Apesar das reuniões de preparação para o casamento feitas logo no inicio do ano, temos tido alguns encontros com o senhor padre (Pe.) cá do sitio (provavelmente aquele que nos irá casar). Pois que o segundo encontro foi nesta terça-feira que passou e já temos o terceiro marcado para o final do mês.
Nestes encontros, não é suposto que nos seja incutida a fé, nada disso. A fé é algo que vem de dentro de cada um de nós. Somos nós que a temos de sentir por nós próprios e depende muito das nossas próprias convicções. O que o Pe. pretende é avivar o que a bíblia nos transmite, da forma mais clara possível, fazendo referência a algumas passagens. Pretende transmitir o que é o homem e a mulher à luz de Deus, e a grandeza do matrimónio. Devo dizer que estes encontros são uma espécie de lavar de alma. Ao contrário do que esperava (seca, seca, seca), gosto de ir e nem dou pelo tempo passar.
Ora... A propósito de uma das passagens da bíblia, a caminhada pelo deserto e a travessia do mar vermelho feita por Moisés e seu povo (não sei se sabem do que estou a falar, mas também não me peçam para explicar, p-o-r-f-a-v-o-r), o Pe. faz referência à nossa forte tendência em atribuir culpas a Deus quando algo de muito ruim acontece, a tão comum questão "mas porque é que Deus assim quis?". Falou mesmo de um funeral que tinha feito recentemente de uma menina pequenina que não conseguiu resistir a um cancro, e da revolta que os familiares e amigos sentiam.
É verdade que quando somos confrontados com doenças, mortes inesperadas, com o que quer que seja de ruim que aconteça, o sentimento de revolta é comum e a dúvida surge "porque é que Deus, sendo tão bom, permite tal crueldade?". É mais ou menos isto que passa pelas nossas cabeças. Acho que todos nós somos invadidos por este tipo de sentimento quando algo de ruim acontece nas nossas vidas, principalmente, quando se trata de algo que (aparentemente) não provocamos.
O Pe. continuou e explicou que esta nossa tal reacção típica prende-se com o facto de vermos Deus como alguém que está lá em cima (e apontou para o céu) e que decide tudo o que acontece, permitindo, também, as coisas más. No entanto, e segundo as suas palavras, Deus é algo que está em nós próprios. É parte integrante (o que talvez explique a tal omnipresença).
Foi aqui que decidi intervir e tentar expor a minha visão de Deus, aquilo que para mim significa, na esperança de melhor entender a grandeza e dimensão do assunto.
E qual é a minha visão de Deus? Para mim (repito, para mim), Deus, enquanto pessoa, não existe nem nunca existiu. Jesus, sim, existiu em carne e osso e morreu por nós. Acredito plenamente. Mas Deus, tido como seu pai, para mim é simbólico e não passa disso mesmo (espero não ferir susceptibilidades). É como o diabo (salvo seja!!). Para mim, o diabo também nunca existiu nem existe, é algo que serve como forma de simbolizar o mal. Não passa de um nome e de todo o simbolismo negativo que carrega. Do lado contrário, temos Deus, que simboliza o bem. É o amor, a paz, a serenidade, tudo o que há de positivo. Não é alguém, mas sim, um conjunto de sentimentos bons. É isto que penso de Deus. Daí nunca atribuir-lhe culpas quando vejo as noticias na tv: pais que matam filhos, melhores amigos que matam melhores amigos, pessoas que se suicidam, a fome, a guerra... Nem quando algo de menos bom me acontece empurro culpas para o tal Deus.
Nisto, o Pe. pergunta-me "o amor existe?" ao que respondo prontamente que sim. E ele pergunta logo de seguida e sem demoras "e tu consegues vê-lo?".
E esta, hein? Arrumou-me logo para canto (e fiquei com cara de burra a olhar para um palácio). Deixou-me a pensar, não me senti totalmente convencida e acho mesmo que outras questões surgiram na minha cabeça. Ele diz ser perfeitamente normal, afinal, Deus é uma busca constante.
Este, é daqueles assuntos bastante controversos, tal como a questão do ser ou não ser católico praticante, como já falei aqui anteriormente. O meu único objectivo desta partilha é saber o que vocês pensam e tentar retirar algo do vosso entendimento de Deus. Sem ataques, sem ofensas e com o devido respeito pela opinião de cada um (e pelo assunto em si), só quero que todos partilhem o que sentem e aquilo em que acreditam. Não que conte encontrar respostas, óbvio que não, mas acho interessante conhecer as diversas formas de pensar de cada um.