Lembro-me que quando comecei a correr perguntava-me a mim própria, quase de metro em metro, que raio me passou pela cabeça para ter decido fazer-me à estrada naquele dia. Podia estar tão bem no sossego da minha casa e não, estava aqui prestes a sofrer uma paragem cardíaca. Foi assim durante muito tempo, porque o inicio é assim mesmo: custa, dói, é horrível, é a sede, é a boca seca, é a dor de burro, são as pernas que pesam toneladas, é o coração quase a sair pela boca, bem, é uma experiência de quase morte é o que é. Ainda hoje assim é, porque depois de chegarmos a um patamar queremos chegar ao próximo e depois ao próximo do próximo e sempre assim.
"Mas se isto é assim tão mau, o que te fez continuar?" é o que vocês devem estar a perguntar. Simples: o desafio e a força de vontade. Porque o que não te desafia não te muda e a vontade sempre foi mais forte do que a de desistir. Depois, apesar de todo o sofrimento há o outro lado: um prazer inigualável e compensador de todo o esforço feito. É no fim da corrida que sinto o prazer da endorfina ao rubro. Basicamente, sinto-em capaz de tudo. Saber que venci a preguiça, que fui capaz de ir buscar forças sabe-se lá onde, que ultrapassei as desculpas, que demonstrei a mim mesma que posso é, simplesmente, sensacional. É o ser capaz de sair da nossa de conforto. É o valor do esforço que não tem preço.
Muitos gostam de intitular o running como sendo só mais uma moda, e que agora todos decidiram correr, e que o assunto já enjoa e tendem a desvalorizar quem faz por ser melhor. Até pode ser uma moda, mas vai muito, mas muito mais além do que isso e enquanto não o perceberem, nunca vão entender o entusiasmo que nos move. Ninguém tem de reconhecer o nosso esforço, nem dar os parabéns por sermos pessoas mais activas e por optarmos por um estilo de vida mais saudável. Mas também não têm de retirar-nos o mérito.
Amanhã é a minha primeira prova, uma Meia-Maratona. Para quem corre nem há um ano, é um objectivo muito ambicioso (bastante até), mas foi a minha motivação para sair de casa e enfrentar a chuva, o frio, as subidas do inferno e o tal sofrimento associado à superação de quem corre. Não posso dizer que estou preparada a 100%, as três semanas parada roubaram-me muito treino (provavelmente o que me falta para sentir-me mais segura), mas vou na fé. Não queria perder, nem por nada, aquela que é a primeira Meia Maratona realizada na cidade de Aveiro. Também porque agora é o momento para meter-me nestas coisas, logo, o pensamento foi do tipo "ou é agora ou nunca".
Sinto aquele nervoso miudinho, depois é a chamada crise de principiante: e se me passam uma rasteira? (traumas dos corta-matos da escola), e se sou atropelada por um atleta em fúria logo no arranque?, e se o percurso não está bem identificado?, e se saio de rota?, e o gel?, sim ou não?, e a água?, e o calor?, ai que vou desidratar, ai o veeeento!! Enfim, vocês já sabem que eu sou sempre aquela pessoa à beira de um ataque de nervos.
A verdade, é que tenho mais receio das condicionantes externas do que propriamente da minha pessoa. Sofro muito com a sede e parece que amanhã o calor vai apertar. Depois, o vento! Aveiro está para o vento como o macaco está para a banana e correr contra o vento...Deuuuuuus m'acuda!!
Isto tudo para dizer que vou a contar com o pior. Às vezes, é quando corre melhor. Vamos ver. Torçam por mim. =)
P.S.: Caso não dê sinais de vida nas próximas 24h, preparem os kleenex, faleci à beira ria.