Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
A memória dos pobres é menos alimentada que a dos ricos, com menos pontos de referência no espaço, porque raramente saem do lugar em que vivem, e também menos pontos de referência no tempo de uma vida uniforme e sombria. Sem dúvidas que existe a memória do coração que, diz-se, é a mais segura, mas o coração consome-se com mágoas e trabalho e esquece mais depressa sob o peso das fadigas. O tempo perdido só se volta a encontrar no caso dos ricos. Para os pobres, assinala somente os traços vagos do caminho da morte.
É sempre assim, mas mais vale a liberdade de valorizar, ou desvalorizar, conforme as conveniências de cada um, do que o silêncio das tiranias. As descidas da taxa de desemprego são sempre marginais, as subidas são sempre absolutas. Mesmo que estejamos a falar de 0,1%. Mas são sinais que alimentam expectativas que, por sua vez, são determinantes no comportamento da economia e dos seus agentes.
. Todos sabemos que estão em curso em todo o mundo projectos de investigação que têm por finalidade a descoberta da cura de algumas doenças. Todos concordamos e louvamos. Mas e então o desemprego não é uma "doença social" agravada pelas crises de desregulamentação do sistema financeiro? Não deveríamos investir mais em projectos de investigação multidisciplinares, no âmbito das Ciências Sociais?
A nível da U.E. não seria um meio importante de minorar e encontar respostas comuns e concertadas entre os estados-membros? O recurso mais importante da humanidade são as IDEIAS que cada homem é capaz de dar aos problemas que surgem em sociedade. [Um comentário de Galeota] .
Bem observado. O que mais me espantou não foi o negócio – apesar dos valores chorudos para o nosso meio e ter sido conduzido com mestria pela parte portuguesa – mas a sequência de aparições, em dias sucessivos, de Sócrates proferindo declarações de vitória defronte do mesmo quadro, ao mesmo microfone, perante as mesmas câmaras e dirigindo-se ao mesmo público. O ar embaraço, e incrédulo, dos jornalistas que se habituaram nos últimos tempos em tomar Sócrates como um politico acabado. E o mais extraordinário de tudo: a coincidência do líder do principal partido da oposição ter criticado o governo a propósito do negócio da Vivo, por duas vezes, em território espanhol. Isto está difícil para todos!
(…) Lucie Cormery e a mãe estavam sentadas em cadeiras baixas, escolhendo lentilhas ao clarão da clarabóia da escada, e o bebé numa pequena sesta a chupar uma cenoura inundada de baba, quando um senhor, de ar grave e bem trajado, surgiu na escada com uma espécie de sobrescrito. As duas mulheres, surpreendidas, pousaram os pratos em que escolhias as lentilhas que retiravam de uma marmita colocada entre ambas e limparam as mãos, quando o senhor, que se detivera no último degrau que antecedia o patamar, lhes pediu que não se levantassem, perguntou pela senhora Cormery – “É ela”, disse a avó. “Eu sou a mãe.” – e ele explicou que era o maire, portador de uma triste notícia: o marido morrera no campo da honra e a França, que o chorava tanto como ela, orgulhava-se dele. Lucie Cormery não o ouviu, mas ergueu-se e estendeu-lhe a mão com profundo respeito, enquanto a avó se punha também de pé, levava a mão à boca e repetia: “Meu Deus”, em espanhol. O senhor conservou a mão de Lucie na sua, depois apertou-a entre ambas, murmurou palavras de consolação, entregou-lhe o sobrescrito, voltou-se e desceu a escada com passos pesados. “Que disse ele?”, perguntou ela. “O Henri morreu. Foi morto.” Olhou o sobrescrito que não se atrevia a abrir, além de que nem ela nem a mãe sabiam ler, voltava-o na mão, sem pronunciar uma palavra, nem verter uma só lágrima, incapaz de imaginar aquele morto tão distante, ao fundo de uma noite desconhecida. (…)
A propósito da aprovação pelo governo, na sua reunião da passada quinta feira, do Conselho Nacional para a Economia Social faço um desvio excepcional na “linha editorial” deste blogue, entrando num tema da minha vida profissional, para destacar, neste contexto, a importância da criação daquele órgão de consulta do governo. Mais tarde voltarei ao assunto.
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Até o supérfluo era pobre, porque nunca se utilizava. (…) Ele crescera sempre no meio de uma pobreza tão nua como a morte, entre os nomes comuns; em casa do tio, descobria os nomes próprios.
Ah desgraça! Procurai as razões para esta nefasta notícia. Os tremendistas estão de férias e não comentam. Um efeito passageiro? Um engano? Só ascende o que voltará a cair! Só cai o que alguma vez subiu. “Um forte movimento ascendente”, é o que dizem as estatísticas!
No átrio, encontrou de novo a empregada, perguntou-lhe onde era o cemitério, recebeu um excesso de explicações, que escutou polidamente, e afastou-se na direcção indicada. (…)
O viajante pediu a lista dos mortos da guerra de 1914. “Sim”, disse o outro. “Isto chama-se a lista da Recordação Francesa. Que nome procura?”. “Henri Cormery”, respondeu o viajante.
O guarda abriu um livro grande forrado com papel de embrulho e procurou com o dedo grosseiro numa relação de nomes. De súbito, o dedo imobilizou-se. “Cormery, Henry”, leu, “ferido mortalmente na batalha de Marne, falecido em Saint-Brieuc a 11 de Outubro de 1914. “É isso”, disse o viajante. O guarda fechou o livro e indicou: “Venha.” Procedeu-o em direcção às primeiras fiadas de sepulturas, umas modestas, outras pretensiosas e feias, todas cobertas de arabescos de mármore que desonrariam qualquer lugar do mundo. “É um familiar?”, perguntou o guarda, distraidamente. “O meu pai.” “É sempre triste.” “Eu tinha apenas um ano, quando ele morreu. Deve, pois compreender …” “Sim, claro”, concordou o guarda. “Houve muitos mortos, nessa época.” Jacques Cormery não respondeu. (…)
“É aqui”, indicou o guarda. Encontravam-se diante de um rectângulo de terra rodeado de pequenos marcos de pedra cinzenta unidos por uma grossa corrente pintada de preto. (…)
“A Recordação Francesa encarrega-se da conservação há quarenta anos. Olhe, ele está aí.” (…)
Foi então que leu na sepultura a data de nascimento do pai e descobriu ao mesmo tempo que até agora ignorara. Em seguida, leu as duas datas, “1885-1914” e procedeu a um cálculo mental: vinte e nove anos. Surgiu-lhe de súbito uma ideia que o fez estremecer. Tinha quarenta anos. O homem sepultado sob aquela pedra, e que fora seu pai, era mais jovem do que ele. (…)
A tarde chegava ao fim. O ruído de uma saia perto dele, uma sombra negra, fê-lo regressar à paisagem das sepulturas e do céu que o rodeava. Mas não podia isolar-se daquele nome, daquelas datas. Já só havia cinzas e pó debaixo daquela pedra. Mas, para ele, o pai voltava a viver, uma estranha vida taciturna, e dava-lhe a impressão de que ia abandoná-lo de novo, deixá-lo continuar em mais aquela noite na solidão interminável em que o tinham lançado e depois abandonado. O céu deserto ressoou com uma detonação intensa e brusca. Um avião invisível acabava de transpor a barreira do som. Jacques Cormery voltou as costas à sepultura e abandonou o pai.
[Do segundo capítulo Saint-Brieuc, pequeno em número de páginas, mas relevante para o conhecimento da história pessoal da Camus, no qual descreve a visita à campa de seu pai.]
Pero más allá de la voluntad de recuperar el Estatuto, tenemos ante nosotros la cuestión de fondo, el problema secular de la relación entre Catalunya y el resto de España, que atraviesa nuestra historia contemporánea y que, a mi juicio, se trata más de un problema español que de un problema catalán.
Havia uma porta embutida na parte de argamassa na qual se podia ler: “Cantina agrícola Mme. Jacques.” Filtrava-se luz pela frincha inferior. O homem imobilizou o cavalo junto dela e, sem descer, bateu. Acto contínuo, uma voz sonora e decidida inquiriu: “Quem é?” “Sou o novo gerente da propriedade do Santo Apóstolo. A minha mulher vai dar à luz. Preciso de ajuda.” Ninguém respondeu. Passado um momento, foram levantados ferrolhos e a porta entreabriu-se. Descortinou-se a cabeça negra e ondulada de uma europeia de faces cheias e nariz um pouco abaulado acima dos lábios grossos. “Chamo-me Henri Carmery. Pode ir junto de minha mulher? Tenho de chamar o médico.” (…) O médico olhou-o com curiosidade. “Não tenha medo, que tudo há-de correr bem.” Cormery volveu para ele os olhos claros, fitou-o calmamente e declarou com uma ponta de cordialidade: “Não tenho medo. Estou habituado aos golpes duros do destino.” (…) A chuva tombava com mais intensidade no telhado antigo e velho. O médico procedeu a um exame sob os cobertores. Em seguida, endireitou-se e pareceu sacudir algo na sua frente. Soou um pequeno grito. “É um rapaz”, anunciou. “E bem constituído.” “Começa bem”, disse a dona da cantina. “Com uma mudança de casa.” A mulher árabe riu no canto e bateu as palmas duas vezes.
Verdade? Mentira? Realidade? Ficção? Se for verdade desejaria que fosse mentira. Se corresponder à realidade gostaria que fosse ficção. Em qualquer caso a notícia é construída a partir de testemunhos dos protagonistas. Hoje antes de dar de caras com esta notícia escrevi: O que dizer do cansaço, das decisões que nos contrariam, do caminho difícil da modernidade, da ineficiência, da recusa em caminhar adiante, em fazer melhor, em vencer as dificuldades, em nos ultrapassarmos a nós mesmos; o que dizer da recusa em cumprir o dever, em pensar no melhor caminho, em nos sentarmos a reflectir em comum, em partilhar a felicidade e o destino infeliz; o que dizer de tudo o que nos faz sofrer; o que dizer da nossa vida mergulhada na incerteza, ou na certeza de que a nossa reputação pode cair na rua de um momento para o outro; tanta gente a tratar da justiça, e nós acreditamos? Dêem-nos razões para acreditar na justiça …
Já publiquei sublinhados de leitura de obras de Albert Camus mas nunca, na íntegra, os meus sublinhados leitura do livro póstumo, e único assumidamente autobiográfico, “O Primeiro Homem” - edição portuguesa, 1994, Livros do Brasil, tradução de Eduardo Saló. No fim talvez transcreva um Anexo, muito interessante, intitulado “Notas e Planos” que diz tudo acerca da sua natureza. Pelo meio algumas anotações que escrevi no próprio livro.
“A mulher tinha um rosto terno e regular, os cabelos de espanhola bem ondulados e negros, nariz pequeno e direito e um belo e quente olhar castanho. Mas havia algo naquele semblante que atraía a atenção. Não era apenas uma espécie de máscara que o cansaço ou o que quer que fosse de parecido escrevia provisoriamente nos traços fisionómicos; não, antes um ar de ausência e de distracção suave, como o que exibem perpetuamente alguns inocentes, mas que aqui aflorava de um modo fugidio na beleza das feições.” [Descrição da mãe na viagem que antecede o seu próprio nascimento “numa noite do Outono de 1913” – Camus nasceu no dia 7 de Novembro de 1913 em Mondovi, Constantine, na Argélia.]
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Ontem assisti a um fragmento do programa de Mário Crespo - Plano Inclinado - que só me interessou pela presença de Alexandre Soares dos Santos, líder do Grupo Jerónimo Martins. A certo passo com o ar de mestre tremendista que o caracteriza Medina Carreira, falando-se a propósito da Polónia, mão-de-obra, legislação do trabalho e o mais que pode desafiar um grande empresário português a falar mal do seu país, lançou a pergunta: também tem o programa Novas Oportunidades? Um sorriso aflorou ao rosto de Alexandre Soares dos Santos: que sim senhor tinha tal programa na sua empresa – em horário de trabalho – e fora dele, frequentado por milhares de trabalhadores e que era daqueles programas que o fazia sentir orgulho do seu país. Desconcertados os tremendistas presentes, onde se inclui um Duque, presidente da minha escola, que me fez sentir vergonha dela, balbuciaram uns apartes dando conta de um pseudo desprestígio de tal programa. Mas o sorriso não desapareceu do rosto do grande empresário que prosseguiu dando testemunho pessoal da importância do programa Novas Oportunidades para desespero da turma residente que deu uma cabal demonstração dos seus preconceitos políticos e da ignorância acerca do empenhamento dos seus convidados nos temas que trazem à liça.
À hora de almoço, chegou-me a notícia: morreu ontem o Jorge Fagundes. A última vez que estivemos juntos foi, com o seu grande amigo José Vera Jardim e o Eduardo Graça, à volta de umas cervejas, numa esplanada, na tarde quente do fim de Julho de 2009, depois do funeral de Palma Inácio. Em Dezembro, porque tinha acabado de sair do hospital, já o não consegui "convocar" para o jantar do Procópio, onde era visitante incerto mas sempre muito saudado.
O Jorge Fagundes era um "bom gigante", uma figura amável e bem disposta, que conheci através do Nuno Brederode de Santos, com quem sempre o ouvi cruzar velhas e divertidas histórias de Campo de Ourique. Advogado de causas, defendeu presos políticos durante a ditadura, como Saldanha Sanches, Carlos Antunes ou Isabel do Carmo. Pertenceu à CDE de Lisboa, nas eleições de 1969. Após abril, veio a andar por áreas políticas bem à esquerda, tendo sido diretor do jornal "Página Um", um jornal próximo do PRP. Sportinguista sem quaisquer limites de tolerância, foi presidente da Federação Portuguesa de Futebol, numa direção a que, se não me engano, pertenceu também Marcelo Rebelo de Sousa. Não esqueço uma chamada telefónica de solidariedade que dele recebi,num momento especial da minha vida.
Para além das trivialidades dos ataques de carácter aqui está uma questão política a sério. É por este lado, o da política que envolve os interesses da comunidade e orienta a estratégia do Estado, que vale a pena avaliar os políticos, as suas ideas e tomadas de posição. Eis como, de súbito, o longe se faz perto, o fraco se faz forte, o futuro se faz presente. Aconteça o que acontecer.
Fez bem o governo, surpreendendo muitos dos seus críticos, ao arrepio da lógica selvagem do mercado que muitos criticam mas poucos têm a coragem de contrariar, em se opor à operação de compra da Vivo. Se todos são unânimes em considerar um mau negócio a venda da Vivo qual a razão para o Estado a não contrariar com os instrumentos legítimos de que dispõe? Que faria o Estado Espanhol no nosso lugar? E os outros estados da UE? O que têm feito ao longo dos anos os outros estados e, em particular, o estado espanhol para proteger os seus interesses nacionais? O que fazem todos? São medidas que demonstram as derivas nacionalistas que entram pelos olhos adentro de todos nós. Provavelmente! Mas o que diriam do governo português aqueles que o criticam se não tivesse impedido a venda da Vivo? Vamos ser penalizados mais tarde, vem aí uma OPA hostil, e tudo o mais, mas a melhor defesa é o ataque e, apesar de pequeno, Portugal, suponho, também tem os seus argumentos e as suas “armas” nesta luta desigual. Que as usemos então sem perder a Europa como aliada mas também sem nos ajoelharmos aos ditames das politicas ultraliberais que sendo afinal apontadas como a raiz de todos os males, com que a presente crise nos ameaça, renascem em cada esquina, a propósito de todo e qualquer debate, e em reacção a toda e qualquer medida legítima dos governos.