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domingo, 28 de junho de 2020

«Festival Eurovisão da Canção: A História dos Fire Saga» [Crítica]


FICHA TÉCNICA:
Realizador: David Dobkin
Argumentistas: Will Ferrell Andrew Steele
Género: Comédia / Musical
Duração: 120 minutos

SINOPSE:
Uma dupla pop (Ferrell e McAdams) cuja vocação musical é sistematicamente colocada em causa enxovalhada por quem a conhece vê concretizado o sonho de representar o seu país no Festival Eurovisão da Canção quando, devido a circunstâncias misteriosas, todos os outros candidatos deixam de poder competir. Mas chegados lá, terão o que é necessário para fazerem parte de uma galeria de vencedores onde se incluem, entre muitos outros, os ABBA, Céline Dion e Salvador Sobral?

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

REVIEW: «Lugares Escuros» (Livro)


FICHA TÉCNICA:
Autora: Gillian Flynn
Editora: Bertrand
Número de Páginas: 411
P.V.P. - 17,70€

SINOPSE OFICIAL:
Libby tinha sete anos quando a mãe e as duas irmãs foram assassinadas no «Sacrifício a Satanás de Kinnakee, no Kansas». Enquanto a família jazia agonizante, Libby fugiu da pequena casa da quinta onde viviam e mergulhou na neve gelada de janeiro. Perdeu alguns dedos das mãos e dos pés, mas sobreviveu e ficou célebre por testemunhar contra Ben, o irmão de quinze anos, que acusou de ser o assassino. 

Passados vinte cinco anos, Ben encontra-se na prisão e Libby vive com o pouco dinheiro de um fundo criado por pessoas caridosas que há muito se esqueceram dela. 

O Kill Club é uma macabra sociedade secreta obcecada por crimes extraordinários. Quando localizam Libby e lhe tentam sacar os pormenores do crime (provas que esperam vir a libertar Ben), Libby engendra um plano para lucrar com a sua história trágica. Por uma determinada maquia, estabelecerá contacto com os intervenientes daquela noite e contará as suas descobertas ao clube… e talvez venha a admitir que afinal o seu testemunho não era assim tão sólido.

À medida que a busca de Libby a leva de clubes de striptease manhosos no Missouri a vilas turísticas de Oklahoma agora abandonadas, a narrativa vai voltando atrás, à noite de 2 de janeiro de 1985. Os acontecimentos desse dia são recontados através da família de Libby, incluindo Ben, um miúdo solitário cuja raiva contra o pai indolente e pela quinta a cair aos pedaços o leva a uma amizade inquietante com a rapariga acabada de chegar à vila. 

Peça a peça, a verdade inimaginável começa a vir ao de cima, e Libby dá por si no ponto onde começara: a fugir de um assassino.

terça-feira, 18 de outubro de 2016

REVIEW: «Em Parte Incerta» (Livro)


FICHA TÉCNICA:
Autora: Gillian Flynn
Editora: Bertrand
Número de Páginas: 520
P.V.P. - 17,70€

SINOPSE OFICIAL:
Uma manhã de verão no Missouri. Nick e Amy celebram o 5º aniversário de casamento. Enquanto se fazem reservas e embrulham presentes, a bela Amy desaparece. E quando Nick começa a ler o diário da mulher, descobre coisas verdadeiramente inesperadas…
Com a pressão da polícia e dos media, Nick começa a desenrolar um rol de mentiras, falsidades e comportamentos pouco adequados. Ele está evasivo, é verdade, e amargo - mas será mesmo um assassino?
Entretanto, todos os casais da cidade já se perguntam, se conhecem de facto a pessoa que amam. Nick, apoiado pela gémea Margo, assegura que é inocente. A questão é que, se não foi ele, onde está a sua mulher? E o que estaria dentro daquela caixa de prata escondida atrás do armário de Amy?

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

REVIEW: «O Estranho Desaparecimento de Esme Lennox» (Livro)


FICHA TÉCNICA:
Autora: Maggie O'Farrell
Editora: Editorial Presença
Número de Páginas: 184
P.V.P. - 13,90€

SINOPSE OFICIAL:
Este romance de Maggie O'Farrel conta a história envolta em mistério da vida de uma mulher que, nos anos de 1930, chega da Índia onde nascera, com os pais e a irmã mais velha, Kitty. Depois disso, a sua existência parece ter-se desvanecido. Sessenta anos mais tarde, Iris Lockart, uma jovem empresária independente é surpreendida por um telefonema a anunciar-lhe que a sua tia-avó terá de deixar o hospital Cauldstone, onde estivera internada durante seis décadas na ala psiquiátrica, e que Iris Lockart é o nome que consta no seu processo como a pessoa directamente responsável por ela. A princípio, Iris não consegue acreditar. Toda a vida tomara como garantido que Kitty, a sua avó, agora uma doente com Alzheimer, era filha única. Os documentos provam, contudo, que ela é a irmã de Kitty. Ainda assim, Esme não passa de uma estranha e uma intrusa que vai obrigar Iris a reconstituir a história familiar, e aquele assombroso segredo que ela talvez preferisse ignorar infunde-lhe um enorme receio. 

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

REVIEW: «Como Ser Solteira» (Livro)


FICHA TÉCNICA:
Autora: Liz Tucillo
Número de Páginas: 384
P.V.P. - 18,50€

SINOPSE OFICIAL:
Julie Jenson tem 38 anos, vive em Nova Iorque, trabalha como agente publicitária numa editora e está solteira há seis anos. 
Tal como muitas mulheres em situações semelhantes, Julie não deixa de se questionar: porque é que qualquer homem, mesmo careca, entediante, gordo e desempregado, consegue arranjar uma namorada, e ela e as amigas, que são atraentes, divertidas, bem-sucedidas e inteligentes, continuam solteiras? 
Com o objectivo de responder a este grande mistério da vida, Julie decide abandonar o emprego e percorrer o mundo. 
De Paris ao Rio, de Sydney a Bali, de Pequim a Roma, Julie aprende a redefinir a sua visão do amor, da felicidade e da realização pessoal. 

domingo, 19 de junho de 2016

REVIEW: "Baby Blues Volume 14: A Maternidade Não é para Mariquinhas"


FICHA TÉCNICA:
Autores: Rick Kirkman e Jerry Scott
Número de páginas: 132
PVP - 12,60€

SINOPSE OFICIAL:
Tal como os milhões de pais caloiros que lêem a tira «Baby Blues», os MacPhersons descobrem que a paternidade é mais gratificante – e frustrante – do que algum dia esperaram...

O VEREDICTO:
A Bizâncio presenteia-nos com uma banda desenhada que é o mais fiel retrato do quotidiano de uma casal com dois filhos (ou seja, em minoria!)...
Ficamos solidários com a dupla mártir Darryl e Wanda e a tortura diária de reclamações, queixinhas, pedidos, exigências e birras que aguentam estoicamente dia após dia, ano após ano, sem um único momento de paz e sossego...
Ser pai é ser «conselheiro, curandeiro, lenço de assoar», é ajudar a fazer os trabalhos de casa (por muito que prefiramos esparramar-nos no sofá), é ter que ir procurar os utensílios de cozinha à casa-de-banho, ouvir 1234567879843 «por favor» por dia, tentar não chegar muuuito tarde à escola de manhã, ensinar a diferença entre «documentários» e «desenhos-animados», saber distinguir os «períodos aleatórios de silêncio» e os «minutinhos-apocalipse» (quando os miúdos estão calados ou adormeceram ou estão a destruir a casa), tentar ter uns segundinhos de sossego na banheira (we can do it!), fazer os possíveis para não matar a criança quando vamos jogar à bola com ela, cozinhar, limpar, mudar fraldas e... 

Onde é que é o meio do nada?
Quem é que inventou a pasta dos dentes?
De que é feita a alcatifa?
Como é que o som sai do rádio?
Os peixes sorriem?
Quantas páginas tem um livro?
Porque é que os gorilas não usam jóias?
Que é que quer dizer o 'T' de «T-shirt»?
Como é que se metem as minas nos lápis?
Donde é que vem a pastilha elástica?
O computador é mais inteligente do que um telefone?
As galinhas cantam?

...sobreviver à rajada mortífera de perguntas com que nos bombardeiam constantemente.

Não é fácil mas até acaba por ser um trabalho divertido (o puto cá de casa andou uns valentes anos a acreditar que foi comprado numa promoção duma loja de brinquedos).

Rick Kirkman e Jerry Scott tinham aqui material para um drama de grandes proporções, mas ao invés de sucumbirem à facilidade de toda uma panóplia de situações dignas de um filme de terror criaram antes uma bem-disposta e agradável leitura, com tiradas absolutamente hilariantes.

É um livro que aconselhamos veementemente pois é genuinamente bom!

segunda-feira, 16 de maio de 2016

REVIEW: "A Duquesa de Mântua"


Autora: Joana Bouza Serrano
Número de páginas: 267
PVP - 19,90€

No dia 1 de Dezembro de 1640, por entre as armas dos fidalgos e a exaltação popular, a Duquesa de Mântua assoma corajosamente à varanda do Palácio Real, em Lisboa, tentando travar o golpe de Estado que estava em vias de pôr fim a seis décadas de domínio castelhano. Margarida de Mântua chegara a Lisboa em 1634, com a incumbência de governar o reino em nome de Filipe IV de Espanha. Nesse período conturbado, marcado por revoltas populares contra o aumento dos impostos e pelos constantes ataques ao império colonial português por parte dos inimigos da Monarquia Hispânica, Filipe IV e os seus conselheiros haviam decidido enviar para Lisboa alguém cuja lealdade não pudesse ser posta em causa: uma princesa de sangue real, prima do monarca e bisneta de duas infantas portuguesas, que crescera na corte de Saboia, embalada pelo mito do avô espanhol, o poderoso Filipe II, que reinara sobre o maior império que jamais existira. 

O VEREDICTO:
Sou um apaixonado por história. Desde pequenino que gosto de saber tudo sobre tudo. Gosto de estudar e sim, mesmo tendo passado pela fase "futebol" em que andava sempre atrás da bola nunca deixei de ler, chegando até a levar os manuais comigo nas férias de verão.
I'm that weird! 
Li, portanto, nestas três décadas de existência, vários livros de história, tendo chegado à conclusão que destes existem apenas quatro tipos:

- O Intelectual:
Escrito por quem sabe, indicado para as salas de aula;

- O Pseudo-Intelectual:
Aquele livro que se leva muito a sério, com muito trabalho de campo por detrás mas com uma linguagem obsessivamente académica;

- O Ficcional:
Factos históricos com muuuuuuita imaginação à mistura;

- O Acessível:
Com uma pesquisa rigorosa por detrás mas adequado ao grande público e não só aos amantes de história. Com uma linguagem descontraída e acessível. 

O livro de Joana Bouza Serrano encaixa-se, felizmente, nesta última categoria. Embora seja fácil de ler, como um romance, não se trata de uma biografia romanceada.

Conhecia muito superficialmente a história da Duquesa de Mântua e depois destas 221 páginas (com 42 páginas extra de anexos e fontes) posso-me considerar um entendido. 
Além de muito bem escrito e fundamentado - a autora apoia-se em excertos de cartas para suportar a narrativa - contamos ainda com mapas, genealogias, uma cronologia do que se passava tanto no Império Lusitano como em Espanha e Itália desde 1578 a 1655 (data da morte de Margarida de Saboia) para nos situarmos durante a leitura (e dissipar qualquer dúvida que entretanto nos assolasse), notas e uma vasta bibliografia.
Ficamos assim a conhecer Margarida, uma bebé que nasceu «linda e gorda» fruto de um grande amor e cumplicidade de seus pais e que era mais parecida com o seu progenitor, o duque Carlos Manuel, «no tom azeitona, na delicadeza do rosto» na afabilidade, capacidade comunicativa, «humor variável», inteligência e ambição. Ficamos a saber que tinha um avô amoroso e preocupado (o que não era assim tão comum naquela altura, com tantos herdeiros e disputas), que perdeu a mãe aos oito anos de idade e era versada em espanhol, francês, italiano e latim. Ficamos igualmente a saber que se tornou uma jovem «de porte majestoso, com a fronte alta e olhar determinado», que o casamento com Francisco Gonzaga foi muito desejado (e ansiado!) por si (mas não tanto pelo pai) e que os primeiros momentos de intimidade entre o casal foram motivo de regozijo da parte do noivo, que não se coibiu de transmitir nas cartas ao irmão e mãe o quanto a sua esposa o agradava, mesmo esta não sendo «de uma beleza extraordinária». Descobrimos a sua súbita e prematura viuvez e o desgosto por tudo o que um surto de varíola lhe roubou. Ficamos também a conhecer as conspirações, conluios, negociações matrimoniais, ciúmes, tiradas dramáticas, divergências, intrigas, atritos, problemas de sucessão e actos de coragem e nobreza da época.

É um livro riquíssimo, feito com cuidado, carinho e, vá, uma dose industrial de paciência.
Recomendo-o vivamente!

quarta-feira, 4 de maio de 2016

REVIEW: "Capitão América: Guerra Civil"


FICHA TÉCNICA:
Realizadores: Anthony e Joe Russo
Intérpretes: Chris Evans, Robert Downey Jr., Scarlett Johansson, Sebastian Stan, Jeremy Renner
Género: Acção/Aventura
Duração: 2 horas e 25 minutos

SINOPSE:
Quando o governo coloca um membro a supervisionar Os Vingadores após mais um incidente que resulta em danos colaterais, a equipa divide-se em dois campos - um liderado por Steve Rogers (Evans) e pelo seu desejo de manter o grupo de vigilantes livre para defender a Humanidade sem quaisquer interferências e o outro por Tony Stark (Downey Jr.), que toma a surpreendente decisão de apoiar a supervisão e responsabilidade governamental.



O VEREDICTO:
Após o extraordinário «Capitão América: O Soldado do Inverno» - de longe, o nosso filme Marvel favorito até ao passado dia 28 de Abril - os irmãos Russo tinham uma tarefa hercúlea em mãos (bem, uma não, duas): fazer ainda melhor que no capítulo anterior e provar que Kevin Feige - o CEO dos estúdios Marvel - não se equivocou quando os escolheu para suceder a Joss Whedon na direcção das partes 1 e 2 de «Avengers - Infinity War».

Quanto ao primeiro ponto, podemos dizer que o filme de 2014 tem aqui um parceiro à altura - nem melhor nem pior, apenas diferente, com um budget bem mais "musculado" e, por isso mesmo, com mais e melhores sequências de acção... mas sem nunca deixar que estas desviem as atenções do enredo - e não, Feige, definitivamente, não se enganou.


«Capitão América: Guerra Civil» é, não só, um festim para os olhos - o filme começa com uma cena absolutamente espantosa no reino fictício de Wakanda, o lar de T'Challa/Pantera Negra e, sem se deter, segue para um autêntico festival de explosões, efeitos especiais de ponta, perseguições e lutas extraordinariamente coreografadas - como tempera a vertente do espectáculo com uma narrativa fantasticamente arquitectada - obra de Christopher Markus e Stephen McFeely, que deram um cunho muito pessoal à série de comics homónimos criados por Mark Millar em 2006 e 2007 - que coloca a cabeça do espectador à roda e repleta de incertezas, questionando sobre quem tem razão do quê e qual dos lados deve efectivamente apoiar.

Quanto às personagens que vão pululando pelo grande ecrã, destaque óbvio para as novidades Tom Holland (aka Peter Parker/Homem-Aranha) e Chadwick Boseman (T'Challa/Pantera Negra), que "roubam" todas as sequências em que aparecem (e não são poucas) com uma facilidade assinalável, confirmando-se como duas excelentes adições ao universo cinematográfico Marvel. Já sobre Chris Evans e Robert Downey Jr., o duo protagonista deste «Capitão América: Guerra Civil», o que dizer? Vão (re)confirmando a cada nova longa-metragem quão acertada foi a sua escolha para os papéis de Steve Rogers e Tony Stark, respectivamente. Uma palavra igualmente para o fantástico elenco de "secundários", do qual fazem parte Scarlett Johansson, Sebastian Stan, Anthony Mackie, Don Cheadle, Elizabeth Olsen - a vigorosa Feiticeira Escarlate brilha a grande altura, tendo direito a algumas das melhores cenas do filme -, Jeremy Renner, Paul Rudd, Paul Bettany, Emily VanCamp, Daniel Brühl - com uma presença forte apesar de temporalmente limitada como o vilão Barão Zemo -, William Hurt e Frank Grillo, que passou com distinção este difícil "teste".


Os estúdios Marvel apostaram todas as fichas em «Capitão América: Guerra Civil» para fazer esquecer a semi-desilusão que foi «Vingadores: A Era de Ultron» (2015) e, com todo o empenho, dedicação e carinho que colocaram neste projecto, acabaram por nos presentear com um prodigioso e inolvidável evento cinematográfico que, garantidamente, arrecadará milhões e marcará presença nas listas de melhores do ano de uma larga maioria de fãs da Sétima Arte. Na nossa, estará com toda a certeza!

NOTA (0 A 5):
5

segunda-feira, 28 de março de 2016

REVIEW: "Batman v Super-Homem: O Despertar da Justiça"


FICHA TÉCNICA:
Realizador: Zack Snyder
Intérpretes: Ben Affleck, Henry Cavill, Jesse Eisenberg, Amy Adams, Gal Gadot
Género: Acção/Aventura/Fantástico/Ficção Científica
Duração: 2 horas e 30 minutos

SINOPSE OFICIAL:
Temendo a imprevisibilidade das acções de um poderoso super-herói, o protector e vigilante de Gotham City decide enfrentar o salvador de Metropolis, enquanto o mundo debate que tipo de herói realmente necessita. E com o Super-Homem (Cavill) e o Batman (Affleck) em guerra, uma nova ameaça emerge colocando a humanidade na sua mais perigosa situação de sempre.

O VEREDICTO:
Juntar duas das mais amadas personagens dos comics para «a maior batalha de gladiadores na história do mundo» fez com que as expectativas estivessem pouco mais do que estratosféricas.
Infelizmente, o filme não consegue estar à altura destas.

domingo, 27 de março de 2016

REVIEW: "A Senhora da Furgoneta"


FICHA TÉCNICA:
Realizador: Nicholas Hytner
Intérpretes: Maggie Smith, Alex Jennings, Frances de la Tour, Gwen Taylor, Jim Broadbent
Género: Biografia/Comédia/Drama
Duração: 1 hora e 45 minutos

SINOPSE:
Nesta cómica adaptação para cinema da icónica biografia e aclamada peça de teatro, seguimos a verdadeira história de Miss Shepherd (Smith), uma mulher de origem incerta que estaciona ‘temporariamente’ a sua furgoneta no pátio da casa de Londres do escritor Alan Bennett (Jennings) e aí fica a viver durante 15 anos. O que começa por ser um favor à força, transforma-se num relacionamento que irá mudar a vida de ambos... para sempre.

O VEREDICTO:
«Hold my hand. It's clean.»

Poucos foram os filmes que me levaram às lágrimas. Assim de repente, só me lembro de tal ter acontecido com «O Campeão», filme de 1979 que conta com Jon Voight no principal papel. «A Senhora da Furgoneta» consegue ser ainda mais tocante. Tem alguns apontamentos de humor mas é fundamentalmente triste. Quando vejo algum filme baseado em factos reais tento inteirar-me da história por detrás e esta fala-nos de solidão e desespero mas também de amabilidade e generosidade, virtudes em extinção na sociedade actual. Quando há quarenta anos atrás a verdadeira Miss Shepherd estacionou a sua furgoneta à frente da casa de Alan Bennett, este estava longe de imaginar a riqueza que esta traria à sua vida: a dádiva de se dar atenção a quem dela necessita.

Não é assim tão difícil dar um bocadinho de nós. Um sorriso a um velhinho numa janela, uma moeda a alguém mais desfavorecido, os braços a quem não consegue carregar um saco de compras... se as possibilidades são infinitas, a bondade também o deveria ser.
O que perdemos em ser gentis?

Bennett descreveu a senhora da furgoneta como uma mulher «difícil, excêntrica mas, acima de tudo, pobre» e creio que a mensagem da sua peça («The History Boys» - na qual grande parte do elenco aparece no filme) seria fazer-nos reparar na pobreza que existe e mora à nossa volta, fazer-nos acolher as Misses Shepherds das nossas vidas, fazer-nos dar a mão a alguém. Mesmo que esta esteja suja. Mesmo que esse alguém esteja a morrer. Possivelmente.

Mensagem que transparece no filme, graças ao desempenho magistral de Maggie Smith,uma força da natureza que domina o ecrã e nos oferece uma personagem de contrastes: forte e frágil, lúcida e senil, adoravelmente antipática. 
Pontos para Jennings - que consegue exprimir com muita naturalidade a mescla de emoções que Bennett terá experienciado - e para a equipa de design de produção, que filmou em Camden, na exacta rua e casa onde Bennett e Miss Shepherd viveram todos aqueles anos e conseguiu, de forma absolutamente irrepreensível, ressuscitar a Londres dos anos 70.

A furgoneta amarela não foi uma morada. Não foi um sepulcro. Foi um lar!
E um filme com coração.

NOTA (0 A 5):
4

segunda-feira, 15 de junho de 2015

REVIEW: "Mundo Jurássico"


FICHA TÉCNICA:
Realizador: Colin Trevorrow
Actores: Chris Pratt, Bryce Dallas Howard, Ty Simpkins
Género: Aventura/Acção/Thriller/Ficção Científica
Duração: 2 horas e 5 minutos

SINOPSE:
Senhoras e senhores! Meninos e meninas! Bem-vindos à reabertura do local mais cool de que há memória: o Parque, desculpem, o Mundo Jurássico! 
Há dinossauros para todos os gostos! Aquáticos, voadores, carnívoros, herbívoros e agora até híbridos. Aqui a diversão é garantida e a segurança também! Bem, pelos menos até a última atracção, the one and only Indominus Rex, o predador dos predadores, decidir colocar a cabeça de todos os visitantes a prémio. Aí, é cada um por si e salve-se quem puder!

sábado, 7 de março de 2015

O MÊS EM ANÁLISE: Fevereiro 2015

DIA 5:

O VEREDICTO: Apesar da grande interpretação de Julianne Moore (merecidamente recompensada com o Óscar de Melhor Actriz) e da actualidade do tema - a luta de uma professora contra a doença de Alzheimer - "O Meu Nome é Alice" não encontra soluções para não entrar no melodrama excessivo, sendo apenas mais um filme cujo potencial augurava bem mais.
NOTA - 2,5 em 5

O VEREDICTO: Cinebiografia em tom documental, "Selma - A Marcha da Liberdade" tem os seus pontos fortes no elenco (nos quais se destacam David "Martin Luther King Jr." Oyelowo, Tom "Lyndon B. Johnson" Wilkinson e, apesar do pouco tempo de antena, Tim "George Wallace" Roth) e na reconstituição da época, sendo igualmente de salientar a realização clean de Ava DuVernay, que apesar de ter filmado algumas cenas fortes - sendo o exemplo máximo a que ocorre na ponte Edmund Pettus - optou por nunca entrar no drama excessivo ou em didatismos baratos.
NOTA - 3,5 em 5

O VEREDICTO: Inicialmente ambientado em terrenos próximos de "Os Cavaleiros do Asfalto" (1973), "Tudo Bons Rapazes" (1990) e até mesmo de "Casino" (1995), a nova longa-metragem de J.C. Chandor ("Margin Call - O Dia Antes do Fim", "Quando Tudo Está Perdido") demarca-se posteriormente dos filmes de Scorsese, seguindo (e bem) o seu próprio caminho, ao apostar num tom mais pausado e menos centrado na violência para mostrar a vida de um homem de negócios (excelente interpretação de Oscar Isaac) cujo único intuito é preservar a sua família (onde se encontra a Anna Morales de Jessica Chastain, mais um belo papel da actriz californiana) bem como a honestidade e integridade dos seus negócios.
NOTA - 3,5 em 5


DIA 12:

O VEREDICTO: Protagonistas sem talento e com tanta química quanto azeite e água, uma história (?) com mais buracos que queijo suíço e uma dose de sensualidade que só encontra paralelo nos pêlos do peito do brasileiro Tony Ramos fazem deste "As Cinquenta Sombras de Grey", desde já, um dos mais fortes candidatos a pior filme do ano!
NOTA - 0,5  em 5


DIA 19:

O VEREDICTO: Extremamente cool, repleto de acção sangrenta - apesar do vilão belfo e nerd encarnado por Samuel L. Jackson ser avesso a sangue - ironia, humor e gadgets de fazer inveja a Q, "Kingsman: Serviços Secretos" é a prova de que Matthew Vaughn ("Kick-Ass", "X-Men: O Início") é um dos melhores e mais influentes cineastas da cultura pop actual.
NOTA - 4,5 em 5

O VEREDICTO: Seis narrativas que revelam de forma desassombrada temas como o stress, a violência e a corrupção. Seis críticas sociais que mostram o pior de cada um de nós. Seis histórias deliciosas (com especial destaque para o segmento protagonizado pelo "explosivo" Ricardo Darín) carregadas de humor corrosivo, ironia e uma grande dose de exagero. Resultado? Um filme, a todos os níveis, notável!
NOTA - 4 em 5


DIA 26:

O VEREDICTO: Apesar da falta de originalidade e de alguns clichés, a estreia de Julius Avery na direcção de longas-metragens consegue entreter, graças a algumas cenas de acção bem conseguidas e à química do trio protagonista (Brenton Thwaites, Ewan McGregor e Alicia Vikander).
NOTA - 3 em 5

O VEREDICTO: Tim Burton deixa de lado a sua excentricidade (mas não completamente) para filmar a história de uma pintora (uma luminosa Amy Adams) célebre pelos seus retratos de crianças com olhos enormes e assustadores que, na década de 50, teve que lutar em tribunal contra o próprio marido (um sempre impecável Christoph Waltz), pois este afirmava ser o verdadeiro autor das suas obras. Para além das belíssimas performances da dupla protagonista, "Olhos Grandes" tem também como outros aliciantes a superlativa fotografia do francês Bruno Delbonnel e a melodiosa banda sonora de Danny Elfman.
NOTA - 3,5 em 5

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

O MÊS EM ANÁLISE: Janeiro 2015

DIA 1:

O VEREDICTO: Um filme insólito, revigorante e muito divertido em que todas as peças encaixam na perfeição - a realização magistral (e sem pausas) de Alejandro González Iñárritu, o enredo original assinado pelo próprio Iñárritu com a colaboração de Nicolás Giacobone, Alexander Dinelaris e Armando Bo, as performances soberbas de Michael Keaton (num papel que lhe encaixa como uma luva) e do sempre brilhante Edward Norton, a excepcional e invulgar banda sonora criada por Antonio Sanchez...
NOTA - 5 em 5

O VEREDICTO: Apesar de contar com um elenco de peso - Meryl Streep, Chris Pine, Anna Kendrick, Emily Blunt, James Corden, Johnny Depp... - , a adaptação do musical da Broadway com o mesmo nome falha redondamente nesta sua transição para o grande ecrã, oferecendo apenas alguma boa-disposição e um excelente design de produção.
NOTA: 2 em 5 

O VEREDICTO: Um drama biográfico com um pequeno toque de thriller que se assemelha a um longo (e pachorrento) jogo de xadrez onde as "peças" - com particular destaque para um sinistro Steve Carell - são (vagarosamente) colocadas até ao ansiado (e propalado) clímax.
NOTA: 2 em 5

DIA 8:

O VEREDICTO: Apesar da premissa interessante - a (difícil) coexistência entre homens e máquinas num futuro distópico - "Autómata" não é mais do que uma reciclagem de ideias e de filmes do género (com "Eu, Robot" (2004), de Alex Proyas, à cabeça) que faz da falta de rasgo a sua imagem de marca. 
NOTA: 1,5 em 5

O VEREDICTO: Uma extraordinária história de resiliência e coragem, que apesar do desempenho (físico e psicológico) notável de Jack O'Connell e da belíssima fotografia de Roger Deakins, necessitava de um "comandante" mais experiente para levar o barco a bom porto.
NOTA: 3 em 5

DIA 15:

O VEREDICTO: A incrível história de um dos maiores génios do século passado é transposta para o grande ecrã de forma brilhante pelo norueguês Morten Tyldum, que assina um thriller biográfico superior ancorado numa interpretação sublime de Benedict Cumberbatch. 
NOTA: 4 em 5

O VEREDICTO: Sem ideias e emoção, mas com muita previsibilidade e diálogos saídos de um estabelecimento prisional, o (desnecessário) regresso de Bryan Mills ao grande ecrã vale por um par de cenas de acção mais bem conseguidas. Infelizmente, apesar de estar a ser vendido como o último capítulo da saga, apostamos que Liam Neeson regressará ao papel que lhe tem enchido os bolsos para (possivelmente) resgatar o neto (ainda por nascer) de um grupo de auxiliares de educação que se dedicam a raptar bebés indefesos nas horas vagas.  
NOTA: 1 em 5

DIA 22:

O VEREDICTO: Transposta para o grande ecrã pelas mãos calejadas de Clint Eastwood, a incrível narrativa verídica do atirador furtivo mais letal da história do exército norte-americano tem como grandes trunfos a entrega assombrosa de Bradley Cooper ao papel do malogrado Chris Kyle, o realismo das suas cenas de acção bem como a tensão latente exibida desde os primeiros minutos e que é capaz de tirar o fôlego a qualquer espectador.
NOTA: 4,5 em 5

DIA 29:

A TEORIA DE TUDO
O VEREDICTO: Ancorada numa monstruosa interpretação de Eddie Redmayne, a longa-metragem de James Marsh mostra de uma forma simples mas tocante o lado mais pessoal do génio Stephen Hawking e prova, uma vez mais, que por detrás de um grande homem existe sempre uma grande mulher.
NOTA: 4 em 5

O VEREDICTO: Um olhar intenso e inquietante sobre a busca da perfeição que vive da energia e da (muita) química entre as personagens encarnadas por Miles Teller e J.K. Simmons, sendo que a interpretação deste último - e toda a intensidade por ele colocada no papel - merecem, sem qualquer dúvida, todos os louvores e prémios arrecadados até ao momento.
NOTA: 4,5 em 5

O VEREDICTO: Jason Statham tenta mostrar a sua faceta mais dramática nesta nova colaboração com Simon West ("The Mechanic - O Profissional", "Os Mercenários 2"), mas contrariamente ao esperado (ou talvez não) a sua interpretação (bem como o filme em si) só nos consegue arrancar um enorme bocejo.
NOTA: 1 em 5

domingo, 1 de fevereiro de 2015

REVIEW: "The Hunger Games: A Revolta" (Livro)


FICHA TÉCNICA:
Autora: Suzanne Collins
Número de páginas: 280
P.V.P. - 13,41€

SINOPSE OFICIAL:
Katniss Everdeen não devia estar viva. Mas, apesar dos planos do Capitólio, a rapariga em chamas sobreviveu e está agora junto de Gale, da mãe e da irmã no Distrito 13. Recuperando pouco a pouco dos ferimentos que sofreu na arena, Katniss procura adaptar-se à nova realidade: Peeta foi capturado pelo Capitólio, o Distrito 12 já não existe e a revolução está prestes a começar. Agora estão todos a contar com ela para continuar a desempenhar o seu papel, assumir a responsabilidade por inúmeras vidas e mudar para sempre o destino de Panem - independentemente de tudo aquilo que terá de sacrificar… 

O VEREDICTO:
Antes de começar há duas coisas que têm que saber acerca de mim.
Primeira: faço listas por tudo e por nada. 
De filmes e séries que quero ver, livros que quero ler e até de coisas que tenciono comprar ao longo do ano... yep, I'm that guy!
Segunda: não sou nada intelectual e na minha lista de leituras figurava apenas este livro, o "Serena" do Ron Rash, o "Queda" do Jeff Abbott, "O Diabo Veste Prada" da Lauren Weisberger e o "Antes de Adormecer" de S. J. Watson.
Gosto de boas histórias, que nos enriquecem, que nos conseguem alhear do mundo lá fora, que nos façam passar um bom bocado. Gosto de conhecer novos mundos, novos pontos de vista, novos ideais. Gosto de aprender novas coisas e ficar a saber um pouquinho mais...
Não é esta, afinal, a maior virtude de um livro? Ser um professor à disposição?
Não sou fundamentalista ao ponto de considerar que só e apenas através dos livros se aprende. Estamos sempre a evoluir, nunca estagnamos. E também não acho que se deva ler apenas grandes clássicos da literatura. Diverti-me a ler este livro, diverti-me a ler "Os Maias", continuo a ler "Comix" da Disney e de vez em quando dou por mim a revisitar a magia de Harry Potter. Aliás, sou dessa geração que cresceu com o pequeno feiticeiro, com o "Clube das Chaves", com a "Profissão Adolescente" da Maria Teresa Maia Gonzalez e o "Clube Jota". Não se aprende a ler com sonetos de Shakespeare ou Luís de Camões, não começamos logo com um "Anna Karenina" ou com "O Grande Gatsby". São estes livros, aparentemente mais simples, que nos conquistam e despertam o gosto pela leitura. São estes livros que constroem o nosso pensamento crítico, que nos constroem, enquanto indivíduos e fazem de nós leitores, na verdadeira acepção da palavra.
Como tal, livros para "jovens adultos", como este da Suzanne Collins, terão sempre lugar na minha lista.

"Katniss Everdeen, a rapariga em chamas, lançou uma faísca que, se não for contida, poderá tornar-se um inferno que destruirá Panem".

Neste último capítulo da saga, contado exclusivamente sob a perspectiva de Katniss, vemo-nos envolvidos num ambiente cinzentão e sombrio sem o brilho e os fait-divers ofuscantes do Capitólio. Sentimo-nos perdidos, tal como a protagonista, num mundo que nos é estranho e no qual não nos conseguimos encaixar. Há aqui um paralelismo muito forte com a adolescência, com a procura pelo nosso lugar, quando ainda não somos "grandes" mas também já não somos "pequenos". A inquietação e perda de inocência e identidade estão bem patentes e é por isso que, julgo, o livro funciona tão bem. Não estivemos nos Jogos da Fome mas conseguimos identificar-nos com esta espécie de transição..."num veleiro de açúcar", lançados "de um lado para o outro por ondas verde-mar, com o convés oscilando e fugindo-nos dos pés." 

"Porque é que tudo me provoca uma nova sensação de dor? Será que antes estava demasiado alheada para sentir plenamente a perda do meu mundo?"

Katniss não é somente a sobrevivente, a vencedora dos jogos, a menina da trança que gera simpatia. Não é uma figurante de uma qualquer campanha militar, nunca o poderia ser...
A "Miss Everdeen" é o baluarte, o rosto da revolução, a peça principal dum jogo de xadrez que ainda está longe de terminar, a única capaz de forjar a derrota do Capitólio, de derrubar 
as sinistras rosas brancas que com seu o perfume embriagante são o motor da engrenagem de "pão e circo"É o único símbolo de esperança... é o Mimo-Gaio!

"Começo a perceber realmente até que ponto as pessoas estão dispostas a ir para me proteger. O que eu significo para os rebeldes. A luta contínua contra o Capitólio, que tantas vezes me pareceu uma viagem solitária, não foi empreendida só por mim. Tive vários milhares de pessoas nos distritos a meu lado. Fui o seu Mimo-Gaio muito antes de aceitar o papel."

A sua voz ecoa por toda a Panem e despoleta a coragem de todos aqueles que foram silenciados por demasiado tempo.

♪ «Vem, vem ter comigo à árvore
Onde enforcaram um homem
Que dizem ter assassinado outros três.
Aqui estranhas coisas acontecem
Mas não seria mais estranho
Se nos encontrássemos à meia-noite
Junto à árvore da forca.» 

A comparação com o filme é inevitável, sendo este uma película poderosíssima, uma adaptação fidedigna da obra que lhe deu origem, com momentos inesperados (um em particular fez-me saltar da cadeira. Se o viram, sabem do que é que estou a falar!) e travos de humor, simbolismo e suspense.

"The Hunger Games - A Revolta" é um livro em modo crescendo, que nos fala de encruzilhadas, de autonomia, das consequências das nossas decisões e desta aventura que é viver. Sendo um livro direccionado para o público juvenil tem, evidentemente, aquela componente de romance com a protagonista a deixar-nos sistematicamente na dúvida de qual será o seu verdadeiro amor. Aquele sem o qual não conseguiria "sobreviver".  
O mistério adensa-se, sendo só desfeito na antepenúltima página do livro.
E é o final perfeito!

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

REVIEW: "Serena" (Livro)


FICHA TÉCNICA:
Autor: Ron Rash
Editora: Editorial Presença
Número de páginas: 368
P.V.P. - 16,90€ (Neste momento encontra-se com um desconto de 10% no site da Editorial Presença - 15,21€).

SINOPSE OFICIAL:
Início da Grande Depressão. George Pemberton está de regresso à Carolina do Norte depois de três meses passados em Boston. Traz consigo a sua mulher, Serena, e os planos de ambos para se tornarem - unindo os recursos de cada um - barões da indústria madeireira. Em poucos anos o império cresce, gerido em parte pela mão implacável e sem escrúpulos de Serena, que não hesita em eliminar qualquer ameaça às suas ambições. Quando descobre que não poderá ter filhos e que George tem um filho de uma anterior relação, Serena fica determinada a não deixar que nada nem ninguém se intrometa entre si e o marido. 

O VEREDICTO:
"Um dos livros mais admiráveis do ano." 
The New York Times

"Um dos melhores livros do ano."
Amazon.com

"Melhor Livro do Ano!"
The Washington Post

As expectativas eram altas e não foram defraudadas.
Serena é pura poesia.

Ron Rash brinca com as palavras; encadeia-as tão sabiamente que nos deixa absortos, num mar de poemas em forma de prosa.
A sua escrita é pautada pela crueza e pela delicadeza, bem ao estilo de Cormac McCarthy ("A Estrada", "O Conselheiro", "Este País Não é Para Velhos"). Tão depressa descreve espaços com "uma pilha de sacos a apodrecer" como a mais maravilhosa das paisagens naturais, com luz a "penetrar através da folhagem como se de camadas de gaze se tratasse" e bosques "que cheiravam como se tivesse acabado de chover".
No decorrer da narrativa encontramos sempre pequenas observações que nos cativam com a sua simplicidade e assertividade, convidando-nos, gentilmente, à introspeção:

"...o que faz a perda de alguém que amamos tornar-se tolerável mão é lembrarmo-nos da pessoa mas sim esquecê-la. Primeiro, esquecer pequenos detalhes, o cheiro do sabonete com que a mãe se banhava, a cor do vestido que usava para ir à igreja; depois, passado um tempo, o som da sua voz, a cor do seu cabelo. Espantava-a tudo o quanto se podia esquecer, e tudo o que se esquecia tornava essa pessoa menos viva dentro de nós até que por fim podia suportar-se a perda. Mais tarde, podemos permitir-nos recordar, podemos até querer recordar. Contudo, mesmo nessa altura, os sentimentos dos primeiros dias poderiam regressar e fazer-nos lembrar que a dor ainda continuava lá, qual arame farpado alojado no cerne de uma árvore."

"Ocorreu-lhe como era reconfortante comer nos dias difíceis porque recordava às pessoas que tinha havido outros dias, dias bons, em que se havia comido as mesmas coisas. Lembrava-nos de que havia dias bons na vida, quando nada mais o fazia."

"...um lugar onde tinha acontecido uma coisa tão terrível não devia continuar a existir. A própria terra não o devia tolerar."
(Com esta, dei por mim a pensar, inevitavelmente, em Auschwitz e nas "procissões" que por lá proliferam neste momento. Bem sei que "os povos que não conhecem a sua história estão condenados a repeti-la", mas será que revisitar de forma amiúde uma página tão negra dos anais da nossa civilização tem algum efeito apaziguador, absolvente? 
Os campos de concentração envergonham todos nós. Todos os que não são loiros de olhos azuis e todos os que são, efectivamente, loiros de olhos azuis. Vitimam a nossa consciência colectiva, que está manchada eternamente com uma nódoa de sangue que encarde a nossa alma e não nos permite, de maneira nenhuma, olvidar os hediondos crimes contra a diversidade, contra a humanidade, contra a vida, propriamente dita. Mas não seria, porventura, mais construtivo apagar de vez a imagem de sofrimento dos que tanto por lá penaram? Dar um desfecho aos sobreviventes, sem os obrigar a revisitar os seus próprios fantasmas? Não seria - pergunto eu - mais produtivo dar uma nova vida ao lugar onde tantas vidas foram brutalmente ceifadas? Criar novas lembranças, novas memórias?)

"Queremos o que está neste mundo, mas também queremos o que não está."

Introspeções à parte, é uma história impressionante e ritmada, focada na ganância impiedosa de um casal e tudo o que esta desencadeia. Uma hecatombe no tempo da grande Depressão.
De que atrocidades seríamos capazes para conquistar o que mais almejamos, a que princípios renunciaríamos? Que limites estaríamos dispostos a transpor? Que leis não nos dariam pejo violar?
Apesar de todos os personagens serem bem construídos é a protagonista - que tem tanto de sinistra como fascinante - que nos conduz por uma estrada sórdida repleta de atrocidades, esquemas e planos calculistas. É uma personagem feminina forte que domina toda a trama. Serena é intrépida e enigmática, com toda uma aura de misticismo a pairar sobre si. É manipuladora, mas ao mesmo tempo que nos aterroriza com a sua total falta de escrúpulos (quem é que gosta de uma pessoa assim?) não deixa de nos parecer admirável (how weird is that?).

SERENA não é, pois, um livro alegre. É um bom livro que nos fala da ambição cega e desmedida ao mesmo tempo que nos guia pelas mais belas paisagens da Carolina do Norte.
É a quarta obra de Ron Rash e um sério candidato a melhor livro lido em 2015.
Vale (mesmo) muito a pena!

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

REVIEW: "A 5ª Vaga"


FICHA TÉCNICA:
Autor: Rick Yancey
Editora: Editorial Presença
Número de páginas: 400
P.V.P. - 16,90€

SINOPSE OFICIAL:
Uma nave extraterrestre fixa-se na órbita da Terra, à vista de todos mas sem estabelecer qualquer interação. Até que, subitamente, uma gigantesca onda eletromagnética desativa todos os sistemas do nosso planeta, e todas as luzes, comunicações e máquinas deixam de funcionar. A esta primeira vaga seguem-se outras, num crescendo de violência que devasta grande parte da humanidade. Será este o fim da existência humana sobre a Terra? Haverá ainda alguma salvação possível?

O VEREDICTO:
Quando me foi dada a oportunidade de ler este livro pensei: "Mais uma aventura juvenil em que uma rapariga apaixonada por dois rapazes tem que salvar o mundo? Twiligh, much? Passo!" 
Mas, e como nunca se deve julgar um livro pela capa, comecei a ler.
Um bocado contrafeito, mas fi-lo (e ainda bem!)

Em A 5ª VAGA, Rick Yancey pegou no melhor de outros títulos sci-fi - falando apenas em termos cinematográficos, "Distrito 9" (2009), de Neill Blomkamp (a nave que paira ininterruptamente no ar) e "Eles Vivem" (1988), de John Carpenter (os extraterrestres estarem entre nós, "mascarados" como o mais comum dos mortais), só para citar alguns - adicionou-lhe uma trama extremamente elaborada e meticulosamente construída, personagens verdadeiramente carismáticas - a desbocada Cassie, o corajoso (e misterioso) Ben, o pequeno (e curioso) Sammy e Evan, o "zombie" mais mortífero de sempre - acção e suspense a rodos (e uma boa dose de romance, mas sem nunca se tornar um cliché digno de uma qualquer saga vampiresca) e surpresas ao virar de cada página para criar uma obra que facilmente "agarra o leitor pelos colarinhos" e só o "larga" mesmo, mesmo (mas mesmo) no seu final.

Resta agora aguardar para ver se a adaptação ao cinema desta obra - que contará com a direcção de J. Blakeson ("O Desaparecimento de Alice Creed") e com Chloë Grace Moretz ("Se Eu Ficar"), Nick Robinson ("Mundo Jurássico") e Alex Roe ("Sniper: Legacy") nos principais papéis - irá fazer jus ao material que lhe deu origem, existindo desde já uma certeza: Blakeson terá que suar (e muito!) as estopinhas para conseguir transpor para imagem real o brilhantismo que Yancey conseguiu transmitir por palavras.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

REVIEW: "Para Sempre, Talvez"


FICHA TÉCNICA:
Autora: Cecelia Ahern
Número de páginas: 364
P.V.P. - 16,11€

SINOPSE OFICIAL:
Alex e Rosie atravessaram a infância e a adolescência juntos, sempre presentes na vida um do outro como melhores amigos. Mas, quando chega o momento de começarem a descobrir as alegrias das noites na cidade e das primeiras aventuras amorosas, o destino prega-lhes uma partida: a família de Alex muda-se da Irlanda para Boston, e Alex vai com ela, para sempre. Rosie não consegue imaginar a vida sem o companheiro de todas as horas e decide ir também para os Estados Unidos. Só que, uma vez mais, o destino intervém nas suas vidas, obrigando Rosie a permanecer na Irlanda. Mas poderão o tempo, a distância e o próprio destino ser mais fortes que um grande amor?


O VEREDICTO:
Mea culpa.
Nunca tinha pegado neste livro por pensar que era a obra que tinha dado origem ao filme com o mesmo nome protagonizado em 2008 por Ryan Reynolds - "Definitely, Maybe", na versão original. Apesar de ser engraçado e contar com um bom elenco não passa disso e como tal, este título suscitava-me zero interesse.
O que eu ia perder!
Quando estreou em Novembro o filme realmente inspirado neste "Para Sempre, Talvez" é que me dei ao trabalho de ler a sinopse e perceber que era uma coisa completamente diferente. E que vale MESMO a pena ser lida!
É um livro muito, muito bom que não me deixou descansar até o terminar. Posso dizer que o comecei a ler à noite e só consegui ir dormir de madrugada depois de saber o que acontecia ao Alex e à Rosie.
Aliás, se o final não me agradasse já estava com ideias de o deitar à fogueira que os meus avós costumam fazer no quintal. Caramba, o pathos move o leitor mas não convém exagerar, coitada da Rosie! E do Alex. E da professora "Pencuda com Mau Hálito" Casey que tinha que os aturar - se há personagem paciente, é esta.
No entanto, não só não o deitei à fogueira como se tornou num dos títulos que mais gostei de ler em 2014. É original (a história é-nos apresentada em forma de bilhetinhos, e-mails, cartas e mensagens), ternurento, super divertido, um pouco frustrante lá para o meio (mas isso é só porque aprendemos a gostar demasiado das personagens) e um hino à amizade. À verdadeira amizade! Daquelas que sobrevivem a toda uma vida. A tudo. A todos.
E quão afortunados somos quando a encontramos na pessoa com quem almejamos passar todos os nossos dias? Que transforma as horas em segundos quando estamos com ela e os segundos em horas, quando não estamos?

O bom humor de Ahern conseguiu impedir que fosse mais um romance delicodoce boy meets girl. Nada disso. Atentem bem nesta (hilariante) passagem:
"Ruby: Ele pediu-te em casamento numa aldeiazinha? Tu ODEIAS aldeiazinhas! Gostas de cidades, barulho, poluição atmosférica, luzes brilhantes, pessoas mal-educadas e edifícios altos!
Rosie: Mas ficámos numa pousada de turismo de habitação amorosa, propriedade de uns senhores...
Ruby: Tu ODEIAS TURISMO DE HABITAÇÃO! Tu vives obcecada com hotéis. Trabalhas num. Queres gerir um, ter um, viver num e, muito possivelmente, ser um. O melhor que te pode acontecer é passar a noite num hotel, e ele levou-te para uma pousada de turismo de habitação ranhosa no meio de nenhures.
Rosie: Oh, mas se tivesses visto o restaurantezinho. Tinha umas redes de pesca dependuradas do tecto.
Ruby: Tu mataste o peixinho dourado da Katie à fome e depois deitaste-o pela retrete. Tens vómitos quando vês alguém a comer ostras (o que, já agora, é muito embaraçoso quando se está num restaurante). Tens de tapar o nariz sempre que comes atum, pensas que salmão fumado é uma obra do diabo e gambas dão-te a volta ao estômago.
Rosie: Eu comi uma bela salada, muito obrigada.
Ruby: Dizes sempre que as saladas são para os coelhos e para as supermodelos!
Rosie: De qualquer forma, terminámos a noite a caminhar de mão dada à beira do lago...
Ruby: Tu ADORAS O MAR! Queres ir viver numa praia. O teu desejo secreto é seres uma sereia. Achas os lagos maçadores, dizes que lhes falta aquele elemento «teatral» do mar.
Rosie: Oh, por favor, pára com isso, Ruby!"

Mas nem só de gargalhadas vive uma pessoa (mesmo com o "noz" e as private jokes todas) e consegui aprender também coisas importantíssimas. A reter:
- Não se pode chamar pervertido ao chefe. Muito menos se o insulto se seguir à frase "Pare de olhar para as minhas mamas";
- Acidentes acontecem. Sumos entornam-se em cima de vestidos caríssimos, principalmente se esse vestido caríssimo for envergado por alguém detestável;
- Os filhos podem ser bem mais eloquentes que os pais. E perspicazes (as cartas da Katie são mesmo do melhor. É muito sarcasmo para uma pessoa tão pequenina);
- O nosso nemesis na infância pode não ser tão mau assim. Mesmo que tenha mau hálito. E uma grande penca;
- Não convidar o nosso melhor amigo para a nossa festa de anos pode ter graves repercussões futuras;
- Às vezes os nossos amigos sabem bem o que é o melhor para nós;
- E, fundamentalmente, nunca julgar nenhum livro pela capa ou pelo título.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

REVIEW: "Dei-te o Melhor de Mim" (Livro)


FICHA TÉCNICA:
Autor: Nicholas Sparks
Editora: Editorial Presença
Número de páginas: 304
P.V.P. - 14,31€

SINOPSE OFICIAL:
Na Primavera de 1984, dois adolescentes norte-americanos, Amanda Collier e Dawson Cole, envolvem-se na intensa vivência do primeiro amor. Apesar de pertencerem a mundos diferentes na pequena cidade de Oriental, na Carolina do Norte, o seu amor um pelo outro parece-lhes suficientemente poderoso para enfrentar todos os desafios. Mas quando o Verão do seu último ano da escola secundária chega ao fim, acontecimentos imprevistos colocam os dois jovens em trajetos irremediavelmente divergentes. Vinte e cinco anos mais tarde, a morte do único amigo que os protegera reúne-os de novo na cidade natal. Confrontados com dolorosas memórias e um sentimento que se revela intacto, que sentido dar agora a um amor que nunca poderia mudar o passado?

O VEREDICTO:
Poucos são os que escrevem histórias de amor como Nicholas Sparks. Mesmo as que no final nos deixam em posição fetal e a balbuciar inconformados "Isto não é real. Não pode estar a acontecer."
Menos ainda os que têm acordos com a indústria do papel... ele bem tenta rotular-se de romântico inveterado mas já deve ter feito uns bons milhões à custa dos klennex que a leitura dos seus livros fazem ensopar.
Só eu já encharquei, à vontadinha, dezenas deles. 
Aliás e em nome do negócio, todos os livrinhos do senhor já deviam trazer uns pacotinhos de lenços incluído. Just saying.

O que lhe vale é que sabe meeeeeesmo escrever. Cativa. Sabe-a toda, é o que é, e embora se descarte dos protagonistas com uma desfaçatez que nos faz lembrar George R. R. Martin (também ele um sádico de primeira), as estórias enchem-nos sempre o coração e o romance é de tal forma bem escrito que nos faz querer inventar uma máquina do tempo para voltarmos à adolescência e tentar viver um amor similar. 
(No caso deste livro, claro, se quisermos um amor à la "Palavras que Nunca Te Direi" ou "O Sorriso das Estrelas", ainda vamos a tempo.)
No entanto, a mestria do Senhor Sparks reside mesmo na construção dos personagens. É fácil sentir empatia por estes, pela sua personalidade, pelos trejeitos, pelas palavras que nos vão arrebatando aos poucos...
Amanda Collier é uma protagonista com P grande, é viva, mordaz, segura de si, uma jovem "de gargalhada rápida, irreverente" e resoluta. 
Dawson Cole é o underdog, o "pedaço de lixo branco desprezível", que oriundo duma família de criminosos ousou apaixonar-se desmedidamente pela menina "de olhos da cor dos céus quentes de verão", de classe superior.
Repete-se aqui a fórmula de "O Diário da Nossa Paixão" - rapaz conhece rapariga, apaixonam-se mas são de mundos diferentes, acabando, eventualmente, por se separar - receita mais do que assegurada para o melodrama. O que difere é mesmo a quantidade de desgraças: se nuns conseguimos retomar alegremente a nossa vidinha de sempre, noutros lemos o livro e, no final, ficamos de cama, com danos emocionais, a maldizer a humanidade (e o Sparks!) . DEI-TE O MELHOR DE MIM encaixa-se na segunda alternativa, obviamente. Depois de uma vida atribulada e cheia de sofrimento, quando os nossos protagonistas conseguem finalmente ver a luz no final do túnel e almejar alguma felicidade, o sacana do Sparks destino troca-lhes as voltas e, guess what?, mais sofrimento. 

Definitivamente este é um livro não recomendado a pessoas em estado depressivo. Relativamente a todas as outras, se não são daquelas que torcem pelo happy ending do típico bom rapaz de coração grande e sonhos ainda maiores, então este livro é para vocês.

domingo, 16 de novembro de 2014

REVIEW: "Trash - Os Rapazes do Lixo" (Livro)


FICHA TÉCNICA:
Autor: Andy Mulligan
Editora: Editorial Presença
Número de páginas: 200
P.V.P. - 13,95€

SINOPSE OFICIAL:
Num país do terceiro mundo, num futuro não muito distante, três rapazes tentam sobreviver nas montanhas de lixo nos subúrbios de uma metrópole. Num dia de sorte e azar, Raphael encontra algo muito especial e misterioso. Tão misterioso que decide guardar, mesmo que a polícia da cidade ofereça uma bela recompensa pela sua devolução. Essa decisão traz terríveis consequências e, em breve, os rapazes do lixo vão ter de usar toda a sua astúcia e coragem para escapar aos seus perseguidores.

O VEREDICTO:
«Chamo-me Raphael Fernández e sou um miúdo da lixeira. As pessoas dizem-me: "Imagino que nunca devem saber o que é que vão encontrar, a vasculhar o lixo! Quem sabe se hoje não é o teu dia de sorte?", e eu digo-lhes: "Ó amigos, acho que sei o que é que vou encontrar.»

Assim começa TRASH - OS RAPAZES DO LIXO, polémico bestseller escrito pelo londrino Andy Mulligan que segue as pisadas de três rapazes (Raphael, Gardo e Jun-Jun/Ratazana) residentes num país imaginário do Terceiro Mundo (que nos transporta rapidamente para o ambiente das favelas do Brasil, curiosamente, o local escolhido para a rodagem da adaptação ao cinema desta obra) que encontram uma pequena (mas importante) mala de cabedal que contém algo extremamente valioso para as autoridades locais.

Apesar da juventude do trio protagonista, a qual faria supor uma leitura light, a narrativa é extremamente dura, não se podendo dissociar desta realidade o ambiente em que os rapazes vivem e as atrocidades perpetradas pelo poder político e pela polícia, que os persegue de forma implacável e não olha a meios para obter os seus intentos (que o diga Raphael, que é barbaramente torturado por estes). Contudo, a decisão de Mulligan de "dar a palavra" aos seus protagonistas, apesar de original, nem sempre se revela uma fórmula vencedora, pois a constante troca de narrador torna, por vezes, a história confusa e desequilibrada. Se existem personagens que contam os factos de uma forma entusiasmante e fluída (como o trio de heróis), outros há (como o padre Juilliard e a «supervisora temporária» Olivia Weston) que o fazem de modo mais pausado, descritivo e, consequentemente, mais desinteressante.

Todavia, TRASH - OS RAPAZES DO LIXO revela-se, ainda assim, uma intriga com imensas surpresas ao longo do caminho - deambulando entre o romance de índole social e o policial - e que vai deixando duras críticas à corrupção governamental, ao abuso de poder e às diferenças assinaláveis que existem entre ricos e pobres, mas que, não obstante o acima referido, consegue terminar com uma mensagem de fé e de esperança na humanidade.