi ver gente falando: "_Nossa, Maria Gadú de vestido, que absurdo!"
Pra mim, absurdo é ela não poder usar! Se ela quis, aceitou, achou que não ia ficar mal, qual é o problema mesmo?
Roberta Sá e Mariana Aydar podiam não usar saia. Pra outra é proibido a escolha?

As trocas tem tudo a ver com a proposta! O trabalho ficou jóia. 
Gosto da música e gosto das meninas, cujo quarteto é completo com Ana Cañas.
Já os sapatos, não fazem minha cabeça, nem meus pés. 
Seja como for, a Arezzo arrasou! 

Abaixo, veja o belo clipe promocional: