Retrato pintado por Jean-Gabriel Domergue (1) |
Vi, em alguns lugares, o seu ano de nascimento como 1968, mas tanto o Museu inglês V&A como o Museu de Tókio indicam o ano de 1872.
Jeanne teria estudado na Ecole Normale Supérieure de Sèvres, para ser professora, mas mudou de idéia e começou como vendedora na Béchoff-David.
Depois de ter também trabalhado na casa Paquin, teria aberto seu próprio negócio em 1908/1909 (não sei o endereço).
1910: Vestido para a noite (revista "Les Modes") (2)
Em 1911, se transferiu para a Rua Castiglione, mudando, então, em 1914 para 70 Avenue des Champs-Élysées, onde ficou até 1933, mudando, novamente, para 8 Rue Royale.(1)
Em 1912, a revista "Les Modes" publicou este anúncio, com a fachada da Rua Castiglione: (2)
e, em 1919, a revista "La Renaissance de L'Art Français" publicou este, no novo endereço dos Champs-Élysées: (2)
Em outro artigo da revista "La Renaissance de L'Art Français", publicado em 1924, (2) vemos:
"Fundada em 1911, rue de Castiglione, por Mme Jenny Sacerdote, a quem suas maravilhosas qualidades de animadora inspiram as mais engenhosas iniciativas e Mme Le Corre, técnica aprimorada (...) a maison se transportou para o nº 70 da Avenue des Champs-Élysées no dia 15 de julho de 1914 (...) em uma quadra onde a costura ainda não havia penetrado. "
"Duas semanas mais tarde, a Europa era precipitada no mais assustador cataclisma que podia se abater sobre a Terra (...) Dando um belo exemplo de patriotismo, elas deixaram suas portas abertas e se entregaram a uma propaganda incessante, tanto em favor de nossas indústrias de luxo que em favor da moral do país. (...) Quando as explosões das bombas rasgavam os ares, as manequins não tremiam (...) as trabalhadoras corriam à janela para ver onde a bomba havia caído (...) Nunca se dirá o bastante como as mulheres foram valentes durante a guerra."
"A maison Jenny se consagra unicamente à costura e às peles. Ela estima que (...) incluir outras especialidades lhe daria um ar de grande magasin, pouco compatível com sua preocupação de elegância refinada."
1920's: (3)
Casaco de noite de lamê e veludo, numerado (nº 54). A estampa luminosa estilo Art Deco foi fartamente bordada com vidrilhos na borda de baixo e nos punhos.
O lamê flutua livremente sobre o veludo de seda peludo que forma o corpo do casaco e é acabado com pele na gola e nos punhos. Totalmente forrado no mesmo veludo.
Foi revendido pela loja "Lord and Taylor".
20's (4)
Palais Galliera, musée de la Mode de la Ville de Paris
Casaco de noite de lamé dourado, constituído de retângulos ligados por um bordado frouxo de cordões também dourado, sem etiqueta, embora atribuído a Jenny.
1922 (5)
Vestido de cetim rosa entre 1922 e 1925, com etiqueta tecida 'Jenny Paris, Unis France' e numerado 5355, adornado com bolinhas de vidrilhos em tons de rosa e mauve, com foro de organza.
1922 - Kerry Taylor Auctions (6)
Chiffon canela bordado com ponto cadeia formando faixas em motivos chineses, com faixas nos braços formando falsas mangas.
20's - MET - Casaco/capa de seda com bordas em pele e bordados em vidrilhos. (7)
1923 - Museu de Kyoto (8):
Vestido de musseline de seda negra, bordado com contas e vidrilhos verdes, azuis e vermelhos e linha dourada em motivo egípcio. Numerado (No.1126).
A escavação da tumba de Tutankhamon em 1922 criou uma mania pelo Egito antigo que rapidamente influenciou a moda. O orientalismo que havia aparecido nos anos 10, permaneceu popular nos 20 com a influência dos estilos Egípcio, Asteca e Mexicano.
1923: (9)
Henri Gervex (10) (com uma écharpe... que será mencionada abaixo) |
Na mesma revista "La Renaissance de L'Art Français" (2) de 1924 consta uma declaração da própria Jeanne:
"Não considerar a moda como uma soberana tirânica, mas, ao contrário, a interpretar com maleabilidade (...) servir, antes de tudo, a beleza feminina, a realçar, afinar, enquadrar, envolver de juventude, frescor, de um charme aristocrático, estes são os princípios diretores, tão justos e tão preciosos que a maison Jenny coloca em prática e que lhe valeram, desde seus começos modestos, uma ascensão gradual, mas segura e rápida, em direção da mais sólida e brilhante prosperidade."
Jean Dunand (11) |
Sem dúvida, Mme Jenny era amante das artes, tanto que há vários retratos seus pintados por artistas diferentes.
Van Dongen (12) |
G. Masson (9) |
20's - Palais Galliera, musée de la Mode de la Ville de Paris (4)
Casaco de lamé rosa envelhecido forrado de cetim de seda salmon, estofado, bordado com motivos de estrelas do mar.
Com punhos de pele de coelho branca e gola removível no mesmo material.
Etiqueta numerada na gola do casaco:
"Jenny / Unis France / Paris / modèle déposé / nº 7158".
Fala-se muito sobre um tailleur cinza que teria sido criado por Jenny e se tornado o "uniforme da mulher parisiense chique nos anos 20", mas a única imagem de um tailleur que achei era do fim dos anos 30, quando ela já não estava mais na empresa....
1924/25 (13) - O site onde encontrei esse casaco citava como fonte o The Goldstein Museum of Design, mas a pesquisa dele não está funcionando....
O rápido sucesso de Jenny e as inovações que introduziu são mencionadas em um artigo da revista "Gazette du Bon Ton" especial de 1924-25:
"Pode-se dizer que ela é uma precursora e faz, a cada vez, a moda avançar. Ela, em primeiro lugar, lançou o vestido reto de aspecto um pouco rígido mas que guardava movimentos maleáveis que lhe permitiam rejuvenescer a silhueta. Ainda em primeiro, lançou a écharpe que nós enrolamos em torno do pescoço e com a qual ela envelopava o seu, bem antes de a impor a suas clientes. Em primeiro lugar, teve a idéia de encurtar os vestidos a fim de não entravar o andar da mulher e de lhe permitir mostrar suas pernas quando elas são bonitas. Inovando, ela opôs à monotonia, à banalidade dos beges, a nuance "bois de rose", este rosa famoso chamado rosa Jenny, que parece lembrar essas pétalas de flores caídas aos pés ao fim de uma noite de baile, cujo brilho, atenuado quase ao ponto de desmaiar, evoca a agonia das rosas e suas tinturas evanescentes...
Ela ensina à Parisiense o gosto da simplicidade. "
1925 -V&A (14)
1925 - (15)
Esse foi meu favorito dentre os dela....
1926 - MET (7) - Casaco de seda com barra e punhos bordados.
1926 - (16)
Casaco de brocado de lamê dourado com gola e punhos de pele de raposa branca. Forrado em seda, sem botões ou outros tipos de fechos.
1926 - Pallais Galliera: (4)
Vestido de noite feito para a própria Jeanne, que o doou ao museu, com bordados florais estilizados da casa Lesage (que funciona até hoje), curto com decote em "V" na frente e nas costas. Cintura baixa realçada por contas. Panejamento do lado esquerdo terminando com franjas de vidrilhos.
Ara Frenkian (1902-1983), autor do livro "Un artisan de la haute couture" trabalhou na maison Jenny, sendo mais um dos retratos dela que ilustra a capa do livro. Ele começou como aprendiz em 1925 e se tornou modelista, permanecendo com ela até 1931, quando Jenny deixou de dirigir o negócio. Ele lembra, como clientes, a Imperatriz do Japão, a Rainha do Egito e as atrizes Mary Pickford e Elvire Popesco, que está na foto abaixo:
1927:(9)
Além dessas, também vestiam Jenny: Mme Cornelius Vanderbilt, a Maharani de Kapurthala, Ruth Elder, a Condessa de la Rochefoucauld, Yvonne Vallet (esposa de Maurice Chevalier), Lady Cavendish, Suzanne Lenglen, etc.
1927:(9)
Madame Jenny em sua maison. Mais uma vez, ela com a écharpe mencionada na reportagem acima...
1928: (17)
Da mesma forma que Lanvin e Louiseboulanger, a Elgin também fez um relógio a partir de um desenho de Jenny. O curioso é que o desenho publicado na propaganda era verde e que este relógio, vendido em um site de leilões, era preto e vermelho...
1930 - MET: (7)
1930's - (18) - Vestido de noite em cetim com pelerine pêssego.
1934 - MET (7)
A maison se funde à casa Lucile Paray em 1938 antes de sua dissolução em 1940.
30's/40's - Palais Galliera, musée de la Mode de la Ville de Paris (4)
Vestido de noite longo, em cetim e jersey de seda preta, mangas em cetim, se alargando em direção à barra, decote em "V" na frente e nas costas, mangas com abertura na altura do cotovelo, deixando a manga descer até o meio das pernas, panejamento drapeado, preso à cintura.
Etiqueta presa sobre a costura da cintura, bordada em letras negras sobre fundo branco e com carimbo azul numerado (8150)
Doado por Greffulhe.
E uma pequena reportagem: (19)
Fontes:
(1) http://www.perigueux-maap.fr/events/event/le-mois-des-droits-des-femmes-au-musee/
(2) http://gallica.bnf.fr/
(3) http://carolynforbestextiles.com/product/1920-jenny-french-couture-beaded-lame-velvet-special-coat/
(4) http://a80-musees.apps.paris.fr/
(5) https://new.liveauctioneers.com/item/24247995_a-rare-jenny-couture-pink-satin-beaded-flapper-dress
(6) http://www.alaintruong.com/
(7) http://www.metmuseum.org/
(8) http://www.kci.or.jp
(9) http://hprints.com/
(10) https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Jenny_Sacerdote_par_Gervex.jpg
(11) http://jean-dunand.org
(12) http://www.musee-beaux-arts-nice.org/
(13) http://omgthatdress.tumblr.com/search/jenny
(14) http://collections.vam.ac.uk/name/jenny/36230/
(15) http://www.auctioneve.com/html/fiche.jsp?id=2662708&np=3&lng=fr&npp=100&ordre=1&aff=1&r=
(16) http://www.antiquedress.com/item4376.htm
(17) https://witness2fashion.wordpress.com/
(18) http://www.auctioneve.com/html/fiche.jsp?id=2118259
(19) http://culturebox.francetvinfo.fr/tendances/mode/jenny-sacerdote-celle-qui-revolutionna-la-mode-avant-chanel-244491