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Não fiz para puxar o saco da mulher, mas para mostrar que homem que é homem tem na veia a força masculina para suportar tudo e não faz corpo mole para nada, muito menos para compras.
Isso de homem que não gosta de fazer compras é coisa de preguiçoso, mentira para não fazer nada, ficar em casa, de pés para o alto, enquanto a mulher sofre o desgosto da escolha solitária. Se ela o chama para ir ao shopping é porque quer muito mais do que vendedoras ou espelhos lhe dizendo que o modelo caiu muito bem, que a moda saiu de moda ou que o preço não é tão atrativo para a função. Quer a visão do homem como o verdadeiro reflexo da sua intenção.
Eu, por exemplo, gosto de supermercados. Não conheci nenhum homem que gostasse e, por enquanto, sou o único da espécie. Passo horas rodando as prateleiras em busca de novidades e produtos. É como se o lado feminino florescesse ao passar pelo detector de metais. Se não compro nada, pelo menos fico sabendo das últimas novidades que chegaram para abalar a cozinha. Nessas caminhadas, descobri refrigerante de abacaxi e maçã e biscoito sabor Inhame. Pode parecer que não, mas ir ao supermercado é beber no poço da cultura alimentar e lhe traz uma certa elevação.
Minha mulher, como todas as mulheres, também gosta de compras, principalmente em shoppings. Ela compete comigo no quesito quem é o mais chato. Olhamos tudo e não levamos nada. O único defeito é que ela gerencia minha conta e, quase sempre, é responsável pelos armários de casa. Nem tudo pode ser perfeito.
Dessa vez a prova hérculea não foi um supermercado, mas um shopping. Combinamos de andarmos em busca de promoções arrebatadoras. Isso faria qualquer homem entrar em pânico. Homens são mais objetivos e dinâmicos nas compras. Vão direto aos locais necessários. Já as mulheres são sonhadoras, precisam de vários olhares antes de decidirem algo. Muitas vezes, a ideia só surge quando estão frente à vitrine – depois de rodarem o local inteiro.
Nessa jornada foram quatro horas perdidas em prol de coisas que não apareceram. As roupas se tornaram uma prova de paciência. Como grande homem que sou, representante da classe, não joguei a tolha do cansaço - fui até o fim. Não para agradá-la, mas para mostrar que todo homem pode se render aos caprichos de um bomshopping.
Você que me lê deve achar masoquismo, se for homem. Se for mulher, deve achar loucura talvez. Nada disso. Homem que é homem compartilha até a indecisão; enfrenta os intermináveis corredores de uma seção feminina em busca de promoções e, juntamente com ela, veste de tudo até que alguma coisa faça sentido. Porque não é somente a mulher que experimenta um modelo ou maquiagem, o homem também se vê mentalmente na posição de manequim; precisa saber se a compra será válida, se fará sucesso com as amigas dela ou será apenas souvenir de armário. Caso nada seja agradável, é preciso ser condescendente com o fato do modelito ser apertado demais e sair reclamando.
Foi por aí. Ficamos horas rodando os setores. O homem aqui foi além do que poderia suportar os comuns (agora não sou tão comum, estou próximo de Hércules). Minha mulher sequer sabia o que buscava. Eu entrei no jogo como Clodovil. Dei dicas, busquei adereços, incrementei looks e pus-lhe cintos. Ela, irremediável aos meus gostos, sentiu-se surpresa. Eu também me senti. As vendedoras também. Coloquei-lhe uma blusa xadrez que a deixou mais elegante, coisa que só eu, espelho masculino, enxergava. Depois fomos para o provador. Exigi-lhe que voltasse lá de dentro para eu avaliar minhas dicas. As mulheres quase me bateram por eu tentar entrar juntamente com ela. No fim das contas, fui um homem completo, daquele que olha para si mas sente o gosto do outro.
Homem que é homem tem que provar o gosto de um batom, a cor de uma maquiagem, o peso de uma bolsa ou a fragrância de um perfume. Ficar horas em um corredor ainda é pouco. A mulher quer o homem como uma parte sua. É nas compras que ela definirá seu casamento. E ele sua masculinidade.