Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
terça-feira, novembro 29
Fazer durar o tempo ...
Muitos portugueses ainda se interrogam - uns menos crispados, outros menos eufóricos - como foi possível chegar até à aprovação do 2º OE por uma maioria de esquerda apoiando um governo minoritário do PS. Não analisei a fundo a natureza politica dos governos europeus em funções, nem antecipo resultados de próximas eleições e referendos. Dizem as vozes da opinião publicada que a Europa está madura para ser governada à direita imoderada, não liberal, levando a cabo uma barrela fazendo desaparecer da face dela os infiéis de todas as estirpes. O processo pode ter começado a leste da Europa - Hungria, Polónia ... - caminhando para o centro - Áustria, Holanda - eventualmente mais para sul - Itália, França - com o Reino Unido em fase de rutura com a UE, via referendo. Pode ser um falso alarme, um exagero, mas convém não subestimar a realidade que vem anunciando ventos de inesperada(?)intolerância soprados dos USA. No entanto na fronteira mais a ocidente da Europa foi aprovado o OE/2017 por força de um acordo politico à esquerda. O teste da sua robustez ou fragilidade vai começar no próximo domingo quando se souberem os resultados do referendo na Itália e das eleições presidenciais na Áustria. Na frente interna as notícias dos indicadores não serão más, antes pelo contrário, podendo consolidar a prova da viabilidade de soluções de governo mais para além da rotatividade dos partidos do sistema. Se não faltar a clarividência, e coragem, aos partidos que apoiam o governo em funções escapando à defesa pura e dura do seu próprio espaço de sobrevivência politica eleitoral pode ser que seja possível fazer durar o tempo ...
sábado, novembro 26
Morreu Fidel Castro
Visitei Cuba no verão de 1976 (com Víctor Wengorovius e Francisco Farrica - uma delegação do MES). Levava uma carta de Otelo (candidato presidencial) para Fidel. Não nos encontrámos com Fidel, nem chegámos a conhecer o teor da mensagem, por vontade própria, nem Fidel, por razões indecifráveis. No dia em que o mundo conhece a notícia da morte de Fidel Castro, sinto o olhar nostálgico e caloroso dos cubanos, sua sede de futuro e de liberdade. Mas a lenda do Fidel revolucionário, carismático na sua presença e oratória fascinantes, persistirá para sempre.
sexta-feira, novembro 25
UM ANO DE GOVERNO NOVO
Passado um ano sobre o "achado" do governo socialista apoiado por uma maioria de esquerda o que há dizer que não digam todos? Uma nova solução politica, como dizia dias atrás Correia de Campos, que bloqueia a emergência do populismo de esquerda, um passo no processo de refundação da esquerda caso as lideranças resistam às pulsões partidaristas das bases, a apresentação de um caso de estudo não só para exercícios académicos de cientistas da politica, mas também, e principalmente, para os eurocratas ao serviço ou capturados pelo capital financeiro, uma plataforma politica transitória destinada a preparar a emergência de novos equilíbrios na relação capital/trabalho, centros/periferias, ... não certamente um mundo novo, mas uma nova esperança na superioridade do papel da politica sobre a economia, abrindo espaço para a afirmação de uma nova geração de dirigentes políticos com um brilhozinho nos olhos e uma luz bruxuleante no coração. É o meu desejo e a minha esperança.
quinta-feira, novembro 24
sexta-feira, novembro 18
GUERRA E PAZ
Ana Hatherly
Voltando a um tema que, de súbito, entrou na agenda. Não é uma minudência mas, tão somente, o magno tema da guerra e da paz. Do silêncio dos salões, e subtilezas de comentadores da politica e da "coisa pública", ao debate aberto em todos os meios foi um instante. Não é por acaso que emergem por todo o lado sinais de intolerância através de protagonistas que julgávamos irremediavelmente afastados do centro da decisão politica, ainda para mais na maior potência militar conhecida no mundo. As ameaças à paz mundial deixaram de ser uma longínqua inquietação de seres enredados em rebuscados pensamentos, os pessimistas da razão. Elas são expostas e propaladas aos quatro ventos, como noutros tempos de sinistra memória, como se anunciassem o melhor dos mundos. Em guarda!
Voltando a um tema que, de súbito, entrou na agenda. Não é uma minudência mas, tão somente, o magno tema da guerra e da paz. Do silêncio dos salões, e subtilezas de comentadores da politica e da "coisa pública", ao debate aberto em todos os meios foi um instante. Não é por acaso que emergem por todo o lado sinais de intolerância através de protagonistas que julgávamos irremediavelmente afastados do centro da decisão politica, ainda para mais na maior potência militar conhecida no mundo. As ameaças à paz mundial deixaram de ser uma longínqua inquietação de seres enredados em rebuscados pensamentos, os pessimistas da razão. Elas são expostas e propaladas aos quatro ventos, como noutros tempos de sinistra memória, como se anunciassem o melhor dos mundos. Em guarda!
segunda-feira, novembro 14
FUTURO? Sim, acredito!
Tantas pessoas diferentes, estamos rodeados de uma multidão de pessoas diferentes. O progresso da nossa sociedade ocidental e, em geral, de todas as sociedades fez com que as diferenças - de religião, crença, cor de pele, ideologia, orientação sexual .... - não fossem razão, ao fim de muitos séculos, em cada vez mais larga escala, na ordem jurídica e social, de discriminação e perseguição. Sou obrigado a reconhecer que pairam fortes ameaças sobre conquistas que, quase sempre, fomos tentados a acreditar terem sido aquisições civilizacionais definitivas. Afinal os sinais dos últimos tempos, que os últimos dias acentuaram, obrigam-nos a pensar o contrário. Mas havemos de encontrar o caminho da liberdade sem negar a justiça, o caminho da justiça em liberdade. Futuro? Sim, acredito!
sexta-feira, novembro 11
Que ninguém diga que não foi avisado
Que ninguém diga, no tempo que é o nosso, que não foi avisado desde há muito tempo:
“Eu moro no bairro judeu, ou o que assim se chamava até ao momento em que os nossos irmãos hitlerianos limparam tudo. Que barrela! Setenta e cinco mil judeus deportados e assassinados, é a limpeza pelo vácuo. Admiro esta aplicação, esta paciência metódica! Quando não se tem carácter, é preciso ter método.”
Albert Camus, in "A Queda"
“Eu moro no bairro judeu, ou o que assim se chamava até ao momento em que os nossos irmãos hitlerianos limparam tudo. Que barrela! Setenta e cinco mil judeus deportados e assassinados, é a limpeza pelo vácuo. Admiro esta aplicação, esta paciência metódica! Quando não se tem carácter, é preciso ter método.”
Albert Camus, in "A Queda"
quinta-feira, novembro 10
segunda-feira, novembro 7
MES - Pelo 35º aniversário do jantar de extinção
7 de novembro de 1981- Jantar de extinção do MES
É notável como, invariavelmente, os rostos ostentam um sorriso de serena felicidade e alegria. O encerramento de uma experiência fascinante poderia ser celebrado com melancolia ou crispação mas, no caso do jantar de extinção do MES, aconteceu o contrário.
Muitos anos passados, cada um de nós, ainda se revê, com prazer, nas imagens daquele momento simbólico de renúncia à continuidade de um projecto político. Porque nos libertamos? Porque fomos capazes de assumir o fracasso? Porque sabíamos que éramos, individualmente, capazes de prosseguir novos caminhos e abraçar novos desafios? Porque, afinal, nos reconciliávamos connosco próprios, reconstruindo os nossos sonhos utópicos?
Como disse Camus: “Ir até ao fim, não é apenas resistir mas também não resistir.”
(Fotografias de António Pais.)
É notável como, invariavelmente, os rostos ostentam um sorriso de serena felicidade e alegria. O encerramento de uma experiência fascinante poderia ser celebrado com melancolia ou crispação mas, no caso do jantar de extinção do MES, aconteceu o contrário.
Muitos anos passados, cada um de nós, ainda se revê, com prazer, nas imagens daquele momento simbólico de renúncia à continuidade de um projecto político. Porque nos libertamos? Porque fomos capazes de assumir o fracasso? Porque sabíamos que éramos, individualmente, capazes de prosseguir novos caminhos e abraçar novos desafios? Porque, afinal, nos reconciliávamos connosco próprios, reconstruindo os nossos sonhos utópicos?
Como disse Camus: “Ir até ao fim, não é apenas resistir mas também não resistir.”
(Fotografias de António Pais.)
Albert Camus - pelo aniversário da seu nascimento
Albert Camus nasceu em 7 de novembro de 1913, na Argélia, e morreu num acidente de viação, a caminho de Paris, em 4 de janeiro de 1960.
Camus publicou, em vida, dezanove obras, de 1937 a 1959, entre as quais se destacam os romances (“L’Étranger” em 1942, “La Peste” em 1947), as novelas (“La Chute” em 1956, “L’Exil et le Royaume” em 1957) as peças de teatro (“Caligula” e “Le Malentendu" em 1944, “L’État de siège" em 1948, “Les Justes” em 1950), e os ensaios (“L’Envers et l’Endroit" em 1937, “Noces” em 1939, “Le Mythe de Sisyphe” em 1942, “Les lettres à un ami allemand” em 1945, “L´Homme révolté” em 1951 e”LÊté” em 1954). É necessário ainda juntar três recolhas de ensaios políticos (“Les Actuelles”), “Les deux Discours de Suède” (pronunciados aquando da atribuição do Nobel) e a contribuição para a obra de Arthur Koestler intitulada “Réflexions sur la peine capitale”.
Outras obras foram editadas após a sua morte entre as quais se contam o “diário” dos seus pensamentos e leituras, assim como notas de trabalho, publicado sob o título “Carnets”; o diploma de estudos superiores de 1936: “Métaphysique chrétienne et néoplatonisme”, publicado pela “La Pléiade”; o romance inédito, “La Morte heureuse”, cuja redacção data de 1937; o manuscrito inacabado, encontrado na pasta de Camus depois do acidente de viação que o vitimou:“Le Premier Homme”, esboço do que viria a tornar-se o seu grande romance quasi autobiográfico e ainda a sua correspondência com o amigo Jean Grenier.
sexta-feira, novembro 4
Coisas curiosas da politica
Escrevi, através do telemóvel, um breve post no facebook: "O orçamento de estado para 2017 foi aprovado na generalidade. Uma realidade curiosamente julgada impossível por muitos faz pouco tempo. Antes de julgar talvez pensar das razões." O que aconteceu hoje na AR, com a aprovação do OE, já é quase considerado um desfecho normal, previsível, dado como certo pela maioria dos comentadores. É uma situação curiosa pois pelo fim de 2015, após as eleições de 4 de outubro desse ano (ainda se lembram?), poucos eram aqueles que anteviam a atual solução governativa e ainda menos os que nela acreditavam. Mas a politica voltou por momentos ao posto de comando e tornou possível, entre outros eventos notáveis, que seja estimável que no final do presente ano de 2016 um governo do PS, apoiado pelos partidos que se convencionou considerar à sua esquerda, o chamado deficit possa ser o mais baixo dos últimos 42 anos. Ora se é verdade que os governos de esquerda (ou de centro esquerda) valorizam o fator trabalho na politica de rendimentos, em desfavor do fator capital, menos expetável será que alicercem a sua politica orçamental na busca do equilíbrio orçamental... e o alcancem. Sem entrar em detalhes, se tal vier a acontecer, será a esquerda a alcançar objetivos que a direita não desdenharia e que, em democracia, nunca alcançou. Curioso e desarmante ...
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